Anfibio - Interativo PDF
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39 - 20
ISSN 2358-4394 - V.39 - 2021
O CORPO DE FUZILEIROS
NAVAIS DO AMANHÃ
2021 • O ANFÍBIO 1
SUMÁRIO
Editorial - Nossa Capa ......................................................................................................................................................................02
Nossa Casa: A Fortaleza de São José da Ilha das Cobras ................................................................................................04
A Carta - Memória de Nossos Fuzileiros.....................................................................................................................................10
O Fuzileiro Naval do Amanhã ........................................................................................................................................................14
Texto Editorial Introdutório sobre Melhorias na Higidez, Mulher no CFN e Novo Itinerário Formativo..........14
Mulheres no CFN ...............................................................................................................................................................................20
Melhoria na Higidez do Combatente ........................................................................................................................................26
Itinerário Formativo ..........................................................................................................................................................................36
PROADSUMUS ....................................................................................................................................................................................44
O Combatente 4.0 - Preparando o Futuro do CFN..............................................................................................................62
As opiniões emitidas nos artigos deste periódico são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento ou
atitude do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, a não ser que assim esteja expressamente declarado.Todos os trabalhos aqui publicados são de
caráter gratuito. É permitida a reprodução total ou parcial das matérias. Solicita-se a citação da fonte e a remessa de um exemplar da publicação.
NOSSA CAPA
“O Corpo de Fuzileiros Navais do tos. No que concerne ao Corpo de Fuzi-
Amanhã” é o tema da 39ª edição do pe- leiros Navais (CFN), podemos destacar
riódico “O Anfíbio”, que aborda, por meio os meios e instalações aprimorados com
de diversos artigos escritos por militares o PROADSUMUS, em toda a sua extensão
convidados, os iminentes movimentos de temporal, até o ano 2040.
evolução institucional ou aqueles que es- O militar da capa, trajando o novo Ca-
tão em implementação. muflado Multipropósito, com um Carro La-
No âmbito da Marinha do Brasil, fa- garta Anfíbio ao fundo, representa o ama-
zem parte de seu amanhã os submarinos nhã do CFN com o nosso maior patrimônio,
da classe Riachuelo, as fragatas classe que são os nossos militares, em melhores
Tamandaré, o Sistema de Gerenciamento condições de cumprir suas demandas, por-
da Amazônia Azul, dentre outros proje- tando equipamentos de última geração.
Curiosidade:
O Tamandaré foi uma canhoneira blindada construída para a Armada Imperial Brasi-
leira durante a Guerra do Paraguai em meados da década de 1860. Ela atacou as fortifica-
ções e bombardeou posições paraguaias bloqueando o acesso aos rios Paraná e Paraguai.
Na época do Encouraçado Tamandaré, o Batalhão Naval ficou conhecido como “O
Encouraçado de Pedra” e, por derivação, a Fortaleza de São José, como “Pedreira”.
N
Operação Dragão. Naquele ano, a Força Tare- aliado ao país que nos atacava. Dessa forma,
fa Anfíbia realizou uma tradicional Operação fiquei ocupando posições na sede da Comis-
aquele feriado de finados de 1980, jo- Anfíbia no litoral da Bahia, em Porto Seguro. O são Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
vens alunos do Colégio Naval se voluntariaram Grupamento de Fuzileiros Navais de Salvador, (CEPLAC), situada a meio caminho entre Porto
para passar aqueles memoráveis dias no Bata- Comandado pelo então CF (FN) Vitorazo, com- Seguro e Eunápolis.
lhão de Operações Especiais de Fuzileiros Na- pôs o figurativo inimigo, recebendo, para tal, re- No dia 04 de dezembro, a Operação Dragão
vais, o Batalhão Tonelero, para conhecerem um forço da Força de Fuzileiros da Esquadra, como transcorria como planejado. O helicóptero do fi-
pouco de suas atividades. a 3ª CiaFuzNav do Btl Humaitá, cujo Pelotão de gurativo inimigo passou por cima de minha po-
Estávamos cursando o terceiro ano e já Petrechos era comandado por mim, e um Des- sição com o Santos Pereira sentado à porta da
“boiava” no horizonte a silhueta da majestosa tacamento de Operações Especiais, comandado aeronave. Ele, ao me avistar no solo, acenou de
Villegagnon, nossa Escola querida. Na ocasião, pelo então CT (FN) G.Barros e mais dois Oficiais, maneira vigorosa. Tínhamos acertado uma cele-
sabia no fundo de minha alma que escolheria o um deles o jovem Guerreiro de Selva, 2º Tenente bração para o seu aniversário de 25 anos, que se-
Corpo de Fuzileiros Navais, certeza essa que tra- (FN) Santos Pereira. ria alguns dias depois, mais precisamente no dia
zia no coração havia dois anos. Esse sentimento Dessa forma, o destino nos unia mais uma 09 de dezembro. O que eu não sabia, porém, é que
não era um privilégio meu, pois outros colegas vez. Passamos um mês na região de Porto Se- aquele seria meu último contato com ele e que
também acalentavam esta certeza, em parti- guro, preparando as Posições Defensivas e seu aceno, na verdade, seria um gesto de adeus.
cular dois amigos: o Santos Pereira e o Santos aprofundando as linhas de defesa, onde o Co- Um acidente, no transcurso dessa ação, lhe tirou
Barbosa. Com esses dois, tive a oportunidade de mandante Vitorazo julgava ser o local escolhi- a vida. O Ten Santos Pereira deixou o plano físico
fortalecer os laços de amizade, após os bancos do pela Força atacante, por englobar os Objeti- para juntar-se às fileiras do Arcanjo Miguel.
escolares, na lide diária dos Batalhões. igual semelhança àqueles que habitam os pín- vos da Força de Desembarque. Vez por outra, o A Operação Dragão foi encerrada antes do
A visita ao Btl Tonelero se revestia de um caros do Olimpo. destacamento de Operações Especiais passava previsto. Assim, retornamos aos nossos Bata-
significado especial, pois seria uma espécie de Como em todo feriado de finados, a chuva, por nossas posições em sobrevoo de reconhe- lhões para o encerramento do ano. Não havia
confirmação da nossa escolha pelo CFN e da como previsto na instrução de bivaque, veio nos cimento, com o helicóptero da Força Aeronaval, o recesso administrativo de final de ano, mas
forte aspiração de sermos integrantes, em anos lavar a alma. Na manhã do dia seguinte, para que também compunha o nosso figurativo. sempre se celebrava esse período com uma
vindouros, do seleto grupo dos Operadores Es- aproveitamento de nossas fardas molhadas, fo- Próximo ao Dia-D, possível data do Assalto grande festa para toda a tripulação.
