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v.9n.3 p. 55-77
ISSN: 2317-2428
copyright@2014
www.rigs.ufba.br
http://dx.doi.org/10.9771/23172428rigs.v9i3.35191
Abstract This article discusses some challenges in the scope of Project Management
aiming at the alignment, integration and materialization of Sustainable
Development Goals (SDGs) in organizations’ sustainability policies. It is
the result of a qualitative study, of an exploratory nature, which mobilized 54
Project Managers working in the area of sustainability in the public, private
and civil society sectors. There was a need to institutionally support, through
policies and standards, the issue of Sustainability in its multiple dimensions,
to reduce the gaps in the appropriation of knowledge about the SDGs
in the Organizations, as well as to guarantee budget allocation to expand
teams, to invest in communication and relationship with stakeholders and
to carry out the actions from a Sustainability Management perspective that
make organizational strategies adhere to the challenges inherent in the 2030
Agenda.
INTRODUÇÃO
Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus
sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós libera-
mos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e ex-
trativista. Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe, a
Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não só aos que em diferentes
graduações são chamados de índios, indígenas ou povos indígenas, mas a todos
(KRENAK, 2019).
O paradigma econômico que norteia a produção e o consumo é, na contemporaneidade,
o responsável por aprofundar desigualdades, afetar a qualidade de vida e limitar a
disponibilidade dos recursos naturais em escala planetária.
Os avanços técnicos e científicos acumulados ao longo do século XX, reconhecidos
como vetores do progresso da humanidade, não foram suficientes para consolidar um
modelo de desenvolvimento dinâmico, próspero, justo e ambientalmente equilibrado.
Inversamente, a lógica vigente caracteriza-se pela incontrolabilidade (VIZEU et al., 2012),
pela mercantilização de todas as dimensões da vida (LANDER, 2016), pela perversidade
sistêmica (SANTOS, 2008) e pelo aumento da sua capacidade de autodestruição (VAN
BELLEN, 2004; KRENAK, 2019).
Convenções, políticas e leis que regem a preservação e a conservação ambiental são
dispositivos que, em alguma medida, limitam, impedem ou protelam o colapso de todo esse
sistema, já que as incertezas que cercam a garantia dos recursos usufruídos atualmente às
gerações futuras conferem um caráter desafiador a toda e qualquer atuação nesse campo,
pelo fato de os resultados e impactos positivos não se consolidarem no tempo de maneira
imediata.
Para a resolução ou a mitigação das complexas problemáticas, a sociedade precisa construir
alternativas que integrem de modo sinérgico as dimensões econômica, ambiental, social,
política, cultural e tecnológica, para ancorar discursos e práticas dos sujeitos individuais
e coletivos dispostos a contribuir para uma transformação positiva e para o equilíbrio do
planeta.
Pelos motivos supracitados, o termo Sustentabilidade passou a ser um dos mais evocados
na contemporaneidade. Amplamente pautada em diferentes espaços políticos, sociais,
organizacionais e em redes interorganizacionais, a sustentabilidade destaca-se pelo seu
caráter polissêmico e pelas diferentes abordagens que materializam visões de mundo,
interesses e contradições dos atores sociais responsáveis pela sua difusão.
Antes restritas à questão ambiental (ELKINGTON, 2012; BARBIERI; CAJAZEIRA,
2009), as discussões e ações com enfoque em sustentabilidade, na medida em que foram se
difundido e sendo apropriadas pelos atores sociais, passaram a integrar progressivamente as
agendas públicas e privadas, aproximando as dimensões econômica e social.
Em contextos organizacionais, principalmente em ambientes corporativos, os discursos com
enfoque em sustentabilidade ganharam força e forma por meio da implantação de áreas,
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Contextualização
O termo Desenvolvimento Sustentável, tal como habitualmente o acessamos, foi cunhado
pela primeira vez na década de 1970 pela Organização das Nações Unidas (ONU),
especificamente em 1972, na Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano, em
Estocolmo, período em que se discutia amplamente a importância da gestão ambiental e do
uso de avaliação ambiental como ferramenta de gestão, e onde o conceito de desenvolvimento
58 Gestão da Sustentabilidade e Gestão de Projetos
sustentável foi também muito contestado, considerado uma frase de efeito que perderia
força, tal como ocorrera com o conceito de tecnologia apropriada, muito difundido nesse
período.
