30/06/2021 Obras - Obras analisadas - Maria da Vila Matilde | PAS Digital

Obras

Maria da Vila Matilde

Elza Soares - Maria da Vila Matilde (Áudio O …

Maria da Vila Matilde, Elza Soares, 2016

Letra

Cadê meu celular?

Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: Péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Cadê meu celular?

Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: Péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando o samango chegar

Eu mostro o roxo no meu braço
Entrego teu baralho
Teu bloco de pule
Teu dado chumbado
Ponho água no bule
Passo e ainda ofereço um cafezim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
(samango signi ca soldado, em uma linguagem informal)
(bloco de pule é um bloco com bilhetes de apostas)
(dado chumbado é um dado viciado)

Cadê meu celular?

Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais

https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/32 1/5
30/06/2021 Obras - Obras analisadas - Maria da Vila Matilde | PAS Digital
Eu digo que não te conheço
Obras
E jogo água fervendo
Se você se aventurar
Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: Péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizinhos
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando tua mãe ligar

Eu capricho no esculacho
Digo que é mimado
Que é cheio de dengo
Mal acostumado
Tem nada no quengo
Deita, vira e dorme rapidinho
Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim
(quengo signi ca cabeça, em uma linguagem informal)

Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Mão, cheia de dedo

Dedo, cheio de unha suja
E pra cima de mim? Pra cima de moa? Jamé, mané!

Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Comentários sobre a letra

A música retrata a violência doméstica sofrida pela personagem Maria, que representa muitas
mulheres no Brasil e no mundo. O tom de voz da música é de sobreposição ao agressor,
afrontamento diante do agressor, o que traz uma imagem de embate e encorajamento de
mulheres a denunciar.

A Lei Maria da Penha é a maior referência da letra. A música é uma representação do grito da
denúncia, representando o momento em que a vítima decide denunciar o agressor.

A música, apesar de ter sido escrita por outra pessoa, está intimamente relacionada à vida da
cantora Elza, que sofreu episódios de violência doméstica em seus casamentos.

Na primeira estrofe, a personagem Maria anuncia que vai denunciar o marido para a Central de
Atendimento à Mulher: "Eu vou ligar pro 180". 180 é o número para as mulheres denunciarem
seus agressores, sendo amparadas pela Lei Maria da Penha. Muitas são impedidas pelo medo,
logo, não chegam a realizar a denúncia.

Os versos são como encorajamento para que as mulheres quebrem o silêncio, tomem coragem e
tomem atitudes em relação aos relacionamentos abusivos.
Em: "Eu quero ver você pular, você correr na frente dos vizim", há uma ironia com a superioridade
masculina, representada pela posição de fragilidade do homem, que mostra toda sua covardia
para o mundo ao pular e correr diante dos vizinhos.

Na maioria dos casos de violência doméstica, a mulher ainda segue sem voz e situações como
essa são banalizadas. Muitas vezes a vítima é vista com descon ança. Na letra da música,
podemos notar que Maria ridiculariza o marido e se rea rma, citando seus machucados e as
apostas do marido. O homem, além de agredi-la, tem outras atitudes que levam a crer que ele é
uma pessoa de má índole: “Teu bloco de pule; Teu dado chumbado”.

A normalização da violência doméstica se dá por conta de uma propagação de valores machistas

presentes em uma reprodução cultural e social, inclusive pelas próprias mulheres. Com isso, nas
estrofes, a mãe do agressor também é responsabilizada, por criar um homem que espera ser
servido e agradado por sua esposa, um homem “mimado” e “mal acostumado”.

Ao m, Maria da Vila Matilde está empoderada e consciente de seus direitos. Não aceita se
submeter a tais violências e não teme denunciar seu marido. A música retrata esse momento e é
uma forma de encorajar outras mulheres a denunciar.

