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Mudanças – Psicologia da Saúde, Copyright 2009 pelo Instituto Metodista de

17 (1), Jan-Jun 2009, 1-11p Ensino Superior CGC 44.351.146/0001-57

Saúde, migração e direitos humanos


Natália Ramos*

Resumo
Os fluxos migratórios são hoje mais numerosos, mais rápidos, mais diversificados e complexos do que no passado,
atingindo todos os continentes, géneros, classes sociais, gerações e os vários domínios da vida pública. As questões
da saúde, da qualidade de vida, dos direitos humanos e da cidadania das populações migrantes estão no centro das
preocupações dos países da União Europeia, nomeadamente Portugal, dos profissionais e dos investigadores. O acesso
à saúde é um direito fundamental indispensável para o exercício dos outros direitos humanos. A presente comunica-
ção analisa as múltiplas e complexas relações e variáveis individuais e colectivas, nomeadamente psicológicas, sociais,
culturais, ambientais e políticas, implicadas nas questões da saúde e da doença, na acessibilidade aos serviços de saúde
e, ainda, no processo migratório e de aculturação. Estas variáveis podem originar isolamento, stresse, ansiedade, de-
pressão, conflito, exclusão e doença, elementos que poderão afectar não apenas a saúde mental e física, o bem-estar
e a qualidade de vida dos homens e das mulheres migrantes, como dificultar, igualmente, o seu acesso aos cuidados
de saúde e à prevenção, a reivindicação dos seus direitos e o exercício de cidadania.
Palavras-chave: Saúde; Migração humana; Direitos Humanos; Cidadania; Interculturalidade.

Health, migration and human rights

Abstract
The migratory flows are today more numerous, faster, more diversified and complex than in the past, reaching all
continents, genders, social classes, generations and several domains of public life. Health, quality of life, and human
rights matters, as well as the citizenship of migrant populations, are the heart of concerns of many countries of the
European Union, namely Portugal, and of professionals and researchers. The access to health care is a fundamental
indispensable right to the exercise of other human rights. The present communication analyses the multiple and com-
plex relations and individual and collective variables, namely psychological, social, cultural, environmental, and political
variables, implied in the health and illness matters, in the access to health care services, as well as in the migratory
and acculturation processes. These variables may cause isolation, stress, anxiety, depression, conflict, exclusion, and
illness, elements that may affect not only mental and physical health, but also the well-being and quality of life of
migrant men and women, and may also hinder their access to health care and prevention, their claim to their rights,
and the exercise of their citizenship.
Keywords: Health; Human migration; Human rights; Citizenship; Transcultural matters.


Professora Associada da Universidade Aberta, Lisboa; Investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), onde
coordena o grupo de investigação: Saúde, Cultura e Desenvolvimento; Directora/Coordenadora do Mestrado em Comunicação em Saúde da Univ. Aber-
ta; Doutorada em Psicologia, especialidade Psicologia Clínica Intercultural, pela Universidade de Paris V, Sorbonne. Universidade Aberta, Rua da Escola
Politécnica,147 1269-001 Lisboa; Telef. 213916300; Email: [email protected]
2 Natália Ramos

Salud, migración y derechos humanos

Resumen
Los flujos migratorios hoy día son más numerosos, más rápidos, más diversificados y más complejos que en el pasado,
llegando a todos los continentes, géneros, clases sociales, generaciones y los distintos sectores de la vida pública. Las
cuestiones de salud, de cualidad de vida, de los derechos humanos y de la ciudadanía de las populaciones inmigrantes
están en el centro de las preocupaciones de los países de la Unión Europea, especialmente Portugal, entre los profesio-
nales y los investigadores. El acceso a la salud es un derecho fundamental indispensable para el ejercicio de los otros
derechos humanos. La presente comunicación analiza las múltiplas y complejas relaciones y variables individuales y
colectivas, es decir las psicológicas, sociales, culturales, ambientales y políticas, involucradas en las cuestiones de salud
y de la enfermedad, en la accesibilidad a los servicios de salud e incluso el proceso inmigratorio y de aculturación.
Estas variables pueden dar origen al estrés, a la ansiedad, depresión, conflicto, exclusión y enfermedad, elementos
que podrán afectar no solamente la salud mental y física, el bienestar y la cualidad de vida de los hombres y mujeres
inmigrantes, sino dificultar también su acceso a los cuidados de la salud, a la prevención, a la reivindicación de sus
derechos y al ejercicio de la ciudadanía.
Palabras-clave: Salud, migración humana, derechos humanos, ciudadanía, interculturalidad.

Introdução – Indicadores e Dinâmicas seus territórios, em busca de melhores perspectivas e


