CERQUEIRA E SILVA - Ignacio Accioli de - Memórias Históricas e Políticas Da Província Da Bahia - Tomo VI
CERQUEIRA E SILVA - Ignacio Accioli de - Memórias Históricas e Políticas Da Província Da Bahia - Tomo VI
CERQUEIRA E SILVA - Ignacio Accioli de - Memórias Históricas e Políticas Da Província Da Bahia - Tomo VI
sans
Gayeté
(Montaigne, Des livres)
Ex Libris
José M i n d l i n
•
3 d
HISTÓRICAS, £ POLÍTICAS.
TOMO VI.
HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
DA
PROVÍNCIA 1)4
DEDICADAS
POK
trono v i .
v
Depois dos acontecimentos políticos que ficarão referidos
no 3.° volume das presentes Memórias, a tranquillidade da
provincia continuou a soffrer differentes embates, como era
de esperar em um tempo em que os elementos disseminados
da discórdia, e o exaltamento de idéas constituião o caracte-
rístico de muitos que então dirigião a opinião publica, mas
que hoje, por um contraste singularissimo, pretendem incul-
car-se coripheos da estabilidade do governo e da ordem. A
execução da acta de 17 de dezembro de 1823, que deixei
transcrita naqueíle volume, era altamente reclamada pelos
exaltados, e com quanto o governo provisório quizesse por al-
guma fôrma contemporisar em seu cumprimento, especial-
mente na parte que era mais exigida, a deportação de muitos
Portuguezes alli individualisados, esta deportação ainda veio
a tornar-se maior, por isso que uma grande parte dos mesmos
Portuguezes empregados no commercio, pressurosamente tra-
tarão de retirar-se da provincia, conduzindo comsigo seus
bens e fortuna, susceptíveis dessa condução, de sorte que nos
TOMO V I - |
2 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
sem duvida o que se devia ter por opinião geral pela maneira
a m p l a , c o m q u e foi c o n v o c a d o , e p o r s e t e r e m r e u n i d o t a n t o s
cidadãos, e passando-se a tratar d o referido projecto* d e consti-
tuição u n a n i m e m e n t e s e c o n c o r d o u , e a s s e n t o u pelo c o n c e l h o ,
q u e logo e logo s e p e d i s s e m u i r e s p e i t o s a m e n t e a S. M. L ,
q u e s e digne de f a z e r p u b l i c a r , j u r a r , e m a n d a r j u r a r , e obser-
v a r c o m o constituição do império, o m e s m o p r o j e c t o , p o i s
são b e m o b v i a s as v a n t a g e n s , q u e resultão á esta p r o v i n c i a , e
á todo o império, d e t e r m o s d e s d e j a u m a constiuição, c o m o
b e m ponderou a câmara desta cidade no seu edital de 4 do
corrente, e igualmente o s e u presidente n a falia acabada de
fazer, c o m a s q u a e s razões s e c o n f o r m a todo e s t e c o n c e l h o ;
m a s c o m o S. M. I . c o m a m a i o r f r a n q u e z a t r a n s m i t t i o á esta
c â m a r a o d i t o p r o j e c t o , p a r a sobre e l l e fazer s u a s reflexões, e
c o m o a m e s m a câmara, p a r a c u m p r i r este d e v e r tão i m p o r -
tante, c o m o m e l i n d r o s o , q u i z e s s e c o n h e c e r a opinião p u b l i c a
dos h a b i t a n t e s d o s e u t e r m o , p a r a d e a c c o r d o c o m e l l a p o d e r
c o m segurança m a r c h a r e m negocio d e t a n t a g r a v i d a d e e i n -
teresse, por isso d e c l a r o u c exigio o p r e s i d e n t e d a c â m a r a q u e ,
com a mais plena liberdade, e c o m verdadeiro patriotismo o
c o n c e l h o d i s s e s s e s e u s s e n t i m e n t o s s o b r e todo o projecto, e
então o m e s m o c o n c e l h o oftereceu sobre e l l e d u a s reflexões,
d e c l a r a n d o p o r é m q u e e l l a s n ã o devião p o r m a n e i r a a l g u m a
e m p e c e r , o u embaraçar o j u r a m e n t o , e observância do pro-
j e c t o c o m o constituição, m a s s i m q u e m u i t o r e s p e i t o s a m e n t e
s e l e v a s s e m á presença e consideração d e S. M. I . p a r a o mes-
m o augusto s e n h o r d a r - l h e s a attenção, q u e j u l g a r conve-
n i e n t e e compatível c o m o b e m do império, pelo q u a l S. M. I .
s e t e m m o s t r a d o tão zeloso e i n t e r e s s a d o .
« A p r i m e i r a reflexão é sobre o c a p i t u l o 7.° tit. 5.° a r t . 137,
q u e dá aos c o n s e l h e i r o s de estado a q u a l i d a d e d e vitalícios,
q u a l i d a d e s e m d u v i d a c o n t r a r i a á n a t u r e z a dos seus cargos, a
confiança e d i g n i d a d e d e S. M. I . , e m e s m o ao b e m g e r a l ,
p o r q u e este m u i t a s vezes exigirá, q u e s e m u d e m os m e s m o s
c o n s e l h e i r o s , e não é decoroso q u e u m a constituição n e g u e ao
c h e f e s u p r e m o d a nação u m a p r e r o g a l i v a , q u e p e l a n a t u r e z a
TOMO vi. 2
•10 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
pcrio, approvando o dito projecto, pede que elle seja quanto antes jura-
do. Não falharão as esperanças de S. M. I . , tendo previsto com a sua
natural sagacidade, que um povo, que acabava de dar ao mundo as mais
decisivas provas de valor e constância na defeza de sua independência
contra o inimigo, não podi^ deixar de possuir cm alto gráo um puro e
bem entendido amor de liberdade, e que no meio mesmo dessa fluetua-
ção e divergência de opiniões, que tem agitado a provincia, inevitáveis
nas grandes reformas políticas, e que parecião annunciar uma perigosa
dissidência entre os povos delia, tudo desapparcceria, logo que do alto
do trono soasse no meio delles a voz do imperador, do seu defensor per-
petuo, do primeiro e o maior dos Brasileiros, chamando-os á concórdia,
e oííerecendo-lhes em penhor um código liberal de leis fundamentaes,
que enchesse suas esperanças, ligando para bem commum o monarca e
os subditos. Annuindo pois S. M. I . aos desejos c instâncias do povo des-
sa provincia, e nos de outras muitas, que tem subido á sua augusta pre-
sença, e formão ja a maioridade da nação Brasileira, tem resolvido jurar
e mandar jurar o mesmo projecto como constituição do império; para o
que vão expedir-se immediatamcnte as ordens necessárias.
