Variações Linguísticas

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Português

Variação Linguística – Feijão com Arroz

Resumo

Variação linguística é o modo pelo qual a língua se diferencia dentro do seu próprio sistema. Esta diferença
pode ser histórica, geográfica ou sociocultural. Vemos que a língua não é única, que o sistema linguístico abriga
diversos ângulos na realização linguística. Observamos a diferenças na fala que se relacionam à idade, à região
do país, à cultura e até mesmo ao estilo. Se prestarmos bastante atenção, perceberemos que a variação
acontece nos mais variados segmentos da língua, como o fonético, o sintático, o léxico, o semântico etc. Tudo
isso também configura a evolução da língua, o seu desenvolvimento e sua adaptação através do tempo e das
mudanças sociais.

A área de estudo que busca entender e descrever as diferentes manifestações linguísticas em um mesmo
idioma chama-se sociolinguística. O pesquisador dessa área busca verificar entre os falantes de determinadas
línguas diferenças nos modos de falar de acordo com quatro níveis:

Variação diacrônica

A língua varia no tempo e essa variação passa a ser notada ao comparar dois estados de uma língua. O
processo de mudança é gradual, ou seja, não acontece de repente.
Uma língua muda porque é falada segundo os costumes, a cultura, as tradições, a modernização tecnológica e
o modo de viver da população, que estão sempre em constante processo de mudança devido ao tempo. Por
isso, as mudanças da língua podem ser percebidas com o contato com pessoas de outras faixas etárias e com
textos escritos ou falados de outras épocas.
O pronome tu, por exemplo, antigamente, era o único pronome de segunda pessoa do singular; entretanto, com
o tempo, outras formas de tratamento surgiram, como Vossa Mercê e Vossa Majestade. A palavra “vossa
mercê” se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê” e “você”. Além disso, ao longo do
tempo, algumas palavras tiveram alteração na pronúncia, mas não na escrita, enquanto um mesmo som pode
ser apresentado com diferentes representações.

Variação diatópica

A língua varia no espaço pois pode ser empregada diferentemente dependendo do local em que o indivíduo
está. A variação diatópica diz respeito justamente às diferenças linguísticas que podem ser vistas em falantes
de lugares geográficos diferentes. Por isso, é mais observada em locais diferentes mas com falantes da mesma
língua.

A macaxeira, por exemplo, muito consumida no Norte e no Nordeste, é chamada de aipim ou mandioca no
Sudeste. Outro exemplo é a palavra “mexerica”, que, em algumas regiões, é conhecida como “bergamota” e, em
outras, como “tangerina”. No entanto, essa variação não se trata apenas de uma variação no léxico: questões
fonéticas e gramaticais também são amplamente consideradas. No que se refere à sintaxe, nota-se que é
grande a recorrência de alguns termos sintáticos, como, por exemplo, “vou não” em vez de “não vou” e “é não”
em vez de “não é”.

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Português

São diversos os exemplos desse tipo de variação. Muitos deles são apropriados pelas diferentes regiões,
tratando-se apenas de variações bem-conhecidas. No entanto, há casos de desconhecimento e dificuldade de
comunicação devido à divergência dos termos para um mesmo significado.

Variação diastrática
A língua varia de acordo com fatores sociais. A variação social está relacionada a fatores como faixa etária,
grau de escolaridade e grupo profissional e é marcada pelas gírias, jargões e pelo linguajar singelo, já que são
aspectos característicos de certos grupos.
• Fator etário: A idade dos participantes da comunicação é um dado relevante, já que, a partir dela, serão
feitas escolhas linguísticas diferentes. Isso é visível na comparação entre um jovem e uma pessoa mais
velha, em que cada um usará vocábulos mais comuns à sua geração.
• Fator da escolaridade: Este fator se liga a uma categoria essencial, que é a educação. Na escola, aprende-
se a usar a língua em situações formais de acordo com a “norma padrão” ou “norma culta”. Esta norma
está ligada ao conjunto de usos e costumes linguísticos que rege qualquer língua e é tão indispensável
quanto as variações linguísticas: se na fala escolhe-se um vocabulário coloquial, menos preocupado com
as regras gramaticais, na escrita deve-se optar pela linguagem padrão, pois um texto repleto de expressões
informais pode não ser acessível para todos os tipos de leitores.
• Fator profissional: Cada grupo profissional possui um conjunto de nomes e expressões que se ligam à
atividade desempenhada; ou seja, essa fator trata do jargão típico de cada área. O campo do Direito, por
exemplo, utiliza palavras relacionadas a leis, a artigos e a determinados documentos, assim como a área
da Medicina utiliza um vocabulário que apenas os médicos são capazes de entender.

