Apostila IOF240
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1 Introdução 1
1.1 Satélites Artificiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Histórico dos Satélites Oceanográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Satélites de Pesquisa e Operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Vantagens do Uso de Satélites Oceanográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 Órbitas e Cobertura Geográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.6 Resolução Espacial e Temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.7 Exercı́cios Teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
4 Radiômetros 32
4.1 Fundamentos Tecnológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.2 Satélites Radiométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2.1 SSMR - Scanning Multichannel Microwave Radiometer . . . . . . . . . . 35
4.2.2 SSMI - Special Sensor Microwave Imager . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.2.3 TRMM - Tropical Rainfall Measuring Mission . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.2.4 Aquarius/SAC-D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.3 Aplicações de Dados de Radiômetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.3.1 Balanço de Calor no Oceano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.3.2 El Niño e La Niña . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.3.3 Estudo de Fenômenos Atmosféricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.4 Efeito Estufa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.5 Exercı́cios Teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.6 Exercı́cios Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6 Sensores de Infravermelho 67
6.1 Fundamentos Tecnológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.1.1 Órbitas Helio sı́ncronas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.1.2 Resolução Espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
6.1.3 Absorção de infravermelho termal na atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . 68
6.2 Satélites com Sensores de Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
6.3 Aplicações de Dados de Infravermelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.3.1 Identificação de Processos dinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.3.2 Otimização de Rotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
6.3.3 Previsão do Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.4 Exercı́cios Teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.5 Exercı́cios Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
7 Escaterômetros 76
7.1 Fundamentos tecnológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
7.2 Obtenção do Vento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
7.3 Descrição dos escaterômetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
7.4 Aplicações dos Dados de Escaterômetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
7.4.1 Vento, Tensão de Cisalhamento e Bombeamento de Ekman . . . . . . . . . 80
7.4.2 Fluxo de massa e calor na camada de Ekman . . . . . . . . . . . . . . . . 81
7.4.3 Ondas de Instabilidade Tropical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7.5 Exercı́cios Teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
7.6 Exercı́cios Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
9 Altı́metros 101
9.1 Fundamentos tecnológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
9.2 Satélites Altimétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
9.3 Correções Aplicadas aos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
9.3.1 Correções geofı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
9.3.2 Correções não geofı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
9.4 Aplicações dos Dados de Altı́metros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
9.4.1 Correntes Geostróficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
9.4.2 Calor Armazenado pelo Oceano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
9.4.3 Ondas de Rossby Oceânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
9.5 Exercı́cios Teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
9.6 Exercı́cios Práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
1 Introdução
por varias embarcações com instrumentos em diversos estágios da vida útil. Caso não haja um
controle de qualidade adequado, realizado com a calibração precisa e a manutenção rotineira dos
equipamento, todos os dados coletados podem ser descartados. Felizmente, em projetos de grande
porte como os supracitados, os erros devidos a esses problemas são minimizados, garantindo a
consistência dos dados.
Em 1955 os Estados Unidos da América (EUA) iniciaram o projeto Vanguard. Este projeto
previa o lançamento do primeiro satélite não-militar destinado apenas a estudos geofı́sicos durante
o IGY em 1958. Mas os Soviéticos lançaram o Sputnik em 1957 e assim começou a corrida
espacial e o advento dos satélites artificiais. Embora o perı́odo da Guerra Fria tenha mobilizado uma
grande quantidade de recursos financeiros para a área militar, houve grandes avanços nos satélites
ambientais.
meiro satélite a possuir o Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR). Este instrumento
permitia ao satélite obter dados de temperatura da Superfı́cie do mar durante o dia e a noite. Por
fim, o Nimbus-7 possuı́a um radiômetro de micro-ondas um sensor de cor a bordo.
(3.2) Tiros-N
(3.1) Seasat (3.3) Nimbus-7
Em 1985 foi lançado o Geosat, o primeiro satélite a possuir um altı́metro com uma precisão de
5 cm. O satélite encerrou suas operações em 1990 após uma falha técnica. Em 1992 foi lançado o
Topex/Poseidon (T/P) o satélite altimétrico que permaneceu em funcionamento até 2006, fornecendo
uma série 14 anos de dados. Os satélites Jason-1 e Jason-2 continuaram a missão do T/P e a série
de dados possui cerca de 20 anos.
Os satélites ambientais lançados ao espaço podem ser classificados em três categorias: pesquisa,
operacional e militar. Satélites de pesquisa estão relacionados com os equipamentos de ultima
geração, construı́dos com a tecnologia mais moderna e com sensores capazes de fornecer dados com
alta resolução. Obviamente toda nova tecnologia traz grandes benefı́cios, mas também corre o risco
de não ser bem sucedida. Um outro problema relacionado aos satélites de pesquisa é a validação
dos dados. Como não há outro satélite do mesmo tipo para validar os dados, todo o processo de
calibração tem de ser realizado com dados coletados in situ.
Por outro lado, os satélites operacionais são aqueles destinados a fornecer sempre o mesmo tipo
de dado, resultando em longas séries temporais. Esse tipo de satélite acaba por gerar uma sequencia
de satélites semelhantes, sendo substituı́do assim que a vida útil do anterior se encerra. Cada
novo satélite não traz nenhuma grande modificação técnica aos instrumentos, pois seu propósito é
continuar o monitoramento do aparelho anterior. Dessa forma, pode-se calibrar todo novo satélite
de uma famı́lia com o seu antecessor, garantindo a consistência dos dados. Os dados desse tipo de
satélite são tratados, verificados e disponibilizados ao público.
4
O uso de satélites artificiais possibilita a obtenção de dados com uma cobertura espacial e tem-
poral sem precedentes. Mas alguns problemas também afetam os dados obtidos por sensoriamento
remoto. O maior deles é os dados coletados serem provenientes apenas da superfı́cie. Qualquer
inferência sobre processos internos é sujeita a severas limitações.
Como a tecnologia envolvida é relativamente recente, as séries temporais são muito mais curtas
que os de dados hidrográficos. Alem disso, problemas técnicos tanto com o veı́culo lançador (o
foguete que coloca o satélite em órbita) como com a espaçonave podem causar interrupções na
coleta contı́nua de dados.
Outro problema é que a atmosfera invariavelmente afeta a coleta de dados oceanográficos.
Dependendo da frequência do instrumento e das condições meteorológicas locais este efeito pode
variar em termos de intensidade e possibilidade de correção.
Uma vez em órbita, a primeira fase do trabalho é a calibração e validação dos dados coletados.
Os dados de satélite, por serem sempre medidas indiretas, são sujeitos a erros e correções de
calibração que dependem da disponibilidade e precisão de medidas in situ.
Portanto, a utilização de dados obtidos por sensores a bordo de satélites tem como principais
vantagens:
5
Vantagens Desvantagens
cobertura geográfica dados restritos à superfı́cie
resolução espacial influência da atmosfera
cobertura temporal problemas técnicos catastróficos
resolução temporal erros de calibração
metodologia consistente
inovação tecnológica
vantagem econômica
Figura 4: Doze horas de dados de intensidade dos ventos coletados pelo sensor SSMI, satélite F14,
passagem noturna
6
As faixas escuras da figura 4 se deve à rotação da Terra. Por este mesmo motivo, tanto as áreas
amostradas quanto as faixas escuras são inclinadas em relação ao eixo de rotação da Terra.
A órbita elı́ptica ocorre quando o satélite
não passa pelos polos e não é paralela ao equa-
dor. Um satélite em órbita elı́ptica segue um
caminho de forma oval. Uma parte da órbita
mais próximo do centro da Terra (perigeu) e
outra parte mais distante (apogeu). Este tipo de
órbita abrange regiões de alta latitude para uma
grande fração de seu perı́odo orbital. A figura
5 ilustra a órbita do satélite T/P.
Em comparação com os dados in situ da fi-
gura 1 nota-se que a cobertura geográfica da
figura 5 é muito superior, e a da figura 4 é ainda
melhor. Adicione-se a isto o fato de que co-
leta via satélites foi efetuada em uma fração Figura 5: Aproximadamente dez dias (9.9156) de
dados de altura da superfı́cie do mar em relação ao
ı́nfima do tempo gasto pelos navios. A obtenção geoide coletados pelo altı́metro a bordo do satélite
metódica e contı́nua de dados é uma das maiores TOPEX/POSEIDON
razões do sucesso da oceanografia por satélites.
A órbita equatorial o satélite possui o na-
dir sobre o equador. Nadir é o ponto na su-
perfı́cie terrestre que está verticalmente abaixo
do satélite (figura 6).
1. Cite 6 vantagens e 3 desvantagens do uso de satélites para a coleta de dados sobre os oceanos.
Seja preciso e conciso.
2. Qual a vantagem do uso de órbita polar e sincronizada com o Sol para satélites oceanográficos?
Os satélites coletam e transmitem os dados para estações de recepção em terra onde estes dados
são depurados. Várias etapas de processamento dos dados são realizadas para a associação entre o
sinal recebido pelo satélite e a variável de interesse geofı́sico.
Raw Um primeiro passo é a transmissão dos dados brutos coletados pelo sensor, intercalados
com informações sobre data, horário, localização geográfica e qualidade dos dados. Essen-
cialmente o satélite precisa contar o que viu, onde, quando e se está bom. Estes dados são
chamados genericamente de dados crus (raw).
Level 0 Os dados crus são recebidos pela estação de recepção, ordenados no tempo e suas informações
redundantes são removidas. Estes dados são armazenados e distribuı́dos como Nı́vel 0.
Level 1A Os dados, ainda sem significado geofı́sico são reconstruı́dos removendo–se os artefatos que
são incluidos para controle do processo de comunicação, gerando–se assim os dados de Nı́vel
1A. Se fizermos uma imagem com estes dados, ela aparecerá distorcida como se tivesse sido
impressa em borracha.
Level 1B Num próximo passo os dados de nı́vel 1A sofrem correções radiométricas e são associados a
coordenadas geográficas (geo-localizados ou georreferenciados), subindo para o Nı́vel 1B.
Neste nı́vel os contornos dos continentes não estão mais distorcidos nas imagens.
9
Level 2 Os dados de nı́vel 1B são processados de modo a transformar os sinais recebidos pelos
sensores em variáveis geofı́sicas, mantendo–se a resolução original. O produto gerado é
promovido a Nı́vel 2 e é de grande utilidade para processos onde é necessária a máxima
resolução espacial e/ou temporal.
Level 3 Estudos baseados na análise de séries temporais de dados precisam, via de regra, de dados
periódicos, regularmente espaçados e cuja qualidade tenha sido consistentemente verificada.
Para isso os dados de nı́vel 2 são checados, interpolados e eventualmente filtrados (suavizados).
O resultado é classificado como Nı́vel 3 e é o mais utilizado pela comunidade cientı́fica em
geral (i.e. sem formação em sensoriamento remoto).
Level 4 Por fim os dados de nı́vel 3 são analisados e combinados com dados de outras fontes, criando–
se um produto de interêsse mais amplo, ao qual é atribuı́do o Nı́vel 4.
Nada na natureza se comporta como um corpo negro, ao contrário do que a lei de Planck assume.
A radiação emitida por uma substância numa determinada temperatura não é a mesma que um
corpo negro emite na mesma temperatura. A temperatura medida pelos sensores passivos (SSMI
e TRMM) é a temperatura de brilho do objeto. A diferença entre a temperatura de brilho e a
temperatura termométrica está na emissividade. Portanto objetos de baixa emissividade, como a
água, parecerão ser mais ”frios”para os sensores do que eles realmente são. Se o objeto fosse um
perfeito corpo negro a temperatura real e a obtida seriam as mesmas.
A maioria das flutuações da temperatura de brilho obtida pelo SSMI são devido a variações
na emissividade e não a variações nas temperaturas termométricas. A emissividade de um objeto
depende de uma variedade de fatores. O conhecimento da emissividade das substâncias e sua
variabilidade nos permite calcular uma variedade de parâmetros. Por exemplo, a emissividade da
água aumenta com a velocidade do vento. Desta forma, um aumento da temperatura de brilho sobre
o oceano pode indicar um aumento na velocidade do vento.
A orientação da radiação de micro-ondas emitida pode também afetar a temperatura de brilho,
isto é, a emissividade é função da polarização. Medidas da polarização pode ser feita usando dois
canais de uma mesma frequência, uma detecta a energia polarizada na vertical enquanto que a
outra a horizontal. Embora a radiação não seja puramente polarizada neste planos, o canal que
mais ajustado para a polarização da onda detectará mais energia. A diferença entre a temperatura
de brilho entre os canais verticais e horizontais fornecerá informações úteis sobre a atmosfera.
Relações empı́ricas são derivadas a partir destas observações.
11
pigmentos que são calculadas através da radiância medida pelo sensor. Sensores como os do CZCS
e SeaWIFS medem a radiância em especı́ficas bandas do espectro visı́vel que são convertidas em
valores de concentração de pigmentos e atenuação da luz. Cores falsas são utilizadas para enfatizar
os intervalos de concentração. Para o CZCS, violeta e azul representam baixa concentração (
abaixo de 1, 5mg.m−3 ), verde e amarelo para valores intermediários, e laranja e vermelho para alta
concentração ( maiores que 30mg.m−3 ). A escala de cores para o SeaWIFS é similar, porém os
algoritmos permitem uma melhor estimativa da concentração de clorofila especificamente, ao invés
de pigmentos.