Não foi também pequeno o prazer de S. M. I . vendo a respeitosa l i -
berdade com que o povo, que compunha a sobredita vercação extraor-
dinária, sem se oppòr a que seja immediatamente jurado o projecto tal
qual se acha redigido, offercee todavia suas reflexões sobre o artigo 157
do titulo 5.°, capitulo 7.°, que faz vitalícios os conselheiros de estado;
e sobre o capitulo 8.° do mesmo titulo 5.°, onde queria que se declaras-
se positivamente, que as tropas da 2." linha não serião nunca tiradas
de seus respectivos districtos, senão no caso de perigar a independência
e integridade do império; liberdade que faz honra ao generoso povo,
que a tomou, como prova não equivoca de sua franquesa e lealdade, e
da justiça, que faz á immortal liberalidade e sinceridade de S. M . I . ,
quando offercceu o projecto de constituição á approvação de seus leacs
subditos,
E com quanto desejasse muito S. M. I . poder responder ja a esta re-
presentação, manda pela secretaria de estado dos negócios do império,
participar á sobredita câmara, que requerendo todas as outras que se
jure o projecto sem restricção, não é possível por ora fazer nelle mu-
dança alguma, não havendo inconveniente, em que se remettão essas
observações para quando se fizer a revisão marcada no mesmo projecto.
Com tudo querendo S. M . o imperador deixar em perfeita tranquilli-
dade a tropa da 2.° linha, não só dessa provincia, mas de todo o impé-
rio, sobre seu futuro destino, empenha sua palavra imperial, que no
entretanto nunca a mandará sair de suas respectivas províncias, salvo
no caso marcado de perigar a independência ou integridade do império,
como foi sempre sua imperial intenção, e é conforme á natureza das d i -
14 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
tas tropas, e até se acha em parte acautelado na lei orgânica dos gover-
nos provinciaes.
E respondendo ao mais conteúdo no dito termo de vereaçào, manda
S. M. I . participar á mesma câmara, que ha por bem approvar, que se
não proceda á nomeação de deputados para assembléa constituinte, e
cessem desde ja as eleições para os eleitores, visto que jurado o proje-
cto, cessa também a necessidade de sua installação; e as novas eleições
devem ser ja feitas em conformidade da constituição, e segundo as ins-
trucções, que serão remettidas a todas as províncias immediatamente
depois de jurado o mesmo projecto, pelo grande interesse publico, que
ha, de se fazerem proraptamente as leis auxiliares, indispensáveis para o
andamento da constituição.
Manda emfim S. M . í. agradecer ao bom povo dessa provincia o vivo
desejo que manifesta de ver entre si o seu imperador, e perpetuo defen-
sor, e pai universal, e participar-lhe que bem lhe corresponde com a
sincera disposição, em que está de ir vêl-o, e ouvil-o, logo que o gover-
no do império se ponha em andamento regular, e o mesmo augusto se-
nhor possa levantar mão dos trabalhos, em que está empenhado: que
S.M. I . está bem convencido da necessidade, que tem os bons monar-
cas, de visitarem miudamente seus estados, para verem por seus pró-
prios olhos, e apalparem por suas próprias mãos as necessidades de cada
uma das províncias, e ouvirem da boca ingênua de seus subditos a ver-
dade, que mil accidentes afíastão dos pés do trono. Palácio do Rio de
Janeiro cm 11 de março de 1821.—João Severiano Maciel da Costa.
DA PROVÍNCIA DA BAHIA. 15
TOMO v i . 3
18 MEMÓRIAS H I S T Ó R I C A S , E POLÍTICAS
I
tenente: Januário Agostinho Sucupira, 2," tenente.
TOMO V I . 5
34 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
para refrescarem, ora apenas contenha limitada villa. Resta por tanto
fazer votos de ahi se levantar uma cidade de memória. •
R não menos admirável é o epilogo que sc transcreve do opusculo
Descobrimento do Brasil, obra do erudito Francisco Adolpho Varnha-
gem, infatigavel investigador de antigüidades da pátria.
* E o Brasil se descobrio. Onde são porém os padrões de tão glorioso
e transcendente acontecimento, que influio na sorte de tantos homens?
A Bahia Cabralia, vai para quatro séculos que espera por este nome, e
com mais razão espera um monumento, que a e n n o b r e ç a , e a terra c i r -
cumvisinha altamente o reclama.
O ilhéo ainda n ã o teve a fortuna de servir de base a uma torre l u m i -
nosa, que em quanto utilise aos navegantes, qual outro farol de Alexan-
dria, aceuse ao viajante, em testemunho de g r a t i d ã o , que alli foi planta-
da a primeira arvore do christianismo, e se celebrou primeiro a religião
de nosso paiz!