Entretanto, foi nos anos 1980, graças a atores da sociedade civil e a governos atentos ao
excesso de violações dos limites dos recursos naturais impostos pela economia, que o conceito
se tornou ainda mais popular. Em 1987, a partir do Relatório Brundtland (Nosso Futuro
Comum) pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), o conceito
tornou-se um mainstream do campo da sustentabilidade, sendo o norte para a redefinição
de modelos de intervenção nos territórios independentemente da escala (se local ou global).
Todos esses esforços culminam na formulação e implementação da Agenda 21.
No contexto brasileiro, a essência desse conceito foi incluída na Constituição Cidadã,
ao reforçar, no artigo 225, que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações” (BRASIL, 2002). Fruto de pressões institucionais no espaço público,
protagonizadas por movimentos da sociedade civil, governos e empresas, esta perspectiva
ganha relevância no Brasil (BARBIERI et al.,2010), especialmente no âmbito da segunda
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED),
também conhecida como Eco-92, Rio-92, Conferência do Rio ou Cúpula da Terra
(VEIGA; ZATZ, 2008).
Nos anos 2000, os efeitos das mudanças climáticas impulsionam novas agendas no
âmbito da questão ambiental. Esse período é marcado pela instituição dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) e sucessivas tentativas de pactuação de acordos
internacionais para a redução das emissões de CO2.
Entre os anos de 2005 e 2014, a UNESCO decretou a Década da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável, reconhecendo a educação como um importante fundamento
para a sustentabilidade.
Em 2012, na Conferência Rio+20, da qual participaram mais de 190 países, reafirmou-se
o acordo político das nações com o desenvolvimento sustentável e foram definidas metas
para enfrentar os desafios que implicavam o crescimento econômico, o bem-estar social,
a conservação e proteção ambiental. Deste importante evento, por ocasião da Cúpula das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, foram formuladas as diretrizes dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), consolidados em 2015, representando
o resultado de uma negociação intergovernamental com o objetivo de orientar as políticas
nacionais e as atividades de cooperação internacional até o ano de 2030.
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sociais e ambientais, facilitando uma postura hipócrita pelas empresas, ou seja, um modelo
centrado nos resultados econômicos, acrescido de comprometimentos dúbios.
A crítica ao Triple Bottom Line é bastante severa, contudo, Elkington (2012) chama a
atenção para a instabilidade das suas linhas, devido aos fluxos decorrentes de pressões sociais,
políticas, econômicas e ambientais, inerentes aos ciclos e conflitos. O autor ainda alerta
sobre os esforços a serem empreendidos quanto a questões emergentes das entrelinhas,
conforme descrição a seguir: (i) econômica/ambiental: as obrigações ambientais e valor dos
acionistas, a ecoeficiência, a flexibilidade dos preços, economia e contabilidade e a reforma
tributária ecológica; (ii) social/ambiental: observância dos refugiados ambientais, educação e
treinamentos ambientais, justiça ambiental, capacidade de suporte para o turismo e equidade
intergerações; e (iii) econômica/social: destacam-se os impactos sociais de investimentos,
o comércio justo, ética empresarial, direitos humanos e das minorias, envolvimento dos
stakeholders.
É fundamental atentar para o caráter político-ideológico que permeia as formulações
de alguns arcabouços filosóficos e teórico-metodológicos em torno do tema. Por esse
motivo, Vizeu et al. (2012), após analisarem criticamente o conceito de sustentabilidade,
ponderaram sobre o seu caráter ideológico, pois, este pode mascarar ou distorcer a realidade,
principalmente quando os atores que o difundem pretendem fazer das suas ideias a versão
dominante, mas não necessariamente verdadeira, impondo-as como condição central para
estimular a reflexão contínua da realidade.
Nesse contexto, importa problematizar uma contradição sempre presente em algumas
agendas de fomento à sustentabilidade, as quais discutem amplamente o conceito, mas,
numa proporção inversa, implementam poucas ações efetivas, e muito pouco se rediscute
sobre os atuais padrões de consumo por elas sustentados (SANTOS, 2018; LANDER,
2016; BUARQUE, 2008).
ODS 13 Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.
O amplo repertório gerado a partir das diferentes conceituações precisa, porém, ser
conhecido, estudado, aprofundado, criteriosamente selecionado e contextualizado de modo
a servir para as organizações como um norteador de uma execução consciente, bem como
para desencadear itinerários formativos alinhados ao perfil dos atores implicados e as
peculiaridades dos territórios onde as ações pelas quais são responsáveis são implementadas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesta seção, será apresentada a sequência metodológica do estudo, o qual mapeou a
complexidade inerente às relações intermediadas pelos gerentes de projetos no âmbito da
gestão da sustentabilidade.
