06 - Nocoes de Direito

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PC/SP

Perito Criminal

6.1. Constituição Federal: artigos 1.º a 5.º e 144 ................................................................................. 1

6.2. Código Penal 6.2.1. Dos Crimes Contra a Vida – artigos 121 a 128 ........................................... 32

6.2.2. Dos Contra o Patrimônio – artigos 155 a 183 ........................................................................... 43

6.2.3 Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra a Administração em Geral – artigos 312
a 327 ...................................................................................................................................................... 78

6.2.4. Dos Crimes contra a Administração da Justiça – artigos 338 a 359 ......................................... 94

6.2.5. Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis – artigos 293 a 295 ................................................ 109

6.3.Código Processual Penal 6.3.1. Do Inquérito Policial: artigos 4.º a 23 ....................................... 114

6.3.2 Do Exame do Corpo de Delito, e das Perícias em Geral: artigos 155 a 184. ........................... 124

6.3.3. Dos Indícios: artigo 239 ......................................................................................................... 132

6.3.4 Dos Peritos e Intérpretes: artigos 275 a 281 ........................................................................... 133

6.4. Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (Lei Complementar n.º 207/79 e Lei
Complementar n.º 922/02) .................................................................................................................... 136

Candidatos ao Concurso Público,


O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail [email protected] para dúvidas
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom
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As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar
em contato, informe:
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Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la.
Bons estudos!

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Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14
6.1. Constituição Federal: artigos 1.º a 5.º e 144

Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br

Princípios Fundamentais – arts. 1º ao 4º

Quando falamos em princípios, estamos nos referindo à institutos que guardam os valores
fundamentais da ordem jurídica. Os princípios constituem ideias gerais e abstratas que expressam, em
menor ou maior escala, todas as normas que compõem a seara do direito. Poderíamos dizer que cada
área do direito retrata a concretização de certo número de princípios, que constituem o seu núcleo central.
Eles possuem uma força que permeia todo o campo sob seu alcance, daí por que todas as normas que
compõem o direito constitucional devem ser estudadas, interpretadas e compreendidas à luz desses
princípios.
Nos princípios constitucionais, condensam-se bens e valores considerados fundamentos de validade
de todo o sistema jurídico. Assim, os princípios consagrados constitucionalmente servem, a um só tempo,
como objeto da interpretação constitucional, como diretriz para a atividade interpretativa e como guias a
opção de interpretação.
Os princípios constituem a base, o alicerce de um sistema jurídico. São verdadeiras proposições
lógicas que fundamentam e sustentam um sistema.
Sabe-se que os princípios, ao lado das regras, são normas jurídicas. Os princípios, porém, exercem
dentro do sistema normativo um papel diferente dos das regras. As regras, por descreverem fatos
hipotéticos, possuem a nítida função de regular, direta ou indiretamente, as relações jurídicas que se
enquadrem nas molduras típicas por elas descritas. Não é assim com os princípios, que são normas
generalíssimas dentro do sistema.
Serve o princípio como limite de atuação do jurista. No mesmo passo em que funciona como vetor de
interpretação, o princípio tem como função limitar a vontade subjetiva do aplicador do direito, vale dizer,
os princípios estabelecem balizamentos dentro dos quais o jurista exercitará sua criatividade, seu senso
do razoável e sua capacidade de fazer a justiça do caso concreto.
Assim, a Constituição brasileira tem o seu Título I (artigos 1º ao 4º), integralmente dedicado aos
“princípios fundamentais”, que são as regras informadoras de todo um sistema de normas, as diretrizes
básicas do ordenamento constitucional brasileiro. São regras que contêm os mais importantes valores
que informam a elaboração da Constituição da República Federativa do Brasil, e que por tal motivo
merecem estudo aprofundado, por serem tema constante em provas de concursos.

Vejamos a seguir o texto constitucional pertinente ao assunto:

TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.

O artigo define a forma de Estado (Federativa) e a forma de Governo (República) em duas palavras
“República Federativa”, “formada pela União indissolúvel” (nenhum ente pode pretender se separar),

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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numa Federação não existe a hipótese de separação, “constitui em Estado Democrático de Direito”. Essa
expressão traz em si a ideia do Estado formado a partir da vontade do povo, voltado para o povo e ao
interesse do povo (o povo tem uma participação ativa, sempre com o respeito aos Direitos e garantias
fundamentais), e tem por fundamentos:
I - Soberania. Constitui um dos atributos do próprio Estado, pois não existe Estado sem soberania.
Significa a supremacia do Estado brasileiro na ordem política interna e a independência na ordem política
externa.
II - Cidadania. O termo “cidadania” foi empregado em sentido amplo, abrangendo não só a titularidade
de direitos políticos, mas também civis. Alcança tanto o exercício do direito de votar e ser votado como o
efetivo exercício dos diversos direitos previstos na Constituição, tais como educação, saúde e trabalho.
Cidadania, no conceito expresso por Hannah Arendt, o direito a ter direitos.
III - Dignidade da pessoa humana. O valor dignidade da pessoa humana deve ser entendido como o
absoluto respeito aos direitos fundamentais de todo ser humano, assegurando-se condições dignas de
existência para todos. O ser humano é considerado pelo Estado brasileiro como um fim em si mesmo,
jamais como meio para atingir outros objetivos.
IV - Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. O trabalho e a livre iniciativa foram identificados
como fundamentos da ordem econômica estabelecida no Brasil, ambos considerados indispensáveis para
o adequado desenvolvimento do Estado brasileiro. Esses dois fatores revelam o modo de produção
capitalista vigente. A Constituição pretende estabelecer um regime de harmonia entre capital e trabalho.
V - Pluralismo político. O pluralismo político significa a livre formação de correntes políticas no País,
permitindo a representação das diversas camadas da opinião pública em diferentes segmentos. Esse
dispositivo constitucional veda a adoção de leis infraconstitucionais que estabeleçam um regime de
partido único ou um sistema de bipartidarismo forçado ou que impeçam uma corrente política de se
manifestar no País.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário.

a) O Poder Executivo é um dos poderes governamentais, segundo a teoria da separação dos poderes
cuja responsabilidade é a de implementar, ou executar, as leis e a agenda diária do governo ou do
Estado.). O poder executivo varia de país a país. Nos países presidencialistas, o poder executivo é
representado pelo seu presidente, que acumula as funções de chefe de governo e chefe de estado.
b) O Poder Legislativo é o poder de legislar, criar leis. No sistema de três poderes proposto por
Montesquieu, o poder legislativo é representado pelos legisladores, homens que devem elaborar as leis
que regulam o Estado. O poder legislativo na maioria das repúblicas e monarquias é constituído por um
congresso, parlamento, assembleias ou câmaras. O objetivo do poder legislativo é elaborar normas de
direito de abrangência geral (ou, raramente, de abrangência individual) que são estabelecidas aos
cidadãos ou às instituições públicas nas suas relações recíprocas.
c) O Poder judiciário é um dos três poderes do Estado moderno na divisão preconizada por
Montesquieu em sua teoria da separação dos poderes. Ele possui a capacidade de julgar, de acordo com
as leis criadas pelo Poder Legislativo e de acordo com as regras constitucionais em determinado país.
Ministros, Desembargadores e Juízes formam a classe dos magistrados (os que julgam).

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

A nossa Constituição, quanto ao modelo, classifica-se como dirigente, pois estabelece metas que
devem ser buscadas pelo Estado brasileiro, diretrizes que devem informar os programas de atuação
governamental em todas as esferas do poder político.
Atenção! Observa-se que os objetivos previstos neste artigo, não se confundem com os fundamentos
estabelecidos no artigo 1º, tendo em vista que os fundamentos são princípios inerentes ao próprio Estado
brasileiro, fazem parte de sua construção, já os objetivos fundamentais são as finalidades a serem
alcançadas.
Foram estabelecidos quatro objetivos fundamentais para a República Federativa do Brasil: I -
construir uma sociedade livre, justa e solidária (consolidada nos princípios da liberdade, justiça e

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solidariedade); II - garantir o desenvolvimento nacional (em todos os sentidos, tanto econômico, como
também social); III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais
(redução e proteção contra as desigualdades entre os estados); IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (preocupação
com a igualdade e a eliminação da discriminação).

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.

Traz os princípios que regem o Brasil nas suas relações internacionais. A República Federativa do
Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: independência nacional,
prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não-intervenção, igualdade entre os
Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. A República Federativa do
Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Outros princípios fundamentais estão espalhados por todo o texto constitucional, de forma explícita ou
implícita. Muitos de forma até repetitiva, para que não sejam desconsiderados. As colisões de princípios
são resolvidas pelo critério de peso, preponderando o de maior valor no caso concreto, pois ambas as
normas jurídicas são consideradas igualmente válidas. Por exemplo: o eterno dilema entre a liberdade de
informação jornalística e a tutela da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas
(CF/88, art. 220, §1º). Há necessidade de compatibilizar ao máximo os princípios, podendo prevalecer,
no caso concreto, a aplicação de um ou outro direito.

Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – art. 5º

A Constituição de 1988 foi a primeira a estabelecer direitos não só de indivíduos, mas também de
grupos sociais, os denominados direitos coletivos. As pessoas passaram a ser coletivamente
consideradas. Por outro lado, pela primeira vez, junto com direitos foram estabelecidos expressamente
deveres fundamentais. Tanto os agentes públicos como os indivíduos têm obrigações específicas,
inclusive a de respeitar os direitos das demais pessoas que vivem na ordem social.

Constituição Federal:

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

O artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 pode ser caracterizado como
um dos mais importantes constantes do arcabouço jurídico brasileiro. Tal fato se justifica em razão de

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que este apresenta, em seu bojo, a proteção dos bens jurídicos mais importantes para os cidadãos, quais
sejam: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade.
A relação extensa de direitos individuais estabelecida no art. 5º da Constituição tem caráter meramente
enunciativo, não se trata de rol taxativo. Existem outros direitos individuais resguardados em outras
normas previstas na própria Constituição (por exemplo, o previsto no art. 150, contendo garantias de
ordem tributária).

Vamos acompanhar em seguida o que prevê os demais dispositivos da norma:

I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

O inciso supracitado traz, em seu bojo, um dos princípios mais importantes existentes no ordenamento
jurídico brasileiro, qual seja, o princípio da isonomia ou da igualdade. Tal princípio igualou os direitos e
obrigações dos homens e mulheres, porém, permitindo as diferenciações realizadas nos termos da
Constituição.

II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

O inciso supracitado contém em seu conteúdo o princípio da legalidade. Ele garante a segurança
jurídica e impede que o Estado aja de forma arbitrária. Tal princípio tem por escopo explicitar que nenhum
cidadão será obrigado a realizar ou deixar de realizar condutas que não estejam definidas em lei. Ou seja,
para o particular, apenas a lei pode criar uma obrigação. Além disso, se não existe uma lei que proíba
uma determinada conduta, significa que ela é permitida.
Outro ponto importante a ser ressaltado é que legalidade não se confunde com reserva legal. A
legalidade é mais ampla, significa que deve haver lei, elaborada segundo as regras do processo
legislativo, para criar uma obrigação. Já a reserva legal é de menor abrangência e significa que,
determinadas matérias, especificadas pela Constituição, só podem ser tratadas por lei proveniente do
Poder Legislativo (ex.: art. 5.º, inciso XXXIX: "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal", este é o famoso princípio da reserva legal).

III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

O inciso em questão garante que nenhum cidadão será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante. Tal assertiva se alicerça ao fato de que o sujeito que cometer tortura estará
cometendo crime tipificado na Lei nº 9.455/97. Cabe ressaltar, ainda, que a prática de tortura caracteriza-
se como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Não obstante as características
anteriormente citadas, o crime de tortura ainda é considerado hediondo, conforme explicita a Lei nº
8.072/90. Crimes hediondos são aqueles considerados como repugnantes, de extrema gravidade, os
quais a sociedade não compactua com a sua realização. São exemplos de crimes hediondos: tortura,
homicídio qualificado, estupro, extorsão mediante sequestro, estupro de vulnerável, dentre outros.

IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Este inciso garante a liberdade de manifestação de pensamento, até como uma resposta à limitação
desses direitos no período da ditadura militar. Não somente por este inciso, mas por todo o conteúdo, que
a Constituição da República Federativa de 1988 consagrou-se como a “Constituição Cidadã”. Um ponto
importante a ser citado neste inciso é a proibição do anonimato. Cabe ressaltar que a adoção de eventuais
pseudônimos não afetam o conteúdo deste inciso, mas tão somente o anonimato na manifestação do
pensamento.

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano


material, moral ou à imagem;

O referido inciso traz, em seu bojo, uma norma assecuratória de direitos fundamentais, onde se
encontra assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização correspondente
ao dano causado. Um exemplo corriqueiro da aplicação deste inciso encontra-se nas propagandas
partidárias, quando um eventual candidato realiza ofensas ao outro. Desta maneira, o candidato ofendido
possui o direito de resposta proporcional à ofensa, ou seja, a resposta deverá ser realizada nos mesmos
parâmetros que a ofensa. Assim, se a resposta deverá possuir o mesmo tempo que durou a ofensa,

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deverá ocorrer no mesmo veículo de comunicação em que foi realizada a conduta ofensiva. Não obstante,
o horário obedecido para a resposta deverá ser o mesmo que o da ofensa.
Em que pese haja a existência do direito de resposta proporcional ao agravo, ainda há possibilidade
de ajuizamento de ação de indenização por danos materiais, morais ou à imagem. Assim, estando
presente a conduta lesiva, que tenha causando um resultado danoso e seja provado o nexo de
causalidade com o eventual elemento subjetivo constatado, ou seja, a culpa, demonstra-se medida de
rigor, o arbitramento de indenização ao indivíduo lesado.

VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Este inciso demonstra a liberdade de escolha da religião pelas pessoas. Não obstante, a segunda
parte deste resguarda a liberdade de culto, garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
liturgias. Existem doutrinadores que entendem que a liberdade expressa neste inciso é absoluta,
inexistindo qualquer tipo de restrição a tal direito. Contudo, entendemos não ser correto tal
posicionamento. Tal fato se justifica com a adoção de um simples exemplo. Imaginemos que uma
determinada religião utiliza em seu culto, alta sonorização, que causa transtornos aos vizinhos do recinto.
Aqui estamos diante de dois direitos constitucionalmente tutelados. O primeiro que diz respeito à liberdade
de culto e o segundo, referente ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, explicitado pelo artigo 225
da CF/88. Como é possível perceber com a alta sonorização empregada, estamos diante de um caso de
poluição sonora, ou seja, uma conduta lesiva ao meio ambiente. Curiosamente, estamos diante de um
conflito entre a liberdade de culto e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, ambos direitos
constitucionalmente expressos. Como solucionar tal conflito? Essa antinomia deverá ser solucionada
através da adoção do princípio da cedência recíproca, ou seja, cada direito deverá ceder em seu campo
de aplicabilidade, para que ambos possam conviver harmonicamente no ordenamento jurídico brasileiro.
Desta maneira, como foi possível perceber a liberdade de culto não é absoluta, possuindo, portanto,
caráter relativo, haja vista a existência de eventuais restrições ao exercício de tal direito consagrado.
O Brasil é um país LAICO ou LEIGO, ou seja, não tem uma religião oficial.

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis
e militares de internação coletiva;

Neste inciso encontra-se assegurado o direito de prestação de assistência religiosa em entidades civis
e militares de internação coletiva. Quando o inciso se refere às entidades civis e militares de internação
coletiva está abarcando os sanatórios, hospitais, quartéis, dentre outros.
Cabe ressaltar que a assistência religiosa não abrange somente uma religião, mas todas. Logo, por
exemplo, os protestantes não serão obrigados a assistirem os cultos religiosos das demais religiões, e
vice versa.

VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Este inciso expressa a possibilidade de perda dos direitos pelo cidadão que, para não cumprir
obrigação legal imposta a todos e para recusar o cumprimento de prestação alternativa, alega como
motivo crença religiosa ou convicção filosófica ou política.
Um exemplo de obrigação estipulada por lei a todos os cidadãos do sexo masculino é a prestação de
serviço militar obrigatório. Nesse passo, se um cidadão deixar de prestar o serviço militar obrigatório
alegando como motivo a crença em determinada religião que o proíba poderá sofrer privação nos seus
direitos.

IX – é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

Este inciso tem por escopo a proteção da liberdade de expressão, sendo expressamente vedada a
censura e a licença. Como é possível perceber, mais uma vez nossa Constituição visa proteger o cidadão
de alguns direitos fundamentais que foram abolidos durante o período da ditadura militar. Para melhor
compreensão do inciso supracitado, a censura consiste na verificação do pensamento a ser divulgado e
as normas existentes no ordenamento. Desta maneira, a Constituição veda o emprego de tal mecanismo,

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visando garantir ampla liberdade ao cidadão, taxado como um bem jurídico inviolável do cidadão,
expressamente disposto no caput do artigo 5º.

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação;

Os direitos da personalidade decorrem da dignidade humana. O direito à privacidade decorre da


autonomia da vontade e do livre-arbítrio, permitindo à pessoa conduzir sua vida da forma que julgar mais
conveniente, sem intromissões alheias, desde que não viole outros valores constitucionais e direitos de
terceiro.
A CF/88 protege a privacidade, que abrange: intimidade, vida privada, honra e imagem.
A honra pode ser subjetiva (estima que a pessoa possui de si mesma) ou objetiva (reputação do
indivíduo perante o meio social em que vive). As pessoas jurídicas só possuem honra objetiva.
O direito à imagem, que envolve aspectos físicos, inclusive a voz, impede sua captação e difusão sem
o consentimento da pessoa, ainda que não haja ofensa à honra. Neste sentido, a súmula 403 do STJ:
“Súmula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.

Este direito, como qualquer outro direito fundamental, pode ser relativizado quando em choque com
outros direitos. Por exemplo, pessoas públicas, tendem a ter uma restrição do direito à imagem frente ao
direito de informação da sociedade. Também a divulgação em contexto jornalístico de interesse público,
a captação por radares de trânsito, câmeras de segurança ou eventos de interesse público, científico,
histórico, didático ou cultural são limitações legítimas ao direito à imagem.
Por outro lado, o inciso em questão traz a possibilidade de ajuizamento de ação que vise à indenização
por danos materiais ou morais decorrentes da violação dos direitos expressamente tutelados. Entende-
se como dano material, o prejuízo sofrido na esfera patrimonial, enquanto o dano moral, aquele não
referente ao patrimônio do indivíduo, mas sim que causa ofensa à honra do indivíduo lesado.
Não obstante a responsabilização na esfera civil, ainda é possível constatar que a agressão a tais
direitos também encontra guarida no âmbito penal. Tal fato se abaliza na existência dos crimes de calúnia,
injúria e difamação, expressamente tipificados no Código Penal Brasileiro.

XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial;

O conceito de casa é amplo, alcançando os locais habitados de maneira exclusiva. Exemplo:


escritórios, oficinas, consultórios e locais de habitação coletiva (hotéis, motéis etc.) que não sejam abertos
ao público, recebendo todos estes locais esta proteção constitucional.
O referido inciso traz a inviolabilidade do domicílio do indivíduo. Todavia, tal inviolabilidade não possui
cunho absoluto, sendo que o mesmo artigo explicita os casos em que há possibilidade de penetração no
domicílio sem o consentimento do morador. Os casos em que é possível a penetração do domicílio são:
- Durante a noite: há possibilidade de ingresso no domicílio somente com o consentimento do morador,
em caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro.
- Durante o dia: será possível ingressar no domicílio do indivíduo com o consentimento do morador,
em caso de flagrante delito, desastre, para prestar socorro e, ainda, por determinação judicial.
Note-se que o ingresso em domicílio por determinação judicial somente é passível de realização
durante o dia. Tal ingresso deverá ser realizado com ordem judicial expedida por autoridade judicial
competente, sob pena de considerar-se o ingresso desprovido desta como abuso de autoridade, além da
tipificação do crime de Violação de Domicílio, que se encontra disposto no artigo 150 do Código Penal.
Todavia, o que podemos considerar como dia e noite? Existem entendimentos que consideram o dia
como o período em que paira o sol, enquanto a noite onde há a existência do crepúsculo. No entanto,
entendemos não ser eficiente tal classificação, haja vista a existência no nosso país do horário de verão
adotado por alguns Estados e não por outros, o que pode gerar confusão na interpretação desse inciso.
Assim, para fins didáticos e de maior segurança quanto à interpretação, entendemos que o dia pode
ser compreendido entre as 6 horas e às 18 horas do mesmo dia, enquanto o período noturno é
compreendido entre as 18 horas de um dia até às 6 horas do dia seguinte (critério cronológico).

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XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Este inciso tem por escopo demonstrar a inviolabilidade do sigilo de correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e comunicações telefônicas. No entanto, o próprio inciso traz a
possibilidade de quebra do sigilo telefônico, por ordem judicial, desde que respeite a lei, para que seja
possível a investigação criminal e instrução processual penal.
Para que fique mais claro o conteúdo do inciso em questão, vejamos:
- Sigilo de Correspondência: Possui como regra a inviolabilidade trazida no Texto Constitucional.
Todavia, em caso de decretação de estado de defesa ou estado de sítio poderá haver limitação a tal
inviolabilidade. Outra possibilidade de quebra de sigilo de correspondência entendida pelo Supremo
Tribunal Federal diz respeito às correspondências dos presidiários. Visando a segurança pública e a
preservação da ordem jurídica o Supremo Tribunal Federal entendeu ser possível à quebra do sigilo de
correspondência dos presidiários. Um dos motivos desse entendimento da Suprema Corte é que o direito
constitucional de inviolabilidade de sigilo de correspondência não pode servir de guarida aos criminosos
para a prática de condutas ilícitas.

- Sigilo de Comunicações Telegráficas: A regra empregada é da inviolabilidade do sigilo, sendo,


porém, possível à quebra deste em caso de estado de defesa e estado de sítio.

- Sigilo das Comunicações Telefônicas: A regra é a inviolabilidade de tal direito. Outrossim, a própria
Constituição traz no inciso supracitado a exceção. Assim, será possível a quebra do sigilo telefônico,
desde que esteja amparado por decisão judicial de autoridade competente para que seja possível a
instrução processual penal e a investigação criminal. O inciso em questão ainda exige para a quebra do
sigilo a obediência de lei. Essa lei entrou em vigor em 1996, sob o nº 9.296. A lei em questão, traz em
seu bojo, alguns requisitos que devem ser observados para que seja possível realizar a quebra do sigilo
telefônico.
Isso demonstra que não será possível a quebra dos sigilos supracitados por motivos banais, haja vista
estarmos diante de um direito constitucionalmente tutelado.
A quebra desse tipo de sigilo pode ocorrer por determinação judicial ou por Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI).
O sigilo de dados engloba dados fiscais, bancários e telefônicos (referente aos dados da conta e não
ao conteúdo das ligações).
Quanto às comunicações telefônicas (conteúdo das ligações), existe uma reserva jurisdicional. A
interceptação só pode ocorrer com ordem judicial, para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal, sob pena de constituir prova ilícita.

XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações


profissionais que a lei estabelecer;

Aqui estamos diante de uma norma de aplicabilidade contida. A norma de aplicabilidade contida possui
total eficácia, dependendo, no entanto, de uma lei posterior que reduza a aplicabilidade da primeira. Como
é possível perceber o inciso em questão demonstra a liberdade de exercício de trabalho, ofício ou
profissão, devendo, no entanto, serem obedecidas às qualificações profissionais que a lei posterior
estabeleça. Note-se que essa lei posterior reduz os efeitos de aplicabilidade da lei anterior que garante a
liberdade de exercício de trabalho, ofício ou profissão.
Um exemplo muito utilizado pela doutrina é o do Exame aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil
aos bacharéis em Direito, para que estes obtenham habilitação para exercer a profissão de advogados.
Como é notório, a lei garante a liberdade de trabalho, sendo, no entanto, que a lei posterior, ou seja, o
Estatuto da OAB, prevê a realização do exame para que seja possível o exercício da profissão de
advogado.

XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando


necessário ao exercício profissional;

Este inciso prega a proteção ao direito de liberdade de informação. Aqui estamos tratando do direito
de informar, como também o de ser informado. Tal é a importância da proteção desse direito que a própria
Constituição trouxe no bojo do seu artigo 5º, mais precisamente no seu inciso XXXIII, que todos têm

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direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou
geral. É importante salientar que no caso de desrespeito a tal direito, há existência de um remédio
constitucional, denominado habeas data, que tem por objetivo dar às pessoas informações constantes
em bancos de dados, bem como de retificá-los, seja através de processo sigiloso, judicial ou
administrativo. Cabe ressaltar, ainda, que o referido inciso traz a possibilidade de se resguardar o sigilo
da fonte. Esse sigilo diz respeito àquela pessoa que prestou as informações. Todavia, esse sigilo não
possui conotação absoluta, haja vista que há possibilidade de revelação da fonte informadora, em casos
expressos na lei.

XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

O inciso em questão prega o direito de locomoção. Esse direito abrange o fato de se entrar,
permanecer, transitar e sair do país, com ou sem bens. Quando o texto constitucional explicita que
qualquer pessoa está abrangida pelo direito de locomoção, não há diferenciação entre brasileiros natos
e naturalizados, bem como nenhuma questão atinente aos estrangeiros. Assim, no presente caso a
Constituição tutela não somente o direito de locomoção do brasileiro nato, bem como o do naturalizado e
do estrangeiro.
Desta forma, como é possível perceber a locomoção será livre em tempo de paz. Porém tal direito é
relativo, podendo ser restringido em casos expressamente dispostos na Constituição, como por exemplo,
no estado de sítio e no estado de defesa.

XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

Neste inciso encontra-se presente outro direito constitucional, qual seja: o direito de reunião. A grande
característica da reunião é a descontinuidade, ou seja, pessoas se reúnem para discutirem determinado
assunto, e finda a discussão, a reunião se encerra. Cabe ressaltar que a diferença entre reunião e
associação está intimamente ligada a tal característica. Enquanto a reunião não é contínua, a
associação tem caráter permanente.
Explicita o referido inciso, a possibilidade da realização de reuniões em locais abertos ao público,
desde que não haja presença de armas e que não frustre reunião previamente convocada. É importante
salientar que o texto constitucional não exige que a reunião seja autorizada, mas tão somente haja uma
prévia comunicação à autoridade competente.
De forma similar ao direito de locomoção, o direito de reunião também é relativo, pois poderá ser
restringido em caso de estado de defesa e estado de sítio.

XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

Como foi explicitado na explicação referente ao inciso anterior, a maior diferença entre reunião e
associação está na descontinuidade da primeira e na permanência da segunda. Este inciso prega a
liberdade de associação. É importante salientar que a associação deve ser para fins lícitos, haja vista que
a ilicitude do fim pode tipificar conduta criminosa.
O inciso supracitado ainda traz uma vedação, que consiste no fato da proibição de criação de
associações com caráter paramilitar. Quando falamos em associações com caráter paramilitar estamos
nos referindo àquelas que buscam se estruturar de maneira análoga às forças armadas ou policiais.
Assim, para que não haja a existência de tais espécies de associações o texto constitucional traz
expressamente a vedação.

XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,


sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Neste inciso está presente o desdobramento da liberdade de associação, onde a criação de


cooperativas e associações independem de autorização. É importante salientar que o constituinte também
trouxe no bojo deste inciso uma vedação no que diz respeito à interferência estatal no funcionamento de
tais órgãos. O constituinte vedou a possibilidade de interferência estatal no funcionamento das
associações e cooperativas obedecendo à própria liberdade de associação.

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XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

O texto constitucional traz expressamente as questões referentes à dissolução e suspensão das


atividades das associações. Neste inciso estamos diante de duas situações diversas. Quando a questão
for referente à suspensão de atividades da associação, a mesma somente se concretizará através de
decisão judicial. Todavia, quando falamos em dissolução compulsória das entidades associativas, é
importante salientar que a mesma somente alcançará êxito através de decisão judicial transitada em
julgado.
Logo, para ambas as situações, seja na dissolução compulsória, seja na suspensão de atividades,
será necessária decisão judicial. Entretanto, como a dissolução compulsória possui uma maior gravidade
exige-se o trânsito em julgado da decisão judicial.
Para uma compreensão mais simples do inciso em questão, o que podemos entender como decisão
judicial transitada em julgado? A decisão judicial transitada em julgado consiste em uma decisão emanada
pelo Poder Judiciário onde não seja mais possível a interposição de recursos.

XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Aqui se encontra outro desdobramento da liberdade de associação. Estamos diante da liberdade


associativa, ou seja, do fato que ninguém será obrigado a associar-se ou a permanecer associado.

XXI- as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para


representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Este inciso expressa a possibilidade das entidades associativas, desde que expressamente
autorizadas, representem seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Cabe ressaltar que, de acordo com
a legislação processual civil, ninguém poderá alegar em nome próprio direito alheio, ou seja, o próprio
titular do direito buscará a sua efetivação. No entanto, aqui estamos diante de uma exceção a tal regra,
ou seja, há existência de legitimidade extraordinária na defesa dos interesses dos filiados. Assim, desde
que expressamente previsto no estatuto social, as entidades associativas passam a ter legitimidade para
representar os filiados judicial ou extrajudicialmente. Quando falamos em legitimidade na esfera judicial,
estamos nos referindo à tutela dos interesses no Poder Judiciário. Porém, quando falamos em tutela
extrajudicial a tutela pode ser realizada administrativamente.

XXII- é garantido o direito de propriedade;

Este inciso traz a tutela de um dos direitos mais importantes na esfera jurídica, qual seja: a propriedade.
Em que pese tenha o artigo 5º, caput, consagrado à propriedade como um direito fundamental, o inciso
em questão garante o direito de propriedade. De acordo com a doutrina civilista, o direito de propriedade
caracteriza-se pelo uso, gozo e disposição de um bem. Todavia, o direito de propriedade não é absoluto,
pois existem restrições ao seu exercício, como por exemplo, a obediência à função social da propriedade.

XXIII- a propriedade atenderá a sua função social;

Neste inciso encontra-se presente uma das limitações ao direito de propriedade, qual seja: a função
social. A propriedade urbana estará atendendo sua função social quando atender as exigências
expressas no plano diretor. O plano diretor consiste em um instrumento de política desenvolvimentista,
obrigatório para as cidades que possuam mais de vinte mil habitantes. Tal plano tem por objetivo traçar
metas que serão obedecidas para o desenvolvimento das cidades.

XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade


pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;

O inciso XXIV traz o instituto da desapropriação. A Desapropriação é o procedimento pelo qual o Poder
Público, fundado na necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente, priva
alguém de certo bem, móvel ou imóvel, adquirindo-o para si em caráter originário, mediante justa e
prévia indenização. É, em geral, um ato promovido pelo Estado, mas poderá ser concedido a particulares
permissionários ou concessionários de serviços públicos, mediante autorização da Lei ou de Contrato

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com a Administração. Assim, desde que sejam obedecidos alguns requisitos o proprietário poderá ter
subtraída a coisa de sua propriedade. São eles:
- Necessidade pública;
- Utilidade pública;
- Interesse social;
- Justa e prévia indenização; e
- Indenização em dinheiro.

XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

No caso do inciso XXV estamos diante do instituto da requisição administrativa. Este instituto, como o
próprio inciso denota, permite à autoridade competente utilizar propriedades particulares em caso de
iminente perigo público. Desta maneira, utilizada a propriedade particular será seu proprietário
indenizado, posteriormente, caso seja constatada a existência de dano. Em caso negativo, este não será
indenizado. Um exemplo típico do instituto da requisição administrativa é o encontrado no caso de
guerras. A título exemplificativo, se o nosso país estivesse em guerra, propriedades particulares poderiam
ser utilizadas e, caso fosse comprovada a ocorrência de danos, os proprietários seriam indenizados.

XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família,
não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

Este inciso traz a impenhorabilidade da pequena propriedade rural. É importante salientar que a regra
de impenhorabilidade da pequena propriedade rural para pagamento de débitos decorrentes da atividade
produtiva abrange somente aquela trabalhada pela família. Cabe ressaltar que essa proteção acaba por
trazer consequências negativas para os pequenos produtores. Tal assertiva se justifica pelo fato de que,
não podendo ser a propriedade rural objeto de penhora, com certeza a busca pelo crédito será mais difícil,
haja vista a inexistência de garantias para eventuais financiamentos.

XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de


suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

Este inciso tem por escopo a tutela do direito de propriedade intelectual, quais sejam: a propriedade
industrial e os direitos do autor. Como é possível extrair do inciso supracitado esses direitos são passíveis
de transmissão por herança, sendo, todavia, submetidos a um tempo fixado pela lei. Desta maneira, não
é pelo simples fato de ser herdeiro do autor de uma determinada obra que lhe será garantida a
propriedade da mesma, pois a lei estabelecerá um tempo para que os herdeiros possam explorar a obra.
Após o tempo estabelecido a obra pertencerá a todos.

XXVIII- são assegurados, nos termos da lei:


a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;

Este inciso preza a proteção dos direitos individuais do autor quando participe de uma obra coletiva.
Um exemplo que pode ilustrar o conteúdo da alínea “a” diz respeito à gravação de um CD por diversos
cantores. Não é pelo simples fato da gravação ser coletiva que não serão garantidos os direitos autorais
individuais dos cantores. Pelo contrário, serão respeitados os direitos individuais de cada cantor.
Ato contínuo, o inciso “b” traz o instituto do direito de fiscalização do aproveitamento das obras. A
alínea em questão expressa que o próprio autor poderá fiscalizar o aproveitamento econômico da obra,
bem como os intérpretes, representações sindicais e associações.

XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico
e econômico do País;

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Este inciso trata, ainda, da tutela do direito de propriedade intelectual, explicitando o caráter não-
definitivo de exploração das obras, haja vista a limitação temporal de exploração por lei. Isso ocorre pelo
fato de que há imbuído um grande interesse da sociedade em conhecer o conteúdo das pesquisas e
inventos que podem trazer maior qualidade de vida à população.

XXX- é garantido o direito de herança;

Como um desdobramento do direito de propriedade, a Constituição consagra, no presente inciso, o


direito de herança. Segundo Maria Helena Diniz “o objeto da sucessão causa mortis é a herança, dado
que, com a abertura da sucessão, ocorre a mutação subjetiva do patrimônio do de cujus, que se transmite
aos seus herdeiros, os quais se sub-rogam nas relações jurídicas do defunto, tanto no ativo como no
passivo até os limites da herança”.
De acordo com a citação da doutrinadora supracitada, podemos concluir que a herança é o objeto da
sucessão. Com a morte abre-se a sucessão, que tem por objetivo transferir o patrimônio do falecido aos
seus herdeiros. É importante salientar que são transferidos aos herdeiros tanto créditos (ativo) como
dívidas (passivo), até que seja satisfeita a totalidade da herança.
Os herdeiros só respondem pelas dívidas de seu sucessor nas forças da herança.

XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei
pessoal do de cujus;

Neste inciso estamos diante da sucessão de bens de estrangeiros situados no nosso país. A regra,
conforme denota o inciso supracitado, é que a sucessão dos bens do estrangeiro será regulada pela lei
brasileira. Todavia, o próprio inciso traz uma exceção, que admite a possibilidade da sucessão ser
regulada pela lei do falecido, desde que seja mais benéfica ao cônjuge e aos filhos brasileiros.

XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Este inciso traz, em seu conteúdo, a intenção do Estado em atuar na defesa do consumidor, ou seja,
da parte hipossuficiente da relação de consumo. O inciso supracitado explicita que o Estado promoverá,
na forma da lei, a defesa do consumidor. A lei citada pelo inciso entrou em vigor no dia 11 de setembro
de 1990 e foi denominada como Código de Defesa do Consumidor, sob o nº 8.078/90.

XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular,
ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado;

Aqui encontramos um desdobramento do direito à informação. Como é cediço é direito fundamental


ao cidadão informar e ser informado. Desta maneira, todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse ou de interesse coletivo ou geral. Para que seja efetivado o direito de
informação, em caso de descumprimento, o ofendido poderá utilizar-se do remédio constitucional
denominado habeas data, que tem por escopo assegurar o conhecimento das informações dos indivíduos
que estejam em bancos de dados, bem como de retificar informações que estejam incorretas, por meio
sigiloso, judicial ou administrativo.
É importante salientar que as informações deverão ser prestadas dentro do prazo estipulado em lei,
sob pena de responsabilidade.
Todavia, o final do inciso supracitado traz uma limitação à liberdade de informação qual seja: a restrição
aos dados cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poder Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso
de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento
de situações de interesse pessoal;

Preliminarmente, é importante salientar que tanto o direito de petição ao Poder Público, como o direito
de obtenção de certidões em repartições públicas são assegurados, independentemente, do pagamento

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de taxas. Isso não quer dizer que o exercício desses direitos seja realizado gratuitamente, mas sim, que
podem ser isentos de taxas para as pessoas reconhecidamente pobres.
A alínea “a” traz, em seu bojo, o direito de petição. Tal direito consiste na possibilidade de levar ao
conhecimento do Poder Público a ocorrência de atos eivados de ilegalidade ou abuso de poder.
Posteriormente, a alínea “b” trata da obtenção de certidões em repartições públicas. De acordo com a
Lei nº 9.051/95 o prazo para o esclarecimento de situações e expedição de certidões é de quinze dias.
Todavia, se a certidão não for expedida a medida jurídica cabível é a impetração do mandado de
segurança e não o habeas data.

XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Neste inciso encontra-se consagrado o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Como explicita o


próprio conteúdo do inciso supracitado, não poderão haver óbices para o acesso ao Poder Judiciário.
Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, tal questão deverá ser levada até o Poder Judiciário para
que possa ser dirimida. Quando a lesão acontecer no âmbito administrativo não será necessário o
esgotamento das vias administrativas. Assim, o lesado poderá ingressar com a medida cabível no Poder
Judiciário, independentemente do esgotamento das vias administrativas. Todavia, há uma exceção a essa
regra. Tal exceção diz respeito à Justiça Desportiva, que exige para o ingresso no Poder Judiciário, o
esgotamento de todos os recursos administrativos cabíveis.

XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Quando este inciso explicita que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada, a real intenção é a preservação da segurança jurídica, pois com a observância deste
estaremos diante da estabilidade das relações jurídicas. Para um melhor entendimento, o conceito dos
institutos supracitados estão dispostos no artigo 6º da LINDB (Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro). São eles:
- Direito adquirido: Direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo
começo do exercício tenha termo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem;
- Ato jurídico perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
- Coisa julgada: Decisão judicial de que não caiba mais recurso.

Estes institutos são de extrema relevância no ordenamento jurídico brasileiro, pois eles garantem a
estabilidade de relações jurídicas firmadas. Imaginemos se inexistissem tais institutos e uma lei que
trouxesse malefícios entrasse em vigor? Estaríamos diante de total insegurança e anarquia jurídica, pois,
transações realizadas, contratos firmados, sentenças prolatadas poderiam ser alteradas pela
superveniência de um ato normativo publicado. Assim, com a existência de tais institutos jurídicos, uma
lei posterior não poderá alterar o conteúdo de relações jurídicas firmadas, o que enseja ao jurisdicionado
um sentimento de segurança ao buscar o acesso ao Poder Judiciário.

XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta no inciso supracitado, a


impossibilidade de adoção no ordenamento jurídico brasileiro, do juízo ou tribunal de exceção. São
considerados juízos ou tribunais de exceção, aqueles organizados posteriormente à ocorrência do caso
concreto. O juízo de exceção é caracterizado pela transitoriedade e pela arbitrariedade aplicada a cada
caso concreto. Esse juízo ofende claramente ao princípio do juiz natural, que prevê a garantia de ser
julgado por autoridade judiciária previamente competente.

XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude da defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

A instituição do Tribunal do Júri foi criada originariamente com o escopo de julgar os crimes de
imprensa. Todavia, com o passar dos tempos, essa instituição passou a ser utilizada com a finalidade de
julgar os crimes dolosos contra a vida.

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Os crimes contra a vida, compreendidos entre os artigos 121 a 128 do Código Penal, são os seguintes:
homicídio; induzimento; instigação e auxílio ao suicídio; infanticídio e aborto. Cabe ressaltar que a
instituição do júri somente é competente para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, cabendo ao
juízo monocrático ou singular o julgamento dos crimes culposos.
Crime doloso, segundo o Código Penal, é aquele onde o sujeito praticante da conduta lesiva quer que
o resultado lesivo se produza ou assume o risco de produzi-lo. Já, o crime culposo, é aquele onde o
sujeito ativo praticante da conduta agiu sob imprudência, negligência ou imperícia.
Como característica dessa instituição está à plenitude de defesa. A plenitude de defesa admite a
possibilidade de todos os meios de defesa, sendo caracterizado como um nível maior de defesa do que
a ampla defesa, defendida em todos os procedimentos judiciais, sob pena de nulidade processual.
Outra característica importante acerca da instituição do Tribunal do Júri é o sigilo das votações. No dia
do julgamento em plenário, após os debates, o juiz presidente do Tribunal do Júri efetua a leitura dos
quesitos formulados acerca do crime para os sete jurados, que compõe o Conselho de Sentença, e os
questiona se estão preparadas para a votação. Caso seja afirmativa a resposta, estes serão
encaminhados, juntamente com o magistrado até uma sala onde será realizada a votação. Neste ato, o
juiz efetua a leitura dos quesitos e um oficial entrega duas cédulas de papel contendo as palavras sim e
não aos jurados. Posteriormente, estas são recolhidas, para que seja possível chegar ao resultado final
do julgamento. É importante salientar que essa característica de sigilo atribuída à votação deriva do fato
que inexiste possibilidade de se descobrir qual o voto explicitado pelos jurados individualmente. Isso
decorre que inexiste qualquer identificação nas cédulas utilizadas para a votação.
A última característica referente à instituição do Tribunal do Júri diz respeito à soberania dos
veredictos. Essa característica pressupõe que as decisões tomadas pelo Tribunal do Júri não poderão
ser alteradas pelo Tribunal de Justiça respectivo. No entanto, um entendimento doutrinário atual considera
a possibilidade de alteração da sentença condenatória prolatada no Tribunal do Júri, quando estiver
pairando questão pertinente aos princípios da plenitude de defesa, do devido processo legal e da verdade
real.

XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

Esse princípio, muito utilizado no Direito Penal, encontra-se bipartido em dois subprincípios, quais
sejam: subprincípio da reserva legal e subprincípio da anterioridade.
O primeiro explicita que não haverá crime sem uma lei que o defina, ou seja, não será possível imputar
determinado crime a um indivíduo, sem que a conduta cometida por este esteja tipificada, ou seja, prevista
em lei como crime. Ainda o subprincípio da reserva legal explicita que não haverá pena sem cominação
legal.
Já, o subprincípio da anterioridade, demonstra que há necessidade uma lei anterior ao cometimento
da conduta para que seja imputado o crime ao sujeito ativo praticante da conduta lesiva. Outrossim, não
será possível a aplicabilidade de pena, sem uma cominação legal estabelecida previamente.
Não teria sentido adotarmos o princípio da legalidade, sem a correspondente anterioridade, pois criar
uma lei, após o cometimento do fato, seria totalmente inútil para a segurança que a norma penal deve
representar a todos os seus destinatários.
O indivíduo somente está protegido contra os abusos do Estado, caso possa ter certeza de que as leis
penais são aplicáveis para o futuro, a partir de sua criação, não retroagindo para abranger condutas já
realizadas.
A lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor, não se admitindo sua retroatividade
maléfica. Não pode retroagir, salvo se beneficiar o réu.
É proibida a aplicação da lei penal inclusive aos fatos praticados durante seu período de vacatio.
Embora já publicada e vigente, a lei ainda não estará em vigor e não alcançará as condutas praticadas
em tal período.
Vale destacar, entretanto, a existência de entendimentos no sentido de aplicabilidade da lei em vacatio,
desde que para beneficiar o réu.

Vacatio refere-se ao tempo em que a lei é publicada até a sua entrada em vigor. A lei somente será
aplicável a fatos praticados posteriormente a sua vigência.

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XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Nesse caso estamos diante da irretroatividade da lei penal. Como é possível perceber, o inciso em
questão veda expressamente a retroatividade da lei penal. Todavia, a retroatividade, exceção
expressamente prevista, somente será possível no caso de aplicação de lei benéfica ao réu.
Cabe ressaltar que o réu é o sujeito ativo praticante da conduta criminosa. No caso específico deste
inciso estamos diante de aplicação de leis penais no tempo. A critério exemplificativo, imaginemos: o
artigo 121, caput, do Código Penal explicita que o indivíduo que cometa o crime de homicídio (matar
alguém) terá contra si aplicada pena de 6 a 20 anos. Um indivíduo que cometa essa conduta na vigência
desta lei terá contra si aplicada a pena supracitada. Agora, imaginemos que após a realização de tal
conduta seja publicada uma lei que aumente o limite de pena a ser aplicada aos praticantes do crime de
homicídio para 10 a 30 anos. Essa lei poderá retroagir e atingir a situação processual do indivíduo que
cometeu o crime sob a égide da lei anterior mais benéfica? A resposta é negativa. Isso ocorre pelo fato
de que não é possível a retroatividade de lei maléfica ao réu.
Agora, imaginemos que após a realização da conduta criminosa haja a superveniência de uma lei que
reduza a pena aplicada ao sujeito ativo praticante do crime de homicídio para 1 a 3 anos ou determine
que a prática de tal conduta não será mais considerada como crime pelo ordenamento jurídico. Tal lei
poderá retroagir? A resposta é afirmativa. Isso ocorre pelo fato de que a existência de lei mais benéfica
ao réu retroagirá.

XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

Este inciso garante que a lei punirá qualquer conduta discriminatória que atente contra os direitos e
liberdades fundamentais. Todavia, como é possível perceber há necessidade da existência de uma lei
que descreva a punição aos sujeitos praticantes dessas condutas, tendo em vista a obediência ao
princípio da legalidade.

XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de


reclusão, nos termos da lei;

Atualmente, um dos grandes objetivos da sociedade global é a luta pela extinção do racismo no mundo.
A nossa Constituição no inciso supracitado foi muito feliz em abordar tal assunto, haja vista a importância
do mesmo dentro da conjectura social do nosso país.
De acordo com o inciso XLII, a prática de racismo constitui crime inafiançável, imprescritível e sujeito
à pena de reclusão. O caráter de inafiançabilidade deriva do fato que não será admitido o pagamento de
fiança em razão do cometimento de uma conduta racista. Como é cediço, a fiança consiste na prestação
de caução pecuniária ou prestação de obrigações que garantem a liberdade ao indivíduo até sentença
condenatória.
Outrossim, a prática do racismo constitui crime imprescritível. Para interpretar de maneira mais eficaz
o conteúdo do inciso supracitado é necessário entendermos em que consiste o instituto da prescrição. A
prescrição consiste na perda do direito de punir pelo Estado, em razão do elevado tempo para apuração
dos fatos. Assim, o Estado não possui tempo delimitado para a apuração do fato delituoso, podendo o
procedimento perdurar por vários anos. Cabe ressaltar que existem diversas espécies de prescrição,
todavia, nos ateremos somente ao gênero para uma noção do instituto tratado.
Ademais, o inciso estabelece que o crime em questão será sujeito à pena de reclusão. A reclusão é
uma modalidade de pena privativa de liberdade que comporta alguns regimes prisionais, quais sejam: o
fechado, o semiaberto e o aberto.

XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

O inciso em questão tem por objetivo vetar alguns benefícios processuais aos praticantes de crimes
considerados como repugnantes pela sociedade. Os crimes explicitados pelo inciso são: tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os hediondos.

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LXIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

Este inciso demonstra o caráter inafiançável e imprescritível da ação de grupos, armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Como já foi explicitado anteriormente, o
cometimento de tais crimes não são submetidos ao pagamento de fiança, para que o sujeito praticante
do mesmo possa aguardar em liberdade eventual sentença condenatória. Não obstante, a prática de tais
ações se caracteriza como imprescritíveis, ou seja, o Estado não possui um tempo delimitado para
apuração dos fatos, podendo levar anos para solucionar o caso.

XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano
e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Neste inciso estamos diante do princípio da personalização da pena. Preliminarmente, para melhor
compreensão do inciso é necessário explicitar que estamos diante de responsabilidades nos âmbitos civil
e penal.
No âmbito penal, a pena é personalíssima, ou seja, deverá ser cumprida pelo sujeito praticante do
delito, não podendo ser transferida a seus herdeiros. Esta assertiva se justifica pelo fato de que se o
condenado falecer, de acordo com o artigo 107 do Código Penal, será extinta sua punibilidade.
Todavia, quando tratamos de responsabilidade no âmbito civil, a interpretação é realizada de maneira
diversa. De acordo com o inciso supracitado, a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento
de bens podem se estender aos sucessores do condenado e contra eles executadas, até o limite do valor
do patrimônio transferido. Isso ocorre pelo fato que no âmbito civil a pena não possui o caráter
personalíssimo.

XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição de liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

Este inciso expressa o princípio da individualização da pena. Desta maneira, além do princípio da
personalização da pena, há o emprego da individualização no cumprimento da pena, pois é necessário
que exista uma correspondência entre a conduta externalizada pelo sujeito e a punição descrita pelo texto
legal.
Nesse passo, o inciso XLVI traz, em seu bojo, as espécies de penas admissíveis de aplicação no
Direito Pátrio. São elas:
a) privação ou restrição de direitos
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
Assim, o inciso apresenta um rol exemplificativo das penas admissíveis no ordenamento jurídico
brasileiro, para, posteriormente, no inciso subsequente expressar as espécies de penas vedadas.

XLVII- não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

Aqui estamos diante do rol taxativo de penas não passíveis de aplicação no ordenamento jurídico
brasileiro. São elas:
- Pena de morte: em regra, não será admitida sua aplicação no Direito Pátrio. Porém, a própria alínea
“a” demonstra a possibilidade de aplicação de tal pena nos casos de guerra declarada.

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- Pena de caráter perpétuo: Não é admissível sua aplicação, pois uma das características inerentes
da pena é o caráter de provisoriedade.
- Pena de trabalhos forçados: Essa espécie de pena proíbe o trabalho infamante, prejudicial ao
condenado, em condições muito difíceis. No entanto, é importante salientar que a proibição de trabalhos
forçados não impede o trabalho penitenciário, utilizado como sistemática de recuperação.
- Pena de banimento: A pena de banimento consiste na expulsão do brasileiro do território nacional.
Tal pena é proibida pela nossa Constituição sem qualquer ressalva.
- Pena cruel: Essa espécie de pena é vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Todavia, a
definição de crueldade é complexa, haja vista se tratar de questão subjetiva, pois cada pessoa pode
atribuir um conceito diverso a tal expressão.

XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do


delito, a idade e o sexo do apenado;

De acordo com o inciso supracitado a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, devendo-se
levar em conta critérios, como: natureza do delito, idade e sexo do apenado. Um exemplo a ser citado é
o da Fundação CASA, para onde são destinados os adolescentes que cometem atos infracionais.

XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

A tutela do preso cabe ao Estado. Assim, sua integridade física e moral deve ser preservada, sob pena
de responsabilização do Estado pela conduta dos seus agentes e dos outros presos. O fato de estar preso
não significa que ele poderá receber tratamento desumano ou degradante.
É importante salientar que este inciso é um desdobramento do princípio da dignidade da pessoa
humana, pois, independentemente do instinto criminoso, o preso é uma pessoa que possui seus direitos
protegidos pela Carta Magna.

L- às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação;

Neste inciso não se busca a proteção dos direitos da presidiária, mas sim dos filhos, pois, como é
cediço, é de extrema importância à alimentação das crianças com leite materno, bem como a convivência
com a mãe nos primeiros dias de vida.

LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

O presente inciso demonstra a impossibilidade de extradição do brasileiro nato. Em hipótese alguma


o brasileiro nato será extraditado. Contudo, o brasileiro naturalizado, poderá ser extraditado desde que
ocorram as seguintes situações:

- Antes da naturalização: prática de crime comum ou comprovado envolvimento em tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins;

- Depois da naturalização: comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas


afins.

LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

Este inciso traz as únicas hipóteses em que o estrangeiro não será extraditado, quais sejam: O
cometimento de crime político ou de opinião. É importante não confundir a expressão “crime político” com
a expressão “crime eleitoral”. Essa diferenciação é de extrema importância, pois crimes políticos são
aqueles que atentam contra a estrutura política de um Estado, enquanto os crimes eleitorais são aqueles
referentes ao processo eleitoral, explicitados pelo respectivo Código.
Com relação aos crimes de opinião, podemos defini-los como aqueles que sua execução consiste na
manifestação de pensamento. Sendo estes a calúnia, a difamação e a injúria.

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LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por autoridade competente;

Este inciso expressa a existência de dois princípios consagrados pela doutrina. O primeiro diz respeito
ao princípio do promotor natural e o segundo ao princípio do juiz natural. O princípio do promotor natural
consiste no fato que ninguém será processado, senão por autoridade competente, ou seja, será
necessária a existência de um Promotor de Justiça previamente competente ao caso, não se admitindo,
portanto, a designação de uma autoridade para atuar em determinado caso. Já a segunda parte do inciso
demonstra a presença do princípio do juiz natural, onde há a consagração que ninguém será sentenciado,
senão por autoridade competente. Isso importa dizer que não será possível existência de juízos ou
tribunais de exceção, ou seja, especificamente destinados à análise de um caso concreto.

LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Este inciso denota o princípio constitucional do devido processo legal. Vislumbra-se que para que haja
um processo legal, há necessidade da observância do contraditório e da ampla defesa. Além disso, não
poderão ser utilizadas provas ilícitas bem como julgamento por autoridade incompetente. Assim, como é
possível perceber, o princípio do devido processo legal abrange vários outros princípios, visando, desta
maneira, chegar a um provimento jurisdicional satisfativo.

LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Neste inciso estamos diante dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Esses princípios,
definitivamente, são dois dos mais importantes existentes no ordenamento jurídico. É importante salientar
que o contraditório e a ampla defesa devem ser observados não somente em processos judiciais, mas
também nos administrativos.
Todavia, existem questões controversas acerca do contraditório e da ampla defesa. Uma delas diz
respeito ao inquérito policial, onde para alguns doutrinadores não há que se cogitar a aplicação destes
princípios, já que no inquérito inexiste acusação, sendo este apenas um instrumento administrativo
tendente à coleta de provas que visem embasar a propositura da ação penal pelo membro do Ministério
Público.

LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

A Constituição ao explicitar serem inadmissíveis no processo, as provas obtidas por meios ilícitos, diz
respeito às provas adquiridas em violação a normas constitucionais ou legais. Em outras palavras: prova
ilícita é a que viola regra de direito material, seja constitucional ou legal, no momento de sua obtenção
(ex.: confissão mediante tortura). Por outro lado, as provas que atingem regra de direito processual, no
momento de sua produção em Juízo, como por exemplo, interrogatório sem a presença de advogado;
colheita de depoimento sem a presença de advogado, não são taxadas de ilícitas, mas sim de ilegítimas.
Em que pese essas considerações, ambos os tipos de provas são inadmissíveis no processo, sob pena
de nulidade.

LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória;

Aqui estamos diante do princípio da presunção de inocência ou da não-culpabilidade. Conforme dispõe


o próprio inciso, ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Quando falamos em trânsito em julgado da sentença penal condenatória, estamos diante
de uma sentença que condenou alguém pela prática de um crime e não há mais possibilidade de
interposição de recursos. Assim, após o trânsito em julgado da sentença será possível lançar o nome do
réu no rol dos culpados.
A sentença de pronúncia é aquela que encerra a primeira fase do procedimento do júri, após verificadas
a presença de autoria e materialidade. Como já dito anteriormente, não é possível efetuar o lançamento
do nome do réu no rol dos culpados após essa sentença, pois este ainda será julgado pelo Tribunal do
Júri, constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida.
Outro ponto controverso diz respeito à prisão preventiva. Muito se discutiu se a prisão preventiva
afetaria ao princípio da presunção de inocência. Porém, esse assunto já foi dirimido pela jurisprudência,
ficando decidido que a prisão processual não afeta o princípio esposado no inciso em questão.