peciais do Corpo de Fuzileiros Navais. A chega- mos para o Tanque Tático, onde “deitamos e ro- Anfíbio, assumimos as posições, aguardando o Após o falecimento do Santos Pereira, me
da ao Batalhão Tonelero se deu no final da tarde lamos” no Tonelero. Tivemos instruções de con- desembarque dos Grupamentos de Desembar- aproximei ainda mais de seus pais, Nélson e
do dia 31 de outubro, uma sexta feira. O Cmte do duta de patrulha, escalada militar no Carapuçu,
Batalhão à época, o então CF (FN) Montenegro, armamento, diferença entre acantonar e bivacar,
aguardava-nos com seus Oficiais no prédio do preparação de caça e, quando percebemos, já es-
Comando e nos deu boas-vindas de forma pe- távamos no ônibus de volta para o Colégio Naval,
culiar e impactante. Guarnecemos o solo ten- no domingo, saudosos de nossos banhos frios.
tando alterar o movimento de translação da Aquele evento marcou nossas vidas. Eu, San-
Terra, empurrando-a várias vezes. Quando as tos Pereira e Santos Barbosa estávamos certos
tentativas se mostraram infrutíferas por parte de que tentaríamos fazer parte daquele lendário
dos alunos, ele gentilmente nos apresentou aos grupo de Comandos Anfíbios.
seus Oficiais recém-formados no Curso Espe- Tempos depois, estávamos vivendo o ano de
cial de Comandos Anfíbios (CesComAnf-80/1), 1986. Éramos jovens 2º Tenentes FN, servindo na
Tenentes Honório, Ribeiro Afonso e Ivson. Esses Divisão Anfíbia – eu e Santos Pereira no 2º BtlInf
Oficiais, de forma fraterna, didática e fidalga, (Humaitá) e Santos Barbosa no 1ºBtlInf (Ria-
nos apresentaram, no decorrer dos três dias, às chuelo) – para cumprir o ciclo de adestramento
diversas instruções programadas, a começar e depois buscar nosso ideal, o Batalhão Tone-
por uma noite de bivaque no Marapicu. Como lero. No primeiro semestre, Santos Pereira fora
tudo tinha uma razão e um porquê, os Oficiais selecionado para cursar, no Centro de Instrução
tinham em mente que deveríamos ser ungidos de Guerra na Selva, o curso de Guerra na Selva,
pelos deuses que habitam aquelas alturas, de sendo transferido para o Batalhão Tonelero ao
A
mente, mas sim buscar demovê-lo de sua von-
tade de combater, explorando suas fraquezas
psicológicas através de uma guerra de baixa
constante evolução dos conflitos intensidade e de longa duração.
armados vem, gradativamente ao longo da Essa contínua evolução de cenário se cons-
história, elevando o nível de exigências que titui em fator determinante para que o Corpo
o combatente deve atender para assegurar a de Fuzileiros Navais (CFN) aprimore constan-
sua sobrevivência no Campo de Batalha. Neste temente a formação e a capacitação de seus
sentido, os conflitos armados de “4ª Geração”1 militares, a fim de proporcionar melhores con-
constituem um grande desafio para o soldado dições para que enfrentem os novos desafios
de hoje, pois tais conflitos são geralmente en- que irão compor o Teatro de Operações do futu-
tendidos como formas evoluídas de insurreição ro. Para tanto, o CFN vem desenvolvendo uma
que utilizam todas as redes disponíveis, sejam série de ações, das quais podemos destacar: a
elas políticas, econômicas, sociais ou militares, atualização do itinerário formativo para Oficiais
para convencer os decisores inimigos de que os e Praças, o aprimoramento da capacitação físi-
seus objetivos estratégicos são inalcançáveis ca de seus militares e uma maior exploração
ou demasiados custosos, quando comparados das qualidades da mulher na constituição de
com os benefícios percebidos (Hammes, 1994). suas fileiras.
Dessa forma, depreende-se que, ao contrário
Itinerário Formativo
Introdução A trajetória
D esde o ingresso pioneiro da primeira
turma de militares do sexo feminino na Marinha
das mulheres
na Marinha do
do Brasil (MB), na década de 1980, as mulheres
vêm ganhando espaço em diversos setores da
Força Naval. Neste contexto, este artigo tem
Brasil
I
como objetivo apresentar inicialmente a traje-
tória percorrida pela mulher, com o foco na MB
e, mais especificamente, no Corpo de Fuzileiros
Navais (CFN), e também a perspectiva futura em nicialmente, devemos entender como se
virtude da ampliação da participação feminina deu o ingresso das mulheres na MB. Partindo do
neste setor, incluindo o incentivo internacional pressuposto que na década de 1980 o país passa-
realizado pela Organização das Nações Unidas va por uma mudança social, incluindo o aumento
(ONU) por meio da sua Resolução 1325/2000. da participação feminina no mercado de trabalho
de uma maneira geral, a MB procurava, naquela
época, mão de obra especializada para atender
a demanda do setor administrativo e, principal-
mente, na área da Saúde, devido à inauguração
do Complexo Naval de Saúde (área do atual Hos-
pital Naval Marcílio Dias) devido à necessidade
de suprir a Instituição com recursos humanos
para as Organizações Militares para realização Figura 1 – Na função de músico executante na Banda do CPesFN
A
condição de agência na MINUSTHA. São Paulo,
2021.
inserção feminina no CFN contri- COSTA, Major Ivana Mara Ferreira. A presença de
buiu para a transformação do ambiente dentro mulheres militares na MINUSTAH: contexto, ex-
das Organizações Militares e proporcionou um pectativas e repercussões. Doutrina Militar Ter-
novo ponto de vista. No entanto, ainda existe a restre em revista. Jan-Mar/2018
necessidade de dar continuidade ao trabalho já CSNU, Conselho de Segurança das Nações Uni-
Figura 4 – Como Oficial de Assuntos Civis - 25º Contingente do GptOpFuzNav no Haiti em 2017
realizado, visando à conscientização das tropas das, Resolução 1325/2000 de 31 de outubro de
para a inserção das mulheres em todos os níveis, 2000. Disponível em: https://undocs.org
seguem atingir os níveis exigidos para servir no militar. Em razão disso, a Força deverá realizar principalmente no que tange à inserção de mili-
setor operativo. as devidas adaptações para atingir, até 2030, tares do sexo feminino nas Unidades Operativas DANTAS, Stela da Rocha de Medeiros. Mulheres
Após a conclusão do Curso de Especialização 27% de suas tripulações de mulheres, conside- em um futuro próximo. O objetivo é desfazer a vi- e Forças Armadas: uma análise da participação
em Guerra Anfíbia fui designada para participar rado um percentual adequado. são que se tem das mulheres de acordo com os feminina nas Forças Armadas Brasileira. João
do 25º Contingente do GptOpFuzNav no Haiti, no Apesar da Resolução 1325/2000 das Nações estereótipos de fraqueza física e a sua vocação Pessoa, 2018.
