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ESTÁGIO COM PESQUISA: Relato de Experiência do Estágio Supervisionado em

Docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

TEACHING STAGE WITH RESEARCH: Experience Report of Supervised Stage in Initial


Years of Elementary School

Larissa da Silva Mesak dos Santos1 (UEG)


Sebastiana de Lourdes Lopes Flaviano2(UEG)

RESUMO: O presente artigo apresenta a importância do Estágio Supervisionado para os cursos de licenciatura,
em especial para o curso de Pedagogia e descreve a aplicação do projeto “Respeitando as Diferenças no Espaço
Escolar”. Pensar na realização do estágio supervisionado pode nos remeter à simples ideia de abrir mão de
algumas horas apenas observando a docência, mas esse estudo na forma de relato apresenta um modelo de
estágio, em que não apenas a observação é realizada, mas também há o desenvolvimento de um projeto que gera
reflexão acerca da prática docente tanto do professor regente como do estagiário. Para tanto, foi definida uma
turma de Ensino Fundamental, especialmente do 2°ano, na qual desenvolvemos um projeto que teve por
princípios básicos a compreensão, a aceitação e o respeito às diferenças físicas e comportamentais de cada
pessoa. Para isso, contou-se com cerca de 20 horas, distribuídas em quatro dias. A metodologia, as atividades e
os resultados serão apresentados com o intuito de demonstrar como o projeto de intervenção pode ser uma
importante ferramenta de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem, além de ser significativo e prazeroso para
os envolvidos. De uma maneira geral, será apresentado todo o processo pelo qual o estágio foi realizado, suas
etapas e alguns apontamentos sobre o estágio não apenas como prática, mas uma abordagem do estágio com
pesquisa, o que facilita e favorece a aprendizagem e a junção da teoria e da prática contribuindo sobremaneira
para a formação dos professores.

PALAVRAS-CHAVE: Estágio supervisionado. Pesquisa Docência. Ensino-aprendizagem.

ABSTRACT: This paper presents the importance of the supervised stage for undergraduate courses, especially
for Pedagogy and describes the application of the project "Respecting Differences in School Space". Thinking
about the supervised stage can refer to the simple idea of just observing teaching, but this study in the form of a
report presents a stage model in which not only observation is carried out but also the development of a project
that generates reflection on the teaching practice of both the teacher and the trainee. For this purpose a group
of Primary Education was defined, especially the 2nd year, in which we developed a project that had the basic
principles of understanding, accepting and respecting the physical and behavioral differences of each person.
For this we counted on about 20 hours, distributed in four days. The methodology, activities and results will be
presented with the intention of demonstrating how the intervention project can be an important tool to aid the
teaching-learning process, besides being significant and pleasant for those involved. In general, it will be
presented the whole process by which the stage was carried out, its stages and some notes about the stage not
only as practice, but an approach of the stage with research, which facilitates and favors the learning and the
junction of the theory and of practice contributing greatly to the training of teachers.

KEYWORDS: Supervised stage. Research Teaching. Teaching-Learning.

1
Graduada em Licenciatura de Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Câmpus Pires do Rio,
Goiás, Brasil. E-mail: [email protected]
2
Docente Orientadora do Estágio Supervisionado em Docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do
Curso de Licenciatura de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Câmpus Pires do Rio, Goiás,
Brasil. Mestra em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Catalão, Goiás, Brasil. Integrante do
Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Ensino de Ciências e Formação de Professores – GEPEEC. E-mail:
[email protected]

Mediação, Pires do Rio - GO, v. 11, n. 1, p. 139-149, jan.- dez. 2016.


