São Luís - MA: Cultura, Poder, Política e Mídia
São Luís - MA: Cultura, Poder, Política e Mídia
São Luís - MA: Cultura, Poder, Política e Mídia
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São Luís – MA: cultura, poder, política e2 mídia
Sílvio Rogério Rocha de CASTRO 3
Wanderson Ney Lima RODRIGUES
Universidade Federal do Maranhão, São Luís - Maranhão
RESUMO
Este artigo faz um ligeiro resgate da múltipla diversidade cultural de São Luís, capital do
Maranhão, evidenciando a presença de uma série de elementos que caracterizam a cidade como
uma sociedade isolada, marcada profundamente pela ação de longos mandonismos, com um
controle quase que absoluto dos meios de comunicação. O título de Patrimônio da Humanidade e
as manifestações culturais próprias da sociedade maranhense são abordados.
1. INTRODUÇÃO
Sede da capital maranhense, a Ilha de São Luís integra a Aglomeração Urbana de São
Luís, da qual fazem parte ainda os municípios de Paço do Lumiar, São José de Ribamar e
Rapoza. Localiza-se a dois graus ao sul do Equador, concentrando-se bem ao centro do extenso
litoral maranhense, entre as Baías de São Marcos e de São José, formadoras do Golfão
maranhense, separando-se do continente pelo Estreito dos Mosquitos.Fundada pelos franceses
em 1612, tomada pelos portugueses em 1615, invadida mais tarde pelos holandeses em 1641 e
retomada, definitivamente, pelos portugueses em 1644, São Luís é hoje a mais portuguesa das
capitais brasileiras. Seu nome deveu-se á homenagem prestada por seus fundadores, os capitães
Daniel de La Touche e François de Razilly, em honra à memória do rei francês Luís XVIII.
Contando com uma população atual estimada em um milhão de habitantes, São Luís é
a única capital brasileira que não nasceu portuguesa, ainda que seja uma das poucas cidades do
Brasil que, curiosamente, tornou-se a mais lusitana e que “guarda relíquias imensuráveis, de uma
beleza incalculável, através de uma arquitetura colonial sem igual, onde cada traço, cada vitral,
cada azulejo é uma obra de arte exposta em um dos maiores museus ao ar livre do mundo “
(REIS, 1999, p.32). São Luís é a capital brasileira mais portuguesa: à riqueza do acervo
arquitetônico erguido pelos portugueses, o maior e mais homogênio da América Latina, deve-se
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hoje o título de Patrimônio Histórico da Humanidade , concedido à cidade pela Unesco , no final
de 1997.
Com quase quatro séculos de existência, São Luís permanece envolta em lendas e
mistérios, que a sombreiam desde os seus primeiros anos. Contam alguns que ao redor da Ilha,
submersa nas águas, haveria uma descomunal serpente, sempre a crescer, enquanto dorme, até
que um dia sua cauda alcance a cabeça. Nesse dia, o monstro reunirá todas as suas forças e,
produzindo rugidos ensurdecedores, soltando enormes labaredas pelos olhos e pela boca,
abraçará a Ilha com estupenda força e, com fúria diabólica, a arrastará para as profundezas do
mar, provocando seu completo desaparecimento, afogando, de maneira trágica, todos os
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habitantes da cidade . Diz a lenda que na praia do Olho D’Água, depois de perder seu grande
amor para Iara (Mãe D’Água), a filha do chefe indigena Itaporama chorou copiosamente até
morrer à beira-mar. Dos seus olhos surgiram duas nascentes que até hoje correm para o mar.
Com a ajuda dos santos, reza a lenda que São João Batista foi quem ajudou os portugueses a
expulsarem definitivamente os holandeses do Maranhão. Já Nossa Senhora da Vitória, um pouco
antes, foi a heroína na batalha pela expulsão dos franceses do Estado. Ela foi vista entre as tropas
de Jerônimo de Albuquerque animando os soldados o tempo todo e, com sua mão milagrosa, a
santa transformava areia em pólvora e seixos em projéteis.
O Maranhão se apresenta inserido nesta nova ordem capital, reitera Carvalho (2002),
como emergente pólo turístico (edificações históricas restauradas, deslumbrantes manifestações
populares de cultura, florestas, campos, praias e seqüências de dunas: Lençóis Maranhenses, uma
das mais impressionantes paisagens brasileiras) com forte apoio estatal, além de pólos dinâmicos
como o complexo minero-metalúrgico de Carajás (rodovia com cerca de 900 km, cujos vagões
desembarcam o minério de ferro da serra dos Carajás, no sudeste do Pará, para o porto do Itaqui,
em São Luís, riqueza que vai para a Europa, para o Japão e para o consumo mundial), expressivo
segmento da indústria de papel e celulose e, no sul do Estado, modernas áreas produtivas de
agricultura de soja. Neste cenário, a exclusão social e a pobreza se acentuam, assumindo nova
amplitude, com a vulnerabilidade do trabalho. É uma economia que se revela excludente e
fragmentada de ajustes.