qual exerci a função de Oficial de Assuntos Civis Unidas não ter uma ligação direta com a inser- maternal como uma limitação na carreira militar. ORICHIO, Ana Paula; SANTOS, Tânia Cristina; FI-
e de Comunicação Social. Adquiri experiência ção das mulheres na MB e no setor operativo, o (DANTAS, 2018) Logo, este artigo buscou traçar LHO, Antônio J. de; LOURENÇO, Lúcia H.S.C. Mu-
vivenciando na prática com as ações de bus- clamor internacional da participação feminina um esclarecimento sobre a participação femini- lheres para a Marinha do Brasil: Recrutamento e
ca de informações, que futuramente serviriam em todos os setores e a necessidade do envio na na MB e especificamente no CFN, destacando Seleção das primeiras oficiais enfermeiras.
em proveito das missões realizadas na Área de de mulheres militares para as Missões de Paz a relevância dessa abertura e também como foi
Operações do GptOpFuzNav. Naquele momento, sob a égide da ONU culminou na necessidade de ZUCATTO, Giovana. Implementação e desafios à
importante essa ampliação no tocante à questão
observei a grande importância da participação preparar mulheres para as funções de combate Agenda Paz Mulheres e Segurança na América
de integração dentro da Força Naval.
feminina nas Operações de Paz, facilitando a e também para realizar ações relativas à pacifi- do Sul, Horizontes do Sul. 2020
aproximação com a população local, o que, por cação. Ao reconhecer mulheres como agentes
conseguinte, facilitou o processo de manuten- tanto nos conflitos armados, tanto na paz, o do-
ção da paz. cumento prevê ações efetivas sobre perspec-
Para direcionar o ingresso das mulheres, tiva de gênero e reforça a inclusão mandatória
especificamente no setor operativo, a Portaria de mulheres nos componentes militares nas
244/2020 do Comandante da MB foi elaborada Missões da ONU. (ZUCATTO, 2020) Inseridas nes-
para estabelecer as diretrizes para aperfeiçoar se contexto, a MB realiza ações para incentivar
a incorporação e a integração da mulher nos mulheres para participar nas Operações de Paz
meios operativos. A Portaria enfatiza que as em vigor, destacando-se o Estágio de Operações
ações para essa integração sejam fundamen- de Paz para Mulheres, o qual é realizado no Cen-
tadas no princípio de igualdade e não discrimi- tro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo e
nação por conta do sexo, respeitando também a também incentiva o ingresso como combaten-
dignidade pessoal e dentro do trabalho de todo tes para que estejam habilitadas a contribuir
U
pela excelência, atributos enaltecidos nas prá-
ticas de jogos e das atividades físicas que eram
uma importante atividade do gentleman inglês,
m dos objetivos da prática regular do que ora encontravam-se em Waterloo coman-
treinamento físico é a obtenção da higidez físi- dando as tropas vitoriosas.
ca dos militares, especialmente para atuarem Ainda sobre o contexto histórico, progra-
Figura 3 – Treinamento em
no contexto operativo, estando em permanente mas de treinamento físicos foram orientados
navio
prontidão para operar a qualquer momento e em para a necessidade física do período específi-
Essas necessidades são numerosas e ocupam iniciais após a sua interrupção. todas as condições climáticas e ambientais, sen- co de cada guerra, e o seu sucesso dependeu
grande parte da vida dos indivíduos, como, por Esse retorno ocorre na mesma velocidade do o seu desleixo fator grave para o cumprimento da quantidade de tempo que foi disponibiliza-
exemplo, as necessidades emocionais e sociais. da aquisição, ou seja, aquilo que se ganhou rapi- da missão institucional das Forças Armadas. do para preparar fisicamente os combatentes
É um processo em longo prazo que é pro- damente é perdido também, ao passo que aqui- Poucos militares são fisicamente aptos para para as condições das batalhas. Muitas vezes,
gressivo e considera as necessidades e as ca- sições realizadas lentamente, em um período os árduos deveres que os aguardam em com- as mortes nos momentos iniciais foram atri-
pacidades individuais da pessoa. O processo prolongado, são mantidas com mais facilidade e bate e as comodidades da civilização moderna, buídas à incapacidade dos combatentes de re-
pode ser planeado e programado porque segue desaparecem com mais lentidão. aliadas às dificuldades de se obter um ótimo sistir fisicamente aos rigores do combate em
determinados princípios do treino. Para elabo- Essa definição de Barbanti remete ao pen- condicionamento, tornam a higidez física ainda terreno acidentado e em condições climáticas
rar um programa de treinamento, dentre todos samento de que, nas fases iniciais de trabalho, mais importante. desfavoráveis. Com uma preparação adequada,
os princípios do treino, três são de fundamental principalmente com novos alunos, a base deve A despeito da importância da higidez física os combatentes sempre suportaram melhor os
importância: ser construída lentamente e com uma grande para a eficiência militar em combate, podemos testes da batalha.
• Princípio da Adaptação; diversidade de gestos motores, incluindo ativi-
• Princípio da Reversibilidade; e dades coordenativas, posturais etc.
• Princípio da Especificidade. Outro princípio importante relacionado ao
Podemos praticar a atividade física em va- processo de treinamento é o chamado princípio
riados locais, como quadras, campos, ruas e da especificidade. Sobre ele, Dantas afirma que:
compartimentos; basta saber adaptar o tipo de
atividade para o local a ser praticado. Nos dias o princípio da especificidade é aquele que impõe,
como ponto essencial, que o treinamento deve
atuais, a falta de um local ideal não serve como
ser montado sobre os requisitos específicos da
desculpa para a falta ou ausência de atividade performance desportiva, em termos de qualida-
física. Existem variados materiais para auxi- de física interveniente, sistema energético pre-
liar no desenvolvimento da prática, como cone, ponderante, segmento corporal e coordenações
corda, cabo de vassoura, bola dentre outros. Até psicomotoras utilizados (DANTAS, 1995).
mesmo o próprio peso corporal pode ser utiliza-
do para o desenvolvimento da prática da ativi- De acordo com esse princípio, o treinamen-
dade física. to deve se desenvolver principalmente sobre os
O princípio da reversibilidade guarda a se- sistemas do organismo que predominam na ati-
guinte ideia: “o que não se usa, perde-se”. Se- vidade realizada pelo atleta, ou seja, nos espor-
gundo Barbanti (2010), esse princípio assegura tes de resistência, a capacidade aeróbia é a que
que as alterações corporais obtidas com o trei- prevalece em aproximadamente 90% do tempo,
namento físico sejam de natureza transitória. enquanto os 10% restantes pertencem aos ou-
Assim, as mudanças funcionais, morfológicas tros sistemas. Em outras palavras: o conteúdo
e de desempenho das capacidades físicas ad- específico da carga de treino produz adaptações
quiridas com o treinamento retornam aos níveis específicas. Figura 4 – Batalha de Waterloo
Conclusão
Após as singelas orientações acima, pode-
mos nos certificar de que os exercícios físicos
modulam o Sistema Nervoso Central, aumen-
tando nossa capacidade de fazer novas cone-
xões (plasticidade neural), inibindo impulsos,
contribuindo com criatividade, empatia, regula-
ção emocional, além de aumentar indicadores
de inteligência e de planejamento.
