PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÕES E TRABALHO NO BRASIL Resumo Capítulo 15
PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÕES E TRABALHO NO BRASIL Resumo Capítulo 15
PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÕES E TRABALHO NO BRASIL Resumo Capítulo 15
As fases não eliminam a anterior. Trata-se de uma ampliação de foco, agregando novos direcionamentos
e incorporação de novas perspectivas teóricas e técnicas de intervenção.
As aplicações de testes psicológicos - exame psicotécnico - com a finalidade de selecionar
empregados, expandiram-se nas empresas ferroviárias.
Em 1925, no Recife, Ulysses Pernambuco, neurologista e psiquiatra, criou o Instituto de Psicologia de
Pernambuco, que passou a ser denominado, a partir de 1929, Instituto de Seleção e Orientação
Profissional de Pernambuco, uma organização que produziu numerosas pesquisas aplicadas
(Antunes, 1998; Pessoti, 1988).
O Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), criado em 1930, veio atender a uma
expectativa entre os empresários paulistas e serviu para treinar profissionais psicotécnicos, a maioria
engenheiros dedicados aos problemas de ajustamento humano ao trabalho. O IDORT teve
importância crucial na difusão das aplicações da psicologia ao trabalho no Brasil.
A difusão das atividades de inserção do psicólogo nos contextos de trabalho no País reproduziu a
busca de racionalização que se generalizou na sociedade, sobretudo pela crença na aplicação de
testes psicológicos, com claro e restrito objetivo econômico de aumentar a produtividade das
empresas.
Segundo estágio
psicologia organizacional, nasce com a intensificação do processo de industrialização no País, a partir
da Era Vargas.
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), fruto da longa luta da classe operária, na transição entre o
século XIX e o século XX, por melhores condições laborais para regulamentar direitos e benefícios
dos trabalhadores.
após a Segunda Grande Guerra, expansão das organizações produtivas brasileiras, a instalação de
multinacionais e com a presença do Estado nas indústrias siderúrgica e petrolífera. A mão de obra
ainda era desqualificada. A partir desse momento preocupa-se com a formação profissional,
atraindo também os profissionais vinculados à psicologia
Processo de industrialização intensificou-se com a gestão desenvolvimentista de Juscelino
Kubitschek (1956-1961), com a instalação de montadoras de automóveis internacionais no Brasil,
ampliando sobretudo o parque fabril do Estado de SP.
Crescem os investimentos na qualificação dos trabalhadores; mais atenção aos métodos de gestão
apropriados às condições e às características da realidade brasileira, embora sejam reproduzidas as
elaborações originadas nos países centrais.
As linhas gerais de atuação seguiram a tendência internacional de ampliação do foco dos postos de
trabalho, para considerar as organizações, suas estruturas, sua dinâmica cultural e política como
elementos importantes nos resultados gerados.
A área de gestão de recursos humanos mostrou um incremento das ações para além de
recrutamento e seleção, incorporando de forma mais vigorosa as atividades de treinamento e
desenvolvimento e de avaliação de desempenho.
No Brasil, até os anos de 1980, a formação em POT foi influenciada pela obra de um autor norte-
americano, Joseph Tiffin: Industrial Psychology. Revelando o descompasso entre os avanços do
campo no exterior e o modelo predominante de atuação no BR.
1970 e 1980. O psicólogo organizacional – atuava nos moldes do psicólogo industrial - foi um dos
modelos mais criticados de atuação profissional da psicologia, sob o estigma de
descomprometimento com as demandas sociais.
1984. textos organizados por Silvia Lane e Wanderley Codo, Psicologia social: o homem em
movimento, tinha um capítulo que apontava que a psicologia produzida e a prática profissional,
mesmo dos psicólogos organizacionais, desconsideravam a categoria trabalho. Codo expôs o estigma
que cercava a inserção do psicólogo nas organizações e alertou pesquisadores e profissionais sobre a
necessidade de construção de um modelo de atuação que não se pautasse exclusivamente nas
necessidades da gestão e, em consequência, da empresa ou do capital.
Terceiro estágio
o trabalho (em especial sua forma de organização e gestão) assume o papel relevante para
compreender não apenas o desempenho individual, das equipes e da organização, mas como
especialmente os problemas de saúde do trabalhador.
Destaca-se também a ampliação e a diversificação dos contextos organizacionais e institucionais,
que incluem os serviços públicos, hospitais e outras organizações de saúde, organizações do
terceiro setor, cooperativas. Ampliava-se o espaço para as ações de psicólogos voltadas para a
gestão de pessoas, saúde e melhoria do desempenho organizacional.