Sobre Elza Soares

https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/32 2/5
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Artista Elza Soares. https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Elza_Soares.jpg

Elza Soares é um dos maiores nomes da música brasileira. Nasceu na favela do Rio de Janeiro e
teve uma infância conturbada, casou-se com 12 anos, obrigada pelo pai, e cou viúva aos 21.
Sofreu muito neste primeiro casamento por conta de violência doméstica e sexual. Mais tarde,
envolveu-se com Garrincha (o jogador de futebol), com quem se casou e teve um lho, separou-
se por conta de agressões físicas, traições e humilhações. Elza sofreu muito com a perda de 4 de
seus 8 lhos.

Elza enfrentou a pobreza, o racismo e o machismo. Hoje, ela aparece na lista das 100 maiores
vozes da música brasileira e, em 1999, foi eleita pela Rádio BBC de Londres como cantora
brasileira do milênio.

"A Mulher do Fim do Mundo" é o álbum em que se encontra a música “Maria da Vila Matilde”, as
canções desse projeto retratam temáticas da violência doméstica, sofrimento urbano,
transexualidade e negritude. Seu álbum foi um sucesso e considerado o "início de uma nova era"
por críticos musicais. O álbum ganhou o Grammy Latino de 2016 na categoria de Melhor Álbum
de Música Popular Brasileira.

Instrumentos

A canção apresenta um gênero diferenciado, misturando o samba, o rock e um pouco da música

eletrônica. Os instrumentos estão utilizados em prol da criação de uma melodia samba-rock.

Características dos instrumentos

Guitarras: família das cordas

Baixo: família das cordas
Bateria: família da percussão
Trombone: aerofone da família dos metais

Características da música:

Douglas Germano é o compositor da música e a letra é uma homenagem dele à sua mãe, Maria,
que sofreu repetidas agressões do marido.

O ritmo da música é crescente. Começando com a utilização de elementos da música eletrônica

e acompanhado do vocal para enfatização da letra.

https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/32 3/5
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Logo no início, introduz-se a bateria e a guitarra, que em conjunto conduzem o ritmo da música
Obras
de forma semelhante a um rock. Quando há a introdução de elementos da percussão e do
trombone, é possível notar a mistura entre o rock e o samba.

Há um refrão claro seguido de pausas para introdução de novas estrofes, as quais possuem
melodia e ritmos semelhantes.

Em muitos momentos, há uma paralisação da melodia para enfatizar alguns trechos da letra. Em
outros, há uma repetição de mesmo trecho com o intuito de enfatizá-la também. É importante
destacar que, nos trechos em que há paralisação da melodia, Elza continua cantando, mas sem
os instrumentos, não existe voz falada, a voz continua sendo cantada.

Contexto histórico

A música foi lançada recentemente, em outubro de 2015, e reforça que, mesmo em um contexto
contemporâneo, a violência doméstica ainda é uma realidade enfrentada por muitas mulheres,
apesar do amparo da Lei Maria da Penha.

A partir de re exões acerca da letra da música, é possível lançar argumentos que reforçam que,
ainda hoje, as mulheres têm medo de denunciar esse tipo de violência, muitas vezes temem por
seus lhos ou não possuem condições nanceiras para se manterem sozinhas. Muitas ainda não
se sentem informadas o su ciente sobre a Lei que as ampara, veja os dados a seguir.

Dados da Pesquisa Nacional sobre Violência Doméstica e Familiar, grá co sem escala, fonte:
https://www12.senado.leg.br/

A música traz o protagonismo feminino à tona, mostrando o momento em que Maria decide
denunciar seu agressor.

Por dentro da matriz

O contato com esses textos pode subsidiar o exercício de habilidades críticas, como julgar a
pertinência de opções técnicas, sociais, éticas e políticas na tomada de decisões, ou confrontar
possíveis soluções para uma situação-problema.
Esse exercício da crítica pode ser enriquecido a partir do contato com obras, como a canção
Cota não é esmola (Bia Ferreira) ou Inclassi cáveis (Arnaldo Antunes, interpretada por Ney
Matogrosso), e Maria da Vila Matilde (Elza Soares) ao trazerem, em suas letras,
problematizações acerca de determinadas maneiras contemporâneas de viver e conviver,
modos que não se orientam para o reconhecimento da riqueza étnica do Brasil, nem dos direitos
de populações marginalizadas historicamente.

