Análise Do Poema Fernando Pessoa

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Análise do poema “Tudo o que faço ou medito”

Na 1ª estrofe do poema“Tudo o que faço ou medito”, Fernando


Pessoa apresenta a oposição entre o querer e o fazer. O sujeito
poético fala-nos dos seus sonhos e desejos. Mas diz-nos “Tudo o
que faço ou medito/Fica sempre na metade – ou seja, aqui
verifica-se esta oposição entre o querer e o fazer, pois dos seus
projetos nada se realiza por inteiro devido à realidade nunca se
encontrar com o que o poeta idealiza “Querendo, quero fazer o
infinito/Fazendo, nada é verdade.”

Enquanto observador de si próprio, o sujeito poético sente-se


desesperado, pois nunca consegue realizar na totalidade os seus
projetos, o que lhe causa um sentimento de incapacidade e
inutilidade. O poeta revela todo esse sentimento no verso “Que
nojo de mim me fica/Ao olhar para o que faço!”, ou seja, ele
sente que tem uma vasta imaginação, uma quantidade infinita de
ideias e pensamentos, mas ele próprio e a sua vida ficam aquém:
“Minha alma é lúcida e rica/E eu sou um mar sargaço”, são um
mar de sargaço, portanto, um mar de algas espessas que não o deixa alcançar os objetivos.

Por fim, na última estrofe, o poeta refere-se ao mar como o local onde tudo o que imagina se
pode tornar realidade, mas como sabe que será impossível realizar todos o seu projeto entrega
ao futuro a resposta para toda esta angústia.

Ó sino da minha aldeia

O sujeito poético relembra a sua infância quando ouve aquele


toque.

A sua vida de aldeia, que ele refere no poema, em marcado


contraste com a vida citadina que o preocupa.

Desejo de o sujeito poético voltar á sua infância

Reforço da ideia de saudades á medida que o tempo passa.

Sino é simbolo da passagem do tempo (dolorosa); pouca


expectativa em relação ao futuro; inconformismo, solidão,
ansiedade, nostalgia da infância; musicalidade- aliteração.

O menino da sua mãe

Inicialmente enuncia que naquele terreno se encontra o corpo do


“menino da sua mãe” que vai arrefecendo apesar da “morna brisa”.
Reforça-se o sentimento que o narrador sente ao observar o absurdo da guerra.

· Primeiro verso: hipálage, para transportar a ideia de abandono do menino para o plaino.
Predominam frases declarativas para mostrar a profundeza do tema, pois retrata o desabar dos
sonhos.

· A segunda parte do poema inicia-se com duas


frases exclamativas para reforçar a
efemeridade da vida do menino. A repetição
do nome “jovem” relaciona-se com a
expressividade das frases exclamativas que
pretendem demonstrar a emoção da juventude
do menino quando este morreu.

· Ligação entre objetos-possuidor: a


“cigarreira”, há uma hipálage no 2º verso da 4ª
quintilha, para demostrar a brevidade da vida
do menino que nem teve tempo para utilizar a
cigarreira. A segunda parte do poema surge uma outra hipálage no 3º verso da 5ª quintilha que
se relaciona com a anterior devido á reduzida duração da vida do menino, o lenço que nem
teve tempo de usar.

· Terceira parte do poema: discurso parentético “(Malhas que o império tece)” onde se
pretende fazer uma acusação revoltosa ao império em questão. Surge, finalmente, a mãe que
simboliza esperança, saudade, carinho e amor, que se encontra em casa – ambiente oposto ao
plaino. Penúltimo verso: finaliza-se a gradação iniciada no último verso da primeira estrofe (Jaz
morto, e arrefece (...) Jaz morto, e apodrece), pretende traduzir a passagem do tempo durante
o poema, em que o leitor sabe o que se passa, mas a mãe e a ama não.

Não sei ser triste a valer

O poema que se inicia com "Não sei ser triste a valer..." é um poema ortónimo de Fernando
Pessoa que toca um tema querido à vertente Ortónima da sua poesia - a oposição entre pensar
e sentir, ou mais exactamente entre pensar e viver.