O CAMPO ATUALMENTE
A preocupação com as organizações (produtividade, qualidade, competitividade),
com a gestão (modelos de gestão de pessoas, políticas de pessoal)
e com os trabalhadores (em termos de saúde, bem-estar e qualidade de vida)
de uma forma integrada, como fenômenos articulados em uma complexa rede de
multideterminações recíprocas, definem o campo.
29/09/2009. Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT) lançou um
relevante Manifesto, defendendo de forma clara e fundamentada a necessidade de que trabalho e
organização não sejam cindidos como mundos separados. Apoiado nos pressupostos de que a psicologia é
um campo disperso e de que o respeito à diversidade é fundamental, o documento destaca, em linhas
gerais:
a centralidade do trabalho, como atividade humana e social, e a importância de organizá-lo como
processo, criticando a possibilidade de se pensar o trabalho descolado da discussão sobre os modos
de organizá-lo;
a importância das organizações como mecanismos socialmente criados para atender às necessidades
coletivas, que também são diversificadas em termos de cultura, políticas e práticas de gestão,
questionando a possibilidade de se fazer uma psicologia apenas voltada para o “trabalho”, sem
pensar nas “organizações” em que ele ocorre;
as transformações ocorridas no campo revelam um processo contínuo de alargamento do espaço de
atuação de um número expressivo de psicólogos no Brasil – tal ampliação conduziu a uma crescente
consciência de que trabalho e gestão são fenômenos imbricados e de que decisões e políticas
organizacionais podem ser a base de bem-estar ou de adoecimento no trabalho;
as condições de trabalho podem ser desumanizadoras e precárias em inúmeros segmentos, formas e
tipos de organizações: industriais, comerciais, escolares, hospitalares, sindicais, judiciais, esportivas,
militares, legislativas, cooperativas populares e outras.
CAMPO CIENTÍFICO E PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO: Caracteriza-se
por campos intradisciplinares.
Delimitando os três campos dentro da área: a ação humana inscrita no interior de dois outros
fenômenos: o trabalho e a organização.
O conceito de comportamento ou ação é entendido como o fazer humano no ambiente de trabalho.
Dessa forma, aborda-se não só aquilo que pode ser observado diretamente, incluindo estados subjetivos,
intenções, motivações, crenças e valores. Esse fazer humano implica:
uma unidade complexa que articula, no plano pessoal, as dimensões cognitiva e afetiva em
seus elementos implícitos e explícitos;
unidade que integra, em cada ação específica, fatores individuais, sociais e culturais.
O comportamento humano no trabalho se torna foco de interesse em diferentes níveis ou
âmbitos de análise –tomado como objeto de estudo e de intervenção nos âmbitos micro,
meso e macro.
A POT foi se estruturando em torno de três principais vertentes ou campos relativamente bem
delimitados. Cada campo interdepende do outro para a adequada compreensão dos fenômenos que
pretendem estudar e intervir:
Psicologia do Trabalho
O foco de interesse em compreender e lidar com as questões que relacionam o comportamento
humano e o trabalho (emprego e/ou tarefas);
Objetos de investigação e de intervenção: estuda a natureza dos processos de organização do
trabalho e seus impactos psicossociais, especialmente sobre a qualidade de vida e a saúde do
trabalhador, tanto individual quanto coletivamente.
Preocupa-se em entender como o desempenho humano no trabalho é afetado por fatores pessoais,
ambientais e pela forma como o trabalho está organizado.
Vai além do trabalho em organizações ao tomar como foco de interesse, por exemplo, a questão do
desemprego, do afastamento do trabalho por aposentadoria e seus impactos, assim como todo o
processo de preparação para a inserção no trabalho.
Psicologia Organizacional
Emerge das interações entre comportamento no trabalho e a organização.
Seu interesse central é entender e lidar com os processos psicossociais que caracterizam as
organizações de trabalho como conjuntos de pessoas cujas ações precisam ser coordenadas a fim de
atingir metas e objetivos que definem a missão de uma organização.
A contribuição da psicologia para a compreensão dos fenômenos organizacionais envolve o exame
de como os processos micro-organizacionais (atitudes, crenças, valores, percepções, construção de
significados, emoções, etc.) articulam-se apoiados na diversidade individual e de que modo, a partir
dessa articulação, emergem os processos macro-organizacionais (estruturas, cultura, poder,
políticas, etc.), que, por sua vez, constituem o contexto que configura, limita e afeta os próprios
processos micro-organizacionais.
