Acordao 60

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000000135

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração Cível


nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000, da Comarca de São Paulo, em que é
embargante BANCO FORD CREDIT S/A, é embargado CÉLIO BATISTA
MARTINS FILHO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Rejeitaram
os embargos. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JACOB VALENTE


(Presidente) E CASTRO FIGLIOLIA.

São Paulo, 3 de janeiro de 2023.

ALEXANDRE DAVID MALFATTI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Embargos de declaração nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000 e


2212078-42.2022.8.26.0000/50001
Embargante/Embargado: BANCO FORD CREDIT S/A
Embargado/Embargante: CÉLIO BATISTA MARTINS FILHO

Voto nº 5378

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OBSCURIDADE.


OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. O v. acórdão enfrentou toda
matéria colocada no recurso de apelação. Restou plenamente
fundamentada a impossibilidade de reconhecimento do crédito
como extraconcursal, porque o fato gerador é o Contrato de
Financiamento Rotativo para Compra de Veículos com Garantia
Real (FLOOR PLAN), que já existia antes da recuperação judicial.
Além disso, o v. acórdão foi claro no provimento do agravo de
instrumento, com o reconhecimento da concursalidade do crédito
exequendo e declaração de extinção da ação de execução
principal. Não há que se falar em inadmissibilidade da exceção de
pré-executividade. Por fim, a fundamentação foi clara na
condenação da agravada (exequente) nas custas judiciais, sem a
fixação dos honorários de advogado de lado a lado, porque não
havia nos autos informações seguras acerca da condição real do
executado na recuperação judicial. Não era possível atribuir à
exequente a responsabilidade pelo ajuizamento inadequado da
ação de execução.

EMBARGOS CONHECIDOS E REJEITADOS.

Vistos.

Cuidam-se de embargos de declaração opostos pelo


agravante e pelo agravado em face do v. Acórdão.

Em síntese, o agravado articulou os seguintes fundamentos:


(a) crédito extraconcursal, (b) fato gerador foi o Contrato de Confissão de
Dívida e não o "Contrato Floor Plan" e (c) impossibilidade da exceção de pré-
executividade, porque necessária a dilatação probatória e inexistente a
matéria de ordem pública.

Em resumo, o agravante alegou que a recuperação judicial


estava demonstrada, devendo o exequente ser responsabilizado pelo
ajuizamento inadequado da ação de execução com a fixação de honorários.

Embargos de Declaração Cível nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000 -Voto nº5378 5378 2


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É O BREVE RELATO.

Recursos formalmente em ordem, devidamente


processados e tempestivos.

O v. acórdão enfrentou toda matéria colocada no recurso de


apelação. Restou plenamente fundamentada a impossibilidade de
reconhecimento do crédito como extraconcursal, porque o fato gerador é o
Contrato de Financiamento Rotativo para Compra de Veículos com Garantia
Real (FLOOR PLAN), que já existia antes da recuperação judicial.

Além disso, o v. acórdão foi claro no provimento do agravo


de instrumento, com o reconhecimento da concursalidade do crédito
exequendo e declaração de extinção da ação de execução principal. Não há
que se falar em inadmissibilidade da exceção de pré-executividade.

Por fim, a fundamentação foi clara na condenação da


agravada (exequente) nas custas judiciais, sem a fixação dos honorários de
advogado de lado a lado, porque não havia nos autos informações seguras
acerca da condição real do executado na recuperação judicial. Não era
possível atribuir à exequente a responsabilidade pelo ajuizamento
inadequado da ação de execução.

Destacam-se os trechos do v. acórdão sobre os assuntos


mencionados (fls. 169/173 e 174):

"O agravante sustentou a impossibilidade de prosseguimento da


execução, uma vez que ele também se encontra em recuperação
judicial. Afirmou, também, que embora em 01/07/2020 tenha sido
firmado instrumento de confissão de dívida (fls. 37/48 dos autos
principais), o crédito exequendo decorre de dívida preexistente,
consubstanciada no contrato realizado em 14/03/2003 (fls.
224/228 dos autos principais). Primeiro, verificou-se que, de fato,
o agravante se encontra em recuperação judicial. Isso porque nos
autos nº 0004264-78.2018.8.26.0173 foi deferida a recuperação
de todo o grupo econômico, o que inclui o agravante, na
qualidade de empresário individual. E, conforme bem assentado
na decisão proferida na ação recuperacional (cópia às fls. 47/48
deste agravo de instrumento), por se tratar de empresário
individual, não há separação entre a pessoa física e a pessoa
jurídica. Correta a referida conclusão. O patrimônio se confunde
e, de fato, tanto as dívidas firmadas através do CNPJ, como as
realizadas através do CPF do agravante se submetem ao plano
de recuperação judicial. Assim, não há dúvidas de que o
agravante foi alcançado pela recuperação judicial. E segundo,
verificou-se que, embora a execução se baseie em instrumento
particular de confissão de dívida datado de 01/04/2020, referido
Embargos de Declaração Cível nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000 -Voto nº5378 5378 3
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débito tem como origem o Contrato de Financiamento Rotativo


