A Revista Do Parafuso
A Revista Do Parafuso
A Revista Do Parafuso
Junta
De maneira bem simplificada e genérica, uma junta é constituída de três elementos
básicos, a saber: o parafuso, aquele que possui rosca externa; a contra-peça, que sofrerá
todas as forças resultantes do processo de aperto; e por último, o elemento mais
importante, a porca, aquela que possui rosca interna. Enfatizo a importância da porca,
pois em 99 % dos apertos é o elemento que possui maior resistência mecânica e muitas
vezes simplesmente ignoramos a sua presença, pois sabemos que com ela dificilmente
teremos contratempos.
Assim, uma junta nada mais é que um trio, porém cada qual com atribuições
específicas. Para visualizá-las, lanço mão de uma analogia com um trio de bossa nova
ou de jazz. Normalmente nos trios temos o piano, o violoncelo e a bateria. O piano é
responsável pela melodia e na analogia com junta, o parafuso é o responsável pela linha
melódica, pelo sucesso no aperto, pois ele é que “trabalhará”, principalmente quando se
busca uma maior força de aperto, obtida quando o aperta na região elasto-plástica.
A contrapeça (por exemplo: suportes, blocos, etc.) é responsável pela harmonia. Numa
junta, as contrapeças não podem sofrer quaisquer deformações plásticas, devem atuar
harmoniosamente com os demais componentes. Analogamente, elas são semelhantes ao
violoncelo ou baixo. Finalmente a bateria, que é responsável pelo ritmo, pela tal “batida
musical”. A porca também tem a mesma função, pois é o elemento que sabidamente
suporta qualquer carga, esta lá para o que der e vier. Não por acaso, as duas são os
componentes femininos e devemos reconhecer que as mulheres têm uma maior
capacidade para suportar as dificuldades do dia-a-dia.
Classe de resistência
O tema central deste curso é Torque, mas devemos entender que é a Força tensora que
“segura as coisas”. Cada elemento de uma junta tem uma resistência mecânica
característica e, assim sendo, existe uma classificação particular para os elementos de
fixação.
Em elementos de fixação agrupamos todas as peças que tem por finalidade fixar, e entre
estes, os mais comuns são as porcas e os parafusos. Pinos, grampos, abraçadeiras,
clipes, rebites, dentre outros, também são considerados Elementos de Fixação. Para as
porcas, a força de teste é função do diâmetro nominal e sua altura (filetes engajados).
Considerando porcas (passo normal) grau 8, isto é, porcas que não sofrem tratamento
térmico, temos os seguintes valores:
Para obter as propriedades citadas, o material (aço) para as porcas grau 8, 10 e 12
devem possuir teor médio de Carbono ou ser aço ligado. Para porcas grau 4, 5 e 6, que
não sofrem tratamento térmico, o aço pode ser baixo Carbono. Com relação aos
parafusos, a classificação da resistência segue uma terminologia particular. Quanto à
classe de resistência de parafusos, os mesmos são identificados como: 4.8, 5.8, 6.8, 8.8,
10.9 e 12.9.
Os parafusos 4.8, 5.8 e 6.8 não sofrem tratamento térmico. Já os parafusos 8.8, 10.9 e
12.9 precisam de tratamento térmico (têmpera e revenimento). Existe também a classe
9.8, que não é mais utilizada em projetos novos, por estar em fase de extinção em
algumas montadoras. A melhor maneira de entender esta terminologia é utilizar um
exemplo e daí extrair a regra operante. Se pegamos um parafuso com classe de
resistência 8.8, o que significam estes números?
Para as classes de resistência 8.8, 10.9 e 12.9 o oço deve ser Médio Carbono ou Aço
Ligado.
Força Tensora
Conhecendo-se a classe de resistência de um parafuso e a partir dos seus fatores
geométricos, é possível calcular a capacidade de geração de Força que se pode obter do
mesmo. Tomando como exemplo um parafuso M12 x 1,5, classe 10.9, vimos que a
Resistência à Tração (LRT) está entre 1.040 a 1.220 MPa, valor nominal 1.000 MPa, ou
seja, o limite superior da classe 10.9 nada mais é do que o limite inferior da classe
imediatamente acima, no caso 12.9.
Considerando o Limite de Escoamento, temos respectivamente que este parafuso
começa a escoar entre 82,4 kN e 96,7 kN. Lembrar que estes valores referem-se a Força
Axial (tração pura). Num processo de aperto, temos um esforço combinado, pois
simultaneamente ocorrem esforços axial e torsional.
Na figura 1, podemos representar graficamente as distintas regiões de forças que se
obtém de um parafuso, considerando o seu grau de deformação
Na região denominada “elástica”, o parafuso se comporta como se fosse uma mola, isto
é, o comportamento é linear e a deformação não é permanente. Ou seja, se pararmos de
apertar, ao desapertar o parafuso retornará às suas dimensões originais. A partir de uma
certa Força, começa o processo de alongamento do parafuso e a partir deste ponto
entramos na região denominada “elasto-plástica”, isto é, o parafuso entre em zona de
deformação que não é totalmente permanente.