Variação diafásica

A língua varia de acordo com o contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo de falar, que pode
ser formal ou informal. Esta variação, portanto, refere-se ao registro empregado pelo falante em determinado
contexto interacional, ou seja, depende da situação em que a pessoa está inserida.
Em uma palestra, por exemplo, um professor deve utilizar a linguagem formal, isto é, aquela que respeita as
regras gramaticais da norma padrão. Por outro lado, em uma conversa com os amigos, esse mesmo professor
pode se expressar de forma mais natural e espontânea, sem a obrigação de refletir sobre a utilização da língua
de acordo com a norma culta. Nesse mesmo sentido, deve-se reforçar que a linguagem usada na internet e em
um texto formal deve ser diferenciada: enquanto, na internet, é permitido o uso de abreviações e o uso de “pra”
no lugar de “para”, em uma redação, isso é proibido, uma vez que é um texto que exige a norma culta da língua.

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Exercícios

1. Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem


Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção do carioca, como
também o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um amigo pode até doer
um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca para tratar bem quem
ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com. Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).

Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado repertório
linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas de uso social. A
respeito desse repertório, atesta-se o(a)
a) desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.
b) inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.
c) reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos falantes.
d) identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.
e) variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária dos falantes.

2. Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade
de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em
dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias
depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria
Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi
interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em:
http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.

A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui
Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
a) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.
b) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.
c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.
d) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.
e) estabelecer uma política de incentivo à escrita correta das palavras.

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Português

3. Evocação do Recife
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem
ser
a) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa
autêntica.
b) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
c) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
d) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
e) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

4.

No último balão da tirinha de Maurício de Sousa, o autor escreveu “mais” em vez de “mas” na tentativa de
representar, na escrita, a forma como a personagem Chico Bento, supostamente, pronunciaria a
conjunção adversativa. Existem diversas formas e níveis de variação linguística, justamente, porque
somos influenciados por diversos fatores, tais como: região, escolaridade, faixa etária, contexto
comunicativo, papel social etc.

Com base nesses pressupostos, assinale a alternativa que representa uma variante linguística
característica do falar popular mineiro.
a) “Aquele fi duma égua só me deixou aperreado”.
b) “Protesto, meritíssimo! A testemunha não havia falado da agressão.”
c) “Capaz, guri! Só tava de bobeira contigo, bagual!”
d) “Uai? Cê já chegô, sô? Peraí, que eu já tô saíno!”
e) “Aquela mina é firmeza, mano!”

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Português

5. Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas


adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura
social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das
suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja
uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo,
como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função
coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.
Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

Depreende-se do texto que uma determinada língua é um:


a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser
considerada exemplar.
b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior prestígio social.
c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma culta.
d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funcionamento é prejudicado pela heterogeneidade
social.
e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de normas e outras não
o são.

6. Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
OSWALD, A. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.47.

O poema de Oswald de Andrade apresenta a temática do uso da língua, muito abordada pela primeira
fase do Modernismo. O poema “Vício na fala” enfatiza a variação linguística em seu nível:
a) semântico
b) lexical
c) morfológico
d) sintático
e) fonético

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7. — Famigerado? […]
— Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável”…
— Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável?
É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos…
— Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?
— Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete
ao
a) local de origem dos interlocutores.
b) estado emocional dos interlocutores.
c) grau de coloquialidade da comunicação.
d) nível de intimidade entre os interlocutores.
e) conhecimento compartilhado na comunicação.