para Compra de Veículos com Garantia Real (FLOOR PLAN),
firmado em 14/03/2002 e no qual o executado agravante figura
como fiador (fls. 224/228). Assim, uma vez que o fato gerador da
obrigação é anterior ao pedido recuperacional (cuja ação foi
ajuizada em 09/04/2018), deve ser submetido aos efeitos da
recuperação judicial. Aplica-se o artigo 49 da Lei 11.101/2005,
segundo o qual “Estão sujeitos à recuperação judicial todos os
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos." O
fato de ter sido assinado, anos depois, instrumento de confissão
de dívida, não permite que se conclua se tratar de crédito
extraconcursal. Isso porque, na data em que iniciada a
recuperação judicial, o débito já existia e deveria se submeter à
concursalidade da ação recuperacional. É a conclusão que se
extrai a partir dos precedentes do Colendo Superior Tribunal de
Justiça, segundo o qual são abrangidos pela recuperação todos
os créditos cujo fato gerador seja anterior ao pedido de
recuperação judicial. É neste sentido o entendimento firmado em
sede de julgamento de recurso repetitivo (Tema 1051), Resp
1843332/RS, SEGUNDA SEÇÃO, Relator o Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, julgado em 09/12/2020 (...) Portanto, não
há como se permitir o prosseguimento da execução. O fato de o
instrumento de confissão de dívida ter sido firmado após a ação
recuperacional não torna o crédito extraconcursal, na medida em
que o seu fato gerador Contrato de Financiamento Rotativo para
Compra de Veículos com Garantia Real (FLOOR PLAN) - já
existia antes da recuperação judicial. Assim, será caso de se
extinguir a ação de execução. Isso porque, embora haja previsão
de suspensão no art. 6º, inciso II da Lei 11.101/05, os
precedentes do Colendo Superior Tribunal de Justiça preveem a
extinção das execuções individuais ajuizadas contra o devedor.
(...) Deste modo, tendo em vista o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, no sentido da impossibilidade de
prosseguimento da execução individual – seja pela formação do
novo título nos autos da recuperação judicial, seja pela falência do
devedor – é caso de se extinguir a ação principal. Ainda que a lei
preveja a possibilidade de suspensão, referido instituto não possuí
qualquer aplicabilidade e tem sido afastado nos precedentes do
Colendo Superior Tribunal de Justiça. Portanto, impõe-se a
extinção da ação de execução e, à semelhança do que ocorreu
com a devedora principal, deverá a cobrança do crédito ser feita
nos autos da recuperação, por meio de habilitação junto ao
quadro geral de credores do agravado recuperando. Concluindo-
se, acolho, em parte, o recurso do executado e, tendo em vista se
encontrar o executado em recuperação judicial, determino a
extinção dos autos principais." e

"Ante o exposto, pelo meu voto, DOU PROVIMENTO ao agravo


de instrumento e reformo a decisão agravada, de modo a
reconhecer a concursalidade do crédito exequendo e declarar a
extinção da ação de execução principal. A agravada (exequente)
arcará com as custas judiciais, mas não será imposto pagamento

Embargos de Declaração Cível nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000 -Voto nº5378 5378 4


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de honorários de advogado de lado a lado. Apesar da extinção da


execução, tem-se que não havia nos autos informação segura
sobre a real condição do executado, na recuperação judicial, não
se podendo atribuir à exequente responsabilidade pelo
ajuizamento inadequado da ação de execução."

Em suma, rejeitam-se as alegações dos embargantes.

Prequestionamento

Anoto o entendimento pacífico de que o órgão julgador não


está obrigado a citar todos os artigos de lei ordinária, infraconstitucional, ou
da Constituição Federal para fins de prequestionamento, no que se
consideram automaticamente prequestionadas todas as disposições legais
discutidas nos autos.

Por derradeiro, destaque-se que “Para que se tenha por


configurado o pressuposto do pré-questionamento, é bastante que o tribunal
de origem haja debatido e decidido questão federal controvertida, não se
exigindo que haja expressa menção ao dispositivo legal pretensamente
violado no especial” (vide: RSTJ 157/31, v.u., Acórdão da Corte Especial).

DISPOSITIVO.

Ante o exposto, pelo meu voto, REJEITO OS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO por ausência de obscuridade
ou omissão no v. acórdão.

ALEXANDRE DAVID MALFATTI


Relator

Embargos de Declaração Cível nº 2212078-42.2022.8.26.0000/50000 -Voto nº5378 5378 5

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