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SANTOS, Larissa da Silva Mesak dos; FLAVIANO, Sebastiana de Lourdes Lopes. Estágio com pesquisa: relato
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Introdução

O Estágio Supervisionado em Docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental


II configura-se como uma atividade essencial durante o período de formação acadêmica, pois
é através dele que o aluno poderá ter a oportunidade de conhecer e participar do ambiente
escolar e ainda, do processo de ensino-aprendizagem.
A esse respeito, Pimenta e Lima (2012) afirmam:

Como componente curricular, o estágio pode não ser uma completa preparação para
o magistério, mas é possível, nesse espaço, professores, alunos e comunidade
escolar e universidade trabalharem questões básicas de alicerce, a saber: o sentido da
profissão, o que é ser professor na sociedade em que vivemos, como ser professor, a
escola concreta, a realidade dos alunos nas escolas de ensino fundamental e médio, a
realidade dos professores nessas escolas, entre outras. (p. 99-100).

Como é destacado pelas autoras, o estágio é um momento de extrema importância


na vida acadêmica, pois é através dele que o aluno irá conhecer a profissão docente podendo
assim decidir e ter certeza se é essa a profissão que ele deseja seguir. O Estágio
Supervisionado é então, o primeiro contato que o acadêmico (a) tem com seu futuro campo de
atuação ou com a sua futura profissão. Segundo Pimenta e Lima (2006), o estágio é o
instrumento pedagógico que contribui para a superação da dicotomia teoria e prática na
formação de professores, pois é através dele que o profissional conhece os aspectos
indispensáveis para a formação da construção da identidade e dos saberes do dia-a-dia.
Nessa perspectiva, o estágio configura-se como um processo fundamental na
formação do futuro professor, pois é a forma de fazer a transição de aluno para professor, ou
seja, da teoria para a prática. Este é um momento da formação em que o graduando pode
vivenciar experiências, conhecer melhor sua área de atuação, a fim de que sua formação se
torne ainda mais significativa, além de proporcionar momentos de discussões, de reflexão
crítica, de indagações que por sua vez possibilitam a construção de uma identidade pessoal e
profissional.
O Estágio de Licenciatura é uma exigência que se faz presente na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394/96). O Artigo 82 define que:

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Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios
dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua
jurisdição.
Parágrafo único. O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelece
vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado
contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica.
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em
sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº
11.788, de 2008).

Vê-se aí a legitimidade do estágio para a formação acadêmica, sendo necessário à


formação profissional com o intuito inicial de efetivar a práxis. É o mesmo que dizer que é no
estágio que o aluno poderá ter a oportunidade de conhecer como se dá o desenvolvimento de
uma rotina escolar e ainda perceber como acontece a interação na sala de aula e nos diferentes
espaços da escola.
Esse período na vida acadêmica se torna então, um momento de fundamental
importância no processo de formação profissional. É como um treinamento que possibilita ao
estudante vivenciar o seu futuro local de trabalho e reafirmar sua concepção pedagógica,
relacionando teoria e prática. Pimenta e Gonçalves apud Pimenta, Lima, (2006):

Consideram que a finalidade do estágio é a de propiciar ao aluno uma aproximação à


realidade na qual atuará. Assim o estágio se afastada compreensão até então
corrente, de que seria a parte prática do curso. Defendem uma nova postura, uma re-
definição do estágio que deve caminhar para a reflexão, a partir da realidade. (p.13).

Com base nessas palavras, pode-se perceber que as autoras têm uma visão ampla
sobre a importância do estágio, interligando teoria e prática e aproximando a realidade Frente
a esse embate, pode-se dizer que o estágio é um momento de aprendizado que se pode efetivar
a profissão. Pimenta e Lima (2006) abordam que o estágio é a parte prática dos cursos de
formação de profissionais e que muitos cursos, na sua grade curricular, dão ênfase a um
aglomerado de disciplinas isoladas entre si, sem articular a teoria e a prática, como saberes
que se complementam. E mais, para as disciplinas tidas como teóricas há uma carga horária
maior que para as práticas. Portanto, de acordo com Pimenta e Lima “o estágio tem de ser
teórico-prático, ou seja, que a teoria é indissociável da prática” (2006, p. 07).

