Análise Do Poema Fernando Pessoa
Análise Do Poema Fernando Pessoa
Análise Do Poema Fernando Pessoa
Por fim, na última estrofe, o poeta refere-se ao mar como o local onde tudo o que imagina se
pode tornar realidade, mas como sabe que será impossível realizar todos o seu projeto entrega
ao futuro a resposta para toda esta angústia.
· Primeiro verso: hipálage, para transportar a ideia de abandono do menino para o plaino.
Predominam frases declarativas para mostrar a profundeza do tema, pois retrata o desabar dos
sonhos.
· Terceira parte do poema: discurso parentético “(Malhas que o império tece)” onde se
pretende fazer uma acusação revoltosa ao império em questão. Surge, finalmente, a mãe que
simboliza esperança, saudade, carinho e amor, que se encontra em casa – ambiente oposto ao
plaino. Penúltimo verso: finaliza-se a gradação iniciada no último verso da primeira estrofe (Jaz
morto, e arrefece (...) Jaz morto, e apodrece), pretende traduzir a passagem do tempo durante
o poema, em que o leitor sabe o que se passa, mas a mãe e a ama não.
O poema que se inicia com "Não sei ser triste a valer..." é um poema ortónimo de Fernando
Pessoa que toca um tema querido à vertente Ortónima da sua poesia - a oposição entre pensar
e sentir, ou mais exactamente entre pensar e viver.
● Identidade perdida
● Consciência do absurdo da existência
● Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
● Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
● Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
● Estados negativos: solidão, ceticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero, frustração
● Inquietação metafísica, dor de viver
● Auto-análise
Liberdade
Abdicação
Não chegava ao génio que era Pessoa a reza simples a Santa Bárbara. Teve neste caso de se
refugiar na musa poética. Calíope substitui-se, pagã, ao símbolo religioso e assim se criou mais
um momento de solene beleza na língua portuguesa.
Por isso ele diz que a memória "não foi de ninguém". É uma memória construída, projectada a
partir de uma outra memória parcial.
Mas por outro lado a viagem - se é que anula a individualidade do ser - também apresenta um
desafio inovador: viajar é uma espécie de ferramenta que permite o não-ser. Ao viajar o
homem anula a sua própria individualidade e isso pode, pelo menos para Pessoa, apresentar
um lado positivo. Estar anulado é deixar de sentir a dôr de viver: viajar é deixar de ser quem se
é, para ser transportado ao puro acto de observar as paisagens da viagem. É viver nas
paisagens e não em si mesmo. Ter um fim: um destino, torna-se numa ausência, porque a
ausência está presente na negação do ser - a ânsia de conseguir chegar torna-se a única
preocupação dessa vida de viajante.
Vemos no entanto que Pessoa - ao teorizar sobre a viagem - assume também que a sua teoria
se afasta da sua prática. Ele diz-nos o que é na teoria viajar, mas na verdade ele ao viajar pode
não sentir inteiramente o que nos disse. Ele tem aquele "sonho da passagem", o ideal do
viajante que anula tudo o resto em favor da paisagem, mas não quer dizer que sempre sinta
isso. Há porventura momentos em que ele ainda não se consegue anular - e em que tudo é
apenas "terra e céu". Aqui, como em outros instantes, há o inevitável confronto das teorias
Pessoanas com a realidade - no ponto exacto em que o ideal confronta o real."
Por isso, este poema fala da própria infância de Pessoa e não só da infância enquanto
período de felicidade para todos os homens.
"Hoje" é que Pessoa sente o que foi. Isto reforça o que já dissemos: hoje a vida de Pessoa é
feita daquele "pensar" que não existia quando ele era apenas criança. Hoje ele "sente", quando
era criança apenas "vivia". A sua vida actual é uma mentira - pela sua própria avaliação. É uma
mentira, provavelmente porque ele sente não conseguir descobrir a verdade do seu destino: é
uma mentira existencial, uma vida que Pessoa sente não lhe pertencer por direito.
Pessoa está preso então nessa vida, nessa mentira que lhe impuseram. O que lhe resta é o
"livro" que lê, o livro das memórias de uma infância perdida. E ao ler, vem-lhe um "sorriso
alheio", um sorriso do passado, que já não é dela, mas que ele pode continuar a recordar, num
apaziguamento frágil, mas que ao menos o poderá consolar na sua existência perdida. A
memória da infância perdida conforta-o, mas igualmente o sufoca.