8. Nuances
Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa.
Gravar: quando o ator é de televisão. Filmar: quando ele quer deixar claro que não é de televisão.
Grávida: em qualquer ocasião. Gestante: em filas e assentos preferenciais.
Guardar: na gaveta. Salvar: no Computador. Salvaguardar: no Exército.
Menta: no sorvete, na bala ou no xarope.
Hortelã: na horta ou no suco de abacaxi.
Peça: quando você vai assistir. Espetáculo: quando você está em cartaz com ele.
DUVIVIER, G. Folha de S. Paulo, 24 mar. 2014 (adaptado)

O texto trata da diferença de sentido entre vocábulos muito próximos. Essa diferença é apresentada
considerando-se a(s)
a) alternâncias na sonoridade.
b) adequação às situações de uso.
c) marcação flexional das palavras.
d) grafia na norma-padrão da língua.
e) categorias gramaticais das palavras.

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9. PINHÃO Sai ao mesmo tempo que BENONA entra.


BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro,
se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora,
parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira
hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos
outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.
SUASSUNA, A. O santo e a porca, Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento)

Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
a) marcar a classe social das personagens.
b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

10. Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral
dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo
nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical.
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes
do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece
impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O
pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos
sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais emal ou el – carnavau, Raqueu... Já os
paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.”
QUEIROZ, Raquel. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998.

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de
pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se:
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.

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Gabarito

1. D
As expressões enviadas pelos leitores como sugestões para o Museu das Invenções Cariocas pertencem
ao repertório coloquial carioca (“caraca”, “vacilão”, “mermão”, etc).

2. C
No início do texto, o narrador já avisa tratar-se de uma piada, logo, o efeito entre águia, o belo pássaro, e
águia, forma popular de referir-se à agulha, estabelece um jogo de palavras a partir da mudança da sílaba
tônica: águia, com a tônica no primeiro a, com a palavra águia, com a tônica na sílaba gu. Aproveitam-se as
semelhanças gráficas entre as duas palavras para criar um trocadilho bem-humorado.

3. D
Os poetas da primeira geração modernista tinham muito repeito pela língua portuguesa usada pelas
pessoas mais simples, por acreditarem ser esta linguagem, a verdadeira tradução do povo brasileiro.

4. D
As demais variantes são, respectivamente: nordestina, linguagem tipicamente jurídica, gaúcha e paulista.

5. A
Segundo Celso Cunha, todas as variedades linguísticas que constituem um idioma são estruturadas e
obedecem às necessidades de seus usuários. Mas, como a língus está fortemente ligada às estruturas
sociais, uma dessas variedades alcança maior valor social e passa a ser considerada a língua padrão.

6. E
Existe variação fonética quando uma mesma palavra é pronunciada de formas diferentes.

7. C
A utilização da linguagem informal retrata um grau de coloquialidade na comunicação entre os
interlocutores. O personagem usa as palavras “importante”e “que merece louvor” para facilitar a
compreensão do seu receptor.

8. B
No texto “Nuances”, Gregório Duvivier acentua humoristicamente as diferenças de sentido que
determinadas palavras adquirem no contexto e ocasiões em que são usadas.

9. B
As expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” são típicas do falar nordestino, o que também vai ao
encontro do fato de Ariano Suassuna ser um autor que normalmente retrata essa região e suas variações.

10. A
A Fonologia é o ramo da Linguística que estuda o sistema sonoro de um idioma. Ao comentar as variações
que se percebem no falar de pessoas de diferentes religiões (“Têm uns tês doces, quase um the; já nós,
ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já
os paraibamos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava afetuosamente, de Raquer”), a autora
analisa as mudanças fonésticas características de cada região.

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Variação Linguística – Feijão com Arroz

Resumo

Variação linguística é o modo pelo qual a língua se diferencia dentro do seu próprio sistema. Esta diferença
pode ser histórica, geográfica ou sociocultural. Vemos que a língua não é única, que o sistema linguístico abriga
diversos ângulos na realização linguística. Observamos a diferenças na fala que se relacionam à idade, à região
do país, à cultura e até mesmo ao estilo. Se prestarmos bastante atenção, perceberemos que a variação
acontece nos mais variados segmentos da língua, como o fonético, o sintático, o léxico, o semântico etc. Tudo
isso também configura a evolução da língua, o seu desenvolvimento e sua adaptação através do tempo e das
mudanças sociais.