Pois ja que faltão monumentos físicos, procuremos n ó s , ajudados pe-
los Souzas, Vasconcellos, e com o auxilio dos modernos, apregoar estes
e outros factos do t e r r i t ó r i o , em que os destinos da Providencia nos r e -
servavão o berço,
Paiz de gentes, de prodígios cheio, f
(21) Este acto solemne foi perpetuado com uma inscripção que se lê
em bello mármore acima da porta da igreja, contendo em caracteres e
fôrma própria o seguinte:
« Debaixo dos auspícios do muito poderoso senhor D. Pedro 1.°, im-
perador constitucional, e defensor perpetuo do Brasil, forão recolhidos
nesta casa pia e seminário, os meninos órfãos no dia 42 de outubro de
1825, dia venturoso da liberdade Brasileira, natalicio do augusto funda-
dor do quinto império, anuiversario de sua gloriosa acclamação. E r a se-
gundo presidente da provincia João Severiano Maciel da Costa. »
DA PROVÍNCIA DA BAIIÍÀ.
zar de não vir com caracter official (22) foi logo transmittida
pelo presidente a todas as corporações e estações da capital,
recommendando ao cabido e prelados dos conventos o exerci-
do das preces ao Todo-poderoso, pela feliz viagem das pessoas
imperiaes, e ao publico as demonstrações do regosijo á chega-
da dos augustos hospedes. Esta recommendação parece era só
dictada pelo dever, pois que todos á porfia se preparavão des-
de logo a testemunhar ao augusto príncipe o seu reconheci-
mento. O palácio do governo que devia servir de residência
ao imperador, e mais pessoas imperiaes que o acompanhavão,
foi primorosamente decorado, e abastecido de quanto era ne-
cessário para taes hospedes; a câmara municipal, segundo lhe
ordenara o presidente, promoveu a abastança de viveres na
i
MEMÓRIAS H I S T Ó R I C A S , E POLÍTICAS
Amor, Desideriuni,
Lacriuise,
Nobis fttfhil a m p l i u s
Superes!.
De©
Vivo et vero
Pr©
Cônjuge erepta
Petrus ppimns
Fundit humilhei» preces*
Foi debaixo da inspecção do excellentissimo monsenhor,
sumilher da cortina, inspector da imperial capella, que se fez
este sumptuoso mausoléo. As inscripções latinas, e escolha
dos emblemas, symbolos, e épocas, são de um respeitável sá-
bio da nação. O risco e invenção foi do arquitecto das obras
nacionaes e imperiaes Pedro Alexandre Cavroé. O retrato de
S. M. a imperatriz era do eximio pincel do pintor da câmara
imperial, director da academia das bellas-artes, Henrique José
da Silva, único retrato, que existe bem parecido por ser feito
em duas sessões, que a mesma augusta Senhora concedeu á
DA PROVÍNCIA DA DAfUA. 85
este abalisaclo artista. A mais pintura dos emblemas, ornatos?
timbres, e letreiros, de Francisco Pedro do Amaral, pensio"
nista da referida academia. A armação do mausoléo, e igreja?
de Pedro José de Mello, armador da capella imperial, e a obra
de carpinteiro, de José Joaquim Custodio, mestre então das
obras do Paço imperial.
A's 3 horas da tarde, o som da artilharia das fortalezas e
embarcações de guerra, combinado com os lugubres dobres
dos sinos, exacerbarão a nossa saudade, e reclamarão as ora-
ções que a igreja oiíerece pelas almas dos que morrem no Se-
nhor. Concorreu logoimmenso povo á imperial capella, á qual
chegou S. M. I . às 5 horas, achando-se ja a corte, o corpo di-
plomático, c representantes da nação, que oecuparão as tribu-
nas, á saber, na capella-mór, do lado do evangelho, o corpo
diplomático, e do da epístola os gentis-homens e viadores, e
no corpo da igreja nas primeiras os grandes não empregados
no paço, senadores e deputados, e nas segundas as damas de
S. M. e altezas. O excellentissimo marquez de Canta-gallo,
capitão da imperial guarda, e o tenente da mesma o illustre
Francisco Xavier Raposo, tornarão lugar na frente do túmulo
estando em alas, por todo o corpo da igreja e cruzeiro os sol-
dados da mesma guarda com as armas em funeral, assim co-
mo estava a guarda militar. O excellentissimo e reverendissi-
mo bispo capellão-mór, acompanhado do seu cabido tomou
assento na capella-mór sem mitra, nem baculo, e oecupando
sua cadeira, se começarão as matinas, cujos responsorios, da
composição do insigne Marcos Portugal, forão primorosamente
cantados pelos músicos da imperial câmara e capella, regidos
pelo mesmo celebre compositor. No espaço de 4 horas que
durou este officio religioso, se conservou a melhor ordem, oc-
cupando-se todos em tristes recordações das virtudes da fal-
lecida imperatriz, segundo o exemplo do seu augusto sobera-
no, que acompanhava o clero nos psalmos, lições e orações,
lendo-as com attenta devoção, em um livro que banhava com
as suas lagrimas saudosas, ja tantas vezes presenciadas, e
principalmente quando dous dias antes junto go túmulo, que
4>
86 M E M Ó R I A S HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
Souza Usél com 267 votos—Antônio Vaz de Carvalho com 259—O vi-
gário Vicente Ferreira de Oliveira com 207 — Coronel João Ladisláo
de Figueiredo Mello com 196 — Coronel Manoel Ignacio da Cunha e
Menezes com 191—Coronel Francisco José Lisboa com 181—Desem-
bargador Joaquim José Pinheiro de Vasconcellos com 180—José A l -
vares do Amaral com 166—Capitão-mór Francisco Elesbão Pires com
162 — O barão da Torre com 162—Desembargador João Ricardo
da Costa Dormund com 155 — Conego José Ribeiro Soares da Rocha
com 151—Conego José Cardoso Pereira de Mello com 150—Desem-
bargador Antônio Calmon du Pin c Almeida com 150—Pedro Ferreira
Bandeira com 146 — João Carneiro da Silva Rego com 142 — Dezem-
bargador Luiz Paulo de Araújo Bastos com 125—Pedro Rodrigues Ban-
deira com 123—O vigário Lourenço da Silva Magalhães Cardoso com
122—O barão de S. Francisco com 121—Lázaro Manoel Muniz de Me-
deiros com 119—Manoel Gonçalves Maia Bitencourt com 119—Pedro
Pires Gomes com 118—O barão de Itaparica com 116—O barão de
Maragogipe com 108 — Ignacio José Simões de Carvalho Velho com
Antônio
com
•107—José
102 de Antônio
Castro Lima
do Valle
com com
103 —104
Doutor
— JoséAntônio
João Muniz
Poliearpo
com 105
Cobrai
—
104 MEMÓRIAS H I S T Ó R I C A S , E POLÍTICAS
(35) Pela novidade serão também perpetuados aqui os nomes dos jui-
zes de paz das freguezias desta cidade, e seu termo apurados em o 1.° de
abril.