A pesquisa apontou como fundamental, o alinhamento e integração dos ODS no âmbito
das políticas de sustentabilidade das organizações/empresas, visando a sua materialidade.
Para viabilizá-la, optou-se pela abordagem qualitativa, de caráter exploratório, com uma
amostragem intencional, não probabilística, recorrendo-se, também, à utilização de técnicas
de coleta de base quantitativa, resultando, assim, no conjunto de dados que permitem uma
reflexão em amplitude e profundidade da problemática em questão.
A característica qualitativa da pesquisa residiu na necessidade de mobilização de diferentes
atores com visões singulares sobre gestão de projetos, envolvendo a forma como a
sustentabilidade é trabalhada nas organizações e sua relação com os ODS. Optou-se pela
abordagem qualitativa por esta lidar com um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, os quais não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis
(MINAYO, 1994).
De modo complementar, a opção pela amostragem intencional baseou-se em Yin (2016),
o qual a caracteriza pela seleção de unidades de estudo específicas, dispondo daquelas que
gerem dados relevantes e fartos, considerando o seu tema de estudo.
A pesquisa exploratória, segundo Gonçalves (2014), trata-se de uma investigação que
valoriza a relação do pesquisador com a fonte da coleta dos dados, alcançando maior
familiaridade com o problema, permitindo sua análise sob diversos ângulos e aspectos, pois
envolve levantamento bibliográfico e análise de contextos que estimulem a compreensão de
fenômenos/problemáticas de modo mais amplo.
A coleta de dados deu-se por meio de um questionário digital, via Google Forms. A
sensibilização e mobilização dos sujeitos da pesquisa foi também impulsionada em outras
plataformas digitais, considerando a delimitação do seguinte perfil: profissionais atuantes
como Gerente de Projetos em organizações de pequeno, médio ou grande porte, em áreas
específicas ou programas com enfoque em Sustentabilidade, dos setores público, privado
ou do terceiro setor. Como resultado, foram validados 54 questionários respondidos pelo
público com perfil alinhado ao objeto da pesquisa, realizada no período de agosto a outubro
de 2019.
O questionário foi estruturado em três blocos, conforme descrição nos tópicos a seguir:
y o primeiro, denominado de “Identificação”, com oito questões orientadas à caracterização
das organizações (setor, porte, orçamento, quadro funcional) e mapeamento dos recursos
destinados à área de Sustentabilidade;
y o segundo bloco, denominado “Alinhamento, integração e materialização dos ODS”,
reuniu 14 questões voltadas ao aprofundamento acerca do nível de conhecimento dos ODS
em diferentes âmbitos da organização, bem como a aderência, alinhamento, integração,
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materialização e comunicação dos impactos oriundos da interface dos ODS com a estratégia
de sustentabilidade das Organizações;
y o terceiro bloco, intitulado “Os desafios dos ODS na percepção dos Gerentes de Projetos”,
reuniu oito questões que exploram aspectos referentes à identidade profissional dos
Gerentes de Projetos atuantes na área de sustentabilidade, seus tempos de experiência, suas
credenciais e certificações.
Adicionalmente, as questões permitiram compreender em profundidade como profissionais
dirimem suas demandas de qualificação para tratarem da temática ODS associada à política
de sustentabilidade das organizações. Também identificam quais áreas de conhecimento no
âmbito da gestão de projetos (considerando as 10 preconizadas no PMI) reconhecem como
favoráveis ou não à consolidação dos ODS nas Organizações, como definem estratégicas de
comunicação dos resultados e impactos deste setor para o público externo, e quais os desafios
percebidos a serem superados para implementação da estratégia ODS nas organizações
onde atuam.
Após a coleta, os dados foram tabulados, analisados, criticados e confrontados com a revisão
de literatura específica já apresentada na seção anterior.
organizacional, no exercício das suas funções, como gerentes de projetos. 50% veem sua
função assumindo diferentes denominações: 13% como consultores em gerenciamento de
projetos e 24% admitem que a função que ocupam na área de sustentabilidade melhor
se enquadra como especialista em gerenciamento de projetos, gerente de programas, de
portfólios ou ainda como diretor de projetos.
A maioria dos respondentes (39%) vinha atuando com gerenciamento de projetos por 6 a
15 anos, e 28% por mais de 15 anos. Esse dado demonstra que a maioria dos profissionais,
pelo tempo de atuação, acumula experiência e repertório suficientes, os quais lhes permitem
desenhar e identificar oportunidades e sinergias com os desafios globais e as prioridades
organizacionais na área de sustentabilidade.
