PeR - 1958-08 - O Escapulário e Seus Privilégios
PeR - 1958-08 - O Escapulário e Seus Privilégios
PeR - 1958-08 - O Escapulário e Seus Privilégios
1. Origem do ESCAPULÁRIO
O ESCAPULÁRIO (do latim scapulo, espádua) é uma longa peça de pano que das espáduas
desce sobre o peito e as costas de quem a traja, recobrindo a respectiva túnica.
Inicialmente servia de avental durante o trabalho manual. Muito usado entre os monges,
tornou-se uma das insígnias características das ordens monásticas e religiosas em geral.
No ano de 1642 apareceu pela primeira vez em público, por iniciativa do Pe. Provincial
João Chéron O. C., uma carta circular de Simão Stock aos religiosos de sua Ordem, carta em
que o Prior Geral referia a aparição e as palavras de Maria. Este documento teria sido
ditado pelo Santo a seu secretário, Pe. Swanyngton. Denegam fé a esse instrumento os
historiadores modernos, inclusive os Carmelitas (cf. Annales Ord. Carm. 1927 e 1929).
Ademais notam os historiadores que até o séc. XV os membros da Ordem do Carmo não
atribuíam maior importância ao uso do ESCAPULÁRIO do que os filhos de outras Ordens.
Eis o que, do ponto de vista historiográfico, se poderia dizer sobre as promessas anexas
ao ESCAPULÁRIO do Carmo.
b) Pergunta-se agora: que resulta disso tudo para a piedade dos fiéis?
Deve-se reconhecer que uma série de Papas, a partir do séc. XVI, tem favorecido o uso
do ESCAPULÁRIO do Carmo, enriquecendo-o com novas indulgências e permitindo sejam
anunciadas aos fiéis as duas promessas acima. Ao fazer isso, porém, nenhum Pontífice
intencionou dar definição dogmática sobre o assunto; os Papas apenas quiseram fazer da
piedosa crença vigente um estímulo para a piedade dos fiéis. As promessas anexas
ao ESCAPULÁRIO do Carmo, por conseguinte, ficam pertencendo ao setor das revelações
particulares, que cada cristão é livre de admitir ou não, seguindo os critérios que lhe
pareçam mais fidedignos.
Observe-se, porém, que o privilegio da boa morte (a primeira das duas promessas) jamais
poderá ser entendido em sentido mecânico, como se o uso mesmo do ESCAPULÁRIO,
independentemente do teor de vida moral do cristão, fosse suficiente para garantir a
salvação eterna. Não; o portador do ESCAPULÁRIO deverá cultivar as virtudes cristãs para
que a dita insígnia lhe possa valer como penhor de especial tutela de Maria SS. na hora da
morte. Foi o que o Papa Leão XIII quis inculcar, quando, ao aprovar o Ofício de S. Simão
Stock para os católicos ingleses, mandou inserir no texto respectivo uma palavrinha que
não se achava no original apresentado a S. Santidade: «Todo aquele que
morrer piedosamente trajando esse hábito, não sofrerá as chamas do inferno».
Consequentemente comenta J.-B. Terrien:
«Conservando, meus irmãos, esta palavra em vossos corações, esforçai-vos por assegurar
vossa eleição mediante boas obras e por jamais desfalecer; vigiai em ação de graças por
tão grande benefício; orai incessantemente a fim de que a promessa a mim comunicada se
cumpra para a glória da SS. Trindade,e da Virgem sempre bendita» (cf. Bento XIV, De festis
B. V. c. VI § § 7-8).
Neste documento chama a nossa atenção, de um lado, o fato de não serem mencionadas
nem a aparição da SS. Virgem nem a bula de João XXII «Sacratissimo uti culmine»; de outro
lado, verifica-se que, independentemente desses tópicos, a Santa Sé aprecia a fidelidade
ao ESCAPULÁRIO do Carmo, mencionando especial proteção de Maria para os
verdadeiros devotos do mesmo (o que certamente exclui o porte meramente mecânico de
tal insígnia); o documento, porém, não fala de libertação do purgatório no primeiro sábado
após a morte, preferindo a fórmula mais geral; «especial proteção». — Como quer que seja,
a idéia de sábado no purgatório teria que ser entendida em sentido largo ou translato,
visto que a sucessão de dias da semana só pode ser critério na terra, onde o tempo é
medido pelo movimento dos corpos; no purgatório há apenas almas separadas de seus
corpos.
Bibliografia
A. Michel, Scapulaire, em «Dictionnaire de Théologie Catholique* XIV 1, Paris 1939, 1254 9).
K. Bihilmeyer, Skapulier, em Lexikon für Theologie und Kirche IX 617.
N. Paulus, Geschichte des Ablasses im Mittelalter II. 1923.
Berlinger-Steinen, Les indulgences. Paris 1925.