O pigmento de fitoplâncton é predominantemente constituı́do por clorofila, porém contém
também subprodutos de degradação (phaeopigmets). Adicionalmente, substâncias que absorvem
luz ou partı́culas refletivas na água tendem a influenciar os algoritmos utilizados no cálculo de
concentração de pigmentos, especialmente próximas às regiões costeiras. Sensores mais modernos,
como os SeaWIFS e MODIS utilizam mais bandas espectrais. Isto permite que algoritmos discrimi-
nem melhor a clorofila dos pigmentos de fitoplâncton e outras partı́culas na água. Os algoritmos
também fazem correção para a luz espalhada na atmosfera. Esta correção atmosférica é muito
importante neste processo pois 90% da luz recebida pelo satélite vem da atmosfera e somente 10%
do oceano.
O fluxo de calor latente, QE , e de calor sensı́vel, QH , podem ser diretamente medidos mas
também são mais comumente determinados por formulações empı́ricas conhecidos como o bulk
formulas (LIU; KATSAROS; BUSINGER, 1979). Padrões globais de calor latente e sensı́vel eram
13
• Satélite
– Pathfinder: composto por dados do Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR)
– Reynolds: dados de temperatura obtidos por interpolação objetiva composto por dados
do AVHRR e in situ
14
• In situ e climatológico
• Modelos Numéricos
– NCEP
– NMC
– ERA-Interim
Um aspecto muito instrutivo do uso de dados de altı́metro é que ele nos obriga a considerar
com cautela quais fenômenos são observáveis dada a estratégia de amostragem (PARKE et al., 1998;
SCHLAX; CHELTON, 1994).
O altı́metro passa sobre o mesmo ponto geográfico a cada ciclo. No caso do ERS, a cada 35
dias, do Geosat a cada 17 dias e do TOPEX/Poseidon a cada 10 dias.
A figura 10 ilustra o erro sistemático de amostragem tomando como exemplo ondas de insta-
bilidade tropical (linha contı́nua) com perı́odo de 20 dias amostradas pelo altı́metro a bordo do
ERS. Uma amostra é coletada pelo ERS (cı́rculos) a cada 35 dias. Isto cria uma onda falsa (linha
tracejada) cujo perı́odo é de 140 dias.
A regra básica é que só poderemos estudar os fenômenos cujo perı́odo for significativamente
mais longo que o dobro do intervalo entre as amostras. Este é chamado de intervalo de Nyquist e
estabelece a condição para que a onda seja detectada numa série temporal longa.
Portanto, erros análogos ao da figura 10 podem ocorrer na dimensão espacial em vez da temporal.
Para tal basta que o comprimento da onda seja menor que duas vezes a distância entre as amostras.
A distribuição de dados de escaterômetro forma padrões regulares associados às órbitas indivi-
duais do satélite. Frentes atmosféricas evoluem significativamente entre passagens consecutivas do
satélite. Portanto, a sobreposição de dados pode gerar gradientes espúrios no campo de ventos. Este
problema se agrava nos campos derivados, como os obtidos via equação 38.
Há basicamente duas maneiras de se resolver este problema, uma é através da interpolação de
mapas incompletos, como os da figura 11.1, outra é a incorporação de mais dados em um único
mapa, como mostra a figura 11.2. Artigos sobre técnicas de interpolação de dados de escaterômetro,
a maioria dos quais estão descritos em:
http://www.coaps.fsu.edu/scatterometry/Nscat/gridded_docs.shtml
O equilı́brio fundamental destes processos de interpolação é entre a eliminação dos padrões de
amostragem e a obtenção de um campo representativo da variabilidade espacial. Em outras palavras,
o acréscimo de dados tende a eliminar os padrões de amostragem, mas também algumas feições
interessantes. O melhor algoritmo de interpolação depende essencialmente de quais as escalas de
variabilidade que são relevantes para o trabalho em questão.
(11.1) Padrão tı́pico dos ventos coletados (11.2) Padrão tı́pico dos ventos coletados
pelo NSCAT em um dia pelo NSCAT em dois dias
16
1. Suponha que você vai participar de um projeto cujo objetivo é validar as medidas diárias de
temperatura da superfı́cie numa área de 4 km2 em torno uma plataforma de petróleo a 20 km
da costa. Dados de que tipo de sensor você recomenda e por que? Estão disponı́veis dados
nos nı́veis de processamento 1, 2 e 3, qual você recomenda e por que?
2. A interpolação de mapas de vento obtidos por satélites pelos algoritmos tradicionais frequen-
temente resulta em gradientes espúrios, causados presença de bandas e degraus que não tem
sentido fı́sico. Explique porque isto acontece.
3. As agências distribuidoras livram–se de parte das nuvens das imagens de sensores orbitais
infra– vermelho (e.g. AVHRR) comumente fazendo composites. Estes tais composites são
imagens onde cada pixel é obtido do valor máximo da temperatura naquele local durante o
perı́odo de sete dias. Explique:
4. Suponha que foi construı́do novo um sensor para a coleta dados de pH dos oceanos, cuja
escala vai de 7.5 a 8.5. Se a precisão do sensor é de 1 × 10−3 unidades de pH, qual a resolução
radiométrica (em bits) necessária para armazenar estes dados sem perda de informação.
17
c=λf (1)
2h f 3 1
P( f , T ) = 2
' α f 2 T, (2)
c exp( f ) − 1
h
kT
onde:
• f é a frequência em Hz
• T é a temperatura em K
O esterradiano (sı́mbolo: sr) é a unidade SI de ângulo sólido. É usado para descrever arcos
bidimensionais no espaço tridimensional (figura 13), análogas às da forma em que o radiano
descreve ângulos num plano.
O esterradiano, como o radiano, é adimen-
sional porque 1sr = m2 · m−2 = 1. É útil, no
entanto, distinguir entre quantidades adimensi-
onais de diferentes naturezas, assim, na prática,
o sı́mbolo ”sr”é usado quando necessário, ao
invés da unidade derivada ”1”ou nenhuma uni-
dade em tudo.
A simplificação que utiliza a constante α = Figura 13: Ilustração de um esterradiano
3.07×10−40 (W m−2 Hz−3 K −1 ) aplica-se quando f kT /h. Note que para diferentes temperaturas,
o pico da potência ocorre em diferentes frequências e as curvas não se interceptam. Portanto, a
utilização simultânea de duas ou mais bandas espectrais permite, em princı́pio, a determinação da
temperatura do emissor. Este principio é conhecido como a Lei de deslocamento de Wien, dada pela
seguinte condição:
∂Pf b
= 0 −→ λMAX = , (3)
∂T T
19
W
Z ∞ Z
= P( f , T )d f dΩ (4)
A 0
E = σT 4 (5)
onde é possı́vel saber a energia irradiada pelo corpo a partir de sua temperatura. A equação 5
permite inferir a temperatura de um objeto que emita a radiação de corpo negro.
A Terra pode, dentro de uma teoria simplificada, ser considerada como um corpo negro que emite
a máxima radiação para uma dada temperatura. A relação entre potência irradiada e temperatura é
20
dada pela relação de Stefan-Boltzmann (equação 5), onde σ = 5.67 × 10−8W m−2 K −4 . Portanto
quanto mais quente um objeto, maior a potência irradiada.
A potência é irradiada em várias frequências em todas as direções e depende da frequência
considerada, de acordo com a equação de Planck (equação 2). Note que para diferentes temperaturas,
o pico da potência ocorre em diferentes frequências e as curvas não se interceptam. Portanto, a
utilização simultânea de duas ou mais bandas espectrais permite, em princı́pio, a determinação da
temperatura do emissor.
A radiação proveniente da superfı́cie tem de atravessar toda a atmosfera terrestre até chegar
ao sensor do satélite. Durante este percurso, a radiação pode sofrer influência da atmosfera,
comprometendo o uso dos dados.
Tando no caso de sensores ativos quanto no caso de sensores ativos, a radiação pode sofrer dois
tipos de interações com a atmosfera: espalhamento e absorção.
Quando a radiação atinge uma superfı́cie, podem ocorrer três tipos de interação entre elas:
especular, difusa e lambertiana.
A reflexão especular ocorre quando o ângulo
de exitância é igual ao de incidência. Na re-
Figura 16: Espalhamento especular e difuso
flexão difusa a radiação é refletida em várias direções e na reflexão Lambertiana a radiação é
refletida igualmente em todas as direções.
22
Ao mudar de meio a radiação eletromagnética sofre refração. Isto ocorre quando a radiação
passa da atmosfera para o vácuo ou quando a radiação deixa a superfı́cie oceânica e atinge a
atmosfera. Segundo a Lei da refração de Snell, a velocidade de uma onda EM no vácuo (c) é
diferente da velocidade em um meio (cn ). Isto provoca uma mudança na direção de propagação da
onda (figura 17).
onde θ1 e θ2 são os ângulos de incidência e refração, respectivamente, com relação à normal local.
n1 e n2 são os ı́ndices de refração dos meios 1 e 2. Este ı́ndice é a razão entre a velocidade da luz no
meio (cn ) e no vácuo (c).
c
nn = (7)
cn
A radiação que é emitida pelos átomos das moléculas deveria ser emitida numa frequência
definida pelo estado de excitação do átomo. Mas vários fatores influenciam este estado e esta
frequência acaba por não ficar bem definida. Alguns destes fatores são:
• Efeito probabilı́stico: devido a imprecisões nas medidas da frequência. Erros devidos aos
instrumentos
• Pressão: as colisões moleculares acabam por alterar a trajetória da molécula de gás e alterar
sua frequência
• Vibração molecular: o núcleo dos átomos é muito mais pesado do que a eletrosfera. Durante
a vibração, núcleo e eletrosfera vibram de maneiras diferentes, provocando alterações na
frequência de emissão.
Absorção de Radiação EM
Considere um cilindro uniforme de compri-
mento z onde entra uma radiância Li e sai Lo
(figura 18). O coeficiente de absorção κ(m−1 )
é dado por:
1 dLλ
κ= (8)
Lλ dz
Lo
ln Li
κ= (9)
z
dL = −κ(z)L(z)dz (10)
num comprimento dz. Neste mesmo dz o gás emite radiação pois não está a 0K. E pela lei de
Kirchoff, a emissividade é igual a absortância num corpo negro, portanto
Z H
−τ0
L = L(0)e + LB κe−τH dz (12)
0
RH RH
onde τ0 = 0 κdz e τH = z κdz; τ é a profundidade óptica da camada. Temos
• τ = 0 ; atmosfera transparente.
• τ ; atmosfera opaca.
• τ = 1 ; atmosfera translúcida.
que τ tende à zero. Portanto a temperatura de brilho é aquela que inclui o efeito da radiação
atmosférica.
Janelas Atmosféricas
A combinação dos espectros de absorção
da atmosfera torna a atmosfera opaca a alguns
comprimentos de onda e transparente a outros.
A figura 19 ilustra a absorção de radiação pelo
N2 O, CH4 , O2 , O3 , CO2 e H2 O em diferente
faixas espectrais.
A diferença entre a absorção na banda do
visı́vel (do Sol) e do infravermelho (da Terra)
Figura 19: Absorção de radiação na atmosfera
cria o efeito estufa.
A teoria do espalhamento simples (Mie) pode ser aplicada se a profundidade óptica τ < 0, 1. A
atenuação ou extinção pode ser quantificada através da seção reta de atenuação:
ΦE
σE = πa2 (15)
Φ
σE = σA + σS (16)
O fator que determina qual tipo de espalhamento ocorre é a relação entre o tamanho (raio) da
partı́cula a e o comprimento de onda λ.
26
Figura 20: O espalhamento depende da relação entre o raio médio r das partı́culas e λ
Tipos de Radar
27
Os radares são classificados de acordo com sua função especı́fica. Dependendo da informação
desejada, unidades de radar devem ter diferentes qualidades e tecnologia. Essas diferentes qualidades
e técnicas de radar são classificados como:
• Radar Primário
Um radar primário transmite sinais de alta frequência que são refletidos pelo alvo. Os ecos
produzidos são recebidos e avaliados. Isto significa, diferentemente de unidades de radar
secundário, uma unidade de radar primário recebe seus próprios sinais emitidos como um
eco.
• Radar Secundário
Os radares de interesse para o sensoriamento remoto são os radares primários. Estes são
classificados em:
• Radar de Pulso
Radar de pulso é uma unidade primária de radar que transmite um sinal de alta frequência
na forma de pulsos de alta energia. Depois da emissão do sinal, há um longo intervalo de
tempo antes de emitir novamente para que o eco seja recebido (figura 22). Direção, distância
e a altitude do alvo podem ser determinados a partir da posição da antena e do tempo de
propagação do sinal-pulso.
28
Os primeiros tipos de radar de pulso fabricados são conhecidos como radar convencional.
É um sistema de radar que não seja Doppler e usa um processamento menos eficiente na
eliminação de clutter(interferências no sinal causados pela topografia). Este tipo de radar não
é mais fabricado.