A fragmentação, por outro lado, "a casa que hoje sou", é um prédio
solitário com demasiadas divisões, onde habita a alma de um poeta sem
esperança de dar a volta a uma vida demasiada cruel.
"Passou por outras margens, / Diversas mais além, / Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem" - O rio, parece ter, por outro lado vida própria, tem a sua própria vontade
e a sua própria experiência. O rio é o "Destino". É afinal o destino que se opõe a Pessoa, que o
faz sofrer no caminho que é actualmente o seu. Pessoa escolhe a imagem de um rio, porque
como um rio, o destino é uma sucessão de eventos, um curso de eventos, contínuo, sem fim.
"Chegou onde hoje habito / A casa que hoje sou. / Passa, se eu me medito; /
Se desperto, passou." - O rio chegou à vida actual de Pessoa. A casa simboliza o seu "eu todo",
a totalidade de quem ele é. Mas o destino é ilusório - se Pessoa medita sobre ele, ele passa e
impede-o de o enfrentar. Mas se Pessoa desperta do seu pensamento, o Destino já passou, e
não é possível regressar a ele. Esta impossibilidade marca de maneira decisiva a mente de
qualquer pensador - que tenta lutar contra os obstáculos da vida. Se pensa sobre eles, vê que
não pode ultrapassar, mas se os ignora, eles passam por ele sem que ele dê sequer por isso.
Qualquer das realidades é infrutífera e angustiante.
"E quem me sinto e morre / No que me liga a mim / Dorme onde o rio corre — / Esse rio sem
fim." - Pessoa conclui o poema. Reflecte sobre o seu estado actual, o seu "eu presente", o seu
que não se supunha. E esse eu "dorme onde o rio corre". Ou seja, ele está dominado pelo
Destino, está dentro do rio destino, imerso nele e preso nos seus movimentos de água. Para
terminar a sensação de perda e prisão, Pessoa acrescenta à descrição dizendo que é um "rio
sem fim". Um rio eterno, que prende e controla, que domina e limita - eis a descrição final do
Destino e de como este domina os homens e as suas vidas, impedindo afinal que eles sejam
como se supõem, como se ousam sonhar.
Mas a ousadia é demasiada e a força diminuta. O homem falha no seu sonho e tem de ser dar
por vencido pelo destino, nas horas finais da sua vida amargurada.
Curiosamente, ou talvez não, na mitologia grega, depois da morte, de a vida ser cortada pela
moira Atropos, a sombra do morto era conduzida às margens de um rio, guardado por Caronte,
o barqueiro do Caronte."
Vemos que neste poema, Pessoa usa de um tom similar, e usa a mesma imagem
poética da ama e da princesa. Será a mera recordação de uma história contada
na infância pela tal ama? Não o sabemos, mas é o que parece. Aliás, será essa
história que Pessoa depois parece contar para si mesmo, reproduzindo essa
mesma memória de infância, que o faz regressar.
Uma princesa, num Jardim de Primavera, olha o céu azul e pressente que está
tudo bem com o mundo (o uso do imperfeito do indicativo nestas referências,
jardim, céu jardim e flores parece indicarem um desejo de continuidade do
passado no presente). A cena é de incrível serenidade, como convém numa
história que se conta a uma criança. O jardim está cheio de flores e toda a cena
faz Pessoa chorar apenas por imaginá-la, porque é uma cena ideal, que não
pode ser real (veja-se que é isso mesmo que a ama lhe indica, que "os sonhos
são dores"). Os contos que a ama lhe contava eram isso mesmo, cenas ideais,
que se opõem ao que era para ele então a sua realidade presente. A
interpelação final que ele faz à ama, pedindo-lhe: "Conta-me contos, ama...", é
quase um pedido de ajuda, para ele conseguir fugir ao presente, para se
refugiar nesse passado de criança, onde tudo era mais fácil, mais simples, onde
ele se poderia imaginar nesse jardim abandonado, sem problemas, sem
preocupações.
A imagem do jardim e da "dama" é uma imagem tão ideal que Pessoa diz
mesmo que "todos os contos são / Esse dia, e jardim e a dama / Que eu fui
nessa solidão...".