Ômegas Na Nutrição de Cães e Gatos
Ômegas Na Nutrição de Cães e Gatos
Ômegas Na Nutrição de Cães e Gatos
Outubro/2009
ÔMEGAS 3 E 6 NA NUTRIÇÃO
DE CÃES E GATOS
Introdução
Atualmente, muitos conceitos e princípios da nutrição humana têm sido utilizados em dietas para animais de companhia. Os
recentes avanços na indústria de pet food no Brasil e no mundo têm gerado grandes necessidades de pesquisa no que diz respeito
a nutrição que tem tentado garantir aos proprietários e/ou criadores de cães e gatos, características tais como: longevidade, pele
saudável e pelos brilhantes, diminuição de odor das fezes, controle do tártaro, entre outras características relacionadas a saúde e
bem estar animal.
Um exemplo da aplicação de produtos já empregados em alimentos para humanos é a utilização dos lipídeos em alimentos para
cães e gatos. Estes nutrientes atuam como palatabilizantes, e são fontes de ácidos graxos essenciais além de serem carreadores
de vitaminas lipossolúveis.
A ênfase maior tem sido verificada no que diz respeito aos estudos que demonstram a importância de certos ácidos graxos, que
atuam em processos dematológicos, bem como, pela importante associação entre determinados ácidos graxos poliinsaturados e o
desenvolvimento do sistema nervoso.
Definições
Um ácido graxo é constituido de uma cadeia hidrocarbônica com um grupo carboxílico terminal em pH fisiológico, o grupo
carboxílico terminal (-COOH) se ioniza, tornando-se -COO-. A cadeia hidrocarbônica tem característica hidrofóbica e o grupo
carboxílico ionizado é hidrofílico. Isso confere ao ácido graxo sua natureza anfipática (hidrofílico e hidrofóbico). Contudo, quanto
maior é a cadeia hidrocarbônica, maior é sua hidrofobicidade e insolubilidade em meio aquoso (Champe & Harvey, 2000).
O grau de saturação é a forma de classificação mais tradicionalmente usada, na qual a presença ou o número de duplas ligações
entre os átomos de carbono é o que determina a saturação do ácido graxo. Ácidos graxos saturados não apresentam dupla ligação
no esqueleto de carbono (Pontieri, 2005).
Ácidos graxos insaturados são aqueles que apresentam uma ou duas ligações entre os átomos de carbono, sendo denominados
monoinsaturados (uma dupla ligação) ou poli-insaturados (mais de uma dupla ligação). Os ácidos graxos poli-insaturados (AGP) se
classificam, principalmente, nas séries ômega 6 (ω-6) e ômega 3 (ω-3), que se diferenciam na posição da primeira dupla ligação,
contando desde o grupo metílico terminal da cadeia do ácido graxo (Dziezak, 1989; citado por Gómez, 2003).
Ácidos graxos essenciais são aqueles sintetizados em quantidades inferiores aquelas que o metabolismo necessita (Bauer,
2009).
Os ácidos linoléico (AL) e α-linolênico (ALA), considerados essenciais, podem ser elongados até cadeias de 20 ou 22 carbonos.
O ácido linoleico pode ser metabolizado em outros ácidos graxos ω6, incluindo os ácidos γ-linoleico, dihomo-γ-linoleico e
araquidônico (AA). O ácido α-linolenico é metabolizado em outros da série ω3, entre eles o eicosapentaenoico (EPA) e o
docosahexaenoico (DHA). Este processo metabólico é mediado pelas enzimas chamadas elongases e dessaturases, as quais
participam na formação dos AGP, ω3 e ω6, resultando em uma competição metabólica entre os dois grupos (Salem, 1999).
Um excesso de ácido linoleico vai impedir a transformação do α-linolênico em seus derivados EPA e DHA. O mesmo acontecerá
no caso contrário, com um menor consumo do ácido linoleico haverá uma diminuição da formação do ácido araquidônico. A
concorrência entre os ácidos linoleico e α-linolênico está Tabela 1 - Resumo das funções dos ácidos graxos
determinada pela afinidade da enzima 6 dessaturase por poli-insaturados essenciais e condicionalmente essenciais
ambos ácidos graxos. Como a enzima tem maior para gatos e cães em diferentes estágios de vida.
especificidade pelos ácidos graxos ω3, precisará de
Gatos Cães
menores quantidades destes ácidos que dos ω6 para Nutriente
Cresc. Adulto Gest./Lact. Cresc. Adulto Gest./Lact.
produzir a mesma quantidade de produto (Madsem et al.,
n-6
1999). Isto significa que deve existir uma proporção maior LA
de ácido linoleico que de α-linolênico. Portanto, é AA
necessário ter um equilíbrio entre o aporte dos dois ácidos n3
graxos através da dieta. ALA
EPA*
De modo geral, a via metabólica predominante no DHA*
metabolismo dos ácidos graxos essenciais em mamíferos,
está representada na figura 1. E: ácido graxo essencial
C: ácido graxo condicionalmente essencial para o respectivo
ÔMEGA 6 ÔMEGA 3 estágio de vida.
Ácido linoleico Ácido linoleico Rec: Recomendado, mas não há requerimento específico.
(18:2) (18:3) (*)Muitas fontes de ácidos graxos de cadeia longa contém EPA e
6 Dessaturase
DHA; EPA não deve exceder 60% do total de EPA+DHA.
Ácido - linolenico Fonte: adaptado de Bauer (2009).
(18:4)
(18:3)
Elongase
Relação entre ômega 6 e ômega 3
Dihomo - linolenico
(20:4)
(20:3)
5 Dessaturase A relação entre os ácidos graxos ω6 e ω3 nos tecidos
Araquidônico Eicosapentaenoico animais pode ser manipulada por meio da dieta e assim
(20:4) (20:5) influenciar na resposta inflamatória da pele dos animais.
Elongase Para que se tenha uma melhor atuação dos ácidos graxos
(22:4) (22:5) poliinsaturados é importante que ocorra uma relação ótima
Elongase
entre estas séries.
(22:4) (24:5)
Segundo Reinhart et al. (1996), uma razão ω6:ω3 é
6 Dessaturase
entre 5:1 e 10:1 pode reduzir significativamente os quadros
(24:5) (24:6)
Oxidação peroxismal
pruriginosos. Vaugh et al. (1994), determinaram uma razão
Docosapentaenoico Docosahexaenoico ótima entre ω6:ω3 de 10:1 a 5:1 para cães adultos, enquanto
(22:5) (22:6) Wander et al. (1997) estudando cães idosos, encontraram
Figura 1 - Vias metabólicas das séries 6 e 3. diminuição significativa de prostaglandina E2 (PGE2)
Fonte: Adaptado de Salem (1999). somente com a razão ω6:ω3 de 1,4:1.