A evolução dos radares convencionais deu origem aos radares Doppler. Este equipamento
mede a mudança na frequência do sinal de retorno para determinar se alvos estão se movendo
em direção ao radar ou se afastando. Objetos que se movem tangencialmente ao radar não
apresentam variação na frequência e não geram retorno ao radar Doppler. Radares coerentes
fornecem a detecção da diferença de fase entre o sinal emitido e recebido pelo sistema.
Radares não-coerentes não possuem essa tecnologia.
Os radares Doppler polarimétricos são radares Doppler com uma função adicional de trans-
missão e processamento permitindo posteriormente computar a informação da direção da
energia eletromagnética refletida.
As unidades de radar de ondas contı́nuas (OC) emitem um sinal contı́nuo que é recebido
e processado permanentemente. Neste tipo de radar, o receptor não precisa estar junto ao
transmissor. Existem dois tipos de radares de ondas contı́nuas.
Parâmetros do Radar
Um sistema de radar é definido por alguns parâmetros utilizados em sua engenharia de
construção e configurações técnicas.
• Potência de Pico (Pt ): máxima potência de pico do pulso. Tem unidade de Watts.
• Comprimento de onda (λ): Comprimento da onda de rádio transmitida pelo radar. Sendo que
os pulsos viajam a velocidade da luz (c), tem-se
c
λ= (17)
f
• Área da antena (A): Área de abertura da antena. Para uma dada largura de feixe, a área da
antena aumenta com o comprimento de onda. Um radar operando com comprimento de onda
de 10 cm terá uma antena maior do que um operando com um comprimento de onda de 3 cm.
• Ganho da antena (G): Razão da distância do feixe (L) pela radiância isotrópica (L0 ). É função
do comprimento de onda e da área da antena. Uma aproximação é dada por
4πAe
G≈ (18)
λ2
30
2. A lei de deslocamento de Wien relaciona duas variáveis fı́sicas. Faça um gráfico relacionando
estas variáveis e explique como se aplica esta lei na obtenção da TSM.
3. A lei de deslocamento de Wien foi ilustrada em aula com um gráfico que tem o brilho espectral
em W m−2 Sr−1 Hz−1 no eixo vertical em função de que outra variável? O gráfico mostrava
várias curvas, cujo deslocamento dos picos dá nome à referida lei. A que variável se referia
cada uma das curvas?
4. A lei de Stefan-Boltzmann nos diz que M = σT 4 onde M é a potência emitida por unidade de
área de um emissor à temperatura T e σ = 5.7 × 10−8 mW 4 . Sabendo que o Sol está a 6000K,
que o diâmetro do Sol é 1.4 × 106 km, que a distância Terra–Sol é de 150 × 106 km e que o
Raio da Terra é de 6.4 × 103 km, estime quanta energia solar chega no topo da atmosfera por
unidade de área.
6. Sabendo que a potência que atinge o topo da atmosfera é S0 = 342W m−2 , que o albedo da
Terra é α = 0.3 e que a constante de Stefan-Boltzmann é σ = 5, 67 × 10−8W m2 K −4 , utilize
a relação de Stefan-Boltzmann para estimar a temperatura média da Terra. Explique porque o
valor é diferente de nossa experiência diária.
8. Brilho (B) e radiância (L = −B) fazem parte do vocabulário básico de sensoriamento remoto,
onde:
dΦ
B=
dAdΩ cos θ
31
Quais as unidades e qual o significado fı́sico de Φ, A, Ω e θ? Use esta fórmula para explicar
o conceito de resolução espacial.
9. Que tipo de espalhamento ocorre quando o diâmetro efetivo a da partı́cula é muito menor
que o comprimento de onda λ, ou seja, a < 0.1λ? Dê um exemplo concreto de onde este
fenômeno ocorre na atmosfera e justifique a sua resposta.
11. Suponha que z = 0 é altura da superfı́cie do mar e que z = zs é a altura do sensor. Sejam τ a
profundidade óptica da atmosfera, L(z) a radiância e LB a radiância de um corpo negro. No
caso da atmosfera isotérmica e homogênea podemos dizer que:
13. Na região da Serra do Mar abundam as placas de “Sob neblina use luz baixa”. Explique o
porquê destas recomendações tendo em vista os conceitos discutidos durante o curso.
14. Que tipo de espalhamento ocorre quando a luz visı́vel atravessa a alta atmosfera? Que tipo de
espalhamento ocorre quando ondas de RADAR de 13 GHz atravessam as nuvens espessas?
15. A emissividade da superfı́cie do oceano é 0.98. Explique o que significa isso utilizando o
conceito de temperatura de brilho.
32
4 Radiômetros
Da relação de fase φ entre a oscilação nos dois planos, podemos classificar a onda EM quanto à
polarização: linear, circular e elı́ptica (figura 4.1).
33
A grande vantagem de sensores radiométricos (SSMI e TRMM) é que eles são capazes de
medir a temperatura da superfı́cie do mar (TSM) em qualquer situação de cobertura de nuvens. As
estimativas de fluxos de calor nos oceanos são ainda em sua grande parte baseadas em medidas in
situ.
Medidas de variáveis como temperatura
da superfı́cie, do ar, umidade do ar, vento
são utilizadas juntamente com parametrizações
empı́ricas para se calcular cada uma das com-
ponentes do calor. Atualmente podemos contar
com uma combinação de vários satélites utiliza-
dos conjuntamente para estimarmos os fluxo de Figura 24: Comparação da TSM obtida pelo TMI
e de boias oceanográficas no Pacı́fico Central
calor oceânico.
A grande desvantagem é a resolução espacial, 0.25◦ . Nos sensores de infravermelho como os da
série AVHRR a resolução chega a menos de 1 km. Dados in situ foram utilizados na validação das
temperaturas medidas pelo satélite (figura ??, 26 e 1010.1).
34
Figura 26: Padrão tı́pico da temperatura da superfı́cie do mar após uma passagem descendente. São
gerados 2 mapas diários do TR MM separados por 12 horas
Diversos satélites possuindo radiômetros foram lançados ao espaço nas últimas décadas. A
cada nova geração de instrumentos observa-se avanços na aquisição de dados, mas o princı́pio de
funcionamento permanece o mesmo.
35
nográficos e atmosféricos crı́ticos em uma escala global. Sensores radiométricos passivos como
o SSMI, recebem radiação que é emitida naturalmente da superfı́cie e da atmosfera. Existem 3
mecanismos básicos pela qual a atmosfera e a superfı́cie interagem com a radiação de micro-ondas:
emissão/absorção, reflexão (ou espalhamento) e transmissão. A maneira pela qual uma determinada
partı́cula ou molécula irá interagir com a radiação incidente depende da sua própria natureza e do
comprimento de onda da radiação. A superfı́cie da Terra e a atmosfera emitem e absorvem radiação
de micro-ondas em certas frequências. Dependendo da frequência, o vapor d’água, oxigênio, e água
condensada na atmosfera afetam esta radiação.
O primeiro SSMI foi lançado em 1987 como parte do programa de defesa americano (Defense
36
Meteorological Satellite program - DMSP). Desde então sempre há um satélite SSMI orbitando
a Terra. Os SSMIs estão abordo de satélites com órbita polar sincronizada com o Sol com uma
inclinação média de 101◦ . Esta inclinação permite ao satélite um perı́odo aproximado de 101
minutos. Isto implica que o satélite coleta dados sobre o mesmo ponto 2 vezes ao dia com 12 horas
de diferença.
Figura 30: Região amostrada pelo satélite TRMM meira vez foi possı́vel estimar uma climatologia
em escala global de precipitação, usando os da-
37
4.2.4 Aquarius/SAC-D
Salinidade
Aumenta Diminui
evaporação precipitação
formação de gelo marinho derretimento de geleiras e icebergs
Água proveniente de rios
εS (S, T ) − ε∞ iC(S, T )
ε = ε0 + − . (20)
1 + i2π f τ(S, T ) 2π f ε0
39
O satélite possui órbita sincronizada com o sol a 657 km da superfı́cie. Produz uma cobertura
global dos oceanos a cada 7 dias, produzindo mapas com resolução espacial de 150 km.
Figura 36: Mapa de salinidade produzido pelo sensor Aquarius no mês de maio de 2011
Ondas oceânicas causam interferências nas medidas de salinidade. O SAC-D leva um esca-
terômetro para medir e corrigir os efeitos causados pelas ondas.
A Tabela 4 resume algumas caracterı́sticas dos principais radiômetros discutidos nesta seção.
40
Os dados provenientes de sensores radiométricos podem ser utilizados para se conhecer fluxos
de calor e outras variáveis fı́sicas.
Os processos dinâmicos observados nos oceanos ocorrem em várias escalas espaciais que
incluem desde movimentos comparáveis à dimensão das bacias oceânicas até poucos milı́metros.
Apesar do conhecimento pleno dos mecanismos que controlam estes processos ainda estarem
muito aquém de serem totalmente dominados, sabemos qual a fonte de energia que mobiliza toda a
circulação oceânica: o Sol.
A radiação solar que atinge o topo da atmosfera passa por processos de reflexão e absorção até
atingir a superfı́cie do planeta (figura 37). Um terço da energia solar é refletida pela atmosfera de
volta ao espaço e aproximadamente 20% é absorvida pela atmosfera. Quase a metade da radiação
solar que chega é absorvida pela superfı́cie, sendo em sua grande parte armazenada em forma de
calor pelos oceanos. Isto ocorre devido a capacidade térmica da água ser muito maior do que a do ar
ou do solo. Desta forma, o calor armazenado nos oceanos funciona como um moderador climático
do planeta onde o calor armazenado durante o verão é liberado para a atmosfera durante o inverno.
41
Figura 37: Balanço de calor entre a superfı́cie e a atmosfera (valores globais médios)
∂HS
QT = QS + QB + QH + QE + QV + QG + , onde: (21)
∂t
• ∂HS
∂t = anomalia do calor armazenado (0 W.m−2 )
42
Nesta formulação assume-se que o sistema está em equilı́brio térmico, ou seja, o calor que
se perde é igual ao que se ganha. Em caso de aquecimento ou esfriamento global, QT não seria
zero. Entretanto, dentro das nossas habilidades atuais de medi-lo, QT = 0W.m−2 . Os termos
do lado direito da equação 21 são razoavelmente determinados para uma média global; o sinal
positivo representa ganho de calor e o sinal negativo a perda de calor. A média global do fluxo de
calor advectado deve ser nulo pois o oceano não pode criar calor por advecção. Entretanto pode
existir transferência de calor entre bacias oceânicas. O termo do calor geotérmico é considerado
desprezı́vel em relação aos outros termos mas pode ter um impacto importante na circulação do
fundo dos oceanos onde o fluxo de calor da superfı́cie é pequeno. A anomalia do calor armazenado
representa a ganho de calor oceânico durante os meses de verão e sua liberação durante o inverno.
A média global e de longo-termo esta componente pode ser considerada nula desde que não seja
detectada variações na temperatura dos oceanos. A seguir descrevemos detalhadamente os termos
individuais da equação do balanço de calor.
Figura 38: Média mensal do fluxo de calor sensı́vel obtido pelo satélite TRMM
Na média global, o oceano perde calor para a atmosfera. A estimativa de calor sensı́vel depende
de um número muito grande de parametrizações, sendo influenciado primariamente pela diferença
entre a temperatura da superfı́cie do mar e do ar, e a velocidade do vento. Estas fórmulas são
conhecidas como Bulk formulas e a equação 22 é utilizada para o calculo do fluxo de calor sensı́vel.
44
• Ta : temperatura do ar
Ventos fortes e grandes diferenças de temperatura geram em altos fluxos de calor sensı́vel. A
variação deste fluxo fica compreendida entre 42W m−2 < QH < 2W m−2 .
Figura 39: Média mensal do fluxo de calor latente obtido pelo satélite TRMM
45
• ρ: densidade do ar
• u: vento em m.s−1
Ventos fortes e ar seco propiciam muito mais a evaporação da água do que ventos fracos
combinados com umidade relativa próxima de 100%. Em regiões polares, a evaporação nos oceanos
cobertos por gelo é muito menor do que em oceanos abertos. No Ártico, grande parte do calor
perdido pelos oceanos é nas regiões com menor cobertura de gelo. Isto implica que a porcentagem
de regiões sem gelo é muito importante para o balanço de calor em altas latitudes.
O balanço de calor para outras bacias oceânicas é similar ao do Pacı́fico. O lado oeste do
Atlântico Norte apresenta um fluxo resultante ainda maior que o do Pacı́fico por causa da Corrente
do Golfo que transporta um volume maior de águas mais quentes quando comparadas com a
Corrente de Kuroshio. No Hemisfério Sul a distribuição do balanço de calor é qualitativamente
similar ao hemisfério norte, porém os fluxos são reduzidos devido à continentalidade. No Hemisfério
Sul a porção dos oceanos é maior do que a dos continentes. Isso faz com que no HS não ocorra
fenômenos semelhantes às frentes frias polares como as da Sibéria e Ártico canadense que sopram
sobre os oceanos Pacı́fico e Atlântico. Não obstante, ainda se verifica regiões de elevadas trocas de
calor no lado oeste do Atlântico Sul sobre o Brasil e a Argentina, e na África do Sul do lado leste
do Oceano Índico.