Gestão de Pessoas
Surge da relação entre a ação humana e a organização propriamente dita;
Enfoca o conjunto de políticas e práticas que revelam a estratégia utilizada para organizar a ação
individual e a coletiva de forma congruente com seus objetivos e com sua missão.
O domínio das práticas de gestão de pessoas, que, apoiadas em concepções e políticas gerais,
definem as formas como a organização capta, integra, avalia, desenvolve e retém seus membros.
Amplo domínio de fenômenos ou processos cuja pesquisa e intervenção se associam na busca da
construção de condições organizacionais propícias ao desenvolvimento integral, que potencializem
as contribuições das pessoas, que maximizem seus ganhos (materiais e simbólicos) em função das
suas contribuições e que, sobretudo, assegurem níveis adequados de qualidade de vida no trabalho.
Nesses três campos intradisciplinares, há ampla diversidade de fenômenos que suscitam interesse de
pesquisa e demandam intervenções do psicólogo organizacional e do trabalho.
ÂMBITOS DE ANÁLISE E DE INTERVENÇÃO EM POT
Os fenômenos que configuram os três campos intradisciplinares em POT, e que constituem seus
objetos de pesquisa e intervenção, associam-se em sua amplitude, esses fenômenos comportam sempre
diferentes níveis de análise. As organizações são sistemas com múltiplos níveis de complexidade e âmbitos
de abrangência, Peiró e Tetrick (2011) propõem que quaisquer produtos ou resultados organizacionais
podem ser afetados por características e processos que ocorrem em seis âmbitos de análise.
Âmbitos: societário; interface trabalho e não trabalho; organizacional; social, grupal e das unidades de
trabalho; contexto e conteúdo do trabalho; individual.
Níveis elevados de estresse, por exemplo, não podem ser explicados apenas por características de
personalidade, desconsiderando padrões de relações entre chefia e trabalhador, estruturas de poder, cargas
de trabalho, organização do processo produtivo, pressupostos culturais e políticas macroeconômicas que
fragilizam o trabalho e geram insegurança.
ATIVIDADES PROFISSIONAIS QUE DEFINEM A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO
A diversidade de campos e contextos faz o trabalho em POT ser eminentemente de natureza
multiprofissional. Ou seja, estamos em um território no qual, fora a avaliação psicológica, nenhuma prática é
privativa de qualquer categoria profissional. O desenvolvimento das atividades depende do processo de
formação e qualificação permanente, que pode levar o psicólogo a trabalhar bem próximo dos
administradores e de outros membros da equipe (advogados, pedagogos, médicos do trabalho, sociólogos,
assistentes sociais) que lidam com as questões de trabalho, organização e gestão.
As atividades implicam diferentes níveis de intervenção diante dos problemas organizacionais e do trabalho.
Primeiro nível, mais superficial, é o técnico: o profissional se responsabiliza por intervir em
processos a partir de instrumentos e procedimentos conhecidos e/ou disponíveis (quando faz avaliação
psicológica para a seleção, quando programa um treinamento, supervisiona um estagiário, realiza uma
entrevista de desligamento, descreve uma rotina, intervém pontualmente em um conflito em uma equipe de
trabalho, por exemplo).
Segundo nível é o tático: quando o psicólogo trabalha, com uma equipe voltada para a implantação
de uma estratégia, a partir de diagnósticos já realizados (conduz ações para melhoria do clima organizacional
ou para o desenvolvimento de competências avaliadas como necessárias para determinada equipe).
Terceiro nível é o estratégico: inclui a possibilidade de o profissional participar da formulação das
estratégias que incorporam aquelas atividades específicas (quando define as competências a serem
desenvolvidas em um programa de treinamento, elabora um modelo de seleção, propõe um modelo de
avaliação de desempenho, planeja estudos e pesquisas psicossociais para diagnósticos, se engaja em
processos de mudança organizacional, etc.). Nesse nível, as intervenções vão além do nível micro, e seus
resultados podem ter impactos para as pessoas e para a organização a médio e a longo prazos, desenhando
novas formas de trabalhar e gerir o trabalho naquela organização.
Quarto nível indica a possibilidade de intervenção no plano da formulação de políticas globais para a
organização, que se desdobram em ações estratégicas e técnicas congruentes (é o que ocorre quando o
psicólogo atua junto às instâncias decisórias superiores da organização estabelecendo linhas gerais de ação,
definindo políticas setoriais específicas, sempre orientado por uma visão estratégica mais ampla sobre o
futuro da organização; uma política de recursos humanos, por exemplo, requer a articulação de técnicas,
procedimentos, objetivos de diferentes domínios para que, no seu conjunto, as práticas de gestão
fortaleçam objetivos gerais, tais como eficácia, eficiência, responsabilidade social, ética, etc.). A atuação
nesse nível se dá em estágios mais avançados da carreira, quando o psicólogo acumulou uma experiência
mais ampla e, quase sempre, quando exerce o papel de consultor, assessor ou ocupa cargos no poder
central.