Interculturais condições de vida. Estas deslocações estão em aumento
No mundo contemporâneo, as novas realidades crescente e deverão ser consideradas como um direito hu-
multi/interculturais fazem com que os homens e as mano, tal como é consagrado no artigo 13º da Declaração
mulheres do século XXI, mantenham múltiplas perten- Universal dos Direitos Humanos, adoptada em 1948 pela
ças identitárias e redes transnacionais, conheçam novas Organização das Nações Unidas (ONU): Todo o indiví-
oportunidades de desenvolvimento, desenvolvam novas duo tem o direito de circular livremente e escolher a sua
formas de relações sociais e interculturais e novas prá- residência no interior de um Estado. Todo o indivíduo
ticas de cidadania, tenham conquistado novos direitos tem o direito de abandonar o país em que se encontra,
mas conheçam, igualmente, novos conflitos e problemas incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
sociais, comunicacionais e de saúde e novas formas de As migrações ocorrem, sobretudo, no interior dos pa-
discriminação e de exclusão. íses, estimando-se que haja aproximadamente 740 milhões
As sociedades actuais são confrontadas por um de migrantes internos e 200 milhões de homens e mulheres
número crescente de populações estrangeiras, originárias migrantes internacionais. Os que migram devido à inse-
de diferentes culturas e portadoras de costumes e línguas gurança, catástrofes ou guerra são cerca de 14 milhões e
específicas, que afluem, sobretudo às cidades e que par- representam 7% dos migrantes no mundo (ONU).
tilham espaços, actividades e o quotidiano. Os fluxos migratórios têm vindo a aumentar, atin-
Tanto a globalização e a mobilidade das populações, gindo todos os continentes. É a Europa que acolhe um
como a urbanização, aumentaram sem precedentes os maior número de migrantes (64 milhões), seguida da
contactos entre as culturas e a coabitação entre diferentes Ásia (53 milhões) e da América do Norte (44,5 milhões).
grupos étnico-culturais e modos de vida contribuindo, O número de migrantes internacionais quase triplicou,
assim, para a multi/interculturalidade das sociedades, parti- desde 1970. Só na União Europeia (UE), o número de
cularmente das cidades e colocando sérios desafios à gestão migrantes provenientes de países extra europeus aumen-
da diversidade cultural, à comunicação intercultural, às tou 75%, desde 1980.
políticas públicas nos diferentes sectores e aos Estados. Estes fluxos migratórios crescem a um ritmo mais
O crescente desfasamento entre níveis de desenvolvi- rápido do que o crescimento da população mundial,
mento de regiões e países e entre estruturas demográficas verificando-se uma feminização das migrações. Com
de países ricos e de países pobres, os conflitos armados efeito, cerca de 100 milhões de migrantes internacionais
e políticos, têm originado um número cada vez maior de são mulheres, predominando as migrações familiares nos
migrantes e de refugiados. fluxos migratórios de carácter permanente. É de salientar
No mundo globalizado e aberto de hoje, os indiví- que a reunificação familiar é a principal via de entrada
duos continuam a migrar, para dentro ou para fora dos da imigração para a União Europeia, verificando-se que

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75% dos fluxos migratórios anuais são constituídos por É a cidade onde reside actualmente mais de meta-
cônjuges, filhos e outros familiares. Segundo a Organiza- de da população mundial (65%) que acolhe um número
ção para a Cooperação e Desenvolvimento Económico cada vez maior de migrantes. Esta é, e será, cada vez,
(OCDE, 2007), as migrações familiares atingem 70% nos mais espaço de pluralismo cultural, tendo a cidade de
EUA e constituem um terço das migrações permanentes “promover e respeitar as esperanças e os medos dos
no Japão e no Reino Unido. Estes fluxos têm vindo a seus cidadãos”(Rykwert, 1988) e responder às suas ne-
aumentar atingindo todos os continentes e os diferentes cessidades e aspirações. A gestão da diversidade cultural
sectores da vida pública, prevendo-se que em 2050 as nas zonas urbanas constitui uma das grandes preocupa-
migrações internacionais atinjam os 230 milhões. ções do Conselho da Europa e da Comissão Europeia,
Nos países da OCDE os fluxos de estudantes es- os quais projectaram para 2008 o programa designado
trangeiros, também aumentaram mais de 40% desde 2000, “Cidades Interculturais” insistindo em que é necessário
assim como, os fluxos de trabalhadores qualificados. A promover a “Cidade Aberta”, de modo a fazer-se da ci-
título de exemplo, em 2000, 11% dos enfermeiros e 18% dade um espaço plural, um lugar privilegiado de diálogo
dos médicos que trabalhavam nos países da OCDE eram intercultural, de concretização de direitos, de cidadania
de origem estrangeira (OCDE, 2007) e de qualidade de vida.
No que diz respeito a Portugal, país tradicional de Prevê-se que em 2030, as cidades do mundo em
emigração, estimando-se que o número de portugueses e desenvolvimento acolham 80% do total da população ur-
de descendentes no estrangeiro é de perto de 5 milhões, bana. A preocupação pela inclusão, bem-estar e qualidade
este tem vindo, igualmente, a reforçar o seu carácter de de vida nas cidades está presente em vários organismos
país de imigração. A partir sobretudo dos anos 70, Por- internacionais, tais como a UNESCO, o Conselho da
tugal viu-se confrontado com o fenómeno da imigração, Europa, a Comissão Europeia e a Organização Mundial
a população imigrante em Portugal representando em de Saúde, (WHO (1996).
2007 perto de 5% da população residente (435.000 estran- Ao nível da saúde surgiu em 1985 a expressão
geiros), (SEF, 2007), concentrada nas principais cidades: “Cidades Saudáveis”, tendo a OMS lançado em 1988 o
Lisboa, Faro, Setúbal, Porto, Aveiro, Coimbra e Braga. movimento das Cidades Saudáveis (WHO/EURO/HCPO
A comunidade estrangeira mais numerosa em Portugal é (1988), a que já aderiram na Europa perto de 1300 cida-
a brasileira (66.354) seguida das seguintes comunidades: des (Lafond, Heritage, Farrington, & Tsouros, 2003).
cabo-verdiana (63.925); ucraniana (39.480); angolana Para estes organismos as autoridades públicas e os
(32.728); guineense (23.733); do Reino Unido (23.608) actores sociais, deverão promover a comunicação intercul-
romena (19.155); espanhola (18.030); moldava (14.053). tural nas instituições, nos espaços físicos e na organização
Em 2007 segundo dados do Instituto Nacional de da vida cívica de forma a impedir o desenvolvimento de
Estatística - INE (2008), nasceram em Portugal 9.887 ghettos religiosos e étnico-culturais e a promover políticas e
crianças de mães estrangeiras, perfazendo 9,6% da tota- espaços onde os indivíduos se possam encontrar, partilhar
lidade dos nascimentos neste ano. Se tivermos em conta costumes culturais e religiosos e exercer os seus direitos.
os bebés nascidos de pai estrangeiro, a percentagem é A diversidade cultural poderá sustentar o reconhe-
de 11,8% neste mesmo ano. São os brasileiros o grupo cimento positivo da diferença, do Outro mas poderá,
de estrangeiros que contribuem com o maior número de também, servir de suporte para acentuar as diferenças
crianças e que se mantém em primeiro lugar na união entre as maiorias e minorias e desencadear atitudes de
com portugueses. Os dados do INE registam, igualmente discriminação, racismo e exclusão. A cidade, enquanto
um aumento de casamentos mistos em Portugal, ou seja, espaço social e simbólico, espaço de pluralismo cultural
entre portugueses e estrangeiros. Entre 2005 e 2006 os e de diferença, é cenário onde se formam, afirmam e
casamentos com estrangeiros aumentaram de 1.364 para reestruturam identidades, onde se reinventam no quoti-
5.696. Em 2007 dos 46.329 casamentos celebrados, 12,3% diano práticas sociais e de saúde, relações interculturais
foram entre portugueses e estrangeiros. Analisando por e diferentes modalidades de participação e cidadania. É
sexo, destacam-se os casamentos de homens portugueses também espaço onde se exprimem, tensões, conflitos,
com mulheres estrangeiras (8,4% do total). Os casamen- violência, doença e exclusão. Em relação ao espaço social
tos entre brasileiros e portugueses aumentaram perto de nós somos, também o espaço que habitámos, já que o
50% entre 2005 e 2006, tendo-se registado só em 2006, contexto espacial influencia atitudes, comportamentos,
2.917 uniões. expectativas, realizações, dinâmicas sociais e identitárias.