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LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei;

A regra admitida pelo Texto Constitucional é que o indivíduo já identificado civilmente não deverá ser
submetido à outra identificação, para fins criminais. Todavia, o inciso supracitado, traz, em sua parte final,
uma exceção à regra, admitindo a identificação criminal aos civilmente identificados, desde que haja
previsão legal.
Atualmente, a Lei nº 12.037/2009, traz em seu artigo 3º, as hipóteses em que o civilmente identificado
deverá proceder à identificação criminal. São elas:
– o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
– o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
– o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
– a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade
judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do
Ministério Público ou da defesa;
– constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
– o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento
apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal;

O inciso LIX consagra a possibilidade de ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública.
Preliminarmente, antes de tecer quaisquer comentários acerca dessa espécie de ação, cabe ressaltar
que as ações penais se dividem em: ações penais públicas e ações penais privadas.
As ações penais públicas, que possuem o Ministério Público como legitimado privativo na sua
proposição, se dividem em ações penais públicas incondicionadas e ações penais públicas
condicionadas.
As ações penais públicas incondicionadas independem de qualquer espécie de condição para a sua
propositura. Neste caso, se o membro do Ministério Público, após a análise do caso concreto, se
convencer da ocorrência de crime, deverá oferecer a denúncia, peça processual inaugural da ação penal.
Neste caso, o membro do Ministério Público poderá iniciar a ação penal sem a necessidade de obediência
de qualquer condição.
Noutro passo, as ações penais condicionadas dependem da obediência de algumas condições para
que o Ministério Público possa oferecer a denúncia, e assim, dar início à ação penal que levará a uma
sentença penal que poderá ter cunho condenatório ou absolutório. As condições a serem obedecidas são
as seguintes: representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça.
É importante salientar que os crimes onde seja necessário o ajuizamento de ação penal pública
condicionada e os de ação penal privada serão expressamente dispostos. Assim, podemos chegar à
conclusão de que, subtraídos os crimes de ação penal pública condicionada e os crimes de ação penal
privada, os demais serão de ação penal pública incondicionada.
Os crimes de ação penal privada são aqueles em que o Estado transferiu a titularidade do ajuizamento
da ação ao ofendido, ou seja, à vítima do crime.
A ação penal privada se divide em algumas espécies, mas vamos nos ater à ação penal privada
subsidiária da pública, objeto do inciso em estudo.
Essa espécie de ação penal privada irá entrar em cena quando o Ministério Público, legitimado
privativamente ao exercício da ação penal pública, ficar inerte, não agir, como por exemplo, deixar de
oferecer a denúncia.
Assim, em caso de inércia do Ministério Público, o próprio ofendido poderá ajuizar a ação penal. Cabe
ressaltar, no presente caso, que mesmo havendo a inércia do Ministério Público e o eventual ajuizamento
da ação pelo ofendido, a legitimidade privativa no ajuizamento da ação penal conferida ao Ministério
Público não é transferida.

LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade
ou o interesse social o exigirem;

A regra, de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, é a publicidade de todos os atos processuais. Contudo o inciso LX, dispõe que poderá haver
restrição da publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o

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exigirem. Um exemplo do presente caso diz respeito às questões referentes ao Direito de Família (ex.:
ação de reconhecimento de paternidade).

LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos caso de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei;

A liberdade é um direito do cidadão constitucionalmente tutelado. Porém, a prisão constitui uma das
restrições à aplicabilidade do direito à liberdade. Este inciso explicita que ninguém será preso, senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. De acordo com este inciso só
existem duas maneiras de se efetuar a prisão de um indivíduo. A primeira se dá através da prisão em
flagrante, ou seja, quando, em regra, o indivíduo é flagrado praticando o crime. É importante salientar que
existem diversas espécies de prisão em flagrante, todavia, nos ateremos somente ao gênero para
entendimento deste inciso. Cabe ressaltar que a prisão em flagrante não pressupõe a existência de
ordem escrita e fundamentada de juiz competente, pois este tipo de prisão pode ser realizada por qualquer
pessoa.
Já a segunda maneira é a prisão realizada por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente (ou seja, mandado de prisão). É importante ressaltar que existem outras espécies de prisão,
tais como: prisão preventiva e prisão temporária. Essas prisões para se efetivarem, necessitam da
existência de um mandado de prisão assinado pelo juiz competente.
Em que pese à garantia de que ninguém será preso senão através das hipóteses supracitadas, cabe
ressaltar que para os militares existem algumas ressalvas. De acordo com a parte final do inciso
comentado, os militares poderão ser presos em razão de transgressão militar ou pelo cometimento de
crime militar, previstos em lei.

LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente
ao juiz competente e à família ou à pessoa por ele indicada;

Este inciso demonstra alguns dos direitos do preso, dentre eles a comunicação à família ou pessoa
por ele indicada. Ademais, é importante salientar que o juiz competente também será comunicado para
que tome as medidas cabíveis.

LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Neste inciso, outros direitos do preso estão presentes, quais sejam: o de permanecer calado, de
assistência da família e de advogado. O primeiro deles trata da possibilidade do preso permanecer calado,
haja vista que este não é obrigado a produzir prova contra si. Ademais, os outros garantem que seja
assegurado este a assistência de sua família e de um advogado.

LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;

Este inciso visa à identificação das pessoas ou autoridades responsáveis pela prisão ou pelo
interrogatório, pois com a identificação destes há facilidade de responsabilização em caso de eventuais
atos abusivos cometidos contra o preso.

LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

Este inciso é de extrema relevância, pois permite o relaxamento da prisão do indivíduo que porventura
tenha sofrido cerceamento em sua liberdade por uma prisão que esteja eivada de ilegalidade. Esta
ilegalidade pode ocorrer por diversos motivos, como por exemplo, nulidades, abuso de autoridade no ato
da prisão, dentre outros.
Desta maneira, comprovada a ilegalidade da prisão, o relaxamento desta é medida indispensável, ou
seja, deverá ser libertado o indivíduo do cárcere.

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LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança;

Diferentemente do inciso anterior, onde a prisão encontrava-se eivada de ilegalidade, aqui estamos
diante de prisão legalmente realizada, sem ocorrência de nulidades, vícios ou abusos. Todavia, o Código
de Processo Penal brasileiro admite que o indivíduo responda ao processo pelo crime que cometeu em
liberdade, desde que, previamente, efetue o pagamento de fiança. Contudo, existem outros casos em
que é admissível a liberdade provisória, sem o pagamento de fiança.
Cabe ressaltar que a liberdade provisória com o pagamento de fiança constitui dever tanto do Juiz de
Direito como do Delegado de Polícia (sendo deste somente nos casos de infração cuja pena privativa de
liberdade máxima não seja superior a 4 anos). Já, a liberdade provisória, sem o pagamento de fiança
deverá ser analisada somente pelo Juiz de Direito.

LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário
e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Este inciso consagra, em regra, a impossibilidade de prisão civil por dívida no ordenamento jurídico
brasileiro. A prisão civil é medida privativa de liberdade, sem caráter de pena, com a finalidade de compelir
o devedor a satisfazer uma obrigação. Nos termos da Constituição Federal a prisão civil será cabível em
duas situações, no caso de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e no caso
do depositário infiel. Porém, o Pacto de San José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil (recepcionado de
forma equivalente a norma constitucional), autoriza a prisão somente em razão de dívida alimentar. Desta
forma, com base no pacto não se admite, por manifesta inconstitucionalidade, a prisão civil por dívida no
Brasil, quer do alienante fiduciário, quer do depositário infiel. O Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que só é possível a prisão civil do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia.

LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Neste inciso estamos diante de um dos remédios constitucionais processuais mais importantes
existentes no ordenamento jurídico, qual seja: o habeas corpus.
Este remédio constitucional tem por escopo assegurar a efetiva aplicação do direito de locomoção, ou
seja, o direito de ir, vir e permanecer em um determinado local.
Como é possível perceber, este remédio constitucional poderá ser utilizado tanto no caso de iminência
de violência ou coação à liberdade de locomoção, como no caso de efetiva ocorrência de ato atentatório
à liberdade supracitada.
Assim, são duas as espécies de habeas corpus:
- Preventivo ou salvo-conduto: Neste caso o habeas corpus será impetrado pelo indivíduo que se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder. Esta espécie de habeas corpus será impetrada na iminência de ocorrência de violência ou coação
à liberdade de locomoção, com a finalidade de obter um salvo-conduto, ou seja, um documento para
garantir o livre trânsito em sua liberdade de locomoção (ir, vir e permanecer). Por exemplo, Fulano está
sendo acusado de cometer um crime de roubo, porém existem indícios de que não foi ele que comete o
crime, este impetra o Habeas Corpus preventivo, o juiz reconhecendo legítimos seus argumentos concede
a este o salvo-conduto, que permitirá que este se mantenha solto até a decisão final do processo.

- Repressivo ou liberatório: Aqui haverá a impetração quando alguém sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Assim, estamos diante de um ato
atentatório já realizado contra a liberdade de locomoção do indivíduo. Nesse passo, o habeas corpus será
impetrado com a finalidade de obter a expedição de um alvará de soltura (documento no qual consta
ordem emitida pelo juiz para que alguém seja posto em liberdade).

LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições de Poder Público;

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O mandado de segurança é outro importante remédio constitucional que tem por objetivo a tutela de
direito líquido e certo, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso do poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
De acordo com o inciso supracitado, o objeto desta ação constitucional é a proteção de direito líquido
e certo.
Direito líquido e certo é aquele que pode ser demonstrado de plano, através de prova pré-constituída,
sendo, portanto, dispensada a dilação probatória.
É importante salientar que somente será possível a impetração de mandado de segurança, nos casos
não amparados por habeas corpus ou habeas data. Isso ocorre pelo fato de que é necessário utilizar o
remédio processual adequado ao caso. Caber ressaltar que um dos requisitos mais importantes para a
impetração do mandado de segurança é a identificação da autoridade coatora pela ilegalidade ou abuso
do poder. De acordo com o inciso em questão a autoridade poderá ser pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício das atribuições de Poder Público. Para fins de impetração de mandado de segurança,
autoridade é o agente investido no poder de decisão. É importante tal caracterização, pois, desta maneira,
não há o risco de ilegitimidade passiva na impetração do mandado de segurança.
Similarmente ao habeas corpus, existem duas espécies de mandado de segurança:
- Preventivo: Quando estamos diante de ameaça ao direito líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de
poder.
- Repressivo: Quando a ilegalidade ou abuso de poder já foram praticados.

LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Neste inciso encontra-se presente o remédio constitucional denominado de mandado de segurança


coletivo. Este remédio constitucional tem por finalidade a proteção de direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, por ilegalidade ou abuso de poder referente à proteção ou reparação
de interesses da coletividade.
É importante salientar que somente serão legitimados para a impetração do mandado de segurança
coletivo os disposto no inciso supracitado. São eles:
- Partido político com representação no Congresso Nacional;
- Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
Cabe frisar que deverão ser obedecidos todos os requisitos estabelecidos para que seja possível a
impetração do remédio constitucional. Ressalta-se ainda, que uma associação legalmente constituída há
menos de um ano não pode impetrar mandado de segurança coletivo, pois há necessidade da
constituição legal desta por, no mínimo, um ano. Ademais, há necessidade de que o objeto da tutela seja
a defesa dos interesses dos membros ou associados, sob pena da não consagração do remédio
constitucional supracitado.
Outrossim, para que os partidos políticos sejam legitimados ativos para a impetração de mandado de
segurança coletivo há necessidade de que estes possuam representação no Congresso Nacional.

LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Este inciso traz, em seu bojo, o mandado de injunção, que tem por escopo principal combater a
inefetividade das normas constitucionais. Para que seja possível a impetração de mandado de injunção
há necessidade da presença de dois requisitos:
- Existência de norma constitucional que preveja o exercício de direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
- Inexistência de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
A grande consequência do mandado de injunção consiste na comunicação ao Poder Legislativo para
que elabore a lei necessária ao exercício dos direitos e liberdades constitucionais.

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LXXII- conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes
de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;

O habeas data, considerado como um remédio constitucional tem por escopo assegurar o direito de
informação consagrado no artigo 5º, XXXIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
De acordo com o princípio da informação todos têm direito de receber informações dos órgãos públicos,
sendo apresentadas algumas ressalvas. Assim, o habeas data é o remédio constitucional adequado à
tutela do direito de informação, pois, através dele busca-se assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constante de registros ou banco de dados de entidades governamentais
ou de caráter público.
Não obstante, o habeas data é utilizado para a retificação de dados do impetrante, sempre que não se
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Neste inciso estamos diante da Ação Popular, efetivo instrumento processual utilizado para anulação
de atos lesivos ao patrimônio público e para a defesa de alguns interesses de extrema importância como
o meio ambiente.
Tal instrumento, regido pela Lei nº 4.717/65, confere legitimidade de propositura ao cidadão, imbuído
de direitos políticos, civis e sociais. Este remédio constitucional, cuja legitimidade para propositura, é do
cidadão, visa um provimento jurisdicional (sentença) que declare a nulidade de atos lesivos ao patrimônio
público.
Quando o inciso em questão explicita que qualquer cidadão poderá ser parte legítima para proporá a
ação popular, é necessário ter em mente que somente aquele que se encontra no gozo dos direitos
políticos, ou seja, possa votar e ser votado, será detentor de tal prerrogativa.
Existe um grande debate na doutrina sobre um eventual conflito de aplicabilidade entre a ação popular
e a ação civil pública.
A ação civil pública, explicitada pela Lei nº 7.347/85, é um instrumento processual tendente a tutelar
interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Neste caso, a Lei da Ação Civil Pública, dispõe,
em seu artigo 5º, um rol de legitimados à propositura da ação, como por exemplo: a União, os Estados,
os Municípios, o Distrito Federal, o Ministério Público, dentre outros. Desta maneira, se formos analisar
minuciosamente o conteúdo disposto no artigo 5º, podemos perceber que o cidadão individualmente
considerado, detentor de direitos políticos, não é legitimado para a propositura de tal ação. Assim, não há
que cogitar de conflito entre essas ações, pois, indubitavelmente, ambas se completam em seus objetos.

LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

De acordo com o inciso supracitado será dever do Estado à prestação de assistência jurídica integral
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Desta maneira, com a finalidade de atender
aos indivíduos mais necessitados, a própria Constituição em seu artigo 134, trata da Defensoria Pública,
instituição especificamente destinada a esse fim. De acordo com o artigo 134, a Defensoria Pública é
instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em
todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV.

LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além
do tempo fixado na sentença;

Este inciso consagra o dever de indenização do Estado no caso de erro judiciário e de prisão além do
tempo fixado na sentença. Aqui estamos diante de responsabilidade objetiva do Estado, ou seja,
comprovado o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso, será exigível a indenização,
independentemente da comprovação de culpa ou dolo.

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LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;

Conforme explicita o inciso em tela, a Constituição garante aos reconhecidamente pobres a gratuidade
do registro civil de nascimento e da certidão de óbito. É importante salientar que a gratuidade somente
alcança aos reconhecidamente pobres.

LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data e, na forma da lei, os atos
necessário ao exercício da cidadania;

Este inciso expressa a gratuidade das ações de habeas corpus e habeas data, além dos atos
necessários ao exercício da cidadania, como por exemplo, a emissão do título de eleitor, que garante ao
indivíduo o caráter de cidadão, para fins de propositura de ação popular.

LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do


processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Visando combater a morosidade do Poder Judiciário, este inciso trouxe ao ordenamento jurídico
brasileiro a garantia de razoabilidade na duração do processo. Como é possível perceber, a duração
razoável do processo deverá ser empregada tanto na esfera judicial, como administrativa, fazendo com
que o jurisdicionado não necessite aguardar longos anos à espera de um provimento jurisdicional. Não
obstante, o inciso em questão ainda denota que serão assegurados os meios que garantam a celeridade
da tramitação do processo.

§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

O parágrafo em tela demonstra que os direitos e garantias fundamentais constantes no bojo de toda a
Carta Magna passaram a ter total validade com a entrada em vigor da Constituição, independentemente,
da necessidade de regulamentação de algumas matérias por lei infraconstitucional.

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do


regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

O parágrafo 2º explicita que os direitos e garantias expressos em toda a Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios adotados, ou dos tratados internacionais em que o Brasil
seja parte. Desta maneira, além dos direitos e garantias já existentes, este parágrafo consagra a
possibilidade de existência de outros decorrentes do regime democrático. Não obstante, o parágrafo
supracitado não exclui outros princípios derivados de tratados internacionais em que o Brasil seja
signatário. Quando o assunto abordado diz respeito aos tratados, cabe ressaltar a importante alteração
trazida pela Emenda Constitucional nº 45/04, que inseriu o parágrafo 3º, que será analisado
posteriormente.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em


cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Este parágrafo trouxe uma novidade inserida pela Emenda Constitucional nº 45/04 (Reforma do
Judiciário). A novidade consiste em atribuir aos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos o mesmo valor de emendas constitucionais, desde que sejam aprovados pelo rito necessário.
Para que as emendas alcancem tal caráter é necessária à aprovação em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos membros. Contudo, cabe ressaltar que este
parágrafo somente abrange os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos. Assim, os
demais tratados serão recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro com o caráter de lei ordinária,
diferentemente do tratamento dado aos tratados de direitos humanos, com a edição da Emenda nº 45/04.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


. 23
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão.

Este parágrafo é outra novidade inserida ao ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº
45/04. Nos moldes do parágrafo supracitado o Brasil se submete à jurisdição do TPI (Tribunal Penal
Internacional), a cuja criação tenha manifestado adesão. Referido tribunal foi criado pelo Estatuto de
Roma em 17 de julho de 1998, o qual foi subscrito pelo Brasil. Trata-se de instituição permanente, com
jurisdição para julgar genocídio, crimes de guerra, contra a humanidade e de agressão, e cuja sede se
encontra em Haia, na Holanda. Os crimes de competência desse Tribunal são imprescritíveis, dado que
atentam contra a humanidade como um todo. O tratado foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 112, de
6 de junho de 2002, antes, portanto, de sua entrada em vigor, que ocorreu em 1 de julho de 2002.
Tal tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às leis ordinárias. Em que pese tenha
adquirido este caráter, o mencionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em nosso ordenamento jurídico antes da
edição da Emenda Constitucional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas
constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas.

Da Segurança Pública – art. 144

A Segurança é um direito constitucionalmente consagrado e constitui, juntamente com a Justiça e o


Bem-estar, um dos três fins do Estado Social. Viver em segurança é uma necessidade básica dos
cidadãos, é um direito destes e uma garantia a ser prestada pelo Estado.
Assim, o objetivo fundamental da segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
No título V da Constituição Federal de 1988, “Da defesa do Estado e das instituições democráticas”,
está o capítulo III, “Da segurança pública” que em seu único artigo dispõe: “Art. 144. A segurança pública,
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio...”.
A segurança pública é um serviço público que deve ser universalizado, sendo “dever do estado” e
“direito de todos”. O art. 5º da Constituição Federal, em seu caput, eleva a segurança à condição de direito
fundamental. Como a convivência harmônica reclama a preservação dos direitos e garantias
fundamentais, é necessário existir uma atividade constante de vigilância, prevenção e repressão de
condutas delituosas.
O poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais
em benefícios do interesse público.
A atividade policial divide-se, então em duas grandes áreas: administrativa e judiciária. A polícia
administrativa (polícia preventiva ou ostensiva) atua preventivamente, evitando que o crime aconteça e
preservando a ordem pública, fica a cargo das polícias militares, forças auxiliares e reserva do Exército.
Já a polícia judiciária (polícia de investigação) atua repressivamente, depois de ocorrido o ilícito. A
investigação e a apuração de infrações penais (exceto militares e aquelas de competência da polícia
federal), ou seja, o exercício da polícia judiciária, em âmbito estadual, cabe às policias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira.

Órgãos da segurança pública

A segurança pública efetiva-se por meio dos seguintes órgãos:


- Polícia Federal - instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
a) apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei;
b) prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho,
sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
c) exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; e
d) exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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- Polícia rodoviária federal - órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, nos termos da Lei n° 9.654, de 2 de junho de 1998, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.
- Polícia ferroviária federal - órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
- Polícias civis - dirigidas por delegados de carreira, exercem, ressalvada a competência da União,
as funções de polícia judiciária e de apuração de infrações penais, exceto as militares. Deve ser
observado que a Resolução n° 2, de 20 de fevereiro de 2002, do Conselho Nacional de Segurança
Pública, estabelece diretrizes para as polícias civil e militar dos Estados e do Distrito Federal em relação
às Corregedorias e recomenda a criação de Ouvidorias autônomas e independentes dos órgãos policiais.
- Polícias militares - realizam o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública; aos corpos
de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de
defesa civil. Nesse caso, há a Resolução n° 4, de 20 de fevereiro de 2002, do Conselho Nacional de
Segurança Pública, que estatui os procedimentos a serem adotados pela Polícia Militar em relação às
suas atribuições legais, e dá outras providências.
- Corpos de bombeiros militares - são forças auxiliares que se subordinam, conjuntamente com as
polícias civis, aos governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Importante lembrar que os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei e a segurança viária, exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas
compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em
lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e compete, no âmbito dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de
trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus
familiares) passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a função
exercida.
A Lei n° 13.142/2015 acrescentou o inciso VII ao § 2º do art. 121 do CP prevendo o seguinte:

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

2) A pena da LESÃO CORPORAL será aumentada de 1/3 a 2/3 se essa lesão tiver sido praticada
contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares), desde que o delito
tenha relação com a função exercida.

A Lei n° 13.142/2015 acrescentou o § 12 ao art. 129 do CP, prevendo o seguinte:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)
Aumento de pena
(...)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de
um a dois terços.

3) Foram previstos como crimes hediondos (Lei nº 8.072, de 25 de Julho de 1990):


- Lesão corporal dolosa gravíssima (art. 129, § 2º)
- Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º)
- Homicídio qualificado praticados contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra
seus familiares), se o delito tiver relação com a função exercida.

CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a implementação


de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o
efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado,
quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em
questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo1
O conceito jurídico de ordem pública não se confunde com incolumidade das pessoas e do patrimônio
(art. 144 da CF/1988). Sem embargo, ordem pública se constitui em bem jurídico que pode resultar mais
ou menos fragilizado pelo modo personalizado com que se dá a concreta violação da integridade das
pessoas ou do patrimônio de terceiros, tanto quanto da saúde pública (nas hipóteses de tráfico de
entorpecentes e drogas afins).
Daí sua categorização jurídico-positiva, não como descrição do delito nem cominação de pena, porém
como pressuposto de prisão cautelar; ou seja, como imperiosa necessidade de acautelar o meio social
contra fatores de perturbação que já se localizam na gravidade incomum da execução de certos crimes.
Não há incomum gravidade abstrata desse ou daquele crime, mas da incomum gravidade na
perpetração em si do crime, levando à consistente ilação de que, solto, o agente reincidirá no delito.
Donde o vínculo operacional entre necessidade de preservação da ordem pública e acautelamento do
meio social. Logo, conceito de ordem pública que se desvincula do conceito de incolumidade das pessoas
e do patrimônio alheio (assim como da violação à saúde pública), mas que se enlaça umbilicalmente à
noção de acautelamento do meio social2.

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:"
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas
de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

1
RE 559.646-AgR, rel. min.Ellen Gracie, julgamento em 7-6-2011, Segunda Turma, DJE de 24-6-2011. No mesmo sentido: ARE 654.823-
AgR, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 12-11-2013, Primeira Turma, DJE de 5-12-2013
2
HC 101.300, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 5-10-2010, Segunda Turma, DJE 18-11-2010

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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Cabe salientar que a mútua cooperação entre organismos policiais, o intercâmbio de informações, o
fornecimento recíproco de dados investigatórios e a assistência técnica entre a Polícia Federal e as
polícias estaduais, com o propósito comum de viabilizar a mais completa apuração de fatos delituosos
gravíssimos, notadamente naqueles casos em que se alega o envolvimento de policiais militares na
formação de grupos de extermínio, encontram fundamento, segundo penso, no próprio modelo
constitucional de federalismo cooperativo cuja institucionalização surge, em caráter inovador, no plano de
nosso ordenamento constitucional positivo, na CF de 1934, que se afastou da fórmula do federalismo
dualista inaugurada pela Constituição republicana de 1891, que impunha, por efeito da outorga de
competências estanques, rígida separação entre as atribuições federais e estaduais3.

A cláusula de exclusividade inscrita no art. 144, § 1º, IV, da Constituição da República – que não inibe
a atividade de investigação criminal do Ministério Público – tem por única finalidade conferir à Polícia
Federal, dentre os diversos organismos policiais que compõem o aparato repressivo da União Federal
(Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária Federal), primazia investigatória na
apuração dos crimes previstos no próprio texto da Lei Fundamental ou, ainda, em tratados ou convenções
internacionais4.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares.
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define incumbirem às polícias civis ‘as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares’. Não menciona a atividade penitenciária,
que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais; não atribui essa atividade específica à polícia
civil5.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos


corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.

“(...) reputo não haver que se falar em manifesta ilegalidade em ato emanado de superior hierárquico
consistente em determinar a subordinado que se dirija à cadeia pública, a fim de reforçar a guarda do
local. Por outro lado, tenho para mim que a obediência reflete um dos grandes deveres do militar, não
cabendo ao subalterno recusar a obediência devida ao superior, sobretudo levando-se em conta os
primados da hierarquia e da disciplina. Ademais, inviável delimitar, de forma peremptória, o que seria,
dentro da organização militar, ordem legal, ilegal ou manifestamente ilegal, uma vez que não há rol
taxativo a determinar as diversas atividades inerentes à função policial militar. Observo ainda que,
levando-se em conta a quadra atual a envolver os presídios brasileiros, com a problemática da
superpopulação carcerária em contraste com a escassez de mão de obra, entendo razoável a
participação da Polícia Militar em serviços de custódia e guarda de presos, sobretudo a fim manter a
ordem nos estabelecimentos prisionais. Por fim, emerge dos documentos acostados aos autos que a
ordem foi dada no sentido de reforçar a guarda, temporariamente, em serviços inerentes à carceragem,
e não para substituir agentes penitenciários como afirma a defesa6.”

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do


Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.

O § 6º do art. 144 da Constituição diz que os Delegados de Polícia são subordinados, hierarquizados
administrativamente aos governadores de Estado, do Distrito Federal e dos Territórios. E uma vez que os

3
RHC 116.002, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 12-3-2014, decisão monocrática, DJE de 17-3-2014.
4
HC 89.837, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 20-10-2009, Segunda Turma, DJE de 20-11-2009.
5
ADI 3.916, rel. min.Eros Grau, julgamento em 3-2-2010, Plenário, DJE de 14-5-2010.
6
HC 101.564, voto do rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 30-11-2010, Segunda Turma, DJE de 15-12-2010.

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delegados são, por expressa dicção constitucional, agentes subordinados, eu os excluiria desse foro
especial, ratione personae ou intuitu personae7.
Polícias estaduais: regra constitucional local que subordina diretamente ao governador a Polícia Civil
e a Polícia Militar do Estado: inconstitucionalidade na medida em que, invadindo a autonomia dos Estados
para dispor sobre sua organização administrativa, impõe dar a cada uma das duas corporações policiais
a hierarquia de secretarias e aos seus dirigentes o status de secretários8.

§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança


pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo
será fixada na forma do § 4º do art. 39.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades
previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da
lei.

Cabe destacar ainda o que prevê a Lei nº 13.060/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de
menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional:

LEI Nº 13.060, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2014.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes
de segurança pública em todo o território nacional.

Art. 2º Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos instrumentos de


menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física ou
psíquica dos policiais, e deverão obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.

Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:


I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte
ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato
represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros.

Art. 3º Os cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão incluir
conteúdo programático que os habilite ao uso dos instrumentos não letais.

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de menor potencial ofensivo
aqueles projetados especificamente para, com baixa probabilidade de causar mortes ou lesões
permanentes, conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas.

Art. 5º O poder público tem o dever de fornecer a todo agente de segurança pública
instrumentos de menor potencial ofensivo para o uso racional da força.

7
ADI 2.587, voto do rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, julgamento em 1º-12-2004, Plenário, DJ de 6-11-2006.
8
ADI 132, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 30-4-2003, Plenário, DJ de 30-5-2003.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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Art. 6º Sempre que do uso da força praticada pelos agentes de segurança pública decorrerem
ferimentos em pessoas, deverá ser assegurada a imediata prestação de assistência e socorro
médico aos feridos, bem como a comunicação do ocorrido à família ou à pessoa por eles indicada.

Art. 7º O Poder Executivo editará regulamento classificando e disciplinando a utilização dos


instrumentos não letais.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de dezembro de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

Questões

01. (IF/TO - Auditor - IF/TO/2016) Quantos aos princípios do Estado brasileiro constantes na
Constituição Federal, assinale a alternativa incorreta.
(A) A promoção da cidadania e a dignidade da pessoa humana são exemplos de fundamentos da
República Federativa do Brasil.
(B) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
(C) A República Federativa do Brasil apenas é formada pela união dos Municípios e do Distrito Federal.
(D) Construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como garantir o desenvolvimento nacional,
são exemplos de objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.
(E) A prevalência dos direitos humanos, assim como o repúdio ao terrorismo e ao racismo, são
exemplos de princípios que devem reger o Brasil nas relações internacionais.

02. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Assinale a opção que apresenta um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil previsto expressamente na Constituição Federal de 1988.
(A) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
(B) autodeterminação dos povos
(C) igualdade entre os estados
(D) erradicação da pobreza
(E) solução pacífica dos conflitos

03. (Prefeitura de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito IOBV/2016) Assinale a alternativa que está
incorreta:
(A) A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal.
(B) São Poderes da União, independentes e sucessivos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Conselho Nacional de Justiça.
(C) A soberania e o pluralismo político são fundamentos da República Federativa do Brasil.
(D) É objetivo fundamental da República Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento nacional.

04. (IFF - Assistente de Administração - FCM/2016) NÃO é um dos objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil
(A) garantir o desenvolvimento nacional.
(B) construir uma sociedade livre, justa e solidária.
(C) constituir uma supremacia perante os países da América Latina.
(D) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
(E) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

05. (Prefeitura de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito - IOBV/2016) De acordo com o texto


constitucional, é direito fundamental do cidadão:
(A) A manifestação do pensamento, ainda que através do anonimato.
(B) A liberdade de associação para fins lícitos, inclusive de caráter paramilitar.
(C) Ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa somente em virtude de lei.
(D) Ser livre para expressar atividade intelectual e artística, mediante licença do Ministério da
Educação e Cultura.

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06. (Prefeitura de Valença/BA - Técnico Ambiental - AOCP/2016) Sobre os direitos fundamentais,
assinale a alternativa correta.
(A) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, exceto apenas no caso de flagrante delito.
(B) É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
(C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, não podendo a lei estabelecer qualquer
requisito.
(D) O homicídio constitui crime inafiançável e imprescritível.
(E) No Brasil, não se admite pena de morte em hipótese alguma.

07. (TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Judiciário - FCC/2016) Sobre o disposto nos incisos do art. 5º da
Constituição Federal, é INCORRETO afirmar que é
(A) livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer.
(B) permitido se reunir pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização ou prévio aviso, desde que a iniciativa não frustre outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local.
(C) livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença.
(D) assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nos estabelecimentos
penitenciários.
(E) livre a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas, independentemente de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.

08. (IFF - Assistente de Administração - FCM/2016) Sobre os direitos constitucionais individuais e


coletivos,
(A) não há restrições para o direito de se reunir pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização.
(B) o acesso à informação é garantido apenas aos cidadãos que estejam politicamente regulares com
a administração pública, no âmbito federal, estadual e municipal.
(C) no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.
(D) apesar de aceito pela jurisprudência atual, não há dispositivo legal na Constituição Federal de 1988
que preveja expressamente o direito à indenização por danos morais.
(E) são assegurados a todos, comprovado o pagamento das respectivas taxas, o direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.

09. (TJM/SP - Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP/2017) Nos termos da Constituição Federal,
os policiais militares estaduais têm, entre suas funções,
(A) a segurança nacional, se o caso.
(B) a garantia dos poderes constitucionais.
(C) a preservação da ordem pública.
(D) a de polícia judiciária.
(E) a apuração de infrações penais.

10. (PC/DF - Perito Criminal – IADES/2016) A segurança pública é dever do Estado e direito e
responsabilidade de todos. É exercida pela Polícia Federal e por outros órgãos, com base na Constituição
Federal, para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Acerca
desse tema, assinale a alternativa correta.
(A) Juntamente com a Polícia Civil, cabe à Polícia Federal exercer funções de Polícia Judiciária da
União.
(B) A Polícia Federal é um órgão permanente, organizado e mantido pela União, e estruturado em
carreira que se destina, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
(C) As Polícias Federais, Militares e os Corpos de Bombeiros Militares, as forças auxiliares e a reserva
do Exército subordinam-se, juntamente com as Polícias Civis, aos governadores dos estados, do Distrito
Federal e dos territórios.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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(D) À Polícia Federal cabe apurar as infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas.
(E) Às Polícias Civis incumbe, ressalvada a competência da União, a apuração de infrações penais,
incluindo as militares.

Respostas

01. Resposta: C
Dispõe o caput do art. 1º da CF/88, que “a República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito” (...). Deste modo, a alternativa “C” está incorreta, por mencionar que está é constituída “apenas”
pela união dos Municípios e do Distrito Federal.

02. Resposta: A
Nos termos do artigo 1º da CF/88, são fundamentos da República Federativa do Brasil: I - a soberania;
II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

03. Resposta: B
Dispõe o artigo 2º, CF/88: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário”. Assim, observa-se que os Poderes não são sucessivos, mas sim harmônicos
entre si.

04. Resposta: C
Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil estão previsto no art. 3º da CF/88, não
estando entre eles o de constituir uma supremacia perante os países da América Latina.

05. Resposta: “C”. A alternativa “A” está incorreta, porque é livre a manifestação do pensamento,
sendo vedado o anonimato (art. 5º, IV); a “B” está incorreta, porque é plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5º, XVII); a “D” está incorreta, pois é livre a expressão
da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença
(art. 5º, IX). Assim, resta somente como correta a alternativa “C”, que traz a redação do art.5º, II, da CF.

06. Resposta: “B”. É o que prevê o art. 5º, XII, da CF/88: “é inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal”.

07. Resposta: “B”. Conforme Art. 5°, XVI da CF/88: “todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente.”

08. Resposta: “C”. Dispõe o art. 5º, inciso XXV, da CF/88: “no caso de iminente perigo público, a
autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização
ulterior, se houver dano”. Esse dispositivo disciplina a requisição administrativa.

09. Resposta: “C”


Dispõe o art. 144, §5º, da CF/88: Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil.

10. Resposta: “D”


Consoante o que dispõe o art. 144, §1º, I, da CF/88, a polícia federal, dentre outras atribuição, destina-
se a apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei.

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6.2. Código Penal 6.2.1. Dos Crimes Contra a Vida – artigos 121 a 128

É finalidade fundamental do Estado, a proteção da pessoa humana, já que é o centro e a essência de


sua existência (o Estado).
O bem de maior valor do homem, sem dúvida alguma, é a vida e, quem tira a vida de outra pessoa é
punido, desde os tempos mais remotos.
O HOMICÍDIO é definido como a eliminação da vida extrauterina de um homem por outro. No código
penal, artigo 121 a definição é simples - matar alguém, pena 6 a 20 anos de reclusão.
O objetivo do artigo é a proteção da vida, que, inclusive, é garantia constitucional.
Somente o homem pode ser sujeito ativo do homicídio, e, não se exige nenhuma qualidade especial
para isto, podendo ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).
Pode ser sujeito passivo, qualquer pessoa, basta ser humano, não existindo distinção qualquer,
sendo importante, saber-se, somente, quando se tem o início da vida que, para efeitos do homicídio, é
início do parto e, se ocorrer antes, trata-se de aborto.
Não se importa o legislador, com a expectativa de vida do nonato, basta haver a vida, para que sua
eliminação seja punida.
Eliminando-se a vida de um animal, ou até de um vegetal, não haverá homicídio, da mesma forma
quando a ação de matar se dirige contra um cadáver.
São seres humanos os considerados monstros, os portadores de graves deficiências, os moribundos,
etc.
No caso de xifópagos, a eliminação da vida de um deles, da qual depende a do outro, será considerado
homicídio em concurso formal.
Elemento objetivo: Descrição típica é matar alguém, eliminar a vida do ser humano, que pode ser feio
por qualquer meio, diretamente ou indiretamente.
Os meios podem ser classificados como físicos, químicos, patogênicos e psíquicos ou morais, podendo
ser causado, ainda, por ação ou omissão, desde que haja o nexo causal.
Elemento subjetivo (Dolo - genérico) É a intenção, o querer eliminar a vida humana, não sendo
necessário o fim especial de agir, que, entretanto, pode estar presente, qualificando ou privilegiando o
crime.
A transmissão do vírus da AIDS, quando causa a morte é considerado homicídio, na modalidade do
dolo eventual. Se não ocorreu a morte o crime é de lesão corporal de natureza grave, mas, não caracteriza
tentativa de homicídio.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
Por ser crime material o homicídio, para consumação, depende de resultado naturalístico, que ocorre
com a morte da vítima, definida como sendo a parada de funcionamento cerebral, circulatória e
respiratória, de caráter definitivo.
A comprovação do homicídio se faz através de exame necroscópico.
É possível a tentativa de homicídio. Havendo ataque à vida e, não ocorrendo o resultado por
circunstâncias alheias à vontade do agente, haverá a tentativa de homicídio.
Deve-se diferenciar tentativa de homicídio de lesão corporal, cuja distinção se encontra na intenção
do agente, que pode ser deduzido através de critérios objetivos, como a violência do golpe, a sede das
lesões, o tipo de arma utilizada, etc., devendo existir, ainda, o efetivo ataque ao bem jurídico, não se
impostando, exclusivamente, com a gravidade das lesões sofridas pela vítima.
Fala-se em tentativa branca, quando o agente dispara contra a vítima, mas não consegue atingi-la.
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: ARTIGO 121, parágrafo 1º do C.P. Não é delito autônomo, mas, caso
de diminuição de pena pela existência de determinadas circunstâncias que tornam menos grave a
reprovabilidade da conduta e, por consequência, a pena, sendo a diminuição entre os limites de 1/6 a 1/3
que, de acordo com a maioria dos juristas é obrigatória, mas, existe entendimento em contrário.
As circunstâncias que diminuem a pena são: relevante valor social ou moral e a violenta emoção, após
a injusta provocação da vítima.
Tais circunstâncias, que já foram estudas (sentimento sociais) demonstram que o agente não possuí
um alto grau de periculosidade, devendo, pois, sofrer uma menor punição.
Os sentimentos morais, relembrando, são sentimentos individuais que podem levar a prática do crime,
como a piedade, no caso da eutanásia que, por nossa legislação é punida a título de homicídio.

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Por fim se tem a violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima, quem contém os
seguintes requisitos: existência da emoção; provocação da vítima e reação imediata A emoção é um
estado grave que, momentaneamente, perturba o sentido do ser humano, levando ao crime. Assim, não
se incluí no privilégio, o chamado homicídio passional (matar por amor).
Se não estiver presente a emoção violenta, poderá existir circunstância atenuante, mas não o
privilégio.
É de suma importância a injustiça na provocação
A circunstância de tempo, logo em seguida, também deve estar presente, a reação deverá ser
imediata.

HOMICÍDIO QUALIFICADO: ARTIGO 121, parágrafo 2º.


São circunstâncias que, presentes, demonstram, ao contrário dos privilégios, uma periculosidade
maior no agente, merecendo, pois, uma sanção maior.
São causas que qualificam o homicídio:
a) paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe: a vida não pode ser motivo de
comércio, receber alguma vantagem, em especial dinheiro para tirar a vida de outro ser humano é
repugnante e, no caso, respondem pelo crime o mandante e o agente e comunica-se ao coautor, por ser
elementar do crime.
Qualquer outro ativo repugnante, ignóbil, desprezível, como o caso de homicídio praticado para
recebimento de herança, também qualifica o homicídio.
b) motivo fútil: é o motivo pequeno, sem importância, amplamente desproporcional, e é analisada do
ponto de vista objetivo e não de acordo com o réu.
c) veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel ou de que possa
resultar perigo comum: nota-se, nos presentes casos que o agente tem um desprezo total em relação
à vítima, não se importando com o sofrimento que lhe vai impor, com a utilização dos meios cruéis,
veneno, fogo, nem tampouco com a vida de outras pessoas que possam ser atingidas por seu ato,
merecendo, assim, uma maior punição.
Para reconhecimento da qualificadora, entretanto, é necessária a comprovação do nexo entre a
utilização do meio insidioso ou cruel e a morte, inclusive com exame toxicológico.
A asfixia pode ocorrer de diversas formas, bloqueio das vias respiratórias, enforcamento, esganadura,
estrangulamento, soterramento, confinamento, etc.
Outros meios que podem ser citados é a morte por descarga elétrica de alta tensão, a armadilha, a
sabotagem, etc.
Como meios que pode causar perigo comum, aponta-se a inundação, desabamento, etc.
d) traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa
do ofendido: que demonstram covardia por parte do agente.
A traição ocorre quando o agente atinge a vítima que se encontra confiando nele, ou descuidado, por
não imaginar a intenção do assassino.
A emboscada ou tocaia é a espera e escolha do lugar melhor para a execução da vítima que
desconhece a situação.
A dissimulação é o disfarce, uma máscara que esconde da vítima seu destino e a intenção do agente.
A surpresa, quando dificulta a defesa da vítima é considerada como qualificadora, como o exemplo do
crime praticado quando a vítima estava dormindo.
e) crimes praticados para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime: Ou seja, quando haja conexão entre dois crimes, sendo um deles praticado pelo ou para o
outro, podendo ser anterior, concomitante e posterior.
A premeditação não é considerada qualificadora, podendo ser considerada circunstância judicial para
a fixação da pena acima do mínimo legal.
Matar o pai não qualifica o crime, mas, trata-se de circunstância agravante.
Conforme o caso o homicídio pode ser considerado m crime político, genocídio.
As circunstâncias qualificadoras e privilegiadoras se comunicam entre os coautores, desde que
objetivas e conhecidas pelo coautor, havendo entendimento diverso.
Outra dúvida na doutrina, a respeito destas circunstâncias, é a possibilidade de reconhecimento de
qualificadoras e privilegiadoras num mesmo fato. Alguns entendem não ser possível, pois, um crime
qualificado, não pode ser considerado ao mesmo tempo privilegiado. Numa segunda posição estão os
que entendem que é possível a coexistência de qualificadoras objetivas com o privilégio e, a terceira
entende ser possível a coexistência em qualquer hipótese.
Não é possível a combinação de circunstâncias qualificadoras de caráter subjetivo com as
circunstâncias privilegiadoras.

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Com o advento do E.C.A., o crime de homicídio praticado contra menor de 14 anos, seja simples,
qualificado ou privilegiado, terá um aumento de 1/3.
Existe distinção entre o homicídio e o aborto pois nesta e conduta somente poderá ocorrer antes do
início do parto e do infanticídio pois, neste, existe uma série de elementos, como mãe, a serem
preenchidos pelo sujeito ativo.
O concurso, quer seja formal ou material, pode ocorrer quando da prática de homicídio, como ocultação
de cadáver, lesões corporais em terceiros, etc, sendo, inclusive, possível, a continuidade delitiva.
f) feminicídio: Com recente alteração à norma penal pela Lei nº 13.104/2015, foi inserida a
qualificadora que eleva a pena quando o homicídio é praticado contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino. Diz-se de razões da condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência
doméstica e familiar; e menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Importante destacar, ainda, que utiliza-se os termos “feminicídio” ou “assassinato relacionado a
gênero”, ao assassinato de mulheres pela condição de serem mulheres. Tal tipo penal se refere a um
crime de ódio contra as mulheres, justificada sócio-culturalmente por uma história de dominação da
mulher pelo homem e estimulada pela impunidade e indiferença da sociedade e do Estado.
O doutrinador Nucci, em comentário acerca da alteração da Lei menciona que em lugar do legislador
criar essa nova figura qualificada do delito do art. 121, maior eficácia teria, ao combate da violência contra
a mulher, se este elevasse as penas dos crimes de ameaça e lesão corporal, uma vez que estas são as
causas primárias do homicídio cometido contra a mulher. Assim, ameaçar de morte permanece com pena
de multa (a menor). Lesionar a integridade corporal, três meses de detenção, com vários benefícios, logo,
prisão não há. Quer-se punir o mais, ignorando-se o menos.
Frisa-se, ainda, que nos termos do art. 121, §7º, do CP, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.

g) Lei 13.142/2015: Esta norma acrescenta mais uma circunstância qualificadora ao crime de
homicídio, tornando mais severa a punição àquele que pratica ou tenta praticar este crime contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição.
Antes de prosseguir cabe destacar alguns pontos importantes sobre os sujeitos passivos do delito. Em
primeiro lugar, a proteção é estendida àqueles abrangidos pelo o art. 142 da CF/88, sendo estes os
membros das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. Já o art. 144
disciplina os órgãos de segurança pública: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária
federal, polícias civis, polícias militares, corpos de bombeiros militares e guardas municipais.
Na categoria integrantes do sistema prisional entende-se que não estão abrangidos apenas os agentes
presentes no dia a dia da execução penal (diretor da penitenciária, agentes penitenciários, guardas, etc),
mas também aqueles que atuam em certas etapas da execução (comissão técnica de classificação,
comissão de exame criminológico, conselho penitenciário etc).
O Departamento da Força Nacional de Segurança Pública ou Força Nacional de Segurança Pública
(FNSP), é um programa de cooperação de segurança pública brasileiro, coordenado pela Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP). É um agrupamento de polícia da União que assume o papel
de polícia militar em distúrbios sociais ou em situações excepcionais nos estados brasileiros, sempre que
a ordem pública é posta em situação concreta de risco. É composta pelos quadros mais destacados das
polícias de cada Estado e da Polícia Federal, seus integrantes possuem a proteção da norma.

ATENÇÃO: Nos três casos, a qualificadora pressupõe que o crime tenha sido cometido contra o
agente no exercício da função ou em decorrência dela.

Por fim, o crime de homicídio é punido mais severamente quando cometidos contra o cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau dos agentes descritos nas alíneas anteriores.
Contudo, alerta o legislador ser indispensável que o crime tenha sido praticado em razão dessa condição,
ou seja, que o homicida escolheu matar aquela vítima exatamente por ser ela parente de policial.
Cumpre destacar ainda aqui que a Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos) foi igualmente alterada pela
norma. Com isso, o homicídio e a lesão corporal gravíssima ou seguida de morte, quando praticados
contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema

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prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3o. Grau, em razão dessa condição
passam a ser etiquetados como hediondos.

HOMICÍDIO CULPOSO: artigo 121, § 3º. a culpa é a produção de um resultado não querido, mas
previsível. Assim, homicídio culposo ocorre quando o agente consegue a morte da vítima sem ter a
intenção do resultado.
Geralmente verifica-se o crime de homicídio culposo, em acidentes de trânsito, tanto é verdade que
luta-se pela criação de delito autônomos em relação aos acidentes de trânsito, onde a culpa consiste na
transgressão de determinada regra de trânsito, devendo haver, além da transgressão, prova inequívoca
da culpa do agente. Às vezes a culpa vem revelado no fato do motorista dirigir embriagado, na contra
mão de direção, em velocidade incompatível para o local.
Se necessário se faz a prova da culpa do agente, impõe-se o entendimento de que se a culpa for da
vítima, não haverá responsabilização penal, em relação àquele que causou a lesão, salvo no caso de
culpa recíproca.

HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO: artigo 121 § 4º. Ocorre a qualificadora do homicídio culposo,
nas seguintes hipóteses: 1- se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, que não deve ser confundida com a imperícia, pois, no caso, o agente conhece a regra técnica,
entretanto, não a observa, como o caso do motorista que, sabendo estar obrigado a utilizar as duas mãos
no volante, dirige com apenas uma, não havendo necessidade de ser um motorista profissional, pois a lei
se refere também a arte e ofício. 2- quando o agente não prestar socorro à vítima, não procura minorar
as consequências de seu ato, ou foge da prisão em flagrante. O socorro á vítima é obrigação legal, e o
seu descumprimento implica em aumento de pena no homicídio culposo, mas, se ficar comprovado que
o agente podia evitar a morte da vítima, caso prestasse socorro, responderá por homicídio doloso, pois,
com conduta anterior criou o risco de produzir o resultado.
É natural que se o agente deixou de prestar o socorro à vítima, ou fugiu do local com a intenção de
buscar socorro próprio ou, de populares que o agrediriam, a qualificadora não poderá ser reconhecida, o
mesmo ocorrendo se a vítima foi socorrida por terceiros.
É possível o concurso formal, no caso de haver duas ou mais vítimas.
Paira dúvida, entretanto, na possibilidade de concurso entre o homicídio culposo e a contravenção de
falta de habilitação, uma corrente entendendo que não pode ser absorvida a contravenção,
reconhecendo-se, assim, o concurso. Outra corrente descorda desta posição, entendendo haver a
absorção, sendo a primeira a predominante.
Além das consequências penais o CTB prevê como consequência administrativa da condenação por
crime culposo de trânsito, a inabilitação para dirigir veículos.

PERDÃO JUDICIAL: artigo 121 § 5º. Quando as consequências da infração foram danosas para o
agente a ponto da sanção penal ser desnecessária, permite-se ao Juiz o aplicação do perdão judicial.
Como o caso do marido que perde a família num acidente de trânsito no qual foi culpado. Entretanto, a
aplicação do perdão deve ser feita com cautela e como exceção, pois, se aplicado indistintamente, poderá
consistir num caminho para a impunidade.
Nos casos de homicídio, crime contra a vida, a ação penal é pública incondicionada e, nos casos de
crime doloso, a competência para julgamento será do Tribunal do Júri.

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO: artigo 122 do C.P. - Nada mais o suicídio
do que a eliminação da própria vida. A prática do suicídio não é punida por nossa legislação, entretanto,
é considerado fato ilícito, por atingir um bem indisponível que é a vida, por isto, a coação para que seja
evitado, não constitui crime, mas, a lei pune qualquer pessoa que, de qualquer forma, participe no suicídio
de outra pessoa. A pena para quem induz, instiga ou auxilia no suicídio é de 2 a 6 anos, se este se
consuma, ou 1 a 3 anos se, da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave, sendo a
pena de reclusão.
Tem por objetivo o legislador a proteção da vida humana.
Pode ser sujeito ativo do crime, qualquer pessoa, excluindo aquele que tenta contra a própria vida, que
colabora com a atitude da vítima.
Sujeito passivo é o homem, desde que seja capaz de ser induzido, sendo possuidor de capacidade de
resistência, pois, caso contrário, o crime será de homicídio doloso. É necessário, também que o sujeito
passivo seja determinado, uma ou várias pessoas certas.

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A descrição objetiva demonstra três possibilidades de conduta, que são, induzir, instigar (participação
moral), ou prestar auxílio, (participação física).
Induzir significa criar na mente do sujeito passivo a ideia na prática do suicídio.
Instigar é reforçar a ideia que já existe na mente do suicida, desde que a vítima seja influenciada pela
conduta, pois, caso, não, inexistirá o nexo causal e, como consequência, o crime. O induzimento e
instigação podem consistir em uma fraude, como o caso do marido que querendo ver morta a mulher com
a qual tinha um pacto de morte, finge ter morrido, obtendo o seu suicídio. Houve instigação. Se, a vítima,
não tivesse a intenção de tirar a própria vida, haveria homicídio. Na coação resistível, caso a vítima
pratique o suicídio, haverá o crime de induzimento.
Pode haver a conduta de auxiliar, participação material, como o empréstimo da arma para a prática do
suicídio, bem como no ensinar formas de conseguir a morte sem dor, impedir o socorro para que o
resultado ocorra, etc. Entretanto, se o agente pratica qualquer ato de execução, como puxar a corda por
exemplo, responderá por homicídio.
Pode o agente praticar uma das condutas, ou as três, que o crime será o mesmo, não havendo
aumento de pena.
Os maus tratos, se forem constantes a ponto de criar na vítima a vontade de tirar a própria vida,
caracteriza o crime.
Embora discutia a possibilidade, nada impede a prática do crime em tela por omissão, como o caso do
carcereiro que deixa o preso falecer em decorrência de greve de fome, havendo, no caso um
descumprimento a um dever jurídico. Na modalidade de induzimento e instigação não existe dúvida sobre
a possibilidade, entretanto, em relação ao auxílio, a maioria entende não ser possível.
É fundamental a ocorrência do resultado morte ou de lesão corporal de natureza grave e, caso não
haja, não existe punição por este crime.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, ou seja, a vontade de induzir, instigar ou auxiliar o suicida,
acrescida da prova da relação de causalidade entre o induzimento e a prática do ato, pois, se, sem ele o
resultado ocorreria da mesma forma, ou seja, se a vítima já estava decidida na prática do ato, não haverá
o crime, como o exemplo daquele que fornece um revólver para a vítima, que se mata afogada. Não há
forma culposa do referido crime.
A consumação do crime ocorre com o resultado morte ou lesão corporal de natureza grave. A tentativa
de induzimento não é possível, mas se fala em tentativa de suicídio, no caso do resultado de lesão
corporal de natureza leve, onde, aquele que instigou será punido com uma pena menor.
Apresenta o crime forma qualificada, com aplicação em dobro da pena nos seguintes casos:
1- crime praticado por motivo egoístico, onde se exige a presença do dolo específico, que demonstra
um maior desprezo por parte do agente, como o caso do filho que instiga o pai a praticar o suicídio com
a finalidade de receber a herança, ou
2- quando a vítima é menor ou tem diminuía, por qualquer causa a capacidade de resistência, por
serem mais facilmente sugestionáveis, tornando tranquila a prática do crime.
Se o agente, com fraude, consegue a morte que não era querida pela vítima, responde por homicídio.
Na prática de roleta russa os sobreviventes responderão pelo crime de induzimento ao suicídio.
No casos de suicídio a dois (Romeu e Julieta), o sobrevivente responderá por homicídio, se praticou
algum ato de execução ou por instigação, caso não tenha praticado.

INFANTICÍDIO: artigo 123 CP - Nada mais é do que um homicídio privilegiado, praticado pela mãe,
sob a influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto, contra seu próprio filho.
O fato do legislador ter utilizado como fundamento da prática do crime o estado puerperal, pois a
influência deste estado não está definida, faz com que o dispositivo seja criticado, pois, na realidade o
crime tem por matéria, mais um problema social da mãe (solteira, casada com filho espúrio), do que
simplesmente o puerpério.
A pena para a prática do crime é de detenção de 2 a 6 anos.
Com o artigo tem o legislador o objetivo de proteger a vida do ser humano, no caso, a vida extrauterina.
O delito em estudo é próprio, portanto, deve ser praticado pela mãe, sendo ela sujeito ativo do crime.
Pergunta-se, entretanto se a pessoa que colabora com a prática do crime responde por ele ou por
homicídio Alguns entendem que, como a condição de mãe, estado puerperal são elementos de caráter
pessoal, na forma do artigo 30, devem se comunicar e, portanto, o colaborador responderá por infanticídio.
Outros que entendem ser o estado puerperal personalíssimo, lutam pela responsabilização do
colaborador por homicídio.
Terceira corrente entende que se o colaborar pratica ato de execução, como dar pauladas, responderá
por homicídio, mas, se colaborar, sem praticar qualquer ato de execução (partícipe), responderá por
infanticídio.

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Sujeito passivo do crime é o filho que está nascendo ou recém-nascido, mesmo se ainda não respirou,
ou se caso não fosse praticada a conduta, morreria ele de consequências naturais.
O feto abortado por não ter condições de desenvolvimento, não pode ser sujeito passivo do crime, mas
se tratar-se de parto prematuro, o recém-nascido poderá ser sujeito passivo.
A descrição objetiva do crime exige a conduta matar, que pode consistir numa ação, dar pauladas, ou
omissão, como a falta de ligadura no cordão umbilical.
O fato deve ter ocorrido sob a influência de estado puerperal, e, ainda, durante ou logo após o parto,
que se inicia com a contração do útero e termina com a eliminação da placenta.
A lei não indica o que se considera logo após o parto, entendendo alguns doutrinadores que é de sete
dias, outros, oito dias, a aqueles que entendem que o prazo deva ser examinado pelo prudente arbítrio
do julgador. O normal é considerar logo após o parto, até a data da queda do cordão umbilical.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, qual seja, a vontade de matar o próprio filho, nascente ou
recém-nascido, não havendo forma culposa, podendo haver responsabilização, no caso, por homicídio
culposo.
A consumação ocorre com a morte do nascente ou recém-nascido, sendo possível, perfeitamente, a
tentativa.
O aborto diferencia-se do infanticídio, pois somente pode ocorrer antes do parto. Se não existir a
influência do estado puerperal, o crime será de homicídio. Se a conduta foi abandonar, com a finalidade
de ocultação de desonra própria, o crime será de exposição ou abandono de recém-nascido, qualificado
se resultar morte.
Poderá haver concurso do presente crime como o de ocultação de cadáver.