FREGUEZIA DA SÉ—Juiz, coronel João Ladisláo de Figueiredo.—Sup-
plente, João Gonçalves Cezimbra.
SANTA ANNA—Juiz, José Bernardo da Silva Couto.—Supplente, Fran-
cisco Lopes de Carvalho.
DA PH0V1NCIA DA BAHIA. 107
antes de entrarem nos prelos, mas parece que isto não eslava
nas suas forças: em conseqüência desse apoio crescião as i n -
crepações, e j a com franqueza se afíirmava tramar-se contra
a fôrma do governo constitucional, de cujo partido o fazião
corifèo, não duvidando outros accrescentar ser essa a missão,
que fòra buscar ao Rio de Janeiro,"onde u m membro do mi-
nistério era publicamente accusado desse crime. As eleições
vierão incendiar mais os ânimos, e assim o anno dc 1829 en-
t r o u carregado. U m acto de imprudência do juiz de direito o
desembargador Caetano Ferraz Pinto ía-se tornando sério á
tranquillidade da capital: no dia 14 de maio, tratando-se do
julgamento do redactor do periódico denominado Bahiano f
»
DA PROVÍNCIA DA B A H I A . 109
Por officio de 17 de outubro mandou suspender o adminis-
trador do correio, pelos entraves com que obstava á remoção
desse estabelecimento (36).
Trepidavão porém os ânimos com as noticias qile circulavão
de commoções populares, e em o dia 3 de agosto deste anno
(1829) o toque de rebate em todas as guardas fez tal assom-
bro na cidade baixa, que esta immediatamente fechou-se, bus-
cando muitos abrigo nas embarcações surtas no porto: não se
soube a origem de semelhante alarme; disse-se que este pro-
viera de incêndio, mas não existio incêndio em ponto algum
da cidade, nem disso derão sinal os sinos das igrejas.
O extraordinário interesse que resultaria do estabeleci-
mento regular da pescaria de garoupas nos Abrolhos, dictou
a formação de uma companhia: Domingos José Antônio Ra-
bello chegou a dar-lhe começo, obtendo por decreto de 17 de
setembro de 1829 a sesmaria das cinco ilhotas de Santa Bar-
bara nos Abrolhos e a Barra-vermelha, mas até hoje não tem
progredido.
A noticia da chegada da segunda imperatriz do Brasil ao
Rio de Janeiro foi aqui solemnisada com sumptuosidade: uma
famosa e brilhante illuminação, que durou desde 19 até 21
de novembro no Passeio-publico,attraío a concurrencia de to-
da a população da cidade, e um esplendido baile em palácio
no ultimo dia forão os actos de regosijo, desenvolvidos pela
commissão, composta do presidente visconde de Camamú,
barão de Itapororocas, barão de Maragogipe, Pedro Rodrigues
Bandeira, Antônio Vaz de Carvalho, Antônio Moniz Barretto
e Aragão, Salvador Moniz Barretto, coronel José Maria de Pina
e Mello, Pedro Ferreira Bandeira, Manoel João dos Reis, Joa-
quim José de Oliveira, Antônio Luiz Ferreira, Wencesláo Mi-
guel de Almeida, e Antônio Pedrozo de Albuquerque, cada
um dos quaes esmerou-se em tornar o acto mais brilhante,
(43) Cumpre notar-se que era de grande voga nesse tempo uma re-
presentação que alguns deputados levarão no Rio de Janeiro á decisão
de S. M. I . era 17 de março de 1831, e apesar de que actualmente pouco
ella interesse á historia, achamos sempre conveniente publical-a neste
volume.
