Demencia Cadeirantes e Não CR X Qualidade Do Sono Dos Cuidadores
Demencia Cadeirantes e Não CR X Qualidade Do Sono Dos Cuidadores
Demencia Cadeirantes e Não CR X Qualidade Do Sono Dos Cuidadores
[T]
[A]
Gustavo Christofoletti[a], Rodrigo Luiz Carregaro[b], Merlyn Mércia Oliani[c], Florindo Stella[d],
Lilian Teresa Bucken-Gobbi[e], Sebastião Gobbi[f]
[a]
Doutor em Ciências Biomédicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento do Centro-Oeste da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS - Brasil, e-mail: [email protected]
[b]
Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), docente do curso de Fisioterapia e do Programa de
Pós-Graduação em Educação Física (UnB), Brasília, DF - Brasil, e-mail: [email protected]
[c]
Mestre em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp),
coordenadora do curso de Educação Física da Faculdade Unifadra (Unifadra), Dracena, SP - Brasil, e-mail:
[email protected]
[d]
Livre-docente pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), docente do Departamento de
Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade Humana da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), Rio Claro, SP - Brasil, e-mail: [email protected]
[e]
Livre-docente pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), docente do Departamento de
Educação Física, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Rio Claro, SP - Brasil, e-mail: [email protected]
[f]
Livre-docente pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), docente do Departamento de
Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade Humana da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), Rio Claro, SP - Brasil, e-mail: [email protected]
[R]
Resumo
Introdução: Os distúrbios neurodegenerativos representam condições clínicas graves, por provocar declínio
neuropsíquico. Objetivo: Analisar a prevalência dos distúrbios neuropsiquiátricos em pacientes com demên-
cia, em relação à sua locomoção (independentes vs. dependentes), e no que se refere ao desgaste emocional e à
qualidade do sono dos cuidadores. Materiais e métodos: Participaram do estudo 34 sujeitos, assim divididos:
dez pacientes independentes para locomoção e sete dependentes (cadeirantes); dez cuidadores dos pacien-
tes independentes e sete cuidadores de pacientes dependentes. Os sujeitos foram avaliados no Ambulatório
Abstract
Introduction: The neurodegenerative disorders represent serious clinical conditions, causing neuropsychiat-
ric decline. Objective: To evaluate the prevalence of neuropsychiatric disorders in subjects with dementia,
with respect to their locomotion (independent versus dependent ones) and to the caregivers’ distress and sleep
quality. Materials and methods: Thirty-four subjects participated in this study: ten independent locomotion
patients and seven dependent ones (using wheelchair); ten carers of the independent locomotion patients and
seven related to those that use wheelchairs. The subjects were recruited in the Clinic of Neurosciences and
Mental Health of the Elderly of the State University of Campinas. The CAMCOG was used to evaluate patients’
cognitive function; in order to quantify the frequency, intensity, emotional and physical distress of caregiv-
ers, the Neuropsychiatric Inventory was applied. Changes in the sleep were evaluated by means of Mini-Sleep
Questionnaire. For comparisons of scores between the instruments, the Mann Whitney U and the Spearman co-
efficients index were applied, with a significant level of 5%. Results: There were differences among irritability
disorders (p < 0.05) as well as the total score of frequency and intensity of neuropsychiatric disorders (p < 0.01).
Still, there were differences between the caregivers groups, in respect to sleep disorders (p < 0.05). Conclusion:
Independent locomotion patients presented a lower prevalence of neuropsychiatric disorders, compared to the
dependent ones. Findings suggest that motion does not influence the level of physical and emotional exhaustion
of the caregiver. Nevertheless, it can be considered a relevant variable for sleep quality.
[K]
Quadro 1- Características demográficas e clínicas da amostra, distúrbios neuropsiquiátricos do paciente, nível de desgas-
te e alterações do sono do cuidador
Paciente Cuidador
GA GB GA1 GB1
Tamanho amostral 10 7 10 7
Idade (anos) 74,7 ± 2,2 76,7 ± 1,4 46,7 ±5,5 51,8 ± 2,2
Escolaridade (anos) 1,2 ± 0,5 0,7 ± 0,2 9,6 ±1,2 6,0 ± 2,2
CDR 3,4 ± 0,5 4,7 ± 0,1 NA NA
Tempo de doença (anos) 8,3 ± 2,5 5,0 ± 1,3 NA NA
Funções cognitivas 36,4 ± 7,6 18,8 ± 7,8 NA NA
Distúrbios neuropsiquiátricos 36,3 ± 6,1 69,7± 9,0 16,0 ± 2,1 26,0 ± 3,8
Nível de atividade física 0,31± 0,1 1,13 ± 2,7 2,5 ± 0,4 3,3 ± 1,6
Alterações do sono NA NA 28,5 ± 2,7 39,0 ± 3,4
Legenda: GA = grupo de idosos independentes para locomoção; GB = grupo de idosos cadeirantes. GA1 = grupo de cuidadores de idosos
independentes para locomoção; GB1 = grupo de cuidadores de idosos cadeirantes. CDR: nível de gravidade de demência; NA =
não aplicável.