ABORTO: Aborto pode ser definido como a interrupção da gravidez com a destruição do produto da
concepção, (ovo, até três semanas, embrião, até 3 meses e feto, a partir dos 3 meses), não havendo
necessidade de expulsão.
Pode o aborto ser espontâneo (natural), ocorrendo nos casos de problemas de saúde da gestante;
acidental, resultante de um acidente, como queda, e provocado, criminoso e que merece punição.
O aborto não é considerado crime em diversas legislações estrangeiras, e existe no Brasil, movimento
para sua liberação.
O aborto é apresentado na nossa legislação das seguintes formas: auto-aborto ou consentimento no
aborto, (artigo 124), aborto sem o consentimento da gestante, (artigo 125) e aborto com o consentimento
da gestante, (artigo 126).
O objetivo do legislador é a proteção da vida intrauterina e a vida e integridade corporal da gestante,
no caso de aborto pratica sem o eu consentimento.
Pode ser sujeito ativo do crime de aborto, qualquer pessoa, salvo no caso do auto-aborto, onde
somente a gestante poderá ser agente no crime.
O sujeito passivo é o Estado e a comunidade Nacional, já que o feto, embora tenha garantia civil, não
é sujeito como direito e obrigações na esfera penal. No caso do aborto praticado sem consentimento a
mulher é sujeito passivo.
A descrição objetiva apresente um objeto material, que consiste no produto da concepção, desde o
início da gravidez até o início do parto (o início da gravidez, para efeitos penais se dá com a implantação
do óvulo no útero da mãe, fato que permite a utilização de pílulas anticoncepcionais).
Assim, não há crime com a interrupção de gravidez tubárica ou ovárica, bem como a molar.
A conduta exigida é qualquer uma, capaz de produzir o aborto, ou seja, causar o aborto, interrompendo
a gravidez com a morte do feto.
Diversas formas podem ser utilizadas para provocação do aborto, bem como diversos meios, químicos,
orgânicos, físicos ou psíquicos. Se o meio for ineficaz, haverá o crime impossível.
Embora a posição seja criticada é possível a prática de aborto por omissão, devendo, em qualquer
caso, haver a prova da gravidez, bem como a realização de exame pericial no feto, por ser infração que
deixa vestígios.
O tipo subjetivo exige a presença do dolo, ou seja a vontade de interromper a gravidez, com a morte
do feto, não havendo forma culposa em relação à mulher que imprudentemente, toma uma substância
abortiva, permanecendo a punição em relação ao terceiro que causou o aborto culposamente. A tentativa
de suicídio de mulher grávida, não é punida a título de tentativa de aborto.
O crime de aborto consuma-se com a interrupção da gravidez e a morte do feto.
A tentativa é possível quando as manobras abortivas não interrompem a gravidez ou provocam
somente aceleração do parto.

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AUTO ABORTO E ABORTO CONSENTIDO: Artigo 124 - cuja conduta descrita é provocar aborto em
si mesma ou consentir com que o façam. No caso de consentimento, a gestante que consentiu responde
pela revisão do artigo 124, enquanto que, aquele que realiza o aborto responde pelo crime previsto no
artigo 126, com pena mais severa.
A pergunta que surge em relação ao crime de aborto, gira em torno da possibilidade do concurso de
pessoas no casos de auto-aborto e no consentimento.
Alguns entendem que poderá haver concurso na forma moral, ou seja, na instigação ou induzimento,
desde que não haja participação direta na prática do crime. Mas, se houver a prática de qualquer ato de
execução o partícipe responderia pelo crime previsto no artigo 126.
Para outra corrente, aquele que participa de qualquer forma sempre responde pelo crime previsto no
artigo 126, mesmo que não pratique ato de execução, sendo a primeira corrente a mais aceitável.
Em qualquer hipótese o consentimento da gestante deve ser válido.

ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO: artigo 125 - pena de reclusão de 3 a 10 anos. O resultado,
sem consentimento pode advir do emprego de força, de ameaça ou, ainda, de fraude, geralmente na
última modalidade.
Existem casos de impossibilidade de consentimento e, nestes, mesmo havendo a vontade da gestante,
o crime será o previsto no artigo 125, pois, não é válido o consentimento em determinados casos, como
as menores de 14 anos e as alienadas mentais.

ABORTO CONSENSUAL: artigo 126 - define o artigo a provocação do aborto, por terceira pessoa,
com o consentimento da gestante, sendo que, a gestante que consente responderá pelo crime previsto
no artigo 124.
Existem duas formas de consentimento, o expresso e o tácito, e, caso haja a revogação do
consentimento, durante as manobras abortivas, continuando o agente, responderá pelo crime de aborto
provocado sem o consentimento.

ABORTO QUALIFICADO: artigo 127 - que prevê aumento de 1/3 na pena, caso a gestante sofra
lesões corporais de natureza grave, e a duplicação da pena se resultar a morte, nas formas do aborto
provocado e, desde que o resultado mais grave não fosse querido, manifestando-se na forma de crime
preterdoloso. Havendo intenção de obter o resultado o agente responderá por lesão corporal ou
homicídio, em concurso com o aborto.
Como a lei faz referência somente aos meios empregados, é possível a punição do agente por tentativa
de aborto qualificado. A aplicação da qualificadora só é possível nas formas previstas nos artigos 125 e
126.
Quando a lesão, mesmo de natureza grave, for consequência necessária do fato, não existirá a
qualificadora.

ABORTO NECESSÁRIO: artigo 128 - aborto legal - É o realizado por médico com a intenção de salvar
a vida da gestante e desde que o aborto seja o único meio para a salvação da grávida, não havendo
necessidade que o perigo seja atual, podendo ser futuro.
A necessidade do aborto fica a critério do médico, havendo doutrinadores que entendem ser
imprescindível o consentimento da gestante.
Caso outra pessoa, que não médico, realize o aborto, poderá haver estado de necessidade.

ABORTO SENTIMENTAL: praticado em mulher cuja gravidez resultou de estupro e, numa


interpretação extensiva, de atentado violento ao pudor.
Neste caso, não será necessário decisão judicial, bem como autorização, bastando prova da gravidez
e do crime praticado, ficando o médico adstrito somente ao seu código de ética profissional, sendo
necessário o consentimento da gestante, e, se menor, prova da menoridade ou alienação mental.
O aborto eugenésico, quando existe possibilidade de anormalidade do feto, não é permitido por nossa
legislação.
O aborto se distingue do infanticídio por ocorrer somente antes do parto. O agente que agride a grávida,
conhecendo a situação, responderá, em concurso formal pelo aborto e pelas lesões causadas, se
desconhecer e puder prever, responderá por lesões corporais de natureza gravíssima.
Se o feto é expulso com vida e assim permanece, haverá tentativa de aborto e, caso a intenção fosse
somente a aceleração do parto, haverá crime de lesão corporal. Praticadas manobras abortivas em
mulher não grávida, inexistirá o aborto, mas, haverá punição por homicídio culposo.
A lesão corporal de natureza leve está contida no crime de aborto e não será punida separadamente.

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Anunciar meio abortivo é contravenção penal, prevista no artigo 20 da L.C.P.
Morrendo o feto em decorrência de homicídio da gestante e conhecendo o agente a gravidez, ele
responderá pelo crime de aborto e de homicídio, embora haja posição em contrário.
A existência de diversos fetos, (gêmeos, por exemplo), não implica na ocorrência de concurso formal,
pois, não são eles sujeitos passivos do crime.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada,
sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
12.720, de 2012)
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

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II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio


Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou
é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

Questões

01. (TJ/SP - Titular de Serviços de Notas e de Registros - VUNESP/2016) Diz o parágrafo 5º do


artigo 121 do Código Penal Brasileiro, que: “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária”. Trata-se de
(A) graça.
(B) perdão judicial.
(C) anistia.
(D) indulto.

02. (Prefeitura de Teresina/PI - Guarda Civil Municipal – COPESE/UFPI/2015) Considera-se causa


de diminuição de pena, o fato do agente ter praticado o homicídio:
(A) Por motivo fútil.
(B) Com uso de veneno, fogo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel.infan

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(C) Impelido por relevante valor moral ou social.
(D) Com recebimento de recompensa.
(E) À traição ou emboscada.

03. (TJ/DF - Juiz de Direito Substituto - CESPE/2015) Constitui homicídio qualificado o crime
(A) cometido contra deficiente físico.
(B) praticado com emprego de arma de fogo.
(C) concretizado com o concurso de duas ou mais pessoas.
(D) praticado com o emprego de asfixia.
(E) praticado contra menor de idade.

04. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP/2013) Analise as informações apresentadas a


seguir e classifique-as como (V) verdadeira ou (F) falsa.
O crime de homicídio é qualificado, nos expressos termos do § 2º do art. 121 do CP, se cometido
(...) para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
(...) por funcionário público no exercício de suas funções.
(...) durante o repouso noturno.
A classificação correta, de cima para baixo, é:
(A) V, V, F.
(B) F, V, V.
(C) V, F, V.
(D) V, F, F.
(E) V, V, V.

05. (PC/DF - Papiloscopista Policial - FUNIVERSA/2015) Logo após saber que seu filho fora vítima
de agressão, Ernane saiu ao encalço do agressor, tendo disparado vários tiros em direção a este, que
veio a falecer em virtude da conduta de Ernane. Nesse caso hipotético,
(A) configura-se, em tese, homicídio privilegiado, que é causa excludente da ilicitude.
(B) Ernane responderá, consoante a mais recente posição do STJ, por crime de homicídio qualificado
por motivo torpe.
(C) Ernane responderá pelo crime de homicídio simples, não havendo previsão legal, em relação à sua
conduta, que possa de alguma forma influenciar em sua pena.
(D) configura-se, em tese, homicídio privilegiado, que é causa de diminuição da pena.
(E) configura-se, em tese, homicídio privilegiado, que é causa excludente da culpabilidade.

06. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) O crime de induzimento, instigação ou auxílio
a suicídio
(A) é punido com pena de detenção e multa.
(B) só se caracteriza se o suicídio se consuma ou se a vítima sofre lesão corporal de natureza grave.
(C) é punido com pena de detenção, apenas.
(D) tem a pena aumentada de metade se a vítima é menor.
(E) tem a pena aumentada de metade se o crime é praticado por motivo egoístico.

07. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) A conduta de induzir, instigar ou auxiliar outra
pessoa a suicidar-se, que tem como resultado lesão corporal de natureza leve:
(A) tem pena duplicada se cometida por motivo egoístico.
(B) tem pena agravada se a vítima tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
(C) não é prevista como crime.
(D) tem pena aumentada se a vítima for menor de idade.
(E) é punida com pena de 1 (um) a 3 (três) anos.

08. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Micaela, de 19 anos de idade, após manter
um relacionamento ocasional com Rodrigo, de 40 anos de idade, acaba engravidando. Após esconder a
gestação durante meses de sua família e ser desprezada por Rodrigo, que disse que não assumiria
qualquer responsabilidade pela criança, Micaela entra em trabalho de parto durante a 40ª semana de
gestação em sua residência e sem pedir qualquer auxílio aos familiares que ali estavam, acaba parindo
no banheiro do imóvel. A criança do sexo masculino nasce com vida e Micaela, agindo ainda sob efeito
do estado puerperal, corta o cordão umbilical e coloca o recém-nascido dentro de um saco plástico,

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jogando-o no lixo da rua. O bebê entra em óbito cerca de duas horas depois. Neste caso, à luz do Código
Penal, Micaela cometeu crime de
(A) homicídio culposo.
(B) homicídio doloso.
(C) aborto.
(D) lesão corporal seguida de morte.
(E) infanticídio.

09. (PC/SP - Perito Criminal - VUNESP) A questão, refere -se às normas do Código Penal. É correto
afirmar que o aborto praticado por médico
(A) não é punível, ainda que haja outro meio de salvar a vida da gestante.
(B) não é punível, se não houver outro meio de salvar a vida da gestante.
(C) não é punível em hipótese alguma.
(D) é punível, se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.
(E) não é punível, se a gravidez resulta de estupro e o aborto não é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

10. (PC/PE - Agente de Polícia - CESPE/2016) Acerca dos crimes contra a pessoa, assinale a opção
correta.
(A) Quando o homicídio for praticado por motivo fútil, haverá causa de diminuição de pena.
(B) Sempre que um agente mata uma vítima mulher, tem-se um caso de feminicídio.
(C) O homicídio e o aborto são os únicos tipos penais constantes no capítulo que trata de crimes contra
a vida.
(D) O aborto provocado é considerado crime pelo direito brasileiro, não existindo hipóteses de exclusão
da ilicitude.
(E) O aborto provocado será permitido quando for praticado para salvar a vida da gestante ou quando
se tratar de gravidez decorrente de estupro.

Respostas

01. Resposta: B
O instituto previsto no artigo 121, §5º, do CP, é o perdão judicial. Por meio deste instituto o juiz, embora
reconhecendo a prática do crime, deixa de aplicar a pena, contudo, é necessário que se apresentem
determinadas circunstâncias excepcionais previstas em lei, que tornam inconvenientes ou
desnecessárias a imposição de sanção penal ao réu.

02. Resposta: C
O art. 121, §1º, do CP, prevê como causa de diminuição de pena se o agente comete o crime impelido
por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de um sexto a um terço.

03. Resposta: D
De acordo com o art. 121, § 2º, do CP, são causas que qualificam o crime de homicídio, quando
cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição.

04. Resposta: D
§ 2° Se o homicídio é cometido:

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I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

05. Resposta: D
Assim, dispõe o Código Penal:
Homicídio simples
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena
de um sexto a um terço.

06. Resposta: B
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

07. Resposta: C
A conduta de induzir, instigar ou auxiliar outra pessoa a suicidar-se é crime disposto no art. 122 do
Código Penal, se da tentativa resultar lesão de natureza grave a pena será de reclusão, de um a três
anos, entretanto se tem como resultado lesão corporal de natureza leve, não é prevista como crime.
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

08. Resposta: E
Dispõe o art. 123 do CP, que pratica o crime de infanticídio, a mulher que matar, sob a influência do
estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após. Assim, é correto afirmar que Micaela
cometeu o crime de infanticídio.

09. Resposta: D
Dispõe o art. 128, inciso I, do CP, disciplina o aborto necessário. É a redação do citado dispositivo:
Não se pune o aborto praticado por médico, se não há outro meio de salvar a vida da gestante.

10. Resposta: E
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

6.2.2. Dos Contra o Patrimônio – artigos 155 a 183

FURTO: Em primeiro lugar, deve se entender o que seja patrimônio, a fim de verificar-se o que o
legislador protege com as condutas descritas neste capítulo. Pode-se definir como patrimônio, o conjunto
de relações jurídicas de uma pessoa que tiver valor econômico, a exceção dos direitos imateriais que,
embora possam ser avaliados economicamente, são protegidos em outro capítulo.

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O conceito de furto vem descrito no artigo 155 do CP, que nada mais é do que a subtração da coisa
alheia móvel, para si ou para outrem, com intenção de apossamento definitivo. A pena cominada para a
conduta na forma simples é de reclusão de 1 a 4 anos e multa.
O objetivo jurídico em relação ao crime de furto é discutido entre os doutrinadores, uns entendendo
que o dispositivo protege a posse, de forma direta e a propriedade, indiretamente, ou o inverso, outros,
que a tutela é somente da propriedade e não da posse. Numa corrente dominante, entendem que a
proteção é feita tanto à posse como a propriedade, além da detenção da coisa, portanto, para a punição
do agente, é indiferente de que a pessoa tenha somente a posse ou a propriedade da coisa, bastando
que o agente se apodera da coisa ilegalmente. Assim, é possível a punição do ladrão a coisa subtraída
por outro, pois a coisa ficou mais longe da vítima.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa física, desde que não seja o possuidor da coisa
subtraída. O empregado que, numa empresa é responsável e utiliza certas ferramentas para o trabalho,
tendo a posse vigiada, se transforma a posse precária, em propriedade, pratica o crime de furto.
Sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica que tenha a posse ou a propriedade da coisa, salvo no
caso de detenção desinteressada, como o caixa de um banco, em que o sujeito passivo é o banco.
A descrição objetiva exige as condutas de subtrair, ou seja, retirar, de qualquer forma e independe da
presença da vítima.
O objeto material é a coisa que, em direito penal é toda substância corpórea, material, suscetível de
apreensão ou transporte, no estado em que se encontra, sólido, líquido ou gasoso, instrumentos ou títulos,
bem como partes do solo, de casas, árvores, navios, aeronaves, que são móveis equiparados a imóveis
para efeitos civis.
É de fundamental importância, para caracterização do crime de furto que a coisa tenha valor
econômico ou afetivo, pois todos eles são bens que satisfazem as necessidades dos homens.
As coisas comuns, como o ar e a água, também podem ser objeto material do delito, desde que,
destacadas como o caso dessas substâncias engarrafadas.
É necessário que a coisa tenha dono, pois, apoderar-se da coisa que não tem dono não é figura típica,
bem como aquelas que foram abandonadas pelo dono, mas, apropriar-se de coisa achada é crime
previsto na nossa legislação penal.
O ser humano não pode ser objeto material do crime de furto, poderá haver sequestro, mas, pode
haver furto de coisas postiças do corpo, como dentaduras, perucas, prótese.
Quando a finalidade for econômica a subtração de cadáver é furto.
Se incluem entre os objetos materiais do crime, os títulos que representam as obrigações.
Se o valor da coisa for irrelevante, pelo princípio da insignificância, não haverá crime de furto.
Por fim a coisa dever ser alheia, que não pertence ao agente.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de subtrair, somado ao elemento subjetivo do injusto,
contido na expressão para si ou para outrem, não havendo necessidade de que o agente vise o lucro,
que pode agir simplesmente por capricho. Tirar uma joia da vítima para jogá-la, não caracteriza o crime
de furto.
O consentimento da vítima na subtração, desde que seja anterior à consumação, faz desaparecer o
crime, se for após o crime já se consumou.
O momento da consumação do crime de furto é discutido entre os doutrinadores, alguns entendendo
que basta o agente tocar na coisa, outros quando a coisa é segura, outros quando é removida, ou quando
a coisa é segura, outros quando é removida, ou quando a coisa é colocado no local a qual se destinava.
A despeito das diversas opiniões, o entendimento mais correto é que o crime se consuma quando há
inversão da posse, havendo julgado entendendo estar caracterizado o crime na conduta do empregado
que escondeu a coisa no estabelecimento comercial para levá-la posteriormente.
Como se trata de crime material, com resultado naturalístico, é possível a tentativa, como o casso
daquele que tenta furtar a carteira da vítima, mas não consegue, pois ela se encontra em outro bolso,
entretanto, se a vítima não possuir nenhum valor, temos o crime impossível.
Como distinção se apresenta o fato do agente, após a prática do crime, colaborar (escondendo a coisa,
por exemplo), respondendo apenas pelo crime de favorecimento real e não pelo furto. Quem subtrai a
coisa visando ressarcir-se de prejuízo, responde pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões.
A trombada, que não deixa de ser violência, se for leve, caracteriza o furto e não o roubo.
Quem adquire a coisa produto de crime de furto responde por receptação, na forma dolosa ou culposa.
É possível o concurso do crime de furto com diversos outros delitos, como o estupro, ou mesmo a
subtração de coisas de diversas pessoas.
Em algumas hipóteses, o crime de furto absorve outros, como a violação de domicílio, o dano, o
estelionato, no caso de subtração de talão de cheque, embora, no último exemplo, haja entendimento

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contrário. Se a coisa furtada foi documento que, posteriormente, foi falsificado, haverá concurso material
entre o furto e a falsificação.
Por furto de uso deve entender-se a conduta da pessoa que se apossa da coisa com a finalidade de
utilizá-la momentaneamente e, já que o legislador exige a intenção definitiva na conduta do agente, não
está caracterizado o crime de furto, havendo entendimento contrário. Para a caraterização do uso, na
subtração, é necessário que o agente a devolva da mesma forma que a subtraiu, caso contrário, haverá
crime de furto.
A subtração de energia, seja ela de qualquer natureza, também caracteriza o crime de furto, pois o
legislador equiparou a energia a coisa móvel. Se o agente desvia energia praticará furto, mas, se obtém,
com artifícios, levando a vítima a erro, praticará estelionato.
O § 1º do artigo 155, prevê uma agravante específica, tratando do furto praticado durante o repouso
noturno, com aumento de pena de 1/3, porque neste período é precária a vigilância sobre a coisa.
Repouso noturno não significa noite, que se caracteriza pela ausência da luz solar, enquanto aquela
significa o período em que normalmente os moradores repousam, mesmo que no local, embora tenha
moradores, não se encontrem no local, assim, o furto de veículo que se encontra na rua, durante este
período, agrava o crime.
A agravação da pena é levada a efeito, tendo-se por base a pena do furto simples, não se
considerando, pois, as qualificadoras.
O § 2º do mesmo artigo, descreve o furto privilegiado, no caso de ser o criminoso primário e ser de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão por detenção, diminuí-la de 1/3 a
2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
Vamos analisar os requisitos que devem estar presentes para o reconhecimento da privilegiadora, a
iniciar-se pela condição de primário do agente, lembrando que é primário aquele que nunca sofreu uma
condenação, não devendo, pois, confundir-se primariedade com não reincidência.
Segundo requisito é ser a coisa subtraída, de pequeno valor, sendo o entendimento majoritário que
pequeno valor é aquele menor que um salário mínimo da época dos fatos. Não se deve confundir,
também, pequeno valor com pequeno prejuízo, sendo que na jurisprudência existem dois entendimentos
a respeito, um entendendo que a coisa dever ser de pequeno valor e outra que o prejuízo deve ser
pequeno para o reconhecimento da privilegiadora.
Atualmente se exige, também, que o agente não revele má personalidade, nem possua antecedentes
desabonadores, fato que vem sendo aceito, porque, as possibilidades colocadas pelo legislador são de
aplicação facultativa pelo juiz, que deve analisar o aspecto subjetivo.
É natural que, pela própria colocação do dispositivo na lei, o privilégio somente pode ser aplicado aos
crimes simples e agravado pelo período noturno, embora haja entendimento contrário.

FURTO QUALIFICADO: disposto no § 4º do artigo 155, cuja pena vai de 2 a 8 anos de reclusão e
multa.
A primeira qualificadora prevista no inciso I é o rompimento do obstáculo para a subtração da coisa,
ou seja, quando o agente para a prática do crime, inutiliza, desfaz, desmancha, estraga, deteriora
obstáculos colocados para garantir o patrimônio, como as trancas, fechaduras, portas, janelas, paredes,
sendo a destruição total ou parcial e desde que a conduta atinja diretamente o obstáculo. Assim, se o
agente para furtar um veículo, quebra o vidro, não pratica o crime qualificado, mas, se a destruição foi,
no mesmo exemplo, para subtrair coisas que estavam no interior de veículo, a qualificadora persiste. Mas
se ação visa um dispositivo de segurança de veículo, como alarme, ou trinco, estará presente a
qualificadora.
O fato de o agente retirar a porta, desaparafusando, sem destruí-la, não caracteriza a qualificadora, o
mesmo ocorre com a retirada de telhas.
Para comprovação do crime é fundamental o exame pericial.
A segunda qualificadora é o abuso de confiança, previsto no inciso II, caracterizada pela diminuição
da vigilância sobre a coisa devido a esta confiança de que o agente não praticará a conduta, como o caso
do vigia contratado para cuidar de uma residência, da empregada doméstica que fica sozinha em casa,
enquanto os patrões trabalham, sendo necessário, que além do vínculo empregatício, haja a confiança
depositada no agente.
Outra qualificadora no mesmo inciso é a fraude, consistente num meio enganoso, num artifício utilizado
pelo agente, obtendo a posse devido a esse artifício, como a pessoa que se veste com uniforme da
empresa de emergia elétrica, a fim de penetrar no interior da residência e subtrair a coisa.
Não se pode confundir o furto através de fraude com o estelionato-furto, onde o artifício é utilizado para
que a vítima entregue a coisa.

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A escalada também qualifica o furto, significando a utilização de uma via de acesso anormal para
penetrar na casa ou estabelecimento, com utilização de escadas, cordas, a fim de ser vencido um
obstáculo que exige esforço incomum, como o exemplo da pessoa que cava um túnel para atingir o local
onde a coisa de encontra, qualificadora que, para a sua caracterização, segundo entendimento da
maioria, independe de exame pericial.
A destreza, habilidade física ou manual do agente, impedindo a percepção da vítima em relação prática
do crime, é qualificadora. A destreza tem, por exemplo, típico o do batedor de carteira, que retira do bolso
da vítima sem que ela sinta a sua ação.
No inciso III está previsto a utilização de chave falsa, que pode ser definida como qualquer instrumento
que faça suas vezes, havendo entendimento de que a chave verdadeira, quando furtada, caracteriza a
qualificadora, posição que não é aceita pela maioria dos doutrinadores, que entendem se tratar de fraude
e não de uso de chave falsa.
Por fim o inciso IV prevê o concurso de duas ou mais pessoas, que indica maior periculosidade dos
agentes que se unem para mais facilmente praticar o crime, não havendo necessidade, inclusive, para
reconhecimento da qualificadora que todos sejam imputáveis, havendo opinião de que deva haver a
coautoria para o reconhecimento da qualificadora e, segundo corrente majoritária, é possível seu
reconhecimento, inclusive nos casos de participação.
No caso de furto praticado por quadrilha o entendimento dominante é de que a qualificadora não
prevalece, devendo os componentes responder pelo furto e pelo crime de formação de quadrilha ou
bando.
Havendo duas ou mais qualificadoras num mesmo furto, uma delas irá qualificar, enquanto as outras
deverão ser utilizadas pelo juiz como circunstâncias agravantes, quando da aplicação da pena.

FURTO DE COISA COMUM: artigo 156 do CP, que define o crime da seguinte forma: Subtrair o
condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém a coisa comum,
estará sujeito a uma pena de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa, sabendo-se que o condomínio é a
propriedade de uma coisa por diversas pessoas, herança é o patrimônio do falecido e sociedade é a
reunião de duas ou mais pessoas, para com esforço comum, atingir um objetivo.
Tem o legislador por objetivo a proteção da propriedade e da posse comum.
Trata-se de crime próprio, podendo ser sujeito ativo o condômino, o herdeiro ou o sócio.
Sujeitos passivos serão os demais condôminos, herdeiros e sócios ou ainda outra pessoa que tenha
a posse legítima da coisa, entretanto, no caso de sociedade, pessoa jurídica, se o bem a ela pertencer,
haverá prática de crime de furto simples.
A descrição objetiva exige os mesmos elementos que o furto simples, devendo a coisa ser comum,
não se importando com o montante que pertença ao autor do crime.
A subjetividade exige o dolo, vontade de subtrair a coisa comum, acrescida da finalidade específica,
contida na expressão para si ou para outrem.
Prevê o legislador um caso de exclusão do crime tratando-se de coisa comum fungível, aquela que
pode ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade e quantidade e, não excedendo o valor do
bem, ao da cota que o agente teria direito, está descaracterizada a infração.
A ação penal é pública condicionada à representação de qualquer um dos outros coerdeiros,
condôminos ou sócios.

DO ROUBO E DA EXTORSÃO
A subtração de coisa alheia móvel constitui o furto, mas se estiverem presentes algumas circunstâncias
especiais, tais como a violência e a grave ameaça, temos o crime de roubo, que vem previsto no artigo
157 do CP, com pena de reclusão de 4 a 12 anos de reclusão, além da multa.
Diretamente, tem o legislador por objetivo, proteger o patrimônio da vítima, mas ao mesmo tempo,
não deixa de preservar a integridade física, psíquica e a vida do ser humano.
Por se tratar de crime comum, pode o roubo ser praticado por qualquer pessoa, assim, qualquer um
pode ser sujeito ativo do crime.
Em relação ao sujeito passivo, pode-se dizer que é vítima o possuidor da coisa, mas, também,
qualquer pessoa que sofra a violência exercida pelo sujeito ativo.
A descrição objetiva exige a conduta de subtrair, a coisa alheia móvel, mas, com utilização de
violência, grave ameaça, ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima.
A coisa móvel alheia é o objeto material do crime, desde que tenha valor econômico.
A subjetividade exige o dolo, vontade de subtrair a coisa, aliada ao desejo de praticar a violência,
estando presente, também, o elemento subjetivo para si ou para outrem.

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A consumação do crime se dá quando a coisa sai do domínio da vítima, existindo entendimento
minoritário no qual a consumação se dá com a prática da violência e a tentativa é perfeitamente possível.
O artigo 157, § 1º prevê o chamado roubo impróprio quando a violência é praticada após a subtração
da coisa, para garantir a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime, desde que haja um
relacionamento direto de tempo entre a subtração e a violência, pois, se decorrido muito tempo, será
caracterizado um crime de furto e outro de lesão corporal.
A previsão alcança somente a prática de violência ou grave ameaça, excluindo o outro recurso que
reduza a defesa da vítima, e consiste na presença do elemento subjetivo do injusto, qual seja, deve ter a
intenção de assegurar a impunidade ou a subtração da coisa. Neste caso a consumação se dá com a
prática da violência, mesmo que a subtração tenha sido anterior, e, não havendo a subtração, o agente
deverá responder pelo crime de tentativa de furto e de lesões corporais em concurso material, embora
haja entendimento contrário. Quando a pessoa já subtraiu a coisa e quando tenta praticar a violência, não
obtendo êxito, ocorre a tentativa de roubo impróprio.
Por fim, e expressão logo depois deve ser entendida como imediatamente.
O § 2º do artigo 157 prevê as hipóteses de roubo qualificado, em três incisos.
A primeira qualificadora é o emprego de arma, por ser um objeto capaz de impor uma maior ameaça
e o risco de um dano em potencial para a vítima, além de demonstrar uma maior periculosidade do agente.
Arma é todo objeto utilizado para ataque ou defesa, capaz de ofender a integridade física da vítima, então,
a arma de brinquedo, não qualifica o crime de roubo, embora exista entendimento admitindo a
qualificadora nesta caso, o que não acontece com a arma descarregada que, conforme entendimento da
maioria, qualifica o crime de roubo. Para reconhecimento da qualificadora é necessário que a arma seja
utilizada, ao menos de forma implícita, não configurando o crime qualificado o seu simples porte.
A segunda qualificadora é o concurso de duas ou mais pessoas, fato que dificulta, ainda mais a
defesa da vítima, mesmo que uma destas pessoas seja inimputável e que apenas uma delas pratique
atos executórios do crime, nem, tampouco que seja identificado a outra pessoa, e, caso haja condenação
dos agentes pelo crime de quadrilha ou bando, ficará afastada a qualificadora.
O terceiro caso é quando a vítima se encontra em transporte de valores, sendo o agente
conhecedor desta circunstância, pois, estas pessoas são as mais visadas na prática do crime em estudo.
É natural que, para o reconhecimento da qualificadora é necessário que o valor transportado não seja
daquele que o realiza e que o agente conheça a realização do transporte.
No caso de existência de duas ou mais qualificadoras, no mesmo crime, uma delas servirá para
qualificar, a outra, como circunstância judicial para aplicação da pena.
A lesão corporal de natureza grave também qualifica o roubo, conforme previsão do § 3º, 1ª parte
do artigo 157. Lesões graves são as previstas no artigo 129, §§ 1º e 2º do C.P., desde que decorrente da
violência. Pela disposição de nosso código, não é possível, reconhecer-se as qualificadoras estudadas
acima, juntamente com a ora analisada, o que possibilita que uma pessoa que utilize arma para a prática
do crime, mas não cause lesão, sofrer uma pena maior do que aquela que, causou a lesão de natureza
grave, utilizando a arma.
No caso de lesão grave, considera-se consumado o crime, mesmo que o agente não tenha conseguido
a subtração.
Com a violência praticada pode ser que o agente cause a morte da vítima. Estamos diante do que a
doutrina denomina latrocínio (matar para roubar), cuja conduta vem descrita no artigo 157, § 3º, com
redação dada pela lei dos crimes hediondos.
Embora alguns doutrinadores entendam que para que haja o latrocínio o agente deve querer o
resultado morte, pela redação do dispositivo, outra interpretação não pode ocorrer a não ser no sentido
de não ser necessária a intenção do agente, basta que em decorrência da prática do crime resulte a
morte, desde que esta violência tenha sido exercida para à subtração da coisa, ou para garantir a posse
ou impunidade dela. Por consequência, se existirem desígnios autônomos, o agente responderá pelo
crime de roubo e homicídio, em concurso.
Não é necessário que a morte seja da vítima, mas, de qualquer pessoa que sofra a violência, existindo,
no caso, dois sujeitos passivos.
Embora haja entendimento contrário, a morte do coautor do crime não caracteriza o latrocínio, pois,
contra ele não é exercida violência.
A consumação do crime ocorre quando há a subtração e a morte e a doutrina discute as hipóteses
de não ocorrendo um destes resultados, por qual crime responderá o sujeito ativo.
Diversas soluções são apresentadas:
No caso de serem tentados ambos os resultados o agente responderá por tentativa de latrocínio; se
ocorrer somente a subtração e o agente tentou contra a vida na prática da violência, também ocorre a

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tentativa de latrocínio; entretanto, quando ocorre a morte mas a subtração não consuma, há divergências
entre os doutrinadores.
Alguns entendem que o agente responderá por crime de furto tentado em concurso com homicídio
qualificado, pois, praticado para garantir a impunidade de outro crime. Outros entendem ser uma tentativa
de roubo em concurso com o homicídio qualificado; existe entendimento no sentido de tratar-se somente
de homicídio; de latrocínio tentado e, por fim, de latrocínio consumado, posição que, embora em
desacordo com a legislação é a dominante.
Caso o agente, na violência, não pretendia o resultado morte, (preterdolo), responderá pelo latrocínio
tentado (roubo seguido de morte).
Existe posição contrária, mas, no caso de mais de uma vítima o latrocínio será único.
Distinções podem ser apresentadas, como o exemplo da trombada que, segundo entendimento de
uns é furto e de outros é roubo.
Roubo e extorsão são crimes diversos e a diferença reside no sentido de que no roubo há a subtração
da coisa, através do emprego da violência e, na extorsão, a violência é empregada para que a vítima
entregue a coisa.
Se o crime é praticado para salvaguardar algum direito, será o caso de exercício arbitrário das próprias
razões em concurso com a violência.
Em relação à possibilidade de concurso no crime de roubo, diversas são as situações em que se
encontra presente.
Em primeiro lugar é importante lembrar que todos os crimes componentes (furto, ameaça, lesões
leves), são absorvidas pelo roubo.
No caso de sequestro da vítima, sendo elemento do crime de roubo, é por este absorvido, entretanto,
caso ocorra após a subtração, haverá o concurso.
Embora, em tese, é possível a continuidade delitiva neste crime, a jurisprudência atual tende ao não
reconhecimento da possibilidade, por consequência, também não se aceita a continuidade entre o roubo
e o furto, o latrocínio e a extorsão.
Vislumbrando o exemplo e possibilidade de, num local onde se encontram diversas pessoas, estas
são ameaçadas e mediante esta ameaça, o agente subtrai objetos pertencentes às vítimas, tem-se
admitido no caso o concurso formal, existindo posições contrárias.
Entretanto, se tratar-se de somente um objeto, ainda que diversas pessoas sofram a violência, o crime
é único.
Embora seja também atingida a vida, indiretamente, no caso do latrocínio, a competência para
julgamento é da justiça comum e não do Tribunal do Júri.

EXTORSÃO: artigo 158 do CP, que contém o conceito deste crime.


Visa o legislador fundamentalmente, proteger o patrimônio da vítima, mas, de forma indireta também
estão protegidos a liberdade e a integridade física da vítima.
É de se notar que, no crime em estudo, o objeto material pode ser a coisa imóvel, o que diferencia este
do crime de roubo, onde há a subtração.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de extorsão, e, caso seja funcionário público, no
exercício de sua função, o crime será de concussão, ou ainda, concussão e extorsão em concurso.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ameaça ou a violência, bem como aquela que sofre o prejuízo
econômico.
A descrição objetiva prevê conduta de constranger alguém, o que pode ser feito através da violência
ou da grave ameaça.
É necessário, segundo entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, que o ato de violência
ou a ameaça, seja capaz de intimidar a vítima, mas, existe entendimento de que a análise deverá ser feita
de acordo com o homem médio.
A forma mais comum da prática do crime de extorsão e a chantagem, no qual a ameaça consiste na
revelação de um segredo.
A vantagem a ser obtida pelo sujeito ativo deve ser injusta, pois, se justa, o crime será de exercício
arbitrário das próprias razões, ao qual pode ser somada as penas equivalentes à violência.
Prevendo o legislador a violência e grave ameaça, somente, não caracteriza o crime, o
constrangimento através de fraude. Por fim, a violência ou grave ameaça deve ser empregada para que
a vítima pratique ou deixe de praticar algum ato.
Se o ato praticado pela vítima for nulo, como consequência, não gera efeitos jurídicos e, portanto, não
poderá o agente obter vantagem econômica e, tem-se, no caso o crime impossível, entretanto, de forma
indireta pode ser que o agente consiga a vantagem com o ato nulo, de forma indireta, e, assim, estará
caracterizado o crime.

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A subjetividade exige a conduta de constranger, mediante a prática de violência ou grave ameaça, a
fim de que a vítima faça ou deixe de fazer alguma coisa, acrescido do dolo específico que é a intenção
de obter uma vantagem econômica ilícita.
Em relação à consumação do crime existem duas correntes na doutrina, havendo entendimento de
que a extorsão se consuma quando o agente faz ou deixa de fazer alguma coisa, ou permite que alguém
faça. Num segundo entendimento a consumação ocorre quando o agente obtém a vantagem econômica,
sendo a primeira posição a dominante. Sendo considerada a extorsão, um crime formal, somente ocorrerá
a coautoria e a participação, antes do agente agir ou deixar de agir e, a atividade posterior consistirá em
crime autônomo.
A tentativa é possível, como exemplo cita-se o caso de a ameaça não chegar ao conhecimento da
vítima.
Existem qualificadoras para o crime de extorsão a primeira delas é ter sido o crime praticado por duas
ou mais pessoas e quando há o emprego de arma. Os estudos realizados em relação às qualificadoras
do roube devem aqui ser aplicados.
No caso deste crime, sendo a vítima menor de 14 anos, de acordo com o E.C.A, haverá o aumento de
1/3 da pena.
No caso de resultar lesão corporal de natureza grave, ou morte, serão aplicadas as mesmas penas do
roubo qualificado pelo resultado.
É difícil a distinção entre o crime de extorsão e o de roubo, uns entendendo que a diferença reside no
fato do roubo ser uma subtração, enquanto que na extorsão a vítima é quem pratica o ato. Outros que na
extorsão sempre existe uma opção para a vítima, enquanto que no roubo, isto não ocorre. Há aqueles
que sustentam que a distinção se encontra no fato de que no roubo a vantagem é imediata, enquanto que
na extorsão é futura.
Pode ser distinguido, também o delito de extorsão do estelionato, pois, neste a vantagem é obtida
mediante fraude, enquanto que, naquele, a vantagem é resultado da violência ou grave ameaça.
Por fim, cumpre consignar que é possível a continuidade delitiva neste crime.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO: a previsão se encontra no artigo 159 do CP com as


modificações realizadas pela lei de crimes hediondos.
O objetivo do legislador á a proteção do patrimônio, mas, pela descrição, não deixa ele de proteger,
ainda que de forma indireta, a liberdade individual, a integridade física e a vida da vítima.
Pode figurar como sujeito ativo qualquer pessoa que pratique qualquer dos elementos subjetivos
contidos no tipo, mesmo quando se tratar de funcionário público, quando sua finalidade foi privar a
liberdade da vítima para obter uma vantagem.
São sujeitos passivos do crime tanto a pessoa que é sequestrada, como aquela que sofre o prejuízo
econômico.
A descrição objetiva exige a conduta de sequestrar, que nada mais é do que privar a liberdade da
pessoa, mesmo que por pouco tempo e, enquanto durar a privação, o crime estará se consumando, por
ser infração permanente.
Dúvida existe na possibilidade da pessoa privar a liberdade da vítima não através do sequestro, mas
de cárcere privado, havendo entendimento que, no segundo caso, está descaracterizada a infração, se
bem que o melhor entendimento é de que o cárcere privada é espécie do qual o sequestro é gênero,
permanecendo, assim, o crime.
A subjetividade exige o dolo, qual seja, a vontade de sequestrar, acrescido do elemento subjetivo que
é o de obter a vantagem para si ou para outrem, vantagem esta que deve ser apreciada economicamente.
Se por ventura a vantagem for devida pela vítima, teremos o crime de exercício arbitrário das próprias
razões.
Quando a lei se refere a resgate, automaticamente se pensa em dinheiro, mas, nem sempre a
vantagem consiste em dinheiro, podendo ser qualquer outra utilidade.
Como condição deve se entender a exigência da prática de algum ato que redunde em lucro (vantagem
econômica, mas, que não seja a entrega de dinheiro, como a assinatura de uma promissória.
A consumação do crime ocorre com o arrebatamento da vítima, não sendo necessária a obtenção do
resgato, por tratar-se de crime formal, de consumação antecipada.
Mesmo sendo um crime formal, a tentativa é possível, como no caso do agente é preso quando tenta
arrebatar a vítima.
Prevê o legislador formas qualificadas para o crime em estudo.
A primeira hipótese é quando a privação da liberdade dura mais de 24 horas, por haver um dano maior
à liberdade do indivíduo, bem como maior sofrimento para a família ou entes queridos.

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O segundo caso é ser a vítima do sequestro menor de 18 anos, por terem estes menor possibilidade
de resistência.
O crime quando é praticado por quadrilha ou bando, também é qualificado, por ser mais fácil a prática
do crime nestas circunstâncias, sendo necessário que os componentes estejam reunidos para a prática
de crimes, o que dá possibilidade da punição pelo crime de extorsão mediante sequestro e de formação
de quadrilha ou bando em concurso.
O resultado também qualifica o crime de extorsão mediante sequestro, no caso de resultar lesão
corporal de natureza grave, ou morte, sendo que, neste último caso, a pena será de 24 a 30 anos de
reclusão, a maior estabelecida em nossa legislação penal. Entretanto, para que esteja presente a
qualificadora, necessário se faz que a morte seja do sequestrado, pois, se outro morrer, haverá crime de
homicídio em concurso com a extorsão mediante sequestro.
Não é necessário que a morte ou lesão corporal grave decorra da violência para o sequestro, mas
também, através dos maus tratos e do modo da privação da liberdade, sem se importar se a morte adveio
de dolo ou culpa.
Além das qualificadoras o legislador também coloca agravantes no crime, quando praticado contra
vítima não maior de 14 anos, contra alienada ou débil mental, desde que o fato seja conhecido pelo agente
e se a vítima por qualquer outro motivo está impossibilitado de oferecer resistência.
Existem também um caso de redução obrigatória da pena, quando o crime é praticado por quadrilha
ou bando e u dos componentes delata os outros a ponto de ficar fácil o esclarecimento do crime e a
liberação da vítima, devendo a pena ser diminuída somente quando a polícia consegue libertar a vítima.

EXTORSÃO INDIRETA: a previsão se encontra no artigo 160 do CP e o conceito é: exigir ou receber


como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro. Exemplo é o do agente (agiota) que, para garantir
uma dívida pega uma declaração da vítima na qual ela confessa a prática de um crime.
Tem por objetivo o legislador a proteção do patrimônio da vítima, mas também, sua liberdade
individual.
Sujeito ativo é qualquer pessoa que exige ou recebe a garantia, mesmo o terceiro. Pratica o crime a
pessoa que exige garantia para interceder junto a credor para a liberação de um empréstimo.
Sujeito passivo é a pessoa que cede ou oferece a garantia.
A descrição objetiva exige as condutas de exigir ou receber, portanto, crime de ação múltipla,
praticando o crime a pessoa que incorrer em uma das ações.
Existe também o objeto material, consistente no documento oferecido ou entregue pela vítima.
O legislador exige que o documento seja passível de dar início a um procedimento criminal, mas não
exige que este procedimento seja iniciado.
Para a caracterização do crime é indispensável que o agente abuse da situação de dificuldade da
vítima, não existindo o abuso, estará descaracterizado o crime.
A subjetividade consiste no dolo, na vontade de exigir ou receber o documento que pode dar causa
a início de procedimento criminal, aliado ao elemento subjetivo que é a garantia de dívida, se este não
estiver presente o crime será de constrangimento ilegal.
A consumação ocorre no momento em que o documento é exigido ou recebido, sendo que no primeiro
caso trata-se de crime formal e a tentativa somente é possível quando a exigência é por escrito, enquanto
que, no segundo caso, é crime material, onde é perfeitamente cabível a tentativa.
Alguns entendem que, não conseguindo o agente o recebimento do crédito e utilizando o documento,
pratica crime de denunciação caluniosa em concurso, entretanto, este não é o entendimento correto, pois
o crime de extorsão já ocorrera anteriormente e a ato consistiu e exaurimento daquele e, portanto, fato
posterior não punível.

DA USURPAÇÃO: Se nos artigos anteriores o legislador protegeu o patrimônio do indivíduo em


relação às coisas móveis, a partir destes artigos, a seguir estudados, o legislador protege o patrimônio
com vistas as coisas imóveis. São eles:
ALTERAÇÃO DE LIMITES: cuja previsão se encontra no artigo 161, "caput" do CP com se seguinte
conceito: Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. A pena é de detenção de 1 a 6 meses, além da
multa.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio imobiliário, visando de modo direto a posse e
indiretamente a propriedade.

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Pode ser sujeito ativo a pessoa que suprime o marco ou outro sinal de divisória, fato que, a princípio
indica que somente o vizinho possa praticar o crime, mas, numa análise mais profunda se verifica que o
futuro comprador de uma área pode perfeitamente praticar o crime, bem como o condômino.
Sujeito passivo é o proprietário ou o possuidor da coisa.
A descrição objetiva exige a presença de objeto material, que é o tapume, como cercas e muros,
marcos como tocos ou barras de cimento e outro sinal indicativo de linha divisória.
A conduta é suprimir, fazer desaparecer ou deslocar, mudando de lugar, modificando, assim, os limites
do imóvel.
Como a lei é omissa no caso de colocação de tapume ou marco novo, esta conduta não caracteriza o
crime.
A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de alterar o limite, aliado ao elemento subjetivo do
injusto, que é a vontade de se apossar do imóvel. Se não estiver presente o crime será outro.
A consumação ocorre com a supressão ou deslocamento do sinal divisório, mesmo que o agente não
consiga se apropriar da coisa.
A tentativa é possível.
Caso haja o emprego de violência, o agente responderá pela violência praticada em concurso.
A ação penal é privada, mas, se houver emprego de violência e a propriedade não for privada a ação
será pública incondicionada.

USURPAÇÃO DE ÁGUAS: A conduta deste crime vem descrita no artigo 161, § 1º do C.P. com a
seguinte redação: quem desvia ou represa em proveito próprio ou de outrem água alheia.
O objetivo do legislador é proteger a posse de uso e gozo de águas particulares ou comuns,
consideradas imóveis enquanto anexas ao solo.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa que pratica as condutas descritas, mas, o normal é
que tal crime ocorra entre vizinhos que se utilizam da mesma água.
O sujeito passivo é a pessoa que tem a posse da água para uso e gozo.
A descrição objetiva prevê objeto material, a água, que pode consistir num rio, ou lagoa, lago,
represa, nascentes, etc., sendo consideradas alheias as águas todas aquelas que não pertença ao agente
e comuns, àquela que é utilizada pelo agente, mas, também, por outras pessoas.
As condutas previstas são desviar, que significa mudar de rumo, ou represar, que significa conter em
determinado local.
A subjetividade exige o dolo, vontade de desviar ou represar a água, acrescida do dolo específico,
de obter o proveito próprio ou para terceiro.
A consumação do crime ocorre no momento do desvio ou do represamento e a tentativa é
perfeitamente possível.
Se na conduta for utilizada violência o agente responderá por ela e, caso haja inundação o crime será
o previsto no artigo 254 do C.P.
A exemplo do crime anterior, caso não haja emprego de violência e a propriedade for privada a ação
será privada e, nos demais casos, pública incondicionada.

ESBULHO POSSESSÓRIO: Este crime vem previsto no artigo 161, § 1º, inciso II do C.P. que incrimina
a conduta de quem invade com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de
duas pessoas, terreno ou edifício alheio para o fim de esbulho possessório.
O objetivo do legislador, mais uma vez é a proteção do patrimônio representado pelos bens imóveis
e, indiretamente, a integridade física e a liberdade individual da vítima.
Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, com exceção do proprietário, sendo perfeitamente admissível
a prática do crime por parte do condômino.
Sujeito passivo do crime é o possuidor do imóvel ou seu proprietário.
A descrição objetiva prevê a conduta de invadir, que nada mais é que entrar, mas, a invasão deve
ser através de violência ou grave ameaça a pessoa e, em não havendo violência, que a prática do crime
seja realizada por concurso de mais de duas pessoas, que indica a participação de no mínimo quatro
pessoas, mais de duas, que equivale a três e o agente, totalizando quatro.
O objeto material é o terreno ou o edifício alheio, quer sejam rurais ou urbanos.
Como subjetividade deve estar presente o dolo, vontade de invadir, com a finalidade específica de
assumir a posse do imóvel.
A consumação do crime ocorre quando o agente entra, se for sua intenção o apossamento do terreno
ou edifício e a tentativa é possível.
Distinção que deve ser lembrada ocorre quando, o agente, tem algum direito sobre a coisa, o crime
praticado será de exercício arbitrário das próprias razões e, quando se tratar de unidade imóvel do

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Sistema Financeiro de Habitação o crime está previsto no artigo 9º da Lei 5.741/71 e o julgamento estará
afeto à Justiça Federal.
No caso de emprego de violência, o agente responderá pelas penas correspondentes, em concurso.
A ação penal é pública incondicionado quando houver o emprego de violência ou se o imóvel for
público, nos demais casos a ação penal é privada.

SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCAS EM ANIMAIS: Artigo 162.


O objetivo do legislador é defender a propriedade dos semoventes, considerados imóveis por acepção
intelectual, considerados móveis para efeitos penais.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime em estudo, mas, caso seja o crime, meio para a
prática de outro, furto, por exemplo, será absorvido pelo crime fim.
Sujeito passivo é o proprietário do animal ou animais que tem a marca modificada ou suprimida.
A descrição objetiva prevê condutas de suprimir, que nada mais é que fazer sumir a marca ou sinal
existente ou alterar, que nada mais é que modificar, disfarçar.
A conduta recai sobre a marca ou sinal e estes são considerados objeto material do crime. Como
marca deve se entender aquela feita a fogo no couro do animal e sinal é todo aquele distintivo que não
seja a marca, tais como brincos, argolas, corte de parte do chifre do animal, etc.
Outro entendimento que deve ser traduzido é que se refere o legislador a gado ou rebanho, sendo o
gado, os quadrúpedes de grande porte, como a vaca, rebanho quer significar animais de pequeno porte,
sendo necessário que a supressão ou alteração da marca ou sinal seja realizada no rebanho, não
caracterizando o crime caso seja somente um animal.
É fundamental que o gado ou rebanho seja alheio.
Como subjetividade pode-se identificar o dolo, qual seja, a vontade de suprimir ou alterar a marca ou
sinal, desde que indevidamente, face a existência deste elemento normativo.
A consumação ocorre quando o agente suprime ou altera a marca ou sinal no animal, existindo
entendimento de que basta em um único animal.
A tentativa é possível.
A título de concurso deve-se esclarecer que, caso o agente, após a supressão, subtraia os animais
ou deles se aproprie, responderá o agente por estes crimes e não pelo de supressão de marca ou sinal.

DO DANO: Estudaremos os crimes que afetam diretamente a coisa em seu aspecto físico.
DANO: artigo 163, cujo conceito é destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, sendo necessária
somente a vontade de o agente destruir a coisa, mesmo que não vise nenhum lucro.
Mais uma vez o objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, em especial a propriedade das
coisas, quer móveis ou imóveis, sendo protegida, indiretamente a posse.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique uma das condutas, não o podendo ser o
proprietário, já que a coisa deve ser alheia, havendo posição em contrário. Sem discussão alguma a
possibilidade de praticar o crime o condômino.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa que foi destruída, deteriorada ou inutilizada.
A descrição objetiva prevê três modalidades de conduta. A primeira delas é destruir, que significa
desfazer, desmanchar, inutilizar significa tornar imprestável, impossibilitar o uso, deteriorar é estragar,
mesmo que sejam totais ou parciais, pois, em ambas as hipóteses o crime está caracterizado.
A conduta fazer desaparecer não está prevista pelo legislador, portanto, por força do princípio da
legalidade, tal conduta não pode ser punida.
O crime de dano pode ser praticado tanto por ação, como por omissão.
Sem dúvida alguma existe o objeto material, qual seja, a coisa alheia móvel sobre a qual recai a
conduta do sujeito ativo, desde que esta coisa tenha valor econômico.
Por ser crime que deixa vestígios, é obrigatória a realização de exame de corpo de delito para sua
configuração.
A título de subjetividade deve estar presente, em primeiro lugar, a vontade em praticar uma das
condutas previstas pelo legislador, sendo discutida a exigência do dolo específico, ou seja, a finalidade
no agente de causar prejuízo à vítima, entendendo alguns doutrinadores que é necessária esta intenção
e outros, maioria, pugnam pela desnecessidade de tal finalidade para a caracterização do crime. Não há
necessidade de que o agente tenha a intenção de lucro para que se tenha por praticado o crime.
Não há modalidade culposa para o crime de dano, assim, acidentes de trânsito, no qual não resulta
vítima, ou mesmo resultando, os danos materiais serão discutidos na área cível, por não consistir em
ilícito penal.
A consumação do crime ocorre com a destruição, inutilização ou deterioração da coisa, e a tentativa
é perfeitamente possível.

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Natural que se o crime de dano for praticado como meio para outro mais grave, será absorvido por
este.
Prevê o legislador as figuras do dano qualificado, cujas hipóteses se encontram no parágrafo único
do artigo 163 que são:
1- quando o crime é cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, que consistem na prática
de ao menos vias de fato para a prática do crime, merecendo maior punição por demonstrar maior
periculosidade no agente. É natural que o agente também responde, em concurso, pelas penas da
violência.
2- o emprego de substância inflamável ou explosiva, quando não constituir crime mais grave (como
incêndio ou explosão), pois a utilização destas substância é sempre mais danosa e geralmente causa
perigo a outras pessoas. Como o legislador estabelece a aplicação da qualificadora quando o fato não
constituir crime mais grave, identificamos um caso de subsidiariedade expressa.
3- quando o crime é praticado contra o patrimônio da União, estado ou município, empresa
concessionária do serviço público ou sociedade de economia mista, por haver violação de interesse
público, que, deve se sobrepor ao particular.
4- ainda qualifica o dano quando o crime é praticado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
à vítima, pois, no primeiro caso o agente demonstra um menosprezo desnecessário e antissocial,
enquanto que no segundo caso, por ser a pena, ou pelo menos a intenção do legislador, uma sanção
proporcional ao fato, sendo grande o prejuízo, maior será a pena aplicada. Como o legislador fala e
prejuízo para a vítima, deve ser levada em consideração a sua situação econômica.
A ação penal no dano simples e qualificado por motivo egoístico é privada, nos demais casos é pública
incondicionada.

INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA: Artigo 164 que define:


introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem o consentimento de quem de direito, desde que
o fato resulte prejuízo.
O objetivo do legislador é a proteção da propriedade e da posse, seja ela rural ou urbana.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, havendo entendimento divergente de que até o proprietário
pode praticar o crime quando introduz ou deixa animal em propriedade sua, mas onde terceira pessoa
exerça a posse legítima.
Sujeito passivo é o proprietário ou o legítimo possuidor da coisa.
A descrição objetiva obriga à análise de duas condutas a primeira é introduzir, ou seja, colocar para
dentro o animal que se encontra fora. Já a conduta deixar, implica em não retirar os animais que já se
encontravam dentro da propriedade alheia.
O legislador utiliza o termo animais no plural, mas não implica que a introdução seja de diversos
animais, pode ser somente um, pois o legislador quando fala animais quer dizer, de qualquer espécie.
Como objeto material tem-se a propriedade alheia.
No caso deste crime o legislador exige a ocorrência efetiva de prejuízo e, caso não houver este o crime
estará descaracterizado.
No artigo se identifica, também, um elemento normativo, pois a conduta será lícita se houver
consentimento de quem de direito.
Na subjetividade deve estar presente o dolo, que consiste na vontade de realizar uma das condutas
descritas, não havendo necessidade de finalidade especial, mas se existir esta, poderá estar
caracterizando-se outro crime, como o exemplo do proprietário de animais que introduz estes em
propriedade alheia para alimentá-los, praticando crime de furto.
A consumação do crime ocorre com o prejuízo, portanto, é impossível a tentativa, pois ou há prejuízo
e o crime se consuma, ou não há e teremos um fato atípico.
A ação penal é privada.

DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO: Artigo 165, que


define o crime como destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude
de valor artístico, arqueológico ou histórico.
Tem por objetivo o legislador proteger o patrimônio ideológico da nação, defendendo as coisas de
interesse comum.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa, inclusive o proprietário, por ter a coisa interesse
público.
Sujeito passivo é a União, estado ou município e, ainda, o proprietário, quando não for sujeito ativo.
A descrição objetiva prevê as mesmas condutas para o dano simples, com diferença no objeto material,
que, no caso, é a coisa tombada.

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A título de subjetividade exige o legislador o dolo, vontade de praticar uma das condutas, acrescido
do conhecimento a respeito do tombamento da coisa.
A consumação e a tentativa ocorrem nas mesmas hipóteses enumerados no dano simples.
No tocante ao concurso de crimes dúvida surge quando se tratar de coisa pública tombada, pois, é
qualificado o dano contra esta coisa, com previsão de pena maior do que a estabelecida neste artigo.
Existem doutrinadores que entendem que o agente, no caso responderá pelos dois crimes em concurso
formal, outros entendem que a responsabilização será pelo crime do artigo 165, porque é especial em
relação ao dano qualificado.
Por força do artigo 5º da Lei 3.924/61, o dano causado ao patrimônio arqueológico ou pré-histórico,
fica sujeito a penas idênticas.
A ação penal é pública incondicionado e, quando tratar-se de interesse nacional, o julgamento do
crime ficará afeto à Justiça Federal.

ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO: Crime previsto no artigo 166 do C.P.