« SENHOR—Os representantes da nação, abaixo assignados, doidos
profundamente dos acontecimentos que tiverão lugar nesta capital, espe-
cialmente no dia 15 do corrente mez, por occasião dos festejos que se
disposerão, não tanto para solemnisar o feliz regresso de V . M. I . e C ,
como principalmente para ludibriar e maltratar os Brasileiros amigos da
liberdade e da pátria, que forão de facto cobertos de opprobrios pelo par-
tido lusitano, que se insurgio de novo no meio de nós, entre gritos dc
vivão os Portuguezes, entre morrão os sediciosos e anárquicos, e violên-
cias de todo o gênero, de que tem sido victjmas alguns patriotas, cujo
sangue foi derramado cm uma aggressão pérfida e ja d'antemão preme-
ditada por homens que no delírio de seus crimes erão claramente pro-
tegidos pelo governo e pelas autoridades subalternas, como elles mes-
mos blasonavão, compromettendo até cpm incrível audácia o nome au-
gusto e respeitável de V. M , I . e C , julgão do seu dever como cidadãos,
em que recahirão os votos de seus compatriotas, como bons Brasileiros,
muito de perto interessados na conservação da honra e dignidade da na-
DA PROVÍNCIA DA BAHIA. 133
O presidente ordenou no mesmo dia 5 ao marechal Callado
que fizesse seguir para seus quartéis a força, que se achasse na
fortaleza de S. Pedro, permanecendo alli sem estar debaixo
I
144 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
E p r o c e d e n d o - s e n e s t e m e s m o a c t o , á v o t a ç ã o p a r a eleição d o
d e p u t a d o q u e c o m os d a s o u t r a s villas devião f o r m a r o c o n s e l h o i n -
terino do governo da provincia, a conformidade dos artigos appro-
v a d o s a c i m a , .«rahio e l e i t o p e l a m a i o r i a d e v o t o s , o b a c h a r e l f o r m a -
d o F r a n c i s c o G o m e s B r a n d ã o M o n t e z u m a , ao q u a l p o r se a c h a r a u -
s e n t e f o i a c c o r d a d o e s c r e v e r - s e u m a c a r t a d e partecipação d a s u a
nomeação, para v i r prestar o j u r a m e n t o na conformidade do artigo
4.° d o p i a n o e r e p r e s e n t a ç ã o a c i m a t r a n s c r i p t a , e d e t u d o m a n d a -
r ã o f a z e r e s t e t e r m o e m q u e a s s i g n o u o d o u t o r j u i z d e fóra p r e s i -
dente e mais m e m b r o s da câmara, com as pessoas presentes e e u
Jacinto Lopes da Silva, escrivão d a c â m a r a o e s c r e v i . — L i m a , Al-
bernaz, Castro, Pedreira, Teixeira, José Garcia Pacheco de Mou
Pimcnlel e Aragão, c o r o n e l c o m m a n d a n t e d a f o r c a a r m a d a , D.
Braz Balthazar da Silveira, c o r o n e l c o m m a n d a n t e d e i n f a n t a r i a ,
José de Araújo Bacellar e Castro, s a r g e n t o m ó r , Joaquim José Ba-
cellar e Castro m a j o r d e i n f a n t a r i a , o vigário Francisco Gomes dos
Santos e Almeida, o p a d r e vigário Alexandre Ferreira Coelho, F r .
José de S. Jacinto Mavignier, p r e g a d o r r e g i o e f f e c t i v o , e x a m i n a d o r
d a s t r e s o r d e n s m i l i t a r e s , capitão Antônio Cerqueira Pinto, t e n e n t e
Clemente Jorge Martins Milagres, capitão jl/emoe/c/a Paixão Bacellar
e Castro, a l f e r e s José Garcia Cavalcanti Albuquerque, capitão José
Fernandes de Almeida, c o n e g o Anselmo Dias Rocha, Domingos da
Silva Guimarães, capitão d e m e l i c i a s , Francisco da Cunha Nabüco
dc Araújo, n o m e a d o s e c r e t a r i o d a p r o v i n c i a d o E s p i r i t o S a n t o , p a -
d r e Antônio José Lopes de Carvalho Portugal, p a d r e José Martins
Malhêva de Mello, Francisco Caetano da Silveira e Souza, Francis-
co Gomes Moncorvo, a l f e r e s d e milícias João Borges Ferraz, José
Moreira Guimarães Júnior, João Machado da Silva, Antônio Lo-
pes Ferreira e Souza, José Ferreira Sarmento, José Paes Cardozo
da Silva, capitão c o m m a n d a n t e , Antônio Pereira Reboliças, João
Pedreira do Couto, Luiz Ferreii a da Rocha, Germano José da Sil-
va Pinto, capitão a j u d a n t e , Bento José de Almeida, p a d r e Vicente
Ferreira Gomes, p a d r e Joaquim Marinho Falcão, Manoel Eleuterio
Alves de Araújo, João Antônio Moitinho Chaves, Manoel Pinto de
Azevedo, Joaquim José de Araújo Lima, José Antônio Mourão,
Francisco Machado da Silva, Florentino Rodrigues da Silva, capitão
Francisco Rodrigue da Costa Veiga, Carlos Joaquim de Magalhães,
Manoal Joaquim de Santa Anna, Manoel Teixeira dc Santa Anna,
f)A PROVINCIA DA RADIA. 175
d u e t o r a z o d e GO p a l m o s , c h a m a d o Z i m b e i r o c o m 3 peças d e f e r r o
m o n t a d a s , q u e flanqueão a P r a i n h a p o r e s t a r esta c o m i g u a l d i r e c -
eão s o b r e o f o r t e d e S. L u i z , c o m o t a m b é m f l a n q u e a a costa d o m a r
l a r g o p o r s e d o m i n a r t u d o d o a l t o d e s t e l u g a r ; esta f o r t a l e z a s e r v e
d e d e f e n s a ás v i l l a s d e Cairú, C a m a m ú , B o i p e b a , e povoação d o R i o
das c o n t a s , q u e são os c e l l e i r o s d a B a h i a , c o m o o E g y p t o o f o i d o
povo R o m a n o ; e nesta c o n f o r m i d a d e h o u v e o dito c o n s e l h e i r o c h a n -
c e l l e r , e j u i z d o t o m b o esta medição, e confrontação p o r b e m f e i t a ,