A temática é desenvolvida pela análise dialéctica e comparativa, entre o acto de pensar


(humano) e o acto de florir (natural). Pessoa tenta, na comparação, estabelecer uma linha
condutora entre o absurdo de pensar perante o absurdo de florir - ambas as acções serão afinal
naturais e semelhantes? Dizendo isto, Pessoa tira o conteúdo revolucionário do pensar e
assemelha-o ao acto simples do florir. Assim pensar, como florir, não tem um significa
intrínseco, uma finalidade lógica superior. Pensar é, como florir, uma acção sem significado
além do significado que encerra em si mesma - esgota-se portanto no seu próprio acto, não
tem um seguimento e uma conclusão e ai resido o seu absurdo.
A mudança entre o tom interrogativo (1ª estrofe) e exclamativo (2ª
estrofe), que passa depois para um tom declarativo é de simples análise. É
claro que Pessoa tenta nas duas primeiras estrofes estabelecer a sua
comparação - a linha condutora, pelas evidências e semelhantes entre
pensar e florir. Por isso ele primeiro interroga e depois afirma para si
mesmo a realidade. As restantes estrofes são já produto de uma conclusão
do poeta - são, à sua maneira, um ato de pensar que também se extingue
em si mesmo e em que "se pensa o pensamento". Por isso o tom
declarativo, final, de conclusão, que dá lógica continuação às duas
primeiras estrofes.

O significado da quarta estrofe é quanto a nós o seguinte: para reforçar a


sua ideia que o pensar, tal como o florir, é um ato absurdo, sem final
definitivo, Pessoa recorre a uma imagem forte - o espezinhar da flor pelos
pés de alguém é o mesmo que acontece com o pensar. Ou seja, quem
pensa (Pessoa ele mesmo) é esmagado pela vida, porque a vida não é para
aqueles que pensam, é precisamente para aqueles que ignoram o
pensamento e apenas vivem. Pensar é sofrer. Todas as análises e
conclusões são infrutíferas, porque no final são espezinhadas pelo destino,
pelos deuses.

● Identidade perdida
● Consciência do absurdo da existência
● Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
● Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
● Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
● Estados negativos: solidão, ceticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero, frustração
● Inquietação metafísica, dor de viver
● Auto-análise

Liberdade

● O sujeito poético expressa quão bom é


não ter deveres nem obrigações;
● O “eu” lírico ironiza a dificuldade das
pessoas em aproveitar o que a vida
tem de melhor;
● Bruma consiste num tipo de nevoeiro;
● A referência ao rei D. Sebastião está ligado ao mito sebastianista;
● O sujeito poético sugere que o homem seria mais feliz se não tivesse obrigações
escolares e desfrutasse apenas da natureza;
● O nome de Jesus Cristo surge como prova da inutilidade do saber para o homem.

Abdicação

O soneto abdicação é um soneto particular na obra de


Pessoa, pois temos um relato exacto de como foi
escrito e em que estado de espírito Pessoa se
encontrava quando o escreveu.

Numa carta escrita a Mário Beirão, em Fevereiro de


1913, Pessoa descreve como, chegando a casa sentiu a
proximidade de uma tempestade - ele tinha um medo
pavoroso dos relâmpagos, não tanto dos trovões - e
isso o colocou num estranho estado de ansiedade, em
que, paradoxalmente lhe deu para criar um soneto de
calma inusitada.

Veja-se desde já como é curioso o que Pessoa diz, sem


se aperceber. Embora ele na mesma carta fale de
como o " fenómeno curioso do desdobramento é a
coisa que habitualmente tenho", mas lhe escapa que
esse desdobramento lhe permitia fugir ao seu medo -
neste caso um medo concreto e mundano, o medo das
trovoadas.

Não chegava ao génio que era Pessoa a reza simples a Santa Bárbara. Teve neste caso de se
refugiar na musa poética. Calíope substitui-se, pagã, ao símbolo religioso e assim se criou mais
um momento de solene beleza na língua portuguesa.