A área de estudo que busca entender e descrever as diferentes manifestações linguísticas em um mesmo
idioma chama-se sociolinguística. O pesquisador dessa área busca verificar entre os falantes de determinadas
línguas diferenças nos modos de falar de acordo com quatro níveis:

Variação diacrônica

A língua varia no tempo e essa variação passa a ser notada ao comparar dois estados de uma língua. O
processo de mudança é gradual, ou seja, não acontece de repente.
Uma língua muda porque é falada segundo os costumes, a cultura, as tradições, a modernização tecnológica e
o modo de viver da população, que estão sempre em constante processo de mudança devido ao tempo. Por
isso, as mudanças da língua podem ser percebidas com o contato com pessoas de outras faixas etárias e com
textos escritos ou falados de outras épocas.
O pronome tu, por exemplo, antigamente, era o único pronome de segunda pessoa do singular; entretanto, com
o tempo, outras formas de tratamento surgiram, como Vossa Mercê e Vossa Majestade. A palavra “vossa
mercê” se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê” e “você”. Além disso, ao longo do
tempo, algumas palavras tiveram alteração na pronúncia, mas não na escrita, enquanto um mesmo som pode
ser apresentado com diferentes representações.

Variação diatópica

A língua varia no espaço pois pode ser empregada diferentemente dependendo do local em que o indivíduo
está. A variação diatópica diz respeito justamente às diferenças linguísticas que podem ser vistas em falantes
de lugares geográficos diferentes. Por isso, é mais observada em locais diferentes mas com falantes da mesma
língua.

A macaxeira, por exemplo, muito consumida no Norte e no Nordeste, é chamada de aipim ou mandioca no
Sudeste. Outro exemplo é a palavra “mexerica”, que, em algumas regiões, é conhecida como “bergamota” e, em
outras, como “tangerina”. No entanto, essa variação não se trata apenas de uma variação no léxico: questões
fonéticas e gramaticais também são amplamente consideradas. No que se refere à sintaxe, nota-se que é
grande a recorrência de alguns termos sintáticos, como, por exemplo, “vou não” em vez de “não vou” e “é não”
em vez de “não é”.

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Português

São diversos os exemplos desse tipo de variação. Muitos deles são apropriados pelas diferentes regiões,
tratando-se apenas de variações bem-conhecidas. No entanto, há casos de desconhecimento e dificuldade de
comunicação devido à divergência dos termos para um mesmo significado.

Variação diastrática
A língua varia de acordo com fatores sociais. A variação social está relacionada a fatores como faixa etária,
grau de escolaridade e grupo profissional e é marcada pelas gírias, jargões e pelo linguajar singelo, já que são
aspectos característicos de certos grupos.
• Fator etário: A idade dos participantes da comunicação é um dado relevante, já que, a partir dela, serão
feitas escolhas linguísticas diferentes. Isso é visível na comparação entre um jovem e uma pessoa mais
velha, em que cada um usará vocábulos mais comuns à sua geração.
• Fator da escolaridade: Este fator se liga a uma categoria essencial, que é a educação. Na escola, aprende-
se a usar a língua em situações formais de acordo com a “norma padrão” ou “norma culta”. Esta norma
está ligada ao conjunto de usos e costumes linguísticos que rege qualquer língua e é tão indispensável
quanto as variações linguísticas: se na fala escolhe-se um vocabulário coloquial, menos preocupado com
as regras gramaticais, na escrita deve-se optar pela linguagem padrão, pois um texto repleto de expressões
informais pode não ser acessível para todos os tipos de leitores.
• Fator profissional: Cada grupo profissional possui um conjunto de nomes e expressões que se ligam à
atividade desempenhada; ou seja, essa fator trata do jargão típico de cada área. O campo do Direito, por
exemplo, utiliza palavras relacionadas a leis, a artigos e a determinados documentos, assim como a área
da Medicina utiliza um vocabulário que apenas os médicos são capazes de entender.