Dessa forma, a condição física do militar é
essencial para a manutenção da saúde, a efi-
ciência do seu desempenho profissional e da
funcionalidade em combate. A tomada de deci-
são diante de imprevistos e a segurança da pró-
pria vida dependem, em muitas situações, direta
P
Escola Naval (EN) ou do Curso de Formação de
Oficiais (CFO). Entretanto, todos têm a carreira
pautada pelos mesmos cursos de carreira, e se-
ara a Marinha do Brasil, vocaciona- guem o mesmo itinerário formativo, o qual, de Figura 2 – Itinerário Formativo Oficiais CFN
da para a formação de homens e mulheres que forma similar às Praças, pode ser aprimorado
atuarão para garantir a nobre missão de defen- com a realização dos Cursos Complementares co, sendo esse último executado para aprofun- Há, ainda, para o Oficial do CFN, a possibili-
der a Pátria, a expressão “itinerário formativo” (BRASIL, 2019c). Quando o militar é nomeado ao dar os estudos em áreas de interesse para a For- dade de conduzir a sua carreira por meio de uma
representa a formação básica de ensino que é posto de 2º Tenente, o primeiro curso do itine- ça Naval. O módulo operativo do C-ApA-CFN SP vertente mais acadêmica, através da realização
proposta para cada militar desde o seu ingresso rário formativo do Oficial é o Curso de Aperfei- foca, principalmente, nos conhecimentos dou- de cursos de Pós-Graduação. Atualmente, além
na Força até a sua última capacitação de carreira çoamento de Guerra Anfíbia e Expedicionária trinários para o exercício operativo de cargos e dos Cursos de Qualificação Técnica Especial
realizada, seja como Oficial ou Praça. Essa for- (C-Ap-GAnfE), que visa atualizar e ampliar os funções em Estados-Maiores de Unidade (Nível (C-QTE), existe a possibilidade de realizar Mes-
mação básica, em virtude das transformações conhecimentos de todos os Oficiais Fuzileiros Batalhão) e Grupamentos Operativos de Fuzilei- trado Profissional, de forma a aprofundar os
e evoluções necessárias no sistema de ensino Navais para o exercício das funções de caráter ros Navais (GptOpFuzNav) até o nível de Unidade conhecimentos adquiridos no C-ApA-CFN SP, a
e dentro de uma trilha de aprendizagem (BRA- operativo até o nível de Subunidade (BRASIL, Anfíbia (UAnf), e tem ênfase no caráter expedi- partir do Programa de Pós-Graduação em Estu-
SIL, 2018b), poderá ser suplementada, de modo 2019b). Após o C-Ap-GanfE, uma pequena parce- cionário das Forças de Fuzileiros Navais, visando
a atender às necessidades e aos interesses da la dos Tenentes conta ainda com a possibilidade adequar a capacitação à velocidade da evolução
Administração Naval, sendo efetivada por meio de optar pela Aviação Naval, por meio da reali- da doutrina militar no nível tático de condução
de cursos especiais e expeditos, resultando des- zação do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da guerra. O módulo acadêmico, por outro lado,
ta forma no incremento do itinerário formativo Aviadores (CAAVO). é conduzido segundo três linhas de pesquisa:
(AGUIAR; DOPCKE; MENDONÇA, 2018). Em seguida, é realizado o Curso de Aperfeiçoa- Estratégia e Relações Internacionais; Gestão de
mento Avançado de Oficiais do Corpo de Fuzileiros Sistemas Complexos; e Desempenho do Com-
Navais Semipresencial (C-ApA-CFN SP), destina- batente. Ainda como Capitão-Tenente, o Oficial
do ao aprimoramento operativo nos assuntos afe- FN realiza o Curso de Estado-Maior para Oficiais
tos ao seguimento do estado da arte em termos Intermediários (C-EMOI), proposto a preparar os
de planejamento militar e aprimoramento cien- militares dessa faixa de antiguidade para o de-
tífico nas áreas de interesse da Administração sempenho de comissões de caráter operativo e
Naval (BRASIL, 2019a). É realizado no último ano administrativo com ênfase no Planejamento de
do posto de 1º Tenente, em sua fase a distância, e Operações Navais (BRASIL, 2021b), com foco em
no primeiro ano de Capitão-Tenente, em sua fase trabalho de Estado-Maior. Figura 3 – C-Ap-GAnfE realizando Exercícios no
presencial. O curso possui também uma exten- Terreno (ET)
são no nível de pós-graduação, e é implementado
Figura 1 – C-Ap-GAnfE em adestramento com
em dois módulos: um operativo e outro acadêmi-
CLAnf
O
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
culo [do] Curso de Assessoria em Estado-Maior
para Suboficiais Fuzileiros Navais (C-ASEMSO-
s itinerários formativos do Corpo de -FN). Rio de Janeiro: DEnsM, 2021a.
Fuzileiros Navais podem ser compreendidos
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
como um roteiro de capacitação voltado para
culo [do] Curso de Estado-Maior para Oficiais
a formação continuada e segura dos militares
Intermediários (C-EMOI). Rio de Janeiro: DEnsM,
combatentes. Em outros termos, é a descrição
2021b.
de percursos formativos que um militar poderá
cursar, possibilitando sua qualificação para fins _______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
de prosseguimento de estudos ou inserção no culo [do] Curso de Estado-Maior para Oficiais
mundo do trabalho e exercício profissional. Superiores (C-EMOS). Rio de Janeiro: DEnsM,
De certo, os itinerários devem ser organiza- 2021c.
dos de forma intencional e sistemática, estru- _______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
turando ofertas educacionais que possibilitem culo [do] Curso de Formação de Soldados Fuzi-
ao militar uma trajetória de formação coesa e leiros Navais (C-FSD-FN). Rio de Janeiro: DEnsM,
contínua, capaz de orientar o aprofundamento 2021d.
de aprendizagens e o desenvolvimento de ha-
bilidades que assegurem o enfrentamento das ________. Plano de Carreira de Oficiais da Mari-
inúmeras problemáticas contemporâneas. Des- nha (PCOM). 9ª Revisão. Comandante da Mari-
ta forma, o itinerário formativo mostra-se como nha, Brasília-DF. 2019c.
uma ferramenta, que, se bem utilizada, pode _______. Plano de Carreira de Praças da Marinha
contribuir para a excelência na qualificação e no (PCPM). 1ª Revisão. Comandante da Marinha,
desenvolvimento de competências no CFN. Brasília-DF. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº
Bibliográficas
formativos conforme preveem as Diretrizes
Nacionais do Ensino Médio. Brasília-DF. 2018b.