d e q u e l i z este t e r m o , e m q u e t o d o s assigharão. E e u José G u l a r t e
da S i l v e i r a , escrivão d o t o m b o q u e o escrevi.—Serrão, Souza, Ma-
noel de Oliveira Mendes, Alexandre Marques da Silva. E l o g o n o
m e s m o d i a , m e z , e a n n o a c i m a d e c l a r a d o , passarão o d i t o m i n i s t r o ,
j u i z d o t o m b o , desembargador p r o c u r a d o r da fazenda, e m e d i d o r e s
a b a i x o a s s i g n a d o s , ao f o r t e d e S. L u i z , n o l u g a r d a P r a i n h a a d j a c e n -
te á m e s m a f o r t a l e z a d e S. P a u l o a c i m a l o m b a d a , e f e i t o s os e x a -
m e s e medições necessárias, acharão q u e d a p a r l e d o m a r l a r g o
c h a m a d o d a P r a i n h a , e m q u e faz enseada, p o r ser c a p a z d e d e s e m -
b a r q u e , f a z f r e n t e a s u a e n t r a d a ao c a m i n h o q u e v e m d a povoação
d o p r e s i d i o d o M o r r o , e m q u e está o c o r p o d a g u a r d a , d e p a r e d e s
d e t a i p a , c o b e r t o d e t e l h a , q u e f a z f r e n t e p a r a o . p o e n t e , a sua figu-
ra é de rectangulo irregular, q u e o maior lado d o redueto é de 5 0
p a l m o s , c o m 5 peças d e f e r r o m o n t a d a s , q u e flanqueão p o r d o u s
l a d o s a p r a n c h a , e os m a i s estão d e e n c o n t r o á m o n t a n h a , q u e p a r a
a p a r t e d a e n t r a d a c o r r e , e p a s s a n d o o s s o b r e d i t o s ao s i t i o o n d e se
acha a fonte p r i n c i p a l i n t e r i o r d o M o r r o , antes d e chegar ao r e d u -
e t o d e S. L u i z , está a f o n t e d o p r e s i d i o f e i t a d e .pedra e c a l á c u s t a
d a corôa, c o m boas a b o b a d a s n o s canaes, e passagens d o c a m i n h o ,
c o r r e p e r e n n e m e n t e p e l a abundância d a s a g o a s d o m e s m o p r e s i d i o ,
inda na m a i o r esterilidade, e nesta c o n f o r m i d a d e h o u v e elle conse-
l h e i r o j u i z d o l o m b o p o r b e m d e s c r i p t a , t o m b a d a e m e d i d a esta f o r -
t a l e z a , e t o d o s o s seus p e r t e n c e s d e q u e m a n d o u f a z e r este t e r m o ,
q u e t o d o s assinarão. E e u José G u l a r t e d a S i l v e i r a , escrivão d o t o m -
b o d o s próprios d e S. M . q u e o escrevi.—Serrão, Souza, Manoel
de Oliveira Mendes, Alexandre Marques da Silva.
DA P R O V Í N C I A DA BAHIA. 179
FORTIFICARÃO DA CAPITAL.
A defeza da provincia da Bahia consiste ria boa opposieào que
se deve fazer ao i n i m i g o quando entrar pela barra, e depois de es-
tar fundeado. Quando o i n i m i g o entrar pela barra, todos os fortes
devem fazer diligencia por lhe empregar o maior numero de tiros,
logo que o v i r e m dentro do alcance da sua respectiva artilharia. Os
tiros de baila rasa são de maior utilidade. Quando o inimigo esti-
ver fundeado devem os fortes continuar a fazer-lhe o fogo, se esti-
ver debaixo do alcance da sua artilharia, e estando fóra delia, então
se poderá inquietar com algumas embarcações cheias de matérias
combustíveis, as quaes se conduzem dc noite á uma direcção, que
vá ter ás inimigas, e quando ja estiverem próximas á ellas se lhe põe
fogo, retirando-se os conduetores em canoas: isto se consegue dan-
do algum prêmio aos conduetores. O mesmo se pratica com aquel-
les que querem i r cortar as amarras das embarcações inimigas.
Quando o i n i m i g o fizer o seu desembarque deve-se-lhe disputar
com tiros de peça carregados com baila, os quaes devem principiar
logo que o i n i m i g o estiver dentro do alcance da artilharia, porém
se acontecer chegar á praia, então se deve fazer o uso de melra-
Iha. Quando o i n i m i g o tiver feito o seu desembarque, procurará
formar-se e apoderar-se da fortificacão que achar naquella posição.
Os defensores lhe não devem dar tempo a isso, fazendo-lhe um fo-
go muito vivo, não só com as armas, mas também com a artilha-
ria posta na frente e pelos flancos, e sendo necessário a atacal-o
mesmo com a baioneta, e chiieo.
E necessário fortificar com peças de artilharia todos os pontos
que podem offerecer u m desembarque: esta praça tem para a sua
defeza, pela marinha, principiando do flanco do sul, o redueto do
Rio V e r m e l h o com 9 peças, e pela frente o forte da Barra com 16,
o de Santa Maria com 12, o de S. Diogo com 7, a bateria de S.
Paulo com 18, o da Ribeira com 30, o de S. Fernando com 11, o
forte de S. Alberto com 7, e do Monserrate com 9, o da Passagem
no flanco do norte com 8, o forte do rnar com 46, e. pela parte de
terra o forte de S. Pedro com 22, o do Barbalho com 22, o de San-
to Antônio alem do Carmo com 15, que fazem aò todo 2 5 0 peças
de diffcrcntes calibres, das quaes 91 são, umas imiteis. « outras
3
180 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
nos faz ver que nesta cidade se deve fazer antes da vinda do inimi-
go o que o mesmo rei tem feito e continua a fazer depois da sahida
do mesmo inimigo. Também por necessidade se devem collocar 5
ou 4 peças de calibre de 4 ou 6 na entrada de cada rio, e muito
principalmente na villa de S. Francisco por ser muito necessário es-
tar aquella posição livre do inimigo, sendo todos os seus habitantes
obrigados a disputarem o desembarque com todo o gênero de
armas.