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As necessidades individuais, as realizações e projectos famílias assumindo particular importância. É neste contexto
de vida, o desempenho pessoal e profissional, a saúde, que foi adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
estão estreitamente relacionados aos ambientes e redes (Resolução nº 45/158, de 18 de Dezembro de 1990) a
sociais de vivência urbana, aos contextos sociais, cultu- “Convenção Internacional sobre a Protecção dos Direitos
rais, económicos e políticos em que os indivíduos vivem de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das
e trabalham (Kleit, 2001). suas Famílias”, a qual entrou em vigor em 2003.
As cidades são hoje e serão, cada vez mais, espaços Para o Comité Económico e Social Europeu (CESE,
multiculturais, por excelência, em que diferentes grupos 2004), esta Convenção tem como objectivo: “A protecção
populacionais exercem as suas ocupações laborais e os dos direitos humanos e da dignidade das pesooas que
seus deveres e direitos, desenvolvem as suas actividades, emigram por razões económicas ou laborais em todo o
exprimem os seus traços culturais e estilos de vida e rein- mundo, mediante legislações adequadas e boas práticas
ventam as suas identidades e esta multiculturalidade alarga nacionais”. Segundo o CESE, a Convenção “reconhece
e diversifica o âmbito de acção do pluralismo na esfera do a protecção internacional de determinados direitos hu-
planeamento e gestão urbana e das políticas públicas. O manos fundamentais, definidos na Declaração Universal
espaço urbano proporciona uma rede complexa de inter dos Direitos do Homem, para todos os trabalhadores
relações e de vivências, uma diversidade de relações entre migrantes e suas famílias”.
os indivíduos, os locais de residência, de trabalho, de lazer
e distracção. Estas redes poderão favorecer uma progres- Aculturação, Stresse e Doença
siva integração das diferentes comunidades, promover a A população imigrante é uma população hetero-
sua inserção num tecido social e cultural mais vasto, in- génea. Contudo, a predominância de baixos níveis de
fluenciando os seus valores, comportamentos, realizações escolarização e de qualificação profissional, a inserção
e desenvolvendo atitudes de auto-confiança e emancipa- tendencial em sectores onde é mais precária e instável a
ção, que conduzem ao aproveitamento de oportunidades relação salarial, onde há um mais baixo nível de remune-
emergentes e de acesso aos direitos. Com efeito, quanto ração global, onde há um grande peso de integração de
maior for a diversidade de redes de relações sociais de um migrantes em situação irregular, desprovidos de sistemas
indivíduo, maior é o acesso às oportunidades de integra- de protecção social, a precariedade da sua situação social e
ção, de educação, de saúde e bem-estar e de mobilidade económica, fazem do grupo de imigrantes um grupo par-
individual, social e familiar. Quando a oportunidade de ticularmente vulnerável, nomeadamente, ao nível da saúde.
residir em espaços possuindo recursos, infra-estruturas e Também, as condições sociais e habitacionais precárias,
equipamentos de qualidade estiver, igualmente distribuída o desenraizamento e isolamento social, as dificuldades
entre os diferentes grupos populacionais, incluindo os em compreender e adoptar as normas sócio culturais da
migrantes e minorias étnicas, a capacidade de desenvolvi- sociedade receptora e da vida urbana, o desconhecimento
mento pessoal, social e profissional e de comportamentos dos serviços existentes e dos direitos que lhes assistem,
saudáveis poderá ser promovida e orientada no sentido assim como, as atitudes de discriminação, vêm reforçar
da igualdade de oportunidades, da inclusão, da qualidade a exclusão social e cultural, reduzir as possibilidades de
de vida e bem-estar de todos os cidadãos. contactos sociais e de participação na vida colectiva, au-
Importa acentuar que o acolhimento e integração mentar as dificuldades de recurso às estruturas de apoio
dos migrantes nas sociedades receptoras, em particular na e acentuar os factores de risco, de stresse e de vulnerabi-
cidade, onde se concentram ao nível residencial e laboral, lidade (Ramos, 2004, 2008; Scheppers, Dongen, Dekker
estão relacionados com um conjunto complexo e varia- & Geertzen, 2006; Stampino, 2007).
do de factores, onde se destacam factores psicológicos, Os migrantes tendem, em geral, a concentrar-se por
socioeconómicos, culturais e políticos, que reenviam ao origem étnica, muitas vezes, em bairros ilegais ou zonas
próprio estatuto social, económico e jurídico do indivíduo degradadas, com fracas condições de habitabilidade e hi-
migrante na sociedade de acolhimento, às suas redes so- giene, em alojamentos sobrelotados, partilhando idênticas
ciais e de suporte às atitudes da sociedade de acolhimento condições de vida e factores de precariedade e exclusão
e às políticas dos governos e dos Estados. social. A homogeneidade das populações que residem em
A migração constitui um desafio importante para os bairros e/ou habitações degradadas, e sobrelotadas, em
Estados, nomeadamente ao nível da ordem jurídica, a de- termos de escolarização, de rendimento e muitas vezes
finição dos direitos dos trabalhadores migrantes e das suas de origem étnica, a concentração de populações que