A soma dos quatro primeiros termos do lado direito da equação 21 representa o balanço de calor
através da interface oceano-atmosfera (Qsur f ).
Qsur f = QS + QB + QH + QE (24)
Como mencionado anteriormente, numa média global os oceanos não geram calor por advecção.
Porém, a não ser pelas barreiras impostas por contornos fı́sicos, nada impede que o calor seja
advectado dentro de uma mesma bacia ou entre bacias oceânicas. De fato, isto é o que realmente
ocorre. Consideremos que os oceanos estão em perfeito balanço térmico, ou seja, que QT na
equação 21 seja zero considerando para tanto que a temperatura dos oceanos não variem em um
perı́odo de longo prazo, e o termo de calor geotérmico seja desprezı́vel. Reescrevemos esta equação
então como:
47
Qsur f + QV = 0. (25)
Como Qsur f representa o fluxo de calor pela superfı́cie e QV o fluxo de calor pelo interior dos
oceanos, podemos integrar esta equação para obter uma estimativa do fluxo de calor advectado.
Z λ1 Z φ1 Z λ1 Z 0
Qsur f dλdφ = − QV dλdz. (26)
λ0 φ0 λ0 −H
onde λ é a latitude, φ a longitude e z a profundidade. Esta equação dita que a perda lı́quida de calor
através da interface do oceano em alguma região implica em um equivalente ganho lı́quido de calor
por advecção através do interior do oceano. Desta forma, mantém-se o equilı́brio térmico da região.
Não deve-se esquecer que todo fluxo de calor deve ser estimado para um sistema conservativo,
ou seja, o fluxo de massa que entra no sistema deve equilibrar o que sai. Na prática isto significa
que as bordas laterais e de fundo devem ser fechadas. QV pode ser estimado através de uma seção
hidrográfica que feche a bacia de leste a oeste e da superfı́cie até o fundo.
Figura 43: Seções horizontal e vertical de chuva observado pelo satélite TRMM em 02/08/2000
A temperatura da Terra não é zero absoluto; o planeta irradia energia na faixa do infravermelho
do espectro. Isto acarreta numa perda de energia de aproximadamente 66 W.m−2 sobre os oceanos.
Este valor não varia muito latitudinalmente. Esta estimativa de energia é feita através da relação
de Stefan-Boltzmann, em que a energia emitida por um corpo é proporcional à quarta potência
50
S
T = ( )1/4 = 254K = −19◦C (27)
σ
Esta temperatura é certamente muito baixa comparada com as médias globais de temperatura
de superfı́cie observada que é de aproximadamente 10◦ C. Portanto, a cobertura das nuvens deve
ter uma função importante na radiação refletida. Como o auxı́lio de um modelo simplificado de
atmosfera podemos examinar o processo de absorção de calor.
QS é a energia solar incidente. A atmosfera absorve ε e irradia B como radiação de corpo negro
de volta para o espaço. Então temos que QB = (1 − ε)Q0B . Na superfı́cie do mar temos que:
2QS = (ε − 2)Q0B
ε
Q0B = QS (1 − )−1
2
Para ε = 0, ou seja para o caso sem atmosfera, temos que Q0B = QS . Para ε = 1, ou seja a
superfı́cie é um perfeito absorvedor, temos que Q0B = 2QS . Isto significa que a energia efetiva
irradiada dobra. Utilizando-se a relação de Stefan-Boltzmann, Q0B = σT 4 , a temperatura aumentaria
em 19% (calculado em K). Realisticamente, a nossa atmosfera funciona como ε = 0.7.
3. Imagine uma “Corrente X” cujo fluxo possui vários vórtices cuja dimensão espacial dominante
é da ordem de 100 km. Esses vórtices são advectados pela corrente a 0.5ms−1 . O radiômetro
de micro-ondas a bordo do também hipotético satélite IOUSP-05 produz um mapa global de
temperatura com resolução espacial de 5 km a cada 5 dias. É possı́vel acompanhar a trajetória
de vórtices individuais com este instrumento? Responda sim ou não e explique a sua resposta.
5. Explique três fatores que dificultam o cálculo do transporte meridional de calor nos oceanos
pelo método direto (i.e. por medidas in–situ: navios e boias)?
52
6. Considere que o radar que medirá a salinidade do oceano o fará com uma precisão de 0.03
psu. O intervalo de salinidades em que o sensor funciona bem é de 22 a 45 psu. De quantos
bits deve ser a resolução radiométrica para que não haja perda de informação ?
Figura 45
Siga o roteiro abaixo para produzir uma imagem. Uma vez que tenha-se entendido o processo,
faça com que ele fique progressivamente mais automatizado, mais independente de variáveis
externas aos arquivos.
(a) Para começar a entender os dados do TMI, leia atentamente o conteúdo de:
http://www.ssmi.com/tmi/tmi_description.html.
(d) Comente os dois programas linha por linha de modo a facilitar o entendimento de um
futuro usuário do programa.
(e) Identifique no programa onde está ocorrendo a leitura dos dados binários. Demonstre
que o tamanho dos arquivos de dados correspondem exatamente ao número de bytes
reportado pelo sistema operacional via ls -l. Certifique–se que você entendeu o
conceito, as vantagens e as desvantagens de se utilizar arquivos binários.
(f) Uma vez que você consegue ler e plotar todas as variáveis em mapas diários (i.e.
com latitude e longitude), selecione os dados na área de estudo e salve-os. Mantenha
separados os dados interpolados e os não-interpolados.
(g) Calcule a média e o desvio padrão da precipitação mensal, sazonal e anual para os dois
conjuntos de dados.
(h) Plote (usando subplot()) a média mensal e a média mensal menos a média anual, a
média sazonal e a média sazonal menos a média anual para os dois conjuntos de dados.
54
(i) Interprete estes resultados. Onde choveu mais? Quando choveu mais? Onde a chuva é
forte, porém variável? Você conseguiria avaliar com que frequência chove em determi-
nada localidade com base nas suas análises?
Os instrumentos orbitais elaborados para medir a cor do oceano representam o melhor método
para se estimar a produtividade oceânica em escala global. Os dados de satélite de cor do oceano
fornecem informações sobre a abundância de fitoplâncton e concentração de matéria dissolvida.
Estas informações podem ser utilizadas para investigar produtividade biológica nos oceanos, propri-
edades ópticas do mar, interação do vento e correntes com a biologia no oceano, como as atividades
do homem e as mudanças climáticas globais influenciam o ambiente marinho.
O satélite tem a capacidade de detectar a cor do oceano em larga escala espacial. Esta medida
representa a distribuição da concentração da clorofila gerada pelo fitoplâncton na superfı́cie do
mar. Esta observação por satélite nos permite inferir a respeito da distribuição sazonal da radiação
solar, dos nutrientes, processos dinâmicos como a ressurgência e mistura da camada superficial dos
oceanos. A cor do oceano apresenta variabilidade significante em pequenas escalas (0,5 a 10 km)
e meso-escalas (10 a 200 km). Estas escalas espaciais de variabilidade biológica no oceano estão
fortemente relacionadas com a dinâmica da circulação oceânica.
Sensores de cor do oceano captam a radiação eletromagnética na faixa espectral visı́vel. Além
de ser uma aplicação intuitiva para os seres humanos, há a vantagem de se poder obter informações
tanto da superfı́cie até algumas dezenas de metros de profundidade.
em 1986.
A agência espacial japonesa (JAXA) lançou o Ocean Color Temperature and Scanner (OCTS)
a bordo do Satélite ADEOS (Advanced Earth Observing Satellite) em 1996. Dados de clorofila e de
temperatura da superfı́cie do mar foram obtidos em alta e baixa resolução. O OCTS conseguia fazer
a cobertura global em 3 dias, fornecendo assim informações sobre fenômenos de alta frequência
nos oceanos. O satélite ADEOS parou de funcionar em 30 de Junho de 1997. Em 2002 foi lançado
o sensor GLI (Global Imager) a bordo do satélite ADEOS II. Um mau funcionamento dos painéis
solares fez com que a missão fosse encerrada menos de 1 ano após o lançamento do satélite.
A NASA lançou o sensor SeaWIFS (Sea-
viewing Wide Field-of-view Sensor) a bordo
satélite SeaStar (figura 47) em 1997. Os da-
dos do SeaWiFS são utilizados para melhorar as
medidas da magnitude e variabilidade da cloro-
fila associados à produção primária dos oceanos.
Estes dados mostram a distribuição e ajudam
na previsão do surgimento dos spring blooms,
ou seja, o rápido aumento da população de fi- Figura 47: Satélite SeaStar
toplâncton estimulado pelo aumento de luz disponı́vel e maiores concentrações de nutrientes que
são caracterı́sticos na primavera.
As imagens da cor do mar permite-nos identificar feições oceânicas que auxiliam no estudo das
correlações entre biologia e dinâmica de circulação. Um exemplo disto pode ser visto no transporte
de partı́culas através das grandes correntes oceânicas.
Figura 53: Mapas de pigmento do CZCS para a região da Corrente do Golfo (esquerda) e Corrente
de Kuroshio (direita) no Japão
2. Do ponto de vista de sensoriamento remoto da clorofila existem águas do tipo I e do tipo II.
A que região do oceano elas correspondem? Quais são as substâncias que afetam a cor das
águas em cada caso?
Vamos selecionar parâmetros nos boxes ao alto à esquerda. Suponha que queremos:
ii. diurnas,
63
(b) As datas serão selecionadas automaticamente neste exercı́cio, portanto neste caso parti-
cular não é preciso checar nada.
(c) A escolha de área será feita manualmente nas caixinhas NSWE à direita: entre com
N:-15, W:-50, E:-30 e S:-30.
(e) Em alguns segundos aparece uma tabela com as imagens selecionadas, que podem ou
não ter um thumbnail.
(f) Escolha a S2003053144913.L2_LAC clicando no nome. Aparece uma nova tela com
um thumbnail mostrando uma imagem não muito nublada e alguns detalhes sobre a
imagem. Note que o nome da imagem agora é S2003053144913.L1A_LAC. Não há
imagem nı́vel 2 pronta, vamos ter que apelar para o bom e velho “faça você mesmo”.
Baixe a imagem clicando no nome dela.
(j) Na nova janela (Product Selection for SeaWiFS File) clique em Select all e Load.
Portanto, lendo esta tela depreende–se que vamos selecionar do arquivo HDF chamado
S2003053144913.L1A_LAC de 1 em 1 pixel os dados de 8 bandas espectrais. São
portanto 8 matrizes de 1285 por 342 pontos.
(k) Na nova janela (Band List Selection) temos lá as 8 bandas e algumas informações
adicionais. Note que a unidade é radiance counts, um número inteiro, que por exemplo
para a banda 1 de 412 nm assume valores de 51 a 967.
64
(l) Uma primeira visualização pode ser a imagem de falsa cor. para montar uma vamos
escolher a radiância em uma banda para ser o vermelho, outra para ser o verde e outra
para representar o azul. Na janela principal (SeaDAS Main Menu) clique em Utilities
→ Data Visualization → Load True Color Image.
(m) Na nova Janela (Selection for True Color Image File) clique em Input File e preencha
o nome do arquivo. Clique em Load note que na outra janela (Band List Selection)
apareceu uma nova linha (9). Clique em Display. Esta é uma imagem em falsa cor onde
o trio RGB corresponde a 555, 510 e 412 nm. Agora selecione na janela apropriada
865 nm como a sua nova banda R e dê um Display nessa imagem (10).
(n) Compare as imagens e note que uma está mais “esfumaçada”que a outra. Moral da
estória: alguns canais são mais sensı́veis à presença de vapor dágua na atmosfera do que
outros. É por isso que podemos fazer a correção atmosférica - que ainda não foi feita.
(o) Delete a janela 1. Para plotar os paralelos e meridianos na imagem da janela 2 clique em
Setups → Grid → Go → Quit. Pois é, o mapa parece que foi impresso numa folha de
borracha. Isto se deve à geometria órbita e à esfericidade do planeta. Portanto, para fazer
disso um mapa é necessário redistribuir os pixels de modo que latitudes e longitudes se
alinhem de acordo com alguma projeção cartográfica.
ting Program) entre com o nome do arquivo L1A selecionando no primeiro campo
S2003053144913.L1A_LAC. Quando você faz isso o SeaDAS procura por todos os ar-
quivos necessários (localmente e via ftp se não achar) para fazer a correção atmosférica.
Deixe o valor proposto para L2 output file 1 e clique em Select L2 Products. Aparece
uma longa lista clicável correspondente a todos os produtos que podem ser criados a
partir das radiâncias medidas nos 8 canais. Os nomes são bastante sugestivos. Escolha
apenas chl oc4, clique em Run e aguarde.
(s) Para trocar as cores, na janela da imagem clique em Functions → Color LUT → Load
LUT e escolha a palheta Chlorophyll-a. Com Functions → Rescale pode-se modificar
esta palheta, trocando a escala para linear - o que é muito ruim, pois perdem-se os
detalhes do oceano profundo - volte para log. Mude o máximo da escala para 10 mg.m3 ,
isso melhora bastante o contraste.