O trabalho do psicólogo, considerando a diversidade das atividades descritas, deixou de ocorrer apenas em
organizações industriais, como nos marcos iniciais do campo. O psicólogo passou a se inserir em
organizações de serviços, no setor público, em organizações não governamentais, em cooperativas,
sindicatos, entre outros espaços. Essa ampliação rompe com a noção de que o psicólogo organizacional
encontra-se apenas em empresas privadas voltadas para a
produção de bens de consumo.
PSICOLOGIA POSITIVA
Ocorre com a emergência e a consolidação de um campo
voltado para a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida do
trabalhador. Na realidade, dentro das questões de saúde, já se
observa um movimento que leva a analisar não apenas a
doença, mas buscar o foco da saúde e o bem-estar. É o impacto
do desenvolvimento de uma Psicologia denominada Positiva
(ver box). O crescimento dessa subárea novamente coloca o
psicólogo ante o desafio de compreender de forma mais ampla
o que está ocorrendo no mundo do trabalho e seus impactos
nas organizações e nos trabalhadores, impulsionando contatos
interdisciplinares com a sociologia do trabalho, as teorias
organizacionais, a economia, entre outras áreas.
Competências esperadas dos profissionais da psicologia
organizacional e do trabalho
A competência é tomar iniciativa, assumir responsabilidade perante situações profissionais,
envolvendo autonomia e automobilização; isso a diferencia da realização de trabalhos prescritos;
Ela envolve uma compreensão prática de situações a partir do conhecimento adquirido e que é
orientada pelo êxito a obter na solução de algum desafio;
A competência envolve também a mobilização de uma rede de atores em torno das mesmas
situações, levando-os a compartilhar implicações de suas ações, definição de corresponsabilidades;
assim, a competência envolve solidariedade na ação.
Entender o processo total de trabalho, ter consciência das atribuições individuais e das unidades,
bem como articular visão, missão, valores, metas e estratégias organizacionais.
A partir desses saberes, são possíveis ações como aumentar a capacidade estratégica, consolidar
predisposições para mudanças e fortalecer a formação de equipes de alto desempenho.
Simultaneamente, visa desenvolver a capacidade gerencial de refletir e questionar as próprias
finalidades, a forma de realizar os processos e a rapidez com que os utiliza.
Nessa dimensão, é preciso compreender o contexto, as interações sociais, sempre permeadas pelos
conflitos de interesses, as quais levam à retenção de recursos e à participação de articulações
políticas, formando coalizões para conquistar e ampliar o poder.
É necessário organizar as ações, fornecer treinamento apropriado, incentivar a formação de equipes
e recompensar justamente, como condições preliminares para que a disposição para mudanças
passe a ser um elemento definidor da cultura organizacional.
Atuar com base nesses princípios requer persistência do psicólogo e integração multiprofissional. Requer
ter presente que, se as organizações propõem participação, elas precisam combater autoritarismos,
privilégios, preconceitos e injustiças, aceitando as diferenças e conciliando tenazmente os múltiplos
interesses, com vistas ao bem coletivo. Isso pressupõe trabalhar com mudanças a partir do que existe.
Pressupõe, ainda, compreender a organização como um fenômeno psicossocial, em todas as suas
implicações – uma construção histórica e social.
Enfim, entender a organização como uma aposta de sobrevivência, com as implicações éticas da
natureza do lucro, quando é o caso de organizações com fins lucrativos, e no que tange à busca de
retribuição justa ao esforço no trabalho.
Em síntese, além das competências técnicas, espera-se que o psicólogo desenvolva e entregue também
as competências pessoais, interpessoais e políticas, como, por exemplo, a de sensibilizar os membros da
equipe multi ou interprofissional (e os demais integrantes da comunidade) da pertinência de suas propostas.
Com a mesma relevância, espera-se que saiba avaliar e comunicar os resultados de suas intervenções.
Outras competências são requeridas para ocupar posições de direção e supervisão, muitas vezes solicitadas
nesse campo de atuação. Enfim, entender o fenômeno psicológico em suas relações com o contexto, tanto
mediato como imediato, e os limites do conhecimento especializado é fundamental para trabalhar nesse
campo.