Ao desapertar este parafuso, o seu comprimento será maior que o original, mas ainda
não há estricção considerável. Ao final da zona elasto-plástica, chegamos à máxima
deformação permanente, pois o parafuso está nas proximidades do seu limite de ruptura,
condição inaceitável em qualquer processo de aperto.
Na figura 1 mostramos Força (kN) em função do aperto (ângulo, em graus). Nesta
condição, estamos considerando o esforço combinado tração-torção e, desta forma, os
valores de Força sofrem uma certa redução. Esta redução por sua vez é função exclusiva
do coeficiente de atrito de rôsca (μG), que nas próximas edições será explicado com
mais detalhes.
Esta equação revela que o rendimento é função inversa do coeficiente de atrito de rosca
(μG). Ou seja, quanto menor μG, maior será o rendimento. Para o parafuso M12 x 1,5
com classe de resistência 10.9, assumindo uma faixa de 0,10 ≤ μG ≤ 0,16, temos que o
rendimento variará de 86,7 % a 77,2 %, respectivamente. Assim sendo, o Limite de
Resistência à Tração, que no esforço axial era de 91,6 a 107,5 kN, agora passa a ser de a
70,7 a 93,2 kN respectivamente, contemplando o menor rendimento para a menor
Resistência à Tração e o maior rendimento para a maior Resistência a Tração.
De maneira similar, o Limite de Escoamento que situava-se entre 82,4 e 96,7 kN, agora
são respectivamente iguais a 63,6 e 83,8 kN. Estes números nos indicam qual é a faixa
de trabalho de um parafuso M12, passo 1,5 - com classe de resistência 10.9. Devemos
lembrar que o parafuso pode entrar na sua região elasto-plástica, entretanto esta
condição poderá ser inaceitável para a contra-peça.
Esquecemos de falar da porca? Como foi dito, ao utilizar um parafuso M12 com
tratamento térmico (8.8, 10,9 ou 12.9), no projeto também se especificará uma porca
M12, com tratamento térmico; neste caso, a prova de carga da porca é da ordem de
1.050 a 1.140 MPa, suficientemente capaz de resistir às Forças geradas pelo parafuso
(lembrando que a porca somente recebe esforço axial e sempre terá que ter um mínimo
de filetes engajados (geralmente 0,6 vezes o diâmetro e sua altura da ordem de 0,8 vezes
o diâmetro).
Exemplificando graficamente o que foi dito acima, podemos montar um diagrama com
os limites de deformação plástica, quer seja do parafuso, quer seja da contrapeça. De
maneira conservadora, a intersecção das linhas na região elástica nos define a máxima
Força Tensora (“Clamping Load”) que a junta pode suportar.
Na edição da Revista do Parafuso Dezembro07/Janeiro08 Ano 2 – No 7, foi apresentado
alguns conceitos fundamentais para o entendimento sobre Torque. Junta, onde deve
haver harmonia entre os elementos roscados (externa / interna) e as contra-peças; Classe
de Resistência com a sua terminologia específica; Força Tensora que através da
associação entre é possível determinar a capacidade de geração de Força, considerando
o esforço combinado tração-torção e Torque, com a apresentação de sua equação básica
TORQUE
Relembrando, a equação básica para Torque, envolvendo Elementos de Fixação é a
seguinte:
O que se espera de um Elemento de Fixação é que o mesmo gere uma Força Tensora
suficiente para atender às necessidades do projeto, isto é, um parâmetro de Engenharia.
Pela equação básica, Força é a variável independente e o Torque é a variável
dependente, ou seja, o Torque aplicado, parâmetro de Manufatura, deve corresponder à
Força requerida em projeto. Além do diâmetro nominal do Elemento de Fixação , a
equação básica apresenta um fator constante (K), conhecido como “k factor ”,
normalmente tabelado em função do material e do revestimento dos componentes da
Junta.
A equação básica permite calcular o Torque, a partir da Força Tensora, porém não
incorpora a capabilidade do equipamento a ser utilizado pela Manufatura.
Convencionalmente atribui-se que a capabilidade para equipamentos pneumáticos é da
ordem de ± 15 %, para eletro-eletrônicos ao redor de ± 5% e equipamentos por impacto
em torno de ± 35%. Graficamente podemos expressar a variação do Torque em função
da Força, tomando como eixo principal o ângulo de aperto, como mostra a figura 6
Observa-se uma mínima dispersão. O desvio padrão é da ordem de 0,14 Nm. Por este
Histograma, conclui-se que setrata de um Processo de Torque perfeitamente
confiável.Na realidade, o que é confiável é o equipamento de aperto. Como também foi
mapeado α1 e α2, torna-se possível construir um Histograma de Δα, para os 11.674
apertos, conforme mostrado na figura 9.