O objetivo do legislador é idêntico ao anterior.
Sujeito ativo: idem anterior
Sujeito passivo: idem anterior
A descrição objetiva exige conduta de alterar, que implica em modificar o local que é protegido de
forma especial, quer altere sua substância ou sua aparência, quer seja o local natural ou de produção
humana, se relacionando o crime às chamadas coisas imóveis, não prevalecendo sobre às móveis.
Verifica-se a presença de elemento normativo, no termo sem licença da autoridade competente.
Como subjetividade exige-se o dolo, ou seja, a vontade de praticar a conduta descrita no tipo, aliada
ao conhecimento de que a coisa é protegida de maneira especial.
A consumação ocorre com a alteração do local e a tentativa é possível.
Como concurso pode se apresentar com o crime de dano, quando a alteração se der por uma das
modalidades previstas naquele crime.
Pode haver, também, a prática de uma contravenção contra a fauna.
A ação penal é pública incondicionada.

DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA:

APROPRIAÇÃO INDÉBITA: a apropriação indébita considerada está prevista no artigo 168 do C.P.,
com o seguinte conceito: Apropriar-se de coisa alheia móvel de que tem a posse ou a detenção, pena de
reclusão de 1 a 4 anos e multa. Da definição pode-se extrair, a princípio que, para a prática do crime o
agente deve ter a posse ou detenção da coisa e que a tenha obtida de maneira legítima.
Tem por objetivo o legislador, mais uma vez, proteger o patrimônio da vítima, principalmente a
propriedade, mas, de forma indireta a posse da coisa móvel.
Pode ser sujeito ativo do crime qualquer pessoa que esteja na posse ou detenção da coisa móvel,
alheia, desde que posse legítima, portanto, o coerdeiro e o coproprietário, podem ser sujeito ativo.
Sujeito passivo do crime, em regra, é o proprietário, mas, toda pessoa que sofrer a perda da coisa,
como o possuidor, será considerado vítima do crime. Para não errar, considera-se vítima do crime de
apropriação indébita, aquele que sofre o prejuízo.
A descrição objetiva prevê como objeto material a coisa alheia móvel, em regra infungível, pois, as
coisas fungíveis somente podem ser objeto material quando entregues para transmissão a terceiros e são
apropriadas pelo intermediário, assim, o dinheiro, quando emprestado não pode ser objeto material do
crime, mas, no caso de cobradores que se apoderam da quantia recebida e não entregam ao credor, o
crime existe. Os direitos e ações só podem ser objeto quando representados por algum título e, se a coisa
não tem valor econômico ou sentimental não haverá crime.
O imóvel não é objeto material deste crime.
Deve estar presente o pressuposto da posse ou detenção anterior e legítima da coisa. Como posse
deve entender-se a relação da pessoa com a coisa ou o exercício de poder em relação a ela, desde que
haja utilização econômica. Como detenção deve se entender o fato da pessoa que conserva a posse em
nome de terceiro, quer por submissão a ordens, quer por permissão ou tolerância.
Tanto a posse quanto a detenção devem preexistir ao crime.
Deve ser direta a posse para que caracterize o crime, assim, o locador e o devedor não podem pratica-
lo.
A detenção, para a caracterização do crime não pode ser vigiada, caso contrário, haverá furto.
Não existe crime de apropriação de coisas ilícitas ou de origem criminosa.

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Devem estar presentes, também, os seguintes requisitos: a tradição livre e consciente, a origem
legítima e a disponibilidade da coisa pelo sujeito ativo.
É legítima a posse quando decorrente de uma relação obrigacional (contrato ou quase contrato).
Como conduta prevê o legislador o verbo apropriar-se, ou seja, manifestação de fazer e usar a coisa
alheia como se fosse o proprietário, desde que ausente a intenção de restituir a coisa.
A simples utilização da coisa, sem previsão no contrato não caracteriza o crime.
É importante lembrar que, normalmente, há prazo para a devolução da coisa e o crime em estudo
somente pode ocorrer após o vencimento deste prazo.
Quando não houver prazo estabelecido, deve-se verificar a manifestação do agente em praticar a
conduta descrita na norma.
A subjetividade exige, fundamentalmente a presença do dolo, ou seja, a vontade de apropriar-se da
coisa alheia móvel, acrescido do dolo específico que consiste na vontade de ter a coisa como proprietário,
para si ou para outrem.
Se estiver presente direito de retenção, não haverá crime, bem como no caso da pessoa que está
impossibilitada, desde que não seja por ato próprio, de restituir a coisa.
A consumação é de difícil apuração por depender exclusivamente de circunstâncias subjetivas. Deve-
se entender por consumado o crime quando o agente transforma a posse ou detenção em propriedade,
fato demonstrado através de atitudes do agente, incompatíveis com a vontade de devolver a coisa.
Para a caracterização do crime de apropriação indébita é necessário a ocorrência ou prejuízo.
Embora de difícil caracterização é possível a tentativa.
Se houver transação, composição ou novação a respeito da coisa, estará descaracterizado o crime.
Algumas distinções devem ser apresentadas. Em primeiro lugar com o estelionato, sendo que neste o
dolo está presente antes da posse da coisa enquanto na apropriação indébita o dolo é posterior à posse.
Se não houver a tradição livre e consciente haverá crime de furto. No caso de funcionário público o
crime é peculato. A apropriação de valor de Previdência Social é crime previsto no artigo 155, II, da Lei
3.807/60.
Concurso: Há entendimento de que havendo a prática de crime meio para a apropriação indébita, o
agente responderá por ambos em concurso material, desde que o crime lese bem jurídico diverso do
patrimônio, mas, alguns entendem que o crime meio será absorvido.
Admite-se a continuidade delitiva.
No caso de apropriação de coisa comum é possível o privilégio previsto no artigo 156.
Qualificadora: previstas no §1º do artigo 168.
O inciso I se refere ao caso de apropriação decorrer de depósito necessário, que se divide em legal e
miserável, sendo este o realizado em caso de calamidade pública, bem como, as bagagens de hóspedes
ou fregueses.
No inciso II, qualificou-se a apropriação praticada por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamentário ou depositário judicial por houver violação aos deveres impostos a estes encargos.
No inciso III, prevê-se a apropriação indébita em decorrência de ofício, emprego ou profissão, casos
em que se dispensa maiores detalhes.
Privilégio: Aplica-se ao crime o privilégio previsto no artigo 155, § 2º do C.P.
A ação penal, neste crime é pública incondicionada.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA:

Este ilícito está descrito no Código Penal, da seguinte forma:

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa
§1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou
custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III – pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

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§3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e
de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.

O bem jurídico tutelado são as fontes de custeio da seguridade social, particularmente os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194 da CF). São protegidas especialmente
contra a apropriação indébita que pode ser praticada por quem tem o dever de recolher os tributos e
taxas. É, em outros termos, a tutela da subsistência financeira da previdência social.
Sujeito ativo é o substituto tributário, que por Lei, tem o dever de recolher do contribuinte e repassar
as contribuições à previdência social. Sujeito ativo, nas figuras descritas no §1º, é o titular de firma
individual, os sócios solidários, os gerentes, diretores ou administradores que efetivamente hajam
participado da administração da empresa, concorrendo efetivamente na prática da conduta criminalizada.
Sujeito passivo é o Estado, representado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que é órgão
encarregado da seguridade social.
A conduta tipificada no caput é “deixar de repassar” que tem o sentido de não transferir, não recolher
ou não pagar à previdência social as contribuições recolhidas ou descontadas dos contribuintes, no prazo
e forma legal ou convencional.
O crime de apropriação indébita previdenciária é delito omissivo próprio ou de pura omissão,
independentemente do resultado posterior. Segundo Damásio de Jesus os crimes omissivos próprios "se
denominam os que se perfazem com a simples abstenção da realização de um ato, independentemente
de um resultado posterior. O resultado é imputado ao sujeito pela simples omissão normativa".
O elemento subjetivo geral é o dolo, representado pela vontade consciente de deixar de repassar à
previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes.
Trata-se de crime instantâneo, eis que a sua consumação se verifica no mesmo instante em que se
vence o prazo para o agente efetuar o recolhimento e deixa de repassar a quantia a quem de direito. Isso
significa que não há uma continuidade temporal, a exemplo do que ocorre no sequestro.
Segundo Castro, o crime pode ser continuado se persistirem os repetidos atos omissivos.
Ele é monossubsistente porque se realiza com um só ato (deixar de repassar). Difere, portanto, dos
crimes plurissubsistentes, a exemplo, do crime de estelionato que exige o emprego da fraude e, ainda, a
vantagem ilícita em prejuízo alheio.
Via de regra, a competência para apurar essa infração é da Justiça Federal, conforme o art. 109, IV,
da CF.

Em resumo, trata-se o presente delito de:


a) Crime próprio (exige qualidade ou condição especial do sujeito ativo, o substituto tributário, no caso
do caput);
b) Formal (para sua consumação não se exige resultado naturalístico);
c) Omissivo (a ação tipificada implica abstenção de atividade – “deixar de”);
d) Instantâneo (a consumação não se alonga no tempo, ocorrendo em momento determinado);
e) Unissubjetivo (podem ser praticado por uma única pessoa, como a maioria dos crimes, que não são
de concurso necessário); e
f) Monossubsistente ou unissubsistente (praticado em um único ato dificilmente poderá caracterizar-
se a figura tentada).

Atenção: Cabe ressaltar que embora não tenha ocorrido revogação expressa do disposto no artigo
168-A, §2º e §3º, I, do CP, com o advento da Lei nº 10.684/2003 e da Lei nº 11.941/2009, estes
dispositivos não tem mais eficácia, devendo ser observado para a extinção da punibilidade dos agentes
o previsto nas mencionadas leis. São as modificações trazidas pelas leis:
1) Lei nº 10.684/2003, artigo 9º: efetuar o pagamento integral do débito a qualquer tempo extingue a
punibilidade; e, o parcelamento, após a sua devida consolidação, suspende o processo (não exige
qualquer outro requisito).
2) Lei nº 11.941/2009, arts. 68 e 69: é suspensa a pretensão punitiva do Estado. Este preceito, porém
não é aplicado para qualquer parcelamento, apenas para os oriundos desta lei, isto é, somente os
vigentes a partir de 2009.

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Nota-se que o pagamento pelo o que prevê o CP deveria ser feito antes da Ação Fiscal, ou seja, antes
da notificação do lançamento do tributo. Outrossim, com a alteração de 2003 o pagamento a qualquer
tempo passou a ser reconhecido como forma de extinção da punibilidade; sendo esta norma repetida em
2009, “assim o PAGAMENTO DO DÉBITO A QUALQUER TEMPO EXTINGUE A PUNIBILIDADE”.

A Extinção da punibilidade significa a extinção da pretensão punitiva do Estado, como acontece, por
exemplo, na prescrição penal. Você comete o crime, mas o Estado não poderá mais aplicar-lhe a pena.
Para a exclusão, é necessário o recolhimento integral do devido.

PERDÃO JUDICIAL: No parágrafo terceiro do referido artigo há o chamado Perdão Judicial, sendo
então facultado ao Juiz deixar de aplicar de pena ou somente aplicar a multa se o agente for primário e
de bons antecedentes, desde que tenha promovido após o início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios, ou que o valor das
contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência
social, administrativamente, ou como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
Como vimos, caso o sujeito ativo pague a contribuição social será extinta a sua punibilidade, não havendo
que se falar em perdão judicial. Na segunda hipótese, consoante a Portaria nº 75, de 22 de março de
2012, do Ministério da Fazenda, o valor mínimo para ajuizamento de execução fiscal é de R$ 20.000,00.

FORMA PRIVILEGIADA DO CRIME: Referido delito está incluso no capítulo V, do Código Penal, o
qual dispõe sobre os crimes contra o patrimônio, sendo então aplicável o artigo 170, do CP, o qual remete
ao artigo 155, §2º, do mesmo código, que diz:

“Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o Juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.

Dessa forma, podemos notar que o delito em estudo tem sua forma privilegiada.

APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA DA NATUREZA.


O objetivo do legislador é a proteção da propriedade das coisas móveis, já que é vedado o
enriquecimento ilícito.
Qualquer pessoa que pratica a conduta descrita pode ser sujeito ativo do crime e o proprietário da
coisa será sujeito passivo embora terceira pessoa ter incidido em erro.
Em relação à descrição objetiva pode esclarecer se o objeto material é o mesmo do crime anterior.
A diferença pode ser apontada na origem da posse da coisa que, neste caso, é havida por erro,
consistente no falso conhecimento a respeito de determinada coisa que pode incidir sobre a pessoa,
sobre a coisa, em um pagamento indevido, como o caso de sacar dinheiro depositado por engano ou
ainda por caso fortuito ou força da natureza, que podem ser definidos igualmente como fatos inevitáveis
ou que não se podia impedir.
A conduta é idêntica ao crime anterior.
Na subjetividade exige-se o dolo, qual seja, a vontade de apropriar-se da coisa, acrescido do dolo
específico que é o destino da utilização da coisa para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento que o agente transforma a posse em propriedade. Em relação a
tentativa, utiliza-se os conhecimentos fornecidos pela análise do crime anterior.
Aplica-se o privilégio do artigo 155, § 2º.
A título de distinção e importante saber se, caso o agente provoque o erro haverá estelionato, o mesmo
ocorrendo quando o agente conhecendo o erro, não o desfaz.

APROPRIAÇÃO DE TESOURO: artigo 169, parágrafo único, inciso I.


Protege o legislador a propriedade do tesouro.
É sujeito ativo aquele que encontra o tesouro, com exceção do proprietário das terras onde foi
encontrado.
Descrição objetiva: objeto material é o tesouro, de onde se excluem as jazidas e minas de metais
preciosos. A conduta é apropriar-se do tesouro, pois o proprietário do imóvel onde foi encontrado tem
direito a 50% do que foi encontrado.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de não entregar a cota da qual o proprietário tem
direito, desde que ele tenha autorizado a pesquisa, pois, caso contrário haverá furto.
Na consumação e tentativa devem ser utilizados os mesmos conhecimentos dos artigos anteriores.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA: artigo 169, parágrafo único, II.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, indiretamente a posse de coisa móvel.
Qualquer pessoa que encontra a coisa alheia perdida pode ser sujeito ativo do crime.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa perdida.
Descrição objetiva: objeto material é a coisa alheia perdida (extraviada) e diverge da coisa esquecida,
a qual o dono pode saber onde se encontra, também defere de coisa abandonada, que não caracteriza o
crime.
A conduta é dupla, em primeiro lugar a vítima deve encontrar a coisa e, posteriormente deve haver a
apropriação. Neste ponto tem o agente a obrigação de restituir a coisa, quando conhecer o dono ou se
desconhecer, a obrigação de entregar à autoridade competente no prazo de 15 dias, sendo possível a
prática do crime antes deste prazo quando o agente manifesta a intenção de fazer como sua a coisa.
A subjetividade exige o dolo, que não pode ser confundido com negligência.
Pode ocorrer, neste caso, o erro sobre a ilicitude do fato, como o velho ditado popular de que o achado
não é roubado.
Consumação e tentativa idem ao anterior.
A privilegiadora do artigo 155, § 2º é aplicada.

ESTELIONATO:
Ainda dentro dos crimes contra o patrimônio temos o estelionato, caracterizado pela não utilização de
violência, mas, do aproveitamento intelectual de uma sobre outra pessoa, através da utilização de um
meio enganoso, que causa prejuízo à vítima.
Prevê o legislador diversas condutas na qual o agente utiliza-se da malícia para a obtenção da
vantagem indevida, sendo a primeira a constante do artigo 171, conhecido como estelionato simples.
O conceito do crime é: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, cuja pena
imposta é de reclusão de 1 a 5 anos, além da multa.
Em primeiro lugar, deve-se buscar o entendimento do significa de fraude, lembrando que ela pode
estar presente em qualquer ato humano, mas, às vezes, tem consequência civil, enquanto em outras
haverá sanção penal.
Portanto devemos diferenciar, ainda que única, a fraude civil da fraude penal. A primeira diferenciação
oferecida é a de que a fraude civil lesa somente o indivíduo individualmente, a ponto de a conduta não
interferir na vida social, enquanto a fraude penal, além do prejuízo causado individualmente à pessoa,
causa distúrbio na convivência pacífica da sociedade.
A distinção mais importante é no sentido de que na fraude civil o agente visa somente um lucro maior
num negócio lícito, enquanto na fraude penal o agente visa uma vantagem indevida.
O que deve ser lembrado é que, na essência, a fraude é uma só.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, de forma indireta, protege a regularidade dos
negócios jurídicos.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, crime comum, inclusive terceiro beneficiado pela conduta,
desde que agindo de má-fé.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre o prejuízo patrimonial, embora outra possa ser enganada na
conduta, devendo ser sempre pessoa determinada, pois, se indeterminada o crime será contra a
economia popular.
A descrição objetiva prevê conduta de empregar meio fraudulento que consiste no ardil, artifício ou
qualquer outro meio.
Deve-se entender como artifício o método utilizado para modificar a aparência material de alguma
coisa para que, com esta aparência a vítima seja levada a erro e sofra o prejuízo, tal como a utilização de
um documento falsificado.
Ardil é a utilização da astúcia, da conversa, sem modificação na aparência da coisa, mas sim, na
aplicação da facilidade da fala para, com ele, levar a vítima a erro, tal como a mentira utilizada para
convencer a vítima a praticar ato que termine em seu prejuízo.
Para concluir a lei fala em outro meio fraudulento, que pode ser definido como aquilo que leve a vítima
a erro, causando o prejuízo, que não consista em artifício ou ardil, tal como o silêncio a respeito de
determinado fato.
Qualquer que seja o meio empregado, deve ser ele apto a enganar a vítima e, esta aptidão é
determinada de acordo com o caso concreto e com as condições da vítima, portanto, de forma subjetiva,
havendo entendimento em contrário, assim, uma falsificação grosseira de determinado documento é meio
inidôneo e não caracteriza o crime.

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A conduta é induzir e manter alguém em erro, sendo que induzir significa criar a situação para levar
ao erro, em sínteses, é o fato de criar o erro e, manter alguém em erro é aproveitar-se de um erro pré-
existente, empregando o meio para que a vítima permaneça no erro.
O objeto do crime é a vantagem a ser obtida com a conduta, qualquer que seja ela, sendo para o
agente ou para terceiro, e, ilícita, pois, se devida o crime será de exercício arbitrário das próprias razões.
O prejuízo efetivo deve estar presente para caracterização do crime.
É comum a chamada fraude bilateral nos crimes de estelionato, pois, na maioria das vezes o meio
fraudulento empregado da aparência de um lucro excessivo para a vítima que, em tese, também é
indevido. Os doutrinadores discutem se na existência desta fraude, o crime de estelionato estaria
descaracterizado, pois, tanto agente como vítima pretendiam uma vantagem ilícita. Os argumentos são
contundentes nos dois sentidos, entretanto, é bom lembrar que a vítima, mesmo tendo a intenção, nunca
conseguiria a vantagem, bem como, não haveria prejuízo em hipótese alguma e, portanto, não há a
prática de crime, devendo a agente ser punido pela conduta praticada contra a vítima.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de induzir ou manter a vítima em erro, aliado à
finalidade específica de obter a vantagem indevida para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento em que o agente obtém a vantagem indevida e, como
consequência, o prejuízo da vítima e o ressarcimento do dano não exclui o crime, caracterizando apenas
diminuição da pena.
A tentativa ocorre quando o agente emprega o meio apto a induzir ou manter alguém em erro, mas,
não consegue obter a vantagem.
Algumas distinções devem ser apresentadas em relação ao crime de estelionato.
A primeira delas é em relação ao crime de furto com fraude, pois, nesta há a subtração e, naquele, a
entrega espontânea da coisa.
Também não se confunde com a apropriação indébita, pois, neste o dolo ocorre após a posse legítima
da coisa, enquanto no estelionato o dolo é utilizada para obtenção da posse da coisa.
Utilização em grande escala o cheque falsificado para a prática do estelionato e há discussão no
sentido de que o agente deverá responder por estelionato somente, ou só pela falsificação ou, ainda,
pelos dois crimes em concurso. O entendimento dominante é de que o agente responda somente pela
falsidade, mas, considerado crime meio, deverá ser absorvido pelo estelionato, e por fim há entendimento
pela responsabilização pelos dois crimes em concurso formal e até material.
Existe, também a figura privilegiada do estelionato no artigo 171, § 1º, quando for o agente primário
e de pequeno valor o prejuízo, devendo o valor ser detectado na época da consumação do crime.

DISPOSIÇÃO DE COISA ALHEIA COMO PRÓPRIA: Artigo 171, § 2º, inciso I, que contém a seguinte
definição: Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria.
Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa que pratique uma das condutas descritas, com exceção do
proprietário, porque exige-se que a coisa seja alheia, entretanto, o condômino pode praticar o crime
quando dispõe da parte que não lhe pertence.
Sujeito passivo do crime pode ser o comprador, ou, também, o proprietário da coisa, em geral o
primeiro e, para ficar claro, vítima é aquele que sofre o prejuízo.
A título de descrição objetiva devemos localizar o objeto material, que, no caso é a coisa alheia móvel
ou imóvel.
As condutas previstas são:
1- vender, que significa transferir a propriedade da coisa, mediante o pagamento do preço estipulado,
conduta na qual não se enquadra a simples promessa de compra e venda.
2- permutar, que indica uma troca.
3- dá em pagamento, oferecendo a coisa para pagamento de algum débito ao invés de dinheiro.
4- dá em locação, ou seja, aluga, mediante o recebimento de valor a título de aluguel.
5- dá em garantia, como o penhor, a anticrese, a hipoteca e de onde se exclui a venda da coisa
penhorada, já que a penhora nada mais é do que instituto de garantia processual.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de praticar uma das condutas descritas, não se
prevendo a vantagem indevida que se encontra implícita por ser uma das modalidades do estelionato.
A consumação ocorre no momento em que o agente obtém a vantagem, ou seja, com o recebimento
do preço na venda, da coisa na permuta, do aluguel na locação, no empréstimo na forma de dar em
garantia ou na quitação, na dação em pagamento.
A tentativa é possível, como no caso do agente empregar o meio fraudulento mas não conseguir a
vantagem.
Como distinção deve ser apresentado o caso do agente que pratica uma destas condutas com
produtos de crime, onde não há o crime, mas sim um "post factum" não punível.

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Se o objeto se relacionar com o mercado de capitais, o crime será o previsto no artigo 66, § 8º da Lei
4.728/65.

ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO FRAUDULENTA DE COISA PRÓPRIA: Artigo 171, § 2º, inciso II.
Sujeito ativo do crime é o proprietário da coisa, portanto, crime próprio.
Sujeito passivo é aquele que sofre o prejuízo com a conduta do sujeito ativo, que podem sem a
pessoa que tinha a coisa como garantia, ou aquele que a recebeu através deste ato que pode ser anulável
e, conforme o caso, nulo.
A descrição objetiva prevê condutas idênticas ao crime anterior, vender, permutar, dar em
pagamento, etc. e, portanto, independem de comentários. A diferença reside no objeto material que, no
crime anterior era coisa alheia e, aqui, coisa própria inalienável, que significa que não pode ser negociada
por força da lei, convenção, testamento. A coisa gravada de ônus é aquela sobre a qual recai uma garantia
real, como hipoteca, anticrese, penhor, enfiteuse, servidão, usufruto, etc. A coisa penhorada, a exemplo
do crime anterior, também não pode ser objeto material do crime, por ser a penhora, uma garantia
processual e não real.
A coisa litigiosa é aquele objeto de discussão em juízo, que pode ser negociada se o comprador tomar
conhecimento do litígio.
Como último objeto, se tem o imóvel que já estava prometido à venda em prestação e é vendido para
outra pessoa diversa do pagador das prestações.
A título de subjetividade exige o legislador o dolo, qual seja, vontade de praticar uma das condutas
descritas, desde que tenha conhecimento sobre o ônus ou inalienabilidade da coisa e silencia a este
respeito.
A consumação ocorre quando o agente obtém a vantagem ilícita, havendo entendimento que o acordo
entre as partes, antes do oferecimento da denúncia, indica falta de justa causa para o oferecimento da
denúncia.
A tentativa é possível.
Existem coisas que não podem ser vendidas, como as coisas fora do comércio, e que não caracterizam
o crime em estudo, mas sim outro específico (artigo 276 do CP).

DEFRAUDAÇÃO DE PENHOR: artigo 171, § 2º, inciso III.


Sujeito ativo deste crime é o devedor que ofereceu a coisa em garantia a título de penhor, mas
conserva a sua posse, praticando a ação em prejuízo do credor pignoratício que, no caso, será o sujeito
passivo.
A descrição objetiva indica como objeto material a coisa móvel que é dada em penhor. Geralmente,
com a utilização desta garantia a coisa dada é entregue ao credor, mas, em determinadas circunstâncias,
como o crédito agrícola, a coisa fica na posse do devedor e é nestes casos que ocorre o crime, fato que
excluí o crime no caso de penhor legal, pois, aí a coisa sempre fica na posse do credor.
Como conduta prevê o legislador a alienação que em tese, significa transferir a propriedade através
da venda, permuta, etc. ou defraudar a coisa de outro modo. Deve-se verificar neste ponto que o inciso
anterior prevê a conduta de disposição de coisa alheia como própria, onde se incluí a venda de coisa
empenhada, havendo, no caso o conflito aparente de normas. O entendimento pessoal é de que no caso
de alienação haverá o crime anterior, alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria, porque, de
acordo com a análise dos incisos, verifica-se que o legislador tinha a intenção de incluir na definição a
conduta outro modo, pelo que deve realizar a interpretação restritiva para excluir deste inciso a conduta
alienar.
Na modalidade outro modo, pode se incluir a ocultação ou destruição da coisa, objeto do penhor.
A subjetividade exige o dolo, consistente na vontade de praticar a conduta descrita, com o
conhecimento de que a coisa é alienada e conforme elemento normativo só haverá crime se a alienação
não foi consentida pelo credor.
A consumação ocorre no momento da prática da conduta, mesmo não havendo a vantagem para o
agente e a tentativa é possível.

FRAUDE NA ENTREGA DE COISA: Artigo 171, § 2º, inciso IV, que oferece o conceito do crime como
sendo aquele que defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém.
Sujeito ativo do crime é o devedor de uma relação obrigacional, aquele que tem o dever de legal de
entregar a coisa, ou seu representante legal.
Sujeito passivo é o credor, aquele que recebe a coisa defraudada, bem como a pessoa que recebe
pelo credor, não podendo ser pessoa indeterminada, fato que caracteriza fraude no comércio.

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A descrição objetiva prevê conduta de defraudar, que significa adulterar, falsificar fraudulentamente
a coisa, quer na sua essência (substância), quer na sua qualidade, como a entrega de pérolas cultivadas,
no lugar das naturais, quer na quantidade, consistente na dimensão, peso, ou número.
Existe no caso em tela um elemento normativo, que está presente no pressuposto obrigação de
entregar a coisa, obrigação esta que deve derivar da lei, de ordem judicial ou de um contrato e que
também seja a título oneroso, pois, se gratuito, o crime não está caracterizado.
A Subjetividade exige o dolo. A vontade de entregar a coisa defraudada, desde que o agente conheça
este fato, aliada à existência de fraude na alteração da coisa.
A consumação ocorre quando o agente entrega a coisa, embora haja entendimento de que o crime
está consumado com a adulteração, mas o verbo núcleo do tipo é claro, entregar, portanto, este é o
momento da consumação.
A tentativa é possível, como no caso da vítima, ao perceber a alteração na coisa, não a recebe.
Este crime não pode ser confundido com o crime de fraude no comércio.

FRAUDE PARA RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO OU VALOR DE SEGURO: Artigo 171, § 2º,


inciso V.
Prevê o legislador diversas modalidades de condutas.
Sujeito ativo do crime é o proprietário da coisa destruída ou escondida, bem como a pessoa que
causa lesão em si mesma para recebimento do valor do seguro ou da indenização. É um crime próprio,
pois, somente a pessoa que contrata com a seguradora pode pratica-lo, a não nos casos de coautoria,
onde o coautor também será sujeito ativo e, se for na modalidade de causar lesões, o coautor responderá,
também, pelas lesões corporais, em concurso formal.
Sujeito passivo do crime é a empresa seguradora, que tem que pagar o valor a título de seguro. No
caso de lesão corporal, o beneficiário do seguro ferido será vítima das lesões corporais.
A descrição objetiva indica a necessidade de existência de um contrato prévio de seguro, de acordo
com a legislação pertinente.
As condutas previstas pelo legislador são:
1- destruir total ou parcialmente a coisa própria, que deve ser entendido como o dano imposto à coisa
de qualquer forma.
2- ocultar coisa própria, caso em que o agente esconde a coisa, inclusive em local onde não mais
possa ser encontrada, lembrando-se sempre que a coisa deve ser própria.
3- lesionar o próprio corpo ou a saúde, que independe de explicação e
4- agravar lesão ou moléstia já existente.
Ao contrário do que possa pensar-se, o objeto material do crime não é a coisa destruída ou ocultado
ou o corpo do beneficiário, mas sim, o bem patrimonial da seguradora.
O proveito a ser obtido pelo crime deve ser próprio, pois, se for de terceiro, haverá o estelionato "caput".
A subjetividade exige o dolo, na vontade de destruir ou ocultar a coisa própria, bem como no causar
lesão no próprio corpo, aliado ao dolo específico, finalidade especial de obter vantagem sobre a
seguradora.
A consumação ocorre com a prática de uma das condutas, não havendo necessidade de obtenção
da vantagem e a tentativa é possível.
A título de distinção deve-se esclarecer que as condutas previstas pelo legislador podem ser
produzidas através de incêndio ou explosão, bem como destruição de embarcação ou aeronave e, nestes
casos, para os crimes específicos, prevê o legislador uma qualificadora com eles são praticados com o
fim econômico, assim, nestes casos os agentes responderão pelo crime de incêndio ou explosão
qualificados e não pelo delito em estudo, mas, se o meio for inundação, onde não há esta qualificadora o
agente responderá pelos dois crimes em concurso formal.
Se a fraude for empregada para obtenção de benefícios da Previdência Social o crime é específico,
previsto no artigo 155, inciso IV da Lei 3.807/60 que implica pena idêntica ao estelionato "caput".

FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE: Artigo 171, § 2º, inciso VI.
Tem por objetivo o legislador proteger o patrimônio do tomador ou beneficiário (pessoa que recebe o
cheque), mas, de forma indireta protege também a lisura na circulação deste título de crédito que é
utilizado em grande escala.
Sujeito ativo do crime é a pessoa que emite o cheque sem suficiente provisão de fundos, ou, após
sua emissão regular, retira os fundos ou lhe frustra o pagamento.
O endossante, pessoa que participa da circulação do título, quando emitido ao portador, embora
posição contrária, não pode ser sujeito ativo do crime, pois, o verbo é emitir, sendo que o endossante

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apenas da continuidade à circulação. Se o endossante tem conhecimento a respeito da falta de fundos e
repassa o título, pratica estelionato na sua forma fundamental.
Entretanto, o avalista, figura que garante o título, em coautoria, pode ser sujeito ativo do crime. Aquele
que ajuda a convencer o tomador a receber o cheque, sabendo não ter fundos, responde pelo crime.
Sujeito passivo do crime é o tomador, podendo ser pessoa física ou jurídica.
A descrição objetiva indica duas condutas. Emitir, que significa colocar em circulação o título,
sabendo não haver fundos em poder do sacado, fato que excluí o mero preenchimento e assinatura.
O fato do agente, após a emissão, providenciar fundo, segundo entendimento majoritário,
descaracteriza o crime, mas, no caso de pagar o débito, após a devolução do título, o crime permanece
e sujeito passivo será o sacado.
A outra conduta é frustrar o pagamento que pode ser feito através da retirada do fundo existente ou
manifestada através da contraordem, desde que, neste caso, inexista a justa causa para a sustação.
Não ocorre o crime na emissão de cheque visado porque, neste caso o sacado garante o pagamento,
através da reserva de fundos, bem como o cheque marcado, onde o sacado determina a data para
pagamento, não sendo possível, inclusive sua frustração.
No caso do cheque especial, onde existe um limite de crédito, sendo ele ultrapassado, segundo
entendimento majoritário, haverá o crime, mas, se o cheque está dentro do limite estabelecido pelo cartão
de garantia o crime não ocorre.
É de fundamental importância a existência de fraude para a caracterização do crime, portanto, se o
cheque foi emitido como promessa de pagamento (pré-datado), ou como garantia de dívida, o crime não
existe, fato que evidencia a inexistência de fraude.
No caso de dívida de jogo, alguns entendem pela não existência do crime, pois, ela é incobrável.
A subjetividade exige o dolo, vontade de emitir o cheque, sabendo não haver fundos, ou frustrar-lhe
o pagamento, aliado à intenção de obter vantagem indevida.
O momento de consumação deste crime é discutido na doutrina. Uns entendem que se consuma o
crime com a simples emissão do título, outros com a circulação, há ainda os que entendem que o crime
se consuma no momento da apresentação e se verifica a contra ordem ou inexistência de fundos, sendo
esta última a aceita pela jurisprudência, através da interpretação da súmula 521 que determina como foro
competente para a ação penal o local onde houve a recusa do pagamento Ora, se a competência se
verifica, como regra, no local da consumação do crime, neste, praça de pagamento, deve se entender
como consumado o delito.
A possibilidade de tentativa também é discutida, uns defendendo a possibilidade da tentativa nas duas
condutas previstas, outros, entendendo que na modalidade de emissão não é possível a tentativa e
aqueles que não admitem a tentativa em nenhuma hipótese.
Resta somente analisar o fato de pagar o devedor, antes do oferecimento da denúncia, o valor
equivalente ao cheque, se existe ou não o crime. Anteriormente o pagamento do cheque, antes do
oferecimento da denúncia, por política criminal, descaracterizava o crime e, este entendimento chegou
ao ponto de extinguir-se a ação penal mesmo que o pagamento fosse efetuado durante seu curso, posição
que foi abandonada através da edição da Súmula 554 do STF. Com artigo 16, que trata da reparação do
dano, indicando que o pagamento é causa de diminuição de pena, surgiu nova discussão a respeito e,
contrariando o disposto na lei, as decisões tendem no sentido de faltar justa causa para a denúncia se o
pagamento foi efetuado antes dela.

SÚMULA 554 do STF: o pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Como distinção pode se dizer que somente o cheque emitido pelo titular de uma conta corrente
caracteriza o crime em estudo, em qualquer outra hipótese, tem-se o estelionato "caput".
A título de privilégio, permite-se a aplicação do disposto no artigo 171, § 1º.
O estelionato será qualificado quando o crime é cometido contra entidade de direito público, instituto
de economia popular, assistência social ou beneficência.

DUPLICATA SIMULADA: Artigo 172 do CP.


Toda venda mercantil ou prestação de serviços permite a emissão de duplica, que reflita e venda
realizada ou o serviço prestado, título este que, aceito pelo devedor entra em circulação como promessa
de pagamento. O crime consiste em emitir o referido título, sem correspondência com a venda efetuada
ou serviço prestado.

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Tem por objetivo o legislador a proteção do patrimônio e, de forma indireta, protege a circulação do
referido título de crédito.
Sujeito ativo do crime, na modalidade de expedir é o comerciante ou o profissional liberal que presta
serviços. Na modalidade aceitar sujeito ativo é qualquer pessoa, seja comerciante ou não, podendo haver
coautoria na modalidade de endosso ou aval.
Sujeito passivo é o tomador, bem como aquele que desconta a duplicata ou a aceita como caução.
A descrição objetiva indica condutas de expedir, que nada mais e do que preencher, criar a duplicata
que não corresponda à venda ou ao serviço prestado.
A outra conduta é aceitar, ato através do qual se assume a obrigação de paga-la e, neste caso, exige-
se que o agente tenha conhecimento de que a duplicata é simulada.
A subjetividade exige o dolo, vontade de expedir ou aceitar a duplicata simulada, assim, se o título foi
emitido por engano, não haverá o crime, ou ainda quando a expediu apenas como garantia de
empréstimo, podendo caracterizar, conforme o caso o crime de usura.
A consumação ocorre quando o agente coloca o título em circulação, não sendo necessário a
ocorrência de prejuízo o lucro e, por ser crime unissubsistente não se admite a tentativa.
Como distinção deve-se lembrar que a emissão de duplicata simulada caracteriza o crime de falsidade
do documento, entretanto, esta falsificação é elemento do tipo, portanto, não há crime de falsidade
autônomo e, se o título é emitido para obtenção de empréstimo e é intenção do agente seu não
pagamento, haverá estelionato.

FALSIFICAÇÃO DO REGISTRO DE DUPLICATAS: Artigo 172, parágrafo único.


Consequência natural do crime estudado acima, mas que pode ter existência autônoma, consiste em
falsificar ou adulterar a escrituração do livro de registro de duplicatas.
Sujeito ativo do crime é a pessoa que falsifica o livro, bem como aquele que a determina, podendo
ocorrer autoria mediata.
Sujeito passivo é o estado, titular da exigência de regularidade na escrituração de livros contábeis.
A descrição objetiva indica conduta de falsificar ou adulterar, sendo a primeira a criação, no livro, do
título e a segunda trata-se da alteração de registro de um título emitido validamente.
A consumação ocorre com a prática da conduta e a tentativa é possível.
Se a falsificação ocorrer antes da emissão da duplica simulada, será absorvido, a falsidade posterior
será impunível.

ABUSO DE INCAPAZES: Artigo 173 do CP, que define o crime da seguinte forma: Abusar, em proveito
próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
mental de outrem, induzindo qualquer deles a prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em
prejuízo próprio ou de terceiro.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio dos menores e incapazes ou de terceiros a eles
relacionados.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique a conduta.
Sujeito passivo é o menor de 18 anos, embora haja entendimento de que o menor de 21 está incluído
na proteção legal e, portanto, pode ser sujeito ativo, corrente esta minoritária e, sem nenhuma discussão,
exclui-se os emancipados.
Em relação aos alienados e portadores de debilidades mentais, utiliza-se os conhecimentos
ministrados quando do estudo da culpabilidade, com exceção dos semi-imputáveis que, modernamente
vem sendo excluídos.
Os silvícolas e os maiores de 70 anos somente poderão ser incluídos no caso de total alienabilidade.
O terceiro que sofre prejuízo também é considerado sujeito passivo do crime.
Indica a descrição objetiva o verbo abusar, que significa aproveitar-se o agente da necessidade,
paixão ou inexperiência do incapaz, não sendo necessário ardil ou artifício.
A conduta é induzir, ou seja, levar a vítima a praticar ato que gere efeitos jurídicos.
Este ato deve, ao menos criar o risco para o prejuízo patrimonial da vítima ou de terceiro, por isso no
caso de prática de ato nulo e que, por consequência, não gera efeitos, tem-se entendido pela inexistência
do crime, mas, se mesmo assim, com a prática de ato nulo, houver prejuízo, haverá o crime de estelionato.
A subjetividade exige o dolo consistente na vontade do agente persuadir o incapaz à prática do ato,
devendo o agente conhecer a deficiência da vítima, aliado à finalidade específica (dolo específico) que é
a intenção de obter vantagem indevida para si ou para outrem.
A consumação ocorre no momento da prática do ato pelo incapaz, mesmo sendo a conduta induzir,
não sendo necessária a obtenção da vantagem e a tentativa é admitida.

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INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO: Artigo 174 do CP, que apresenta semelhança com o artigo
anterior.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, mas, aqui, das pessoas inexperientes, simples e
portadores de deficiências mentais.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, por se tratar de crime comum, desde que tenha
conhecimento a respeito da condição da vítima.
Sujeito passivo é a pessoa inexperiente, que não tem vivência suficiente para enfrentar os problemas
do cotidiano simples é aquela pessoa que não malícia, desconhecedora da maldade que impera na
sociedade e inferior mental, não necessariamente é doente, mas aquela que não teve a quantidade de
informações suficientes para sua formação e, portanto, são facilmente enganadas.
A descrição objetiva indica conduta idêntica ao crime anterior, qual seja, através do abuso, induz o
sujeito ativo a praticar determinado ato que, para este crime é específico, qual seja, jogo, aposta ou
especulação com títulos ou mercadoria, e, neste último caso, exige do investidor um conhecimento
acurado sobre o mercado de capitais. É necessário que a operação será ruinosa, com prejuízo da vítima
e vantagem para o agente ou terceiro.
A subjetividade é idêntica ao crime anterior, exige o dolo, acrescido do conhecimento a respeito da
inferioridade mental da vítima e a intenção de obtenção de vantagem. Na modalidade de investimento no
mercado de ações e mercadorias o agente deve saber, também, que a operação é ruinosa.
A consumação ocorre quando a vítima pratica o jogo, a aposta ou o investimento em operação
ruinosa, mesmo que o agente não obtenha a vantagem, nem a existência de prejuízo para a vítima, pois,
mesmo se por acaso a vítima ganhe no jogo ou na aposta, o crime continuará a existir.
A tentativa é perfeitamente possível.

FRAUDE NO COMÉRCIO: Artigo 175 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, de forma indireta a moralidade do comércio.
O sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique a atividade comercial, comerciante ou
comerciários, tratando-se, pois, de crime próprio.
Sujeito passivo é a pessoa que adquire alguma coisa ou consome algum produto, que pode ser
perfeitamente um comerciante intermediário.
A descrição objetiva indica conduta de vender mercadoria falsificada ou deteriorada como verdadeira
ou perfeita, portanto, como o legislador fala venda, os demais negócios, permuta, por exemplo, estão
excluídos, podendo haver, no caso, punição por estelionato.
A outra conduta é entregar uma mercadoria por outra e, aí, pode haver o crime em qualquer negócio,
não exigindo o legislador que se trate de venda.
O objeto material do crime é a mercadoria, falsificada ou deteriorada, desde que o agente se utilize de
fraude para enganar a vítima, tendo, pois, conhecimento a respeito da falsidade ou deterioração. Exemplo
do crime é o fato da pessoa colocar no objeto deixado para o conserto, outras peças, com a intenção de
enganar a vítima.
A subjetividade exige o dolo, vontade de vender ou entregar a coisa falsificada ou deteriorada,
presente fundamentalmente o risco de prejuízo patrimonial.
A consumação ocorre com a entrega da coisa e a tentativa é possível, como o caso da pessoa que
não recebe a coisa por perceber que é falsa ou deteriorada.
Ainda dentro da fraude no comércio, destacou o legislador os negócios específicos com joias e metais
preciosos, por ser maior o prejuízo, punindo, inclusive, com penas maiores.
Na essência o crime é o mesmo, entretanto as condutas são de alterar, que significa modificar, mudar,
em obra que lhe é encomendada, qualidade ou peso do metal, ou, no mesmo caso, substituir pedra
verdadeira por falsa.
Prevê o legislador a fraude no comércio privilegiada, permitindo a aplicação do disposto no artigo 155,
§ 2º.
Distinção pode ser apresentada com o crime de fraude na entrega de coisa, onde o agente não é
comerciante. Se a mercadoria é alimentícia ou medicinal o crime será outro, contra a saúde pública. Se
o sujeito passivo for indeterminado haverá crime contra a economia popular.

OUTRAS FRAUDES: Artigo 176 do CP.


O objetivo do legislador á a proteção do patrimônio dos comerciantes que se dedicam a alimentação,
alojamento e transporte de pessoas.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique uma das condutas descritas.
Sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica que preste um dos serviços protegidos pelo legislador,
bem como qualquer funcionário que esteja a seu serviço.

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A descrição objetiva indica as condutas de: 1- tomar refeição em restaurante, onde se incluem os
semelhantes, bem como a ingestão de bebidas, desde que o consumo seja no interior do estabelecimento,
pois, fora dele o crime será de estelionato (artigo 171). 2- alojar-se em hotel, ao qual se equiparam as
casas de hospedagem, como pensão, pensionato, etc. 3- utilizar-se de meio de transporte, geralmente
aqueles em que a cobrança do serviço é no final, como a corrida de taxi, por exemplo
Se o pagamento depende da compra de bilhete de passagem e o agente entre ou sai sorrateiramente
do meio de transporte, ou utiliza bilhete falso, haverá o crime de estelionato simples
Se por algum outro motivo o agente não paga a conta, mas havendo motivo justificado, não haverá o
crime.
A subjetividade exige o dolo, que consiste na vontade de praticar um dos verbos descritivos, tendo o
agente conhecimento de que não tem dinheiro para arcar com as despesas, assim, se o agente não tem
dinheiro porque esqueceu a carteira, não haverá crime. Quem consome mais do que pode pagar pratica
o crime.
A consumação do crime ocorre com a prática da conduta, não se exigindo o prejuízo.
A tentativa, embora de difícil caracterização é possível.
Embora haja entendimento contrário o pagamento da despesa com cheques sem fundos caracteriza
o crime de fraude no pagamento por meio de cheque, se for falsificado o cheque haverá crime de
estelionato.
No caso em estudo a ação penal é pública condicionada à representação.
Em alguns casos, como a atitude famélica, poderá ser aplicado o perdão judicial.

EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT": Artigo 178 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio e, indiretamente, a regularidade comercial.
Sujeito ativo em regra é o depositário da mercadoria, entretanto, qualquer outra pessoa pode praticar
o crime.
Sujeito passivo é a pessoa que tem o título em mãos, ou aquele que compra a mercadoria deposita
e representada pelo título.
Para falar-se da descrição objetiva é necessário que se entenda, ao menos de forma superficial o
que é conhecimento de depósito e "warrant". Pode definir-se como título de crédito que representam
mercadorias depositadas em armazéns gerais e que podem livremente serem negociadas. O
conhecimento de depósito representa a propriedade sobre a mercadoria depositada e o "warrant"
representa a posse da referida mercadoria, que se encontra depositada. Os títulos referidos somente têm
existência se forem emitidos conjuntamente. Para emissão deste título devem estar preenchidos uma
série de requisitos e a emissão destes, sem obediência a estes requisitos caracteriza o crime. Assim,
pratica crime quem emite o título de mercadoria que não se encontra depositada, ou não é empresa
competente para emiti-lo, eis, pois a conduta indicada pela descrição.
A subjetividade exige o dolo, vontade de emitir o título, tendo ciência de que o faz irregularmente.
A consumação ocorre no momento em que o título é colocado em circulação, não havendo
necessidade de prejuízo.
A tentativa é impossível, pois, ou o título é endossado e entra em circulação, se consumando, ou fica
na posse do credor não havendo o crime.
O desvio da mercadoria, a título de distinção, constitui apropriação indébita.

FRAUDE À EXECUÇÃO: Artigo 179 do CP.


O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio do credor, quando há discussão judicial e,
indiretamente há proteção à administração da justiça.
Sujeito ativo do crime é o devedor que defrauda a execução praticando uma das condutas descritas
na lei, assim, qualquer pessoa, inclusive o coproprietário que tem conhecimento da execução pode
praticar o crime.
Sujeito passivo é o credor que, com a defraudação, fica sem a garantia de seu crédito.
A descrição objetiva indica como pressuposto a existência de uma ação cível em fase de execução,
ou uma ação executiva.
São diversas as condutas descritas pelo legislador. A primeira é alienar, ato através do qual se
transfere ou renuncia um patrimônio A segunda conduta é desviar, dar destino diverso à coisa que pode
garantir o crédito. A terceira é destruir ou danificar, que independe de explicação e, por fim a conduta de
simular dívidas, quando o devedor aumenta de forma irreal o passivo. Como a enumeração do legislador
é taxativa, não poderá haver crime a não ser nestas hipóteses, como a renúncia do usufruto. Não há
necessidade de penhora no processo de execução, mas, a simples citação válida.

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A subjetividade exige o dolo, ou seja, a vontade de praticar uma das condutas descritas desde que o
agente tenha conhecimento da existência do processo de execução, aliada ao dolo específico que é a
intenção de frustrar a ação do credor.
A consumação ocorre no momento em que o agente pratica a conduta descrita, devendo haver o
prejuízo para o credor, assim se com a conduta o devedor não afeta seu patrimônio, em detrimento do
credor, não haverá o crime.
A tentativa é possível.
A título de distinção deve-se lembrar que no caso da prática desta conduta por comerciante que
quebra, haverá crime falimentar. E, se for utilizada a falsificação, haverá concurso material entre estes
crimes.
A ação penal é privada, dependendo de queixa crime.

DA RECEPTAÇÃO: Artigo 180 do CP.


A definição do crime é: adquirir, receber, ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou oculte. A pena é de reclusão
de 1 a 4 anos, além da multa.
O objetivo do legislador é a proteção do patrimônio, como reforço, pois a proteção anterior não foi
suficiente para se evitar a prática do crime.
Sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, com exceção dos autores, coautores ou partícipes
do crime anterior. Até o proprietário da coisa pode praticar o crime se adquire a coisa furtada que havia
sido dada como garantia real. O advogado que recebe a título de honorários, produtos nestas
circunstâncias, pratica o crime, mesmo quando convertidas em dinheiro, tendo o profissional
conhecimento de que o cliente não poderia, face sua condição financeira, saldar o débito.
Sujeito passivo o crime é o mesmo do crime anteriormente praticado.
A descrição objetiva indica, em primeiro lugar, a presença de um pressuposto, que consiste na
ocorrência de um crime anterior, tratando-se de crime acessório, pois depende sempre da existência
anterior de outro.
Não há necessidade que o crime anterior seja contra o patrimônio, embora, em regra, a receptação
ocorra nestes casos, principalmente o crime de furto, inclusive a própria receptação, salvo no caso de
terceiro de boa-fé.
Como a lei fala em produto de crime, não existe receptação de produto de contravenção.
A punição ocorre mesmo quando o agente, no crime anterior era isento de pena por qualquer forma,
mas se o fato anterior consistiu em uma excludente da antijuridicidade, na realidade, não houve crime e,
sem anterior, não haverá a receptação.
Diferentes são as condutas descritas pelo legislador, sendo necessário a divisão do crime em
receptação própria, quando o agente pratica a conduta de adquirir, receber ou ocultar.
A receptação imprópria consiste no agente influir que outra pessoa pratique uma destas condutas.
O objeto material do crime é a coisa produto de crime e discute-se a possibilidade de receptação da
coisa imóvel, havendo decisões nos dois sentidos, entretanto, o entendimento majoritário é de que não é
possível a receptação de coisas imóveis.
O crime prevalece ainda quando o agente transforma a coisa produto de crime em dinheiro.
Os instrumentos utilizados para a prática do crime não podem ser receptados e as condutas sobre
estes objetos poderão caracterizar crime de favorecimento real ou pessoal.
A subjetividade exige o dolo, vontade de adquirir, receber ou ocultar a coisa, bem como a de influir
que terceira pessoa pratique uma destas condutas, sendo necessário, também que o agente tenha
conhecimento (certeza) de que a coisa é produto de crime, portanto, não é possível a prática deste crime
através do dolo eventual, pois, se houver dúvida ocorre a receptação culposa.
Discute-se a possibilidade de se punir o agente que toma conhecimento sobre a procedência da coisa,
após ter adquirido, alguns entendendo ser possível, entretanto, pela estrutura do crime em estudo,
verifica-se que o dolo não pode, em hipótese alguma, ser posterior à conduta e, assim, o agente somente
poderia ser punido se, após o conhecimento deste fato, influencia alguém para adquirir a coisa.
Deve estar presente, também, o dolo específico, que consiste na obtenção de proveito próprio ou para
terceiro, se a conduta visar proveito ao próprio autor do crime, haverá favorecimento real e não
receptação.
A consumação do crime ocorre no momento em que o agente pratica uma das condutas descritas e,
na modalidade de influir, no momento em que o agente inicia a influência, ocorrendo o crime mesmo que
não consiga convencer ao terceiro, tratando-se, em qualquer das modalidades, no influir, de crime formal,
embora haja entendimento de que para a consumação, no último caso, o terceiro deve adquirir, receber
ou ocultar a coisa.

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A receptação própria, por ser crime material admite a tentativa, o que não ocorre na modalidade de
influir onde a tentativa é impossível.
No caso de aquisição por parte de pessoa que pratica atividade comercial ou industrial, o crime será
outro, previsto no artigo 334 do CP. Do favorecimento real o crime de receptação diferencia-se porque
neste o agente não visa lucro, enquanto que, na receptação, a intenção de obter vantagem deve estar
presente.
É possível a continuidade delitiva neste crime, mas, se com uma única ação o agente adquire diversos
produtos, o crime será único.
Existe a figura da receptação privilegiada, admitindo-se a aplicação do § 2º do artigo 155.
Será qualificada a receptação de patrimônio de qualquer pessoa jurídica de direito público.
Prevê o legislador forma culposa para o crime de receptação, no artigo 180, § 1º.
Tal previsão encontra fundamento no dever do adquirente saber a origem da coisa que está
comprando, ou, ao menos, fazer a previsão desta origem, assim, quando o agente tem dúvida a respeito
da origem criminosa da coisa, ocorre o crime de receptação culposa.
Duas são as condutas estabelecidas pelo legislador, adquirir ou receber, estando pois, excluídas, as
condutas ocultar e influenciar para que terceiro o faça.
Pode-se inferir que existe culpa do agente quando ele demonstra não ter considerados os indícios
presentes sobra a dúvida a respeito da origem do objeto adquirido ou recebido, se era ou não produto de
crime.
A lei fala sobre os fatos que dão a entender, através da presunção de que deveria haver previsão sobre
a procedência ilícita da coisa
Em primeiro lugar refere-se o legislador à natureza da coisa, tais como peças identificadas com o nome
da vítima, coisas de conhecimento público, etc., como a caso da pessoa que adquiri o quadro La Mona
Lisa, sabendo que pertence a um museu da França.
Outra forma de indicação da ilicitude na origem da coisa, é a desproporção entre o valor pago pelo
agente e o preço real da coisa, como o exemplo da pessoa que paga por um veículo Vectra, avaliado em
R$ 35.000,00, a quantia ínfima de R$ 2,000,00.
A terceira hipótese é a condição da pessoa que oferece, pois, cada uma tem determinada condição
econômica e suas ofertas devem corresponder a esta condição, assim, não se pode adquirir ou receber
de um mendigo, uma valiosa corrente de ouro, pois, sua situação não permite possuir tal objeto, e, se o
tem, presumidamente será produto de crime.
Entretanto, como qualquer crime culposo, deve ser realizada a análise da previsibilidade subjetiva, de
acordo com o caso concreto, pois, estas indicações sofrem variações em seus limites a ponto de excluir
a culpa, por não existir a possibilidade de previsão, fato que descaracteriza o crime.
A consumação deste crime ocorre com o resultado, por ser crime culposo e a tentativa é impossível.
No caso da receptação culposa, permite-se o perdão judicial desde que o agente seja primário e se o
Juiz perceber que não será necessária a aplicação da pena, mesmo que a coisa não tenha pequeno valor.

IMUNIDADES NOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO:


Como os fatos de decorrem da convivência familiar devem, em primeiro lugar, serem discutidos entre
os parentes, sendo possível um maior dano, caso haja processo crime, do que o próprio crime em si o
legislador, para casos específicos a crimes contra o patrimônio, fez previsão de determinadas imunidades,
ou seja, casos em que não haverá a incidência da lei penal.
Estas imunidades podem ser absolutas, que estão previstas no artigo 181 do CP ou relativas, quando
se referem ao processo, conforme indica o artigo 182.
A imunidade absoluta impede a instauração de inquérito policial, da ação penal, por não ser possível,
no caso, a aplicação da sanção penal.
A relativa impede o procedimento criminal, caso não haja representação por parte da vítima ou de seu
representante.
É natural que, nos crimes contra o patrimônio, onde existe o emprego de violência ou grave ameaça,
as imunidades não prevalecem.
Tais imunidades não se comunicam entre os estranhos que, com a pessoa imune, pratique o crime.
O artigo 181 prevê as imunidades absolutas isentando de pena quando o agente pratique o crime
contra cônjuge, qualquer que seja o regime do casamento ou sendo ele praticado pelo marido ou pela
mulher, não se incluindo, no caso, as concubinas e amásias e a imunidade prevalece somente durante a
constância da sociedade conjugal e, a separação de fato, somente, não excluí a isenção de pena; contra
ascendente e descendente, os chamados parentes em linha reta, mãe/pai, filhos, avôs, e vice versa,
não se preocupando a forma de parentesco, seja legítima ou ilegítima, consanguínea ou civil, excluindo
a afinidade, para prevalência da imunidade.

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Qualquer estranho que participe do crime e não for cônjuge ou parente em linha reta, mesmo que
agindo em concurso de pessoas, com quem goze da imunidade, responderá pelo crime.
O artigo 182 prevê os casos de imunidades relativas, de cunho processual, fazendo depender de
representação os crimes praticados em prejuízo de cônjuge, mas, desta feita, quando separado
judicialmente, excluído o divórcio, não havendo imunidade neste caso. Também dependerá de
representação os crimes praticados contra parente colaterais, como o caso de irmãos, qualquer que seja
a categoria, exceto os afins (cunhados, por exemplo).
No caso de tios e sobrinhos, somente haverá a imunidade se, além do parentesco, habitaram juntos.
Contra primos não existe a imunidade.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I
DO FURTO

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável
de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº
13.330, de 2016)

Furto de coisa comum


Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

CAPÍTULO II
DO ROUBO E DA EXTORSÃO

Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou
para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

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IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além
da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

Extorsão mediante sequestro


Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
Sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por
bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

CAPÍTULO III
DA USURPAÇÃO

Alteração de limites
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:

Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;

Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.