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vivem em condições sócio – económicas precárias, com a emigrantes involuntários, tais como, refugiados e exi-
fracas redes sociais, instabilidade familiar e profissional, lados. As profundas mudanças pelas quais passam estes
elevadas taxas de violência e delinquência, constituem grupos assemelham-se pelo seu sofrimento colectivo, às
elementos que agravam as dificuldades de integração na de indivíduos enlutados e envolvem, igualmente, reacções
sociedade e que dificultam a formação de sociabilidades. de pesar e luto que podem ser patológicas e atípicas.
Estes factores podem conduzir a situações de isolamento Viñar (1992) acentua a psicopatologia do exílio, subli-
e ghetto, favorecendo a estigmatização e a emergência de nhando que o traumatismo, o sofrimento e o sentimento
tensões sociais e sentimentos de intolerância e discrimi- de perda, caracterizam o luto vivido pelo migrante e exi-
nação da população autóctone, podendo provocar, ainda, lado na primeira fase migratória. Maisondieu (1997) fala
distúrbios somáticos e psicopatológicos tanto nas crian- de síndrome de exclusão para descrever o sofrimento psi-
ças, como nos jovens e adultos (Kasl e Berkman,1983; cológico e o desespero característico de muitos imigrantes
Burke, 1984; Ramos, 1993, 2004, 2008; Taylor, Repetti e refugiados, sobretudo no período inicial, confrontados
& Seeman, 1997). com a precariedade das condições de vida e com as mu-
Estes bairros e zonas degradadas são, em geral, danças de referências culturais. Trata-se de um sentimento
marcados por um certo estigma e isolamento geográfico, de vergonha, desespero e impotência, face a uma situa-
social e simbólico, face ao resto da cidade onde, frequen- ção dolorosa e stressante que o indivíduo não consegue
temente, as crianças e os jovens, sobretudo das segundas controlar, que o afecta nas suas vivências e expectativas
e terceiras gerações de migrantes, acumulam insucesso quanto ao futuro, nas suas relações, nas suas capacidades
escolar e problemas de adaptação social, desenvolvem em exigir e defender os seus direitos, podendo associar-se
atitudes anti-sociais, de violência e rejeição e organizam- a outros sintomas depressivos e pós-traumáticos.
se em culturas e grupos de resistência, reproduzindo e Os migrantes são obrigados a fazer face ao isolamen-
aumentando as situações de exclusão social, de vulnera- to, à solidão, à insegurança e à incompreensão, a abandonar
bilidade e de stresse. a família, os amigos, os locais conhecidos e seguros para
O processo migratório, envolvendo rupturas espaciais enfrentarem, não apenas uma nova cultura e língua, novos
e temporais, transformações diversas, nomeadamente mu- hábitos culturais, sociais e religiosos mas, muitas vezes,
danças psicológicas, ambientais, biológicas, sociais, culturais, também a hostilidade, a discriminação, a insegurança e a
familiares, políticas, implicando a adaptação psicológica e indiferença da população, factores que vão influenciar na
social dos indivíduos e das famílias e diferentes modalida- sua qualidade de vida e saúde física e mental, nomeada-
des de aculturação, constitui um processo complexo, com mente na depressão, tanto das crianças, como dos adultos
consequências ao nível do desenvolvimento individual, (Franken, Coutinho & Ramos, 2007; Coutinho, Franken
sócio - profissional e da saúde física e psíquica. & Ramos, 2008). A migração implica, assim, a adaptação
A migração não implica apenas a deslocação espacial social e psicológica mas, também, a incorporação pelo
e não é, simplesmente, sinónimo de encontro cultural. indivíduo de uma cultura, língua, regras culturais e sociais
Implica uma adaptação à cultura de acolhimento, a um diferentes, tendo o imigrante de desenvolver estratégias de
meio novo, desconhecido ou hostil. Constitui um pro- adaptação que lhe permitem resolver as dificuldades rela-
cesso complexo, contraditório, uma experiência de perda, cionadas com a condição de imigrante e de aculturação.
ruptura, mudança, vivenciada pelo indivíduo de uma for- Em contexto migratório, se é importante ter em
ma mais ou menos traumatizante ou harmoniosa, segundo conta o nível de integração e as reacções de adaptação
os seus recursos psicológicos e sociais, as características dos migrantes às novas condições espaciais e sócio – cul-
da sociedade dominante, as condições de acolhimento e turais torna-se, igualmente, importante analisar as carac-
as políticas do país receptor. terísticas da sociedade de acolhimento, nomeadamente,
A experiência da migração envolve uma mudança as condições sociais, económicas e políticas dominantes e
psicossocial profunda semelhante a um luto ou a uma factores como a xenofobia, a discriminação e o preconcei-
incapacidade estando, em geral, associada a stresse e to, os quais contribuem para o desencadear e manutenção
sofrimento, mais ou menos significativos segundo os da exclusão, do stresse psicológico e social e afectam o
diferentes tipos de migração. Eisenbruch (1988) utiliza a bem estar e a qualidade de vida (Burke, 1984; Scheppers,
expressão luto cultural, para designar a situação dos indi- Dongen, Dekker & Geertzen, 2006; Stampino, 2007).
víduos que sofreram a perda traumática da terra mãe e da Os acontecimentos significativos de vida, nomeada-
cultura de origem, aplicando-se esta designação, sobretudo mente a migração podem constituir factores de stresse,