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Porém, para a melhor compreensão, precisa-se primeiro entender o conceito de


prática e de teoria a partir do conceito de práxis, Pimenta e Lima (2006, p.07) afirmam o “que
aponta para o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a
reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade”. Ou
seja, é no dia a dia da escola que o aluno estagiário irá aprender a prática utilizando seus
conhecimentos teóricos já estudados na universidade.
Segundo Pimenta e Lima (2006, p.07):

O exercício de qualquer profissão é prático, no sentido de que se trata de aprender a


fazer ‘algo’ ou ‘ação’. A profissão de professor também é prática. E o modo de
aprender a profissão, conforme a perspectiva da imitação, será a partir da
observação, imitação, reprodução, e às vezes, da reelaboração dos modelos
existentes na prática, consagrados como bons. Muitas vezes nossos alunos aprendem
conosco, observando-nos, imitando, mas também elaborando seu próprio modo de
ser a partir da análise crítica do nosso modo de ser; Nesse processo escolhem,
separam aquilo que consideram adequado, acrescentam novos modos, adaptando-se
aos contextos nos quais se encontram. Para isso, lançam mão de suas experiências e
dos saberes que adquiriram.

As autoras reafirmam a importância da prática e abordam ainda as maneiras pelas


quais os alunos estagiários poderão aprender a serem professores.
Mesmo o estágio exercendo tanta importância na vida acadêmica, muitas são as
dúvidas e incertezas que, como estagiários, carregamos quando vamos para a escola campo, e
é, a parir dessas indagações, que somos capazes de elaborarmos nossas reflexões. É
imprescindível, na formação do professor, uma busca constante, não apenas do saber, mas
também do fazer, estando cada vez mais presente a ação - reflexão no dia-a-dia do professor,
para que ele não se acomode, não caia na mesmice, e que sempre avalie sua prática em busca
de um melhor saber e de um melhor fazer. Segundo Pimenta e Lima (2006), compete aos
cursos de formação possibilitar aos futuros professores a compreensão da complexidade das
práticas e ações praticadas pelos profissionais, como alternativa no preparo para a inserção
profissional. Isso pode ser conquistado se o estágio for articulado a todas as disciplinas, a fim
de formar professores críticos e analíticos. Nessa perspectiva tem-se que:

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Tornar o estágio esse espaço de aprendizagem que leva a refazer continuamente a


prática e a descobrir novos jeitos de conviver e compreender o fazer pedagógico, é o
desafio enfrentado nos diversos cursos de formação por alunos e professores na
superação entre o abismo que se criou entre teoria e prática. (GHEDIN, OLIVEIRA,
ALMEIDA, 2015, p.194).

As palavras dos autores reafirmam a complexidade que é o momento do estágio,


uma vez que este deve possibilitar o desenvolvimento de várias habilidades e reflexões acerca
da profissão docente. Nesse contexto, este trabalho busca descrever a importância do Estágio
Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental I, bem como os procedimentos
adotados para a realização do mesmo, dos quais se destacam o trabalho com projetos, que
segundo Barbosa e Horn (2008):

Os projetos podem ser usados nos diferentes níveis da escolaridade. Desde a


educação infantil até o ensino médio. O que é importante considerar, a priori, é que
cada um desses níveis possui especificidades e características peculiares que os vão
distinguir em alguma medida: com relação ao grupo etário, à realidade circundante,
às experiências anteriores dos alunos e dos professores. Porém, em sua essência,
assim como qualquer tema pode ser abordado nessa perspectiva, também é possível
utilizá-lo em qualquer etapa da escolaridade. (p.71)