Supressão ou alteração de marca em animais


Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
propriedade:

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Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

CAPÍTULO IV
DO DANO

Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia


Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico


Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Alteração de local especialmente protegido


Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido
por lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Ação penal
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

CAPÍTULO V
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Apropriação indébita previdenciária


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou
custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

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III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza


Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito
o proprietário do prédio;

Apropriação de coisa achada


II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.

CAPÍTULO VI
DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme
o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria


II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando
sobre qualquer dessas circunstâncias;

Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa


IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro


V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

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Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

Estelionato contra idoso


§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de
2015)

Duplicata simulada
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro
de Registro de Duplicatas.

Abuso de incapazes
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor,
ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de
produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Induzimento à especulação
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Fraude no comércio
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.

Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações


Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular:
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço
ou comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
outros títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro,
dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembleia geral;

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IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações
da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço
falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue
a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os
atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter
vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.

Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"


Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando
dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.

CAPÍTULO VII
DA RECEPTAÇÃO

Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa
concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste
artigo aplica-se em dobro.

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº 13.330,
de 2016)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

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CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Questões

01. (TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário - FCC/2016) Brutus, no interior de uma loja, a pretexto de
adquirir roupas, solicitou ao vendedor vários modelos para experimentar, mas, no interior do provador,
escondeu uma das peças dentro de suas vestes, devolveu as demais e deixou o local. Brutus cometeu
crime de
(A) furto qualificado pela fraude.
(B) apropriação indébita.
(C) furto simples.
(D) estelionato.
(E) furto de coisa comum.

02. (Polícia Científica/PE - Conhecimentos Gerais - CESPE/2016) Considere que José tenha
subtraído dinheiro de Manoel, após lhe impossibilitar a resistência. Nessa situação hipotética, fica
caracterizada a causa de aumento de pena se José tiver cometido o crime
(A) com emprego de chave falsa.
(B) com restrição da liberdade de Manoel.
(C) com destruição de obstáculo à subtração do dinheiro.
(D) mediante fraude, escalada ou destreza.
(E) durante o repouso noturno.

03. (TJ/PA - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção – IESES/2016) O ato de


adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte é tipificado como
crime de:
(A) Receptação.
(B) Apropriação indébita.
(C) Induzimento à especulação.
(D) Estelionato.

04. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP/2014) Qualifica o crime de furto, nos termos
do art. 155, § 4.º do CP, ser o fato praticado.
(A) em local ermo ou de difícil acesso.
(B) contra ascendente ou descendente.
(C) durante o repouso noturno.
(D) com abuso de confiança.
(E) mediante emprego de arma de fogo.

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05. (PC/PA - Delegado - UEPA) Usando um crachá que o identificava como oficial de justiça, um
homem entrou no escritório de uma empresa, supostamente para entregar uma intimação ao proprietário.
Enquanto a secretária foi chamar o chefe, o visitante se aproveitou de que ficara só na sala para guardar
em sua pasta um notebook e um tablet, retirando-se em seguida. Constatando-se posteriormente que o
suposto oficial de justiça havia falsificado o crachá, deveria ser indiciado:
(A) apenas por estelionato, ficando a falsificação de documento público absorvida por ser o meio
executivo da fraude cometida.
(B) apenas por furto qualificado, porque a despeito de haver fraude na conduta do agente, ele na
verdade subtraiu bens da vítima.
(C) apenas por furto qualificado pelo abuso de confiança, porque o cidadão comum tem natural
confiança na autoridade pública.
(D) por falsificação de documento público, uso de documento falso e estelionato, em concurso material.
(E) por falsificação de documento público e estelionato, em concurso material.

06. (PC/PA - Escrivão - UEPA) Em relação aos crimes patrimoniais, deve ser indiciado:
(A) por estelionato o agente que, fazendo-se passar por auditor fiscal, subtrai do escritório de uma
empresa dois notebooks que estavam sobre mesas de trabalho, enquanto os funcionários se afastam
para buscar os livros contábeis por ele exigidos.
(B) por apropriação indébita, o funcionário que retira do cofre da empresa certa quantia em dinheiro,
sem saber que havia no local uma câmera, instalada justamente para monitorar o comportamento dos
funcionários.
(C) por receptação, o comerciante que faz um acordo com assaltantes de seu bairro, por meio do qual
se compromete a comprar, para fins de revenda, peças de celulares que eles roubarem dali por diante.
(D) por extorsão mediante sequestro o indivíduo que, após tomar um casal de namorados como reféns,
libera o rapaz para buscar dinheiro, como condição para libertar a moça que continuará em seu poder até
o recebimento dos valores.
(E) por extorsão, o indivíduo que chantageia seu concorrente em um concurso público, ameaçando
apresentar provas de um crime por ele cometido, como forma de forçá-lo a desistir da vaga, que assim
será destinada ao coator.

07. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) A conduta de constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça e com o intuito de obter para si ou para outrem trem indevida vantagem
econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa caracteriza o crime de
(A) extorsão.
(B) abuso de poder.
(C) exercício arbitrário.
(D) coação no curso do processo.
(E) roubo.

08. (PC/ES - Escrivão de Polícia – FUNCAB) Elpídio, conhecido corretor, alugou uma casa para seu
amigo Márcio. Quando a inadimplência do locatário já somava quatro meses, o locador procurou Márcio
e solicitou que ele pagasse pelo menos dois meses, relatando a importância dos aluguéis para sua
subsistência. Na ocasião, Márcio solicitou mais dez dias para saldar seu débito, no que foi atendido.
Entretanto, o prazo se esgotou sem que ele efetivasse o pagamento. Indignado com a inadimplência de
seu amigo, Elpídio ameaçou Márcio com um revólver calibre 38, levando sua TV de 42”, seu DVD, seu
relógio Rolex, objetivando compensar seu prejuízo. Assim, Elpídio praticou o crime de:
(A) furto.
(B) roubo.
(C) extorsão.
(D) ameaça.
(E) exercício arbitrário das próprias razões.

09. (PC/ES - Escrivão de Polícia – FUNCAB) Vitorina, ex-funcionária da empresa de fornecimento de


energia elétrica, vestindo um uniforme antigo, foi até a casa de Pauliana dizendo que estava ali para
receber os valores da conta mensal de fornecimento de energia elétrica. Acreditando em Vitorina,
Pauliana pagou os valores a esta, que utilizou o dinheiro para comprar alguns vestidos. Entretanto, como
sempre, as contas dessa empresa eram e deveriam ser pagas na rede bancária. Logo, Vitorina praticou
o crime de:
(A) furto.

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(B) roubo.
(C) estelionato.
(D) apropriação indébita.
(E) extorsão.

10. (TJ/AL – Auxiliar Judiciário – CESPE) Acerca dos delitos de estelionato e outras fraudes e do
crime de receptação, assinale a opção correta.
(A) Constitui crime o ato de lesar o próprio corpo com o intuito de receber valor de seguro, mas não o
ato de agravar, com o mesmo fim, as consequências de lesão já sofrida.
(B) Aquele que faz refeição em restaurante, se aloja em hotel ou se utiliza de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento pratica o delito de estelionato.
(C) No que se refere ao delito de receptação qualificada, não se equipara à atividade comercial o
comércio irregular ou clandestino.
(D) Só se admite a punição pela prática do delito de receptação caso seja conhecido e punido o autor
do crime de que proveio a coisa ilícita.
(E) Tratando-se do delito de estelionato, se o criminoso é primário e é de pequeno valor o prejuízo
causado, o juiz poderá aplicar somente a pena de multa.

Respostas

01. Resposta: “A”


No Direito Penal, agir com fraude significa deliberadamente enganar os outros com o propósito de
prejudicá-los, usualmente para obter propriedade ou serviços dele ou dela injustamente. É uma manobra
enganosa destinada a iludir alguém, configurando, também, uma forma de ludibriar a confiança que se
estabelece naturalmente nas relações humanas. Assim, o agente que criar uma situação especial, voltada
a gerar na vítima um engano, tendo por objetivo praticar uma subtração de coisa alheia móvel, incide da
figura qualificada.

02. Resposta: “B”


Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
(...)
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
Importante destacar que as demais alternativas apresentadas referem-se ao crime de furto, sendo
causas qualificadoras (“A”, “C” e “D”) e de aumento de pena (“E”).

03. Resposta: “A”


É a redação do que prevê o art. 180 do CP.

04. Resposta: D
Art. 155, § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

05. Resposta: B
O furto qualificado o é assim chamado devido ao modo de execução do delito, que facilita a sua
consumação. No furto comum (ou simples), a pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Ao furto
qualificado é aplicada pena de 2 a 8 anos, e multa.
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

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§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

06. Resposta: D
É crime de extorsão mediante sequestro, disposto no art. 159 do CP, a conduta em que o indivíduo
após tomar um casal de namorados como reféns, libera o rapaz para buscar dinheiro, como condição
para libertar a moça que continuará em seu poder até o recebimento dos valores
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

07. Resposta: A
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º,
respectivamente.

08. Resposta: E
No caso acima citado, Elpídio praticou o crime de exercício arbitrário das próprias razões, previsto no
art. 345 do Código Penal.
A diferença entre a extorsão e o exercício arbitrário das próprias razões está na ilicitude da vantagem
econômica pretendida. Caracteriza a extorsão, a coação mediante grave ameaça e violência, visando
vantagem econômica indevida.
A diferença entre furto e roubo e exercício arbitrário das próprias razões: para a caracterização dos
dois primeiros, basta a subtração de algo com a intenção de obter vantagem ilícita, mero locupletamento;
ao contrário, a caracterização do último se dá com o propósito de ressarcimento (vantagem devida).
Assim, a resposta correta a ser assinalada, neste caso é a alternativa “E”.

09. Resposta: C
No caso acima, Vitorina praticou o crime de estelionato. A principal diferença que caracteriza o
estelionato e não o furto é que no primeiro a vítima entrega a coisa mediante fraude, enquanto no segundo
o agente subtrai a coisa da vítima.
No furto qualificado a fraude é empregada para iludir a atenção ou vigilância do ofendido, que nem
percebeu que a coisa está lhe sendo subtraída. No estelionato a fraude antecede o apossamento da coisa
e é (fraude) a causa de sua entrega ao agente pela vítima.
Cabe ainda diferenciar a apropriação indébita do estelionato, tendo em vista que na apropriação
indébita o dolo surge após o recebimento da posse ou detenção, enquanto que no estelionato o dolo é
anterior. Ao contrário do furto e do estelionato na apropriação indébita inexiste subtração ou fraude. O
agente tem a anterior posse da coisa alheia, que lhe foi confiada pelo ofendido, mas inverte a posse,
passa a agir como se fosse dono da coisa.
Assim, o delito tipificado é o previsto no artigo 171 do CP:
Art. 171, CP - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita (a vantagem deve ser ilícita, caso contrário
o crime será o de "exercício arbitrário das próprias razões), em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo

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alguém em erro, mediante artifício (é a utilização de algum aparato ou objeto para enganar a vítima), ardil
(é a conversa enganosa), ou qualquer outro meio fraudulento.

10. Resposta: E
Existe a forma privilegiada para o crime de estelionato, para tanto, o agente deve ser primário e o
prejuízo causado à vítima deve ser de pequeno valor, inferior a um salário mínimo. Assim prevê a norma:
Art. 171, § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º.
Desse modo, a alternativa correta é a E, as consequências do privilégio são as mesmas do furto
privilegiado, art. 155, § 2º:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

6.2.3 Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra a


Administração em Geral – artigos 312 a 327

PECULATO

O peculato visa proteger a probidade administrativa (patrimônio público). Em todas as modalidades de


peculato, tutela-se a Administração Pública, tanto em seu aspecto patrimonial, consistente na
preservação do erário, como também em sua face moral, representada pela lealdade e probidade dos
agentes públicos.
O sujeito ativo é o funcionário público e o sujeito passivo é o Estado, visto como Administração
Pública. Pode existir um sujeito passivo secundário (particular).
O pressuposto do peculato é a posse da coisa pela Administração Pública. O dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel precisa estar na posse do funcionário público. A palavra deve ser interpretada
em sentido amplo, abrangendo tanto a posse direta como a posse indireta, e também a detenção. A lei é
clara ao exigir que a posse deva ser em razão do cargo: é imprescindível a relação de causa e efeito
entre ela (posse) e este (cargo). Não é pelo fato de ser funcionário público que o sujeito deve
automaticamente responder pelo crime de peculato. A finalidade da lei é outra. Somente estará
caracterizado o crime de peculato quando o sujeito comete a apropriação, o desvio ou a subtração em
razão das facilidades proporcionadas pelo seu cargo.

Podemos dividir o peculato em dois grandes grupos; doloso e culposo:


a) Peculato Doloso:
- Peculato-apropriação: art. 312, caput, primeira parte.
- Peculato-desvio: art. 312, caput, segunda parte.
- Peculato-furto: art. 312, § 1.º.
- Peculato mediante erro de outrem: art. 313.

b) Peculato Culposo:
- O peculato culposo está descrito no art. 312, § 2.º, do Código Penal.

1. PECULATO APROPRIAÇÃO:
a) apropriar-se;
b) funcionário público;
c) dinheiro, valor, bem móvel, público ou privado;
d) posse em razão do cargo;
e) proveito próprio ou alheio.

Elementos objetivos do tipo: O núcleo é “apropriar-se”, ou seja, fazer sua a coisa alheia. A pessoa
tem a posse e passa a agir como se fosse dona. O agente muda a sua intenção em relação à coisa. O
fundamento é a posse lícita anterior.
No caso da posse em razão do cargo, temos que a posse está com a Administração. O bem tem de
estar sob custódia da Administração. Exemplo: Um automóvel apreendido na rua vai para o pátio da
Delegacia; o policial militar subtrai o aparelho de DVD. Ele praticou peculato-furto, pois não tinha a posse

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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do bem. Se o funcionário fosse o responsável pelo bem, seria caso de peculato-apropriação. Se o carro
estivesse na rua, seria furto.
No “peculato-apropriação” e no “peculato mediante erro de outrem” o núcleo do tipo é a apropriação,
ou seja, a posse anterior lícita; a diferença está no erro de outrem.

Objeto material: Dinheiro, valor ou bem móvel. Tudo que for imóvel não é admitido no peculato. O
crime que admite imóvel é o estelionato.

Consumação: A consumação do peculato-apropriação se dá no momento em que ocorreu a


apropriação: quando o agente inverteu o animus, quando passou a agir como se fosse dono.

Concurso de pessoas: A condição de funcionário público é elementar do peculato, razão pela qual
comunica-se a todos aqueles que tenham concorrido de qualquer modo para o crime (coautoria ou
participação), mesmo em se tratando de pessoas alheias aos quadros públicos, contudo, desde que elas
tenham conhecimento dessa qualidade do autor. No caso de ser desconhecida a condição de funcionário
público pelo outro agente a comunicabilidade não se aplica.

2. PECULATO-DESVIO: Artigo 312, Segunda Parte, do Código Penal. No peculato-desvio o que muda
é apenas a conduta, que passa a ser “desviar”. Desviar é alterar a finalidade, o destino. Exemplo: existe
um contrato que prevê o pagamento de certo valor por uma obra. O funcionário paga esse valor, sem a
obra ser realizada. Nesse caso, há peculato-desvio. Liberação de dinheiro para obra superfaturada
também é caso de peculato-desvio.

Elemento subjetivo do tipo: O elemento subjetivo do tipo é a intenção do desvio para proveito próprio
ou alheio. O funcionário tem de ter a posse lícita da coisa. Se alguém desviar em proveito da própria
Administração, haverá outro crime, qual seja, uso ou emprego irregular de verbas públicas (art. 315 do
CP).

3. PECULATO-FURTO: Artigo 312, § 1.º, do Código Penal. Funcionário público que, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Nesse caso é aplicada a
mesma pena.
A conduta é subtrair, ou seja, tirar da esfera de proteção da vítima, de sua disponibilidade. Outra
conduta possível é a de concorrer dolosamente.
Não basta ser funcionário público; ele precisa se valer da facilidade que essa qualidade lhe proporciona
(a execução do crime é mais fácil para ele). Por facilidade, entende-se crachá, segredo de cofre etc. Um
funcionário público pode praticar furto ou peculato-furto, dependendo se houve, ou não, a facilidade.

Consumação e tentativa: O crime consuma-se com a efetiva retirada da coisa da esfera de vigilância
da vítima. A tentativa é possível.

4. PECULATO CULPOSO: Artigo 312, § 2.º, do Código Penal. São requisitos do crime de peculato
culposo: a conduta culposa do funcionário público e que terceiro pratique um crime doloso, aproveitando-
se da facilidade provocada por aquela conduta.

Consumação e tentativa: Peculato culposo é crime independente do crime de outrem, mas estará
consumado quando se consumar o crime de outrem. Não há tentativa de peculato culposo, pois não existe
tentativa de crime culposo. Se o crime de outrem é tentado, este responderá por tentativa, porém o fato
é atípico para o funcionário público.

Reparação de danos no peculato culposo – Artigo 312, § 3.º, do Código Penal: É a devolução do
objeto ou o ressarcimento do dano. É preciso ficar atento para as seguintes regras:
- Se a reparação do dano for anterior à sentença irrecorrível (antes do trânsito em julgado – primeira
ou segunda instância), extingue a punibilidade.
- Se a reparação do dano for posterior à sentença irrecorrível (depois do trânsito em julgado), ocorre
a diminuição da pena, pela metade.

Atenção: No peculato doloso não se aplicam essas regras.

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5. PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM: Não é um estelionato, pois o erro da vítima não é
provocado pelo agente. O núcleo do tipo é apropriar-se (para tanto, é preciso posse lícita anterior). Na
verdade, é um peculato-apropriação, diferenciado pelo erro da vítima.
O erro de outrem tem de ser espontâneo, e o recebimento, por parte do funcionário de boa-fé. Não há
fraude. Exemplo: Pessoa deve dinheiro para a Prefeitura, erra a conta e paga a mais. O funcionário recebe
o dinheiro sem perceber o erro. Depois, ao perceber o erro, apropria-se do excedente – trata-se de
peculato mediante erro.
O elemento subjetivo é o dolo de se apropriar. O crime consuma-se no momento da apropriação, ou
seja, no momento em que o agente passa a agir como se fosse dono.
Em síntese, o erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (vítima) deve ser
espontâneo, pouco importando qual a sua causa; se dolosamente provocado pelo funcionário público,
estará configurado o crime de estelionato (art. 171 do CP).

Antes de encerrarmos o tema cabe ainda um comentário acerco do peculato de uso. Considera-se a
existência do peculato de uso na hipótese em que o funcionário público apropria-se, desvia, subtrai bem
móvel, público ou particular que se encontra sob a custódia da Administração Pública, para
posteriormente restituí-lo. A doutrina diverge sobre a possibilidade de admitir-se a figura do peculato de
uso. Uma primeira corrente entende que a intenção (falsa ou verdadeira) de restituir o bem móvel de que
o agente apropriou-se, desviou ou subtraiu não exclui o peculato doloso, pouco importando se o
funcionário público possui recursos financeiros para tanto, bem como se a coisa era fungível ou infungível.
Não admite, portanto, a figura do peculato de uso. Também não se afasta o crime com a prova de que se
produziu alguma vantagem para a Administração Pública, pois a vantagem indevida não deve aproveitar
ao Estado. Se a coisa móvel é utilizada em fim diverso daquele a que era destinado, desde que o agente
vise a proveito próprio ou alheio, apresenta-se o peculato na modalidade desvio. Por outro lado, há quem
admita o peculato de uso, considerando-o fato irrelevante. Para os partidários dessa linha de pensamento,
é atípico o fato relacionado ao uso momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de incorporá-la ao
patrimônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral restituição a quem de direito.

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Bem jurídico: interesse em preservar o patrimônio público e garantir o respeito à probidade


administrativa.
Sujeitos:
a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso com particular.
b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e as demais pessoas mencionadas
no artigo 327, §1º. Secundariamente, o particular que sofreu o dano.
Tipo objetivo: Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados
corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter
vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
Tipo subjetivo: O dolo e o elemento subjetivo especial do tipo – fim especial de agir – consubstanciado
na expressão com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.

Consumação: por se tratar de crime formal, ocorre com a concreção de qualquer uma das condutas,
não se exigindo a obtenção da vantagem indevida nem que haja o dano almejado (exaurimento).
Tentativa: Admissível, por ser o crime plurissubsistente.
Pena e Ação penal: A pena é de dois a doze anos de reclusão, além da multa, e a ação é pública
incondicionada.

MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Bem jurídico: O interesse em se preservar o normal funcionamento da Administração Pública,


especialmente o seu patrimônio e o do administrado, bem como assegurar o prestígio que deve gravitar
em torno dos atos daquela.
Sujeitos:
a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso como particular.
b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e demais pessoas mencionadas
no artigo 327, §1º, bem como o particular que sofreu o dano.
Tipo objetivo: Modificar ou alterar sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente.

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Tipo subjetivo: O dolo.
Consumação: Por se tratar de crime formal, dá-se no momento da concreção de qualquer uma das
condutas, não se exigindo a superveniência de dano, que, no caso, qualifica o crime.
Tentativa: Admissível, por ser o crime plurissubsistente.

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO

Seguindo a regra dos demais crimes deste Capítulo, o bem jurídico tutelado é a Administração Pública.
Sujeitos ativo e passivo. Como não poderia deixar de ser, o sujeito ativo é somente o funcionário
público, sendo a vítima o Estado e, eventualmente, o particular que tem documento sob a guarda da
Administração.
A lei pune três condutas:
- extraviar: fazer desaparecer, ocultar;
- sonegar: sinônimo de não apresentar, não exibir quando alguém o solicita;
- inutilizar: tornar imprestável.
Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado – a prática de duas
ou mais condutas, no mesmo contexto fático e contra o mesmo bem jurídico, caracteriza um único crime.

Nas três hipóteses a conduta deve recair sobre livro oficial, que é aquele pertencente à Administração
Pública, ou sobre qualquer documento público ou particular que esteja sob a guarda da Administração.
Nos termos da lei, o crime subsiste ainda que a conduta atinja parcialmente o livro ou documento.
Elemento subjetivo. O dolo.
Consumação. A infração penal se consuma com o extravio ou inutilização, ainda que parcial e
independentemente de qualquer outro resultado.
Já na modalidade sonegar, o crime se consuma no instante em que o agente deveria fazer a entrega
e, intencionalmente, não o faz. Nessa hipótese, bem como nos casos de extravio, o crime é permanente.
Tentativa. A tentativa não é admissível apenas na modalidade omissiva (sonegar).
Distinção. Aquele que inutiliza documento ou objeto de valor probatório que recebeu na qualidade de
advogado ou procurador comete o crime do art. 356 do Código Penal. Por outro lado, o particular que
subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à Administração
comete o crime do art. 337 do Código Penal.
Absorção. A própria lei estabelece que esse crime é subsidiário, ou seja, deixa de existir se o fato
constitui crime mais grave, como corrupção passiva (art. 317), supressão de documento (art. 305) etc.

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS

Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em dar aplicação, e tem como objeto as verbas ou
rendas públicas.
Sujeitos:
a) ativo: funcionário público.
b) passivo: o Estado, secundariamente, a entidade de direito público prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico, nem se pune a forma
culposa.
Objetos material e jurídico. Objeto material é a verba ou a renda pública, objeto jurídico é a
administração pública, em seus interesses patrimonial e moral.
Classificação. Crime próprio, material, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente, omissivo
impróprio, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente; admite tentativa.

CONCUSSÃO

O crime de concussão guarda certa semelhança com o delito de corrupção passiva, principalmente no
que se refere à primeira modalidade desta última infração (solicitar vantagem indevida). Na concussão,
porém, o funcionário público constrange, exige a vantagem indevida. A vítima, temendo alguma
represália, cede à exigência. Na corrupção passiva (em sua primeira figura) há mero pedido, mera
solicitação. A concussão, portanto, descreve fato mais grave e, por isso, deveria possuir pena mais
elevada. Ocorre que, após o advento da Lei n. 10.763/2003, a pena de corrupção passiva passou, por
incrível que pareça, a ser maior que a de concussão.

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Nesse crime, o funcionário público faz exigência de uma vantagem. Essa exigência carrega,
necessariamente, uma ameaça à vítima, pois do contrário haveria mero pedido, que caracterizaria a
corrupção passiva.
Assim, o crime de concussão é diferente do crime de corrupção passiva. A diferença está no núcleo
do tipo. A concussão tem por conduta exigir; é um “querer imperativo”, que traz consigo uma ameaça,
ainda que implícita. A corrupção passiva tem por conduta solicitar, receber, aceitar promessa.
Na concussão, há vítima na outra ponta. A concussão é uma extorsão praticada por funcionário público
em razão da função.
Exigir significa coagir, obrigar. A ameaça pode ser implícita ou explícita e, ainda assim, será
concussão. O agente pode exigir direta ou indiretamente – por meio de terceiro, ou por outro meio
qualquer.

Desta forma, a ameaça pode ser:


- explícita: exigir dinheiro para não fechar uma empresa, para não instaurar inquérito, para permitir o
funcionamento de obras etc.;
- implícita: não há promessa de um mal determinado, mas a vítima fica amedrontada pelo simples
temor que o exercício do cargo público inspira.

A exigência pode ser ainda:


- direta: quando o funcionário público a formula na presença da vítima, sem deixar qualquer margem
de dúvida de que está querendo uma vantagem indevida;
- indireta: o funcionário se vale de uma terceira pessoa para que a exigência chegue ao conhecimento
da vítima ou a faz de forma velada, capciosa, ou seja, o funcionário público não fala que quer a vantagem,
mas deixa isso implícito.

A concussão é uma forma especial de extorsão praticada por funcionário público com abuso de
autoridade. Deve, assim, haver um nexo entre a represália prometida, a exigência feita e a função
exercida pelo funcionário público.
Por isso, se o funcionário público empregar violência ou grave ameaça referente a mal estranho à
função pública, haverá crime de extorsão ou roubo. Ex.: um policial aponta um revólver para a vítima e,
mediante ameaça de morte, pede que ela lhe entregue o carro.
Na concussão não é necessário que o funcionário público esteja trabalhando no momento da
exigência. O próprio tipo diz que ele pode estar fora da função (horário de descanso, férias, licença) ou,
até mesmo, nem tê-la assumido (quando já passou no concurso, mas ainda não tomou posse). O que é
necessário é que a exigência diga respeito à função pública e as represálias a ela se refiram.
Se o crime for cometido por policial militar estará configurado o crime do art. 305 do Código Penal
Militar, que é igualmente chamado de concussão.
Se alguém finge ser policial e exige dinheiro para não prender a vítima, não há concussão, porque o
agente não é funcionário público. Responderá, nesse caso, por crime de extorsão (art. 158).
Concluindo, a concussão é um crime em que a vítima é constrangida a conceder uma vantagem
indevida a funcionário público em razão do temor de uma represália imediata ou futura decorrente de
exigência feita por este e relacionada necessariamente com sua função.
A vantagem exigida tem de ser indevida. Se for devida, haverá crime de abuso de autoridade do art.
4º, h, da Lei n. 4.898/65, em razão da ameaça feita.
A lei se refere a vantagem indevida:
- Damásio E. de Jesus, Nélson Hungria e M. Noronha entendem que deve ser vantagem patrimonial.
- Júlio F. Mirabete e Fernando Capez, por outro lado, dizem que pode ser qualquer espécie de
vantagem, uma vez que a lei não faz distinção. Ex.: proveitos patrimoniais, sentimentais, de vaidade,
sexuais etc.
O agente deve visar proveito para ele próprio ou para terceira pessoa.
Como na concussão o funcionário público faz uma ameaça explícita ou implícita, se a vítima vier a
entregar o dinheiro exigido, não cometerá corrupção ativa, uma vez que somente o terá feito por se ter
sentido constrangida.
Consumação. O crime de concussão consuma-se no momento em que a exigência chega ao
conhecimento da vítima, independentemente da efetiva obtenção da vantagem visada. Trata-se de crime
formal. A obtenção da vantagem é mero exaurimento.
Não desnatura o crime, portanto, a devolução posterior da vantagem (mero arrependimento posterior
— art. 16 do CP) ou a ausência de prejuízo.

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Um policial exige hoje a entrega de certa quantia em dinheiro. A vítima concorda e se compromete a
entregar a quantia em um lugar determinado, três dias depois. Ela, entretanto, chama outros policiais,
que prendem o sujeito na hora da entrega. Há flagrante provocado?
No flagrante provocado o sujeito é induzido a praticar um crime, mas se tomam providências que
inviabilizam totalmente a sua consumação. Nesse caso, não há crime, pois se trata de hipótese de crime
impossível (Súmula 145 do STF).
Assim, na questão em análise, verifica-se não ter ocorrido o flagrante provocado, pois não houve
qualquer provocação, ou seja, ninguém induziu o policial a fazer a exigência. Temos, na hipótese, um
crime de concussão consumado, já que a infração se aperfeiçoou com a simples exigência que ocorrera
três dias antes da data combinada para a entrega do dinheiro.
Tentativa. É possível a tentativa. Exemplos: a) peço para terceiro fazer a exigência à vítima, mas ele
morre antes de encontrá-la; b) uma carta contendo a exigência se extravia.
Sujeitos.
a) ativo: somente o funcionário público.
b) passivo: Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou a pessoa diretamente
prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se o elemento subjetivo específico, consistente em destinar
a vantagem para i ou para outra pessoa. Não existe forma culposa.
Objetos material e jurídico. Objeto material é a vantagem indevida e objeto jurídico é a administração
púbica (aspectos material e moral).
Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo e, excepcionalmente, omissivo
impróprio, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissusistente, forma em que admite tentativa.

EXCESSO DE EXAÇÃO

Exação é a cobrança pontual de impostos. Pune-se o excesso, sabido que o abuso de direito é
considerado ilícito. Assim, quando o funcionário público cobre imposto além da quantia efetivamente
devida, comete o excesso de exação.
Análise do núcleo do tipo. Há duas formas para compor o excesso de exação: a) exigir o pagamento
de tributo ou contribuição sindical indevidos; b) empregar meio vexatório na cobrança.
Na primeira modalidade, o funcionário público exige tributo ou contribuição social que sabe ou deve
saber indevido, sem amparo válido para cobrança, seja porque seu valor já foi pago pela vítima, seja
porque a quantia cobrada é superior à fixada em lei. A palavra “indevido” funciona como elemento
normativo do tipo. Na outra hipótese, o tributo ou contribuição social é devido. Entretanto, o funcionário
público emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, não autorizado por lei. Meio vexatório é o que
desonra e humilha a vítima; meio gravoso é o que acarreta maiores despesas ao contribuinte.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, nas modalidades direta e indireta. Não há elemento subjetivo do
tipo, nem se pune a forma culposa.
Elemento normativo do tipo. Meio vexatório é o que causa vergonha ou ultraje; gravoso é o meio
oneroso ou opressor.
Norma em branco. É preciso consultar os meios de cobrança de tributos e contribuições, instituídos
em lei específica, para apurar se está havendo excesso de exação.
Objetos material e jurídico. O objeto material é o tributo ou a contribuição social. O objeto jurídico é
a administração pública (interesses material e moral).
Classificação: crime próprio, formal na forma exigir e material na modalidade empregar na cobrança,
de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, forma
em que se admite tentativa.

CORRUPÇÃO PASSIVA

Na corrupção passiva não há ameaça, nem constrangimento. Se o funcionário pede e a pessoa coloca
a mão dentro do bolso e entrega, não é caso de corrupção ativa, pois não existe tipificação para entregar,
só para prometer, oferecer. Só há corrupção passiva nesse caso.
Na modalidade solicitar, onde a iniciativa é do funcionário público, não há crime de corrupção ativa, e
sim de corrupção passiva.
Já, nas modalidades de receber e aceitar promessa, ocorre corrupção ativa na outra ponta, pois a
iniciativa foi de terceiro.
Vantagem indevida na corrupção passiva é para que o funcionário faça alguma coisa, deixe de fazer,
ou então retarde.

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A consumação ocorre quando houver a solicitação, o recebimento ou a aceitação da vantagem. A
consumação não depende da prática ou da omissão de ato por parte do funcionário. O recebimento da
vantagem só é importante para a modalidade receber.

Elementos Objetivos do Tipo:


- Solicitar, pedir. Quem pede não constrange, não ameaça, simplesmente pede. A atitude de solicitar
é iniciativa do funcionário público.
- Receber, entrar na posse. É preciso ao menos o indício de que a pessoa entrou na posse.
- Aceitar promessa, concordar com a proposta. Pode ser por silêncio, gesto, palavra. A iniciativa é de
terceiro que faz a proposta. Alguém propõe e o funcionário aceita.

Corrupção Passiva Privilegiada – § 2º: A corrupção passiva privilegiada ocorre com pedido ou
influência de outrem. Corrupção privilegiada é um crime material – praticar, deixar de praticar.

DA FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO

Conduta típica. É a facilitação com violação do dever funcional do descaminho ou contrabando. Para
configurar a prática do delito previsto no art. 318 do CP, é necessário que o funcionário público esteja
investido na função de fiscalizar a entrada e a saída de mercadorias do território nacional.
Contrabando. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização seja proibida.
Descaminho. É a importação ou exportação de mercadorias cuja comercialização seja legalmente
permitida com a ocorrência de fraude no pagamento de tributos.
Competência. Pelo disposto no art. 144 da CF/88, julgar pessoas incursas na prática do presente
delito é de competência da justiça federal, sendo a polícia federal a competente para efetuar as prisões.
Por convênio firmado entre o ex-governador de Minas Gerais, Hélio Garcia, e o ex-ministro da justiça
à época, aqui é competente para fiscalizar e reprimir o tráfico ilícito de drogas a Polícia Civil do estado.
Tipo remetido. A facilitação de contrabando ou descaminho é considerado como tipo remetido porque
remete ao delito do contrabando ou descaminho (art. 334 do CPB).
Exceção à teoria unitária. Se alguém facilita a prática do delito previsto no art. 334 do CP deveria
responder pelo delito previsto no art. 318 do CPB (facilitação de contrabando ou descaminho) bem como
pelo contrabando ou descaminho (art. 334 do CPB), entretanto, temos aqui mais uma vez a teoria
pluralística sendo aplicada, configurando mais uma exceção à teoria unitária, vez que uma pessoa é quem
facilita o contrabando ou descaminho e outra é quem pratica o contrabando ou descaminho.
Defesa preliminar. No tipo penal ora estudado (da facilitação de contrabando ou descaminho - Art.
318 do CPB) não há a incidência de possibilidade da defesa preliminar do funcionário público.

PREVARICAÇÃO

Podemos definir, a prevaricação como a infidelidade ao dever de ofício, à função exercida. É o não-
cumprimento pelo funcionário público das obrigações que lhe são inerentes, em razão de ser guiado por
interesses ou sentimentos próprios.
Objeto jurídico. Proteger o prestígio da Administração Pública
Sujeitos.
a) Ativo. Funcionário público no exercício da função
b) Passivo. O Estado
Análise do núcleo do tipo. "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-
lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal".
O tipo penal tem seu núcleo composto por 3 verbos: retardar, deixar de praticar, praticar.
Classificação. Crime próprio - somente pode ser praticado por funcionário público, se retirada a
qualidade o fato torna-se atípico - formal - comissivo - instantâneo - unissubjetivo - plurissubsistente - de
ação múltipla - de conteúdo variado ou alternativo.
Elemento subjetivo do tipo. É o dolo, ou seja, a vontade específica de prevaricar. O interesse pessoal
está ligado ao sentimental.
Consumação. O crime se consuma com a omissão, retardamento ou realização do ato.
Tentativa. Não é possível nas formas omissivas (omitir ou retardar), pois ou o crime está consumado
ou o fato é atípico. Na forma comissiva, a tentativa é possível.
Figura equiparada. A Lei n. 11.466, de 28 de março de 2007, criou nova figura ilícita no art. 319-A do
Código Penal, estabelecendo que a mesma pena prevista para o crime de prevaricação será aplicada ao
diretor de penitenciária e/ou agente público que deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso

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a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo. O legislador entendeu necessária a criação desse tipo penal em face da constatação
de que presos têm tido fácil acesso a telefones celulares ou aparelhos similares, e que os agentes
penitenciários não vêm dando o combate adequado a esse tipo de comportamento. Assim, a Lei n.
11.466/2007, além de criar essa figura capaz de punir o agente penitenciário que se omita em face da
conduta do preso, estipulou também que este, ao fazer uso do aparelho, incorre em falta grave — que
tem sérias consequências na execução criminal (art. 50, VII, da Lei de Execuções Penais, com a redação
dada pela Lei n. 11.466/2007). Com essas providências pretende o legislador evitar que presos
comandem suas quadrilhas do interior de penitenciárias e que deixem de cometer crimes com tais
aparelhos, pois é notório que enorme número de delitos de extorsão vêm sendo cometidos por pessoas
presas, por meio de telefonemas.
Diferença entre a prevaricação comum e a militar. A prevaricação comum está prevista no art. 319
do CP e é punida com pena de detenção de 3 meses a 1 ano mais multa, sendo aplicada a normatização
prevista na lei 9.099/95. A prevaricação militar está prevista no art. 319 do CPM e é punida com pena de
6 meses a 2 anos. Verifica-se então que a diferença principal entre as duas tipificações do delito está na
pena aplicada.

Principais aspectos.
1) Na corrupção passiva, o funcionário público negocia seus atos, visando uma vantagem indevida.
Na prevaricação isso não ocorre. Aqui, o funcionário público viola sua função para atender a objetivos
pessoais.
2) O agente deve atuar para satisfazer:
a) interesse patrimonial (desde que não haja recebimento de vantagem indevida, hipótese em que
haveria corrupção passiva) ou moral;
b) sentimento pessoal, que diz respeito à afetividade do agente em relação a pessoas ou fatos. Ex.:
Permitir que amigos pesquem em local público proibido. Demorar para expedir documento solicitado por
um inimigo. O sentimento, aqui, é do agente, mas o benefício pode ser de terceiro.
O atraso no serviço por desleixo ou preguiça não constitui crime. Se fica caracterizado, todavia, que o
agente, por preguiça, rotineiramente deixa de praticar ato de ofício, responde pelo crime. Ex.: delegado
que nunca instaura inquérito policial para apurar crime de furto, por considerá-lo pouco grave.
3) A prevaricação não se confunde com a corrupção passiva privilegiada. Nesta, o agente atende a
pedido ou influência de outrem.
Na prevaricação não há tal pedido ou influência. O agente visa satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.
Se um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregularidade e deixa de multá-lo em razão de
insistentes pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada; mas se o fiscal deixa de multar a pessoa
porque percebe que se trata de um antigo amigo, comete prevaricação.
4) O tipo exige que a conduta do funcionário público seja indevida apenas nas duas primeiras
modalidades (retardar e deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício). Na última hipótese prevista no
tipo (praticar ato de ofício), a conduta deve ser “contra expressa previsão legal”. Temos, neste último
caso, uma norma penal em branco, pois sua aplicação depende da existência de outra lei.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA

Definição jurídica. A condescendência criminosa consiste em "deixar o funcionário, por indulgência,


de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente, punível com pena de
detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa".
A terminologia é imprópria porque não se trata apenas do fato de um funcionário público ser
condescendente com outro que tenha tido conduta criminosa, mas também, se aquele tiver cometido
qualquer falta disciplinar.
A condescendência criminosa é praticada pelo funcionário público que, por indulgência, benevolência
ou tolerância, deixa de responsabilizar subalterno hierárquico que tenha cometido crime, contravenção
penal ou qualquer falta disciplinar. Também comete o delito em estudo o funcionário público que, embora
não seja superior hierárquico daquele que tenha cometido crime, contravenção penal ou qualquer falta
disciplinar, deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade competente para puni-lo.
Bem jurídico. A Administração Pública
Sujeitos
a) ativo. Funcionário público

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b) passivo. O Estado
Tipo subjetivo. Indulgência, benevolência ou tolerância; no Direito Penal Militar, além disso, a
negligência.
Condutas típicas
Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo;
Deixar o funcionário, por indulgência, de levar ao conhecimento de autoridade competente para punir,
o fato de que outro funcionário público tenha cometido infração no exercício do cargo, evitando assim que
o infrator seja responsabilizado.
Consumação. Com a omissão
Tentativa. Inadmissível porque o delito é omissivo próprio.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA

Definição jurídica. O termo advocacia é impróprio e indevido pois nada tem a ver com a função do
advogado. O delito consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a
administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário; punível com pena de detenção, de 1 (um)
a 3 (três) meses, ou multa. Se o interesse é ilegítimo a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, além da multa". No Direito Penal Militar a incorreição no nomem iuris é desfeita, naquele diploma
legal a nomenclatura usada é "patrocínio indébito". Importa salientar que no projeto de reforma do CPB o
presente tipo adota a nomenclatura do CPM.
Análise do núcleo do tipo. O verbo núcleo do tipo é patrocinar, significa proteger ou beneficiar. É a
figura do funcionário público relapso que relega seu serviço a um segundo plano e passa a defender
interesses privados, legítimos ou ilegítimos, ante a Administração Pública.

Sujeitos
a) ativo. Funcionário público
b) passivo. A Administração Pública

Desnecessidade de ser advogado. Tendo em vista que o funcionário público é impedido de exercer
a advocacia, é desnecessária a qualidade de advogado ao autor para que o delito se configure.

Outras condutas
Lei 8.137/90, art. 3º, inc. III - funcionário público patrocinado interesse privado contra a Administração
Fazendária;
Lei 8.666/93, art. 94 - funcionário público patrocinado interesse privado no âmbito das licitações.

ABANDONO DE FUNÇÃO

Protege a lei nesse dispositivo a regularidade e o normal desempenho das atividades públicas, no
sentido de evitar que os funcionários públicos abandonem seus postos de forma a gerar perturbação ou
até mesmo a paralisação do serviço público.
Sujeitos ativo e passivo. Apesar de o delito ter o nome de “abandono de função”, percebe-se pela
descrição típica que o crime somente existe com o abandono de cargo, não prevalecendo a regra do art.
327 do Código Penal, que define funcionário público como ocupante de cargo, emprego ou função pública.
Assim, em razão da ressalva constante do tipo penal, pode-se concluir que sujeito ativo desse crime pode
ser apenas quem ocupa cargo público (criado por lei, com denominação própria, em número certo e pago
pelos cofres públicos). Sujeito passivo é o Estado.
Abandonar significa deixar o cargo. Para que esteja configurado o abandono é necessário que o agente
se afaste do seu cargo por tempo juridicamente relevante, de forma a colocar em risco a regularidade dos
serviços prestados. Assim, não há crime na falta eventual, bem como no desleixo na realização de parte
do serviço, que caracterizam apenas falta funcional, punível na esfera administrativa.
Não há crime também quando a ausência se dá nos casos permitidos em lei, como, por exemplo, com
autorização da autoridade competente, para prestação de serviço militar etc.
Por se tratar de crime doloso, não há crime quando o abandono ocorre em razão de força maior (prisão,
doença etc.).
A doutrina tem sustentado também que não existe crime na suspensão, ainda que prolongada, do
trabalho por parte de funcionário público — mesmo que de função essencial — quando se trata de ato

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coletivo na luta por reivindicações da categoria, ou seja, nos casos de greve (enquanto não declarada
ilegal).
Consumação. O crime se consuma com o abandono do cargo por tempo juridicamente relevante,
ainda que não decorra efetivo prejuízo para a Administração. Aliás, o §1º estabelece uma forma
qualificada, quando o abandono traz como consequência prejuízo ao erário.
Tentativa. Por se tratar de crime omissivo puro, não se admite a tentativa.
Por fim, a pena será exasperada se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira
(compreende a faixa de 150 quilômetros ao longo das fronteiras nacionais — Lei n. 6.634/79).

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO

Análise do núcleo do tipo. Entrar no exercício significa iniciar o desempenho de determinada


atividade; continuar a exercê-la quer dizer prosseguir no desempenho de determinada atividade. O objeto
é a função pública.
Sujeitos.
a) ativo: somente funcionário público nomeado, porém sem ter tomado posse; na segunda hipótese,
há de estar afastado ou exonerado.
b) passivo: Estado.
Elemento subjetivo do tipo. É o dolo. Não se exige elemento subjetivo específico, nem se pune a
forma culposa. Na segunda figura, há apenas o dolo direto. Inexiste forma culposa.
Elemento normativo do tipo. A expressão “sem autorização” indica a ilicitude da conduta, ao passo
que a continuidade do exercício, devidamente permitida pela administração pública, não configura o tipo
penal.
Objetos material e jurídico. O objeto material é a função pública e o objeto jurídico é a administração
pública, nos interesses material e moral.
Classificação. Crime próprio, delito de mão própria, formal, de forma livre, comissivo e,
excepcionalmente, omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente; admite tentativa.

VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL

Condutas típicas. Esta infração penal visa resguardar o regular funcionamento da Administração
Pública, que pode ser prejudicado pela revelação de certos segredos. Por isso, será punido o funcionário
público que revelar ou facilitar a revelação desses segredos, desde que deles tenha tido conhecimento
em razão de seu cargo. O segredo a que se refere este dispositivo é aquele cujo conhecimento é limitado
a número determinado de pessoas e cuja divulgação afronte o interesse público pelas consequências que
possam advir.
A conduta de revelar segredo caracteriza-se quando o funcionário público intencionalmente dá
conhecimento de seu teor a terceiro, por escrito, verbalmente, mostrando documentos etc. Já a conduta
de facilitar a divulgação de segredo, também chamada de divulgação indireta, dá-se quando o funcionário,
querendo que o fato chegue a conhecimento de terceiro, adota determinado procedimento que torna a
descoberta acessível a outras pessoas, como ocorre no clássico exemplo de deixar anotações ou
documentos em local que possa ser facilmente visto por outras pessoas.
Comete crime o servidor público incumbido de elaborar provas de concurso público que, antes da
prova, faz chegar ao conhecimento de alguns candidatos as questões que serão abordadas.
Sujeitos ativo e passivo. Apenas o funcionário público pode ser sujeito ativo. Predomina na doutrina
o entendimento de que mesmo o funcionário aposentado ou afastado pode cometer o delito, pois o
interesse público na manutenção do sigilo permanece. O crime admite a coautoria e também a
participação — de outro funcionário público ou de particular que colabore com a divulgação. A doutrina,
contudo, salienta que o particular que se limita a tomar conhecimento do fato divulgado não comete o
delito.
A revelação de segredo profissional por quem não é funcionário público constitui crime de outra
natureza, previsto no art. 154 do Código Penal.
O sujeito passivo é sempre o Estado e, eventualmente, o particular que possa sofrer prejuízo, material
ou moral, com a revelação do sigilo.
Elemento subjetivo. É o dolo, ou seja, a intenção livre e consciente de revelar o sigilo funcional. Não
se admite a forma culposa.
Consumação. No momento em que terceiro, funcionário público ou particular, que não podia tomar
conhecimento do segredo, dele toma ciência. Trata-se de crime formal, cuja caracterização independe da
ocorrência de prejuízo.

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Tentativa. É admitida, exceto na forma oral.
Subsidiariedade explícita. O art. 325, ao cuidar da pena, expressamente estabelece sua absorção
quando o fato constitui crime mais grave, como, por exemplo, crime contra a segurança nacional, fraude
em procedimento licitatório com divulgação antecipada de propostas, crime contra o sistema financeiro
etc.
Figuras equiparadas. A Lei n. 9.983/2000 criou no § 1º do art. 325 algumas infrações penais
equiparadas, punindo com as mesmas penas do caput quem permite ou facilita, mediante atribuição,
fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública (inciso I), ou se utiliza,
indevidamente, do acesso restrito a tais informações (inciso II). Por fim, o § 2º estabelece uma
qualificadora, prevendo pena de reclusão, de dois a seis anos, e multa, se da ação ou omissão resulta
dano à Administração ou terceiro.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
- Cargos: são criados por lei, com denominação própria, em número certo e pagos pelos cofres públicos
(Lei n. 8.112/90, art. 3º, parágrafo único).
- Emprego: para serviço temporário, com contrato em regime especial ou pela CLT. Ex.: diaristas,
mensalistas, contratados.
- Função pública: abrange qualquer conjunto de atribuições públicas que não correspondam a cargo
ou emprego público. Ex.: jurados, mesários etc.
São funcionários públicos o Presidente da República, os Prefeitos, os Vereadores, os Juízes,
Delegados de Polícia, escreventes, oficiais de justiça etc.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para
a execução de atividade típica da Administração Pública.
A Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000, alterou a redação do art. 327, § 1º, para ampliar o conceito de
funcionário público por equiparação. Em virtude dessa nova redação, podem ser extraídas algumas
conclusões:
1) em relação ao conceito de entidade paraestatal adotou-se a corrente ampliativa, pela qual se
considera funcionário por equiparação aquele que exerce suas atividades em:
a) autarquias (ex.: INSS);
b) sociedades de economia mista (ex.: Banco do Brasil);
c) empresas públicas (ex.: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos);
d) fundações instituídas pelo Poder Público (ex.: FUNAI).
2) Passam a ser puníveis por crimes funcionais (arts. 312 a 326 do CP) aqueles que exercem suas
funções em concessionárias ou permissionárias de serviço público (empresas contratadas) e até mesmo
em empresas conveniadas, como, p. ex., a Santa Casa de Misericórdia. O conceito de funcionário público
por equiparação não abrange as pessoas que trabalham em empresa contratada com a finalidade de
prestar serviço para a Administração Pública quando não se trata de atividade típica desta. Ex.:
trabalhador de empreiteira contratada para construir viaduto.
Entende-se, ademais, que a equiparação do § 1º, em razão do local onde está prevista no Código
Penal, só se aplica quando se refere ao sujeito ativo do delito e nunca em relação ao sujeito passivo. Ex.:
ofender funcionário de uma autarquia é injúria e não desacato. Se o mesmo funcionário, contudo,
apropriar-se de um bem da autarquia, haverá peculato, não mera apropriação indébita. Embora esse
entendimento seja quase pacífico na doutrina, existe um conhecido julgado do STF em sentido contrário
(RT, 788/526).

AUMENTO DA PENA
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de
órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.
Cargo em comissão é o cargo para o qual o sujeito é nomeado em confiança, sem a necessidade de
concurso público.
O aumento também será cabível quando o agente ocupa função de direção ou assessoramento.

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Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue
a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Peculato mediante erro de outrem


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Inserção de dados falsos em sistema de informações


Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: )
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações


Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento


Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes,
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Excesso de exação
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

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Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Facilitação de contrabando ou descaminho


Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Prevaricação
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Advocacia administrativa
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

Violência arbitrária
Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.

Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado


Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar
a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Violação de sigilo funcional


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.

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§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Violação do sigilo de proposta de concorrência


Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
de devassá-lo:
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
público.

Questões

01. (Prefeitura de Rosana/SP - Procurador do Município - VUNESP/2016) Assinale a alternativa


correta sobre o crime de peculato, tipificado no artigo 312 e parágrafos do Código Penal.
(A) É crime próprio e não admite o concurso de pessoas.
(B) No peculato culposo a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, reduz de metade a
pena imposta.
(C) Admite o concurso de pessoas desde que a qualidade de funcionário público, elementar do tipo,
seja de conhecimento do particular coautor ou partícipe.
(D) Para a caracterização do peculato-furto, afigura-se necessário que o funcionário público tenha a
posse do dinheiro, valor ou bem que subtrai ou que concorre para que seja subtraído, em proveito próprio
ou alheio.
(E) No peculato doloso a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade.

02. (SEGEP/MA - Auditor Fiscal da Receita Estadual - FCC/2016) A vantagem indevida obtida pelo
funcionário público só caracteriza o crime de concussão quando for
(A) exigida.
(B) solicitada.
(C) aceita.
(D) oferecida.
(E) recebida.

03. (CREF - 7ª Região (DF) - Auxiliar de Atendimento e Administração - Quadrix/2016) Em relação


aos crimes praticados contra a Administração Pública, analise o enunciado proposto e assinale a
alternativa correta. “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”, configura o seguinte delito:
(A) prevaricação.
(B) concussão.
(C) advocacia administrativa.
(D) tráfico de influência.
(E) corrupção ativa.

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04. (TJ/RO - Técnico Judiciário - FGV/2015) Caio, estagiário concursado do Tribunal de Justiça, no
exercício dessa sua função, solicita de um advogado que realizava atendimento a quantia de R$400,00
para adiantar a juntada de determinada petição. Insatisfeito com a conduta de Caio, de imediato o
advogado recusou a solicitação e denunciou o ocorrido ao Ministério Público. Considerando apenas a
situação narrada, é correto afirmar que Caio deverá ser responsabilizado pela prática de um crime de:
(A) corrupção ativa, consumado;
(B) corrupção passiva, tentado;
(C) corrupção ativa, tentado;
(D) concussão, consumado;
(E) corrupção passiva, consumado.

05. (TJ/RO - Oficial de Justiça - FGV/2015) Gustavo, funcionário público que atua junto à Secretaria
de Finanças de determinado Município, quando estava em seu trabalho, recebe uma ligação de sua
esposa dizendo que o filho do casal acabara de nascer. Eufórico, deixa a repartição pública e esquece o
cofre com dinheiro público aberto. Breno, também funcionário público daquela repartição, valendo-se do
esquecimento de Gustavo, pratica um crime de peculato. Considerando a situação narrada, é correto
afirmar que Gustavo:
(A) responderá pelo crime de peculato culposo, sendo que a reparação do dano antes da sentença
irrecorrível gera extinção da punibilidade;
(B) não poderá ser responsabilizado por sua conduta, pois o Código Penal não prevê a figura do
peculato culposo;
(C) responderá pelo crime de peculato culposo, sendo que a reparação do dano, desde que anterior
ao oferecimento da denúncia, gerará a extinção da punibilidade;
(D) responderá pelo crime de peculato-furto em concurso de agentes com Breno;
(E) responderá por peculato culposo, sendo que a reparação do dano, desde que anterior ao
recebimento da denúncia, gerará extinção da punibilidade.

06. (Prefeitura de Taubaté/SP – Escriturário - PUBLICONSULT/2015) Se um servidor, ao final do


expediente, leva para casa clips, canetas, borrachas, folhas de papel, por exemplo, ainda que em
pequena quantidade, fere o patrimônio público, cometendo um ato ilícito, que é um crime previsto no
Código Penal brasileiro, caracterizado pela apropriação, por parte do servidor público, de valores ou
qualquer outro bem móvel ou de consumo em proveito próprio ou de outrem. Trata-se do(a):
(A) Concussão
(B) Improbidade administrativa
(C) Peculato
(D) Prevaricação

07. (TCM/SP - Agente de Fiscalização - FGV/2015) José, juiz de direito do Tribunal de Justiça de São
Paulo, depara-se com um processo em que figura na condição de ré uma grande amiga de infância de
sua filha. Não havendo causa de impedimento ou suspeição, separa o processo para proferir, com calma,
na manhã seguinte, uma sentença condenatória bem fundamentada, pois sabe que sua filha ficaria
chateada diante de sua decisão. Ocorre que, por descuido, esqueceu o processo no armário de seu
gabinete por 06 meses, causando a prescrição da pretensão punitiva. Considerando a hipótese narrada,
é correto afirmar que a conduta de José:
(A) é atípica, sob o ponto de vista do Direito Penal;
(B) configura a prática do crime de prevaricação, pois presente o elemento subjetivo da satisfação de
sentimento pessoal;
(C) configura a prática do crime de condescendência criminosa;
(D) configura a prática do crime de prevaricação, bastando para tanto o dolo genérico;
(E) configura a prática do crime de corrupção passiva.

08. (TCM/SP - Agente de Fiscalização – FGV/2015) Por um período de 03 meses, Natan exerceu
função pública, não recebendo, porém, qualquer remuneração pelo exercício dessa função. Durante o
período, Natan concorreu culposamente para prática de um crime de peculato doloso por parte de Otávio,
funcionário público estável que atuava no mesmo setor que Natan. Sobre a hipótese narrada, é correto
afirmar que Natan:
(A) não poderá responder na condição de funcionário público, pois apenas exerceu a função
transitoriamente;

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(B) apesar de funcionário público para efeitos penais, não poderá ser responsabilizado pela prática de
crime, pois não existe previsão de peculato culposo;
(C) não poderá responder na condição de funcionário público porque não recebeu remuneração,
apesar de a transitoriedade, por si só, não afastar tal posição para fins penais;
(D) poderá ser responsabilizado na condição de particular, em concurso de agentes, pelo crime de
peculato praticado por Otávio;
(E) poderá ser responsabilizado como funcionário público pela prática do crime de peculato culposo,
sendo que eventual reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, extinguirá sua punibilidade.

09. (TJ/SC – Odontólogo – FGV/2015) Felix, oficial de justiça, foi à casa de André para dar
cumprimento à mandado de citação em ação penal em que este figurava como réu. No local, encontrou
o denunciado, que arrumava suas malas para fugir do país. Diante da situação, resolveu solicitar R$
2.000,00 (dois mil reais) para certificar que o acusado não foi localizado na diligência, o que foi
efetivamente realizado mediante pagamento da quantia. O crime praticado por Felix foi de:
(A) corrupção passiva;
(B) prevaricação;
(C) corrupção ativa;
(D) modificação ou alteração não autorizada no sistema de informações;
(E) concussão.