(t) Porém, Functions → Grid nos diz que a imagem precisa ser retificada. Você já deve ser
capaz de fazer isso retomando alguns passos anteriores. Depois de mapear a imagem
acerte a palheta de cores, coloque a grade, a linha da costa e a máscara continental. Esta
é uma imagem de um parâmetro geofı́sico (concentração de clorofila, neste contexto , é
tratada como parâmetro geofı́sico) numa grade regular, portanto já são dados de nı́vel 3.
(u) Vamos salvar a figura. Clique em Functions → Output → Display, confira as opções e
clique em Go para salvar a imagem.
(v) A figura é interessante mas é melhor ter os dados para, se necessário, processar em
outros ambientes e distribuir a quem possa interessar. Clique em Functions → Output
→ Data → ASCII. Na nova janela clique em Setup e selecione Longitude, Latitude e
Geophys Data. Cheque as opções e clique em Write File.
(w) Cheque o resultado com o comando head que deve produzir algo assim:
(x) Podemos usr também a média–em–caixa para converter a imagem para nı́vel 3. Na
janela principal selecione Process → SeaWiFS → L2bin e entre com o nome do arquivo
L2 a ser processado, S2003053144913.L2_LAC e Selecione resolução de 4 km, adicione
os flags TURBIDW, SSTWARN e SSTFAIL, clique Okay e Run.
6 Sensores de Infravermelho
Sensores oceanográficos que operam na banda espectral do infravermelho (IV) é uma tecnologia
com mais de 3 décadas e produziu as maiores séries temporais de dados. Com eles, obteve-se
uma das variáveis oceanográficas de maior interesse da comunidade cientı́fica: a temperatura da
superfı́cie do mar (TSM).
A camada de água que emite a radiação infravermelha medida pelo sensor é extremamente
delgada (∼ 10µm) e recebe o nome de “temperatura de pele” (“skin temperature”). Essa espessura
corresponde ao comprimento de atenuação da radiação infravermelha na água. No caso do sensor
de micro-ondas esta espessura é três ordens de grandeza maior (∼ 1mm). O problema de se inferir a
temperatura do oceano a partir de camadas muito finas é o grande impacto causado pelo aquecimento
diurno. Isto acontece tanto no caso dos sensores de IV como no dos sensores radiométricos. Os
satélites que portam estes sensores estão normalmente em órbita sincronizada com o sol, isto é,
passam sobre uma dada área no mesmo horário todos os dias. Esta caracterı́stica evita a introdução
de tendências nos dados produzidos.
mostrado na figura 55. Esta figura também indica como a iluminação da área amostrada do solo é
afetado por mudanças no posicionamento do satélite. Tais variações sazonais também geram um
impacto sobre a iluminação no satélite.
Utilizando ainda a figura ?? notamos que nas faixas referidas na Tabela 7 se encaixam em
regiões estreitas, ou janelas, onde a atmosfera é bastante transparente, como indicado pela cor
branca.
Porém a radiância infravermelha que sai da superfı́cie dos oceanos é atenuada ao atravessar a
atmosfera. O maior responsável por esta atenuação é o vapor d’água, seguido por CO2 , CH4 , NO2 e
os aerossóis. A forma mais comum de se quantificar a absorção atmosférica é:
onde a e c são constantes, e Ti e T j são as temperaturas de brilho (i.e. radiâncias) das bandas i e j.
1−ti
O coeficiente γ = ti −t j é obtido através das transmitâncias atmosféricas ti t j . Desta forma, a partir
de dois canais temos a TSM com o efeito da opacidade parcial da atmosfera corrigido.
69
onde T4 e T5 são as temperaturas de brilho dos canais 4 e 5 (do AVHRR neste exemplo), T SMx é
um valor inicial da TSM (retirado da climatologia, por exemplo) e θ é o ângulo zênite do satélite. Os
coeficientes a, b, c e d são ajustados empiricamente por comparação com dados in-situ simultâneos.
Portanto não basta termos um excelente trabalho de engenharia na construção do instrumento.
É necessário também termos à disposição a ciência básica (e.g. teoria da absorção) e as medidas
in-situ para a calibração e validação dos dados de satélite.
A Figura 56 mostra uma média mensal (maio de 2001) de dados do sensor MODIS. Note
que as nuvens foram eliminadas no processo de composição. As temperaturas associadas ao topo
das nuvens são muito mais baixas do que a TSM, portanto a maioria das regiões encobertas são
facilmente detectadas. As nuvens que causam problemas são as nuvens baixas e semitransparentes
que causam um decréscimo artificial da TSM. Estas podem ser parcialmente identificadas através
de algoritmos baseados em estatı́sticas locais.
Esta imagem em falsa cor mostra uma composição de um mês para maio de 2001. Vermelho
e amarelo indicam temperaturas mais quentes, verde é um valor intermediário, enquanto os azul
e roxo são valores progressivamente mais frios. Na imagem de alta resolução, nota-se o detalhe
surpreendente em alguns dos padrões regionais. Por exemplo, pode-se observar as correntes de
águas frias que se deslocam da Antártica em direção ao norte ao longo da costa oeste da América
do Sul. Estas águas frias e profundas ressurgem ao longo de uma faixa equatorial ao redor e para
o oeste das Ilhas Galápagos. Observa-se a Corrente do Golfo se movendo para as altas latitudes
na costa leste dos Estados Unidos, transportando o calor do Caribe para a região de Terra Nova e
atravessando o Atlântico em direção a Europa Ocidental. Observe a corrente de água quente que se
estende do litoral leste da África para o sul do Cabo da Boa Esperança.
72
Modelos numéricos de previsão do tempo e clima utilizam a superfı́cie do oceano como forçante
termodinâmico (figura 59). O papel dos oceanos na determinação dos padrões climáticos é de
extrema importância. Isto se deve a sua capacidade térmica, que é várias ordens de grandeza maior
que a da atmosfera. Através da superfı́cie o oceano troca calor com as camadas inferiores da
atmosfera na forma de calor latente e sensı́vel. Em ambos os casos, para se quantificar esta troca de
calor é necessário se saber a temperatura do oceano.
Inicialmente os modelos atmosféricos se uti-
lizavam de uma TSM climatológica para fazer
previsões do tempo. Estas previsões falham em
locais e épocas onde o oceano apresenta anoma-
lias significativas de temperatura. Um exemplo
bem conhecido ocorre no Pacı́fico tropical du-
rante os perı́odos de El Niño e La Niña.
A evolução dos computadores e de nosso
conhecimento sobre o fluido geofı́sico nos per-
mite utilizar mapas de TSM atualizados diária
Figura 59: Média de 7 dias de TSM fornecida
ou semi-diariamente para auxiliar na previsão pelo sensor MODIS da satélite Aqua e utilizada
do tempo. Esta é a razão mais forte para termos, pelo CPTEC
por várias décadas, programas governamentais mantendo as séries de satélites que portam sensores
de IV operacionais.
2. Explique como funcionam os três efeitos fı́sicos que podem afetar a diferença entre a tempe-
74
3. Qual a razão principal para que o sensor de temperatura da superfı́cie do mar por in-
fra–vermelho tenha uma resolução espacial de 1km enquanto que a do sensor de micro-ondas
é de 50km?
Entre em Acess Data no menu, escolha Sea Surface Temperature e MODIS nos sub-
menus.
(b) Nesta página constam vários produtos de nı́vel 3. Estamos interessados no segundo,
clique em: MODIS Aqua Global Level 3 Mapped Thermal IR SST (#184)
(c) Leia o texto e descubra que: This data set is currently only available via anonymous
FTP to:
ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/sea_surface_temperature
/modis/data/aqua/L3_mapped/sst/
75
(d) Não tem outra saı́da, clique neste link e vá para o site de ftp. Por exemplo, escolha
”monthly”para médias mensais e em seguida ”04km”.
• MY04MMD1.sst.ADD2005182.040.2005217233322.hdf.gz
(f) Muito bem, agora você tem o arquivo e não tem a menor ideia do que significa. Dê uma
olhada em:
http://podaac-www.jpl.nasa.gov/modis/modis_fileinfo.txt
>>hdftool
>>imagesc(sst\_mean) >>colorbar
(m) Note que parece um mapa de temperatura mas os números são estranhos. É preciso notar
que quando você clica em sst mean, a janelinha do hdftool mostra, entre outras coisas,
o slope (0.01) e o intercept (-300). Isto significa que a temperatura ”de verdade”(T) é
dada por:
>>T = 0.01*double(sst\_mean)-300;
Obs: O site abaixo possui exemplos de programas para leitura dos dados em C, FORTRAN e
IDL.
ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/sea_surface_temperature/modis/software/
76
7 Escaterômetros
Durante a segunda guerra mundial notou–se que os radares eram sujeitos à interferência por
causa da interação com a superfı́cie do mar. Esta interferência era pior em dias de mar agitado,
portanto sabia–se da dependência com a presença de ondas. A teoria que estabelece o princı́pio
básico das medidas de escaterômetro, ou seja, a que descreve a interação ressonante entre ondas de
radar e a ondulação da superfı́cie do mar é conhecida desde meados da década de 50.
Durante a década de 70 foram feitos os primeiros testes onde efetivamente se utilizou o sensor
de espalhamento ou escaterômetro para medidas de vento. Hoje está disponı́vel uma série temporal
razoavelmente contı́nua de estimativas do vetor vento desde 1991.
IS
Z
σS = 4πA cos θ σS = σ0 dA (32)
Φi A
Pt G σS Ae
P= 2 4π R2
(33)
|4πR
{z } |{z} |{z}
1 2 3
onde:
2. é a fração da intensidade radiante espalhada na direção do radar, produzida por uma superfı́cie
com seção reta σS .
78
Gλ2
3. é o ângulo sólido que uma antena com área efetiva Ae = 4π abrange. Substituindo Ae temos:
Pt G2 λ2
P = σS (34)
(4π)3 R4
Quanto mais forte for o vento, maior será a amplitude das ondas do tipo capilar-gravidade e
portanto maior será a área efetiva que causa o espalhamento, aumentando assim σ0 . Considerando-
se apenas o efeito da intensidade do vento, a seção reta de espalhamento é dado por:
onde U é a magnitude do vento e a e χ são constantes. Porém σ0 não é apenas função da intensidade
do vento. O ângulo φ de incidência (ângulo entre a superfı́cie do mar e a direção do satélite) também
tem influência marcante sobre σ0 . Ângulos entre 15°e 65°fornecem uma correlação melhor entre σ0
e U por causa da geometria do espalhamento de Bragg (Figura 60.1). A cada ângulo φ corresponde
um χ(φ).
Um outro fator extremamente importante
neste cenário é a dependência entre σ0 e o
ângulo θ entre a direção do vento e o azimute
(figura 62). Azimute é o ângulo entre a direção
do satélite projetada na superfı́cie do mar e
a direção do vento (Figura 63.1). Esta de-
Figura 62: Azimute de um satélite
pendência é da forma:
Isto ocorre por que o vento deforma ligeiramente o perfil da onda na direção em que sopra,
introduzindo uma pequena anisotropia. Portanto, se observarmos as ondas de dois ângulos de
incidência diferentes (θ1 e θ2 ) poderemos determinar duas curvas via Equação 36. Estas curvas
podem se cruzar em até 4 pontos, gerando 4 possı́veis direções para o vento (Figura 6363.2). A
estas direções chamamos de “ambiguidades” e a escolha de qual direção é a mais provável pode ser
79
feita por métodos estatı́sticos (filtro de mediana circular), fı́sicos (por comparação com resultados
de modelos) ou pela utilização de vários ângulos de incidência. Para que se obtenham medidas
com vários ângulos de incidência temos hoje duas estratégias, aquela utilizada no SeaSat, ERS e
NSCAT onde temos várias antenas fixas e a mais recente, utilizada no QuikScat onde temos uma
única antena rotativa.
Figura 63: Comparação entre os ventos do escaterômetro SeaSat e as bóias do experimento Jasin
(1978)
O campo de vento tem uma grande importância para comunidade oceanográfica pois ele é
a variável que introduz movimento (forçante) no oceano (LARGE; POND, 1981). Desta forma, o
81
que importa neste contexto não é o vento em si mas sim a tensão de cisalhamento do vento (τ).
Esta variável é uma medida de transmissão de momentum devido ao movimento relativo entre a
atmosfera e o oceano e está diretamente relacionado ao vento:
τ = ρarCDU10 2 (37)
onde CD é o coeficiente de arrasto e U10 é o vento medido a 10 m de altura. Note-se que τ tem
unidades de pressão.
A Equação 37 é extremamente útil porém expressa uma visão bastante simplificada da interação
oceano-atmosfera. O fluxo de momentum depende da turbulência gerada pelo cisalhamento e pelo
empuxo. Desta forma a relação entre o vento e a tensão de cisalhamento deve incluir também a
estratificação de densidade que causa o empuxo. Para que se possa refinar o cálculo de τ para além
do que permite a Equação 37, seriam necessários perfis de temperatura e umidade do ar próximo à
interface, raramente disponı́veis.