Observa-se aí que os projetos podem ser uma ferramenta de auxílio à prática


docente e, assim sendo, também pode ser utilizado no momento do estágio, facilitando a
aprendizagem significativa tanto dos alunos da escola como dos alunos estagiários. Para isso,
é importante destacar que o estágio pode ser visto como uma oportunidade de pesquisa, pois
“percebe-se no perfil desejado para a formação do professor reflexivo pesquisador todo um
trabalho articulado apoiado no tripé: prática docente, a reflexão e a atividade de pesquisa”
(GHEDIN, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2015, p.194).
O Estágio Supervisionado no Ensino Fundamental I foi realizado na instituição
Escola Municipal Demóstenes Cristino, situada à Rua Intendente José Bernardino da Costa
s/n Bairro Dom Vital, na cidade de Ipameri, Goiás. A instituição foi municipalizada no ano de
2002 passando a ser administrada pela Secretaria Municipal da Educação, e mantida pelo
Poder Público Municipal, oferecendo o Ensino Fundamental I em dois períodos sendo
matutino e vespertino.
A escola conta com um espaço pedagógico e recreativo reduzido, mas
aconchegante. Nela há ambientes como: quadra esportiva, fonte de água com peixes, criação

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de coelhos, horta e um parque todo feito com materiais reciclados. A turma na qual o estágio
foi realizado foi a do 2° ano matutino, no período de agosto a novembro.

Metodologia

Pimenta e Lima descrevem duas perspectivas pelas quais o estágio pode ser
desenvolvido pela prática como imitação de modelos e como instrumentalização técnica,
quando não refletidos. Segundo as autoras o exercício de qualquer profissão é prático, no
sentido de ação. Nesse sentido, a profissão professor não é diferente, e o modo de aprender a
fazer algo, seja nessa profissão ou outra, parte da observação, da imitação, reprodução daquilo
que é visto e observado. No entanto, os alunos/acadêmicos e professores/orientadores, a partir
da observação, devem elaborar sua própria prática, adequando, acrescentando e criando novas
ideias, após uma análise crítica e reflexiva do modo de agir do professor, para que não façam
do seu estágio apenas um momento de instrumentalização técnica. Á esse respeito:

[...] o estágio, nessa perspectiva, reduz-se a observar os professores em aula e imitar


esses modelos, sem proceder a uma análise crítica fundamental teoricamente e
legitimada na realidade social em que o ensino se processa”. Assim, a observação se
limita à sala de aula, sem análise do contexto escolar, e espera-se do estagiário a
elaboração e execução de “aulas-modelo” (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 08).

As autoras acima, também discutem sobre a importância das atividades no estágio


e as habilidades que os professores devem desenvolver em sua função. “... é a de saber lançar
mão adequadamente das técnicas conforme as diversas e diferentes situações em que o ensino
ocorre, o que necessariamente implica a criação de novas técnicas.” (PIMENTA E
LIMA,2006,p.10).
Nessa perspectiva o estágio teve como metodologia a observação participativa em
sala de aula, as regências através das substituições e o desenvolvimento do projeto de
intervenção “Respeitando as Diferenças no Espaço da Escola”, o qual teve duração de 20
horas, sendo dividido em quatro dias.
Para que se chegasse a definição desse tema, fez-se necessário entender que a
escola possui o papel de mediadora de conhecimentos, no desenvolvimento pleno da pessoa
humana e na formação para a cidadania. Segundo Libâneo, Ferreira e Toschi (2003):

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A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento das


potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem
dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, valores),
tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. O objetivo
primordial da escola é, portanto, o ensino e a aprendizagem dos alunos, tarefa a
cargo da atividade docente. (p.300)

Nesse contexto o professor desempenha um ato político, intencional ou não.


Assim, a escola deve proporcionar o desenvolvimento de seus alunos para o convívio na
cultura social. Dessa forma, se torna indispensável a intervenção nas relações dos alunos com
a comunidade escolar, no intuito de promover um convívio harmonioso em que prevaleça o
respeito e a tolerância com todo e qualquer tipo de diferença. Hernandez (2000, p.180)
destaca preocupações que estão de acordo com a nosso cotidiano, pois defende a ideia de que
devemos “formar indivíduos com uma visão mais global da realidade, vincular a
aprendizagem à situação e problemas reais, trabalhar a partir da pluralidade e da diversidade,
preparar para que aprendam durante toda a vida, etc.”
Assim sendo, o projeto “Respeitando as Diferenças no Espaço Escolar”, buscou
propor atividades que fizessem com que os alunos compreendessem a importância do bom
convívio com as diferenças e o respeito ao próximo. Os resultados dessa proposta serão
apresentados a seguir.