10. (TJ/MT - Agente de Infância e da Juventude – TJ/MT) É considerado funcionário público para
efeitos penais:
(A) A pessoa que, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerça cargo, emprego ou função
pública.
(B) Tão somente a pessoa legalmente investida em cargo público.
(C) Tão somente a pessoa que desempenhe função pública com remuneração.
(D) Tão somente a pessoa que desempenhe função pública em caráter permanente.

Respostas

01. Resposta: C
A condição de funcionário público é elementar do peculato, razão pela qual comunica-se a todos
aqueles que tenham concorrido de qualquer modo para o crime (coautoria ou participação), mesmo em
se tratando de pessoas alheias aos quadros públicos, contudo, desde que elas tenham conhecimento
dessa qualidade do autor.

02. Resposta: A
O crime de concussão consuma-se no momento em que a exigência chega ao conhecimento da
vítima, independentemente da efetiva obtenção da vantagem visada. Trata-se de crime formal. A
obtenção da vantagem é mero exaurimento.

03. Resposta: A
Assim, dispõe o Código Penal, ao tipificar o delito de prevaricação: “Art. 319 - Retardar ou deixar de
praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”.

04. Resposta: E
Caio praticou o crime de corrupção passiva, tipificado no artigo 317 do CP, vejamos: “Art. 317 - Solicitar
ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-
la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. O núcleo do tipo na
modalidade “solicitar” trata-se de crime formal, não sendo assim necessário o efetivo recebimento da
vantagem para sua consumação.

05. Resposta: A
O peculato culposo nada mais é que o concurso não intencional pelo funcionário público, realizado por
ação ou omissão - mediante imprudência, negligência ou desídia - para a apropriação, desvio ou
subtração de dinheiro, valor ou qualquer outro bem pertencente ao Estado ou sob sua guarda, por uma
terceira pessoa, que pode ser funcionário público ou particular.

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Consoante o artigo 312, §3º, do CP, se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem,
a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz
de metade a pena imposta.

06. Resposta: C
(Peculato) Art. 312 do CP - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio

07. Resposta: A
Está é uma questão cheia de armadilhas! Por isso atenção, “por descuido” o juiz esqueceu o processo
no armário de seu gabinete. Ou seja, com base nos dados fornecidos pelo enunciado da questão observa-
se que não há dolo por parte do Juiz, há apenas culpa, diante da sua negligência. Como não há previsão
de figura culposa para os crimes de prevaricação, condescendência criminosa e corrupção passiva,
elencados na questão, e não há dolo, não há elemento subjetivo caracterizador da infração penal, o que
afasta sua responsabilidade criminal. Deste modo, a conduta de José é atípica, sob o ponto de vista do
Direito Penal.

08. Resposta: E
Nos termos do que dispõe o artigo 327 do CP, no momento em que praticou a conduta, Natan era
funcionário público para efeitos penais. Assim, como concorreu culposamente para a prática de um crime
de peculato irá responder por “peculato-culposo” (art. 312, §2º, do CP). Sem prejuízo, caso o Natan realize
a reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, extingue-se sua punibilidade; e se é posterior, reduz
de metade a pena imposta (art. 312, §3º, do CP).

09. Resposta: A
Felix praticou o crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317 do CP, vejamos: “Art. 317 - Solicitar
ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-
la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. O núcleo do tipo na
modalidade “solicitar” trata-se de crime formal, portanto não é necessário o efetivo recebimento da
vantagem para sua consumação.

10. Resposta: A
A questão trata do conceito de funcionário público para efeitos penais por equiparação, conforme
disposto no Código Penal, artigo abaixo transcrito:
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.

6.2.4. Dos Crimes contra a Administração da Justiça – artigos 338 a 359

O ramo da Administração Pública que se visa proteger com esses dispositivos legais é o Poder
Judiciário. Para tanto, as normas tipificam condutas que atentam contra a dignidade e a honra das funções
jurisdicionais, ou seja, a efetividade e o respeito que se deve ter à decisão da Justiça.

REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO

Bem jurídico. É a eficácia e autoridade do ato oficial do Estado, ou seja, a sentença.


Sujeito
a) Ativo. Estrangeiro expulso.
b) Passivo. A administração da Justiça ou o próprio Estado.
Tipo objetivo. Reingressar: entrar novamente no território de onde foi expulso. Tanto pode ser na
parte terrestre, marítima, aérea ou fluvial do território.
Pena. 1 a 4 anos de reclusão.
Ação penal. Ação penal pública incondicionada.

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Competência
a) Para investigação: Polícia federal - art. 144, § 1º, IV da CF/88.
b) Para processo e julgamento: Justiça federal - art. 109, X da CF/88.

Normas pertinentes. Estatuto do Estrangeiro, Lei 6815/80, art. 65.

Conceito de estrangeiro. Conceitua-se estrangeiro de forma excludente. O art. 12 da CF/88


conceitua ou define quem são os brasileiros, aqueles que não se enquadrarem naquela conceituação
são estrangeiros.
Expulsão. É o castigo ao estrangeiro que apresenta indícios sérios de inconveniência pelos seguintes
atos: atentar contra a segurança pública; atentar contra a ordem política, contra a ordem social, contra a
tranquilidade ou moralidade pública e economia popular; for nocivo à convivência nacional; ter praticado
fraude na entrada ou permanência no País; entregar-se à vadiagem ou mendicância (arts. 59 e 60 da
LCP); ter condenação no estrangeiro.
Classificação. É crime próprio (só pode ser praticado por estrangeiro expulso do território), comissivo,
instantâneo, unissubjetivo, e formal.

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Conduta típica. A conduta de denunciação caluniosa está tipificada no art. 339 do CPB e consiste em
"dar causa a instauração de investigação policial ou de processo judicial contra alguém (pessoa
determinada), imputando-lhe crime (contravenção penal não integra o presente tipo penal) de que o sabe
inocente". Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
a) Investigação policial / b) Processo Judicial / c) Investigação administrativa / d) Inquérito civil / e)
Ação de improbidade administrativa
As alíneas "a" a "e" deste item "1", correspondem aos procedimentos investigatórios constituintes do
tipo penal "denunciação caluniosa". Antes do ano 2002, apenas as condutas "a" e "b" eram previstas no
tipo penal, o que causava muitos conflitos no campo doutrinário; com o advento da Lei 10.028/2002, foi
feita a inserção das condutas "c" a "e" extinguindo assim os problemas levantados anteriormente pelos
doutrinadores.
Crime complexo. A doutrina é divergente quanto ao fato de considerar ou não a denunciação
caluniosa como crime complexo, tendo em vista que este tem que ser pluriofensivo, ou seja, é aquele que
ofende mais de um bem juridicamente protegido. Denunciar é levar algo ao conhecimento de alguém, o
que, por si só, não é crime. A denunciação caluniosa é resultado da soma do ato de denunciar mais a
calúnia (tipo penal previsto no art. 138 do CPB). A melhor doutrina entende que a denunciação caluniosa
não é crime complexo pelo simples fato de que a denunciação por si só não caracteriza delito penal
algum; então, apenas a calúnia é que é crime.
Análise do tipo. O tipo previsto no art. 339 do CP é dar causa, ou fazer, causar a instauração de
investigação policial ou de processo judicial contra alguém (pessoa determinada), imputando-lhe crime
de que o sabe inocente.
Sujeitos
a) Ativo: Qualquer pessoa.
b) Passivo: b1) Principal: O Estado. b2) Secundário: A pessoa prejudicada em face da falsa
imputação.
Autoridade que age de ofício. Se a autoridade age de ofício e instaura investigação policial ou
processo judicial contra alguém (pessoa determinada), imputando-lhe crime de que o sabe inocente,
responderá criminalmente pela prática do delito capitulado no art. 339 do CP.
Necessidade do inquérito. Para as investigações do delito de denunciação caluniosa é dispensável
a abertura de inquérito, haja vista a existência de inquérito ou procedimento semelhante investigando a
autoria do delito, falsamente denunciado.
Término das investigações. Para que se verifique com mais precisão a inocência da vítima de
denunciação caluniosa é necessário e importante o término das investigações impulsionadas pela falsa
denunciação.

Causa de aumento de pena. Art. 339, § 1º: A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve
de anonimato ou de nome suposto.
Causa de diminuição de pena. Art. 339, § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
prática de contravenção.

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A denunciação caluniosa na legislação esparsa. Em seu art. 19, a Lei 8429/1992 (Lei das
Improbidades Administrativas), prevê a prática da denunciação caluniosa. Em toda a lei não há definição
de tipos penais e sim de atos de improbidade administrativa (arts. 9º ao 11), exceto no art. 19, onde se
tem a única previsão de tipo penal nesta lei.

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO

Objeto Jurídico. Administração da justiça.

Distinção entre os arts. 339 e 340 do CP.


Art. 339 - Denunciação caluniosa: "Dar causa a instauração de investigação policial ou de processo
judicial contra alguém (pessoa determinada), imputando-lhe crime (contravenção penal não integra o
presente tipo penal) de que o sabe inocente".
Art. 340 - Comunicação falsa de crime ou de contravenção: "Provocar (pessoa indeterminada -
qualquer um pode provocar) a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de
contravenção (contravenção penal também integra o presente tipo penal) que sabe não se ter verificado".
Comunicação. A comunicação pode ser por escrito, verbal, por telefone; o trote enquadra-se.
Autoridade. Tanto pode ser autoridade judicial, policial, ou MP. Há uma corrente que entende ser
apenas a autoridade judicial, isso porque interpreta a expressão ação de autoridade de forma restritiva,
como sendo tão somente o direito de exigir a prestação jurisdicional do Estado. A melhor doutrina
interpreta de forma correta a aludida expressão como sendo qualquer atitude tomada por autoridade, a
requisição de outrem.
Providências. Para que se configure o delito tipificado no art. 340 do CP, é necessário que a
autoridade tome providências face a falsa comunicação de crime ou contravenção.
Diversidade jurídica e de fato. Significa que se, diante a falsa comunicação de um delito - p. ex.: falsa
comunicação de roubo - a autoridade termina por apurar outro delito - p. ex.: furto - não restará
caracterizado o tipo penal do art. 340 do CP.
Consumação. A "comunicação falsa de crime ou de contravenção" consuma-se com a providência
tomada pela autoridade.
Arrependimento. É admissível se ocorre antes de a autoridade tomar a providência.
Crime impossível. Ocorrerá quando houver a falsa comunicação de crime ou contravenção e ao
chegar no local noticiado, ao invés de perder tempo, a autoridade constatar a ocorrência real de um delito,
sendo proveitosa a diligência. Assim é crime impossível porque apesar da tentativa de causar prejuízo à
administração da justiça, tal não ocorreu.
Classificação. É crime comum, de forma livre, instantâneo, unissubjetivo e plurissubsistente.

AUTOACUSAÇÃO FALSA

Conduta típica. "Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos, ou multa".
Sujeito
a) Ativo: Qualquer pessoa, desde que não tenha sido autor, coautor ou partícipe; se estiver em
qualquer dessas situações poderá ser beneficiado com a atenuante genérica da "confissão".
b) Passivo: A administração da justiça.

Elemento subjetivo: Dolo.


Figura típica. A figura típica só comporta o crime, não configura o delito do 341 do CP nos casos de
autoacusação falso de contravenção penal.

FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

A figura da vítima. A vítima de qualquer ilícito penal não é ouvida da qualidade de testemunha, tendo
em vista que possui interesse direto na causa, assim, se prestar falsas declarações, não incorrerá no
ilícito capitulado pelo art. 342 do CP, pois não tem a obrigação, por compromisso, de falar a verdade.
As partes. No contexto do processo civil autor e réu não estão sujeitos à prática do falso testemunho,
pois, além do direto interesse na causa não têm a obrigação, por compromisso, de falar a verdade.
Pessoas que não prestam compromisso ao serem ouvidas em Juízo. Os menores de 14 anos
(CPP, arts. 203 e 206); os ascendentes e descendentes; os irmãos; ou o cônjuge do réu ou da vítima não

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prestam compromisso ao serem ouvidas em Juízo. Quanto a essas pessoas a doutrina atual se divide
quanto ao fato de poderem ser sujeito ativo do delito de falso testemunho.
Para parte da doutrina os que não prestam compromisso incorrerão no delito do art. 342 do CP, para
outra parte eles incorrerão sim no aludido delito.
No Código Criminal de 1890 o compromisso era condicionante para a consumação do falso
testemunho; assim, o não compromissado não praticava o delito. No atual Código Penal, não existe o
compromisso não tem status de condicionante. Por isso, o não compromissado pratica sim o delito de
falso testemunho se calar ou faltar com a verdade, tendo em vista que o compromisso não integra o tipo,
segundo a melhor doutrina.
Concurso de pessoas. Não é existe o concurso de pessoas, cada pessoa que presta falso
testemunho, mesmo que ao serem ouvidas nos mesmos autos, praticará autonomamente o delito do art.
342.
Participação. Assim como é inadmissível o concurso de pessoas, também não existe a participação
na figura típica do art. 342 do CP. A figura do partícipe também é inexistente no art. 343 do CP.
Condutas típicas. Três são as condutas típicas integrantes do tipo previsto no artigo 342 do Código
Penal Brasileiro: afirmação falsa (proferir mentira); negar a verdade (dizer que não é verdade determinado
fato quando se sabe que é); calar a verdade (deixar de dizer a verdade, omiti-la, permanecer calado
quando se sabe qual é a verdade).

Sujeitos
a) Ativo. Testemunha; perito; contador; tradutor e intérprete judiciais.
b) Passivo. A administração da justiça.

CP 343

Tipo penal. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
perícia, cálculos, tradução ou interpretação.
Sujeitos
a) ativo: qualquer pessoa.
b) passivo: Estado, primordialmente. Em segundo plano, pode ser a pessoa prejudicada pelo
depoimento ou pela falsa perícia.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se elemento subjetivo específico consistente na vontade de
conspurcar a administração pública. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. O objeto material é a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete
e o objeto jurídico é a administração da justiça.
Classificação. Crime comum, formal, de forma livre, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo,
unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, forma em que admite a tentativa.

COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO

Conduta típica. "Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou
alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em
processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral". Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Objetividade jurídica. A administração da justiça
Sujeitos
a) Ativo: Qualquer pessoa
b) Passivo: O Estado

Elementos normativos do tipo:


a) Violência: A violência tem que ser contra a pessoa
b) Grave ameaça: A ameaça tem ser capaz de intimidar o homem médio

Contra autoridade. A vítima da ameaça ou da violência tem que ser Delegado de Polícia; Promotor
de Justiça; Juiz; Partes (autor ou réu).
Elemento subjetivo do tipo. Dolo genérico mais a finalidade a alcançar favorecimento próprio ou
alheio.
Consumação. Evidenciada pela prática da violência ou da grave ameaça.

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Reiteração de ameaças. Se várias forem as ameaças, o crime será único.
Classificação. Crime comum, formal, comissivo, plurissubsistente, unissubjetivo, instantâneo.
Ação penal. Pública incondicionada.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

Objetividade jurídica. A administração da justiça


Elementos objetivos do tipo
a) Conduta: Satisfazer uma pretensão
b) Pretensão: Suposto direito do agente

Elementos subjetivos do tipo. Dolo genérico (intenção de querer praticar a conduta típica) somado
ao dolo específico (satisfação de uma conduta, ainda que legítima).
Cobrança da dívida. Prevista nos arts. 42 e 71 do CDC (lei 8078/1990)
Elemento normativo do tipo. Evidencia-se na expressão "salvo quando a lei". Ex. direito de retenção
e penhor legal.
Consumação
a) 1ª Corrente
O crime já está perfeito somente com a violência, independente da satisfação. É crime formal pois se
consuma com a realização da conduta tendente à satisfação da pretensão. (Luiz Régis Prado; Cezar
Roberto Bittencourt; Noronha; Damásio e Nucci).
b) 2ª Corrente
Por ser crime material, se perfaz com a satisfação da pretensão do agente. (Nelson Hungria; Claudio
Heleno Fragoso; Delmanto)

Ação penal
Se inexistir violência contra a pessoa a ação é de iniciativa privada. Em havendo violência física contra
a pessoa é crime de ação pública incondicionada.

CP 346

Conduta típica. É uma outra forma de exercício arbitrário das próprias razões, realizada nas condutas
de "Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação
judicial ou convenção." Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Componentes da conduta típica. Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em
poder de outrem.
Sujeitos
a) Ativo. Proprietário da coisa que se tirou, suprimiu, destruiu ou danificou, quando se achava em
poder de outrem.
b) Passivo. O Estado e a pessoa que se achava na posse do objeto material do tipo (coisa móvel ou
imóvel sob responsabilidade de outrem).
Tipo subjetivo: Dolo
Classificação. Crime próprio, material, de forma livre, comissivo, unissubjetivo, plurissubsistente,
instantâneo de conteúdo variável ou misto alternativo.
Ação penal. Pública incondicionada.

FRAUDE PROCESSUAL

Conduta típica. "Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado


de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito". Pena - detenção, de 3
(três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado,
as penas aplicam-se em dobro.
A elementar do tipo acha-se presente no verbo inovar, que significa modificar, alterar ou substituir.
Objeto jurídico. A administração da justiça.
Sujeitos
a) Ativo: Qualquer pessoa.
b) Passivo: O Estado.
Inovação artificiosa

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A inovação artificiosa consiste em modificar, alterar substituir determinada situação referente ao estado
de lugar de coisa ou de pessoa.
Finalidade teleológica do tipo. Induzir a erro juiz ou perito

FAVORECIMENTO PESSOAL

Conduta típica. "Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada
pena de reclusão". Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é
cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento
de pena.
Objeto jurídico. A administração da justiça.
Sujeitos
a) Ativo. Qualquer pessoa, exceto o coautor ou partícipe do crime anterior.
b) Passivo. O Estado.
A expressão "autor do crime". É utilizada em sentido lato, referindo-se também ao coautor e ou
partícipe.
Auxílio anterior ou concomitante ao crime. O auxílio não pode ser anterior ao cometimento do crime,
nem concomitante. Se concomitante o acusado responderia como partícipe. Desta forma o auxílio tem
que ser posterior.
Não há o favorecimento. Se no fato anterior se operou causa de exclusão da culpabilidade ou de
ilicitude (art. 23 do CP), causa de extinção da punibilidade, ou escusa absolutória (art. 181 do CP), não
resta configurado o favorecimento.
Contravenção penal. Não é possível ocorrer o favorecimento tipificado no art. 348 do CP para a
prática de contravenção penal.
Autoridade pública. Entende-se como autoridade pública para fins do art. 348 juiz, delegado de
polícia, policial ou autoridade administrativa.
Momento consumativo. É o momento em que o auxílio é efetivamente prestado ao autor do crime,
ainda que breve o auxílio.

Escusa absolutória
Art. 348, § 2º - "Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso,
fica isento de pena".
Apesar do rol taxativo do parágrafo, Damásio de Jesus entende que o companheiro(a) ou amásio(a)
também pode ser beneficiado pela escusa absolutória ficando isento de pena.

Configuração do delito. Só será possível o favorecimento real se disser respeito ao cometimento de


crime. Podendo acontecer através de empréstimo de veículo ou fornecimento de combustível para fuga,
ocultação da vítima para desaparecer vestígio, fornecimento de dinheiro etc.

FAVORECIMENTO REAL

Conduta típica. "Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado
a tornar seguro o proveito do crime". Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Diferença entre os favorecimentos.
No favorecimento real o sujeito visa tornar seguro o proveito do delito;
No favorecimento pessoal o sujeito visa tornar seguro o autor do crime antecedente.

Diferença entre favorecimento real e receptação. No favorecimento real o agente age


exclusivamente em favor do autor do delito antecedente;
Na receptação age em proveito próprio ou de terceiro que não seja coautor ou partícipe.
No favorecimento real a ação do sujeito visa ao autor do crime antecedente;
Na receptação a conduta incide sobre o objeto material do crime anterior.
No favorecimento real o proveito pode ser econômico ou moral;
Na receptação age é única e exclusivamente econômico.

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EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER

O artigo 350 do Código Penal conflita diretamente com o que dispõe a Lei de Abuso de Autoridade
(Lei n. 4.898/65). Neste contexto, seguindo o entendimento majoritário o doutrinador Guilherme Nucci
ensina que este dispositivo foi inteiramente revogado pela Lei 4.898/65, que tem todas as possibilidades
possíveis de abuso de autoridade previstas em suas figuras típicas.

FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA

Conduta típica. "Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva". Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos.
Análise do núcleo do tipo. O verbo núcleo é promover que significa dar causa. É crime comum.
Ocorre no ambiente prisional que tanto pode ser no interior de um estabelecimento prisional (intramuros),
bem como durante escolta policial (extramuros).
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência.
§ 3º - A pena é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja
custódia ou guarda está o preso ou o internado.
Sujeitos
a) Ativo: Qualquer pessoa; normalmente quem custodia o preso.
b) Passivo: O Estado.
Elemento subjetivo. O dolo. Também a forma culposa é admitida (§ 4º - No caso de culpa do
funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou
multa), sendo aí crime próprio.
Conceito de fuga. É a escapada ou o rápido afastamento do local onde está o detido. Concretiza-se
a fuga ainda que não seja definitiva.
Pessoa presa. A prisão deve ser legal.
Classificação. Crime comum, material, forma livre, comissivo, instantâneo, unissubjetivo e
plurissubsistente.

Figura qualificada
a) Cometido a mão armada
b) Concurso de 2 ou mais pessoas
c) Mediante arrombamento
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento,
a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Forma culposa. Quando praticado na forma culposa o crime é próprio.

EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA

Conduta típica. "Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de


segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa". Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, além
da pena correspondente à violência.
Análise do núcleo do tipo. Evadir-se significa fugir ou escapar da prisão.
Sujeito ativo. Pessoa presa ou submetida a medida detentiva (internação).
Classificação. Crime próprio, especificadamente de mão própria, material, forma livre, instantâneo,
comissivo, unissubjetivo, plurissubsistente, não se admite tentativa, pois trata-se de crime de atentado.

ARREBATAMENTO DE PRESO

Conduta típica. "Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou
guarda". Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, além da pena correspondente à violência.
Objeto jurídico. Administração Pública.
Sujeito
a) Ativo. Qualquer pessoa, crime comum, podendo ser praticado inclusive por funcionário público.
b) Passivo. Principal o Estado e, secundariamente, o preso arrebatado.
Lugar do fato. Pouco importa: intramuros (dentro do estabelecimento prisional) ou extra muros
Guarda ou custódia. Pode ser exercida por carcereiro, escolta policial.

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Momento consumativo. Trata-se de crime formal. Consuma-se com o arrebatamento, não sendo
necessário que o preso venha a ser seviciado.

MOTIM DE PRESOS

Conduta típica. "Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão" Pena -


detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, além da pena correspondente à violência.
Objetivo. O objetivo é a Administração Pública.
Sujeito ativo. Trata-se de crime coletivo ou de concurso necessário, próprio, que só pode ser realizado
pelos "presos".
Número de concorrentes necessários
Interpretação sistêmica. Mínimo de três pessoas.
Medida de segurança. A lei fala em presos e prisão, por isso entende-se inexistir em relação à
medidas.
Conduta. Comportamento de rebeldia de pessoas presas, agindo com reivindicações justas ou
injustas, vingança.
Local do fato. Não há necessidade de ser no presídio, por ser em ocasião de transferência.
Momento consumativo. É crime material. Consuma-se com a efetiva perturbação da ordem e
disciplina.
Violência contra a coisa
1ª corrente  a expressão violência abrange a cometida contra a pessoa e coisa, havendo concurso
material.
2ª corrente  a expressão violência abrange somente a empregada contra a pessoa.
Damásio filia-se à primeira. Havendo lesão e morte, responde por esses crimes, além do motim; haverá
concurso material. Da mesma forma ocorrendo crime de dano.

DO PATROCÍNIO INFIEL

Conduta típica. "Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando


interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado".
Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Sujeitos
a) Ativo: Advogado ou procurador judicial (defensor público, procuradores estaduais, municipais,
federais, distritais, estagiários).
b) Passivo: O Estado.

Verbo nuclear. O verbo nuclear é o verbo trair, que significa ser infiel, desleal, enganar os deveres
profissionais.

Deveres profissionais
Art. 33 da lei 8.906/94 (EAOAB): O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres
consignados no Código de Ética e Disciplina. Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os
deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a
recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos
procedimentos disciplinares.
Art. 2º do CED: O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do estado
democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social, subordinando a
atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce. Parágrafo único. São deveres
do advogado: I - preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo
seu caráter de essencialidade e indispensabilidade; II - atuar com destemor, independência, honestidade,
decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé; III - velar por sua reputação pessoal e profissional; IV -
empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e profissional; V - contribuir para o
aprimoramento das instituições, do Direito e das leis; VI - estimular a conciliação entre os litigantes,
prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; VII - aconselhar o cliente a não ingressar em
aventura judicial; VIII - abster-se de: a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente; b)
patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à advocacia, em que também atue; c) vincular
o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente duvidoso; d) emprestar concurso aos que
atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a dignidade da pessoa humana; e) entender-se
diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído, sem o assentimento deste. IX - pugnar

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pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos seus direitos individuais, coletivos e
difusos, no âmbito da comunidade.

Prejuízos. São considerados como prejuízos os danos materiais e morais. A expressão "prejudicando
interesse" significa a modificação do mundo exterior.

Patrocínio. Ocorre tanto nas causas cíveis quanto nas criminais. O patrocínio infiel em inquéritos
policiais configura conduta atípica, e em procedimentos extrajudiciais também desconfigura a conduta
típica do art. 355 do CPB. O artigo é taxativo em mencionar o termo processo, portanto, o patrocínio infiel
só pode acontecer na esfera dos processos judiciais.

Patrocínio simultâneo ou tergiversação (Parágrafo único). "Incorre na pena deste artigo o


advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes
contrárias".
a) Patrocínio simultâneo. Ocorre quando o advogado faz jogo com as duas partes, orientando ao
mesmo tempo autor e réu.
b) Tergiversação ou patrocínio sucessivo. Ocorre quando o advogado desiste do patrocínio da
causa de seu cliente para patrocinar a causa ex adversa.

Consumação e tentativa. No patrocínio infiel, caput do art. 355, a consumação será quando do
prejuízo em face da traição (crime material); no caso do parágrafo único, tergiversação ou patrocínio
sucessivo, ocorre com o ato processual tendente a beneficiar a parte contrária (crime formal, porque não
exige o efetivo prejuízo).

Classificação. Crime próprio (só praticado por advogado ou procurador judicial), material (caput),
formal (parágrafo único), plurissubsistente, unissubjetivo, instantâneo, comissivo e omissivo.

Ação penal. Pública incondicionada.

SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO

Tipo penal. Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador.
Sujeitos
a) ativo: somente pode ser advogado ou procurador judicial.
b) passivo: Estado e, secundariamente, a pessoa prejudicada.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. Os objetos materiais são os autos, documentos ou objetos de valor
probatório e o objeto jurídico é a administração da justiça
Classificação. Crime próprio, material, comissivo ou omissivo, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente, admite a tentativa na modalidade comissiva, embora de difícil configuração.

EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO

Tipo penal. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz,
jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.

Sujeitos
a) ativo: qualquer pessoa.
b) passivo: Estado. Na modalidade receber exige o concurso de outra pessoa, que faz o pagamento.

Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se o elemento subjetivo específico, consistente na finalidade
de influir nas pessoas descritas no tipo penal. Não há forma culposa.
Objetos material e jurídico. O objeto material é o dinheiro ou a utilidade recebida ou solicitada e o
objeto jurídico é a administração da justiça.
Classificação. Crime comum, material, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo,
unissubsistente ou plurissubsistente, forma em que admite a tentativa.

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VIOLAÇÃO OU FRAUDE EM ARREMATAÇÃO JUDICIAL

Tipo penal. Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial, afastar ou procurar afastar concorrente
ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem.
Sujeitos
a) ativo: qualquer pessoa.
b) passivo: Estado, podendo em segundo plano, figurar o terceiro prejudicado (participante da
arrematação ou licitante).
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige o elemento subjetivo específico. Não há forma
culposa.
Objetos material e jurídico. O objeto material pode ser a arrematação judicial ou a pessoa que
participa desta e o objeto jurídico é a administração da justiça.
Classificação. Crime comum, formal, comissivo ou omissivo impróprio, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente, admite a tentativa.
Concurso de crimes. Exige o tipo penal que, havendo violência, a pena correspondente ao seu
emprego seja aplicada em concurso com a do delito previsto no art. 358.

DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO

Tipo penal. Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado
por decisão judicial.
Bem Jurídico. Tutela-se a Administração da Justiça.
Sujeitos
a) ativo: somente a pessoa suspensa ou privada de direito por decisão judicial.
b) passivo: Estado.
Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige o elemento subjetivo específico. Não há forma
culposa.
Objeto material. O objeto material é o dolo, caracterizado pela vontade de exercer função, atividade,
direito, autoridade ou múnus, ciente o agente de que há decisão judicial privando-o ou suspendendo-o de
tal exercício.
Classificação. Crime próprio, formal, de forma livre, comissivo, habitual, unissubjetivo,
plurissubsistente, não admite a tentativa.

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Reingresso de estrangeiro expulso


Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

Denunciação caluniosa
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

Comunicação falsa de crime ou de contravenção


Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção
que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Autoacusação falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de
obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade
da administração pública direta ou indireta.

Coação no curso do processo


Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio,
contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo
judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Exercício arbitrário das próprias razões


Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando
a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por
determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Fraude processual
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar,
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado,
as penas aplicam-se em dobro.

Favorecimento pessoal
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de
reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento
de pena.

Favorecimento real
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).

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Exercício arbitrário ou abuso de poder
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que:
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena
privativa de liberdade ou de medida de segurança;
II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno
ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.

Nota: o crime tipificado no art. 350 do Código Penal foi tacitamente revogado pela Lei nº 4.898/65
(Lei de Abuso de Autoridade).

Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança


Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento,
a pena é de reclusão, de dois a seis anos.
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência.
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
ou guarda está o preso ou o internado.
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção,
de três meses a um ano, ou multa.

Evasão mediante violência contra a pessoa


Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

Arrebatamento de preso
Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência.

Motim de presos
Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.

Patrocínio infiel
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse,
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Patrocínio simultâneo ou tergiversação


Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende na
mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

Sonegação de papel ou objeto de valor probatório


Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
Pena - detenção, de seis a três anos, e multa.

Exploração de prestígio
Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:

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Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.

Violência ou fraude em arrematação judicial


Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente
ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência.

Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito


Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Questões

01. (TRE/SP - Analista Judiciário - FCC/2017) Ricardo reside na cidade de São Paulo e acaba
testemunhando, da janela de sua residência, o furto de um veículo que estava estacionado na via pública,
defronte ao seu imóvel, praticado por dois agentes. Para se vingar do seu desafeto e vizinho Rodolfo e
sabendo de sua inocência, Ricardo apresenta uma denúncia anônima à Polícia noticiando que Rodolfo
foi um dos autores do referido crime de furto. A autoridade policial determina a instauração de inquérito
policial para apuração da autoria delitiva em relação a Rodolfo. Nesse caso hipotético, Ricardo cometeu
crime de
(A) denunciação caluniosa, com pena prevista de reclusão de dois a oito anos e multa, aumentada de
sexta parte, pois serviu-se de anonimato.
(B) comunicação falsa de crime, com pena prevista de detenção de um a seis meses ou multa,
aumentada de sexta parte, pois serviu-se de anonimato.
(C) denunciação caluniosa, com pena prevista de reclusão de dois a oito anos e multa, sem qualquer
majoração.
(D) comunicação falsa de crime, com pena prevista de detenção de um a seis meses ou multa sem
qualquer majoração.
(E) falso testemunho.

02. (TRT - 8ª Região (PA e AP) - Analista judiciário - CESPE/2016) Em relação aos crimes contra a
administração da justiça, assinale a opção correta.
(A) É atípica a conduta do agente que faz justiça pelas próprias mãos sem o emprego de violência ou
com o objetivo de satisfazer pretensão legítima.
(B) A configuração do crime de exploração de prestígio depende de a conduta do agente incluir a
alegação ou a insinuação de que o dinheiro ou a utilidade também se destina ao juiz, jurado, órgão do
Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
(C) O agente que acusa a si mesmo, perante a autoridade, de ter cometido infração penal que não
ocorreu pratica o crime de comunicação falsa de crime.
(D) Em se tratando do crime de falso testemunho, o agente que se retrata ainda durante o processo
no qual testemunhou faz jus a causa de diminuição de pena.
(E) É isento de pena, ainda que pratique o crime de favorecimento pessoal, o ascendente, o
descendente, o cônjuge ou o irmão de criminoso que o auxilia a fugir da ação da autoridade policial.

03. (SJC/SC - Agente de Segurança Socioeducativo - FEPESE/2016) Assinale a alternativa correta


acerca do crime de fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança.
(A) Por ser crime próprio, somente poderá ser praticado por agente público no exercício da função.
(B) Quando houver emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena do crime de abuso
de autoridade.
(C) Se praticado por agente público no exercício da função, poderá o juiz aplicar o perdão judicial.
(D) O crime será apenado com detenção ou multa, em caso de culpa do funcionário incumbido da
custódia ou guarda.
(E) O crime estará caracterizado quando o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva tentar evadir-se do local de custódia.

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04. (TJ/SP - Juiz Substituto - VUNESP/2015) No crime de falso testemunho ou falsa perícia,
(A) a conduta é tipificada quando realizada apenas em processo penal.
(B) incide-se no crime quando a afirmação falsa é feita em juízo arbitral.
(C) a pena aumenta da metade se o crime é praticado mediante suborno.
(D) a retratação do agente, antes da sentença em que ocorreu o falso testemunho, é causa de
diminuição de pena.

05. (TRT - 24ª REGIÃO/MS - Juiz do Trabalho Substituto - FCC) No que concerne aos crimes contra
a Administração da Justiça, é correto afirmar que
(A) impedir arrematação judicial apenas constitui crime se houver fraude ou oferecimento de vantagem.
(B) constitui favorecimento pessoal prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou receptação,
auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime
(C) constitui crime de exploração de prestígio patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
(D) há delito de tergiversação se o advogado ou procurador judicial, sucessivamente, passa a defender
na mesma causa interesses de partes contrárias.
(E) constitui crime de patrocínio infiel solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem
ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da
função.

06. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP) Imagine que um advogado solicite dinheiro
de seu cliente, deixando claro que, mediante o pagamento do valor, procurará uma testemunha do
processo, a fim de influenciá-la a prestar um depoimento mais favorável à pretensão do cliente. Além
disso, o advogado insinua que a quantia será repartida com a testemunha. O advogado recebe o dinheiro,
mas engana seu cliente e não procura a testemunha.
Nesse caso, o advogado:
(A) cometeu o crime de corrupção passiva.
(B) cometeu o crime de usurpação de função pública.
(C) cometeu o crime de exploração de prestígio.
(D) cometeu o crime de corrupção ativa.
(E) não cometeu crime algum.

07. (TRF/2ª -Técnico Judiciário - FCC) A respeito dos Crimes contra a Administração Pública,
considere:
I - O preso que foge do presídio, aproveitando-se de um descuido dos policiais, não responde por
nenhum delito relacionado à sua fuga.
II - A ação de várias pessoas, retirando, mediante violência, pessoa presa da guarda da escolta que
o tinha sob custódia, para fins de linchamento, caracteriza o delito de arrebatamento de preso.
III - A conduta do preso que permite ao seu companheiro de cela assumir sua identidade e assim se
apresentar ao carcereiro encarregado de dar cumprimento a alvará de soltura, logrando êxito em fugir,
não comete nenhum delito, pela ausência de grave ameaça ou violência à pessoa.
Está correto o que consta SOMENTE em:
(A) III.
(B) I e III.
(C) II e III.
(D) I.
(E) I e II.

08. (PC/SP - Escrivão de Polícia – VUNESP) A esposa que comprovadamente ludibria autoridade
policial e auxilia marido, autor de crime de roubo, a subtrair-se à ação da autoridade pública
(A) deve cumprir pena por exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345).
(B) deve cumprir pena por favorecimento real (CP, art. 349).
(C) fica isenta de pena.
(D) deve cumprir pena por crime de favorecimento pessoal (CP, art. 348).
(E) deve cumprir pena por fuga de pessoa presa (CP, art. 351)

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09. (TRF/2ª Região - Analista Judiciário – FCC) José percebeu que seu conhecido João havia
cometido crime de desobediência e estava fugindo a pé, sendo perseguido por policiais. Em vista disso,
despistou os milicianos e colocou João no interior de seu veículo, deixando o local e impedindo, dessa
forma, a prisão em flagrante deste. Nesse caso, José responderá pelo crime de
(A) favorecimento pessoal privilegiado.
(B) favorecimento real.
(C) favorecimento pessoal em seu tipo fundamental.
(D) arrebatamento de preso.
(E) facilitar a fuga de pessoa presa.

10. (TRE/RO – Analista Judiciário - Área Jurídica – FCC) João e José invadiram um presídio e,
mediante grave ameaça com armas de fogo, dominaram o carcereiro e os seguranças e possibilitaram a
fuga de seu comparsa Jocival, que estava legalmente preso cumprindo pena privativa de liberdade, para
que o mesmo voltasse a auxiliá-los na prática de novos delitos. João e José responderão por crime de
(A) arrebatamento de preso.
(B) evasão mediante violência contra pessoa.
(C) fuga de pessoa presa.
(D) motim de presos.
(E) favorecimento real

Respostas

01. Resposta: A
Nos termos do que dispõe o art. 339, §1º, do CP, Ricardo cometeu o crime de denunciação caluniosa,
sendo punível com pena de reclusão de dois a oito anos e multa, aumentada de sexta parte, pois Ricardo
serviu-se do anonimato em sua conduta.

02. Resposta: E
Segundo o que prevê o §2º do art. 348 do CP, sobre o favorecimento pessoal, se quem presta o auxílio
é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.

03. Resposta: D
Prevê o §4º do art. 351 do CP: No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda,
aplica-se a pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Atenção! Cuidado para não confundir com a figura prevista no §3º do mesmo artigo, tendo em vista
que quando o delito é praticado dolosamente pela pessoa cuja custódia ou guarda está o preso ou o
internado, ou seja, age intencionalmente, sem culpa, a pena é de reclusão de um a quatro anos.

04. Resposta: B
(Falso testemunho ou falsa perícia) Art. 342 do CP - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.

05. Resposta: D
É a redação do art. 355, parágrafo único do CP - Incorre na pena deste artigo o advogado ou
procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea (patrocínio simultâneo) ou sucessivamente
(tergiversação), partes contrárias.

06. Resposta: C
Exploração de prestígio
Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.

07. Resposta: E
Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência.

08. Resposta: C
No caso acima citado, a esposa que ludibria autoridade policial e auxilia marido, autor de crime de
roubo, a subtrair-se à ação da autoridade pública comete crime de favorecimento pessoal, disposto no
art. 348 do CP, mas de acordo com o §2º, fica isenta de pena por ser cônjuge do criminoso.

09. Resposta: A
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de
reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento
de pena.

10. Resposta: C
No caso acima citado, João e José responderão por crime de fuga de pessoa presa ou submetida a
medida de segurança, de acordo com disposto no art. 351, do Código Penal.
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva.

6.2.5. Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis – artigos 293 a 295

O artigo 293 do C.P. define o crime de FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS


Este delito tem como objeto jurídico a tutela da fé pública, no tocante à confiabilidade e legitimidade
dos papéis públicos.
Objeto material: São os papéis públicos indicados nos incisos do referido artigo:
– Inciso I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal
destinado à arrecadação de tributo: Esse inciso diz respeito aos documentos destinados à arrecadação
de tributos, salvo os especificados no inciso V, a exemplo do antigo selo pedágio, o qual era colado no
para-brisa do veículo para comprovar o extinto tributo.
– Inciso II – papel de crédito público que não seja moeda de curso legal: São os denominados títulos
da dívida pública, federais, estaduais ou municipais. Embora possam servir como meios de pagamento,
não se confundem com a moeda de curso legal no País.
– Inciso III – vale postal: Esse inciso foi tacitamente revogado pelo art. 36 da Lei 6.538/1976, lei
posterior e especial que dispõe sobre os serviços postais.
– Inciso IV – cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro
estabelecimento mantido por entidade de direito público: Cautela de penhor é o título de crédito
representativo do direito real de garantia registrado no Cartório de Títulos e Documentos, a teor do art.
1.432 do Código Civil. Com seu pagamento a coisa empenhada pode ser retirada. A caderneta de
depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público designa
o documento em que está consignada a movimentação da conta corrente no estabelecimento bancário.
Por sua vez, a falsificação de cadernetas de estabelecimentos privados configura o crime de falsificação
de documento particular (CP, art. 298), e não o delito em análise.
– Inciso V – talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas
públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável:
Talão é a parte destacável de livro ou caderno, no qual permanece um canhoto com idênticos dizeres.
Recibo é a declaração de quitação ou recebimento de coisas ou valores.
Guia é o documento emitido por repartição arrecadadora, ou adquirido em estabelecimentos privados,
com a finalidade de recolhimento de valores, impostos, taxas, contribuições de melhoria etc.

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Alvará, no sentido do texto, é qualquer documento destinado a autorizar o recolhimento de rendas
públicas ou depósito ou caução por que o Poder Público seja responsável. Exemplo clássico de conduta
passível de subsunção no art. 293, inc. V, do Código Penal consiste na falsificação de documentos de
arrecadação da Receita Federal (DARFs), mediante inserção de autenticação bancária, como forma de
comprovação do recolhimento dos tributos devidos.
– Inciso VI – bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por
Estado ou por Município:
Bilhete é o papel impresso que confere ao seu portador o direito de usufruir de meio de transporte
coletivo por determinado percurso. Passe é o bilhete de trânsito, oneroso ou gratuito, concedido por
empresa de transporte coletivo. Conhecimento, finalmente, é o documento comprobatório de mercadoria
depositada ou entregue para transporte.
O núcleo do tipo penal é “falsificar”, ou seja, imitar, reproduzir ou modificar os papéis públicos
indicados nos diversos incisos do art. 293 do CP. A falsificação pode ocorrer mediante fabricação ou
alteração. Na fabricação, também denominada de contrafação, o agente procede à criação do papel
público, o qual surge revestido pela falsidade. Por seu turno, na alteração opera-se a modificação de
papel inicialmente verdadeiro, com a finalidade de ostentar valor superior ao real. A falsificação somente
resultará no reconhecimento do crime em apreço quando incidir nos papéis públicos taxativamente
mencionados – a falsificação de moeda importa no crime de moeda falsa (art. 289 do CP) e a falsificação
de papel público diverso caracteriza o delito de falsificação de documento público (art. 296 do CP).
Temos como sujeito ativo do crime qualquer pessoa (crime comum ou geral). Contudo, se o sujeito
ativo for funcionário público, e cometer o crime prevalecendo-se do cargo, aumentar-se-á a pena de sexta
parte, com fulcro no art. 295 do Código Penal.
O sujeito passivo é o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta
criminosa.
Elemento subjetivo: É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite
a modalidade culposa.
Consumação: Cuida-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado:
consuma-se com a realização de qualquer das condutas legalmente descritas, prescindindo-se da efetiva
circulação do papel público falsificado ou da causação de prejuízo a alguém. É fundamental que a atuação
do agente empreste ao papel idoneidade suficiente para enganar as pessoas em geral, pois a falsificação
grosseira exclui o delito, ensejando o reconhecimento do crime impossível (CP, art. 17).
Tentativa: É possível.
Ação penal: É pública incondicionada.
Competência: A falsificação de papéis públicos, em regra, é crime de competência da Justiça
Estadual. Entretanto, se a emissão do papel incumbir à União, suas empresas públicas ou autarquias, e
a falsificação acarretar prejuízo a tais entes, o delito será de competência da Justiça Federal, nos moldes
do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal.
Figura equiparada (art. 293, § 1º): A Lei 11.035/2004 conferiu nova redação ao § 1º do art. 293 do
CP, para ampliar seu âmbito de incidência, que antes se limitava aos papéis falsificados, forçando muitas
vezes a utilização dos crimes de receptação (CP, art. 180) e de favorecimento real (CP, art. 349) para
evitar a impunidade de pessoas envolvidas com papéis públicos falsificados. Destarte, incorre na mesma
pena prevista no caput quem:
– Inciso I – Usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo:
Trata-se de conduta posterior à falsificação dos papéis públicos, realizada por pessoa diversa do falsário.
– Inciso II – Importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário: O raio de incidência deste inciso é inferior ao do
inciso anterior, pois se limita ao selo falsificado destinado a controle tributário.
– Inciso III – Importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca,
cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
Elemento subjetivo: O crime é doloso. Contudo, além do dolo, afigura-se indispensável a presença
do especial fim de agir (elemento subjetivo específico) representado pela expressão “em proveito próprio
ou alheio”. Trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pela pessoa que se
encontre no exercício de atividade comercial ou industrial. O § 5º do art. 293 do CP veicula uma norma
penal explicativa, assim redigida: “Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1º,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros

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logradouros públicos e em residências”. A alínea b do inc. III constitui-se em lei penal em branco
homogênea, pois é preciso analisar a legislação tributária para identificação das hipóteses de
obrigatoriedade do selo oficial. Fica nítida, ademais, a verdadeira preocupação do legislador: a fé pública
foi colocada em plano secundário para se proteger a ordem tributária, mediante o combate à sonegação
fiscal. De fato, não há pertinência lógica entre falsificar selo (crime contra a fé pública) e vender cigarro
sem selo oficial (delito tributário).
Supressão de carimbo ou sinal de inutilização de papéis públicos (art. 293, § 2º): Trata-se de
crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo, se presentes
os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. Nessa hipótese, os papéis públicos são
legítimos, ou seja, não foram falsificados mediante contrafação ou alteração, mas já foram inutilizados. A
conduta criminosa consiste em suprimir (eliminar ou retirar) o carimbo ou sinal indicativo da inutilização.
Não basta o dolo. Exige-se um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), contido na expressão
“com o fim de torná-los novamente utilizáveis”.
Uso de papéis públicos com carimbo ou sinal de inutilização suprimidos (art. 293, § 3º): Trata-
se de crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo, se
presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. Incorre na mesma pena cominada
ao § 2º, citado acima, aquele que usa, depois de alterado, qualquer dos papéis nele indicados.
Figura privilegiada (art. 293, § 4º): Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, de
competência do Juizado Especial Criminal, admitindo a transação penal e o rito sumaríssimo, em sintonia
com as disposições da Lei 9.099/1995. O tratamento penal mais suave se deve ao móvel do agente, que
não se dirige à lesão da fé pública, e sim em repassar a terceiro seu prejuízo patrimonial.

Os artigos 294 e 295 do C.P. estabelecem o crime de PETRECHOS DE FALSIFICAÇÃO.


Temos como objeto jurídico a tutela da fé pública, no que diz respeito à confiabilidade e legitimidade
dos papéis públicos. O dispositivo veicula um autêntico “crime obstáculo” – o legislador, preocupado com
a falsificação de papéis públicos, não aguardou sua concretização para autorizar o Estado a exercer seu
poder punitivo, antecipando a tutela penal, incriminando condutas representativas de atos preparatórios
do crime tipificado no art. 293 do CP.
Objeto material: É o objeto especialmente destinado à falsificação dos papéis públicos especificados
art. 293 do Código Penal. A elementar “especialmente” relaciona-se à finalidade precípua do objeto
destinado à falsificação de papéis públicos, mas nada impede seja o bem utilizado também para outros
fins. Na hipótese de objeto destinado à falsificação de selo, fórmula de franqueamento ou vale postal,
estará configurado o crime definido no art. 38 da Lei 6.538/1978.
Núcleos do tipo: O tipo penal possui cinco núcleos: “fabricar” (criar, montar, construir ou produzir),
“adquirir” (comprar ou obter), “fornecer” (proporcionar, dar, vender ou entregar), “possuir” (ter a posse) e
“guardar” (manter, conservar ou proteger). Todos os verbos se ligam ao objeto especialmente destinado
à falsificação de papéis públicos. Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo
variado: há diversos núcleos, e a realização de mais de um deles, no tocante ao mesmo objeto material,
caracteriza um único delito.
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa (crime comum ou geral). Entretanto, se o sujeito ativo for
funcionário público, e cometer o crime prevalecendo-se do cargo, aumentar-se-á a pena da sexta parte,
com fulcro no art. 295 do Código Penal. Para a incidência da causa de aumento da pena não basta a
condição funcional: é imprescindível seja o delito executado em razão das facilidades proporcionadas
pela posição de funcionário público.
Sujeito passivo: É o Estado, interessado na preservação da fé pública no que diz respeito ao sistema
de emissão de papéis públicos.
Elemento subjetivo: É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite
a modalidade culposa.
Consumação: Cuida-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado:
consuma-se com a fabricação, aquisição, fornecimento, posse ou guarda dos objetos destinados à
falsificação, independentemente da sua efetiva utilização pelo agente ou por qualquer outra pessoa. Nos
núcleos “guardar” e “possuir” o crime é permanente, comportando a prisão em flagrante enquanto
perdurar a situação de contrariedade ao Direito; nas demais variantes, o crime é instantâneo.
Tentativa: Não é cabível, pois o legislador incriminou de forma autônoma atos representativos da
preparação do delito tipificado no art. 293 do Código Penal (falsificação de papéis públicos).
Ação penal: É pública incondicionada.

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Observação: Lei 9.099/1995: Em razão da pena mínima cominada (um ano), trata-se de crime de
médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo, se presentes os
demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.

Petrechos de falsificação e falsificação de papéis públicos – unidade ou pluralidade de crimes: A


respeito do sujeito que possui objeto especialmente destinado à falsificação de papéis públicos e
efetivamente os falsifica há duas posições: 1ª) O agente deve ser responsabilizado pelos crimes de
petrechos de falsificação e de falsificação de papéis públicos, em concurso material. Tais crimes
consumam-se em momentos distintos, não havendo falar em absorção do em comento pelo crime definido
no art. 293 do CP. 2ª) Incide o princípio da consunção, resultando na absorção do crime-meio (petrechos
de falsificação), que funciona como fato anterior (ante factum) impunível, pelo delito-fim (falsificação de
papéis públicos).

Dispositivos do Código Penal pertinentes ao tema:

TÍTULO X
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
(...)
CAPÍTULO II
DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS

Falsificação de papéis públicos


Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à
arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento
mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas
ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
selo falsificado destinado a controle tributário;
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou
alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre
na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em
residências.

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Petrechos de falsificação
Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação
de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se
a pena de sexta parte.

Questões

01. (TJ/SP - Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP/2015) O caput do art. 293 do CP tipifica a
falsificação de papéis públicos, especial e expressamente no que concerne às seguintes ações:
(A) produção e confecção
(B) contrafação e conspurcação
(C) fabricação e alteração.
(D) adulteração e corrupção
(E) corrupção e produção.

02. (Prefeitura de Jundiaí/SP - Procurador Municipal – Makiyama/2013) Conforme o Código Penal


Brasileiro, a conduta de falsificar, através de fabricação ou de alteração, talão, recibo, guia, alvará ou
qualquer outro documento relativo à arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o
poder público seja responsável é denominada crime de:
(A) Falsidade ideológica.
(B) Falsificação de documentos públicos.
(C) Falsidade material.
(D) Falsificação de sinal público.
(E) Falsificação de papéis públicos.

03. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os, selo destinado a controle tributário, papel selado ou
qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo, trata-se do crime de
(A) Falsificação do selo ou sinal público.
(B) Falsificação de papéis públicos.
(C) Falsificação de documento público.
(D) Falsificação de documento particular.
(E) Falsidade material de atestado ou certidão.

04. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário - VUNESP/2012) O crime de “petrechos de falsificação”


(CP, art. 294), por expressa disposição do art. 295 do CP, tem a pena aumentada de sexta parte se o
agente
(A) é funcionário público.
(B) é funcionário público, e comete o crime, prevalecendo-se do cargo.
(C) tem intuito de lucro.
(D) confecciona documento falso hábil a enganar o homem médio.
(E) causa, com sua ação, prejuízo ao erário público.

Respostas

01. Resposta: C
O art. 293 do CP, tipifica as seguintes ações: “Falsificar, fabricando-os ou alterando-os”.

02. Resposta: E
É o que dispõe o art. 293, V, do CP: Falsificar, fabricando-os ou alterando-os, talão, recibo, guia, alvará
ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que
o poder público seja responsável.

03. Resposta: B
Essa questão traz a fiel redação do que prevê o art. 293, I, do CP.

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04. Resposta: “B”
O crime de petrechos de falsificação está previsto no art. 294 do Código Penal e dispõe:
Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação
de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se
a pena de sexta parte.
Desse modo, no crime de petrechos de falsificação se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

6.3.Código Processual Penal 6.3.1. Do Inquérito Policial: artigos 4.º a 23

O inquérito policial é um procedimento administrativo investigatório, de caráter inquisitório e


preparatório, consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para
apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela autoridade policial, a fim de que o titular da
ação penal possa ingressar em juízo.
A mesma definição pode ser dada para o termo circunstanciado (ou “TC”, como é usualmente
conhecido), que são instaurados em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber, as
contravenções penais e os crimes com pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com
multa, submetidos ou não a procedimento especial.
A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item anterior, é de “procedimento administrativo
investigatório”. E, se é administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre ele as nulidades
previstas no Código de Processo Penal para o processo, nem os princípios do contraditório e da ampla
defesa.
Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito policial não afetam a ação penal a que der
origem, salvo na hipótese de provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que,
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com observância do contraditório e da ampla
defesa, como uma produção antecipada de provas, por exemplo.

Finalidade. Visa o inquérito policial à apuração do crime e sua autoria, e à colheita de elementos de
informação do delito no que tange a sua materialidade e seu autor.

Diferenças entre elementos informativos e prova. Os elementos informativos são aqueles colhidos
na fase investigatória, nos quais não será obrigatório o contraditório e a ampla defesa. Ademais, não há
obrigação de participação dialética das partes.
Já a prova, em regra, é produzida na fase judicial, com exceção das provas cautelares, que necessitem
ser produzidas antecipadamente. E, por ser produzida na fase judicial, obrigatoriamente a prova deve ser
produzida com a participação das partes, graças à necessidade de observância do contraditório e da
ampla defesa.
Mas é possível utilizar elementos de informação como fundamento numa sentença condenatória?
Pode-se, desde que os elementos de informação não sejam a essência única para a condenação. Eis o
teor do art. 155, do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei nº 11.690/08.
Assim, o juiz pode utilizá-los acessoriamente, em conjunto com o universo probatório produzido à luz
do contraditório e da ampla defesa que indiquem a mesma trilha do que os elementos de informação
outrora disseram.
Então, afinal, para que servem os elementos de informação? Se não servem como único meio para
fundamentar um decreto condenatório, esses elementos têm como suas finalidades precípuas a tomada
de decisões quanto às prisões processuais, bem como medidas cautelares diversas da prisão; e também
são decisivos para auxiliar na formação da convicção do titular da ação penal (a chamada “opinio delicti”).

Presidência do inquérito policial. Será da autoridade policial de onde se deu a consumação do delito,
no exercício de funções de polícia judiciária.

Competência para investigar. A competência para investigar depende da justiça competente para
julgar o crime.
Assim, se o crime é de competência da Justiça Militar da União, em regra será instaurado um inquérito
policial militar (IPM), o qual será presidido por um encarregado, que é um Oficial das Forças Armadas.

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Se o crime é da competência da Justiça Militar Estadual, também será instaurado um inquérito policial
militar (IPM), o qual será presidido por um encarregado, que é um Oficial da Polícia Militar ou dos
Bombeiros.
Se o crime é da competência da Justiça Federal, a competência para investigar será da Polícia Federal.
Se o crime é da competência da Justiça Eleitoral, também será investigado pela Polícia Federal, já que
a Justiça Eleitoral é uma Justiça da União (embora o Tribunal Superior Eleitoral entenda que, nas
localidades em que não haja Polícia Federal, a Polícia Civil estará autorizada a investigar).
Se o crime é da competência da Justiça Estadual, usualmente a investigação é feita pela Polícia Civil
dos Estados, mas isso não obsta que a Polícia Federal também possa investigar, caso o delito tenha
grande repercussão nacional ou envolva mais de um Estado. Disso infere-se, pois, que as atribuições da
Polícia Federal são mais amplas que a competência da Justiça Federal.

