Assistencia Inicial Ao Trauma
Assistencia Inicial Ao Trauma
Assistencia Inicial Ao Trauma
br Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● SUPORTE BÁSICO À VIDA E PRIMEIROS SOCORROS
Observando os dados de estudos epidemiológicos, observa-se que as principais doenças que acometiam a
população em geral nas décadas passadas deixavam, cada vez mais, de ser motivo predominante de morte. Pode-se
provar este fato com o desenvolvimento de projetos de saúde que, embora deficientes, tornaram-se bem mais efetivos
com relação aos anos passados.
Entretanto, uma causa importante, diferentemente da tendência das demais doenças, aumentava a cada ano
que se passava: as chamadas causas externas, representadas pelo trauma. Uma explicação plausível poderia ser a
melhoria das condições de vida em geral, fazendo com que a população tenha cada vez mais acesso a automóveis ou
motos. Além disso, a própria violência (que também é uma causa importante da “doença” trauma) tem crescido nas
grandes cidades.
O Suporte Básico de Vida no Trauma ou Assistência Inicial ao Trauma, ainda chamado por muitos de
“primeiros-socorros”, surge com a preocupação de curar e tratar a doença trauma. Partindo do pressuposto que o tempo
decorrido entre a ocorrência do trauma e o tratamento definitivo da vítima é crucial, entendemos qual a finalidade de
conhecer sobre o Suporte Básico de Vida (SBV) e Suporte Pré-hospitalar de Vida no Trauma (PHTLS).
O PHTLS é um programa de formação de técnicos de saúde que atuam em nível Pré-hospitalar, desenvolvido
pela National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT) em parceria com o Comitê do Trauma do Colégio
Americano de Cirurgiões (ACS/COT). Como a própria designação sugere, fornece apenas um aprendizado básico, de
modo que qualquer cidadão leigo possa ser treinado.
O conhecimento a cerca do PHTLS e do SBV é, portanto, de interesse tanto para profissionais de saúde como
para leigos. Para isso, foram criados cursos específicos (voltados tanto para o tema “trauma” quando para o tema
“doenças cardiovasculares agudas”), dentre os quais, destacamos:
Pre-hospital Trauma Life Support (PHTLS): mais voltado para à assistência inicial ao politraumatizado.
Advanced Trauma Life Support (ATLS) ou Suporte Avançado de Vida no Trauma: é exclusivo para médicos
formados. Baseia-se no atendimento de pacientes traumatizados por meio de protocolos e técnicas específicas.
Basic Life Support (BLS) ou Suporte Básico de Vida (SBV): mais voltado ao atendimento inicial de doenças
cardiovasculares agudas.
Advanced Cardiological Life Support (ACLS) ou Suporte Avançado de Vida Cardiovascular (SAVC):
exclusivo para médicos formados. Está relacionado com o suporte à parada cardiorrespiratória (PCR), arritmias,
acidente vascular cerebral/encefálico (AVC/AVE), etc.
Pediatric Advanced Life Support (PALS): para pacientes pediátricos.
Pre-hospital Trauma Life Support for Nurses (TLSN): exclusivo para enfermeiras.
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OBS : Urgência ≠ Emergência. A urgência significa um risco de morte, ou seja, uma suposta probabilidade de que o
indivíduo, dependendo de sua queixa no momento, possa morrer por ela e não é necessária uma intervenção tão
precipitada. Já a emergência trata do perigo de morte, que neste caso, é uma situação em que a morte é um evento
iminente de acontecer. No caso da emergência médica (Ex: grandes hemorragias internas ou externas; oxigenação
deficiente), se o médico não agir rapidamente, a vítima virá a óbito. No caso da urgência (Ex: cólica renal, desidratação
aguda), embora o atendimento do acometido seja necessário e, de preferência, imediato, não estamos diante de um
quadro em que o paciente possa vir a óbito.
CADEIA DE SOBREVIDA
A cadeia de sobrevida consiste em uma corrente interligada de fatos que sucedem o trauma. É uma sequência
lógica de eventos desencadeada por uma pessoa (que pode ser leiga) para tentar salvar uma eventual vítima de um
trauma. Se todas as etapas desta cadeia forem realizadas com rapidez e eficiência, o tempo gasto entre o momento do
trauma e o tratamento da vítima será bem menor e a sobrevida do mesmo será prolongada.
A presença de um elemento dá início à cadeia de sobrevida: a vítima, que pode ser uma ou várias e que,
dependendo da cinemática do trauma que o acometeu, pode estar correndo risco ou perigo de morte.
O segundo elo da cadeia é o first responder ou solicitante, ou seja, o indivíduo que avistou a vítima e fez o
primeiro atendimento e que, muito provavelmente, fará a devida ligação ao serviço de pronto-socorro para
melhor tratar da vítima. Em alguns casos, a própria vítima, quando consciente, pode fazer o pedido de socorro.