Resultados e Discussões

Quando se pensa no espaço escolar e no número de pessoas que compõem esse


ambiente, é imprescindível trazer à tona as relações tanto entre o corpo docente, a gestão e
todos os funcionários, quanto entre professores e alunos, professores e pais e entre os alunos
em si. Essas relações existentes na escola interferem no planejamento pedagógico, na ação
docente e inevitavelmente na aprendizagem dos alunos. Diante disso surge a necessidade de
promover uma conscientização sobre a importância do respeito e da tolerância diante das
diferenças existentes entre esses alunos e as pessoas que as cercam, no intuito de harmonizar a
relações dentro e fora do espaço escolar.

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Ao concordar que na escola os alunos estão constantemente envolvidos em ciclos


de relações, principalmente com seus colegas, surge a seguinte questão: Como fazer para que
os alunos se tornem cientes do respeito e da tolerância que devem ter, principalmente com as
diferenças físicas existentes entre cada um deles?
A partir disso, observou-se a necessidade de uma intervenção nas relações que envolvem os
alunos. A necessidade dessa intervenção se dá diante da dificuldade que alguns têm em aceitar
e até mesmo de conviver com as diferenças do outro no ambiente escolar.
Nas relações interpessoais entre os alunos e os demais componentes da sociedade
escolar, é primordial que se parta para ações que promovam uma reflexão de que cada
indivíduo tem suas próprias características, suas particularidades e que isso deve ser tolerado
e respeitado, pois através da boa convivência todos nós nos tornamos semelhantes.
A não aceitação do outro devido às diferenças que possui pode gerar agressões
físicas e psicológicas, acarretando sérios problemas de aprendizagem e de convivência, além
de promover a formação de grupos isolados em prol da exclusão daqueles que são
estereotipados pelos colegas devido a sua aparência.
Sendo assim, partiu-se de ações que pudessem colaborar para uma reflexão
voltada para as relações postas na escola, no intuito de gerar conforto ao lidar com as
particularidades do outro, promovendo assim, um ambiente mais harmonioso e propício para
o pleno desenvolvimento das crianças envolvidas. Nessa perspectiva o projeto teve como
objetivos: Refletir sobre as relações postas na comunidade escolar; Resgatar valores
fundamentais para uma boa convivência; Perceber a importância de si mesmo e do próximo;
Reconhecer a importância do exercício da cidadania, cumprindo seus direitos e deveres;
Repensar as atitudes em relação às diferenças entre o grupo.
Nessa perspectiva o projeto, como já foi dito, teve uma carga horária de 20 horas,
divididas em quatro dias. Assim sendo, o primeiro dia teve como objetivo a interação com a
turma, e, para isso foi proposta uma conversa com os alunos, explicando tudo o que seria
desenvolvido ao longo dos dias, e, logo após foi passado para eles um vídeo de uma música
intitulada “Normal é Ser Diferente”, para o ensaio da coreografia.
No segundo dia, o objetivo foi que os alunos compreendessem que, mesmo com
as semelhanças e diferenças físicas e comportamentais, todos podemos ser amigos. Para isso
contou-se a história “Na Minha Escola Todo Mundo é Igual” e, em seguida foi confeccionado

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um painel com os personagens da Turma da Mônica. Dividiu-se a turma em dois grupos, os