Disponível em: <https://www.in.gov.br/mate-
BRASIL. Marinha do Brasil. Diretoria-Geral do ria/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/
Pessoal da Marinha. DGPM-101 - Normas para o id/70268199> Acesso em: 14 jul. 2021.
Sistema de Ensino Naval (SEN) -. 8ª Revisão. Rio MENDONÇA, Luiza de S. F.; AGUIAR, Natália M.
de Janeiro: DGPM, 2018a. C. B.; DOPCKE, Rosa Neira. Sistema de Ensino
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currícu- Naval: uma experiência na prática do ensino por
lo [do] Curso de Aperfeiçoamento Avançado de competências. Rio de Janeiro, Revista Marítima
Oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais (C-ApA-C- Brasileira (RMB) , v.10, n. 30, p. 638-660, set./dez.
FN). Rio de Janeiro: DEnsM, 2019a. 2018.
O
racionais. Nesse diapasão, o CFN de hoje já pos-
sui inegável valor estratégico, fruto das capaci-
dades e características desenvolvidas ao longo
Poder Naval, parte integrante e indis- de sua história. Uma força estratégica deve pos-
sociável do Poder Nacional, deve estar em con- suir estruturas flexíveis e versáteis, ser dotada
dições de aproveitar as oportunidades de apli- de grande mobilidade estratégica e ter capaci-
cação da Diplomacia Naval e de atuar na defesa dade de pronta resposta em situações nas quais
da soberania, do patrimônio e dos interesses na- a rapidez e a oportunidade constituam fatores
cionais. A partir de sua Identidade Estratégica e preponderantes para seu emprego, dentro ou
seus Objetivos Navais, e estabelecidas as res- fora do território nacional.
pectivas Estratégias Navais e Ações Estratégi- Nesse sentido, os Grupamentos Operativos
cas Navais (AEN) necessárias para alcançá-los, de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), por se tra-
advém a necessidade da MB de desenvolver um tarem de forças anfíbias, expedicionárias e le-
conjunto de capacidades para constituir-se em ves, necessitam de sistemas de combate com
uma Força moderna, aprestada e motivada, com- alta confiabilidade, atendendo a estritos requi-
posta por meios, pessoal e material compatíveis sitos operacionais e preferencialmente já testa-
PROADSUMUS 2021-2040: com os desafios identificados ao longo do seu
processo de planejamento estratégico. Assim,
dos por outras Forças Armadas.
A sistemática dos programas estratégicos
Combate do CFN
Programas Estratégicos. buindo para a eficiência do investimento es-
Figura 1 – Fuzileiros Navais realizam Movimento Navio-para-Terra a bordo de Carros Lagarta Anfíbios
C
ções em qualquer terreno, sendo especialmente
indicados para as operações anfíbias. Os lotes
om a abordagem sistêmica e de substituir meios prioritários, com vida útil a se anuais, incluindo veículos de transporte não es-
planejamento a longo prazo visualizada para encerrar nesse período. Em todos os contratos, pecializado, Munck, cisternas de água e combus-
o PROADSUMUS, ocorreu, no início de 2020, a o CMatFN sempre buscará atender aos precei- tível, frigoríficas e basculantes, serão recebidos
alocação inicial de recursos ao Subprograma, tos da melhor Gestão de Ciclo de Vida dos no- de 2021 a 2027. Dessa forma, serão substituídas
permitindo ao Comando do Material de Fuzi- vos meios, para garantir-lhes a sustentação da as atuais viaturas UNIMOG 2000, que estão no
leiros Navais (CMatFN) delinear as necessi- capacidade operacional ao longo de suas vidas acervo da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE)
dades e firmar os contratos necessários para úteis. Para tanto, serão previstos cursos para desde 2000. Figura 7 – Viatura UNIMOG 5000
a obtenção dos meios visualizados, sempre a operação e manutenção dos meios, sobres-
com os indispensáveis apoios do Setor Opera- salentes, ferramentais, instalações ou outros
tivo e dos Comandos do Pessoal de Fuzileiros
Navais e do Desenvolvimento Doutrinário do
itens de infraestrutura necessários.
Com os recursos ora alocados ao PROADSUMUS,
• Sistemas de Armas Leves (SAL)
CFN, no âmbito do Setor CGCFN. Desta forma, há uma diversa gama de equipagens e equipamen-
alguns contratos já se concretizaram ou es- tos cuja obtenção está encaminhada para manu- O CMatFN negocia a obtenção de diversos arma, equipamentos de aquisição de alvos (óp-
tão em fase final de negociação. Além disso, tenção do acervo operativo do CFN, em plena SAL, compostos de fuzis de assalto e de preci- ticos e optrônicos), acessórios (ex.: punho, ban-
já existem submetas do PROADSUMUS com condição de emprego. A seguir, serão listados são, metralhadoras, morteiros e armas anticar- doleira, bipé, trilhos etc.) e a variedade de mu-
recursos aprovados a médio/longo prazo, para os itens de maior vulto já previstos: ro (mísseis e lança-rojões), a fim de manter a nições que podem ser utilizadas. Entre os SAL
prontidão e capacidade expedicionária do CFN. cuja obtenção foi planejada no PROADSUMUS,
Os SAL são constituídos pela integração da destacam-se:
• Viaturas Blindadas Leves Sobre
a) Morteiros Médios de 81 mm e Leves de 60 mm
Rodas 4x4
Estão sendo prospectadas soluções, no mer-
Em 05 de outubro de 2020, foi celebrado, junto mento sendo entregue às Forças Armadas dos cado nacional e exterior, de sistemas que pos-
ao Governo dos EUA, um contrato para a obten- EUA, e que incorpora elevados ganhos tecnoló- suam a capacidade de emprego das munições
ção, por Foreign Military Sale (FMS), de um sis- gicos, para atender às demandas operativas da com alcance estendido, viabilizando o enga-
tema composto por doze Viaturas Blindadas Le- atualidade. A obtenção desses meios garante jamento de alvos em alcances maiores que os
ves Sobre Rodas 4x4 Joint Light Tactical Vehicle um elevado grau de versatilidade e flexibilidade atualmente no acervo do CFN. Entre os novos
(JLTV), fabricadas na Oshkosh Defense daquele ao CFN, ampliando sua prontidão operacional e recursos desses sistemas, pode-se citar a previ-
país, com entregas previstas entre 2022 e 2026. O sua capacidade de projeção de poder em áreas são de emprego de computador balístico portá-
aumento das ações realizadas pelos GptOpFuzNav de interesse estratégico nacional, particular- til em cada peça e de novos recursos optrônicos
em ambiente urbano, em Operações Anfíbias, de mente em operações em áreas urbanas. para o engajamento de alvos em condições de
Garantia da Lei e da Ordem ou de Paz, e a neces- visibilidade reduzida.