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na medida em que obrigam, em geral, a uma modificação mentos protectores contra a doença mental e o stresse.
de hábitos, de relações sociais, de padrões de actividade Outros factores, tais como, o isolamento social, tabus e
e de estilo de vida. A migração poderá, assim representar prescrições religiosas, desigualdades de género, conflitos
uma experiência traumática e dolorosa, capaz de origi- intergeracionais, pressões familiares sobre os jovens para a
nar traumatismos silenciosos e múltiplos e situações de obtenção de sucesso financeiro ou académico e condições
elevado stresse. habitacionais precárias e sobrelotadas, podem aumentar
A aculturação implica a aprendizagem de uma nova a tendência para a doença mental e psicopatologia nestes
cultura, assim como escolhas por vezes difíceis entre grupos e para a redução da qualidade de vida (Kiritz &
o que o imigrante gostaria de manter e o que tem de Moos, 1974).
abandonar dos hábitos e da cultura de origem. Dúvidas Em relação às características das sociedades, Berry
e ansiedade podem surgir, encontrando-se o indivíduo di- (1989) refere que a probabilidade de um nível de stresse
vidido entre o desejo de integrar os elementos da cultura elevado é maior nas sociedades monoculturais e assimi-
do país de acolhimento e o desejo de manter tradições e lacionistas do que nas sociedades tolerantes e pluralistas.
hábitos de origem profundamente enraizados desde há São os indivíduos que procuram a integração os que têm
longo tempo (Ramos, 1993). Este conflito devido à coe- a taxa de stresse mais baixa. Por outro lado, é nos grupos
xistência de dois códigos culturais, por vezes, contraditó- marginalizados ou nos indivíduos que vivem situações de
rios e incompreensíveis e à impossibilidade em estabelecer conflito nas suas tentativas de separação, que o nível de
mediações entre dois universos diferentes, assim como, stresse é o mais elevado.
à incapacidade em lidar com as exigências do ambiente, Eckenrode e Gore (1981) analisam o stresse em
poderão ter efeitos desorganizadores no comportamento termos de acontecimentos de vida e redes de apoio exis-
e estarem na origem de distúrbios psicopatológicos, difi- tentes, destacando um conjunto de variáveis, tais como
culdades de adaptação e stresse de aculturação. a saúde, a educação e o estatuto socioeconómico que
Para Berry (1989, como citado em Ramos, 1993), o determinam o impacto de um dado agente de stresse.
stresse social e psicológico devido à aculturação manifes- Para estes, as redes sociais são uma forma privilegiada
ta-se, nomeadamente, por problemas psíquicos (depressão, de compreender as origens da perturbação e o papel
angústia, ansiedade, confusão), por problemas identitários, do apoio social, agindo este apoio como uma variável
de marginalização, sentimentos de insegurança e perda atenuante e preventiva do stresse e da doença. Com
de auto estima. Para este autor o stresse de acultura- efeito, a saúde mental e física podem ser afectadas por
ção poderá ser, mais ou menos importante, mas não é factores sócio culturais e pela influência das redes sociais,
inevitável, sendo as relações entre aculturação e stresse constituindo o apoio e as relações sociais um importante
influenciadas por um conjunto de factores, tais como: protector de saúde, como salientam alguns estudos. Por
as características sócio demográficas e psicológicas do exemplo, o isolamento social e a falta de redes sociais,
indivíduo, as particularidades da sociedade dominante, os estão relacionados com um maior índice de doença e
tipos de aculturação e os modos de aculturação. mortalidade, como é evidenciado no estudo de grande
As características sócio demográficas do indivíduo, dimensão realizado por Berkman e Syme (1979). Este
tais como a idade, o sexo, o nível sócio económico, o estudo conhecido por “Alameda County” e que acompa-
estatuto social, assim como, certas experiências, nomeada- nhou os participantes durante nove anos, concluiu que os
mente a miséria, a tortura, a exclusão, a xenofobia, podem indivíduos com menos redes sociais e mais isolados, tanto
influenciar o nível de stresse. Também as características homens como mulheres, sofrem um índice mais elevado
psicológicas do indivíduo, nomeadamente as estratégias de mortalidade, comparativamente com os indivíduos
de adaptação (coping), o controlo, as motivações, as com mais laços sociais e menos isolados.
competências, a atitude face ao processo de aculturação, Outras investigações mostram que os acontecimen-
o sentido de identidade cultural, podem igualmente ter tos de vida geradores de stresse estão excessivamente
influências no nível de stresse. representados nas minorias e classes socioeconómicas
Entre as comunidades de imigrantes e de minorias mais baixas (Dohrenwend, 1973; Myers, Lindenthal &
étnicas, certos traços culturais, tais como, o grau de Pepper, 1974) e a maior vulnerabilidade destas é também
coesão familiar e do grupo, o apoio/suporte social, as determinada pelo menor apoio social (Brown & Harris,
redes de solidariedade grupal, o sentimento de pertença 1978; Adler, Boyce & Chesney, 1994). A origem étnico/
identitária e os valores religiosos e espirituais, são ele- cultural está frequentemente associada com a classe social,