Não havendo nesta praça mais do que 631 soldados de artilha-
ria, comprehendendo neste numero doentes do hospital, e recrutas,
segundo o estado effectivo do regimento, e havendo 28 peças de
campanha no parque, é evidente que os artilheiros divididos pelo
parque, peças dos fortes, e por aquellas que se devem tomar dos
navios, e montarem-se pelas posições, não podem chegar para pôr
dous em cada uma peça, por isso é inteiramente necessário instruir
aquelles que devem trabalhar na occasião da necessidade, não só no
exercício de bateria volante, mas também de praça. Havendo tam-
bém somente no estado effectivo dos dous regimentos de linha 1275
soldados comprehendendo o numero de doentes no hospital, invá-
lidos e recrutas, os quaes com as milícias da cidadã ainda fazem
um numero muito diminuto para a defeza de toda a marinha, e da
parle de terra desta cidade, assim é necessário por ser a guerra de-
fensiva, na qual todos tem obrigação de trabalhar, chamar todos os
habitantes, formar uma columna, dividida esta em tres brigadas, a
primeira encarregada da defeza do forte de Santo Alberto até o íim
da praia de São Thomé, a qual pôde ser formada de 200 solda-
dos de linha, do regimento de linha, do regimento de milícias de
Pirajá, e de todos os habitantes de Agua de meninos até a dita po-
sição de São T h o m é , fazendo as suas paradas, uma no Senhor do
Bomfim, e outra na praia de N. S. da Escada, á qual se deve en-
tregar 6 peças de campanha, e devem ter promptas no canal de Ita-
pagipe 2 ou 3 barcas para a prompta passagem de uma para a ou-
tra parte.
A segunda brigada pôde ser encarregada da defeza do forte de
S. Diogo até a Torre, e ella pôde ser formada de 200 soldados de
linha, do regimento de milícias da mesma Torre, e todos os habitan-
tes que morão do forte de S. Pedro para diante até a referida Tor-
re, e fazer as suas paradas, uma na barra e a outra na Itapoã, a
DA PROVÍNCIA DA BAHIA. 183
qual se deve entregar 6 pecas de campanha. A terceira brigada se-
rá encarregada da defeza de toda a marinha do forte de S. Diogo
até o de Santo Alberto, será formada do resto da tropa de linha, das
milícias e mais habitantes da cidade, fará as suas paradas, uma no
largo de S. Bento, e outra no T e r r e i r o de Jesus, a qual se devem
entregar 12 peças de campanha, e 4 ditas que restão serão empre-
gadas em qualquer das posições. Todas as peças de campanha
que se dividirem pelas brigadas devem ser puxadas por bestas, para
o que, as que houver na cidade devem estar numeradas. Cada uma
destas brigadas além da defeza encarregada deve ter uma guarda
para não deixar passar pessoa alguma sem passaporte, ellas se de-
vem reunir, quando para esse f i m tiverem ordem, a do centro r e -
forçará a daquelle lado onde se fizer o desembarque verdadeiro, o
qual se deve conhecer pelos signaes.
Supposto que o local desta praça por ser cortado de montes e
valles profundos, e por isso só admitte a guerra de opposição, e
não operação de cavallaria, com tudo é necessário que estejão nel-
la duas companhias de cavallaria miliciana, se não houver paga,
para a boa expedição das ordens, as quaes podem destacar todos os
mezes do regimento de milícias da villa da Cachoeira. Nesta praça
não haverá armamento para todos os habitantes, assim será neces-
sário fazer astes de páo forte para introduzir em muitas baionetas
que se achão no trem dadas por inúteis, fazer também muitos
chuços de ferro, e quando não haja tanto ferro, ou se queira evitar
a despeza delle, se podem fazer de páo d'arco, de páo ferro, ou
de outra qualquer madeira forte, a qual produz o mesmo effeito
que o ferro, e m semelhantes occasiões. Como o inimigo entrando
neste porto fica senhor do mar, e ha de impedir a entrada de man-
timentos na cidade, é necessário estabelecer armazéns para onde se
transportem por terra os mantimentos necessários para o povo, pa-
ra este fim se devem mandar pessoas de autoridade para obrigar a
fazer os ditos transportes para o armazém grande, que deve esta-
belecer-se em o sitio da Feira, e desta para o immediato que se de-
ve estabelecer no Cabulla para fornecer a cidade.
É de esperar, que havendo constância nos defensores fiquem
sem effeito os intentos do inimigo, á excepcão de alguma ruina que
nos podem causar com as bombas que lançarem na cidade, por
quanto para os evitar me não lembro de remédio algum, senão o
184 M E M Ó R I A S HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
Rio Vermelho.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
para o mar com mais de cinco braças, para onde se pode augngen-
tar, e não para o fundo como por engano disse o copiador: é de-
feituosa porque se deixa dominar pelo oiteiro que lhe fica na reta-
guarda, por cujo motivo, parece que se deve fortificar este oiteiro,
pois e m regra todas as eminências das quaes o inimigo possa des-
cobrir as obras que estão no alcance do canhão, devem ser forti-
ficadas.
TEXTO.
Julgo não ser precisa a cortina, que se intenta entre Santa Ma-
ria, e Santo Antônio, por não haver canal, pois os navios podem
passar na distancia que quizerem; e que seguindo o sobredito pa-
recer cahiremos no defeito de querendo fortificar tudo, deixaremos
tudo fraco; portanto sou de parecer, que as baterias de Santo A n -
tônio, Santa Maria, e S. Diogo se ponhão e m estado de não serem
levadas de viva força, e que se construa nas alturas ao sul da cidade
que commandão as ditas baterias, u m entrincheiramento, e m que
estejão postadas as tropas encarregadas de evitar o desembarque,
ou de fazerem reembarcar os que estivessem desembarcados: o en-
trincheiramento deve ter as condições de u m campo forte, e ser
apoiado pelas fortificações da cidade.