Variação diafásica

A língua varia de acordo com o contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo de falar, que pode
ser formal ou informal. Esta variação, portanto, refere-se ao registro empregado pelo falante em determinado
contexto interacional, ou seja, depende da situação em que a pessoa está inserida.
Em uma palestra, por exemplo, um professor deve utilizar a linguagem formal, isto é, aquela que respeita as
regras gramaticais da norma padrão. Por outro lado, em uma conversa com os amigos, esse mesmo professor
pode se expressar de forma mais natural e espontânea, sem a obrigação de refletir sobre a utilização da língua
de acordo com a norma culta. Nesse mesmo sentido, deve-se reforçar que a linguagem usada na internet e em
um texto formal deve ser diferenciada: enquanto, na internet, é permitido o uso de abreviações e o uso de “pra”
no lugar de “para”, em uma redação, isso é proibido, uma vez que é um texto que exige a norma culta da língua.

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Exercícios

1. Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem


Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção do carioca, como
também o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um amigo pode até doer
um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca para tratar bem quem
ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com. Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).

Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado repertório
linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas de uso social. A
respeito desse repertório, atesta-se o(a)
a) desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.
b) inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.
c) reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos falantes.
d) identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.
e) variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária dos falantes.

2. Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade
de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em
dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias
depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria
Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi
interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em:
http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.

A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui
Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
a) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.
b) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.
c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.
d) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.
e) estabelecer uma política de incentivo à escrita correta das palavras.

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Português

3. Evocação do Recife
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem
ser
a) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa
autêntica.
b) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
c) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
d) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
e) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

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No último balão da tirinha de Maurício de Sousa, o autor escreveu “mais” em vez de “mas” na tentativa de
representar, na escrita, a forma como a personagem Chico Bento, supostamente, pronunciaria a
conjunção adversativa. Existem diversas formas e níveis de variação linguística, justamente, porque
somos influenciados por diversos fatores, tais como: região, escolaridade, faixa etária, contexto
comunicativo, papel social etc.

Com base nesses pressupostos, assinale a alternativa que representa uma variante linguística
característica do falar popular mineiro.
a) “Aquele fi duma égua só me deixou aperreado”.
b) “Protesto, meritíssimo! A testemunha não havia falado da agressão.”
c) “Capaz, guri! Só tava de bobeira contigo, bagual!”
d) “Uai? Cê já chegô, sô? Peraí, que eu já tô saíno!”
e) “Aquela mina é firmeza, mano!”

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Português

5. Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas


adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura
social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das
suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja
uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo,
como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função
coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.
Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

Depreende-se do texto que uma determinada língua é um:


a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser
considerada exemplar.
b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior prestígio social.
c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma culta.
d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funcionamento é prejudicado pela heterogeneidade
social.
e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de normas e outras não
o são.

6. Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
OSWALD, A. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.47.

O poema de Oswald de Andrade apresenta a temática do uso da língua, muito abordada pela primeira
fase do Modernismo. O poema “Vício na fala” enfatiza a variação linguística em seu nível:
a) semântico
b) lexical
c) morfológico
d) sintático
e) fonético

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Português

7. — Famigerado? […]
— Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável”…
— Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável?
É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos…
— Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?
— Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete
ao
a) local de origem dos interlocutores.
b) estado emocional dos interlocutores.
c) grau de coloquialidade da comunicação.
d) nível de intimidade entre os interlocutores.
e) conhecimento compartilhado na comunicação.

8. Nuances
Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa.
Gravar: quando o ator é de televisão. Filmar: quando ele quer deixar claro que não é de televisão.
Grávida: em qualquer ocasião. Gestante: em filas e assentos preferenciais.
Guardar: na gaveta. Salvar: no Computador. Salvaguardar: no Exército.
Menta: no sorvete, na bala ou no xarope.
Hortelã: na horta ou no suco de abacaxi.
Peça: quando você vai assistir. Espetáculo: quando você está em cartaz com ele.
DUVIVIER, G. Folha de S. Paulo, 24 mar. 2014 (adaptado)

O texto trata da diferença de sentido entre vocábulos muito próximos. Essa diferença é apresentada
considerando-se a(s)
a) alternâncias na sonoridade.
b) adequação às situações de uso.
c) marcação flexional das palavras.
d) grafia na norma-padrão da língua.
e) categorias gramaticais das palavras.