sidade de que disponham de proteção blindada
indicaram a necessidade de obtenção de uma
classe de viaturas sobre rodas que fossem blin-
dadas, porém mais leves e menores que as do
tipo Piranha, já disponíveis no CFN desde a dé-
cada de 2000. A estação de armamento dessas
viaturas possui sistema de giro elétrico, mecâni-
co e suporte multifuncional para metralhadoras
Calibre 7,62 mm, .50 e 40 mm (MK19). Figuras 8 e 9 – Morteiros Médios de 81 mm e
A Viatura Blindada Leve JLTV é um projeto Figura 6 – Viatura Leve Blindada Sobre Leve de 60 mm
de última geração na tecnologia militar, no mo- Rodas JLTV
• Baterias de Obuseiros
A fim de manter a artilharia de campanha do
CFN sendo capaz de aplicar seus fogos, com ra-
pidez e precisão, em uma larga faixa do terreno,
garantindo, assim, o apoio de fogo contínuo e
cerrado aos GptOpFuzNav, estuda-se a obten-
ção de novas Baterias de Obuseiros. O inventário Figuras 25, 26 e 27 –
atual do CFN conta com Baterias de Obuseiros Sistema MICLIC para
com calibre de 105mm e 155mm. Com a evolução abertura de brechas pelo
tecnológica dos sistemas de armas, estuda-se a método explosivo
conveniência da manutenção dos dois calibres
ou a propriedade da padronização em um único
tipo de obuseiro, como o de 155mm abaixo apre-
Figura 23 – Obuseiro 155mm sentado, utilizado nas Forças Armadas dos EUA.
• SIC2MB • SARP
Adquirido em março de 2017 pelo CFN junto comando e controle. Está prevista para 2021 a Em 2020, os ensinamentos advindos do con- maneira similar aos Esquadrões de Helicópteros
à empresa Elbit Systems de Israel, este Sistema entrega de viaturas pesadas UNIMOG 5000, que flito entre a Armênia e o Azerbaijão, na região de de Emprego Geral. No âmbito da defesa antiaé-
constitui-se de quatro Módulos: Gerenciamen- receberão equipamentos do Sistema. Prevê-se Nagorno-Karabakh, ressaltaram a atual impor- rea contra ARP, deverão ainda ser aprofundados
to do Campo de Batalha, Comunicações, Dire- ainda, para breve, a prontificação do Centro de tância do emprego de Aeronaves Remotamente os estudos quanto ao emprego da guerra eletrô-
ção de Tiro de Artilharia e Guerra Eletrônica. Treinamento no CIASC. Pilotadas (ARP), tanto para missões de reconhe- nica nessa atividade.
Os equipamentos vêm sendo entregues desde Além dos equipamentos adquiridos no con- cimento como para ataque. À luz de exemplos
2018, quando começaram a ocorrer a capacita- trato acima citado, o CMatFN conduz estudos como a evolução doutrinária no USMC, que levou
ção de pessoal e os testes de campo. O ano de para que, futuramente, da mesma forma dos ao emprego de ARP em apoio aos diversos níveis
2020 marcou o término da preparação das via- sistemas prioritários mencionados no item an- de comando, de Grupos de Combate às Forças
turas, do atual acervo, que receberão os equi- terior, seja encaminhada à administração naval de Desembarque, esse assunto gerará segura-
pamentos veiculares, incluindo-se no contrato uma proposta de aprimoramento e ampliação mente estudos quanto ao possível planejamen-
a revitalização ou militarização de 28 viaturas do escopo do SIC2MB, em prol do desenvolvi- to no âmbito do PROADSUMUS. Tais estudos de-
leves, além da instalação da infraestrutura nes- mento completo das capacidades anfíbias e ex- verão ser integrados com a nova capacidade que
sas e nas viaturas blindadas especializadas de pedicionárias do CFN. a MB adquiriu em 2020, com a aquisição do SARP
ScanEagle (categoria 2 – esclarecimento), que,
podendo operar a partir de bordo ou terra, com-
porá novo Esquadrão da Força Aeronaval, cujas
tarefas incluirão o apoio aos GptOpFuzNav, de
Figura 32 – DARP ScanEagle
Figura 33 – DARP empregado pelo USMC para Figura 34 – MADIS (“Marine Air Defense Integrated
pequenas frações System”) – Sistema em desenvolvimento pelo
USMC que visa combinar artilharia antiaérea
Figura 30 – Diagrama esquemático do SIC2MB com medidas de ataque eletrônico
N
senvolvimento, com o propósito de ser lançado a
partir da plataforma do Sistema ASTROS em uso
pelo CFN e Exército Brasileiro, concebido para
levar 200 kg de carga bélica convencional a uma o âmbito do PROADSUMUS, algumas tanto no campo de delineamento de áreas e ins-
distância de até 300 km, realizando bombardeio Unidades Operativas do CFN mereceram, nos úl- talações como quanto à necessidade de pessoal
de área. Sendo um míssil, e por conseguinte cor- timos anos, atenção especial no tocante às suas para tanto.
rigindo sua trajetória rumo ao alvo previamente necessidades de alterações organizacionais ou Quanto a instalações de OM operativas do
estabelecido, poderá, aos moldes de experimen- de adequação e construção de instalações, à luz CFN, continuam ainda os trabalhos para cons-
tos já conduzidos por outros países, ser lançado da constante evolução doutrinária e tecnológica, trução das novas instalações do BtlDefNBQR-
a partir de viaturas posicionadas nos conveses bem como das oportunidades de melhoria veri- -ARAMAR, com previsão de ocupação pela OM
abertos de navios anfíbios, conferindo ao Poder ficadas com o passar das operações e adestra- ao final de 2024, bem como o planejamento para
Naval brasileiro nova capacidade de projeção Figura 35 – Simulação do lançamento do MTC- mentos realizados. A seguir, serão apresentados futura ativação do BtlDefNBQR-ITAGUAÍ, previs-
de poder sobre terra, com as forças navais a 300 de uma viatura do Sistema ASTROS aspectos relevantes desse contexto. ta para 2029. Tais OM não são abrangidas pelo
grande distância do litoral. Em versões futuras, Ressalta-se que, além das Organizações PROADSUMUS, e sim pelo Programa Nuclear da
a AVIBRAS intenciona que o míssil atinja alvos Militares (OM) abaixo mencionadas, seguem os Marinha (PNM) e PROSUB, respectivamente, por
móveis, como navios. estudos atinentes à futura ativação do Grupa- estarem inseridas no escopo desses programas.