A oceanografia biológica tem particular interesse no rotacional da tensão de cisalhamento, por
causa do bombeamento de Ekman. O crescimento do fitoplâncton é condicionado à presença de
nutrientes e luz. Para que os nutrientes cheguem à zona fótica é necessário um fluxo vertical de
massa, que pode ser causado pela ação do vento e da força de Coriolis. Na expressão:
∇k × τ
w= (38)
ρf
O transporte de Ekman E é o fluxo de massa causado pelo efeito do vento integrado da superfı́cie
até o fundo da camada de Ekman (SATO; ROSSBY, 2000). Este transporte é 90 à esquerda (direita)
de τ no hemisfério sul (norte).
82
Ex =
τy
f
(39)
Ey = −
τx
f
Este efeito é de particular interesse perto da costa. Dada a condição de fluxo normal zero, caso
o transporte de Ekman afaste as águas superficiais do continente, este fluxo pode ser compensado
por ressurgência costeira.
Na camada superior do oceano ocorrem as trocas de calor mais intensas e consequentemente a
estratificação térmica mais pronunciada. Desta forma o transporte de Ekman tem também um papel
fundamental na termodinâmica dos oceanos.
Analogamente à equação 39 podemos definir o fluxo de calor de Ekman QE como:
ρC p
QE x =
f τy ∆θ
(40)
QE y = −
ρC p
f τx ∆θ
Ondas de instabilidade tropical (OITs) são ondas oceânicas de Rossby-gravidade que se formam
na região equatorial devido à instabilização de correntes intensas em direções opostas (POLITO et al.,
2001). Estas ondas se caracterizam por perı́odos da ordem de um mês e comprimentos da ordem de
1000 km.
Vários trabalhos recentes reportam sinais com caracterı́sticas de OITs em campos de vento
medidos por satélite (LIU et al., 2000; CHELTON et al., 2000). Como o fenômeno é inerentemente
oceânico, sua presença nos campos de vento gerou trabalhos interessantes.
Figura 67: Temperatura da superfı́cie do mar (cores) e magnitude do vento (contornos) no Pacı́fico
equatorial, evidenciando a coincidência entre os padrões. Neste caso a temperatura da superfı́cie do
mar altera a estabilidade da coluna de ar e, por extensão, a transmissão de momentum
84
A figura 67 mostra contornos do vento medido pelo satélite QuikScat sobrepostos ao campo
de temperatura superficial medido pelo TRMM. A coincidência é clara e há duas hipóteses para
explicá-la. Uma é que os ventos do escaterômetro, por medirem a velocidade relativa entre o ar
e a água, estariam sendo contaminados pelas correntes marinhas (KELLY et al., 2001). Neste caso
as correntes marinhas associadas às OITs causariam o enrugamento da superfı́cie por atrito com a
atmosfera quase estática. Como σ0 depende apenas da rugosidade da superfı́cie, tanto faz se é a
atmosfera ou o oceano que se movem; desde que haja atrito teremos ondas do tipo capilar-gravidade
e portanto o vento será detectado. O argumento mais convincente a favor desta teoria é que a
diferença entre os ventos medidos pelo satélite e por anemômetros in situ está correlacionada com a
inclinação da superfı́cie e portanto com as correntes (figura 68.1).
(68.1) De cima para baixo: Diferença en- (68.2) Ventos obtidos pelo QuikScat sobre-
tre o vento meridional medido pelas boia postos à anomalia de temperatura (acima)
localizada em 38 W, 8 N do programa e ao vapor integrado (abaixo), obtidos pelo
PIRATA e pelo QuikScat (azul) e veloci- TRMM no Pacı́fico equatorial. Note-se a
dade geostrófica baseada em dados do TO- coincidência entre a convergência dos ven-
PEX/Poseidon (vermelho), a correlação é de tos e o gradiente de temperatura e vapor
50%. Altura da superfı́cie (preto) baseada
em dados do TOPEX/Poseidon. Tempera-
tura dos termistores a 1, 20, 40, 60, 80, 100,
120, 140, 180, 300 e 500 m. Note que a
coincidência das curvas do primeiro gráfico
é melhor no perı́odo inicial onde as OITs
são mais evidentes
85
A outra hipótese defende que os padrões de temperatura associados às OITs mudam a estabili-
dade da coluna de ar e portanto a transmissão de momentum ao oceano. A figura 68.2 ressalta a
correlação entre os processos dinâmicos e termodinâmicos sobrepondo o campo vetorial de vento
à temperatura e ao vapor integrado obtidos por medidas radiométricas. Além destas evidências
qualitativas, medidas de sondas meteorológicas indicam que a magnitude média do vento na baixa
troposfera é significativamente (∼ 2 m/s) maior sobre anomalias térmicas positivas.
Os resultados apresentados em ambos os casos não são mutuamente exclusivos. A diferença de
fase entre v e η prevista pelas duas hipóteses é a mesma. Portanto provavelmente as duas ideias são
válidas em maior ou menor grau.
2. Porquê os escaterômetros enviam um feixe de radar que incide obliquamente sobre a superfı́cie
do oceano? Utilize o conceito de espalhamento de Bragg, esboçando a geometria básica deste
fenômeno. Faça também um gráfico (esboço) de σ versus velocidade do vento para vários
ângulos de incidência entre 0 e 50 graus.
4. Sabendo que as ondas do tipo capilar-gravidade tem λ = 5cm , deduza qual a frequência
aproximada do radar escaterômetro.
5. O escaterômetro não funciona bem quando há surfactantes (e.g. óleo) na superfı́cie do mar.
Explique porquê utilizando o conceito de tensão superficial.
1. Os dados do QuikSCAT serão utilizados neste exemplo por serem os que até o momento
apresentam os menores erros instrumentais. Adicionalmente, o site do JPL/NASA é bem
86
organizado e facilitará bastante a nossa pequena jornada. Para obtermos outros dados de
satélite, segue-se mais ou menos a mesma rotina.
– Note que o JPL insiste em vector winds, pois somente o escaterômetro mede o
vetor vento, ~v = (u, v). Os sensores de microondas (e.g. SSM/I, TRMM) medem
√
apenas a magnitude do vento u = u2 + v2 e associam a ela uma direção obtida de
modelos de previsão do tempo.
• Para alguns estudos uma certa configuração de ventos é necessária. Suponha que
queremos selecionar os dias com a presença de ciclones em uma determinada área, ou
com uma posição especı́fica da ZCIT. Para tal é interessante visualizarmos os dados
antes de os trazermos. Clique em BROWSE na tabela, na coluna Tools and Services.
• Clique agora no olho do ciclone e uma outra janelinha se abrirá. Ela mostra as passagens
do satélite sobre o ponto selecionado. Estes dados são nı́vel 2 (L2B) e os nomes dos
arquivos são devem conter os números das passagens 32200 e 32206.
• Na página que tem a imagem nı́vel 3 (mapa global) clique no link na parte superior
direita. Pelo URL dá para ver que é um repositório para distribuição de dados via
ftp. Clique no arquivo QS S2B32200.20052372119.Z para trazê-lo, e em seguida
descomprima-o (no Linux use o comando gunzip ).
87
• Quem distribui os dados quer muito que eles sejam usados e portanto deve explicar
como fazemos para ler estes arquivos. No site de ftp tem sempre aquele link Up to
higher level directory. Clique neste link repetidas vezes até chegar em
ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/ ocean_wind/quikscat/L2B/
>>hdftool
• Clique no cubinho à esquerda, selecione e importe wvc lon, wvc lat, wind speed selection
e wind dir selection.
>> u=0.01*double(wind_speed_selection).
*sin(double(wind_dir_selection)*0.01*pi/180);
>> v=0.01*double(wind_speed_selection).
*cos(double(wind_dir_selection)*0.01*pi/180);
>> x=0.01*double(wvc_lon);
>> y=0.01*double(wvc_lat);
>> quiver(x,y,u/100,v/100,0);axis(’equal’);axis([310 340 -50 -20])
• Muito bonito, temos um mapa de vetores. Mas isso não significa nada se não soubermos
em detalhe o que foi feito pelos comandos acima. Como diria Giuseppe Pistone, vamos
por partes.
• O que faz aqueles 0.01 que multiplicam todas as variáveis escolhidas? Ele é um fator
de escala que serve para transformarmos um número real, algo como 23.45 que gasta
8 bytes de espaço em disco, em um número inteiro (2345) que gasta só 2 bytes. Para
“destransformarmos” basta multiplicarmos o vento lido, neste caso, por 0.01. O fator de
escala a ser usado está sempre contido no arquivo HDF.
88
• O que faz o double()? Como disse, as variáveis estão guardadas como números inteiros.
O comando double() as transforma em números reais, aqueles que o Matlab usa para
fazer contas.
• Por que importamos wind speed selection em vez de wind speed ? Para entender esta
parte, examine o tamanho de wind speed na janelinha do hdftool. Esta variável tem 3
dimensões, latitude, longitude e ambiguidade. A variável wind speed selection tem só
latitude e longitude pois a direção mais provável (maximum likelihood estimator) já foi
pré-escolhida.
π
• Por que multiplicar por 180 ? Pois a direção é dada em graus seguindo a convenção
geométrica. O Matlab opera em radianos.
• Por fim, cabe esclarecer que todos estes passos que foram feitos manualmente clicando
aqui e ali podem ser executados de forma automática com a ajuda de um script, sem a
necessidade de um operador.
89
O Radar de Abertura Sintética (SAR, Synthetic-Aperture Radar) é um tipo de radar que utiliza
múltiplos retornos de radar a fim de produzir imagens de alta resolução. O radar utilizado é um
radar tradicional, mas o processamento dos sinais obtidos geram imagens cuja resolução é da ordem
de 10 - 40 m. Esta alta resolução espacial conseguida pelo SAR exige um grande processamento de
dados (PATEL et al., 2010) e uma alta taxa de transferência para as estações em solo.
Uma das principais vantagens do SAR é a capacidade de operar à noite e em adversas condições
meteorológicas, superando as limitações dos sistemas visı́vel e infravermelho. Por esta razão, o
radar também é conhecido como “Radar independente do tempo” (All Weather Radar)
A resolução espacial conseguida por sensores que emitem sinais de radar está diretamente
relacionada ao tamanho da antena presente no satélite. Mas o tamanho da antena do satélite não
pode ser grande, pois existe a limitação de espaço na área útil do foguete lançador.
Para contornar essa limitação, desenvolveu-
se o conceito da abertura sintética. Esse método
utiliza uma única antena fı́sica e reúne os sinais
tomados ao longo da trajetória em posições e
tempos diferentes. Essas posições são funções
da distância ao longo do caminho do veı́culo.
Os sinais são então armazenados, tornando-se
assim as funções, não mais do tempo, mas do
registo da localização do satélite ao longo da
trajetória (figura 68).
Quando esses sinais armazenados são com- Figura 68: Principio da abertura sintética
binados com deslocamentos de fase especı́ficos, o resultado é o mesmo que se os dados gravados
tivessem sido recolhidos por uma antena igualmente longa. Esse procedimento permite ao SAR
simular (ao invés de sintetizar) uma antena unidimensional longa.
90
−1/2
1 − (v/c)
f0 = fs (42)
1 + (v/c)
−1/2
1 + (v/c)
f0 = fs (43)
1 − (v/c)
onde v é sempre positiva. Assim, uma fonte que se afasta apresenta uma frequência mais baixa
e uma fonte que se aproxima apresenta uma frequência maior do que a frequência real emitida.
Dois pontos no solo separadas na direção do azimute possuem ângulos ligeiramente diferentes
a partir da antena com relação à linha de voo. Devido a isto, eles têm velocidades ligeiramente
91
diferentes em qualquer dado momento em relação à antena. Por conseguinte, o sinal de eco a partir
de cada alvo terá a sua frequência deslocada uma quantidade diferente do original. Para calcular o
desvio de frequência Doppler para um alvo especı́fico (figura 69) primeiro calcula-se a velocidade
relativa com que o alvo e antena aproximam um do outro (dR/dt).
Figura 69: SAR geometria para o cálculo do desvio de frequência Doppler para um alvo pontual
Para encontrar a componente R-direccional de Vrel (a velocidade com a qual o alvo aproxima-se
do sensor), podemos projetar Vrel (paralelo ao eixo x) para uma linha paralela a R para obter
π
v = vrel cos( − θ)
2
= vrel sin(θ)
x
= vrel (44)
R
−1/2
1 + (v/c)
f0 = fs
1 − (v/c)
−1/2
1 + (v/c) −1/2
1 + (v/c)
= · fs
1 − (v/c) 1 − (v/c)
−1/2
(1 + (v/c))2
= fs (45)
1 − (v2 /c2 )
v
f0 = 1 + fs (46)
c
Esta frequência é diferente da frequência real emitida a partir da antena pelo fator
v
f0 − fs = 1+ fs − fs
c
v
= fs (47)
c
Uma vez que o eco de retorno será deslocado pela mesma quantidade, o desvio da frequência
Doppler para o alvo é
2v
fd = fs
c
2vrel sin(θ) c
= ·
c λ
2Vrel x
= (48)
λR
Este valor fornece um meio para determinar exatamente de onde o sinal de eco veio. Para um
sinal de retorno detectado pela antena em um intervalo de tempo correspondente ao alcance para
a dada inclinação de R(t = 2R/c) e com um desvio de frequência Doppler de fd , a coordenada
azimute é dada por
fd1 λR
x1 = (49)
2vrel
Mesmo se outro alvo está numa distancia menor do que R e dentro do feixe, ao mesmo tempo, a
medição da sua frequência Doppler fd ainda permite associá-lo com a coordenada de azimute x2 .