Características do inquérito policial. São elas:


A) Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Penal, todas as peças do inquérito policial
serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade
policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de ser peça escrita não obsta que sejam os atos produzidos
durante tal fase sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo;
B) Peça dispensável. Caso o titular da ação penal obtenha elementos de informação a partir de uma
fonte autônoma (Exemplo: a representação já contém todos os dados essenciais ao oferecimento da
denúncia), poderá dispensar a realização do inquérito policial;
C) Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autoridade assegurará no inquérito o sigilo
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso aos autos do inquérito o juiz, o promotor
de justiça, e a autoridade policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, XIV, da Lei
nº 8.906/94 (“Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil”), e com a Súmula Vinculante nº 14, o
advogado tem acesso aos atos já documentados nos autos, independentemente de procuração, para
assegurar direito de assistência do preso e investigado.
Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e irrestrito. Seu acesso é apenas às
informações já introduzidas nos autos, mas não em relação às diligências em andamento.
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos já documentados, é cabível Reclamação
ao STF para ter acesso às informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habeas corpus
em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o mandado de segurança em nome do próprio
advogado, já que a prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele.
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há se chamar atenção para o parágrafo
único, do art. 20, CPP, com nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos atestados
de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes.
Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da doutrina, no sentido de que o inquérito,
justamente por sua característica da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado nos atestados
de antecedentes. Já para outro entendimento, agora contra a lei, tal medida representa criticável óbice a
que se descubra mais sobre um cidadão em situações como a investigação de vida pregressa anterior a
um contrato de trabalho, por exemplo.
D) Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem ampla defesa. Por tal motivo não é
autorizado ao juiz, quando da sentença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação
colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto (art. 155, caput, CPP). Ademais, graças
a esta característica, não há uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na fase do
inquérito, tal como ocorre no momento processual, devendo estes ser realizados de acordo com as
necessidades que forem surgindo.

Observação: Com a recente alteração sofrida no art. 7º, do Estatuto da OAB pela Lei n. 13.245/16,
foi resguardado ao advogado o exercício do direito de defesa nas investigações preliminares (sejam as
conduzidas por Delegados de Polícia ou pelo Ministério Público). O novo diploma legal não torna
obrigatória a presença do advogado na Investigação Preliminar, contudo, reforça o direito dos
advogados acessarem os autos da investigação e, também, de acompanharem todas as oitivas na fase
investigativa, sob pena de nulidade absoluta. Vale dizer, caso o advogado postule à autoridade
investigante por “assistir” o seu cliente investigado durante a apuração de infrações e haja
indeferimento do aludido pleito, haverá nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados,

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direta ou indiretamente.

E) Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade para realizar aquelas diligências
investigativas que ela julga mais adequadas para aquele caso.
F) Peça oficiosa. Pode ser instaurada de oficio.
G) Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial ele se torna indisponível. O delegado não
pode arquivar o inquérito policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judicial, mediante
requerimento do promotor de justiça.

Formas de instauração do inquérito policial. Tudo dependerá da espécie de ação penal


correspondente ao crime perpetrado. Vejamos:
A) Se o crime a ser averiguado for de ação penal privada ou condicionada à representação. O inquérito
começa por representação da vítima ou de seu representante legal;
B) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da
Justiça. Neste caso, o ato inaugural do inquérito é a própria requisição do Ministro da Justiça;
C) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública incondicionada. Neste caso, o inquérito pode
começar de ofício (quando a autoridade policial, em suas atividades, tomou conhecimento dos fatos.
Neste caso, o procedimento inicia-se por portaria); por requisição do juiz ou do Ministério Público (parte
da doutrina entende que o ideal é que o juiz não requisite para se manter imparcial e manter a essência
do sistema acusatório. Neste caso, a peça inaugural é a própria requisição); por requerimento da vítima
(neste caso, o delegado deve verificar as procedências das informações, e, em caso de indeferimento ao
requerimento, cabe recurso inominado dirigido ao Chefe de Polícia. Caso entenda pela instauração de
inquérito, o ato inaugural do procedimento é a portaria); por “delatio criminis” (trata-se de notícia oferecida
por qualquer do povo ou pela imprensa, de modo que esta não pode ser “anônima” (ou inqualificada).
Neste caso, a peça inaugural do procedimento é a portaria. Ademais, vale lembrar que, para o STF, a
denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de inquérito policial, mas a partir
dela o delegado deve realizar diligências preliminares para apurar a procedência das informações antes
da devida instauração do inquérito); por auto de prisão em flagrante (neste caso, a peça inaugural do
inquérito é o próprio auto de prisão em flagrante).

Importância em saber a forma de instauração do inquérito policial. A importância interessa para


fins de análise de cabimento de habeas corpus, mandado de segurança, e definição de autoridade
coatora. Se for um procedimento instaurado por portaria, por exemplo, significa que a autoridade coatora
é o delegado de polícia, logo o habeas corpus é endereçado ao juiz de primeira instância. Agora, se for
um procedimento instaurado a partir da requisição do promotor de justiça, por exemplo, este é a
autoridade coatora, logo, para uma primeira corrente (minoritária), o habeas corpus é endereçado ao juiz
de primeira instância, ou, para uma corrente majoritária, o habeas corpus deve ser encaminhado ao
respectivo Tribunal, pois o promotor de justiça tem foro por prerrogativa de função.

“Notitia criminis”. É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um fato delituoso que tenha
sido praticado. São as seguintes suas espécies:
A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autoridade policial toma conhecimento do fato por
meio de suas atividades corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qualquer descobre uma ossada
humana enterrada no quintal de uma casa);
B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autoridade policial toma conhecimento do fato por
meio de um expediente escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; requerimento da vítima);
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autoridade policial toma conhecimento do fato
delituoso por intermédio do auto de prisão em flagrante.

Alguns atos praticados durante o inquérito policial. De acordo com os arts. 6º, 7º, e 13, do Código
de Processo Penal, são algumas das providências a serem tomadas pela autoridade policial durante a
fase do inquérito policial:
A) Dirigir-se ao local dos fatos, providenciando para que não se alterem o estado e a conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais (art. 6º, I);
B) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais (art. 6º,
II);
C) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias (art. 6º,
III);

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D) Ouvir o ofendido (art. 6º, IV);
E) Ouvir o indiciado com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III, do Título Vll, do
Livro I, CPP (“Do Processo em Geral”), devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas
que tenham ouvido a leitura deste (art. 6º, V);
F) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações (art. 6º, VI);
G) Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias
(art. 6º, VII);
H) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos
autos sua folha de antecedentes (art. 6º, VIII);
I) Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter (art. 6º, IX);
J) colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência
e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (art.
6º, X);
K) Proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública (art. 7º);
L) Fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos
processos (art. 13, I);
M) Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público (art. 13, II);
N) Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias (art. 13, III);
O) Representar acerca da prisão preventiva (art. 13, IV) bem como de outras medidas cautelares
diversas da prisão (construção doutrinária recente).
Vale lembrar que este rol de atos não é exaustivo. Como decorrência do caráter inquisitorial do
inquérito policial visto anteriormente, nada impede que, desde que não-contrária à moral, aos bons
costumes, à ordem pública, e à dignidade da pessoa humana, outra infindável gama de atos possa ser
praticada.

Identificação criminal. Envolve a identificação fotográfica e a identificação datiloscópica. Antes da


atual Constituição Federal, a identificação criminal era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988,
inclusive, dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo art. 5º, LVIII, segundo o qual o
civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas em lei”.
A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Estatuto da Criança e do Adolescente”), em
seu art. 109, segundo o qual a identificação criminal somente será cabível quando houver fundada dúvida
quanto à identidade do menor.
Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Criminosas”) dispôs em seu art. 5º que a
identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas será
realizada independentemente de identificação civil.
Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe
um rol taxativo de delitos em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente, sem
mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações criminosas, o que levou parcela da doutrina
e da jurisprudência a considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado.
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº 12.037/09, que também trata
especificamente apenas sobre o tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo de
delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um art. 3º com situações em que ela será
possível:
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de falsificação (inciso I);
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para identificar o indivíduo de maneira cabal
(inciso II);
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre
si (inciso III);
D) Quando a identificação criminal for essencial para as investigações policiais conforme decidido por
despacho da autoridade judiciária competente, de ofício ou mediante representação da autoridade
policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art.
5º da atual lei (acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal poderá incluir a coleta de
material biológico para a obtenção do perfil genético;
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações (inciso V);
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilitar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI).

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Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em
banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art. 5º-A, acrescido
pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados devem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e
administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos do previsto na lei
ou em decisão judicial.

Indiciamento. “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infração penal. Trata-se de ato privativo
do delegado policial.
O indiciamento pode ser direto, quando feito na presença do investigado, ou indireto, quando este está
ausente.
E o art. 15, da Lei Processual Penal? Não mais se aplica o art. 15, CPP, segundo o qual lhe deveria
ser nomeado curador pela autoridade policial. Isto porque, antes do atual Código Civil, os indivíduos entre
dezoito e vinte e um anos eram reputados relativamente incapazes, razão pela qual deveriam ser
assistidos por curador caso praticassem infração. Com o Código Civil atual, tanto a maioridade civil como
a penal se iniciam aos dezoito anos.
É possível o “desindiciamento”? Sim. Consiste na retirada da condição de indiciado do agente, por se
entender, durante o transcurso das investigações, que este não tem qualquer relação com o fato apurado.
O desindiciamento pode ocorrer tanto de forma facultativa, pela autoridade policial, quanto mediante o
uso de habeas corpus, impetrado com o objetivo de trancar o inquérito policial em relação a algum agente
alvo do procedimento administrativo investigatório.

Incomunicabilidade do indiciado preso. De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal,
seria possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quando conveniente à investigação ou
quando houvesse interesse da sociedade
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o Código de Processo Penal da década de
1940, não foi o mesmo recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de forma
maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente revogado.

Prazo para conclusão do inquérito policial. De acordo com o Código de Processo Penal, em se
tratando de indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclusão. Já em se tratando de
indiciado solto, tem-se trinta dias para conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e
necessárias diligências.
Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze dias para acusado preso, admitida
duplicação deste prazo (art. 66, da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta dias
admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de trinta dias para acusado preso, e de
noventa dias para acusado solto. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Economia Popular”), o prazo, esteja o acusado
solto ou preso, será sempre de dez dias.
E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo processual, isto é, exclui-se o dia do começo
e inclui-se o dia do vencimento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo Penal.

Conclusão do inquérito policial. De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é concluído
com a confecção de um relatório pela autoridade policial, no qual se deve relatar, minuciosamente, e em
caráter essencialmente descritivo, o resultado das investigações. Em seguida, deve o mesmo ser enviado
à autoridade judicial.
Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relatório, em regra, com exceção da Lei nº
11.343/06 (“Lei de Drogas”), em cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quanto à
tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas.
Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável, logo, a sua falta não tornará inquérito
inválido.

Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério Público. Recebido o inquérito policial,
tem o agente do Ministério Público as seguintes opções:
A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça é o titular da ação penal, a ele compete
se utilizar dos elementos colhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta ação por
intermédio da denúncia;
B) Requerimento de diligências. Somente quando forem indispensáveis;
C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investigado não constitui qualquer infração penal,

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. 118
ou, ainda que constitua, encontra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo se desenvolva
por atenção ao “Princípio da Insignificância”, por exemplo, o agente ministerial pode solicitar o
arquivamento do inquérito à autoridade judicial;
D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua competência, o membro do MP suscita a
questão, para que a autoridade judicial remeta os autos à justiça competente;
E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Conforme o art. 114, do Código de Processo
Penal, o “conflito de competência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos jurisdicionais.
Já o “conflito de atribuições” é aquele que se estabelece entre órgãos do Ministério Público.

Arquivamento do inquérito policial. Quem determina o arquivamento do inquérito é a autoridade


judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Ministério Público. Disso infere-se que, nem a
autoridade policial, nem o membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, podem promover o
arquivamento de ofício.
Ademais, em caso de ação penal privada, o juiz pode promover o arquivamento caso assim requeira
o ofendido.

Trancamento do inquérito policial. Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo


possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa extintiva da punibilidade, e de ausência de
elementos indiciários relativos à autoria e materialidade. Se houver o risco à liberdade de locomoção, o
meio mais adequado de se fazê-lo é pela via do habeas corpus.

Investigação pelo Ministério Público. Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no
sentido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se confirmou com a rejeição da Proposta
de Emenda à Constituição nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da Constituição
Federal no sentido de que a apuração de infrações penais caberia apenas aos órgãos policiais -, há se
disponibilizar argumentos favoráveis e contrários a tal prática:
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possibilidade de investigar atribuída ao
Ministério Público é a chamada “Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte-
americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, isto é, se ao Ministério Público compete
o oferecimento da ação penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios de autoria e
materialidade para essa oferta de denúncia pela via do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o
procedimento investigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, apenas tendo uma
autoridade presidente diferente, no caso, o agente ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se
que a bem do direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias ao Ministério Público é
mais uma arma na busca deste intento;
B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento desfavorável à possibilidade investigatória
do Ministério Público, tem-se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais, fala-se em
desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o membro do MP todo o aparato estatal para conseguir
a condenação de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a defesa por seu advogado
caso não tenha condições financeiras de conduzir uma investigação particular. Também, fala-se que o
Ministério Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de inquérito policial, de maneira que
a atribuição para presidi-lo seria “querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas são uma
exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão legal nem instrumentos para realização da
investigação Ministério Público.

Controle externo da atividade policial. O controle externo da atividade policial é aquele realizado
pelo Ministério Público no exercício de sua atividade fiscalizatória em prol da sociedade (art. 127 e 129,
II, da Constituição Federal de 1988) e em virtude de mandamento constitucional expresso (art. 129, VII,
da Constituição Federal de 1988).

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

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. 119
(...)
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no
artigo anterior.

Como visto a legislação brasileira não definiu exatamente o conceito do controle externo da atividade
policial, então, recorreremos à doutrina para tentar conceituá-lo. O douto professor Hugo Nigro Mazzilli
nos ensina que esse controle externo: “é um sistema de vigilância e verificação administrativa,
teleologicamente dirigido à melhor coleta de elementos de convicção que se destinam a formar a “opinio
delictis” do Promotor de Justiça, fim último do próprio inquérito policial”.

O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como objetivo manter a regularidade
e a adequação dos procedimentos empregados na execução da atividade policial, bem como a integração
das funções do Ministério Público e das Polícias voltadas para a persecução penal e o interesse público
O controle externo se assenta em dois pilares:
- verificar a eficiência da atividade policial, zelando para que sejam fornecidos elementos suficientes
ao Ministério Público para o oferecimento da denúncia ou arquivamento do caso;
- corrigir eventuais desvios e abusos da atividade policial, garantido-se o respeito aos direitos e
garantias dos cidadãos.

Estão sujeitos ao controle externo do Ministério Público, na forma do art. 129, VII, da Constituição
Federal, e da legislação em vigor, os organismos policiais relacionados no art. 144 da Constituição
Federal, bem como as polícias legislativas ou qualquer outro órgão ou instituição, civil ou militar,
relacionada com a segurança e a persecução criminal.
O controle externo da atividade policial se apresenta sob as espécies difusa e concentrada.
O controle difuso é exercido por todos os membros do Ministério Público com atribuição criminal,
através do acompanhamento e fiscalização do inquérito e outros procedimentos de investigação policial.
O controle concentrado, por sua vez, é exercido pelos grupos de membros com atribuições específicas,
que devem também realizar inspeções periódicas nas unidades de polícia.
No âmbito do Ministério Público Federal (MPF), o controle concentrado é exercido em cada Unidade
da Federação, por um Grupo de Procuradores da República (GCEAP), designado pelo prazo de dois anos
por ato do Procurador-Geral da República (conforme art. 5º da Res. CSMPF Nº 88, de 03 de agosto de
2006). A coordenação nacional da atuação criminal e do controle externo incumbe à 2ª Câmara de
Coordenação e Revisão (2ª CCR/MPF). Ela é assessorada, em matéria de controle externo, pelo Grupo
de Trabalho da Atividade de Controle Externo (GTCeap) que subsidia o trabalho dos Procuradores da
República integrantes dos GCeaps nos estados.

Vamos em seguida efetuar a leitura atenta dos dispositivos contidos no Código de Processo Penal
referente aos artigos que versam sobre o tema “Do Inquérito Policial”:

TÍTULO II
DO INQUÉRITO POLICIAL

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a
quem por lei seja cometida a mesma função.

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe
de Polícia.

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§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba
ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a
procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela
ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até
a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll,
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a
leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos
autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a
moralidade ou a ordem pública.

Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto no Capítulo II do Título IX deste Livro.

Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a
ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao
juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os
autos do inquérito.

Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
outra.

Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:


I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos
processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV - representar acerca da prisão preventiva.

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Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e
informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.

Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o
membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial,
às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização
e intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de
autorização judicial, conforme disposto em lei;
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta)
dias, renovável por uma única vez, por igual período;
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem
judicial.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de
72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente
requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência,
que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial.

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão
para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver
notícia.

Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo
competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues
ao requerente, se o pedir, mediante traslado.

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não
poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes.

Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será
permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho
fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público,

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respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963)

Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição policial, a
autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar
diligências em circunscrição de outra, independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim
providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua
presença, noutra circunscrição.

Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade policial oficiará
ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que tiverem
sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.

Questões

01. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Pode-se afirmar que a autoridade policial,
assim que tiver conhecimento da prática da infração penal deverá:
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligências periciais pretendem fazer.
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alterem o estado e a conservação das coisas,
até sua chegada.
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, depois que já tiverem sido liberados pelos
peritos criminais.
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus respectivas familiares.
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três testemunhas que presenciaram o fato.

02. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Acerca de aspectos diversos pertinentes
ao IP, assinale a opção correta.
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser apurado, poderá ser presidido por
representante do MP, mediante prévia determinação judicial nesse sentido.
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria vítima provoca a atuação da polícia
judiciária, comunicando a ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial.
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser adotado na fase inquisitorial.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante independentemente de o indiciado estar solto
ou preso, visto que a superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar a persecução penal
na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requerimento de abertura de IP feito pelo ofendido
ou seu representante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao juiz criminal da comarca
onde, em tese, ocorreu o fato delituoso.

03. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) O inquérito policial


(A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido oferecida e a ação penal dela depender.
(B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o contraditório ao indiciado.
(C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de ação penal pública incondicionada.
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público se tratar-se de crime de ação penal
privada.
(E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação penal pública incondicionada.

04. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) No que se refere ao arquivamento do inquérito


policial, assinale a opção correta.
(A) Membro do Ministério Público ordenará o arquivamento do inquérito policial se verificar que o fato
investigado é atípico.
(B) Cabe à autoridade policial ordenar o arquivamento quando a requisição de instauração recebida
não fornecer o mínimo indispensável para se proceder à investigação.
(C) Sendo o crime de ação penal privada, o arquivamento do inquérito policial depende de decisão do
juiz, após pedido do Ministério Público.
(D) O inquérito pode ser arquivado pela autoridade policial se ela verificar ter havido a extinção da
punibilidade do indiciado.
(E) Sendo o arquivamento ordenado em razão da ausência de elementos para basear a denúncia, a
autoridade policial poderá empreender novas investigações se receber notícia de novas provas.

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05. (PC/PA - Delegado de Polícia Civil - FUNCAB/2016) Sobre inquérito policial, assinale a resposta
correta.
(A) Excepcional e fundamentadamente, a autoridade policial poderá mandar arquivar o inquérito para
evitar lesão a direitos fundamentais do indiciado.
(B) Para o desarquivamento do inquérito policial a autoridade policial necessita de novas provas.
(C) O prazo para encerramento do inquérito policial no caso de réu preso, nos termos do código de
processo penal é de 30 dias.
(D) Aos crimes de ação penal privada, encerrado o inquérito policial a autoridade policial poderá
entregá-lo, por traslado, ao ofendido ou seu representante se assim for requerido.
(E) No curso do inquérito o ofendido não poderá requerer diligências.

Respostas

01. Resposta: D
Dispõe o artigo 6º, II, do CPP, que logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial, dentre outras ações, deverá apreender os objetos que tiverem relação com o fato,
após liberados pelos peritos criminais.

02. Resposta: C
“Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infração penal. O indiciamento é ato próprio da autoridade
policial a ser adotado na fase inquisitorial.

03. Resposta: A
Nos crimes em que a ação pública depender de representação, o inquérito não poderá sem ela ser
iniciado. É o que dispõe o art. 5º, §4º, do CPP.

04. Resposta: E
Prevê o art. 18 do CPP: “Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária,
por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras
provas tiver notícia”.

05. Resposta: C
Consoante o que prevê o artigo 19 do CPP: Nos crimes em que não couber ação pública (crimes de
ação penal privada), os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a
iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado (cópia).

6.3.2 Do Exame do Corpo de Delito, e das Perícias em Geral: artigos


155 a 184.

O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal, sobre cuja análise é realizada a perícia
criminal a fim de determinar fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc., através do
exame de corpo de delito.
A finalidade do exame de corpo de delito é comprovar a existência dos elementos do fato típico dos
delitos "FACTI PERMANENTIS" (delitos praticados com vestígios).
Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não transeunte”), o exame de corpo de delito
se torna indispensável, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contudo, que não
sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal
poderá suprir-lhe a falta (art. 167, CPP).
Muitos confundem o "corpo de delito" com o "exame de corpo de delito". Explico. Dá-se o nome de
"corpo de delito" ao local do crime com todos os vestígios materiais deixados pela infração penal. Trata-
se dos elementos corpóreos sensíveis aos sentidos humanos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc.
Contudo, “corpo”, não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas a tudo que possa estar
envolvido com o delito, como um fio de cabelo, uma mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma
porta arrombada etc. Em outras palavras, "corpo de delito" é o local do crime com todos os seus vestígios;
"exame de corpo de delito" é o laudo técnico que os peritos fazem nesse determinado local, analisando-
se todos os referidos vestígios.

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. 124
Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie, fica claro que a confissão do acusado,
antes considerada a “rainha das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma ampla gama
de vícios que podem maculá-la, como a coação e a assunção de culpa meramente para livrar alguém de
um processo-crime.

Corpo de delito direto e indireto.


a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados pelo fato criminoso. São os elementos
materiais, perceptíveis pelos nossos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos sensíveis,
objetivos, devem ser objetos de prova, obtida pelos meios que o direito fornece. Os técnicos dirão da sua
natureza, estabelecerão o nexo entre eles e o ato ou omissão, pelo qual se incrimina o acusado. O corpo
de delito deve realizar-se o mais rapidamente possível, logo que se tenha conhecimento da existência do
fato.
O perito dará atenção a todos os elementos, que se vinculem ao fato principal, sobretudo o que possa
influir na aplicação da pena.
b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se torna impossível, admite-se a prova
testemunhal, por haverem desaparecido os elementos materiais. Essa substituição do exame objetivo
pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois não há corpo, embora haja o delito. Cabe ressaltar
que o exame indireto somente deve ser realizado caso não seja possível à realização do exame direto.
Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a
qualquer hora.

Perícia Criminal
A perícia criminal é uma atividade técnico-científica prevista no Código de Processo Penal,
indispensável para elucidação de crimes quando houver vestígios. A atividade é realizada por meio da
ciência forense, responsável por auxiliar na produção do exame pericial e na interpretação correta de
vestígios. Os peritos desenvolvem suas atribuições no atendimento das requisições de perícias
provenientes de delegados, procuradores e juízes inerentes a inquéritos policiais e a processos penais.
A perícia criminal, ou criminalística, é baseada nas seguintes ciências forenses: química, biologia,
geologia, engenharia, física, medicina, toxicologia, odontologia, documentoscopia, entre outras, as quais
estão em constante evolução.
A perícia requisitada pela Autoridade Policial, Ministério Público e Judiciário, é a base decisória que
direciona a investigação policial e o processo criminal. Como já mencionado, a prova pericial é
indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser dispensada sequer quando o criminoso
confessa a prática do delito. A perícia é uma modalidade de prova que requer conhecimentos
especializados para a sua produção, relativamente à pessoa física, viva ou morta, implicando na
apreciação, interpretação e descrição escrita de fatos ou de circunstâncias, de presumível ou de evidente
interesse judiciário.
O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infração penal, devidamente estudados por
profissionais especializados, permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que forma este
ocorreu e, quando possível e necessário, identificando todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o
criminoso e outras pessoas que possam de alguma forma ter relação com o crime, assim como o meio
pelo qual se perpetrou o crime, com a determinação do tipo de ferramenta ou arma utilizada no delito.
Apesar de o laudo pericial não ser a única prova, e entre as provas não haver hierarquia, ocorre que, na
prática, a prova pericial acaba tendo prevalência sobre as demais. Isto se dá pela imparcialidade e
objetividade da prova técnico-científica enquanto que as chamadas provas subjetivas dependam do
testemunho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de
capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde exista a intenção de
distorcer os fatos.
A execução das perícias criminais é de competência exclusiva dos Peritos Criminais. Essa afirmação
é reforçada pela Lei nº 12.030 de 2009, que estabelece que o Perito Oficial a que se refere o Código de
Processo Penal são o Perito Criminal, o Perito Médico-Legista e o Perito Odonto-Legista. Prova pericial
(ou arbitramento) pode ser dividida em:
- Exame: concernente à inspeção de pessoas e bens móveis;
- Vistoria: concernente à inspeção de bens imóveis.
- Avaliação: estimativa do valor do bem de acordo com as prerrogativas de mercado.

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. 125
Formulação de quesitos pelo Ministério Público, assistente de acusação, ofendido, querelante,
e acusado.
Podem, o Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante, e o acusado, formular
quesitos e indicar assistente técnico. Eis o teor do previsto no segundo parágrafo, do art. 159, do Código
de Processo Penal;

Laudo pericial.
O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo este prazo ser prorrogado em
casos excepcionais a requerimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descreverão minuciosamente
o que examinarem, e responderão aos eventuais quesitos formulados. Tratando-se de perícia complexa,
isto é, aquela que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, será possível designar a
atuação de mais de um perito oficial, bem como à parte será facultada a indicação de mais de um
assistente técnico;

Autópsia.
A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após o óbito, salvo se os peritos, pela evidência
dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão declarar no auto
(art. 162, caput, CPP). No caso de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando
não houver infração penal que apurar ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte
e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante (art.
162, parágrafo único, CPP);

Exumação de cadáver.
Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providenciará que, em dia e hora previamente
marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput, CPP). Neste
caso, o administrador do cemitério público/particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de
desobediência. Agora, havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, se procederá ao
reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com
todos os sinais e indicações (art. 166, CPP);

Fotografia dos cadáveres.


Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na
medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164, CPP). Para
representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame
provas fotográficas, esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados (art. 165, CPP);

Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstáculo à subtração da coisa.


Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio
de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por quais meios
e em que época presumem ter sido o fato praticado (art. 171, CPP);

Material guardado em laboratório para nova perícia.


Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova
perícia. Ademais, sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, provas
microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP);

Incêndio.
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que
dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação do fato (art. 173, CPP);

Exame para reconhecimento de escritos.


Deve-se observar, de acordo com o art. 174, do CPP, o seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se
possa atribuir o escrito será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para a comparação, poderão
servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos
como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso II); a autoridade, quando
necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos
públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados (inciso III); quando não houver

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escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa
escreva o que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta
última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será
intimada a escrever (inciso IV);
Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art.
182, CPP).

Dispositivos do CPP pertinentes ao tema:

TÍTULO VII
DA PROVA
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo
de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada
por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.

CAPÍTULO II
DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM GERAL

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior.
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame.
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo.
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e
ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e
elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde
que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados
com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou
ser inquiridos em audiência.

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§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito
oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado,
poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente
técnico.

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem,
e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo
ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando
não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da
morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia
e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob
pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se
o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que
tudo constará do auto.

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como,
na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.

Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão
ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.

Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento
pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas,
lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os
sinais e indicações.
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados,
que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-
se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe
a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal,
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que
poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no
relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

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Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de
nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou
microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou
por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por
que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou que
constituam produto do crime.
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio dos
elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o
perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor
e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o
seguinte:
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada;
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já
tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver
dúvida;
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em
arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados;
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade
mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo,
esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa
será intimada a escrever.

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se
Ihes verificar a natureza e a eficiência.

Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.

Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado. Havendo,
porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante.
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela autoridade ao diretor da repartição,
juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos.

Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto respectivo, que será assinado pelos
peritos e, se presente ao exame, também pela autoridade.
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, que poderá ser datilografado, será
subscrito e rubricado em suas folhas por todos os peritos.

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as declarações
e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará
um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros
peritos.

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou


contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros
peritos, se julgar conveniente.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

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Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, observar-se-á o disposto no art. 19.

Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia
requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

Questões

01. (PC/GO - Agente de Polícia Substituto - CESPE/2016) No que diz respeito às provas no processo
penal, assinale a opção correta.
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pericial médica, que não pode ser suprida
por testemunho.
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria, ficará provada a alegação contida na
denúncia, tornando-se desnecessária a produção de outras provas.
(C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo
valiosas para formar o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em outros elementos de
prova.
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos relativos ao estado das pessoas, como,
por exemplo, casamento, menoridade, filiação e cidadania.
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha é típico da fase pré-processual da ação
penal e deve ser presidido pelo delegado de polícia.

02. (PC/DF - Perito Criminal - IADES/2016) O Código de Processo Penal elenca um conjunto de
regras que regulamentam a produção das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às perícias
em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184 da lei em comento. Quanto ao exame de corpo
de delito, nos crimes
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a prova testemunhal não poderá suprir-lhe a
falta.
(B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado durante o dia.
(C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame
complementar apenas por determinação da autoridade judicial.
(D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado.
(E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias sejam realizadas por dois peritos oficiais.

03. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Quanto à prova pericial, assinale a
opção correta.
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial para atestar o rompimento de obstáculo
nos casos de furto mediante arrombamento, prevalecendo em tais situações a qualificadora do delito.
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se durante o dia, de modo a não suscitar
qualquer tipo de dúvida, sendo vedada a sua realização durante a noite.
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participação da defesa na produção da prova
pericial na fase investigatória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo pericial.
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um perito oficial e, na falta deste, admite a lei
que duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas de habilidade técnica
relacionada com a natureza do exame, sejam nomeadas para tal atividade.
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resultado vincula o juízo; por isso, a sentença
não poderá ser contrária à conclusão do laudo pericial.

04. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Sobre o exame de corpo de delito e as
perícias em geral, nos termos preconizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar:
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessariamente por três pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por
meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que
meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida
pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

05. (PC/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A prova em matéria processual penal tem
por finalidade formar a convicção do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um fato tido como
criminoso. No que tange aos meios de prova, o Código de Processo Penal dispõe:
(A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
(B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
(C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma
de curso superior. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma pessoa idônea, portadora de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica.
(D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos,
pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
no auto.
(E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.

06. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) Com relação ao exame de corpo de delito, assinale
a opção correta.
(A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indiretamente pela confissão do acusado se os
vestígios já tiverem desaparecido.
(B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o exame de corpo de delito de modo indireto.
(C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal.
(D) Depende de mandado judicial a realização de exame de corpo de delito durante o período noturno.
(E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz poderá negar a sua realização, se
entender que é desnecessário ao esclarecimento da verdade.

Respostas

01. Resposta: “C”


No direito processual penal pátrio vige o sistema da livre convencimento ou da persuasão racional, ou
ainda, da liberdade dos meios de prova, onde o juiz tem liberdade para formar sua convicção, não estando
preso a qualquer critério legal de prefixação de valores probatórios. Deste modo, as declarações do réu
durante o interrogatório serão avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas quando amparadas em
outros elementos de prova.

02. Resposta: “D”


Prevê o art. 158, do CPP: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

03. Resposta: “D”


Dispõe o art. 159, §1º, do CPP: Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que
tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

04. Resposta: “A”


A alternativa “A” está incorreta, tendo em vista que nos termos da lei, na falta de perito oficial, o exame
será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas e não por 3 (três), como se afirmou na resposta.

05. Resposta: “D”


Prevê o art. 162 do CPP: A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.

06. Resposta: “C”


Excepcionalmente, quando a infração penal não deixar vestígios ou estes houverem desaparecido, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. É o que prevê o artigo 167 do CPP.

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6.3.3. Dos Indícios: artigo 239

Indício: É todo e qualquer fato sinal, marca ou vestígio, conhecido e provado, que, possua relação
necessária ou possível com outro fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a existência deste
último.

O Art 239 do CPP define indício como: “a circunstância conhecida e provada que, tendo relação
com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.

Quando falamos em “indícios” temos que ter cuidado para não confundir estes com os “vestígios”,
posto que para os leigos em criminalística e na linguagem destituída de características jurídicas,
depreende-se que vestígios e indícios praticamente se constituem em sinônimos.
Para Aurélio Buarque de Holanda Pereira, em seu novo Dicionário da Língua Portuguesa, vestígio é:
“Sinal que homem ou animal deixa com os pés no lugar por onde passa; rastro, rasto, pegada, pista; no
sentido figurado, indício, sinal, pista, rastro, rasto”.
Entretanto, sob o enfoque criminalístico e também processualístico, há que se ter em mente a perfeita
delimitação e diferenciação entre cada um dos vocábulos. Assim, qualquer marca, fato, sinal, que seja
detectado em local onde haja sido praticado um fato delituoso é, em princípio, um vestígio.
Se tal vestígio, após devidamente analisado, interpretado e associado com os minuciosos exames
laboratoriais e dados da investigação policial do fato, enquadrando-se em toda a sua moldura, tiver
estabelecida a sua inequívoca relação com o fato delituoso e com as pessoas com este relacionadas, aí
ele terá se transformado em indício.
Atesta-se, dessa forma, o que, com muita precisão, propriedade e singeleza distingue o eminente
mestre Professor Gilberto Porto, em seu já referido Manual de Criminalística: “o vestígio encaminha; o
indício aponta”.

Questões

01. (PC/CE - Escrivão de Polícia Civil de 1ª Classe - VUNESP/2015) Segundo o disposto no Código
de Processo Penal, consideram-se indícios:
(A) a circunstância conhecida mas ainda não provada que, tendo relação com o fato, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
(B) o conjunto dos meios de prova de autoria e materialidade que autorize o oferecimento da denúncia
por parte do Ministério Público
(C) a circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize o indiciamento do
investigado.
(D) a circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
se a existência de outra ou outras circunstâncias.
(E) o conjunto dos elementos de prova de autoria e materialidade que autorize o oferecimento da
denúncia por parte do Ministério Público.

02. (Polícia Civil/ES - Escrivão de Polícia - FUNCAB/2013) Pode-se afirmar que “indícios”, de acordo
com o Código de Processo Penal Brasileiro, são:
(A) circunstâncias conhecidas e provadas, que permitem chegar à verificação da existência de um fato.
(B) presunções, que permitem chegar à verificação da existência de um fato.
(C) presunções, que permitem chegar à verificação da existência de um fato.
(D) fatos conhecidos e provados, que permitem chegar à verificação da existência de uma presunção.
(E) fatos conhecidos e provados, que permitem chegar à verificação da existência de uma presunção
juris tantum.

Respostas

01. Resposta: D
Além de conhecida a circunstância tem que ser provada. É o que dispõe o art. 239 do CP.

Apostila gerada especialmente para: Marcos Rogerio Moreira 341.412.418-14


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02. Resposta: A
Com base no artigo 239 do CPP, considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo
relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.

6.3.4 Dos Peritos e Intérpretes: artigos 275 a 281

Os peritos e intérpretes são auxiliares do juízo, isto é, agentes que, embora não servidores da justiça
propriamente ditos, fornecem esclarecimentos e conhecimentos específicos acerca de determinados
temas quando consultados. Ainda, mesmo que não-oficiais, estão sujeitos à disciplina judiciária, e as
partes não intervirão em sua nomeação.
Em contrapartida, o perito/intérprete não poderá se furtar de seu ofício de forma injustificável, sob pena
de multa, e, se for o caso, condução coercitiva (também incorrerão em multa se deixarem de atender à
intimação ou a chamado de autoridade, se não comparecerem no dia e local designados para o exame,
ou se não derem o laudo ou concorrerem para que a perícia não seja feita nos prazos estabelecidos).
Ademais, de acordo com o art. 279, do Código de Processo, não poderão ser peritos os que estiverem
sujeitos à interdição de direito mencionada no art. 47, I (proibição de exercício de cargo, função ou
atividade pública) e II (proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público), do Código Penal (inciso I); os que
tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia (inciso II);
bem como os analfabetos e menores de vinte e um anos (inciso III).

Do Perito
Com relação aos peritos importante relembrar no estudo o que prevê o Código de Processo Penal em
seu artigo 159, vejamos: “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior”. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área especifica, dentre as que
tiveram habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. Estes prestarão o compromisso de e
finalmente desempenhar o cargo.
Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: requer a oitiva dos peritos
para esclarecerem a prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos
ou questões a serem esclarecidos sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias,
podendo apresentar as respostas em laudo complementar.
A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo ou mesmo após a sentença, em situações
especiais. Sua função não termina com a reprodução de sua análise, mas se continua além dessa
apreciação, por meio do juízo de valor sobre os fatos, o que se torna o diferencial da função de
testemunha. Ou seja, a diferença entre testemunha e perito é que a primeira é solicitada porque já tem
conhecimento do fato e o segundo para que conheça e explique os fundamentos da questão discutida,
por meio de uma análise técnica científica.
A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas causas criminais, dois peritos. Em se tratando
de peritos não oficiais, assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação é obrigatória com um
“compromisso formal de bem e fielmente desempenharem a sua missão, declarando como verdadeiro o
que encontrarem e descobrirem e o que em suas consciências entenderam”.
Os peritos terão um prazo máximo de 10 (dez) dias para elaboração do laudo pericial, podendo este
prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos, conforme dispõe o parágrafo
único do artigo 160 do Código de Processo Penal. Apenas em casos de suspeição comprovada ou de
impedimento previsto em lei é que se eximem os peritos da aceitação.
O mesmo diploma ainda assegura como dever especial que os peritos nomeados pela autoridade não
podem recusar a indicação, a não ser por escusa atendível (art. 277, a); não podem deixar de comparecer
no dia e no local designados para o exame (art. 277, b); não podem deixar de entregar o laudo ou
concorrer para que a perícia não seja feita no prazo estabelecido (art. 277, c). Pode ainda em casos de
não comparecimento, sem justa causa, a autoridade determinar a condução do perito (art. 278). E falsa
perícia constitui crime contra a administração da Justiça (art. 342). Quando os dois peritos não chegam,
na perícia criminal, a um ponto de vista comum, cada qual fará à parte seu próprio relatório, chamando-
se a isso perícia contraditória. Mesmo assim, o juiz, que é o peritus peritorum, (perito dos peritos) aceitará
a perícia por inteiro ou em parte, ou não aceitará em todo, pois está forma determina o parágrafo único
do artigo 181 do Código de Processo Penal, facultando-lhe nomear outros peritos para novo exame.

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As partes poderão arguir de suspeitos os peritos, e o juiz decidirá de plano e sem recurso, à vista da
matéria alegada e prova imediata (art. 105). Não poderão ser peritos:
I – os que estiverem sujeitos a interdição de direito mencionada nos números I e II do artigo 47 do
Código Penal;
II – os que tiverem prestado depoimento no processo no processo ou opinado anteriormente sobre o
objeto da perícia;
III – os analfabetos e menores de 21 anos (art. 279).

É extensível aos peritos, no que lhe for aplicável, disposto sobre a suspeição dos juízes (art. 280);
I – se for amigo ou inimigo capital de qualquer das partes;
II – se ele, seu conjugue ou descendente estiver respondendo a processo análogo, sobre cujo caráter
criminoso haja controvérsia;
III – se ele, seu conjugue, ou parente consanguíneo, ou afim, até terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
VI – se for sócio, acionista, ou administrador de sociedade interessada no processo.

Para que a Justiça não fique sempre na dependência direta de um ou de outro perito, criaram-se, há
alguns anos, em alguns estados, como na Bahia e São Paulo, os Conselhos Médico-Legais, espécies de
corte de apelação pericial cujos objetivos são a emissão de pareceres médico-legais mais especializados,
funcionando também como órgãos de consultas dos próprios peritos. Eram, normalmente, compostos de
autoridades indiscutíveis em medicina legal e representados por professores da disciplina, diretores de
institutos Médico-Legais, propor um membro do Ministério Público indicado pela Secretaria do Interior e
Justiça.

Atividades Desenvolvidas
As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande complexidade e de natureza especializada,
tendo por objeto executar com exclusividade os exames de corpo de delito e todas as perícias criminais
necessárias à instrução processual penal, nos termos das normas constitucionais e legais em vigor,
exercendo suas atribuições nos setores periciais de: Acidentes de Trânsito, Auditoria Forense, Balística
Forense, Documentoscopia, Engenharia Legal, Perícias Especiais, Fonética Forense, Identificação
Veicular, Informática, Local de Crime Contra a Pessoa, Local de Crime Contra o Patrimônio, Meio
Ambiente, Multimídia, Papiloscopia, dentre outros. A função mais relevante do Perito Criminal é a busca
da verdade material com base exclusivamente na técnica. Não cabe ao Perito Criminal acusar ou
suspeitar, mas apenas examinar os fatos e elucidá-los. Desventrar todos os aspectos inerentes aos
elementos investigados, do ponto exclusivamente técnico.

Responsabilidades Civil e Penal do Perito


Aos peritos oficiais ou não-oficiais são exigidas obrigações de ordem legal e a ilicitude de suas
atividades caracteriza-se como violação a um dever jurídico, algumas delas com possíveis repercussões
a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se dizer que os peritos na área civil são considerados
auxiliares da justiça, enquanto na perícia criminal são os servidores públicos. Quanto ao fiel cumprimento
do dever de ofício, os primeiros prestam compromissos a cada vez que são designados pelo juiz e, os
segundos, o compromisso está implícito com a posse no cargo público, a não ser nos casos dos
chamados peritos nomeados ad hoc.

Por fim, cabe ressaltar que os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

Vamos acompanhar a seguir os dispositivos contidos no Código de Processo Penal referente ao


presente assunto:

CAPÍTULO VI
DOS PERITOS E INTÉRPRETES

Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

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Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de
cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.

Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar
a sua condução.

Art. 279. Não poderão ser peritos:


I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código
Penal;
II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da
perícia;
III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

Questões

01. (PC/SP - Perito Criminal - VUNESP/2014) A questão, refere-se às normas do Código de Processo
Penal. Em face do tema “Dos peritos e intérpretes”, assinale a alternativa correta.
(A) No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua
condução.
(B) Apenas o perito não oficial estará sujeito à disciplina judiciária.
(C) As partes poderão intervir na nomeação do perito.
(D) O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa, ainda
que haja escusa atendível.
(E) Não poderão ser peritos os menores de 25 anos.

02. (Polícia Civil/SP - Perito Criminal – VUNESP/2013) Sobre os peritos e intérpretes, o Código de
Processo Penal dispõe que
(A) as partes não podem intervir na nomeação do perito.
(B) os peritos oficiais estão sujeitos à disciplina judiciária, enquanto os peritos não oficiais sujeitam-se
apenas em determinados casos previstos em legislação própria.
(C) os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da
perícia poderão servir como peritos.
(D) o perito nomeado pela autoridade poderá ou não aceitar o encargo, independentemente de
declaração de motivo.
(E) os intérpretes não são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

Respostas

01. Resposta: A
É o que prevê o art. 278, do CPP: No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a
autoridade poderá determinar a sua condução.

02. Resposta: A
Perito é o especialista em determinada matéria, encarregado de servir como auxiliar da justiça,
esclarecendo pontos específicos distantes do conhecimento jurídico do juiz. Interprete é a pessoa
conhecedora de determinados idiomas estrangeiros ou linguagens específicas, que serve de intermédio
entre a pessoa a ser ouvida em juízo e o magistrado e as partes. Nos termos do artigo 276 do CPP as
partes não intervirão na nomeação do perito.

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6.4. Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (Lei Complementar
n.º 207/79 e Lei Complementar n.º 922/02)

LEI COMPLEMENTAR Nº 207, DE 05 DE JANEIRO DE 19799.

Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei complementar:

TÍTULO I
Da Polícia do Estado de São Paulo

Artigo 1.º - A Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública responsável pela manutenção,
em todo o Estado, da ordem e da segurança pública internas, executará o serviço policial por intermédio
dos órgãos policiais que a integram.
Parágrafo único - Abrange o serviço policial a prevenção e investigação criminais, o policiamento
ostensivo, o trânsito e a proteção em casos de calamidade pública, incêndio e salvamento.

Artigo 2.º - São órgãos policiais, subordinados hierárquica, administrativa e funcionalmente ao


Secretário da Segurança Pública:
I - Polícia Civil;
II - Polícia Militar.
§ 1.º - Integrarão também a Secretaria da Segurança Pública os órgãos de assessoramento do
Secretário da Segurança, que constituem a administração superior da Pasta.
§ 2.º - A organização, estrutura, atribuições e competência pormenorizada dos órgãos de que trata
este artigo serão estabelecidos por decreto, nos termos desta lei e da legislação federal pertinente.

Artigo 3.º - São atribuições básicas:


I - Da Polícia Civil - o exercício da Polícia Judiciária, administrativa e preventiva especializada;
II - Da Polícia Militar - o planejamento, a coordenação e a execução do policiamento ostensivo, fardado
e a prevenção e extinção de incêndios.

Artigo 4.º - Para efeito de entrosamento dos órgãos policiais contará a administração superior com
mecanismos de planejamento, coordenação e controle, pelos quais se assegurem, tanto a eficiência,
quanto a complementaridade das ações, quando necessárias a consecução dos objetivos policiais.

Artigo 5.º - Os direitos, deveres, vantagens e regime de trabalho dos policiais civis e militares, bem
como as condições de ingresso as classes, séries de classes, carreiras ou quadros são estabelecidos em
estatutos.

Artigo 6.º - É vedada, salvo com autorização expressa do Governador em cada caso, a utilização de
integrantes dos órgãos policiais em funções estranhas ao serviço policial, sob pena de responsabilidade
da autoridade que o permitir.
Parágrafo único - É considerado serviço policial, para todos os efeitos inclusive arregimentação, o
exercido em cargo, ou funções de natureza policial, inclusive os de ensino a esta legados.

Artigo 7.º - As funções administrativas e outras de natureza não policial serão exercidas por funcionário
ou por servidor, admitido nos termos da legislação vigente não pertencente às classes, séries de classes,
carreiras e quadros policiais.
Parágrafo único - Vetado.

9
Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/1979/alteracao-lei.complementar-207-05.01.1979.html,
Acesso em: 10/02/2017.

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Artigo 8.º - As guardas municipais, guardas noturnas e os serviços de segurança e vigilância,
autorizados por lei, ficam sujeitos à orientação, condução e fiscalização da Secretaria da Segurança
Pública, na forma de regulamentada específica.

TÍTULO II
Da Polícia Civil
CAPÍTULO I
Das Disposições Preliminares

Artigo 9.º - Esta lei complementar estabelece as normas, os direitos, os deveres e as vantagens dos
titulares de cargos policiais civis do Estado.

Artigo 10. - Consideram-se para os fins desta lei complementar:


I - classe: conjunto de cargos públicos de natureza policial da mesma denominação e amplitude de
vencimentos;
II - série de classes: conjunto de classes da mesma natureza de trabalho policial, hierarquicamente
escalonadas de acordo com o grau de complexidade das atribuições e nível de responsabilidade;
III - carreira policial: conjunto de cargos de natureza policial civil, de provimento efetivo.

Artigo 11 - São classes policiais civis aquelas constantes do anexo que faz parte integrante desta lei
complementar.

Artigo 12 - As classes e as séries de classes policiais civis integram o Quadro da Secretaria da


Segurança Pública na seguinte conformidade:
I - na Tabela I (SQC-I):
a) Delegado Geral de Polícia;
b) Diretor Geral de Polícia (Departamento Policial);
c) Assistente Técnico de Polícia;
d) Delegado Regional de Polícia;
e) Diretor de Divisão Policial;
f) Vetado;
g) Vetado;
h) Assistente de Planejamento e Controle Policial;
i) Vetado;
j) Delegado de Polícia Substituto;
l) Escrivão de Polícia Chefe II;
m) Investigador de Polícia Chefe II;
n) Escrivão de Polícia Chefe I;
o) Investigador de Polícia Chefe I;
II - na Tabela II (SQC-II):
a) Chefe de Seção (Telecomunicação Policial);
b) Encarregado de Setor (Telecomunicação Policial);
c) Chefe de Seção (Pesquisador Dactiloscópico Policial);
d) Encarregado de Setor (Pesquisador Dactiloscópico Policial)
e) Encarregado de Setor (Carceragem);
f) Chefe de Seção (Datiloscopista Policial);
g) Encarregado de Setor (Datiloscopista Policial);
h) Perito Criminal Chefe;
i) Perito Criminal Encarregado.
III - na Tabela III (SQC-III)
a) os das séries de classe de:
1. Delegado de Polícia;
2. Escrivão de Polícia;
3. Investigador de Polícia;
b) os das seguintes classes:
1. Perito Criminal;
2. Técnico em Telecomunicações Policial;
3. Operador de Telecomunicações Policial;
4. Fotógrafo (Técnica Policial);

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. 137
5. Inspetor de Diversões Públicas;
6. Auxiliar de Necropsia;
7. Pesquisador Dactiloscópico Policial;
8. Carcereiro;
9. Datiloscopista Policial;
10. Agente Policial;
11. Atendente de Necrotério Policial.
§ 1.º - Vetado.
§ 2.º - O provimento dos cargos de que trata o inciso II deste artigo far-se-á por transposição, na forma
prevista no artigo 27 da Lei Complementar n.º 180, de 12 de maio de 1978.
§ 3.º - Vetado.

CAPÍTULO II
Vetado

Artigos 13 e 14 - Vetados.

CAPÍTULO III
Do Provimento de Cargos
SEÇÃO I
Das Exigências para Provimento

Artigo 15 - No provimento dos cargos policiais civis, serão exigidos os seguintes requisitos:
I - (vetado);
II - Para os de Diretor Geral de Polícia, Assistente Técnico de Polícia e Delegado Regional de Polícia,
ser ocupante do cargo de Delegado de Polícia de Classe Especial;
III - vetado;
IV - vetado;
V - para os de Diretor de Divisão Policial: ser ocupante, no mínimo do cargo de Delegado de Polícia
de 1.ª Classe;
VI - para os de Assistente de Planejamento e Controle Policial: ser ocupante, no mínimo, de cargo de
Delegado de Polícia de 2.ª Classe;
VII - para os de Escrivão de Polícia Chefe II: ser ocupante do cargo de Escrivão de Polícia III;
VIII - para os de Investigador de Polícia Chefe II: ser ocupante do cargo de Investigador de Polícia III;
IX - para os de Escrivão de Polícia Chefe I: ser ocupante do cargo de Escrivão de Polícia III ou II;
X - para os de Investigador de Polícia Chefe I: ser ocupante do cargo de Investigador de Polícia III ou
II;
XI - para os de Delegado de Polícia de 5.ª Classe; ser portador de Diploma de Bacharel em Direito;
XII - para os de Delegado de Polícia de Classe Especial e de 2.ª Classe: ser portador de certificado de
curso específico ministrado pela Academia de Polícia de São Paulo;
XII - Revogado.
- Inciso XII revogado pela Lei Complementar n° 238, de 27/06/1980.
XIII - para os de Escrivão de Polícia e Investigador dc Policia: ser portador de certificado de conclusão
de curso de segundo grau.
XIV - para os de Agente Policial: ser portador de certificado de conclusão de curso de segundo grau.
Parágrafo único - O Poder Executivo, mediante decreto, poderá estabelecer, como condição de
avaliação de mérito, na promoção aos cargos de Delegado de Polícia de Classe Especial e de 2.ª Classe
à frequência e aprovação em curso ministrado pela Academia de Polícia de São Paulo.

SEÇÃO II
Dos Concursos Públicos

Artigo 16 - O provimento mediante nomeação para cargos policiais civis, de caráter efetivo, será
precedido de concurso público, realizado em 3 (três) fases eliminatórias e sucessivas:
I - a de prova escrita ou, quando se tratar de provimento de cargos em relação aos quais a lei exija
formação de nível universitário, de prova escrita e títulos;
II - a de prova oral;
III - a de frequência e aproveitamento em curso de formação técnico-profissional na Academia de
Polícia.

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Artigo 17 - Os concursos públicos terão validade máxima de 2 (dois) anos e reger-se-ão por instruções
especiais que estabelecerão, em função da natureza do cargo:
I - tipo e conteúdo das provas e as categorias dos títulos;
II - a forma de julgamento das provas e dos títulos;
III - cursos de formação a que ficam sujeitos os candidatos classificados;
IV - os critérios de habilitação e classificação final para fins de nomeação;
V - as condições para provimento do cargo, referentes a:
a) capacidade, física e mental;
b) conduta na vida pública e privada e a forma de sua apuração;
c) diplomas e certificados.

Artigo 18 - São requisitos para a inscrição nos concursos:


I - ser brasileiro;
II - ter no mínimo 18 (dezoito) anos, e no máximo 45 (quarenta e cinco) anos incompletos, à data do
encerramento das inscrições;
III - não registrar antecedentes criminais;
IV - estar em gozo dos direitos políticos;
V - estar quite com o serviço militar;
VI - Revogado.
Parágrafo único - Vetado.
Parágrafo único - Para efeito de inscrição, ficam dispensados do limite de idade, a que se refere o
inciso II, os ocupantes de cargos policiais civis.

Artigo 19 - Observada a ordem de classificação pela média aritmética das notas obtidas nas provas
escrita e oral (incisos I e II do artigo 16), os candidatos, em número equivalente ao de cargos vagos, serão
matriculados no curso de formação técnico-profissional específico.

Artigo 20 - Os candidatos a que se refere o artigo anterior serão admitidos, pelo Secretário da
Segurança Pública, em caráter experimental e transitório para a formação técnico-profissional.
§ 1.º - A admissão de que trata este artigo far-se-á com retribuição equivalente a do vencimento e
demais vantagens do cargo vago a que se candidatar o concursando.
§ 2.º - Sendo funcionário ou servidor, o candidato matriculado ficara afastado do seu cargo ou função-
atividade, até o término do concurso junto à Academia de Polícia de São Paulo, sem prejuízo do
vencimento ou salário e demais vantagens, contando-se-lhe o tempo de serviço para todos os efeitos
legais.
§ 3.º - É facultado ao funcionário ou servidor, afastado nos termos do parágrafo anterior, optar pela
retribuição prevista no § 1.º.

Artigo 21 - O candidato terá sua matricula cancelada e será dispensado do curso de formação, nas
hipóteses em que:
I - não atinja o mínimo de frequência estabelecida para o curso;
II - não revele aproveitamento no curso;
III - não tenha conduta irrepreensível na vida pública ou privada.
Parágrafo único - Os critérios para a apuração das condições constantes dos incisos II e III serão
fixados em regulamento.

Artigo 22 - Homologado o concurso pelo Secretário da Segurança Pública, serão nomeados os


candidatos aprovados, expedindo-se lhes certificados dos quais constará a média final.

Artigo 23 - A nomeação obedecerá a ordem de classificação no concurso.

SEÇÃO III
Da Posse

Artigo 24 - Posse é o ato que investe o cidadão em cargo público polícia civil.

Artigo 25 - São competentes para dar posse:


I - O Secretário da Segurança Pública, ao Delegado Geral de Polícia;
II - O Delegado Geral de Polícia, aos Delegados de Polícia;

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. 139
III - O Diretor do Departamento de Administração da Polícia Civil, nos demais casos.

Artigo 26 - A autoridade que der posse deverá verificar, sob pena de responsabilidade, se foram
satisfeitas as condições estabelecidas em lei ou regulamento para a investidura no cargo policial civil.

Artigo 27 - A posse verificar-se-á mediante assinatura de termo em livro próprio, assinado pelo
empossado e pela autoridade competente, após o policial civil prestar solenemente o respectivo
compromisso, cujo teor será definido pelo Secretário da Segurança Pública.

Artigo 28 - A posse deverá verificar-se no prazo de 15 (quinze) dias, contados da publicação do ato de
provimento, no órgão oficial.
§ 1.º - O prazo fixado neste artigo poderá ser prorrogado por mais 15 (quinze) dias, a requerimento do
interessado.
§ 2.º - Se a posse não se der dentro do prazo será tornado sem efeito o ato de provimento.

Artigo 29 - A contagem do prazo a que se refere o artigo anterior poderá ser suspensa até o máximo
de 120 (cento e vinte) dias, a critério do órgão médico encarregado da inspeção respectiva, sempre que
este estabelecer exigência para a expedição de certificado de sanidade.
Parágrafo único - O prazo a que se refere este artigo recomeçara a fluir sempre que o candidato, sem
motivo justificado, deixar de cumprir as exigências do órgão médico.

SEÇÃO IV
Do Exercício

Artigo 30 - O exercício terá início dentro de 15 (quinze) dias, contados


I - da data da posse,
II - da data da publicação do ato no caso de remoção.
Parágrafo 1.º - Quando o acesso, remoção ou transposição não importar mudança de município,
deverá o policial civil entrar em exercício no prazo de 5 (cinco) dias.
Parágrafo 2.º - No interesse do serviço policial o Delegado Geral de Polícia poderá determinar que os
policiais civis assumam imediatamente o exercício do cargo.

Artigo 31 - O exercício terá início dentro de 15 (quinze) dias, constados: unidade diversa daquela para
o qual foi designado, salvo autorização do Delegado Geral de Polícia.

Artigo 32 - O Delegado de Polícia só poderá chefiar unidade ou serviço de categoria correspondente


à sua classe, ou, em caso excepcional, à classe imediatamente superior.

Artigo 33 - Quando em exercício em unidade ou serviço de categoria superior, nos termos deste artigo,
terá o Delegado de Polícia direito à percepção da diferença entre os vencimentos do seu cargo e os do
cargo de classe imediatamente superior.
Parágrafo único - Na hipótese deste artigo aplicam-se as disposições do artigo 195 da Lei
Complementar n. 180, de 12 de maio de 1978.