"Abdicação" é também um poema que aborda um tema querido a


Pessoa - a noite e a solidão. Neste caso a noite é simbólica de um
estado de solidão que Pessoa bem conhecia - era a sua realidade
quotidiana. Tão triste e simultaneamente calmo é o poema... isto
porque a tristeza que Pessoa sente, é uma tristeza de abandono,
de quem deixa de resistir: eis o porquê do título do poema,
abdicação. Quem abdica, é por desistir voluntariamente, não por
ser forçado. Pessoa abdica da vida para que a noite o aceite - para
ser plenamente nada na noite, já que foi nada em vida. Pelo
menos que seja plenamente nada - e o que há mais pleno de nada
do que a noite?"

Sol nulo dos dias vãos


Quando as crianças brincam

A memória visual de Pessoa é activada pelo movimento das crianças,


sobretudo pelos sons. A memória humana guarda eventos, muitas das
vezes, relacionando-os com os sentidos (cheirar algo pode activar a nossa
memória, assim como ver algo, ou sentir algo com as mãos). Neste caso é
o som que activa a memória de Pessoa. Mas vemos que a actividade das
crianças activa em Pessoa uma alegria e não propriamente uma memória
imediata.

A razão por que é actividade uma "alegria" e não uma "memória


imediata", tem a ver com aquela ambivalência de que falávamos: a
infância de Pessoa foi feliz e infeliz, e ele não pode lembrar-se dela sem
esquecer estes dois lados da mesma. No caso da 2.ª estrofe, Pessoa tira
uma alegria de uma infância que não teve, precisamente porque a sua
própria infância não foi completamente feliz. Não o foi completamente, mas também não o foi
totalmente infeliz. É esta réstea de felicidade, da vida até aos 6 anos, que de certo modo torna
Pessoa são, que lhe permite lembrar um pouco da felicidade infantil. É a partir deste pouco que
Pessoa extrapola o resto - este pouco serve-lhe para imaginar uma "infância totalmente feliz". É
esta "memória projectada" que é dele, quando ele olha para as crianças. Ele imagina assim
como poderia ter tido uma infância totalmente feliz e faz desta projecção a sua realidade
momentânea.

Por isso ele diz que a memória "não foi de ninguém". É uma memória construída, projectada a
partir de uma outra memória parcial.

Viajar! Perder países!

O poema "Viajar! Perder países!" é um poema ortónimo de Pessoa, e ainda


um poema tardio, escrito já em 1933. Típico dos temas abordados neste
período por Pessoa na sua poesia ortónima, é um poema claramente de
desilusão, de perda de esperança.

Há mais exemplos, mas todos eles ilustram essa incapacidade de sentir as


coisas apenas por aquilo que elas são. É assim compreensível que Pessoa
veja no acto de viajar constantemente igualmente o acto de negar a paz de
existir sem o movimento. "Ser outro constantemente" é assumir que a
viagem anula a individualidade, porque o ser tem de interpretar as
paisagens e assim anular-se a si mesmo.

Mas por outro lado a viagem - se é que anula a individualidade do ser - também apresenta um
desafio inovador: viajar é uma espécie de ferramenta que permite o não-ser. Ao viajar o
homem anula a sua própria individualidade e isso pode, pelo menos para Pessoa, apresentar
um lado positivo. Estar anulado é deixar de sentir a dôr de viver: viajar é deixar de ser quem se
é, para ser transportado ao puro acto de observar as paisagens da viagem. É viver nas
paisagens e não em si mesmo. Ter um fim: um destino, torna-se numa ausência, porque a
ausência está presente na negação do ser - a ânsia de conseguir chegar torna-se a única
preocupação dessa vida de viajante.

Vemos no entanto que Pessoa - ao teorizar sobre a viagem - assume também que a sua teoria
se afasta da sua prática. Ele diz-nos o que é na teoria viajar, mas na verdade ele ao viajar pode
não sentir inteiramente o que nos disse. Ele tem aquele "sonho da passagem", o ideal do
viajante que anula tudo o resto em favor da paisagem, mas não quer dizer que sempre sinta
isso. Há porventura momentos em que ele ainda não se consegue anular - e em que tudo é
apenas "terra e céu". Aqui, como em outros instantes, há o inevitável confronto das teorias
Pessoanas com a realidade - no ponto exacto em que o ideal confronta o real."