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pertencendo uma proporção importante de migrantes e e Lipsedge (1989); Doyle (1991); Ramos (1993, 2004,
minorias étnicas ao estrato socioeconómico baixo, este 2005, 2006, 2008); Narang e Murphy (1994); Anderson
estando relacionado com uma maior frequência de mor- (1995); Reijeneveld (1998); Scheppers, Dongen, Dekker e
talidade, de morbilidade, de doenças graves, com mais Geertzen (2006); Sousa (2008), para além destes factores,
comportamentos de risco para a saúde (álcool, tabaco, os migrantes e as minorias étnicas têm mais fontes de
sedentarismo), com um nível mais elevado de stresse, stresse e possibilidade de sofrer os efeitos dos factores
com uma mais fraca integração social, com uma menor ambientais de stresse devido à interacção complexa de
rede de suporte social e com uma mais baixa esperan- variados factores: precariedade das condições de habitação
ça de vida (Berkman & Syme, 1979; Marmot Smith & e de trabalho; baixo rendimento familiar; discriminação e
Stansfeld, 1991; Cohen & Wills, 1985; Wilkinsen, 1992; racismo; conflitos culturais e intergeracionais, sobretudo
Ramos, 1993, 2004, 2008; Wells et al. 2001; Lopes, 2008). entre os imigrantes e os filhos nascidos no país de aco-
Esta relação entre estrato socioeconómico e saúde/do- lhimento; isolamento social; dificuldades comunicacionais
ença deve-se, não só às desigualdades de oportunidades e linguísticas, sobretudo no caso das mulheres, muitas
mas, também, às diferenças que existem relativamente vezes confinadas ao espaço familiar e doméstico; e, ainda,
à exposição a agressões ambientais, aos estilos de vida, ao facto de possuírem menos recursos para enfrentar o
às condições habitacionais e laborais, às estratégias de stresse, à perda das referências básicas e às mudanças
adaptação social e controlo pessoal, ao suporte social, no espaço vital, nomeadamente a adaptação ao meio
ao nível de stresse, ao acesso aos serviços de saúde e à urbano e a novo estilo de vida. Os migrantes enfren-
distribuição da riqueza (Carroll, Bennett & Davey Smith, tam, igualmente, mais limitações a serviços e bens que
1993; Stronks, Ravelli & Rejineyveld, 2001; Scheppers, promovem a saúde e previnem a doença, apresentando
Dongen, Dekker & Geertzen, 2006; Stampino, 2007). mais dificuldades de acesso aos serviços, nomeadamente,
Constata-se que a saúde, mortalidade e doença grave de saúde recorrendo, por exemplo, menos aos cuidados
e o acesso aos cuidados de saúde, variam de forma acen- pré-natais e aos rastreios de cancro do que os nacionais.
tuada com as condições socioeconómicas nos diferentes Para Lazarus e Strohl (1995) os migrantes reúnem um
países, tanto em homens como em mulheres, e muitos número mais grave de patologias devido ao diagnóstico
dos factores que aumentam a vulnerabilidade à doença e tratamento tardios e à carência psicossocial, vindo as
nos grupos sociais mais desfavorecidos afectam, igual- situações de isolamento, de clandestinidade e de discri-
mente, muitos dos indivíduos migrantes e de minorias minação agravar o problema.
étnicas (Arber, 1989; Marmot, Smith & Stansfeld,1991; A O.M.S. (1983) num estudo realizado na Holanda
Wilkinsen, 1992; Sousa, 2008; Lopes, 2008). sobre a população migrante, evidencia que a pobreza das
A pobreza, o desemprego, a privação e a exclusão, condições de vida, as condições de trabalho e habitação
são importantes factores de stresse e doença em todas as geralmente precárias, os hábitos alimentares, os problemas
comunidades (Parkes, 1971; Kiritz & Moos, 1974; Gold- culturais e comunicacionais, o acesso inadequado aos cui-
berg & Comstock, 1980; Robinson, 1984). Os estereótipos dados de saúde, a ansiedade, a depressão e as dificuldades
negativos, as relações desiguais entre grupos minoritários de integração, constituem para os migrantes factores que
e maioritários, os discursos desvalorizantes e as atitudes influenciam a saúde física e psíquica.
discriminatórias em relação às minorias, por exemplo, em Por seu lado, um inquérito realizado pelo CREDES,
relação à cor da pele, constituem igualmente um factor em 1998, em França, junto de pessoas que recorriam aos
de tensão, de stresse e de sofrimento acrescido (Shérif, centros de cuidados gratuitos da região parisiense, cons-
1970; Greenfield & Cocking, 1994; Meyers, 1995). tatou uma predominância de utentes de nacionalidade
Muitos imigrantes têm, frequentemente, menos estrangeira (68 a 84%, segundo os centros). Comparati-
oportunidades de se familiarizarem com a língua e a vamente com a população geral atendida, esta população
cultura da sociedade de acolhimento, ocupam empre- apresentava as seguintes características: um pior estado
gos instáveis e mal remunerados, enfrentam conflitos de saúde geral; uma frequência mais elevada de certas
entre os valores familiares e os valores da escola e do patologias, nomeadamente, dores, síndromes depressivos
local de trabalho e dificuldades económicas, de habita- e intoxicações; um recurso elevado ao hospital público,
ção e isolamento familiar e social, o que vem acentuar contrariamente ao recurso ao privado, o qual era raro.
as dificuldades psicológicas e aumentar o stresse. Para Também as situações de renúncia aos cuidados são duas
Rack (1982); Kessler e Neighbors (1986); Littlewood vezes mais frequentes nos migrantes do que na população