SEÇÃO V
Da reversão "Ex Offício"

Artigo 34 - Reversão "ex offício" é o ato pelo qual o aposentado reingressa no serviço policial quando
insubsistentes as razões que determinaram a aposentadoria por invalidez.
Parágrafo 1.º - A reversão só poderá efetivar-se quando, em inspeção médica, ficar comprovada à
capacidade para o exercício do cargo.
Parágrafo 2.º - Será tornada sem efeito a reversão "ex offício" e cassada a aposentadoria do policial
civil que reverter e não tomar posse ou não entrar em exercício injustificadamente, dentro do prazo legal.

Artigo 35 - A reversão far-se-á no mesmo cargo.

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CAPÍTULO IV
Da Remoção

Artigo 36 - O Delegado de Polícia só poderá ser removido, de um para o outro município (vetado):
I - a pedido;
II - por permuta;
III - com seu assentimento, após consulta.
IV - (vetado).

Artigo 37 - A remoção dos integrantes das demais séries de classe e cargos policiais civis, de uma
para outra unidade policial, será processada:
I - a pedido;
II - por permuta;
III - no interesse do serviço policial.

Artigo 38 - A remoção só poderá ser feita, respeitada a lotação cada unidade policial.

Artigo 39 - O policial civil não poderá, ser removido no interesse serviço, para município diverso do de
sua sede de exercício, no período de 6 (seis meses antes e até 3 (três) meses após a data das eleições.
Parágrafo único - Esta proibição vigorará no caso de eleições federal estaduais ou municipais, isolada
ou simultaneamente realizadas.

Artigo 40 - É preferencial, na união de cônjuges, a sede de exercício do policial civil, quando este for
cabeça do casal.

CAPÍTULO V
Do Vencimento e Outras Vantagens de Ordem Pecuniária
SEÇÃO I
Do Vencimento

Artigo 41 - Aos cargos policiais civis aplicam-se os valores dos grau das referências numéricas fixados
na Tabela I da escala de vencimentos do funcionalismo público civil do Estado.

Artigo 42 - O enquadramento das classes na escala de vencimentos bem como a amplitude de


vencimentos, e a velocidade evolutiva correspondente, cada classe policial, são estabelecidos na
conformidade do Anexo que faz parte Integrante desta lei complementar.

SEÇÃO II
Das Vantagens de Ordem Pecuniária
SUBSEÇÃO I
Das Disposições Gerais

Artigo 43 - Além do valor do padrão do cargo e sem prejuízo das vantagens previstas na Lei n.º 10.261,
de 28 de outubro de 1978, e demais legislação pertinente, o policial civil fará jus as seguintes vantagens
pecuniárias.
I - gratificação por regime especial de trabalho policial;
II - ajuda de custo, em caso de remoção.

SUBSEÇÃO II
Da Gratificação pelo Regime Especial de Trabalho Policial

Artigo 44 - O exercício dos cargos policiais civis dar-se-á, necessariamente, em Regime Especial de
Trabalho Policial - RETP, o qual é caracterizado:
I - pela prestação de serviços em condições precárias de segurança, cumprimento de horário irregular,
sujeito a plantões noturnos e a chamadas a qualquer hora;
II - pela proibição do exercício de atividade remunerada, exceto aquelas:
a) relativas ao ensino e à difusão cultural;
b) decorrentes de convênio firmado entre Estado e municípios ou com associações e entidades
privadas para gestão associada de serviços públicos, cuja execução possa ser atribuída à Polícia Civil;

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III - pelo risco de o policial tornar-se vítima de crime no exercício ou em razão de suas atribuições.
§ 1º - O exercício, pelo policial civil, de atividades decorrentes do convênio a que se refere a alínea “b”
do inciso II deste artigo dependerá:
1 - de inscrição voluntária do interessado, revestindo-se de obrigatoriedade depois de publicadas as
respectivas escalas;
2 - de estrita observância, nas escalas, do direito ao descanso mínimo previsto na legislação em vigor.
§ 2º - À sujeição ao regime de que trata este artigo corresponde gratificação que se incorpora aos
vencimentos para todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei Complementar n° 1.249, de
03/07/2014).

Artigo 45 - Pela sujeição ao regime de que trata o artigo anterior, os titulares de cargos policiais civis
fazem jus a gratificação calculada sobre o respectivo padrão de vencimento, na seguinte conformidade:
I - de 140% (cento e quarenta por cento), os titulares de cargos da série de classes de Delegado de
Polícia, bem como titular do cargo de Delegado Geral de Polícia;
II - de 200% (duzentos por cento), os titulares de cargos das demais classes policiais civis.

SUBSEÇÃO III
Da Ajuda de Custo em Caso de Remoção

Artigo 46 - Ao policial civil removido no interesse do serviço policial de um para outro município, será
concedida ajuda de custo correspondente a um mês de vencimento.
§ 1.º - A ajuda de custo será paga à vista da publicação do ato de remoção no Diário Oficial.
§ 2.º - A ajuda de custo de que trata este decreto não será devida quando a remoção se processar a
pedido ou por permuta.

SEÇÃO III
Das Outras Concessões

Artigo 47 - Ao policial civil licenciado para tratamento de saúde, em razão de moléstia profissional ou
lesão recebida em serviço, será concedido transporte por conta do Estado para instituição onde deva ser
atendido.

Artigo 48 - A família do policial civil que falecer fora da sede de exercício e dentro do território nacional
no desempenho de serviço, será concedido transporte para, no máximo, 3 (três) pessoas do local de
domicílio ao do óbito (ida e volta).

Artigo 49 - O Secretário da Segurança Pública, por proposta do Delegado Geral de Polícia, ouvido o
Conselho da Polícia Civil, poderá conceder honrarias ou prêmios aos policiais autores de trabalhos de
relevante interesse policial ou por atos de bravura, na forma em que for regulamentado.

Artigo 50 - O policial civil que ficar inválido ou que vier a falecer em consequência de lesões recebidas
ou de doenças contraídas em razão do serviço será promovido à classe imediatamente superior.
§ 1º - Se o policial civil estiver enquadrado na última classe da carreira, ser-lhe-á atribuída a diferença
entre o valor do padrão de vencimento do seu cargo e o da classe imediatamente inferior.
§ 2º - A concessão do benefício será precedida da competente apuração, retroagindo seus efeitos à
data da invalidez ou da morte.
§ 3º - O policial inválido nos termos deste artigo será aposentado com proventos decorrentes da
promoção, observado o disposto no parágrafo anterior.
§ 4º - Aos beneficiários do policial civil falecido nos termos deste artigo será deferida pensão mensal
correspondente aos vencimentos integrais, observado o disposto nos parágrafos anteriores.

Artigo 51 - Ao cônjuge, companheiro ou companheira ou, na falta destes, à pessoa que provar ter feito
despesas em virtude do falecimento do policial civil, ativo ou inativo, será concedido auxílio-funeral, a
título de benefício assistencial, de valor correspondente a 1 (um) mês da respectiva remuneração.
§ 1º - O pagamento será efetuado pelo órgão competente, mediante apresentação de atestado de
óbito pelas pessoas indicadas no “caput” deste artigo, ou procurador legalmente habilitado, feita a prova
de identidade.
§ 2º - No caso de ficar comprovado, por meio de competente apuração que o óbito do policial civil
decorreu de lesões recebidas no exercício de suas funções ou doenças delas decorrentes, o benefício

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será acrescido do valor correspondente a mais 1 (um) mês da respectiva remuneração, cujo pagamento
será efetivado mediante apresentação de alvará judicial.
§ 3º - O pagamento do benefício previsto neste artigo, caso as despesas tenham sido custeadas por
terceiros, em virtude da contratação de planos funerários, somente será efetivado mediante apresentação
de alvará judicial.

Artigo 52 - O policial civil que sofrer lesões no exercício de suas funções deverá ser encaminhado a
qualquer hospital, público ou particular às expensas do Estado.

Artigo 53 - Ao policial civil processado por ato praticado no desempenho de função policial, será
prestada assistência judiciária na forma que dispuser o regulamento.

Artigo 54 - Vetado.

CAPÍTULO VI
Do Direito de Petição

Artigo 55 - É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurídica, independentemente de pagamento, o


direito de petição contra ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de direitos. (Alterado pela LC
922/02)
Parágrafo único - Em nenhuma hipótese, a Administração poderá recusar-se a protocolar, encaminhar
ou apreciar a petição, sob pena de responsabilidade do agente. (Alterado pela LC 922/02)

Artigo 56 - Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso, erro, omissão ou conduta incompatível no
serviço policial. (Alterado pela LC 922/02)

Artigo 57 - Ao policial civil é assegurado o direito de requerer ou representar, bem como, nos termos
desta lei complementar, pedir reconsideração e recorrer de decisões. (Alterado pela LC 922/02)

CAPÍTULO VII
Do Elogio

Artigo 58 - Entende-se por elogio, para os fins desta lei, a menção nominal ou coletiva que deva constar
dos assentamentos funcionais do policial civil por atos meritórios que haja praticado.

Artigo 59 - O elogio destina-se a ressaltar:


I - morte, invalidez ou lesão corporal de natureza grave, no cumprimento do dever;
II - ato que traduza dedicação excepcional no cumprimento do dever, transcendendo ao que e
normalmente exigível do policial civil por disposição legal ou regulamentar e que importe ou possa
importar risco da própria segurança pessoal;
III - execução de serviços que, pela sua relevância e pelo que representam para a instituição ou para
a coletividade, mereçam ser enaltecidos como reconhecimento pela atividade desempenhada.

Artigo 60 - Não constitui motivo para elogio o cumprimento dos deveres impostos ao policial civil.

Artigo 61 - São competentes para determinar a inscrição de elogios nos assentamentos do policial o
Secretário da Segurança e o Delegado Geral de Polícia, ouvido, no caso deste, o Conselho da Polícia
Civil.
Parágrafo único - Os elogios nos casos dos incisos II e III do artigo 59 serão obrigatoriamente
considerados para efeito de avaliação de desempenho.

CAPÍTULO VIII
Dos Deveres, das Transgressões Disciplinares e das Responsabilidades
SEÇÃO I
Dos Deveres

Artigo 62 - São deveres do policial civil:


I - ser assíduo e pontual;
II - ser leal as instituições;

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III - cumprir as normas legais e regulamentares;
IV - zelar pela economia e conservação dos bens do Estado, especialmente daqueles cuja guarda ou
utilização lhe for confiada;
V - desempenhar com zelo e presteza as missões que lhe forem contidas, usando moderadamente de
força ou outro meio adequado de que dispõe, para esse fim;
VI - informar incontinente toda e qualquer alteração de endereço da residência e número de telefone,
se houver;
VII - prestar informações corretas ou encaminhar o solicitante a quem possa prestá-las;
VIII - comunicar o endereço onde possa ser encontrado, quando dos afastamentos regulamentares;
IX - proceder na vida pública e particular de modo a dignificar a função policial;
X - residir na sede do município onde exerça o cargo ou função, ou onde autorizado;
XI - frequentar, com assiduidade, para fins de aperfeiçoamento e atualização de conhecimentos
profissionais, cursos instituídos periodicamente pela Academia de Polícia;
XII - portar a carteira funcional;
XIII - promover as comemorações do «Dia da Policia» a 21 de abril, ou delas participar, exaltando o
vulto de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono da Polícia;
XIV - ser leal para com os companheiros de trabalho e com eles cooperar e manter espirito de
solidariedade;
XV - estar em dia com as normas de interesse policial;
XVI - divulgar para conhecimento dos subordinados as normas referidas no inciso anterior;
XVII - manter discrição sobre os assuntos da repartição e, especialmente, sobre despachos, decisões
e providências.

SEÇÃO II
Das Transgressões Disciplinares

Artigo 63 - São transgressões disciplinares:


I - manter relações de amizade ou exibir-se em público com pessoas de notórios e desabonadores
antecedentes criminais, salvo por motivo de serviço;
II - constituir-se procurador de partes ou servir de intermediário, perante qualquer repartição pública,
salvo quando se tratar de interesse de cônjuge ou parente até segundo grau;
III - descumprir ordem superior salvo quando manifestamente ilegal, representando neste caso; IV -
não tomar as providências necessárias ou deixar de comunicar, imediatamente, à autoridade competente,
faltas ou irregularidades de que tenha conhecimento;
V - deixar de oficiar tempestivamente nos expedientes que lhe forem encaminhados;
VI - negligenciar na execução de ordem legítima;
VII - interceder maliciosamente em favor de parte;
VIII - simular doença para esquivar-se ao cumprimento de obrigação;
IX - faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de serviço ou plantões, ou deixar de comunicar, com
antecedência, à autoridade a que estiver subordinado, a impossibilidade de comparecer à repartição,
salvo por motivo justo;
X - permutar horário de serviço ou execução de tarefa sem expressa permissão da autoridade
competente;
XI - usar vestuário incompatível com o decoro da função;
XII - descurar de sua aparência física ou do asseio;
XIII - apresentar-se ao trabalho alcoolizado ou sob efeito de substância que determine dependência
física ou psíquica;
XIV - lançar intencionalmente, em registros oficiais, papeis ou quaisquer expedientes, dados errôneos,
incompletos ou que possam induzir a erro, bem como inserir neles anotações indevidas;
XV - faltar, salvo motivo relevante a ser comunicado por escrito no primeiro dia em que comparecer à
sua sede de exercício, a ato processual, judiciário ou administrativo, do qual tenha sido previamente
cientificado;
XVI - utilizar, para fins particulares, qualquer que seja o pretexto, material pertencente ao Estado;
XVII - interferir indevidamente em assunto de natureza policial, que não seja de sua competência;
XVIII - fazer uso indevido de bens ou valores que lhe cheguem as mãos, em decorrência da função,
ou não entregá-los, com a brevidade possível, a quem de direito;
XIX - exibir, desnecessariamente, arma, distintivo ou algema;
XX - deixar de ostentar distintivo quando exigido para o serviço;
XXI - deixar de identificar-se, quando solicitado ou quando as circunstâncias o exigirem;

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XXII - divulgar ou propiciar a divulgação, sem autorização da autoridade competente, através da
imprensa escrita, falada ou televisada, de fato ocorrido na repartição.
XXIII - promover manifestações contra atos da administração ou movimentos de apreço ou desapreço
a qualquer autoridade;
XXIV - referir-se de modo depreciativo às autoridades e a atos da administração pública, qualquer que
seja o meio empregado para esse fim;
XXV - retirar, sem prévia autorização da autoridade competente, qualquer objeto ou documentos da
repartição;
XXVI - tecer comentários que possam gerar descrédito da instituição policial;
XXVII - valer-se do cargo com o fim, ostensivo ou velado, de obter proveito de qualquer natureza para
si ou para terceiros;
XXVIII - deixar de reassumir exercício sem motivo justo, ao final dos afastamentos regulares ou, ainda
depois de saber que qualquer deste foi interrompido por ordem superior;
XXIX - atribuir-se qualidade funcional diversa do cargo ou função que exerce;
XXX - fazer uso indevido de documento funcional, arma, algema ou bens da repartição ou cedê-los a
terceiro;
XXXI - maltratar ou permitir maltrato físico ou moral a preso sob sua guarda;
XXXII - negligenciar na revista a preso;
XXXIII - desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de decisão ou ordem judicial;
XXXIV - tratar o superior hierárquico, subordinado ou colega sem o devido respeito ou deferência;
XXXV - faltar à verdade no exercício de suas funções;
XXXVI - deixar de comunicar incontinente à autoridade competente informação que tiver sobre
perturbação da ordem pública ou qualquer fato que exija intervenção policial;
XXXVII - dificultar ou deixar de encaminhar expediente à autoridade competente, se não estiver na sua
alçada resolvê-lo;
XXXVIII - concorrer para o não cumprimento ou retardamento de ordem de autoridade competente;
XXXIX - deixar, sem justa causa, de submeter-se a inspeção médica determinada por lei ou pela
autoridade competente;
XL - deixar de concluir nos prazos legais, sem motivo justo, procedimento de polícia judiciária,
administrativos ou disciplinares;
XLI - cobrar taxas ou emolumentos não previstos em lei;
XLII - expedir identidade funcional ou qualquer tipo de credencial a quem não exerça cargo ou função
policial civil;
XLIII - deixar de encaminhar ao órgão competente, para tratamento ou inspeção médica, subordinado
que apresentar sintomas de intoxicação habitual por álcool, entorpecente ou outra substância que
determine dependência física ou psíquica, ou de comunicar tal fato, se incompetente, à autoridade que o
for;
XLIV - dirigir viatura policial com imprudência, imperícia, negligência ou sem habilitação;
XLV - manter transação ou relacionamento indevido com preso, pessoa em custódia ou respectivos
familiares;
XLVI - criar animosidade, velada ou ostensivamente, entre subalternos e superiores ou entre colegas,
ou indispô-los de qualquer forma;
XLVII - atribuir ou permitir que se atribua a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em
lei, o desempenho de encargos policiais;
XLVIII - praticar a usura em qualquer de suas formas;
XLIX - praticar ato definido em lei como abuso de poder;
L - aceitar representação de Estado estrangeiro, sem autorização do Presidente da República;
LI - tratar de interesses particulares na repartição;
LII - exercer comércio entre colegas, promover ou subscrever listas de donativos dentro da repartição;
LIII - exercer comércio ou participar de sociedade comercial salvo como acionista, cotista ou
comanditário;
LIV - exercer, mesmo nas horas de folga, qualquer outro emprego ou função, exceto atividade relativa
ao ensino e à difusão cultural, quando compatível com a atividade policial;
LV - exercer pressão ou influir junto a subordinado para forçar determinada solução ou resultado.

Artigo 64 - É vedado ao policial civil trabalhar sob as ordens imediatas de parentes, até segundo grau,
salvo quando se tratar de função de confiança e livre escolha, não podendo exceder de 2 (dois) o número
de auxiliares nestas condições.

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SEÇÃO III
Das responsabilidades

Artigo 65 - O policial responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de suas
atribuições, ficando sujeito, cumulativamente, às respectivas cominações.
§ 1º - A responsabilidade administrativa é independente da civil e da criminal.
§ 2º - Será reintegrado ao serviço público, no cargo que ocupava e com todos os direitos e vantagens
devidas, o servidor absolvido pela Justiça, mediante simples comprovação do trânsito em julgado de
decisão que negue a existência de sua autoria ou do fato que deu origem à sua demissão.
§ 3º - O processo administrativo só poderá ser sobrestado para aguardar decisão judicial por despacho
motivado da autoridade competente para aplicar a pena.

Artigo 66 - A responsabilidade civil decorre de procedimento doloso ou culposo, que importe prejuízo
à Fazenda Pública ou a terceiros.
Parágrafo único - A importância da indenização será descontada dos vencimentos e vantagens e o
desconto não excederá à décima parte do valor destes.

CAPÍTULO IX
Das Penalidades, da Extinção da Punibilidade das Providências Preliminares
SEÇÃO I

Artigo 67 - São penas disciplinares principais:


I - advertência;
II - repreensão;
III - multa;
IV - suspensão;
V - demissão;
VI - demissão a bem do serviço público;
VII - cassação de aposentadoria ou disponibilidade.

Artigo 68 - Constitui pena disciplinar a remoção compulsória, que poderá ser aplicada cumulativamente
com as penas previstas nos incisos II, III e IV do artigo anterior quando em razão da falta cometida houver
conveniência nesse afastamento para o serviço policial.
Parágrafo único - Quando se tratar de Delegado de Polícia, para a aplicação da pena prevista neste
artigo deverá ser observado o disposto no artigo 36, inciso IV.

Artigo 69 - Na aplicação das penas disciplinares serão considerados a natureza, a gravidade, os


motivos determinantes e a repercussão da infração, os danos causados, a personalidade e os
antecedentes do agente, a intensidade do dolo ou o grau de culpa.

Artigo 70 - Para a aplicação das penas previstas no artigo 67 são competentes: (Alterado pela LC
922/02)
I - o Governador;
II - o Secretário da Segurança Pública;
III - o Delegado Geral de Polícia, até a de suspensão;
IV - o Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, até a de suspensão limitada a 60 (sessenta) dias;
V - os Delegados de Polícia Corregedores Auxiliares, até a de repreensão.
§ 1º - Compete exclusivamente ao Governador do Estado, a aplicação das penas de demissão,
demissão a bem do serviço público e cassação de aposentadoria ou disponibilidade a Delegado de
Polícia.
§ 2º - Compete às autoridades enumeradas neste artigo, até o inciso III, inclusive, a aplicação de pena
a Delegado de Polícia.
§ 3º - Para o exercício da competência prevista nos incisos I e II será ouvido o órgão de consultoria
jurídica.
§ 4º - Para a aplicação da pena prevista no artigo 68 é competente o Delegado Geral de Polícia.

Artigo 71 - A pena de advertência será aplicada verbalmente, no caso de falta de cumprimento dos
deveres, ao infrator primário.

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Parágrafo único - A pena de advertência não acarreta perda de vencimentos ou de qualquer vantagem
de ordem funcional, mas contará pontos negativos na avaliação de desempenho.

Artigo 72 - A pena de repreensão será aplicada por escrito, no caso de transgressão disciplinar, sendo
o infrator primário e na reincidência de falta de cumprimento dos deveres.
Parágrafo único - A pena de repreensão poderá ser transformada em advertência, aplicada por escrito
e sem publicidade.

Artigo 73 - A pena de suspensão, que não excederá de 90 (noventa) dias, será aplicada nos casos de:
I - descumprimento dos deveres e transgressão disciplinar, ocorrendo dolo ou má fé;
II - reincidência em falta já punida com repreensão.
Parágrafo 1.º - O policial suspenso perderá, durante o período da suspensão, todos os direitos e
vantagens decorrentes do exercício do cargo.
Parágrafo 2.º - A autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá convertê-la em multa, na base
de 50% (cinquenta por cento), por dia, do vencimento e demais vantagens, sendo o policial, neste caso,
obrigado a permanecer em serviço.

Artigo 74 - Será aplicada a pena de demissão nos casos de:


I - abandono de cargo;
II - procedimento irregular, de natureza grave;
III - ineficiência intencional e reiterada no serviço;
IV - aplicação indevida de dinheiros públicos;
V - insubordinação grave.
VI - ausência ao serviço, sem causa justificável, por mais de 45 (quarenta e cinco) dias,
interpoladamente, durante um ano.

Artigo 75 - Será aplicada a pena de demissão a bem do serviço público, nos casos de:
I - conduzir-se com incontinência pública e escandalosa e praticar Jogos proibidos;
II - praticar ato definido como crime contra a Administração Pública, a Fé Pública e a Fazenda Pública
ou previsto na Lei de Segurança Nacional;
III - revelar dolosamente segredos de que tenha conhecimento em razão do cargo ou função, com
prejuízo para o Estado ou particulares;
IV - praticar ofensas físicas contra funcionários, servidores ou particulares, salvo em legitíma defesa;
V - causar lesão dolosa ao patrimônio ou aos cofres públicos;
VI - exigir, receber ou solicitar vantagem indevida, diretamente ou por intermédio de outrem, ainda que
fora de suas funções, mas em razão destas;
VII - provocar movimento de paralisação total ou parcial do serviço policial ou outro qualquer serviço,
ou dele participar;
VIII - pedir ou aceitar empréstimo de dinheiro ou valor de pessoas que tratem de interesses ou os
tenham na repartição, ou estejam sujeitos à sua fiscalização;
IX - exercer advocacia administrativa.
X - praticar ato definido como crime hediondo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e
terrorismo;
XI - praticar ato definido como crime contra o Sistema Financeiro, ou de lavagem ou ocultação de bens,
direitos ou valores;
XII - praticar ato definido em lei como de improbidade.

Artigo 76 - O ato que cominar pena ao policial civil mencionará, sempre, a disposição legal em que se
fundamenta.
§ 1.º - Desse ato será dado conhecimento ao órgão do pessoal, para registro e publicidade, no prazo
de 8 (oito) dias, desde que não se tenha revestido de reserva.
§ 2.º - As penas previstas nos incisos I a IV do artigo 67, quando aplicadas aos integrantes da carreira
de Delegado de Polícia, revestir-se-ão sempre de reserva.

Artigo 77 - Será aplicada a pena de cassação de aposentadoria ou disponibilidade, se ficar provado


que o inativo:
I - praticou, quando em atividade, falta para a qual é cominada nesta lei a pena de demissão ou de
demissão a bem do serviço público;
II - aceitou ilegalmente cargo ou função pública;

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III - aceitou representação de Estado estrangeiro sem previa autorização do Presidente da República.

Artigo 78 - Constitui motivo de exclusão de falta disciplinar a não exigibilidade de outra conduta do
policial civil.

Artigo 79 - Independe do resultado de eventual ação penal a aplicação das penas disciplinares
previstas neste Estatuto.

SEÇÃO II
Da Extinção da Punibilidade

Artigo 80 - Extingue-se a punibilidade pela prescrição: (Alterado pela LC 922/02)


I - da falta sujeita à pena de advertência, repreensão, multa ou suspensão, em 2 (dois) anos;
II - da falta sujeita à pena de demissão, demissão a bem do serviço público e de cassação da
aposentadoria ou disponibilidade, em 5 (cinco) anos;
III - da falta prevista em lei como infração penal, no prazo de prescrição em abstrato da pena criminal,
se for superior a 5 (cinco) anos.
§ 1º - A prescrição começa a correr:
1 - do dia em que a falta for cometida;
2 - do dia em que tenha cessado a continuação ou a permanência, nas faltas continuadas ou
permanentes.
§ 2º - Interrompe a prescrição a portaria que instaura sindicância e a que instaura processo
administrativo.
§ 3º - O lapso prescricional corresponde:
1 - na hipótese de desclassificação da infração, ao da pena efetivamente aplicada;
2 - na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da pena em tese cabível.
§ 4º - A prescrição não corre:
1 - enquanto sobrestado o processo administrativo para aguardar decisão judicial, na forma do § 3º do
artigo 65;
2 - enquanto insubsistente o vínculo funcional que venha a ser restabelecido.
§ 5º - A decisão que reconhecer a existência de prescrição deverá determinar, desde logo, as
providências necessárias à apuração da responsabilidade pela sua ocorrência.

Artigo 81 - Extingue-se, ainda, a punibilidade:


I - Pela morte do agente;
II - Pela anistia administrativa;
III - Pela retroatividade da lei que não considere o fato como falta

Artigo 82 - O policial civil que, sem justa causa, deixar de atender a qualquer exigência para cujo
cumprimento seja marcado prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu vencimento ou remuneração
até que satisfaça essa exigência.
Parágrafo único - Aplica-se aos aposentados ou em disponibilidade o disposto neste artigo.

Artigo 83 - Deverão constar do assentamento individual do policial civil as penas que lhe forem
impostas.

SEÇÃO III
Das Providências Preliminares
(Seção Alterada pela LC 922/02)

Artigo 84 - A autoridade policial que, por qualquer meio, tiver conhecimento de irregularidade praticada
por policial civil, comunicará imediatamente o fato ao órgão corregedor, sem prejuízo das medidas
urgentes que o caso exigir.
Parágrafo único - Ao instaurar procedimento administrativo ou de polícia judiciária contra policial civil,
a autoridade que o presidir comunicará o fato ao Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria.

Artigo 85 - A autoridade corregedora realizará apuração preliminar, de natureza simplesmente


investigativa, quando a infração não estiver suficientemente caracterizada ou definida autoria.

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§ 1º - O início da apuração será comunicado ao Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, devendo
ser concluída e a este encaminhada no prazo de 30 (trinta) dias.
§ 2º - Não concluída no prazo a apuração, a autoridade deverá imediatamente encaminhar ao
Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria relatório das diligências realizadas e definir o tempo
necessário para o término dos trabalhos.
§ 3º - Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade deverá opinar fundamentadamente pelo
arquivamento ou pela instauração de sindicância ou processo administrativo.

Artigo 86 - Determinada a instauração de sindicância ou processo administrativo, ou no seu curso,


havendo conveniência para a instrução ou para o serviço policial, poderá o Delegado Geral de Polícia,
por despacho fundamentado, ordenar as seguintes providências:
I - afastamento preventivo do policial civil, quando o recomendar a moralidade administrativa ou a
repercussão do fato, sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e oitenta) dias,
prorrogáveis uma única vez por igual período;
II - designação do policial acusado para o exercício de atividades exclusivamente burocráticas até
decisão final do procedimento;
III - recolhimento de carteira funcional, distintivo, armas e algemas;
IV - proibição do porte de armas;
V - comparecimento obrigatório, em periodicidade a ser estabelecida, para tomar ciência dos atos do
procedimento.
§ 1º - O Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, ou qualquer autoridade que determinar a
instauração ou presidir sindicância ou processo administrativo, poderá representar ao Delegado Geral de
Polícia para propor a aplicação das medidas previstas neste artigo, bem como sua cessação ou alteração.
§ 2º - O Delegado Geral de Polícia poderá, a qualquer momento, por despacho fundamentado, fazer
cessar ou alterar as medidas previstas neste artigo.
§ 3º - O período de afastamento preventivo computa- se como de efetivo exercício, não sendo
descontado da pena de suspensão eventualmente aplicada.

CAPÍTULO X
Do Procedimento Disciplinar
SEÇÃO I
Das Disposições Gerais

Artigo 87 - A apuração das infrações será feita mediante sindicância ou processo administrativo,
assegurados o contraditório e a ampla defesa. .

Artigo 88 - Instaurar-se-á sindicância;


I - como preliminar de processo administrativo, sempre que a infração não estiver suficientemente
caracterizada ou definida a autoria;
II - quando não for obrigatório o processo administrativo.

Artigo 88 - Será instaurada sindicância quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar
as penas de advertência, repreensão, multa e suspensão.

Artigo 89 - Será obrigatório o processo administrativo quando a falta disciplinar, por sua natureza,
possa determinar a pena de demissão, demissão a bem do serviço público, cassação de aposentadoria
ou disponibilidade.
§ 1º - Não será instaurado processo para apurar abandono de cargo, se o servidor tiver pedido
exoneração.
§ 2º - Extingue-se o processo instaurado exclusivamente para apurar abandono de cargo, se o
indiciado pedir exoneração até a data designada para o interrogatório, ou por ocasião deste.

SEÇÃO II
Da Sindicância

Artigo 90 - São competentes para determinar a instauração de sindicância as autoridades enumeradas


no artigo 70.
Parágrafo único - Quando a determinação incluir Delegado de Polícia, a competência é das
autoridades enumeradas no artigo 70, até o inciso IV, inclusive.

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Artigo 91 - Instaurada a sindicância, a autoridade que a presidir comunicará o fato à Corregedoria Geral
da Polícia Civil e ao órgão setorial de pessoal.

Artigo 92 - Aplicam-se à sindicância as regras previstas nesta lei complementar para o processo
administrativo, com as seguintes modificações:
I - a autoridade sindicante e cada acusado poderão arrolar até 3 (três) testemunhas;
II - a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 (sessenta) dias;
III - com o relatório, a sindicância será enviada à autoridade competente para a decisão.

Artigo 93 - O Delegado Geral de Polícia poderá, quando entender conveniente, solicitar manifestação
do Conselho da Polícia Civil, antes de opinar ou proferir decisão em sindicância.

SEÇÃO III
Do Processo Administrativo

Artigo 94 - São competentes para determinar a instauração de processo administrativo as autoridades


enumeradas no artigo 70, até o inciso IV, inclusive.
Parágrafo único - Quando a determinação incluir Delegado de Polícia, a competência é das
autoridades enumeradas no artigo 70, até o inciso III, inclusive.

Artigo 95 - O processo administrativo será presidido por Delegado de Polícia, que designará como
secretário um Escrivão de Polícia.
Parágrafo único - Havendo imputação contra Delegado de Polícia, a autoridade que presidir a apuração
será de classe igual ou superior à do acusado.

Artigo 96 - Não poderá ser encarregado da apuração, nem atuar como secretário, amigo íntimo ou
inimigo, parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau inclusive, cônjuge,
companheiro ou qualquer integrante do núcleo familiar do denunciante ou do acusado, bem assim o
subordinado deste.
Parágrafo único - A autoridade ou o funcionário designado deverão comunicar, desde logo, à
autoridade competente, o impedimento que houver.

Artigo 97 - O processo administrativo deverá ser instaurado por portaria, no prazo improrrogável de 8
(oito) dias do recebimento da determinação, e concluído no de 90 (noventa) dias da citação do acusado.
§ 1º - Da portaria deverá constar o nome e a identificação do acusado, a infração que lhe é atribuída,
com descrição sucinta dos fatos e indicação das normas infringidas.
§ 2º - Vencido o prazo, caso não concluído o processo, a autoridade deverá imediatamente encaminhar
ao Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria relatório indicando as providências faltantes e o tempo
necessário para término dos trabalhos.
§ 3º - Caso o processo não esteja concluído no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, o Delegado de
Polícia Diretor da Corregedoria deverá justificar o fato circunstanciadamente ao Delegado Geral de Polícia
e ao Secretário da Segurança Pública.

Artigo 98 - Autuada a portaria e demais peças preexistentes, designará o presidente dia e hora para
audiência de interrogatório, determinando a citação do acusado e a notificação do denunciante, se houver.
§ 1º - O mandado de citação deverá conter:
1 - cópia da portaria;
2 - data, hora e local do interrogatório, que poderá ser acompanhado pelo advogado do acusado;
3 - data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver, que deverá ser acompanhada pelo advogado
do acusado;
4 - esclarecimento de que o acusado será defendido por advogado dativo, caso não constitua
advogado próprio;
5 - informação de que o acusado poderá arrolar testemunhas e requerer provas, no prazo de 3 (três)
dias após a data designada para seu interrogatório;
6 - advertência de que o processo será extinto se o acusado pedir exoneração até o interrogatório,
quando se tratar exclusivamente de abandono de cargo.
§ 2º - A citação do acusado será feita pessoalmente, no mínimo 2 (dois) dias antes do interrogatório,
por intermédio do respectivo superior hierárquico, ou diretamente, onde possa ser encontrado.

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§ 3º - Não sendo encontrado, furtando-se o acusado à citação ou ignorando-se seu paradeiro, a citação
far-se-á por edital, publicado uma vez no Diário Oficial do Estado, no mínimo 10 (dez) dias antes do
interrogatório.

Artigo 99 - Havendo denunciante, este deverá prestar declarações, no interregno entre a data da
citação e a fixada para o interrogatório do acusado, sendo notificado para tal fim.
§ 1º - A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado, próprio ou dativo.
§ 2º - O acusado não assistirá à inquirição do denunciante; antes porém de ser interrogado, poderá ter
ciência das declarações que aquele houver prestado.

Artigo 100 - Não comparecendo o acusado, será, por despacho, decretada sua revelia, prosseguindo-
se nos demais atos e termos do processo.

Artigo 101 - Ao acusado revel será nomeado advogado dativo.

Artigo 102 - O acusado poderá constituir advogado que o representará em todos os atos e termos do
processo.
§ 1º - É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos atos e termos do processo, não sendo
obrigatória qualquer notificação.
§ 2º - O advogado será intimado por publicação no Diário Oficial do Estado, de que conste seu nome
e número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os dados necessários à
identificação do procedimento.
§ 3º - Não tendo o acusado recursos financeiros ou negando-se a constituir advogado, o presidente
nomeará advogado dativo.
§ 4º - O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir advogado para prosseguir na sua defesa.

Artigo 103 - Comparecendo ou não o acusado ao interrogatório, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para
requerer a produção de provas, ou apresentá-las.
§ 1º - Ao acusado é facultado arrolar até 5 (cinco) testemunhas.
§ 2º - A prova de antecedentes do acusado será feita exclusivamente por documentos, até as
alegações finais.
§ 3º - Até a data do interrogatório, será designada a audiência de instrução.

Artigo 104 - Na audiência de instrução, serão ouvidas, pela ordem, as testemunhas arroladas pelo
presidente, em número não superior a 5 (cinco), e pelo acusado.
Parágrafo único - Tratando-se de servidor público, seu comparecimento poderá ser solicitado ao
respectivo superior imediato com as indicações necessárias.

Artigo 105 - A testemunha não poderá eximir-se de depor, salvo se for ascendente, descendente,
cônjuge, ainda que legalmente separado, companheiro, irmão, sogro e cunhado, pai, mãe ou filho adotivo
do acusado, exceto quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de
suas circunstâncias.
§ 1º - Se o parentesco das pessoas referidas for com o denunciante, ficam elas proibidas de depor,
observada a exceção deste artigo.
§ 2º - Ao policial civil que se recusar a depor, sem justa causa, será pela autoridade competente
aplicada a sanção a que se refere o artigo 82, mediante comunicação do presidente.
§ 3º - O policial civil que tiver de depor como testemunha fora da sede de seu exercício, terá direito a
transporte e diárias na forma da legislação em vigor, podendo ainda expedir-se precatória para esse efeito
à autoridade do domicílio do depoente.
§ 4º - São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão,
devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

Artigo 106 - A testemunha que morar em comarca diversa poderá ser inquirida pela autoridade do lugar
de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimada a defesa.
§ 1º - Deverá constar da precatória a síntese da imputação e os esclarecimentos pretendidos.
§ 2º - A expedição da precatória não suspenderá a instrução do procedimento.
§ 3º - Findo o prazo marcado, o procedimento poderá prosseguir até final decisão; a todo tempo, a
precatória, uma vez devolvida, será juntada aos autos.

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Artigo 107 - As testemunhas arroladas pelo acusado comparecerão à audiência designada
independente de notificação.
§ 1º - Deverá ser notificada a testemunha cujo depoimento for relevante e que não comparecer
espontaneamente.
§ 2º - Se a testemunha não for localizada, a defesa poderá substitui-la, se quiser, levando na mesma
data designada para a audiência outra testemunha, independente de notificação.

Artigo 108 - Em qualquer fase do processo, poderá o presidente, de ofício ou a requerimento da defesa,
ordenar diligências que entenda convenientes.
§ 1º - As informações necessárias à instrução do processo serão solicitadas diretamente, sem
observância de vinculação hierárquica, mediante ofício, do qual cópia será juntada aos autos.
§ 2º - Sendo necessário o concurso de técnicos ou peritos oficiais, o presidente os requisitará,
observados os impedimentos do artigo 105.

Artigo 109 - Durante a instrução, os autos do procedimento administrativo permanecerão na repartição


competente.
§ 1º - Será concedida vista dos autos ao acusado, mediante simples solicitação, sempre que não
prejudicar o curso do procedimento.
§ 2º - A concessão de vista será obrigatória, no prazo para manifestação do acusado ou para
apresentação de recursos, mediante publicação no Diário Oficial do Estado.
§ 3º - Ao advogado é assegurado o direito de retirar os autos da repartição, mediante recibo, durante
o prazo para manifestação de seu representado, salvo na hipótese de prazo comum, de processo sob
regime de segredo de justiça ou quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração
ou ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos na repartição, reconhecida pela
autoridade em despacho motivado.

Artigo 110 - Somente poderão ser indeferidos pelo presidente, mediante decisão fundamentada, os
requerimentos de nenhum interesse para o esclarecimento do fato, bem como as provas ilícitas,
impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.

Artigo 111 - Quando, no curso do procedimento, surgirem fatos novos imputáveis ao acusado, poderá
ser promovida a instauração de novo procedimento para sua apuração, ou, caso conveniente, aditada a
portaria, reabrindo-se oportunidade de defesa.

Artigo 112 - Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos autos à defesa, que poderá apresentar
alegações finais, no prazo de 7 (sete) dias.
Parágrafo único - Não apresentadas no prazo as alegações finais, o presidente designará advogado
dativo, assinando-lhe novo prazo.

Artigo 113 - O relatório deverá ser apresentado no prazo de 10 (dez) dias, contados da apresentação
das alegações finais.
§ 1º - O relatório deverá descrever, em relação a cada acusado, separadamente, as irregularidades
imputadas, as provas colhidas e as razões de defesa, propondo a absolvição ou punição e indicando,
nesse caso, a pena que entender cabível.
§ 2º - O relatório deverá conter, também, a sugestão de quaisquer outras providências de interesse do
serviço público.

Artigo 114 - Relatado, o processo será encaminhado ao Delegado Geral de Polícia, que o submeterá
ao Conselho da Polícia Civil, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 1º - O Presidente do Conselho da Polícia Civil, no prazo de 20 (vinte) dias, poderá determinar a
realização de diligência, sempre que necessário ao esclarecimento dos fatos.
§ 2º - Determinada a diligência, a autoridade encarregada do processo administrativo terá prazo de 15
(quinze) dias para seu cumprimento, abrindo vista à defesa para manifestar-se em 5 (cinco) dias.
§ 3º - Cumpridas as diligências, o Conselho da Polícia Civil emitirá parecer conclusivo, no prazo de 20
(vinte) dias, encaminhando os autos ao Delegado Geral de Polícia.
§ 4º - O Delegado Geral de Polícia, no prazo de 10 (dez) dias, emitirá manifestação conclusiva e
encaminhará o processo administrativo à autoridade competente para decisão.
§ 5º - A autoridade que proferir decisão determinará os atos dela decorrentes e as providências
necessárias a sua execução.

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Artigo 115 - Terão forma processual resumida, quando possível, todos os termos lavrados pelo
secretário, quais sejam: autuação, juntada, conclusão, intimação, data de recebimento, bem como
certidões e compromissos.
Parágrafo único - Toda e qualquer juntada aos autos se fará na ordem cronológica da apresentação,
rubricando o presidente as folhas acrescidas.

Artigo 116 - Não será declarada a nulidade de nenhum ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância.

Artigo 117 - É defeso fornecer à imprensa ou a outros meios de divulgação notas sobre os atos
processuais, salvo no interesse da Administração, a juízo do Delegado Geral de Polícia.

Artigo 118 - Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo exercício, contados do cumprimento da sanção
disciplinar, sem cometimento de nova infração, não mais poderá aquela ser considerada em prejuízo do
infrator, inclusive para efeito de reincidência.

SEÇÃO IV
Dos Recursos
Seção inserida pela Lei Complementar n° 922, de 02/07/2002.

Artigo 119 - Caberá recurso, por uma única vez, da decisão que aplicar penalidade.
§ 1º - O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, contados da publicação da decisão impugnada no
Diário Oficial do Estado.
§ 2º - Tratando-se de pena de advertência, sem publicidade, o prazo será contado da data em que o
policial civil for pessoalmente intimado da decisão.
§ 3º - Do recurso deverá constar, além do nome e qualificação do recorrente, a exposição das razões
de inconformismo.
§ 4º - O recurso será apresentado à autoridade que aplicou a pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias
para, motivadamente, manter sua decisão ou reformá-la.
§ 5º - Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, será imediatamente encaminhada a reexame
pelo superior hierárquico.
§ 6º - O recurso será apreciado pela autoridade competente ainda que incorretamente denominado ou
endereçado.

Artigo 120 - Caberá pedido de reconsideração, que não poderá ser renovado, de decisão tomada pelo
Governador do Estado em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias.

Artigo 121 - Os recursos de que trata esta lei complementar não têm efeito suspensivo; os que forem
providos darão lugar às retificações necessárias, retroagindo seus efeitos à data do ato punitivo.

CAPÍTULO XI
Da Revisão

Artigo 122 - Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão de punição disciplinar, se surgirem fatos ou
circunstâncias ainda não apreciados, ou vícios insanáveis de procedimento, que possam justificar
redução ou anulação da pena aplicada.
§ 1º - A simples alegação da injustiça da decisão não constitui fundamento do pedido.
§ 2º - Não será admitida reiteração de pedido pelo mesmo fundamento.
§ 3º - Os pedidos formulados em desacordo com este artigo serão indeferidos.
§ 4º - O ônus da prova cabe ao requerente.

Artigo 123 - A pena imposta não poderá ser agravada pela revisão.

Artigo 124 - A instauração de processo revisional poderá ser requerida fundamentadamente pelo
interessado ou, se falecido ou incapaz, por seu curador, cônjuge, companheiro, ascendente, descendente
ou irmão, sempre por intermédio de advogado.
Parágrafo único - O pedido será instruído com as provas que o requerente possuir ou com indicação
daquelas que pretenda produzir.

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Artigo 125 - O exame da admissibilidade do pedido de revisão será feito pela autoridade que aplicou a
penalidade, ou que a tiver confirmado em grau de recurso.

Artigo 126 - Deferido o processamento da revisão, será este realizado por Delegado de Polícia de
classe igual ou superior à do acusado, que não tenha funcionado no procedimento disciplinar de que
resultou a punição do requerente.

Artigo 127 - Recebido o pedido, o presidente providenciará o apensamento dos autos originais e
notificará o requerente para, no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas, ou requerer outras
provas que pretenda produzir.
Parágrafo único - No processamento da revisão serão observadas as normas previstas nesta lei
complementar para o processo administrativo.

Artigo 128 - A decisão que julgar procedente a revisão poderá alterar a classificação da infração,
absolver o punido, modificar a pena ou anular o processo, restabelecendo os direitos atingidos pela
decisão reformada.

CAPÍTULO XII
Das Disposições Gerais e Finais

Artigo 129 - Vetado.

Artigo 130 - Contar-se-ão por dias corridos os prazos previstos nesta lei complementar.
Parágrafo único - Computam-se os prazos excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento,
prorrogando-se este, quando incidir em sábado, domingo, feriado ou facultativo, para o primeiro dia útil
seguinte.

Artigo 131 - Compete ao órgão Setorial de Recursos Humanos da Polícia Civil, o planejamento, a
coordenação, a orientação técnica e o controle, sempre em integração com o órgão central, das atividades
de administração do pessoal policial civil.

Artigo 132 - O Estado fornecerá aos policiais civis carteira de identidade funcional, distintivo, algema,
armamento e munição, para o efetivo exercício de suas funções. (Redação dada pela Lei Complementar
n° 1.282, de 18/01/2016)
§ 1º - A carteira de identidade funcional dos policiais civis será elaborada com observância das
diretrizes básicas previstas na legislação federal para emissão da carteira de identidade pelo órgão
estadual de identificação, dará direito ao porte de arma e ao uso de distintivo, e terá fé pública e validade
como documento de identificação civil. (Redação dada pela Lei Complementar n° 1.282, de 18/01/2016)
§ 2º - Aplica-se, no que couber, à carteira de identidade funcional instituída para os policiais civis
aposentados o disposto no §1º deste artigo. (Redação dada pela Lei Complementar n° 1.282, de
18/01/2016)

Artigo 133 - É proibida a acumulação de férias, salvo por absoluta necessidade de serviço e pelo prazo
máximo de 3 (três) anos consecutivos.

Artigo 134 - O disposto nos artigos 41, 42, 44 e 45 desta lei complementar aplica-se aos integrantes
da série de classes de Agente de Segurança Penitenciária da Secretaria da Justiça.

Artigo 135 - Aplicam-se aos funcionários policiais civis, no que não conflitar com esta lei complementar
as disposições da Lei n º 199, de 1.º de dezembro de 1948, do Decreto-lei n.º 141, de 24 de julho de
1969, da Lei n.º Lei Complementar n.º 180, de 12 de maio de 1978, bem como o regime de mensal,
instituído pela Lei n.º 4.832, de 4 de setembro de 1958, com alterações posteriores.

Artigo 136 - Esta lei complementar aplica-se, nas mesmas bases, termos e condições, aos inativos.

Artigo 137 - As despesas decorrentes da aplicação desta lei complementar, correrão à conta de
créditos suplementares que o Poder Executivo fica autorizado a abrir, até o limite de Cr$ 270.000.000,00
(duzentos e setenta milhões de cruzeiros).

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Parágrafo único - O valor do crédito autorizado neste artigo será coberto com recursos de que trata o
artigo 43 da Lei Federal n.º 4.320, de 17 de março de 1964.

Artigo 138 - Esta lei complementar e suas disposições transitórias entrarão em vigor em 1.º de março
de 1979 revogadas as disposições em contrário, especialmente a Lei n.º 7.626, de 6 de dezembro de
1962, o Decreto-lei n.º 156, de 8 de outubro de 1969, bem como a alínea "a" do inciso III do artigo 64 e o
artigo 182, ambos da Lei Complementar n.º 180, de 12 de maio de 1978.

Das Disposições Transitórias

Artigo 1.º - Somente se aplicará esta lei complementar às infrações disciplinares praticadas na vigência
da lei anterior, quando:
I - o fato não for mais considerado infração disciplinar;
II - de qualquer forma, for mais branda a pena cominada.

Artigo 2.º - Os processos em curso, quando da entrada em vigor desta lei complementar, obedecerão
ao rito processual estabelecido pela legislação anterior.

Artigo 3.º - Os atuais cargos de Delegado de Polícia Substituto serão extintos na vacância.
Parágrafo único - Os ocupantes dos cargos a que alude este artigo, serão inscritos nos concursos de
ingresso na carreira de Delegado de Polícia.

Artigo 4.º - Vetado.


Artigo 5.º - Vetado.
Parágrafo único - Vetado.

Artigo 6.º - Vetado.


a) vetado;
b) vetado;
c) vetado;
d) vetado.

Questões

01. (PC-SP - Atendente de Necrotério Policial – VUNESP/2014) Nos termos da Lei Orgânica da
Polícia Civil do Estado de São Paulo, ao policial civil é vedado
(A) portar a carteira funcional.
(B) ser assíduo e pontual.
(C) faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de serviço ou plantões.
(D) cumprir as normas legais e regulamentares.
(E) zelar pela economia e conservação dos bens do Estado.

02. (PC-SP - Investigador de Polícia - VUNESP) Assinale a alternativa que está expressamente de
acordo com a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
(A) O policial civil que sofrer lesões no exercício de suas funções deverá ser encaminhado a qualquer
hospital público ou particular às suas próprias expensas.
(B) A pena de advertência não acarreta perda de vencimentos ou de qualquer vantagem de ordem
funcional nem contará pontos negativos na avaliação de desempenho.
(C) O policial civil não poderá ser removido no interesse do serviço, para município diverso do de sua
sede de exercício, no período de 6 (seis) meses antes e até 3 (três) meses após a data das eleições.
(D) Ao cônjuge ou, na falta deste, à pessoa que provar ter feito despesa em virtude do falecimento do
policial civil, será concedida, a título de auxílio-funeral, a importância correspondente a 3 (três) meses de
vencimento.
(E) Será dispensável o processo administrativo quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa
determinar a pena de repreensão, multa, suspensão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade.

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03. (PC-SP - Papiloscopista Policial - VUNESP) Conforme dispõe a Lei Orgânica da Polícia Civil do
Estado de São Paulo, o processo administrativo, como regra geral, será presidido por

(A) delegado de polícia, que designará como secretário um escrivão de polícia.


(B) investigador de polícia chefe, auxiliado por um agente policial.
(C) delegado de polícia de classe especial, que nomeará um investigador para atuar como secretário.
(D) delegado de polícia titular, auxiliado por um papiloscopista.
(E) investigador de polícia, que será auxiliado por um escrivão de polícia.

04. (PC-SP - Auxiliar de Papiloscopista Policial - VUNESP) Nos termos da Lei Orgânica da Polícia
do Estado de São Paulo, é competente para a aplicação das penas de demissão e cassação de
aposentadoria o(s)
(A) Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria.
(B) Secretário da Segurança Pública
(C) Governador do Estado
(D) Delegado Geral de Polícia.
(E) Delegados de Polícia Corregedores Auxiliares.

05. (PC-SP - Perito Criminal – VUNESP/2014) Sobre o tema “procedimento disciplinar", disciplinado
pela Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo, assinale a alternativa correta.
(A) Extingue-se o processo instaurado exclusivamente para apurar abandono de cargo, se o indiciado
pedir exoneração até a data designada para o oferecimento das alegações finais.
(B) O processo administrativo será obrigatório quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa
determinar as penas de suspensão, demissão, demissão a bem do serviço público e expulsão.
(C) A sindicância será instaurada quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar as
penas de advertência, repreensão, multa, disponibilidade e cassação de aposentadoria.
(D) Não será instaurado processo para apurar abandono de cargo, se o servidor tiver pedido
exoneração.
(E) A apuração das infrações será feita mediante sindicância, de cunho inquisitório, ausentes o
contraditório e a ampla defesa.

06. (PC-SP - Auxiliar de Necropsia – VUNESP/2014) Nos termos do que dispõe a Lei Orgânica da
Polícia Civil do Estado de São Paulo, a apuração das infrações disciplinares será feita mediante
(A) processo judicial perante o juízo criminal de primeira instância.
(B) inquérito policial administrativo, sob a presidência de Delegado de Polícia.
(C) inquérito civil público, presidido pelo Promotor de Justiça.
(D) ação civil pública disciplinar, sob a presidência da comissão processante permanente da Polícia
Civil.
(E) sindicância ou processo administrativo, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

07. (PC-SP - Escrivão de Polícia – VUNESP/2014) O ato pelo qual o aposentado reingressa no
serviço policial, quando insubsistentes as razões que determinaram sua aposentadoria por invalidez, é
denominado, de acordo com a Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo, como:
(A) recondução.
(B) reintegração de ofício
(C) reversão ex officio.
(D) readmissão
(E) retorno vinculado

08. (PC-SP - Fotógrafo Técnico Pericial – VUNESP/2014) A Seção III da Lei Orgânica da Polícia
Civil, por meio do art.24, dispondo sobre a posse e as autoridades respectivamente competentes para
empossar os policiais civis, para dar posse ao Fotógrafo Técnico Pericial, compete ao
(A) Secretário da Segurança Pública do Estado.
(B) Delegado Geral de Polícia.
(C) Superintendente da Polícia Técnico-Científica.
(D) Diretor do Departamento de Administração da Polícia Civil.
(E) Secretário Geral do Governo do Estado de São Paulo.

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09. (PC-SP - Escrivão de Polícia Civil - PC-SP) Consoante disposição da Lei Orgânica da Polícia de
São Paulo, ao acusado, em processo administrativo disciplinar, é possível arrolar até
(A) 7 testemunhas.
(B) 8 testemunhas.
(C) 4 testemunhas.
(D) 5 testemunhas.
(E) 3 testemunhas.

10. (PC-SP - Investigador de Polícia - VUNESP) Nos termos da Lei Orgânica da Polícia Civil do
Estado de São Paulo, determinada a instauração de sindicância ou processo administrativo, ou no seu
curso, havendo conveniência para a instrução ou para o serviço policial, poderá o Delegado Geral de
Polícia, por despacho fundamentado, ordenar o afastamento preventivo do policial civil, quando o
recomendar a moralidade administrativa ou a repercussão do fato, sem prejuízo de vencimentos ou
vantagens, até
(A) 180 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período.
(B) um ano, improrrogável.
(C) 120 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período.
(D) 180 dias, improrrogáveis.
(E) 120 dias, improrrogáveis.

Respostas

01. Resposta: C.
Artigo 63 - São transgressões disciplinares:
IX - faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de serviço ou plantões, ou deixar de comunicar, com
antecedência, à autoridade a que estiver subordinado, a impossibilidade de comparecer à repartição,
salvo por motivo justo;

02. Resposta: C.
Artigo 39 - O policial civil não poderá, ser removido no interesse serviço, para município diverso do de
sua sede de exercício, no período de 6 (seis meses antes e até 3 (três) meses após a data das eleições.

03. Resposta: A.
Artigo 95 - O processo administrativo será presidido por Delegado de Polícia, que designará como
secretário um Escrivão de Polícia.

04. Resposta: C.
Art. 70, § 1º - Compete exclusivamente ao Governador do Estado, a aplicação das penas de demissão,
demissão a bem do serviço público e cassação de aposentadoria ou disponibilidade a Delegado de
Polícia.

05. Resposta: D.
Artigo 89 - Será obrigatório o processo administrativo quando a falta disciplinar, por sua natureza,
possa determinar a pena de demissão, demissão a bem do serviço público, cassação de aposentadoria
ou disponibilidade.
§ 1º - Não será instaurado processo para apurar abandono de cargo, se o servidor tiver pedido
exoneração.

06. Resposta: E.
Artigo 87 - A apuração das infrações será feita mediante sindicância ou processo administrativo,
assegurados o contraditório e a ampla defesa.

07. Resposta: C.
Artigo 34 - Reversão "ex ofício" é o ato pelo qual o aposentado reingressa no serviço policial quando
insubsistentes as razões que determinaram a aposentadoria por invalidez.

08. Resposta: D.
Artigo 25 - São competentes para dar posse:
I - O Secretário da Segurança Pública, ao Delegado Geral de Polícia;

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II - O Delegado Geral de Polícia, aos Delegados de Polícia;
III - O Diretor do Departamento de Administração da Polícia Civil, nos demais casos.

09. Resposta: D.
Artigo 103 - Comparecendo ou não o acusado ao interrogatório, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para
requerer a produção de provas, ou apresenta-las.
§ 1º - Ao acusado é facultado arrolar até 5 (cinco) testemunhas.

10. Resposta: A.
Artigo 86 - Determinada a instauração de sindicância ou processo administrativo, ou no seu curso,
havendo conveniência para a instrução ou para o serviço policial, poderá o Delegado Geral de Polícia,
por despacho fundamentado, ordenar as seguintes providências:
I - afastamento preventivo do policial civil, quando o recomendar a moralidade administrativa ou a
repercussão do fato, sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e oitenta) dias,
prorrogáveis uma única vez por igual período.

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