quais realizaram um recorte e colagem de revistas, com pessoas que apresentassem diferentes
características, para a confecção de dois cartazes. Para finalizar, os alunos assistiram o vídeo
novamente.
O terceiro dia teve como objetivo propor uma reflexão sobre as características
físicas de cada um, apontando o que cada aluno gosta ou não em si mesmo. Para isso foram
disponibilizadas folhas de papel pardo, e assim eles puderam se representar como se veem. E
a finalização foi o vídeo para o ensaio da música e coreografia.
No quarto e último dia, os alunos tiveram a oportunidade de refletir o que foi
aprendido durante o projeto, e escrever uma frase que representasse um pouco do que
aprenderam. Para finalizar, eles fizeram uma apresentação da música que foi ensaiada nos
dias anteriores.
Consideramos que o desenvolvimento e a aplicação do projeto, foram muito
válidos para o aprendizado enquanto acadêmica. Foi um momento de interação e troca de
conhecimentos, pois o tempo todo, os alunos interagiam e participavam bastante, expondo
seus conhecimentos prévios e opiniões sobre o tema.
As metodologias escolhidas e as atividades utilizadas, favoreceram bastante para
o sucesso do projeto, uma vez que as crianças adoram as histórias, e também, os personagens
da Turma da Mônica.
Um acontecimento que me deixou bastante instigada, foi que no terceiro dia do
projeto, uma das atividades era a representação de si mesmo. E nenhuma das crianças negras,
se representou como de fato são, todas elas se apresentaram como sendo brancos, de olhos
claros e cabelos loiros. Quando indagados sobre suas representações, eles afirmaram que são
assim como se representaram, o que não é verdade.
Pensar nesse aspecto citado é desafiador, uma vez que percebeu-se que a própria
crianças não se representa como de fato é, ou por não aceitar, não gostar e até mesmo por
querer ter outra aparência. Acredito que para que haja a valorização da auto estima dessas
crianças, seria necessário o trabalho com ouras metodologias e projetos ao longo do ano.

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Considerações Finais

O Estágio Supervisionado é uma parte do currículo muito importante na formação


do futuro professor porque é a oportunidade de experimentar e realizar, na prática, o
conhecimento teórico adquirido no decorrer da sua formação acadêmica. No entanto, as
incertezas e a ansiedade aparecem, devido a pouca experiência que o acadêmico tem em sala
de aula, mas a responsabilidade e a vontade de realizar um bom trabalho me acompanharam o
tempo todo. Contudo, o apoio da equipe gestora e da professora regente, possibilitou o bom
andamento do estágio.
É claro que o estágio não foi perfeito, equívocos ocorreram e acredito que, em
vários outros momentos, ocorrerão, mas estes também fazem parte do processo de
aprendizagem, e são oportunidades excelentes de refletir sobre a prática docente, enquanto
futura professora. Sendo assim, o período em que se destina ao estágio serve de eixo entre o
que é visto na teoria e o que se aplica na prática.
O projeto foi de extrema importância e, através dele, foi possível apresentar à
turma o que parecia necessário de acordo com pesquisas e observações feitas com
antecedência em sala de aula. De acordo com as metodologias e as atividades desenvolvidas
com o desenrolar do projeto, de certa forma, conseguimos atingir os objetivos com a maioria
dos alunos.
Enfim, a realização do estágio se torna um momento decisivo para a formação do
profissional da educação, pois o acadêmico que atuará em sala de aula, não pode ocupar um
espaço educacional, sem conhecer de perto a realidade escolar, e os problemas que os cercam
no contexto atual. Para aqueles que já atuam, é o momento de enxergar a escola e a prática
docente com outros olhos. Nesses termos, o estágio se realizou da melhor forma possível,
enriquecendo conhecimentos e aprendizagens sobre a docência.

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Referências

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Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BRASIL, Decreto-lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases, Fixa as


Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República Casa Civil Subchefia
para Assuntos Jurídicos. Brasília. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm> Acessado em 04/10/2016

GHEDIN, Evandro. OLIVEIRA, Elisangela Silva. ALMEIDA, Whasgton Aguiar. Estágio


com Pesquisa. São Paulo: Cortez, 2015.

HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos


de trabalho. Porto Alegre: Editora Artmed, 1998.

LIBÂNEO, José Carlos. OLIVEIRA, João Ferreira. TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência: diferentes
concepções. Revista POIÉSIS. Vol. 3, nº 3 e 4, p. 5-24, 2006.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez, 2012. (Coleção docência em formação-Série saberes pedagógicos).

Recebido em 10/06/2017
Aprovado em 25/06/2017

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