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Português

9. PINHÃO Sai ao mesmo tempo que BENONA entra.


BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro,
se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora,
parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira
hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos
outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.
SUASSUNA, A. O santo e a porca, Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento)

Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
a) marcar a classe social das personagens.
b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

10. Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral
dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo
nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical.
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes
do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece
impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O
pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos
sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais emal ou el – carnavau, Raqueu... Já os
paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.”
QUEIROZ, Raquel. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998.

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de
pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se:
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.

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Português

Gabarito

1. D
As expressões enviadas pelos leitores como sugestões para o Museu das Invenções Cariocas pertencem
ao repertório coloquial carioca (“caraca”, “vacilão”, “mermão”, etc).

2. C
No início do texto, o narrador já avisa tratar-se de uma piada, logo, o efeito entre águia, o belo pássaro, e
águia, forma popular de referir-se à agulha, estabelece um jogo de palavras a partir da mudança da sílaba
tônica: águia, com a tônica no primeiro a, com a palavra águia, com a tônica na sílaba gu. Aproveitam-se as
semelhanças gráficas entre as duas palavras para criar um trocadilho bem-humorado.

3. D
Os poetas da primeira geração modernista tinham muito repeito pela língua portuguesa usada pelas
pessoas mais simples, por acreditarem ser esta linguagem, a verdadeira tradução do povo brasileiro.

4. D
As demais variantes são, respectivamente: nordestina, linguagem tipicamente jurídica, gaúcha e paulista.

5. A
Segundo Celso Cunha, todas as variedades linguísticas que constituem um idioma são estruturadas e
obedecem às necessidades de seus usuários. Mas, como a língus está fortemente ligada às estruturas
sociais, uma dessas variedades alcança maior valor social e passa a ser considerada a língua padrão.

6. E
Existe variação fonética quando uma mesma palavra é pronunciada de formas diferentes.

7. C
A utilização da linguagem informal retrata um grau de coloquialidade na comunicação entre os
interlocutores. O personagem usa as palavras “importante”e “que merece louvor” para facilitar a
compreensão do seu receptor.

8. B
No texto “Nuances”, Gregório Duvivier acentua humoristicamente as diferenças de sentido que
determinadas palavras adquirem no contexto e ocasiões em que são usadas.

9. B
As expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” são típicas do falar nordestino, o que também vai ao
encontro do fato de Ariano Suassuna ser um autor que normalmente retrata essa região e suas variações.

10. A
A Fonologia é o ramo da Linguística que estuda o sistema sonoro de um idioma. Ao comentar as variações
que se percebem no falar de pessoas de diferentes religiões (“Têm uns tês doces, quase um the; já nós,
ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já
os paraibamos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava afetuosamente, de Raquer”), a autora
analisa as mudanças fonésticas características de cada região.

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Português

Preconceito Linguístico

Teoria

O preconceito linguístico é um tipo de discriminação em relação ao idioma, variação linguística ou nível de


linguagem utilizado por um falante, o qual é inferiorizado pela maneira como se expressa ao não utilizar uma
variante de prestígio como a norma-padrão da Língua Portuguesa. As regras da Gramática Normativa são
apenas uma variante dentro de múltiplas possibilidades de falares na nossa língua.

O professor e pesquisador Marcos Bagno, em seu livro “Preconceito linguístico – o que é, como se faz”, explica
sobre essa questão:

O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre
língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão. Uma receita de bolo não
é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo… Também a gramática
não é a língua. A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa
de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta. Essa descrição, é claro, tem seu
valor e seus méritos, mas é parcial (no sentido literal e figurado do termo) e não pode ser autoritariamente
aplicada a todo o resto da língua — afinal, a ponta do iceberg que emerge representa apenas um quinto do
seu volume total. Mas é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora
do preconceito linguístico.
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo, 2002