A rigor, São Luís encarna, com contornos singularesm e certa peculiaridade, a lógica
da maioria das cidades do Nordeste, onde predomina uma política de caráter conservador e ricos
mecanismos de coerção, cooptação, controle e comando, que pode ser explicado tanto pelo atraso
sócio-econômico do Maranhão, quanto pela relevãncia da mídia como investimentop políco. A
partir da atividade de produção, transmissão e recepção de significados de formas simbólicas
(meios de informação e comunicação), atividade fundamental na vida social, os políticos
detentores destes emios explicitam seu poder, que no seu sentido mais geral pode ser entendido
como “a capacidade de agir para alcançar os próprios objetivos ou interesses, a capacidade de
intervir no curso dos acontecimentos e suas conseqüências” (THOMPSON, 1998, p.21). Na
produção de formas simbólicas, estes indivíduos se servem destas e de outras fontes para realizar
ações que possam intervir no curso dos acontecimentos com resultados os mais diversos. No
Maranhão essa capacidade se expressa através de um controle exarcebado de todos os aparatos
de poder, principalmente os poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, crinado uma espécie de
mandonismo estruturado contínuo. Deve-se considera assim que, na correlação entre o campo
político e midiático maranhense, as intervenções dos meios de comunicação institucionalizados
gerenciam a visibilidade dos conteúdos sociais a partir do perfil dos seus interesses. Os meios de
comunicação de massa são explorados ao máximo, impregnando o dia-a-dia do cidadão, criando
um modelo concentrador, excludente, acessível apenas a alguns setores das classes dominantes,
num controle quase que absoluto. É quando se anuncia a reinvenção mentirosa do passado, as
omissões, as análises distorcidas, as meias-verdades e a má-vontade diante dos fatos. A
comunicação aparece como poder autocrático subordinado apenas aos interesses particulares de
alguns empresários e políticos.
Em São Luís, para não dizer no Maranhão, há pela clase política um controle quase
que absoluto dos meios de comunicação. A família Sarney, grupo político dominante no Estado,
é dona do Sistema Mirante de Comunicação, mais poderosa máquina de comunicação local,
afiliado à Rede Globo, formado por dezenas de emissoras de rádio AM e FM, canais de televisão
e pelo jornal O Etado do Maranhão, de maior circulação, que abocanham grande parte das
verbas publicitárias oficiais e privadas. Outras dezenas de veículos de comunicação estão nas
mãos de aliados políticos do grupo, os quais também são beneficiados na distribuição de recursos
publicitários e, como aqueles, são veículos freqüentemente utilizados como instrumento de
publicização da opinião dominante. Assim, explícita ou implicitamente, a postura destes veículos
não é de neutralidade e a identificação e compreensão das formas diferenciadas com que se
pratica a parcialidade são desafios que se colocam para pesquisas futuras. Desta forma,
contemporaneamente, o campo da mídia de São Luís adquire um caráter estruturador e mediador
de vivências, fundamental para o campo da política, com capacidade de selecionar ou agendar
temáticas, ou mesmo supervalorizá-las. A sua utilização se constitui em instrumento maior para a
comunicação entre os políticos e seu eleitorado, pautando os pleitos, potencializando suas
candidaturas, construindo cenários, edificando e consolidando discursos. Aqueles que tentam
funcionar de forma independente, enfrentam dificuldades finceiras ou sofrem boicotes na
distribuição dos recursos destinados a campnhas públicas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se, assim, um conjunto complexo e articulado de componentes dos campos
sociais, econômicos, políticos e culturais no Maranhão, principalmente em São Luís,
intrisecamente relacionados ao campo midiático, uma vez que o controle direto ou indireto da
mídia por grupos políticos de poder parece legitimar as desigualdades, numa inalterabilidade das
políticas de comunicação herdadas historicamente. Poder que não representa, essencialmente, os
interesses de uma geração cultural, mas que demonstra ser uma expressão contraditória aos
interesses sociais. Evidentemente, é uma experiência regional, localizada e efetiva, que reflete
condições históricas, e vem sendo determinada por fatores que possam coincidir com os de
outras regiões e cidades do país. Daí ser de interesse nacional que, sob uma consciência crítica
coletiva, a partir de posionamentos imediatos e contundentes, deverá se fazer mobilizações de
forças vivas da sociedade civil, a fim de possibilitar a conjunção do direito á cidadania,
negociação e representação política e estabilidade social, condizentes com os interesses e as
necessidades das nossas culturas.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Maria M. Marcas que desafial o tempo: o bumba-meu-boi.... São Luís : [s.n.],
1995.
COSTA FILHO, Odylo. Folclore brasileiro – Maranhão. Rio de janeiro: Salamandra, 1979.
FERRETI, Sérgio et alli. Tambor de crioula: ritual e espetáculo. São Luís:Sioge, 1979.
__________ . Querebetan e zomadomu: etnografia da Casa das Minas. São Luís: Edufma,
1985.
1 Trabalho apresentado no Endocom – Encontro de Informação em Comunicação, evento componente do XXXI Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Doutor em Ciãncias da Comunicação (ECA/USP), [email protected].
3 Especialista em Jornalismo Cultural (UFMA), [email protected].
4 O Brasil possui 19 patrimônios da humanidade, divididos em três categorias: cultural (monumentos ou locais com
expressivo valor histórico), natural (àreas, formações físicas e geológicas e habitats de espécies animais ou vegetais)
e imaterial (práticas, expressões, conhecimentos e técnicas recionhecidas por uma comunidade).
5 Unesco: Organização das Nações Unidas para a Educação , a Ciência e a Cultura.
6 Ludovicense: aquele que nasce em São Luís do Maranhão.
7 Lenda da Serpente de São Luís.