Quando era criança

O poema "Quando era criança" é um poema ortónimo tardio de Fernando Pessoa,


datado de 2 de Outubro de 1933. Sendo um poema tardio e da autoria de Pessoa em
seu próprio nome, caracteriza-se por uma das temáticas mais queridas a Pessoa
quando escrevia em seu próprio nome: a lembrança da infância, enquanto período
dourado da sua vida.

Por isso, este poema fala da própria infância de Pessoa e não só da infância enquanto
período de felicidade para todos os homens.

Aqui Pessoa aborda a temática da infância enquanto período da inconsciência


completa: "Vivi, sem saber". As crianças vivem a felicidade, porque em grande
medida a desconhecem estar a viver. Esta oposição pensar/viver acompanhará
sempre Pessoa nas suas análises. Ele sabe que será impossível regressar àquela
condição infantil, porque hoje, adulto, sabe qual é a sua vida e não a pode ignorar:
ele agora pensa e não se limita a viver. Por isso ele diz "Só para hoje ter / Aquela
lembrança". De facto tudo o que resta é a lembrança, porque essa inconsciência da
vida não vai regressar novamente.

"Hoje" é que Pessoa sente o que foi. Isto reforça o que já dissemos: hoje a vida de Pessoa é
feita daquele "pensar" que não existia quando ele era apenas criança. Hoje ele "sente", quando
era criança apenas "vivia". A sua vida actual é uma mentira - pela sua própria avaliação. É uma
mentira, provavelmente porque ele sente não conseguir descobrir a verdade do seu destino: é
uma mentira existencial, uma vida que Pessoa sente não lhe pertencer por direito.

Pessoa está preso então nessa vida, nessa mentira que lhe impuseram. O que lhe resta é o
"livro" que lê, o livro das memórias de uma infância perdida. E ao ler, vem-lhe um "sorriso
alheio", um sorriso do passado, que já não é dela, mas que ele pode continuar a recordar, num
apaziguamento frágil, mas que ao menos o poderá consolar na sua existência perdida. A
memória da infância perdida conforta-o, mas igualmente o sufoca.

Entre sono e sonho


Poema tardio de Pessoa, datado de 11/9/1933, "Entre o sono e o sonho"
trata de um tema querido a Pessoa ortónimo: a incapacidade prática de
atingir na vida real o que se imagina poderá ser a vida ideal.

Passa neste poema a ideia de fragmentação e de divisão. São estes dois


fortes alicerces, a fonte da angústia do poeta quando analise a sua própria
vida. Se por um lado a sua personalidade é marcada por um forte
idealismo, um forte "sonhar", ela é também dominada por uma fraca
capacidade de concretizar esse sonhar em realidade. Ou, por outro lado, é
o "sonhar" demasiado intenso sequer para poder ser concretizado - é
demasiado inalcançável.

A fragmentação, por outro lado, "a casa que hoje sou", é um prédio
solitário com demasiadas divisões, onde habita a alma de um poeta sem
esperança de dar a volta a uma vida demasiada cruel.

"Entre o sono e sonho, / Entre mim e o que em mim / É o quem eu me


suponho / Corre um rio sem fim." - Ou seja, entre o "sono" (a vida) e o
"sonho" (a vida ideal, sonhada), entre o "mim" (agora) e o "em mim" (o
futuro desejado, suposto), "corre um rio sem fim". Esse "rio sem fim" é
uma divisória, uma barreira, que divida o hoje do futuro sonhado e é impossível de atravessar.

"Passou por outras margens, / Diversas mais além, / Naquelas várias viagens

Que todo o rio tem" - O rio, parece ter, por outro lado vida própria, tem a sua própria vontade
e a sua própria experiência. O rio é o "Destino". É afinal o destino que se opõe a Pessoa, que o
faz sofrer no caminho que é actualmente o seu. Pessoa escolhe a imagem de um rio, porque
como um rio, o destino é uma sucessão de eventos, um curso de eventos, contínuo, sem fim.