A participação da mulher na política ou na vida social de forma pública pode ser percebida em
obras, como O rapto de Prosérpina (Bernini), Maria Antonieta com rosa (Le Brun), Jane Avril
(Lautrec), Moema (Victor Meirelles), Úrsula (Maria Firmina dos Reis), Precisamos romper com
os silêncios - TEDxSaoPauloSalon (Djamila Ribeiro), Cota não é Esmola (Bia Ferreira) e Maria da
Vila Matilde (Elza Soares), que trata da necessidade da desnaturalização da violência,
permitindo um diálogo sobre a Lei Maria da Penha.

As músicas Cota Não é esmola (Bia Ferreira), Estou apaixonada por você, na versão de Gina
Lobrista e Maria da Vila Matilde (Elza Soares), permitem discutir questões de sexualidade,
amor, racismo e protagonismo feminino utilizando-se de gêneros musicais diferenciados e
historicamente adaptados, como o RAP e a música brasileira. Bia Ferreira utiliza-se do violão
para cantar sua música que tem características do RAP americano, Gina Lobrista interpreta na
rua sua música e Elza Soares faz uso de instrumentos elétricos e de sopro em sua canção.

Observa-se também no século XIX a construção das lutas emancipatórias femininas na Europa,
nos Estados Unidos e na América Latina. Essas temáticas estão presentes nas músicas Cota Não
é Esmola (Bia Ferreira), Maria da Vila Matilde (Elza Soares), Inclassi cáveis (Ney Matogrosso) e
Eu estou apaixonada por você (Gina Lobrista), obras contemporâneas que estimulam re exões

https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/32 4/5
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acerca das rupturas ou permanências relativas à sociedade brasileira e aos movimentos sociais
Obras nas obras audiovisuais Precisamos
surgidos no século XIX. Essas re exões são evidenciadas
romper com os silêncios (Djamila Ribeiro - TEDxSaoPauloSalon 2016) e Povos indígenas do
Brasil (Cristian Wariu, 2018). (edited)

Os espaços de convivência e coletividade se formam por questões sociais e econômicas, além

das questões geográ cas. A escultura O rapto de Prosérpina (Bernini) ilustra tais aspectos e
remete aos mitos gregos como referência de organização dessas relações. As músicas Maria da
Vila Matilde (Elza Soares) e Cota não é esmola (Bia Ferreira) permitem problematizar os
espaços de nidos para cada grupo social, além de de nir um espaço que pode ser confrontado
pelo protagonismo feminino. Essas percepções estão presentes também nas pinturas Maria
Antonieta com rosa (Le Brun) e Moema (Victor Meirelles), na litogravura Jane Avril (Toulouse-
Lautrec) e na análise da Lei Maria da Penha, artigos 1o a 12-B – Lei no 11.340/2006.

Itens que já caíram no PAS

Item do PAS - Subprograma 2018 - Segunda etapa

26 - Nas canções Inclassi cáveis, Maria da Vila Matilde e Cota não é esmola, a alternância entre
voz falada e voz cantada é explorada para enfatizar a mensagem da letra.
GABARITO: E

Referências

https://www.letras.mus.br/elza-soares/maria-da-vila-matilde/
https://revistacult.uol.com.br/home/a-musica-serve-para-denunciar-para-gritar/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Elza_Soares https://g1.globo.com/pop-arte/musica/rock-in-
rio/2019/noticia/2019/09/29/elza-soares-mistura-estilos-musicais-no-palco-sunset-do-rock-
in-rio.ghtml http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa359516/elza-soares
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Mulher_do_Fim_do_Mundo
https://www.letras.mus.br/blog/maria-da-vila-matilde-analise/
https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/comum/violencia-domestica-e-
familiar-contra-a-mulher-2019

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