Ainda que de 67% dos gerentes que colaboraram na pesquisa tenham afirmado possuir
uma trajetória profissional neste campo de atuação, variando entre 6 e mais de 15 anos,
um percentual relativamente baixo de profissionais, apenas 24%, possuem formação e
certificações específicas.
Esse dado chama a atenção para uma questão relevante sobre o treinamento, fortalecimento
das capacidades institucionais e desenvolvimento das equipes. Em alguns casos, por
afinidade com o tema, o investimento em qualificação é assumido pelo próprio integrante,
não onerando o orçamento das Organizações, e, em alguma medida, beneficiando-a.
Contudo, é urgente e necessário que as Organizações assumam uma postura coerente e
realizem investimentos proporcionais ao tamanho dos desafios que são delegados às equipes
envolvidas na ação de promoção da sustentabilidade.
Ao abordar o quesito certificações do PMI, nota-se que os percentuais decrescem ainda
mais. De 24%, apenas 8% afirmam ter alguma das certificações emitidas por tal instituição.
Chama a atenção que os 4% estão concentrados na PMP, certificação elementar, primeiros
níveis, dentre as ofertadas pelo PMI, e 2% como Profissional de Gerenciamento de
Programas.
Para se qualificarem nos assuntos relacionados aos ODS, os gerentes que participaram
da pesquisa recorrem à participação em eventos (28%), cursos à distância (19%) e 15%
se qualificam por meio de suas redes de relacionamentos, principalmente, as suportadas
por plataformas digitais, assumindo assim uma formação com caráter mais informal.
9% apontaram que as organizações viabilizam reuniões especializadas voltadas ao
desenvolvimento neste campo. Apenas 4% indicaram que cursam programas de pós-
graduação e outros 4% adotam benchmarking para ampliação da rede de relacionamentos,
para maturação das escolhas e tomada de decisões.
Para ABRAPS e Deloitte (2015), a estrutura de governança das organizações ainda requer
integração e envolvimento da alta administração sobre os desafios da área de sustentabilidade,
incluindo a ampliação da interação com o conselho e os principais executivos. Tal estudo
apontou que, na maioria das empresas (65%), não existe um Comitê de Sustentabilidade e
aquelas que possuem tal estrutura precisam avançar no aspecto demonstração dos resultados,
evidenciando as interfaces deste campo com geração de receita, resultados efetivos para a
organização e os benefícios sociais para a sociedade.
fato de não terem sido suficientemente estimulados para tal. Sobre os motivos para adesão,
nota-se que a motivação, principalmente entre as organizações enquadradas no segundo
setor, está ligada diretamente ao fator diferenciação e competitividade.
Para muitos dos respondentes, a adesão dá-se por meio da identificação das premissas
da Agenda 2030 com algumas ações impulsionadas pelas organizações onde atuam. 20%
destacaram que a motivação da adesão é a possibilidade de conexão com o propósito da
organização a uma causa superior; 17%, para agregar à estratégia de sustentabilidade já
em curso sobre a coordenação da organização; outros 13%, para contribuir efetivamente
com melhorias para a sociedade de modo geral; 4% citaram a possibilidade de aumento da
competitividade; e 4%, como uma forma de mitigar eventuais impactos negativos.
Independentemente do nível de organização, tamanho e complexidade de estruturação das
ações, as organizações onde atuam os gerentes de projetos inseridos neste estudo realizam
ações convergentes com os ODS. 39% delas realizam projetos ou programas socioambientais,
acreditando que, através deles, cumprirão suas missões organizacionais, ou para atendimento
de requisitos e obrigações legais. 15% contribuem articulando investidores sociais privados
para direcionarem recursos para iniciativas vinculadas aos ODS. 20% apontaram que essa
contribuição se dá em nível local ao apoiarem diretamente ações nas áreas de influência
direta da sua atuação, ou seja, nos territórios onde estão inseridos. 6% investem diretamente,
ou seja, apoiam financeiramente projetos socioambientais. Em paralelo, 20% afirmam não
possuir qualquer ação específica com esse foco.