"Chegou onde hoje habito / A casa que hoje sou. / Passa, se eu me medito; /

Se desperto, passou." - O rio chegou à vida actual de Pessoa. A casa simboliza o seu "eu todo",
a totalidade de quem ele é. Mas o destino é ilusório - se Pessoa medita sobre ele, ele passa e
impede-o de o enfrentar. Mas se Pessoa desperta do seu pensamento, o Destino já passou, e
não é possível regressar a ele. Esta impossibilidade marca de maneira decisiva a mente de
qualquer pensador - que tenta lutar contra os obstáculos da vida. Se pensa sobre eles, vê que
não pode ultrapassar, mas se os ignora, eles passam por ele sem que ele dê sequer por isso.
Qualquer das realidades é infrutífera e angustiante.

"E quem me sinto e morre / No que me liga a mim / Dorme onde o rio corre — / Esse rio sem
fim." - Pessoa conclui o poema. Reflecte sobre o seu estado actual, o seu "eu presente", o seu
que não se supunha. E esse eu "dorme onde o rio corre". Ou seja, ele está dominado pelo
Destino, está dentro do rio destino, imerso nele e preso nos seus movimentos de água. Para
terminar a sensação de perda e prisão, Pessoa acrescenta à descrição dizendo que é um "rio
sem fim". Um rio eterno, que prende e controla, que domina e limita - eis a descrição final do
Destino e de como este domina os homens e as suas vidas, impedindo afinal que eles sejam
como se supõem, como se ousam sonhar.

Mas a ousadia é demasiada e a força diminuta. O homem falha no seu sonho e tem de ser dar
por vencido pelo destino, nas horas finais da sua vida amargurada.
Curiosamente, ou talvez não, na mitologia grega, depois da morte, de a vida ser cortada pela
moira Atropos, a sombra do morto era conduzida às margens de um rio, guardado por Caronte,
o barqueiro do Caronte."

Não sei, ama onde era

Vemos que neste poema, Pessoa usa de um tom similar, e usa a mesma imagem
poética da ama e da princesa. Será a mera recordação de uma história contada
na infância pela tal ama? Não o sabemos, mas é o que parece. Aliás, será essa
história que Pessoa depois parece contar para si mesmo, reproduzindo essa
mesma memória de infância, que o faz regressar.

Uma princesa, num Jardim de Primavera, olha o céu azul e pressente que está
tudo bem com o mundo (o uso do imperfeito do indicativo nestas referências,
jardim, céu jardim e flores parece indicarem um desejo de continuidade do
passado no presente). A cena é de incrível serenidade, como convém numa
história que se conta a uma criança. O jardim está cheio de flores e toda a cena
faz Pessoa chorar apenas por imaginá-la, porque é uma cena ideal, que não
pode ser real (veja-se que é isso mesmo que a ama lhe indica, que "os sonhos
são dores"). Os contos que a ama lhe contava eram isso mesmo, cenas ideais,
que se opõem ao que era para ele então a sua realidade presente. A
interpelação final que ele faz à ama, pedindo-lhe: "Conta-me contos, ama...", é
quase um pedido de ajuda, para ele conseguir fugir ao presente, para se
refugiar nesse passado de criança, onde tudo era mais fácil, mais simples, onde
ele se poderia imaginar nesse jardim abandonado, sem problemas, sem
preocupações.

A imagem do jardim e da "dama" é uma imagem tão ideal que Pessoa diz
mesmo que "todos os contos são / Esse dia, e jardim e a dama / Que eu fui
nessa solidão...".

Claramente o poema pode resumir-se como sendo um dos poemas ortónimos


que se insere no tema do regresso à infância. A negatividade, o não acreditar no
presente, a reflexão dura sobre esse mesmo presente e a colocação da infância
num pedestal inalcançável - são tudo marcas indeléveis dessa poesia ortónima,
que encontramos neste poema. Uma poesia que prefere o sonho à realidade,
que prefere a reflexão sobre o passado à constatação cruel do presente

O poema é composto por por 24 versos agrupados em 5 estrofes.Estas estrofes


são quintilhas apenas a ultima é quadra. Os versos são redondilhas maiores pois
tem 7 silabas métricas. A rima é cruzada em todo o poema

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