OBSERVAÇÃO.
Bateria da Gamboa.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
Bateria da Ribeira.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
Fortaleza do Mar.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
o I
194 M E M Ó R I A S HISTÓRICAS, E POLÍTICAS
Reducto de S. Alberto.
TEXTO.
* OBSERVAÇÃO.
I&cducto do Monserrate.
TEXTO.
não podia deixar d e ser fraco, (oi destruído e m Ioda parle e m que
foi a laçado.
E m i i m , excellentissimo senhor, relativo ás fortiíicações da Bahia,
attendendo á (pie os esforços do inimigo não se podem dirigir senão
contra a cidade, pois só nesta é que podem achar os meios de sub-
sistência, e o rcembolço das grandes despezas de expedição; outra
vez o digo, é preciso: primeiro pôr a cidade fóra de lodo o ataque
immediato, e livre de um bombeamento tanto do mar, como de ter-
ra, pois este pôde causar lanto, ou mais prejuízo do que o ser to-
mada : quaes devem ser as fortificações da cidade ja disse, que só
com uma planta exacta, e m que houvessem marcados os d i f l e r e n -
les niveis, é que eu poderia projectar com acerto; mas o que posso
affirmar é que lançando m ã o do local e do dique, com pouca des-
peza se poderá fazer a cidade de S. Salvador de uma resistência i n -
finita, muito principalmente se evitarmos o desembarque na penín-
sula, onde ha tantos pontos de apoio para os defensores, quantos
são os fortes, no centro dos quaes fica a grande fortaleza da cidade.
O bombeamento do lado do mar se evitará elevando o forte do mar,
e as baterias da marinha á força projectada, isto é, a ponto de se
não apresentar diante da cidade navio algum, que não seja batido
com maior n u m e r o de canhões, do que o com que elle pode bater,
e que sejão, se possível for, de maior calibre, razão porque reprovo
nas fortalezas mariiimas, onde podem chegar náos, peças de calibre
menor de 2 4 ; nas em que podem chegar fragatas menor de 18; e
nas e m que podem chegar brigues, lanchas artilheiras, &c., me-
n o r de 12.
OBSERVAÇÃO»
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
TEXTO.
OBSERVAÇÃO.
Fortaleza do Morro.
TEXTO.
TEXTO.
-
OBSERVAÇÃO.
As praças que eslão era altura de 60 até 90 pés não podem ser
levadas de assalto: é regra invariável; por que querendo apontar
o canhão a tanta altura não se sustenta no reparo, ou é preciso met-
ter tão pequena carga, que os tiros não fazem effeito considerável,
do que se segue, que só por aproxes podem ser tomadas, os quaes
são bem repellidos quando se collocão duas ordens de palissadas no
principio dos escarpamenlos, fazendo rolar sobre ellas barris fulmi-
nantes, bombas incendiarias, e outros muitos artifícios de guerra,
tudo sustentado por 3 ou 4 peças de campanha collocadas nos vérti-
ces das ladeiras, ou escarpamentos e m posições que possão tomar
o i n i m i g o de flanco, de escarpa, ou de rcvez.
TEXTO.
Não sei a razão porque dizem que se não podem formar baterias
de ricoxele, n e m para que vem taes baterias onde não se trata de
atacar praça alguma, e só se trata dc marchas; demais o estabele-
cimento de taes baterias não depende senão da differença de níveis,
que ha entre o ponto da bateria, e a parle que. se quer" ricoxetar, e
não da largura do terreno. N o que diz respeito á segunda parle
j u l g o que se devem atravessar as estradas nos pontos onde ha os
despenhadeiros laleraes, isto é, quando taes posições não podem ser
rodeadas com bons intrincheiramentos de tal figura, que não pos-
são ser enfiados; que presenlem ao inimigo maior frente do que e l -
le pôde ler; coberto de u m b o m fosso bem franqueado, e bem pa-
lissaclo, com seu caminho coberto sendo possível, e com poços, no
fundo dos quaes hajão estacas metlidas : estes poços devem ser pos-
tos na ordem quinconce em toda a esplanada, e na raiz desta se po-
rá u m bom abatiz: as estacas no fundo dos poços, são de menos tra-
balho do (pie os estrepes, e de muito superior defeza.
OBSERVAÇÃO
Confesso não entender este capitulo; penso que querem dizer que
se deve escolher um sitio onde se construa de novo uma praça/para
á ella se retirarem logo que o inimigo oecupe a cidade da Bahia,
mas isto não é o que se pede, mas sim o modo de fazer com que os
inimigos se não apoderem da mesma cidade da Bahia, onde se pode-
ráõ indemnizar das despezas feitas na expedição, e onde acharão re-
cursos immensos para a sua boa existência, e para continuar os seus
ataques, sem a posse da qual, a guerra, ainda sendo felizes, lhes ser-
virá de mais ruina, do que aos atacados, e m razão das immensas
despezas que são obrigados a fazer, e que não podem haver sem
a tomada da sobredita cidade.
204 MEMÓRIAS HISTÓRICAS, li POLÍTICAS
OBSERVAÇÃO.
836^
Fim fio 6. v o l u m e f
3
3
DAS MATÉRIAS MAIS INTERESSANTES
ERRO EMENDA
Pag. 4 linha 21 — tendeneia tendência
» 176 » 9 — distantes distante
» » » 17 — presido presidio
187 » 1 — coruna comuta
190 » 27 — colloda collocada.
CONTINUAÇÃO DA LISTA
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