O terceiro elo da cadeia é acionar serviço de emergência médica (seja ele o SAMU, o Corpo de Bombeiros ou
até mesmo a central mais próxima), de modo que seja enviado ao local do evento traumático um meio de
socorro que preste as devidas técnicas para aumentar a sobrevida da vítima. Quando a ligação é feita, a
chamada é destinada a uma central na qual o TARM (Técnico de Auxiliar de Regulação Médica) atende, coleta
os dados necessários e estabelece um grau de triagem para avaliar o grau de urgência ou emergência de cada
caso.
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A central encaminha, então, um serviço médico na forma de ambulância. O dímero tempo-resposta corresponde
ao intervalo de tempo entre a solicitação do socorro e a abordagem do serviço médico ao local.
Durante o tempo-resposta, entra a figura do socorrista, indivíduo devidamente capacitado e treinado por um dos
cursos previstos (que pode ser, inclusive, o próprio indivíduo que solicitou o socorro) para realizar os primeiros
socorros práticos para garantir a sobrevida da vitima enquanto o socorro está a caminho.
Quando chega o socorro, os profissionais devem entrar em cena, avaliando a cena e partindo para a abordagem
da vítima, no intuito de salvá-la, imobilizá-la e levá-la ao atendimento intra-hospitalar.
Fechando o ciclo da sobrevida, vem a reabilitação da vítima.
OBS²: Os 60 minutos do pós-trauma são conhecidos como golden hour (período de ouro), pois para algumas vítimas
deve-se gastar menos de uma hora para dar o tratamento para garantir a sobrevida do mesmo. Dentro desse período de
ouro, temos os chamados 10 minutos de Platina, em que se faz o reconhecimento da lesão priorizando vias aéreas e
pulsação.
MANTER A CALMA
Embora e literatura não descreva bem, o primeiro passo do protocolo do SBV para realizar um bom atendimento
pré-hospitalar deve ser manter a calma. É fisiológica a resposta do organismo do indivíduo diante de um quadro como
um trauma: desespero, taquicardia, confusão, choro, etc. É importante e imprescindível, pois, que o socorrista, antes de
mais nada, mantenha a calma.
Mantendo a calma, o indivíduo torna-se apto, então, para passar para os seguintes passos, além de tomar o
controle da situação, avaliar bem a vítima, pedir o socorro adequadamente e, se possível, ajudar a vítima até a chegada
do socorro.
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Número de vítimas.
Por fim, sinalizar bem o local do trauma para evitar novos eventos. Para isso faz-se a seguinte regra: a distância
(em metros) para pôr algum tipo de sinalização corresponde ao valor da metade da velocidade permitida na via
em que o trauma ocorreu. Quando é noite ou em dias chuvosos, o valor dobra ou triplica.
PROTEÇÃO INDIVIDUAL
O socorrista precavido geralmente apresenta um par de luvas sempre em disposição para o uso em eventuais
traumas. O par de luvas nada mais é que um equipamento de proteção individual (EPI) que ajuda – e muito – na
abordagem de vítimas desconhecidas. Primeiramente, porque o socorrista nunca deve se expor.
Com isso, diante de vítimas desconhecidas ensanguentadas, o socorrista só deve passar para os seguintes
passos se estiver sob proteção individual.
Avaliação das vias aéreas e controle da coluna cervical: as vias aéreas devem ser rapidamente
verificadas para assegurar que estão abertas e limpas (patentes) e que não existe perigo de obstrução. Se
estiverem comprometidas, terão que ser abertas usando métodos manuais (levantamento do queixo no
A trauma ou tração da mandíbula no trauma) e retirada de sangue ou secreções, se necessário. Para avaliar
Airway as vias aéreas, o socorrista deve expor bem o campo de visão e se prostrar sobre este campo para
observar melhor, ou seja, o socorrista não deve movimentar a cabeça da vítima para tal observação. Além
disso, o controle da coluna cervical com colar cervical (associado aos head blocks e à prancha rígida) é de
fundamental importância.
Avaliar a ventilação (respiração da vítima): para isso, o socorrista repousa o ouvido e a parte lateral de
sua face sobre as vias aéreas da vítima com o olhar voltado para o tórax do paciente. Deste modo, o
B socorrista é capaz de ouvir, sentir a respiração da vítima e observar a expansão do tórax. Se o paciente
Breathing não estiver respirando (apneia), deve-se iniciar imediatamente a ventilação assistida com máscara facial
associada a um balão dotado de válvula unidirecional com oxigênio suplementar. Se o doente estiver
respirando, estime a adequação da frequência respiratória e profundidade para determinar se o doente está
movimento suficiente ar e acesse a oxigenação. Tendo acesso a uma boa oxigenação.
Avaliação da circulação (pulsação) e sangramento: o socorrista deve por os dedos indicador e médio
perpendicularmente à linha média da margem anterior do músculo esternocleidomastoideo para sentir a
C pulsação carotídea. Não se deve avaliar a pulsação radial pois, durante traumas e hipovolemias, a
Circulation circulação periférica é desviada para órgãos nobres, como o encéfalo. Em casos de hemorragias externas
(se há hemorragia, com certeza há pulsação), o socorrista deve identificar e controlar a hemorragia externa
por meio de pressão direta, elevação do membro ou por torniquetes.
D Exame neurológico sumário: rápida avaliação do estado neurológico deve determinar o nível de
Desability consciência e a reatividade pupilar do traumatizado.