Mudanças – Psicologia da Saúde, 17 (1) 1-11, Jan-Jun, 2009


8 Natália Ramos

geral: 65% dos utentes/doentes estrangeiros declararam mãe - criança desarmoniosas. Em contexto migratório a
ter abandonado os cuidados curativos ou os medicamen- família separa-se da vida comunitária tradicional, reduz-se
tos (CREDES, 2003). a uma família nuclear, a qual deverá assegurar sozinha as
responsabilidades partilhadas até aqui pela família alargada
Migração, Maternidade e Saúde e comunidade. A perda dos laços comunitários e fami-
Ser mãe em situação de migração poderá representar liares significa a perda da protecção física, psicológica e
um risco, um trauma e uma fonte de stresse e depressão da tradição. Quando a cultura, o grupo desaparece como
para a mãe, com consequências para a criança, devido às fonte de transmissão, nomeadamente ao nível das práticas
rupturas, ao isolamento, solidão, dúvidas e ansiedade que de maternagem, as competências da mãe são fortemente
acompanham esta etapa. Com efeito, são particularmen- solicitadas, tendo esta de fazer face às exigências da socie-
te as mães e as crianças, sobretudo nos primeiros anos dade em ser, não só uma boa mãe, como ao choque cultu-
de vida, as mais vulneráveis ao stresse, às rupturas, às ral, à adaptação ao novo meio e ao trabalho de luto. Para
transformações e às dificuldades resultantes do processo algumas mulheres dar à luz, longe da cultura materna, da
migratório (Ramos, 1993, 2004, 2008, 2009). família, sobretudo para as que vêm de sociedades onde
Também, muitas mães migrantes são obrigadas a estes elementos são fundamentais na transmissão, este
deixarem os seus filhos no país de origem ao cuidado luto e afastamento provoca conflitos no papel materno,
de outros familiares para cuidarem de outros (crianças e devido ao desequilíbrio entre as representações maternas
idosos) nos países de acolhimento, o que alguns autores e a realidade vivenciada (Ramos, 1993, 2008, 2009).
designam de “maternagem transnacional” (Hondageu- Na nova sociedade, exigências culturais contradi-
Sotello & Ávila, 1997) e de “cadeias globais de assistên- tórias ou incompreensíveis podem conduzir a família,
cia” (Hochschild, 2000), esta situação tendo implicações nomeadamente a mãe, a ter dificuldades em decidir sobre
psicológicas, familiares e sociais importantes, particular- os comportamentos a adoptar em relação ao modo de
mente, para as mães e as crianças. lidar com os seus filhos, à incapacidade de agir em caso
Em contexto migratório, o nascimento, momento de de mau estar ou de doença. A mãe migrante, transplanta-
ruptura do envelope materno - psíquico e físico reactiva, da de uma cultura para outra, isolada, desenraizada corre
em geral, o sofrimento e a dor do exílio e da separação. o risco de não saber com a mesma segurança quais os
A migração vem complicar e vulnerabilizar a situação de gestos e os comportamentos a adoptar, pois as referên-
gravidez e maternidade e as primeiras interacções com a cias não são as mesmas e o sistema referencial vacila. A
criança pelos condicionalismos impostos pela migração: situação de conflito cultural, a insegurança e ansiedade
a aculturação, a solidão/isolamento e o individualismo. daí resultantes estão na origem de “conflitos maternos”
O nascimento em situação migratória favorece e muito prejudiciais para a relação mãe/criança e para as
acentua distúrbios culturais e psicológicos que são, tam- interacções familiares (Stork, 1986; Ramos, 1993, 2004,
bém, verificados nas mulheres autóctones das sociedades 2008, 2009). Algumas mães em situação de “desacultu-
ocidentais, distúrbios fortemente ligados ao isolamento ração”, isoladas, desenraizadas, deprimidas, faltando-lhes
e solidão das mães e à cultura do individualismo, valor referências tradicionais sobre as quais se apoiarem, por
fundamental da sociedade actual. Para as mães migrantes, vezes, mães muito jovens, não encontram nelas mesmas,
esta situação constitui um drama e é fonte de sofrimento, nem no meio familiar e social, os recursos necessários
sobretudo para as que vêm de meios tradicionais, onde a para se adaptarem a um novo meio e cultura e para
mãe e a criança são fonte de cuidados de toda a família cuidarem dos seus filhos. Verificamos neste grupo uma
e da comunidade envolvente. maior vulnerabilidade da mãe e da criança, mais situações
Tradicionalmente a gravidez constitui um processo de risco, mais depressões e psicoses, nomeadamente pós
iniciático onde a futura mãe tem o apoio e acompanha- parto, mais distúrbios psicossomáticos, tais como vómitos
mento das mulheres da família e do grupo. A migração na gravidez, insónias, sobretudo nas primíparas, menor
origina numerosas rupturas neste processo de partilha vigilância pré-natal, mais problemas de identidade, assim
e de construção de sentido: perda de acompanhamento como, mais distúrbios funcionais do bebé, nomeadamente
pelo grupo, falta de suporte familiar, social e cultural e problemas de sono e alimentação.
impossibilidade em dar um sentido culturalmente aceitável Os estudos sobre a saúde das mulheres migrantes,
a disfuncionamentos, tais como a tristeza e sofrimento nomeadamente, na União Europeia, na América do
da mãe, o sentimento de incapacidade, as interacções Norte, na América Latina e na Ásia registam, sobretu-