Assim, cada alvo possui duas para coordenadas para localizá-lo. O chão (Rg ), em relação à linha
nadir, e a distância azimute x2 em relação à lateral do satélite.
λR
δx = δ fd (50)
2vrel
arclenght RθH Rλ
tspan = = = (51)
vrel vrel La vrel
λR La vrel La
δx = · = (52)
2vrel Rλ 2
o que implica que uma melhor resolução é obtida com uma antena menor - sendo o oposto do
que seria de esperar à regra de radar de abertura real. Isto não significa, é claro, que se poderia
simplesmente construir um antena 1 cm de comprimento para se obter uma resolução de 5 mm.
O comprimento da abertura deve ser suficientemente grande para criar o padrão de interferência
adequado entre os dipolos da antena necessário para a propagação do feixe a uma frequência
particular θH = λ/La .
Este resultado do εx = La /2 não é rigorosamente verdade, no entanto, uma vez que assumimos
que uma mudança de frequência constante Doppler foi observado durante todo o perı́odo de tempo
t. Na verdade, alterações εFd ao longo da observação é apenas aproximadamente constante durante
um tempo muito menor do que t. A análise de Fourier dos resultados de Doppler da onda resultam
em componentes de frequência diferentes, de modo que observa-se o sinal do alvo espalhar-se sobre
as células de resolução vizinhas, cobrindo uma distância maior do que a resolução x calculada
anteriormente.
hiperbólica no plano definido pelo azimute e pela inclinação. Esta hipérbole é conhecido como
a curva de migração do alcance e o segmento que une as duas extremidades é conhecido como o
rangewalk. Uma vez que esta hipérbole é representativa de apenas um ponto, todos os pontos ao
longo desta curva devem ser comprimidos para formar um único pixel na imagem final. Entretanto,
há vários problemas associados a isto. Em primeiro lugar, a forma da linha hiperbólica depende
da distância do alcance do feixe inclinado para o alvo quando este está no centro do feixe de radar.
Segundo, o sistema de impulso-resposta muda com faixa de inclinação. Isto é, o sinal recebido
é sensı́vel ao atraso de tempo, exigindo assim diferentes parâmetros de filtragem para manter o
requisito de energia constante.
Um SAR aerotransportado normalmente possui uma altitude baixa o suficiente para considerar a
Terra como uma superfı́cie plana. A hipérbole será muito estável desde que as diferenças de alcance
para um alvo forem relativamente pequenos. Quando se opera a partir de um satélite, no entanto, a
altitude é elevada o suficiente para que a curvatura da Terra torne-se um fator de impacto, alterando
a hipérbole. Além disso, a rotação da Terra altera a direção da hiperbóle. Esses efeitos devem ser
corrigidos antes do processamento e compressão dos dados começar.
Figura 70: Curva hiperbólica traçada por um ponto-alvo no plano de alcance azimute inclinação.
Quando duas ondas não estão em sincronia, costuma-se dizer que estão fora de fase. A diferença
de fase é medido em radianos ou graus. Por exemplo, se a crista de uma onda (A) ocorre ao mesmo
tempo com o cavado de outra onda (B), a diferença de fase é (180 deg). A Figura 71 ilustra exemplos
adicionais.
95
4πR
φ= (53)
λ
Figura 72: Relação quadrática entre distância e tempo para um alvo dentro do feixe de radar
Usando série de Taylor para expandir a função em torno da posição xc para a inclinação Rc
obtemos
quando truncado para a segunda ordem. Assumindo que Rc e R0 são aproximadamente iguais
para feixes estreitos do radar, o desvio de frequência Doppler é
dφ/dt
fd =
2π
(4π/λ)dR/dt
=
2π
2
= [(x0 − xc ) + (xc − x)] (56)
λR0
Ao assumir que a mudança de frequência Doppler é constante somente até o termo quadrático
96
adiciona um valor de π/4 para Φ, Então a janela de observação da forma de onda é confinada a uma
distância de xwindow , onde
(xc − x)2
4π π
<
λ 2R0 4
r
λR0
xc − x < (57)
8
e assim por
r
xwindow λR0
=
2 r 8
λR0
xwindow = (58)
2
p
xwindow λR0 /2
twindow = < (59)
vrel vrel
r
λR λR 1 λR0
δx = δ fd = = (60)
2vrel 2vrel twindow 2
Um processador SAR, que utiliza esta técnica é conhecida como SAR desfocado. Esta técnica
não considera a taxa variável de mudança de fase, mas ainda consegue produzir uma resolução
muito menor do que para os radares abertura real. Por exemplo, utilizando a equação acima, a
resolução para RADARSAT seria
s s
cR0 (3 × 108 )(792 × 105 )
δx = = = 150m (61)
2f 2(53 × 109 )
o tempo em que o alvo está dentro do feixe. A fase quadrática é ajustado de tal forma que todo o
retorno dos sinais devido ao alvo em x0 (figura 72) são adicionados de forma coerente. Todos os
retornos de pulsos (excluindo x0 ) não irão concordar em fase irão se cancelar. Assim, os retornos do
alvo em x0 vai dominar os retornos de outros alvos com o mesmo intervalo, mas não em x0 . Com
algumas suposições, esta técnica resulta em uma resolução em azimute aproximando a La /2, que é
o que foi calculado anteriormente, assumindo uma fase constante.
O satélite SeaSat (figura 33.1) foi o primeiro satélite oceanográfico a possuir um radar de
abertura sintética. O equipamento operava na banda L (1,275 GHz) e amostrava uma faixa de 100
km.
A Agência Espacial Europeia lançou dois satélites para pesquisas em Sensoriamento Remoto
Ambiental (ERS). Os satélites ERS-1 e ERS-2 foram lançados na mesma órbita (sincronizada com
o Sol) em 1991 e 1995, respectivamente. Entre seus instrumentos, o radar de abertura sintética
banda C permitia obter medidas de altura de ondas com precisão inferior a 1 mm. O ERS-1 deixou
de funcionar em 10/03/2000 e a missão do ERS-2 foi finalizada em 02/09/2011, com suas operações
sendo sendo substituı́das pelo satélite Envisat.
Em 2002 foi lançado o satélite Envisat pela
ESA. Seu maior instrumento é o Radar de Aber-
tura Sintética Avançado (ASAR), operando em
banda C, garantindo a continuidade da coleta
de dados após o fim das atividades do ERS-
2. Possui capacidade melhorada em termos de
faixa de cobertura, de ângulos de incidência,
polarização e modos de operação. As melhorias
permitem uma melhor elevação do feixe do ra- Figura 73: Diagrama dos satélites ERS-1 e ERS-2
dar e a seleção de trechos de amostragem diferentes, entre 100 ou 400 km de largura. Sua resolução
era de 30-150 m, dependendo do modo de operação. Em 08/04/2012 a ESA perdeu o contato com o
satélite e encerrou a missão do satélite.
98
A agência espacial canadense colocou em órbita o RADARSAT-1 (figura 74) em 1995. RADARSAT-
1 é equipado com um sensor de radar avançado, o radar de abertura sintética (SAR). É um ins-
trumento de micro-ondas poderoso. Ela transmite e recebe sinais para capturar imagens de alta
qualidade da noite e do dia da Terra e em todas as condições meteorológicas. Como um sensor
ativo, SAR RADARSAT-1, transmite um pulso de energia de micro-ondas (banda C em 5,3 GHz)
para a Terra, e as medidas de SAR a quantidade de energia que é refletida de volta para o satélite da
superfı́cie da Terra.
A agencia espacial alemã (DLR) lançou o
satélite TerraSAR-X em 1997. Com o seu ra-
dar SAR banda X e sua antena (31 mm de
comprimento de onda, frequência 9,6 GHz), o
Figura 75: Satélite TerraSAR-X
TerraSAR-X adquire imagens de radar de alta
qualidade de todo o planeta, enquanto circunda a Terra em uma órbita polar a 514 km de altitude.
A órbita é sincronizada com o sol e apresenta sempre a mesma face para o sol, assegurando um
abastecimento de energia elétrica constante através das células solares. O TerraSAR-X foi concebido
para realizar sua missão por cinco anos, independente das condições climáticas e de iluminação, e
fornecendo imagens de radar com resolução de até 1m.
A alta resolução fornecida pelas imagens SAR permitem a identificação de diversas feições no
oceano.
99
Regiões do oceano que contenham óleo apresentam-se como áreas “lisas”nas imagens. Essas
regiões podem ter origem natural ou artificial. Elas ocorrem devido a supressão local de desordem
no oceano causada pelo amortecimento de ondas curtas (figura 76).
Para que seja possı́vel a detecção, a imagem
deve possuir uma resolução adequada para que
a relação sinal/ruı́do não interfira na supressão
do eco local devido à mancha. Assim, os me-
nores ângulos de incidência dos sinais do radar
são recomendados, mas à custa de resolução.
Manchas podem ser fotografadas em grandes
ângulos de incidência com vento fraco, mas
possuem uma baixa relação sinal/ruı́do. Na Figura 76: Região contendo mancha de em ima-
presença de ventos fortes, a mancha pode ser gem SAR
levada para dentro da coluna d’água, evitando a detecção.
imageado e a velocidade do satélite faz com que imagem da onda se torne não linear.
9 Altı́metros
A maior parte das medidas tomadas por sensores remotos são superficiais. Como visto an-
teriormente, a radiação eletromagnética recebida pelo sensor é a proveniente da superfı́cie. No
caso dos oceanos, devido à baixa atenuação da camada fótica, os dados obtidos revelam valores
integrados nessa camada (∼10 m). A extrapolação vertical destas medidas envolve mecanismos
fı́sicos complexos e que não produzem resultados confiáveis.
Os altı́metros, por outro lado, permitem inferências relativamente precisas da altura da superfı́cie
do mar. Isto permite inferir a velocidade das correntes geostróficas, a quantidade de calor armaze-
nado na coluna d’água, variações na profundidade da termoclina e outras informações a respeito da
dinâmica interna dos oceanos.
O altı́metro é um instrumento ativo que emite pulsos na banda de radar. Estes pulsos são
emitidos na direção vertical e atinge uma área cujo raio é de aproximadamente 30 km. Este pulso
sofre reflexão aproximadamente especular na superfı́cie do oceano e parte de sua energia volta à
antena do satélite após um tempo ∆t. Como sabemos que os pulsos de radar trafegam à velocidade
da luz (c), podemos determinar a distância d = c · ∆t entre o altı́metro e a superfı́cie do mar. O
dado mais impressionante da operação deste instrumento é a sua precisão, que chega a 2 cm. Para
que se alcance tal precisão são necessárias várias correções decorrentes da influência de fatores
eletromagnéticos que retardam o pulso de radar e de fatores que influem na movimentação da
superfı́cie em relação ao satélite. Além de seu objetivo básico, o altı́metro também mede a altura
significante das onda e a magnitude do vento. É importante notar que a precisão das medidas de
vento do altı́metro é muito mais baixa que a das medidas tomadas por radiômetros e escaterômetros.
Como a superfı́cie do mar não é plana, a reflexão não é exatamente especular. O sinal se deforma e
esta deformação é proporcional à altura significante (i.e. média da amplitude) das ondas.
O primeiros radar altimétrico foi enviado ao espaço a bordo da estação espação espacial
americana Skylab em 1973. Em seguida, utilizou-se um altı́metro aperfeiçoado a bordo do satélite
102
Atualmente as várias correções aplicadas aos dados de altı́metro estão incluı́das nos arquivos de
distribuição. Porém é necessário entender a fı́sica na qual se baseiam estas correções para saber
quais devem ser aplicadas em diversas situações.
desta correção é feita por múltiplas bandas radiométricas. Quando o pulso de radar se reflete
na superfı́cie irregular do oceano, a assimetria entre a crista e o vale das ondas causa um erro
sistemático. A correção é baseada em modelos empı́ricos e é proporcional à altura significante de
onda e à magnitude do vento. Na maioria das aplicações é necessário remover também o efeito
das marés. As marés oceânicas são as maiores fontes de variabilidade dos dados altimétricos,
felizmente são também bastante previsı́veis. As marés são removidas com base em modelos globais
de marés. Estes modelos funcionam bem em águas profundas mas não sobre a plataforma. A
profundidade limite é da ordem de 1000 m, mas o valor exato depende das marés locais. Além
das marés oceânicas existem ainda a maré da terra sólida e a maré polar (ou “Chandler wobble”).
Ambas são removidas com base em modelos e são uma a duas ordens de grandeza menores que
as marés oceânicas. A anomalia da altura causada pela resposta hidrostática ao peso da atmosfera,
chamada de efeito de barômetro invertido, deve ser removida para a grande maioria dos casos. Esta
correção é da da ordem de 1 cm.