O sucesso do MTC-300 colocará o Brasil no mento de Fuzileiros Navais de Santos (GptFNS),
seleto grupo de países detentores da capacida-
de de desenvolvimento de mísseis de cruzeiro,
elevando ainda mais seu poder dissuasório no
entorno estratégico nacional. A inclusão deste
meio no PROADSUMUS atenderia também ao Novas Instalações do Batalhão de
PEM 2040, no tocante à AEN FORÇA NAVAL – 10,
ao apoiar o desenvolvimento, pela Base Indus-
trial e Tecnológica de Defesa nacional, de um
Comando e Controle (BtlCmdoCt)
E
projeto com alto conteúdo tecnológico e de Figura 36 – Viatura HIMARS do USMC realizando
aquisição restrita no exterior. lançamento de foguete a partir de bordo
m decorrência da aquisição do SIC2MB, tacionamento do acervo ampliado de viaturas, o
que contempla grande acervo de equipamentos alojamento da tripulação e os trabalhos do Es-
e viaturas de comunicações, comando e controle tado-Maior do Batalhão e de suas companhias
e guerra eletrônica, cuja guarda e manutenção operativas.
cabe ao BtlCmdoCt, e em decorrência, também, A liberação das instalações do atual aquar-
da previsão de ativação de uma Companhia de telamento da Unidade possibilitará, ainda, a am-
Guerra Eletrônica e uma Companhia de Inteli- pliação da área ocupada pelo Centro de Instru-
gência, foi decidido, em 2019, que seriam cons- ção Almirante Sylvio de Camargo, OM onde será
truídas novas instalações no Complexo Naval instalado um centro de treinamento do SIC2MB.
da Ilha do Governador (CNIG). Tais instalações As atividades preparatórias à construção já se
irão contemplar as necessidades específicas de iniciaram e a previsão de prontificação das ins-
armazenamento dos novos equipamentos, o es- talações é para 2028.
À
(BtlDefNBQR), subordinado ao Comando da
luz da aquisição de CLAnf da 3ª ge-
ração, previamente mencionada neste artigo, foi
trutura, necessários para a operação da nova 2ª
Companhia de Carros Lagarta Anfíbios, com os
Tropa de Reforço (ComTrRef)
O
decidido, em 2020, realizar a adequação de ins- 23 CLAnf recentemente recebidos. As atividades
talações do Batalhão de Viaturas Anfíbias, bem preparatórias à construção também já se inicia-
como a obtenção de simuladores, equipamen- ram e a previsão de prontificação dessas instala-
Setor CGCFN vem estudando a or- envolvidas. Tais mudanças tiveram os seguintes
tos para manutenção e outros itens de infraes- ções é para 2024.
ganização das OM do CFN envolvidas na ativi- aspectos motivadores:
dade de DefNBQR. Já no III Simpósio do CFN, • o incremento da demanda de atuação da
em 2015, foi identificada a necessidade de uma MB nos setores nuclear e biológico, através da
E
do BtlEngFuzNav, e extinção da Companhia de • a identificação natural da CiaApDbq com a
Apoio ao Desembarque (CiaApDbq) como OM, missão do BtlEngFuzNav (tarefas afetas à mobi-
que passa a ser subunidade do BtlEngFuzNav. lidade e uso comum de equipamentos de enge-
m decorrência do III Simpósio do CFN Estudos já delinearam a área a ser ocupada Com isso, o BtlDefNBQR passou a ocupar, em nharia), retornando a uma organização já adota-
em 2015, o CGCFN conduziu estudos visando pro- pelo BtlCmbAe no CAeNSPA, bem como o cro- 2021, o aquartelamento da antiga CiaApDbq, da no passado e de eficácia comprovada.
por melhorias para contribuir para a ampliação nograma físico-financeiro de tal transferência, sem acréscimo de cargos no somatório das OM
das capacidades operacionais do Componen- estando apenas no aguardo da futura alocação
te de Combate Aéreo dos GptOpFuzNav. Dessa de recursos para a formalização do planejamen-
forma, foi decidido, em 2020, alterar o nome do
então Batalhão de Controle Aerotático e Defe-
to e mudança.
Conclusão
C
sa Antiaérea para Batalhão de Combate Aéreo
(BtlCmbAe); alterar o Comando da Unidade,
que passou para o posto de CMG (FN); alterar
sua subordinação, passando a ser diretamente omo grande resultado positivo do ano de material para incrementar ou manter o poder
subordinada ao ComFFE, além da decisão de de 2020, a MB elevou, no âmbito do Programa de combate do CFN.
transferir a OM para o Complexo Aeronaval de de Construção do Núcleo do Poder Naval, o in- O desafio que se apresenta na administração
São Pedro da Aldeia (CAeNSPA). cremento e a manutenção do poder de combate do PROADSUMUS, de agora em diante, é articu-
A decisão pela transferência de sede para do CFN, por meio do PROADSUMUS, ao patamar lar a gestão de curto prazo, normalmente com
o local onde está a Força Aeronaval visa pos- estratégico de subprogramas como o PFCT e o alterações no planejamento decorrentes de im-
sibilitar maior integração entre os meios que PROSUB. O PROADSUMUS passou a constar, no previsíveis mudanças nas prioridades orçamen-
compõem a Defesa Aeroespacial Ativa (Meios âmbito estratégico, como uma AEN específica tárias, ao planejamento de médio e longo prazo,
Aéreos e de Defesa Antiaérea) da MB, otimizar no PEM 2040 e, no âmbito orçamentário, como em que são necessários criteriosos estudos que
o adestramento do BtlCmbAe (principalmente MPM do tipo programa. embasem a busca das aprovações para os de-
na operação de SARP e no controle aerotático) No ano citado, o CFN logrou estruturar o sembolsos julgados prioritários ao CFN. Dessa
e realizar rápidos deslocamentos das baterias PROADSUMUS, inseri-lo na doutrina em vigor da forma, os GptOpFuzNav poderão manter-se em
antiaéreas, por aeronave de transporte, quando MB, delinear prioridades, realizar o seu planeja- plenas condições de responder às demandas
necessário o emprego tempestivo na defesa de Figura 38 – Em amarelo, área no CAeNSPA mento inicial até 2040 e adequá-lo às demandas que o Estado brasileiro lhes apresentar, provan-
estruturas estratégicas. destinada ao BtlCmbAe da Gestão Estratégica da Força quanto à previ- do sempre seu caráter naval, anfíbio e expedi-
são e execução orçamentária, coletando, em pa- cionário por excelência.
ralelo, informações sobre novas possibilidades
P
Essas Áreas Temáticas abrangem toda a da carga do combatente, material balístico, uni-
A
reparar a Força Naval para a incerteza Desenvolvimento (P&D) para os combatentes Na Automação, consideram-se as linhas de
que os diversos cenários prospectivos indicam é anfíbios deve ter claramente definida a meta de pesquisa pertinentes a sistemas autônomos,
um exercício perene de inteligência e prospec- se multiplicar o poder de combate dos Grupa- aéreos e navais, enquanto na Letalidade e Fo-
ção tecnológicas que visam a identificar conti- Estratégia de Ciência, Tecnologia e mentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOp- gos Expedicionários, os mísseis antissuperfície
nuamente as necessidades de modernização, Inovação (CT&I) da Marinha do Brasil, estabelece FuzNav) a serem projetados sobre terra para a (terrestres e marítimos), negação de espaço aé-
ou substituição dos meios e equipamentos que sete Áreas Temáticas (AT) de CT&I, seus objeti- execução de operações e ações de guerra naval, reo a drones, neutralização de minas terrestres
compõem seu acervo material. vos e subáreas e linhas de pesquisa, definindo o atividades de emprego limitado da força e be- e artefatos explosivos improvisados, além de
Nesse sentido, o presente artigo pretende termo AT como os conjuntos de temas de inte- nignas. Apenas para efeito de organização dos armas de energia.