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Português

Exercícios

1. (ENEM) De domingo
– Outrossim…
– O quê?
– O que o quê?
– O que você disse.
– Outrossim?
– É.
– O que é que tem?
– Nada. Só achei engraçado.
– Não vejo a graça.
– Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
– Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
– Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
– Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
– “Ônus”.
– “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
– “Resquício” é de domingo.
– Não, não. Segunda. No máximo terça.
– Mas “outrossim”, francamente…
– Qual o problema?
– Retira o “outrossim”.
– Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um
que usa “outrossim”.
VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove
o(a)
a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
b) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
c) caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras
regionais.
d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados
pouco conhecidos.
e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um
dos interlocutores do diálogo.

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2. (IFPE) Evocação do Recife

(...)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
(...)
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. 20ª Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 448 p.

Devido à primazia que se tem concedido à língua padrão, muitos consideram a “língua do povo” a que
se refere o poema como incorreta. Este fenômeno de atribuir menor valor a determinadas variedades
da língua denomina-se
a) variação sociocultural.
b) variação regional.
c) bairrismo.
d) preconceito linguístico.
e) preconceito de classe.

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Português

3. (UCPEL) Médico debocha de paciente na internet e é demitido Pacientes e internautas ficaram


indignados com a postura do funcionário.

Imagem – Reprodução/Internet

Um médico plantonista do hospital público Santa Rosa de Lima, administrado pela Santa Casa de Serra
Negra, em São Paulo, foi afastado do trabalho após ter uma foto divulgada em seu Facebook em que
debocha de um paciente que não falou corretamente as palavras “pneumonia” e “Raio-X” em uma
consulta. O médico em questão publicou em sua rede social a imagem de um receituário em que se lê:
“Não existe peleumonia e nem raôxis”. A postagem foi comentada pelas funcionárias do hospital, que
também foram demitidas. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) informou que vai
instaurar uma sindicância para avaliar a postura do profissional. O caso ganhou repercussão depois
que a denúncia foi publicada na coluna “Comentando”, e outros pacientes e internautas ficaram
indignados com a postura do clínico geral. A diretoria do Hospital Santa Rosa de Lima publicou uma
nota em que repudia o comportamento dos ex-funcionários.
Texto adaptado. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016.

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais, assim, a atitude do médico
demonstra
a) o preconceito racial.
b) a importância do estudo da língua.
c) o preconceito linguístico.
d) a importância da linguagem coloquial.
e) o preconceito pela classe social prestigiada.

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Português

4. (ENEM) Em bom português


No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é
apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a
gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
— Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que
trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni,
carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro,
pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada.
Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa
característica da língua, evidenciando que
a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
b) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.
c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.

5. (ENEM) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil,


corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que
já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase
arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter
existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos
quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”,
não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial
com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.
Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua.
Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir
o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante
de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra?
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado. In: Cadernos de Letras da UFF,
n. 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).

Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que
a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.
b) os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.
c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma.
d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos.
e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística.

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Português

Gabarito

1. B
Palavras como “outrossim”, “desiderato” e “ônus” são, geralmente, empregadas em um contexto mais
formal, diferentemente do contexto, marcado pela informalidade, do texto de Verissimo. Isso provoca o
tom humorístico a que a alternativa se refere.

2. D
A língua possui diversas variações linguísticas e, a partir do momento que a uma variação é dado um
valor menor do que à(s) outra(s), tem-se um preconceito linguístico.

3. C
O médico, ao zombar da variante linguística de seu paciente, demonstra preconceito linguístico, já que
não aceita variante distinta da sua e exibe comportamento de desdém.

4. B
A constante mudança da língua é evidenciada no texto na comparação de gerações, pois mostra parte
do léxico que caiu em desuso ao longo do tempo, ou seja, as palavras que usavam há anos atrás já não
são faladas pois foram substituídas por outras, como “fita de cinema” e “filme”.

5. E
Ao apresentar evidências de que termos e construções atualmente considerados inapropriados pela
gramática normativa eram tidos como adequados em outros contextos históricos, a autora comprova
que “nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua”, ou seja,
os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística como se afirma
na alternativa [E].

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