− f v = − ρ1 ∂p
∂x
1 ∂p (62)
fu = − ρ ∂y
= − ∂p
ρg
∂z
1 R 0 ∂p
v = ρ0 f z0 ∂x dz + v0
u = − ρ10 f z00 ∂p (63)
R
∂y dz + u0
ρ0 gη + z00 ρgdz
R
p =
Nas equações 63, v0 e u0 são constantes de integração desconhecidas que dependem apenas do
nı́vel de referência z0 e ρ0 é a densidade média (ρ = ρ0 + ρ0 ). O gradiente de pressão é consequência
do gradiente de densidade entre colunas d’água. Se o oceano está em equilı́brio hidrostático,
todas suas colunas d’água tem o mesmo peso à mesma profundidade. Portanto, uma anomalia de
densidade implica diretamente em uma anomalia na altura da superfı́cie. Desta forma, no lado
direito da última das equações 63, o primeiro termo se refere a anomalia de pressão tomando–se a
altura média da interface ar–mar ou geoide marinho (z = 0) como referência. Dispensa–se assim o
nı́vel de referência arbitrário e as equações 63 colocadas em termos de η simplificam–se:
v =
g ∂η
f ∂x
, (64)
g
u = − ∂η
f ∂y
onde fica claro que apenas a pressão causada pela anomalia da altura (ρ0 gη) tem consequências
dinâmicas apreciáveis.
Na oceanografia tradicional o nı́vel de referência z0 é escolhido de forma que nele a velocidade
seja aproximadamente zero. Portanto, u e v são medidas aproximadas que contém apenas a
velocidade baroclı́nica. Como fica claro das considerações acima, a utilização de dados altimétricos
dispensa a escolha de um nı́vel de referência. A velocidade geostrófica obtida a partir da inclinação
da superfı́cie do mar inclui os termos barotrópico e baroclı́nico. Note-se que apenas as correntes
geostróficas foram consideradas nesta discussão pois apenas elas podem ser detectadas por altı́metros
(YU; EMERY; LEBEN, 1995; MENKES; BOULANGER; BUSALACCHI, 1995).
106
Figura 81: Mapa da anomalia da altura (cores) com as velocidades geostróficas associadas plotadas
como vetores (em preto). O mapa foi obtido a partir de dados do T/P e ERS num perı́odo de 15 dias
mostrados no canto superior esquerdo.
∆ρ ∆ρ
η=− (H + η) ' − H (65)
ρ ρ
η = αH∆T. (66)
A anomalia do calor armazenado HS0 , onde C p é o calor especı́fico à pressão constante, é:
ρ Cp
HS0 = ρ C p H ∆T = η. (67)
α
Desta forma podemos medir o calor armazenado localmente a partir de medidas altimétricas de
η. Estas medidas comparadas com dados in situ resultam em correlações de 65% (Califórnia) a 95%
(TAO, Figura 83). A correlação varia muito em função da resolução dos dados in situ (CHAMBERS;
TAPLEY; STEWART, 1997).
108
Figura 83: Comparação entre medidas da anomalia do calor armazenado HS0 e sua derivada
temporal HSR obtidas por satélite (preto) e in situ (cinza) através de dados de boias do projeto TAO.
A correlação e a diferença rms estão anotadas em cada gráfico
Procurar por regularidade nas observações da natureza é a base comum entre as ciências
naturais. A figura 84 (POLITO; CORNILLON, 1997) ilustra precisamente esta tarefa aplicada a dados
de anomalia da altura coletados pelo altı́metro a bordo do satélite TOPEX/Poseidon. Nos dados
originais, ηo no canto superior esquerdo, notamos uma certa periodicidade na forma de bandas
horizontais. Há também uma série de bandas inclinadas sobrepostas à este padrão horizontal.
109
Figura 84: Diagrama zonal-temporal para 4.5 N no Atlântico. ηo mostra os dados originais de
anomalia da altura coletados pelo TOPEX/Poseidon. ηs é a soma das componentes. ηr = ηo − ηs
é o resı́duo de alta frequência. ηt é o sinal de larga escala dominado pelo ciclo sazonal. η24,12,6,3
são ondas de Rossby de perı́odo de 24, 12, 6, e 3 meses, η1 são ondas de instabilidade tropical,
ηK1,K3,K6 são ondas de Kelvin e ηE é a variabilidade de meso-escala. Linhas tracejadas indicam a
velocidade de fase média.
110
∂u ∂η
+ u ∂u ∂u
∂x + v ∂y − f v = −g ∂x
∂t
. (68)
∂v
∂t
∂v
+ u ∂x + v ∂v
∂y + fu = −g ∂η
∂y
∂u ∂v
ζ= − (69)
∂y ∂x
temos:
Dζ
+ (ζ + fo )(∇ · u) + βv = 0. (70)
Dt
Dh
+ h(∇ · u) = 0 (71)
Dt
ζ+ f
D(ζ + f ) (ζ + fo ) Dh D h
= ou =0 (72)
| Dt
{z } | h{z Dt} Dt
vorticidade absoluta estiramento
∂ζ ∂η
H + Hβv − fo =0 (73)
∂t ∂t
gH ∂∇2 η gH ∂η ∂η
+ β − fo =0 (74)
fo ∂t fo ∂x ∂t
√
Definindo o raio de deformação de Rossby como Rd = gH/ fo e rearranjando os termos temos:
111
∂ 2 1 ∂η
∇ η− 2 η +β = 0. (75)
∂t Rd ∂x
1
Para ondas longas, ∇2 η R2d
η, portanto:
∂η ∂η
−βR2d =0 (76)
∂t | {z } ∂x
cp
√ 0
e a solução do caso forçado e baroclı́nico (ou interno) é análoga, com Rdi = g H1 / fo :
∂η ∂η
− βR2di = we (77)
∂t ∂x
βk
ω=− (78)
k2 + R−2
r
Alguns pontos essenciais sobre ondas de Rossby devem ser ressaltados nesta derivação:
• As ondas de Rossby longas estão relacionadas a processos de estiramento dos tubos de vórtice
e se propagam sempre para Oeste
ω ∂ω
• Ondas longas são não dispersivas (i.e. c p = cg ou k = ∂k )
Filtros digitais foram desenvolvidos para separar ηo em várias bandas espectrais correspondentes
a sinais de larga escala, ondas longas de Rossby, de Kelvin e de instabilidade tropical como mostra
a Figura 84. A partir destes dados pode-se estimar a importância relativa de cada componente na
dinâmica e termodinâmica local dos oceanos. O uso de filtros digitais é apenas um entre os muitos
métodos utilizados para a análise de dados altimétricos.
112
O estudo de ondas planetárias é fundamental para que, entre outras coisas, entendamos o meca-
nismo de transferência de energia potencial através de bacias oceânicas inteiras. Estas ondas estão
também ligadas aos mecanismos das mudanças climáticas inter-anuais, tais como El Niño/La Niña
(WHITE; CHAO; TAI, 1998), PDO (Pacific Decadal Oscillation), (NAO) North Atlantic Oscillation,
onda circumpolar Antártica, etc.
1. Qual o princı́pio fı́sico que permite que se utilizem dados de altı́metros para se estimar o calor
armazenado no oceano?
2. Para que se obtenha a altura da superfı́cie do mar com precisão de 2 cm são necessárias várias
correções. Explique porque, mesmo depois de feitas estas correções, só se confia nas medidas
se a profundidade local for superior a 1000 m.
3. O radar altimétrico Jason-1 tem um ciclo de repetição exata de 9.9156 dias. Ondas de Yanai
ocorrem na região equatorial e tem perı́odo aproximado de 14 dias. Seria o Jason-1 indicado
para estudá-las? Explique a sua resposta.
4. Porque podemos estimar anomalias nas correntes de larga escala usando dados de altura?
http://podaac-www.jpl.nasa.gov/DATA_CATALOG/jason1info.html.
(b) Nesta página constam produtos de vários nı́veis. Estamos interessados no quarto, J1
IGDR. Clique em FTP. A propósito, IGDR quer dizer Interim Geophysical Data Record
113
que é um conjunto de dados liberado em tempo quase-real com menos correções que o
GDR, que é mais preciso, mas demora mais para serem disponibilizados.
(c) O servidor de FTP tem dados, documentos e software para leitura nos seguintes di-
retórios: data, doc,e software. Clique em data e em seguida, escolha o diretório que
contém o ciclo 249. De dentro dele baixe o arquivo correspondente à passagem 69.
Resumindo, traga este arquivo:
ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/sea_surface_height/jason/igdr/data
/c249/JA1_IGD_2PcP249_069
(d) O arquivo não possui um formato convencional (ASCII, HDF, NetCDF). Ao abrir o
arquivo em um editor de texto ou no próprio browser, observa-se um cabeçalho com a
seguinte configuração.
CCSD3ZF0000100000001CCSD3VS00006PRODUCER
Product_File_Name = JA1_IGD_2PcP249_069;
Producer_Agency_Name = CNES;
···
Cycle_Number = 249;
Absolute_Revolution_Number = 31531;
Pass_Number = 69;
Absolute_Pass_Number = 63061;
Equator_Time = 2008-10-11T23:16:38.143000;
Equator_Longitude = +216.14<deg>;
First_Measurement_Time = 2008-10-11T22:48:34.319369;
Last_Measurement_Time = 2008-10-11T23:44:44.042016;
First_Measurement_Latitude = -66.15<deg>;
Last_Measurement_Latitude = +66.15<deg>;
First_Measurement_Longitude = +133.61<deg>;
Last_Measurement_Longitude = +298.99<deg>;
···
(e) O arquivo está descrito em detalhe no manual dos dados, cuja leitura é necessária para
este exercı́cio. Baixe–o da página inicial do Jason-1 sob o link ”User Manual”ou direto
de: ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/sea_surface_height/jason/gdr
/doc/Handbook_Jason_v3-0.pdf
(f) Na página 69 há uma tabela com a descrição dos dados do header ou cabeçalho. Na
página 88 há uma tabela similar para os dados binários. Para ler os dados e o cabeçalho
use a função que eles oferecem (em matlab) que está no subdiretório ”software”:
ftp://podaac.jpl.nasa.gov/pub/sea_surface_height/jason/igdr/software
/matlab_version_c/gdr_c_read_flag.
(g) Se esta função não funcionar no seu sistema, tente a que eu modifiquei e deixei, com o
mesmo nome, no site do laboratório.
(h) Adicione os teus comentários ao programa, de modo que daqui uns meses você ainda
saiba para que ele serve. Note a correspondência entre os dados descritos nas tabelas e
os lidos pelo programa. Perceba que as unidades não são necessariamente consistentes.
Para fazer as contas lembre-se de fazer as conversões.
(i) Uma vez que a função esteja funcionando, ele gerará um par de variáveis no teu
workspace de onde é possı́vel obter todos os parâmetros medidos pelo satélite.
(j) Use informações do cabeçalho (tempo, longitudes e latitudes) para verificar se os dados
lidos fazem sentido.
(k) A seção 5 do manual te ensinará a calcular a anomalia da altura do nı́vel do mar. Ela
contém referências preciosas. Acompanhando o manual, escreva um programa que,
utilizando-se da função gdr_c_read_flag, leia o arquivo todo e obtenha a anomalia
da altura do nı́vel do mar em relação à referência dada no arquivo. Para tal, aplique as
correções necessárias.
(l) Plote a anomalia da altura em função do tempo (gráfico xy) e veja se os valores fazem
sentido, se a ordem de grandeza está coreta. Plote o valor do geóide, das marés
astronômicas de das demais correções que você estiver curioso/a para comparar o
tamanho relativo delas e da anomalia da altura. Quantifique a relação sinal/ruı́do.
115
(m) Crie um novo programa que leia todas as passagens dentro de um ciclo e monte um
mapa de longitude e latitude para visualizar a grade de dados. Dê um zoom e amplie até
que fique mais ou menos uma dúzia de pontos na tela. Note que ao longo da passagem os
pontos não se alinham perfeitamente. Estime de quantos km é esta variação na posição.
(n) Crie um mapa interpolado da anomalia da altura e responda: estamos numa época de El
Niño, La Niña ou neutra?
116
Para mapear a espessura utiliza-se radares altimétricos. O sinais penetram na camada de gelo e
são refletidos por diferentes camadas de gelo.
10.1.1 Lidar
temporal na topografia.
Um diodo laser no infravermelho próximo (1064 nanômetros) é usado para a medição da
topografia. Luz retro difundida no verde (532 nm) é utilizado para a medição de aerossóis e outras
caracterı́sticas atmosféricas. Os fótons de retorno são recolhidos em um telescópio de 1 metro
de diâmetro e o laser transmite 40 pulsos por segundo, para a superfı́cie. Os spots produzidos da
superfı́cie da Terra tem um diâmetro 70 metros e o espaçamento entre os pontos serão 175 metros,
causadas pelo movimento orbital da nave.
10.1.2 Gravı́metros
10.2 Satélites
o CryoSat.
10.2.1 ICESat
10.2.2 CryoSat
Após o lançamento, CryoSat-2 foi colocado em uma órbita baixa da Terra com um perigeu de
720 quilômetros , um apogeu de 732 km (455 mi), 92 graus de inclinação e um perı́odo orbital de
99,2 minutos. Tinha uma massa no lançamento de 750 kg (1.700 lb), e é esperado para operar por
pelo menos três anos.
1. Explique porque a melhora na obtenção de dados e modelos do geoide implica numa melhora
nas medidas de espessura da plataforma de gelo, baseadas em dados altimétricos.
122
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Laboratório de Oceanografia por Satélites/2012