No que se refere a comunicação e difusão dos resultados e impactos para a sociedade, as redes
sociais digitais aparecem como o primeiro canal escolhido para efetuar tal demonstração dos
resultados, acumulando 31%, na sequência, o relatório anual, com 28%, e o site institucional,
com 17%. Os 24% restantes estão distribuídos entre a comunicação direta com stakeholders,
imprensa e comunicação oficial nos balanços sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O agravamento de crises ambientais decorrentes das mudanças do clima, o aprofundamento
das desigualdades sociais e a corrosão da democracia são fatores que demonstram que,
embora reúna as condições sociais, econômicas e técnicas como nunca antes registrado na
história da humanidade, fundamentais à obtenção de uma condição sustentável, a sociedade
contemporânea não vem cumprindo os acordos coletivos assumidos em diferentes pactos de
governança, sejam eles em âmbito local ou global, para a realização de ações socioambientais
com potencial para gerar as transformações positivas pretendidas e amplamente difundidas.
Como caracterizam Tenório e Lopes (2011), a sustentabilidade é um conceito dinâmico que
demanda ações concretas para a sua real efetivação, por isso, cabe enfatizar que, na mediação
desse tema, o setor privado já não pode se preocupar exclusivamente em nutrir o paradigma
utilitarista, focado somente nos ganhos financeiros, no lucro. Da mesma forma, não cabe
mais aos governos conceber, formular e implementar políticas públicas apartadas de uma
dimensão mais ampla, numa perspectiva territorial. Já para os cidadãos e cidadãs, salienta-se
a impossibilidade de mudar o mundo estando isolados.
As Organizações contemporâneas precisam compreender que, para tornar viável a execução
de práticas alinhadas ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), é fundamental clareza e firmeza de propósitos, uma vez que a atual conjuntura exige,
cada vez mais, a construção de novas configurações institucionais que gerem benefícios
sustentáveis para as cadeias de valor e para a sociedade em geral, mediante a conexão de
atores sociais em redes de colaboração e de gestão compartilhada.
Munck (2015) ressalta que a sustentabilidade é intertemporal e que o seu alcance somente
é possível no momento presente. Novas narrativas precisam ser fundadas e, para este autor,
“[...] se tornaria possível acessar os atuais sentidos dados ao passado e ao futuro e, assim,
identificar hoje os rumos dados aos contínuos projetos em contínua emergência (MUNCK,
2015, p. 532).
74 Gestão da Sustentabilidade e Gestão de Projetos
Por isso, importa destacar que a sustentabilidade nas organizações não deve ser tratada de
maneira episódica. Do ponto de vista da gestão, deve ser incorporada nas políticas e normas
que atendam a objetivos organizacionais ou governamentais, mas que também estejam
contextualizadas e alinhadas com as reais demandas e necessidades dos públicos impactados.
Institucionalizar as práticas e fortalecer mecanismos de governança participativos torna-
se elementar para consolidar e perpetuar soluções integradas para a resolução de questões
socioambientais complexas, além de criar oportunidades que também reinventem as formas
de fazer acontecer.
Os gerentes, coordenadores e líderes devem compartilhar da compreensão de que
organizações fortes, as quais inspiram confiança e se tornam referência para a sociedade,
devem ser coerentes, demonstrando que os discursos que propagam refletem as atitudes das
suas equipes e as práticas que efetivamente realizam. Ao adotar uma postura que possibilita a
construção proativa do impacto social da sua atuação, fortalecerão as bases do compromisso
socioambiental e, consequentemente, influenciarão na percepção e na sua boa reputação.
Nesse sentido, em alinhamento com as palavras de Vizeu et al. (2012), é preciso que o
conhecimento sobre sustentabilidade se torne emancipado para o indivíduo e para a
coletividade, no âmbito de uma práxis transformadora, na qual a condição humana seja o
fim em si mesma e não os interesses econômicos concentrados nas mãos de poucos.
A superação dos desafios, presentes e futuros, associados à Gestão da Sustentabilidade,
demanda a formação de equipes multidisciplinares, compostas por profissionais sérios,
qualificados e que somam experiência suficiente para executar de forma correta os recursos
disponíveis (respeitando cronogramas e prazos pactuados), mobilizar e engajar a cadeia
de valor para a causa, respeitar os pactos de governança e as legislações vigentes, para que
assim sejam maximizados os impactos sociais positivos das ações e mitigados os resultados
negativos da operação das organizações em diferentes escalas territoriais.
NOTA
1 Submetido à RIGS em: jan. 2020. Aceito para publicação em: set. 2020.
2 Estudo realizado com 2002 entrevistados, de 143 municípios, com pessoas de 16 anos ou mais,
no período de 7 a 11 de abril de 2017, pela Rede Conhecimento Social, o IBOPE Inteligência
e a Conhecimento Social — Estratégia e Gestão, com o objetivo de identificar percepções dos
brasileiros sobre os ODS. A margem de erro é de 2 pontos percentuais sobre o total da amostra.
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