apresentar o “Combatente 4.0”. Este projeto, ao resse que possuam características comuns do esforços internos ao CFN, essa gama de interes- Para facilitar a integração de seus esforços
mesmo tempo, integra e apoia-se no Sistema ponto de vista de sua aplicação pelos Setores ses pode ser agrupada nos seguintes campos: de CT&I com o SCTMB, o CFN estruturou-se
de Ciência e Tecnologia da Marinha do Brasil Operativos e do Material, quais sejam: Sistemas - Comando e Controle; com duas Organizações Militares que compõem
(SCTMB), capitaneado pela Diretoria Geral de de Comando, Controle, Comunicações, Compu- - Logística Anfíbia e Expedicionária; o SCTMB como Instituições de Ciência e Tec-
Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Ma- tação, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento - Automação; nologia (ICT): o Centro Tecnológico do Corpo de
rinha (DGDNTM), que é um dos gigantes cujos (C4ISR); Defesa e Segurança Cibernéticas; Meio - Letalidade e Fogos Expedicionários; Fuzileiros Navais (CTecCFN), que coordenará os
ombros permitirão o Corpo de Fuzileiros Navais Ambiente Operacional; Nuclear e Energia; Plata- - Desempenho do Combatente; e esforços de P&D do CFN, sob a orientação téc-
(CFN) enxergar mais longe e reduzir seus hiatos formas Navais, Aeronavais e de Fuzileiros Navais; - DefNBQRe. nica do Centro Tecnológico da Marinha no Rio de
tecnológicos. Desempenho do Combatente; e Defesa Nuclear, O campo de Comando e Controle abrange Janeiro (CTMRJ); e o Centro de Educação Física
tanto as linhas de pesquisa relativas a um siste- Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), voltado
ma C4ISR anfíbio e expedicionário, passando por para a AT de Desempenho do Combatente.
rádio definido por software (RDS); inteligência O CFN dispõe também de alguns laboratórios
artificial empregada nos campos da inteligên- criados para atender a demandas específicas.
cia; recursos humanos e logística; simulação O mais antigo deles, o Centro de Simulação do
e adestramento; e processos decisórios e de Corpo de Fuzileiros Navais (CSimCFN), teve ori-
aprendizagem acelerados. gem no Centro de Jogos Didáticos (CJD) do Cen-
O campo de Logística Anfíbia e Expedicio- tro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo
nária está relacionado às linhas de pesquisa (CIASC), ainda em 1990, e por meio do qual de-
4.0
toramento de dados biométricos presentes em
sua vestimenta também serão compartilhados
O
com a central de Comando e Controle, para que
sejam analisadas em tempo real as suas con-
dições fisiológicas, oferecendo uma avaliação
principal projeto a integrar O Com- individualizada e oportuna (on-the-fly) do de-
batente 4.0, constituindo sua espinha dorsal, é o sempenho operacional em relação ao estado de
“Combatente do Futuro”, cuja primeira fase já se saúde e capacidade de atuação.
encontra em andamento. Seu objetivo geral é de- A ICT/CEFAN participará no desenvolvimen-
senvolver um sistema capaz de monitorar con- to do algoritmo de “stress coletivo”, que será um
dições operativas dos combatentes, de forma a dos produtos entregáveis nessa primeira fase
acompanhar o desempenho deles durante uma do projeto, enquanto a ICT/CTecCFN assessora-
determinada missão, por meio do incremento da rá o IPqM na coordenação das demandas e das
consciência situacional do cenário operativo. entregas durante a condução o projeto como
Fomentado pela Financiadora de Estudos um todo.
e Projetos (FINEP) e sob a responsabilidade O CSimCFN também poderá contribuir para
do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), o o desenvolvimento do projeto. Visualiza-se que,
projeto “Combatente do Futuro”, em sua fase 1, nas fases subsequentes do projeto, sua capaci- Figura 4 – Consciência situacional
Perspectivas
será o componente terrestre do Sistema de Ge- dade de virtualizar a Área de Operações na qual encontram em fase de concepção, tais como o
renciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), que já o combate anfíbio se desenvolve poderá ser útil “Robô Expedicionário” e o “dispositivo de ponta-
funciona no Sistema de Consciência Situacional na integração do Sistema de Jogos Didáticos ria digital – Predador”. Muitos desses projetos, ao
A
Unificada (SCUA), sendo baseado na plataforma (SJD) com os ambientes de gestão do Comando se integrarem ao Combatente do Futuro estarão,
HIDRA, presente em diversos produtos e siste- e Controle compatíveis com o SisGAAz. também, sendo integrados ao SisGAAz.
mas tecnológicos desenvolvidos pelo IPqM.
perspectiva em torno do “Combaten-
te 4.0” é a de que o mesmo seja um integrador de
projetos de CT&I, de modo a abrigar grande parte
Conclusão
O
das demandas do CFN. O efeito desejado dessa
integração é concentrar esforços e fazer com as
iniciativas interajam entre si desde sua concep-
ção, e que o somatório desses projetos possa, ao “Combatente 4.0” é o projeto do CFN
final, incrementar o poder de combate e fortale- para a Marinha do Futuro. Ao apoiar-se na estru-
cer a consciência situacional dos GptOpFuzNav. tura do Sistema de Ciência e Tecnologia da MB,
Esses projetos devem, ainda, explorar tecno- garante unidade de esforços, otimização de re-
logias disruptivas, em parceria com a Academia cursos e integração com os demais projetos de
e Indústria, contando com a participação das interesse da Marinha.
ICT-MB que sejam líderes das áreas a serem Dessa forma, complementará o Programa Es-
desenvolvidas, de forma a contribuir para a re- tratégico do CFN, o PROADSUMUS, contribuindo
dução da dependência tecnológica externa de para consolidar e ampliar suas capacidades ope-
Produtos de Defesa (PRODE), e contribuir para rativas, garantindo-lhe atuar como a Força Naval
o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa de caráter anfíbio e expedicionário por excelên-
(BID). cia, contribuindo para a consecução de todas
Como exemplo atual desta integração, ci- as Tarefas Básicas do Poder Naval e, em última
Figura 3 – Robô expedicionário
tam-se os atuais projetos de pesquisa que se análise, protegendo a imensa Amazônia Azul.