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Saúde, migração e direitos humanos 9

do, problemas de saúde reprodutiva, apontando piores adesão e utilização dos serviços de saúde pela mulher,
indicadores de saúde associados a esta população. As nomeadamente, migrante e desencadeia, muitas vezes,
mulheres migrantes têm poucos conhecimentos sobre nos profissionais de saúde comportamentos inadequados
os serviços sociais e de saúde, utilizam, em geral, menos e agressivos, atitudes de rejeição e problemas de comuni-
frequentemente os serviços de saúde reprodutiva do que cação e de diagnóstico (Ramos, 1993, 2004, 2008, 2009;
as mulheres não migrantes, com frequência não recebem Bulman & McCourt, 2002; Kennedy & Murphy-Lawless,
cuidados pré-natais ou recebem este tipo de cuidados 2001; Cuadrado, Avalos, Sanchez, Fernandez, Alonso &
de modo inadequado ou tardio, apresentam uma menor Bértolo, 2004).
utilização de métodos contraceptivos e maior vulnerabi- Torna-se importante intervir ao nível da prevenção
lidade às doenças sexualmente transmissíveis, registam perinatal, escutar as mães e ajudá-las a investirem nos seus
mais gravidezes indesejadas, taxas mais elevadas de bebés, sendo necessário também aprender a reconhecer o
aborto espontâneo, de recém-nascidos com baixo peso sofrimento e as dificuldades das mães migrantes, através,
e de mortalidade perinatal e infantil (Ramos, 1993, 2004, nomeadamente das queixas somáticas, preocupações em
2008, 2009; Bollini & Siem, 1995; Essen, Hanson & Os- relação à criança, pedidos de ajuda social. É importante,
tergren, 2000; Thorp, 2003; Mosher, Martinez, Chandra, também, favorecer a partilha das suas vivências com ou-
Abma, & Willson, 2004; Machado, Santana, Carreiro, tras mães na mesma situação e permitir-lhes comunicar na
Nogueira, Barroso & Dias, 2006; Lopes, 2008, Manuel, sua língua, quando necessário, por intermédio de outras
2008; Bragg, 2008). mulheres que partilham a mesma língua.
Importa salientar que a gravidez, o parto e os pri-
meiros cuidados à criança são, ainda, nas sociedades Considerações Finais
tradicionais, de onde são originárias muitas mulheres mi- A pluralidade e a heterogeneidade dos mundos
grantes, rodeados de um conjunto de práticas e rituais que contemporâneos exigem aprender a viver e a respeitar a
passam de geração em geração e onde a figura materna e multiplicidade de pertenças e de referências, não sob a
a comunidade envolvente desempenham um papel funda- forma de dicotomias, de exclusividade e de exclusão, mas
mental no nascimento e nos cuidados à mãe e à criança. de um modo plural, contínuo e complementar.
No ocidente a solidão e o isolamento acompanham o O processo da interculturalidade vem contribuir
nascimento, assim como a valorização da interioridade para o fortalecimento da coesão social, da cidadania e da
e do individualismo e a solicitação de ser uma boa mãe, construção de uma sociedade plural e intercultural, bem
com as implicações de responsabilidade, mas também de como para a promoção do desenvolvimento, da saúde,
exigência e culpabilidade. da alteridade, das identidades e pertenças culturais e da
Em especial em situação de migração, existe um comunicação intercultural entre indivíduos, grupos e
conjunto de rituais em torno da gravidez, do parto e do nações. (Clanet, 1990; Sandercock, 2004; Ramos, 2001,
recém-nascido que se rompe e que desempenhava um 2003, 2005, 2006, 2007, 2008).
papel protector e uma função psicológica importante. O Para Sandercock (2004), o diálogo intercultural tem
universo anónimo, isolado, tecnológico e estranho das de estar presente no quotidiano e assente em dois tipos
instituições de saúde e práticas médicas consideradas de direitos fundamentais: o “direito à cidade”, enquanto
pelas mães, violentas, traumatizantes e impúdicas não espaço colectivo, promotor da participação e integração
respeitando modos de protecção tradicionais vêm aumen- de todos na construção da cidade; o “direito à diferen-
tar a vulnerabilidade destas mães, reforçar a situação de ça”, enquanto promoção e valorização da diversidade
isolamento, de stresse e de angústia para a mulher oriunda cultural, da comunicação intercultural e da alteridade.
de outro universo cultural. Esta, sobretudo aquela que é A problemática das migrações e da diversidade cultural
mãe pela primeira vez, vive com medo, ansiedade e muito vem colocar muitos desafios à sociedade, ao Estado e às
stresse este período, devido ao isolamento e às grandes políticas do século XXI nos diversos sectores, particular-
diferenças entre o meio cultural, familiar e protector mente na saúde, implicando um novo reposicionamento
de origem e o universo anónimo, distante, tecnológico metodológico, epistemológico e político ao nível da teoria,
e incompreensível com o qual se vê confrontada. Esta pesquisa e intervenção.
situação “estranha”, de stresse e vulnerabilidade tem A crescente multiculturalidade que se verifica nos
consequências prejudiciais para a saúde da mãe e do diferentes contextos da vida pública exige esforços na
bebé, na comunicação com os profissionais de saúde, na reformulação de estratégias e políticas públicas com o

Mudanças – Psicologia da Saúde, 17 (1) 1-11, Jan-Jun, 2009


10 Natália Ramos

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