Fonte: Dados da pesquisa
Nota: Os dados foram dispostos em média e desvio padrão.
Apetite
paciente. Com relação às alterações do sono dos
C Noturnos cuidadores, diferenças importantes foram eviden-
Distúrbios neuropsiquiátricos
Assim, a prevalência de tais distúrbios no GB pare- Em conclusão, os idosos independentes para lo-
ce associada a maiores comprometimentos cerebrais, comoção apresentaram menor prevalência dos dis-
sobretudo de substância branca. Estudos apontam as túrbios neuropsiquiátricos, quando comparados a
lesões de substância branca como indicativas de acele- idosos dependentes de cadeira de rodas. A locomoção
ração do declínio cognitivo e da manifestação de eventos parece não influenciar o nível de desgaste físico e
psicóticos (21). Contudo, vale ressaltar que tal aspecto emocional do cuidador, porém trata-se de uma variá
ainda permanece em aberto, sendo uma questão con- vel relevante na qualidade do sono dos cuidadores de
troversa na literatura, especialmente na DV e DM (22). idosos dependentes de cadeira de rodas com diag-
Sbin et al. (23) analisaram a influência dos dis- nóstico de demência vascular e mista.
túrbios neuropsiquiátricos na qualidade de vida do
paciente com demência e de seus respectivos cuida-
dores. Segundo os autores, a frequência e a intensida- Referências
de dos distúrbios neuropsiquiátricos do paciente al-
teram negativamente em 20% a qualidade de vida do 1. Winter DA. Human balance and posture control dur-
paciente e 73% a percepção de qualidade de vida do ing standing and walking. Gait Posture. 1995;3:193-
cuidador. Tal resultado torna-se ainda mais expressi- 214. doi:10.1016/0966-6362(95)99069-W.
vo quando levamos em consideração que a manifes-
2. Ruchinskas RA, Singer, HK, Repetz N. Cognitive
tação deles constitui-se de aspectos multifatoriais.
status and ambulation in geriatric rehabilition:
O sono é uma atividade necessária aos processos
walking without thinking? Arch Phys Med Rehabil.
fisiológicos responsáveis pelo equilíbrio físico e men-
2000;81:1224-8. doi:10.1053/apmr.2000.6976.
tal dos seres humanos. Analisando separadamente os
dados com relação ao sono do cuidador, cerca de 14% 3. Waite LM, Grayson DA, Piguet O, Creasey H, Bennett
das alterações do sono observadas foram decorrentes HP, Broe GA. Gait slowing as a predictor of incident
da condição de dependência dos pacientes. McCurry dementia: 6-year longitudinal data from the Sydney
et al. (24) investigaram o sono de 46 cuidadores de Older Persons Study. J Neurol Sci. 2005;15:229:89-93.
idosos com demência por meio da técnica de acti- doi:10.1016/j.jns.2004.11.009.
grafia e perceberam que 88% das alterações do sono
4. Almeida OP. Manejo dos distúrbios de comportamento
vivenciadas por cuidadores relacionam-se com o ciclo
em pacientes demenciado. In: Forlenza OV, Almei-
sono-vigilía do paciente, especialmente com eventos
da OP. Depressão e demência no idoso: tratamento
de perambulação.
psicológico e farmacológico. São Paulo: Ed. Lemos;
A locomoção representa uma condição de indepen-
1997. p. 152-166.
dência importante, sobretudo em virtude da comple-
xidade do ato, que depende da integridade das vias 5. Peters KR, Rockwood K, Black SE, Bouchard R,
piramidais e extrapiramidais e de comandos cerebrais Gauthier S, Hogan D, et al. Characterizing neuropsy-
conscientes e inconscientes (25). Neste estudo, foi chiatric symptoms in subjects referred to dementia
constatada relação inversa entre locomoção e funções clinics. Neurology. 2006;66:523-8. doi:10.1212/01.
cognitivas, indicando que quanto maior a dependência wnl.0000198255.84842.06.
física, menor será o desempenho cognitivo.
6. Tran P, Schimidt K, Gallo J, Tuppo E, Scheinthal S,
De acordo com os resultados encontrados, a variá
Chopra A, et al. Neuropsychiatric symptoms and me-
vel locomoção representa benefícios tanto em rela-
dical illness in patients with dementia: an explora-
ção à prevalência dos distúrbios neuropsiquiátricos,
tory study. J Am Osteopath Assoc. 2006;106:412-4.
quanto aos aspectos cognitivos de idosos com DV.
PMid:16912340.
Diante disso, a adoção de medidas não farmacológicas
capazes de possibilitar a manutenção do aparelho 7. André C. Demência vascular: dificuldades diagnósticas
locomotor em ambos os grupos faz-se necessária, e tratamento. Arq Neuropsiquiatr. 1998;56:498-510.
assim como a multidisciplinaridade entre as ciências doi:10.1590/S0004-282X1998000300025.
humanas pode atenuar os efeitos negativos derivados
8. American Psychiatric Association (APA). Manual diag-
da restrição do ato de caminhar independentemen-
nóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-
te e dos declínios progressivos característicos das
-IV-TR. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. p. 168-77.
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geront/39.2.177. 0000192499.25940.da.
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