E Exposição: despir a vítima traumatizada para facilitar o exame completo; evitar movimentos e eventual
Exposure imobilização de fraturas ou luxações; prevenir hipotermia.
Conclui-se que, na fase pré-hospitalar, deve ser dada ênfase à manutenção das vias aéreas, ao controle da
hemorragia externa e à imobilização do doente. É prioridade também o transporte rápido da vítima ao hospital
apropriado mais próximo. Informações a respeito da hora em que ocorreu o acidente e suas circunstâncias, assim como
o mecanismo do trauma, são essenciais para a equipe hospitalar que receberá o paciente.
A fase hospitalar, por sua vez, consiste no preparo da Emergência: preparo da sala de trauma, abordagem inicial
e o tratamento do politraumatizado. É somente nesta fase que será iniciado o protocolo de atendimento do Suporte
Avançado de Vida no Trauma (ATLS): intubação orotraqueal (se necessária), acesso venoso, exames complementares
(radiografia de coluna cervical e tórax, por exemplo), etc.
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Ao acionar os Sistemas de Atendimento, deve-se: informar o nome e telefone (do próprio socorrista); informar o
que aconteceu; informar detalhadamente o endereço da ocorrência; responder a todas as perguntas; desligar o telefone
corretamente.
Enquanto se aguarda a chegada do resgate, deve-se monitorar o nível de consciência da vítima, a respiração e
sua circulação (pulsação). Quando o resgate chegar, deve-se relatar o que foi encontrado.
Deve-se ter cuidado também com os leigos presentes na cena: as pessoas demoram a entender que se trata de
uma emergência real e hesitam em chamar o resgate. Alguns tentam, erroneamente, transportar a vítima por seus
próprios meios.
aéreas. Caso a vítima tenda a vomitar, o socorrista deve inclinar, em monobloco, lateralmente a cabeça e o
tronco paciente, com ajuda de uma outra pessoa, para a passagem do refluxo, estabilizando-a por fim.
Avaliar a existência de fraturas da face.
A proteção da coluna cervical é um passo fundamental na propedêutica do SBV no trauma. Por ser a parte mais
vulnerável e mais móvel da coluna vertebral e por estar amplamente relacionada com trauma raquimedular (risco de
tetraplegia), a proteção da coluna cervical deve ser prioridade ainda no passo A da avaliação inicial. A forma de
imobilização mais eficaz para estabilizar a coluna cervical se faz por meio da prancha rígida e seus acessórios: colar
cervical e head blocks. Entretanto, enquanto estes não estiverem disponíveis, um auxiliar do socorrista pode apoiar a
cabeça da vítima com ambas as mãos, evitando, ao máximo, a mobilidade deste segmento da coluna.
AVALIAÇÃO DA RESPIRAÇÃO
Os principais pontos que devem ser observados durante o processo do “ver e sentir” a respiração da vítima são:
Ausculta prejudicada;
Padrões respiratórios: apneia, respiração lenta, normal, rápida, muito rápida;
Respirar x ventilar;
Tórax instável: ocorre quando há fratura de dois ou mais arcos costais, fazendo com que o tórax se expanda
durante a expiração e se contraia durante a inspiração.
Pneumotórax (aberto e fechado): nem sempre quando a via aérea está desobstruída a vítima é capaz de
respirar. Em casos de pneumotórax (presença de ar no espaço pleural), o pulmão perde a capacidade expansiva
(colabamento do pulmão).
Enfisema subcutâneo: presença de ar no subcutâneo; fala a favor de lesão de traqueia e/ou brônquios fontes.
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OBS : O curativo de três pontos é um artifício simples e eficaz para o tratamento de pneumotórax aberto (ferida
exposta, de modo que, cada vez que a vítima tenta respirar, entra mais ar no espaço pleural). Consiste em um pedaço
quadrangular de plástico aplicado sobre o local da lesão. Este plástico deve ser fixado por esparadrapos em três de seus
vértices e cantos, de modo que uma extremidade não fixada funcione como uma válvula que se abra durante a
expiração e que se feche na inspiração.
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Inconsciência, resposta motora lateralizada, alteração da função pupilar, estão, frequentemente, relacionadas ao
aumento da pressão intracraniana e implicam na necessidade de uma via aérea avançada (passo fundamental do
Suporte Avançado à Vida no Trauma - ATLS).
O exame neurológico mais detalhado do paciente deve ser realizado posteriormente e o mesmo deve ser
classificado de acordo com a Escala de Coma de Glasgow que irá melhor definir qual o estado neurológico do paciente
(mas que, devido à sua complexidade, pode ser dispensada durante o treinamento de leigos).
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A proteção do paciente contra hipotermia é de suma importância, pois cerca de 43% dos pacientes desenvolvem
este tipo de alteração durante a fase de atendimento inicial. A hipotermia exerce efeitos deletérios sobre o organismo do
traumatizado portanto, deve ser protegido contra o frio através de cobertores aquecidos e infusão de líquidos também
aquecidos. Para evitar esta complicação, o paciente deve ser envolvido com mantas térmicas ou cobertores.
RESUMO