Mandioca 2020

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Departamento de Economia Rural – DERAL

Prognóstico

MANDIOCA
Análise da Conjuntura

1 – Mandioca no Mundo Normalmente, esses alimentos


destinados a alimentação, são produzidos em
A produção mundial de mandioca sua maioria pela Agricultura Familiar, ou em
praticamente não oscila e apresenta um pequenas propriedades. No caso da cultura de
crescimento contínuo, porém, as maiores taxas mandioca, cabe destacar a sua importância
ocorreram entre os anos de 2012 e 2016 socioeconômica no Continente Africano, onde
quando registrou um aumento de nas últimas décadas os cultivos vêm
aproximadamente 7% e passou de 241,3 para aumentando e a produção já atinge 60% da
274,7 milhões de toneladas. mandioca produzida no mundo.

Evidentemente este avanço deveu-se Ressalta-se que apesar da importância


basicamente à contribuição de alguns países que a cultura desempenha naqueles países,
africanos, notadamente onde a cultura da boa parte da produção é oriunda de pequenas
mandioca se tornou um alimento de segurança propriedades, com pouca tecnologia e
nacional. Este fato é uma das razões da resultando em baixas produtividades. Os
expansão, além de outras vantagens como a maiores volumes de sua produção se destinam
sua adaptação às condições climáticas e ainda, ao consumo humano e na forma ‘in natura”,
segundo a pesquisa é mais resistente às geralmente cozida sem nenhuma
frequentes secas que ocorrem naqueles transformação industrial. Dentre os principais
países. países produtores de mandioca, no Continente
Africano, destaca-se a Nigéria que há vários
Dentro da premissa de que a
anos assumiu a liderança na produção mundial
população mundial vem crescendo de forma
e continua apresentando altas taxas de
bastante acelerada, a organização das Nações
crescimento.
Unidas para a Alimentação e a agricultura-FAO,
vem alertando as autoridades com relação à Segundo a FAO, a Nigéria produziu, no
produção de alimentos que não acompanha o ano de 2017, cerca de 59,4 milhões de
mesmo ritmo. As últimas estatísticas indicam toneladas de mandioca, contra 10 milhões de
um contingente populacional de toneladas em 1970. No decorrer destes 45
aproximadamente sete bilhões e quatrocentos anos a cultura apresentou um crescimento de
milhões de pessoas. Assim sendo, os esforços 482%, resultando na média anual de 10%. Com
da FAO têm sido no sentido de alertar as esses valores a Nigéria representa 33% da
autoridades para a necessidade de aumentar a produção africana e cerca de 20% do total
produção de alimentos básicos como arroz, mundial. Outro país de destaque na África é a
feijão, batata, trigo e também mandioca. Gana que está ampliando os plantios e
amenizando os problemas crônicos da

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alimentação, principalmente nas camadas de coordenados pelos órgãos do governo. Esses


mais baixa renda. projetos de pesquisa são custeados com
recursos oficiais e também complementados
Na Ásia, ao contrário da África a cultura
com verbas das indústrias e em menor parcela
da mandioca já atingiu um desenvolvimento
pelos produtores rurais.
considerado satisfatório, principalmente na
Tailândia e na Indonésia que investem pesados Atualmente, a produção de mandioca
recursos no setor agrícola e no industrial. Um na Tailândia é da ordem de 31 milhões de
dos resultados já alcançados, em especial toneladas, o que representa uma certa
nesses dois países asiáticos é a produtividade estabilidade nos últimos 3 anos. Com o apoio
média de 21.000 kg/ha, contra 13.000 kg/ha na da pesquisa agrícola e industrial que a cultura
África e 14.000 kg/ha No Brasil. vem recebendo, o País tornou-se líder na
exportação e representa em média de 85% do
Embora a produção agrícola de
comércio internacional. O volume exportado
mandioca apresente um crescimento mais
gira em torno de 2 milhões de toneladas de
modesto, a Ásia construiu grandes plantas
fécula, cujo destino principal é a União
industriais durante os últimos anos. Neste setor
Europeia e para a China.
destacam-se as indústrias de fécula e de
“pellets”, visando essencialmente o mercado Curiosamente, a América do Sul que
internacional. Desta forma, a produção de liderou a produção mundial até a década de
mandioca tem como seu destino principal à 1970, além de não avançar durante os
industrialização destes dois produtos. próximos anos, sofreu uma drástica redução,
Evidentemente que a mandioca nesses países passando de 30% a sua contribuição para
também se utiliza na alimentação humana, apenas 9% no ano de 2017. Fato marcante
porém em níveis bastante reduzidos se forem ocorreu no Brasil, líder absoluto desta região, a
comparados aos africanos. sua produção se estabilizou na faixa dos 20 a
22 milhões de toneladas e a participação no
Dentre os maiores países produtores
mundial passou de 30% para apenas 8% no
destacam-se a Tailândia e a Indonésia,
ano de 2016.
representam cerca de 58% da produção de
mandioca na Ásia que registrou um volume de Esta forte redução na produção de
85,7 milhões de toneladas no ano de 2017. A mandioca justifica-se em parte pela redução no
Tailândia passou por um período bastante consumo animal que foi substituído pelas
intenso de industrialização da mandioca rações balanceadas e a mistura de 2% de
durante os últimos anos e assumiu a liderança farinha de mandioca na panificação que se
na produção e exportação mundial de fécula e tornou inviável com a importação de farinha de
de “ pellets”. Além do crescimento industrial, a trigo altamente subsidiada naqueles anos. Na
Tailândia se destaca com grandes centros sequência a escassez de mão de obra que
avançados de pesquisa, geralmente

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também dificulta a expansão de culturas que 2 – A Mandioca no Brasil


ainda são exploradas manualmente.
2.1 – Produção no Brasil
Durante as décadas subsequentes ao
A agricultura brasileira passou nas
ano de 1970 a Agricultura Brasileira e em
duas últimas décadas por um extraordinário
especial no Paraná, passou por algumas
avanço, principalmente na produção de grãos,
mudanças como: Final do Ciclo Econômico do
o que lhe garante uma posição de destaque no
café causado pelas fortes geadas no mês de
cenário internacional e competindo com os
julho de 1975, dando lugar a uma nova
países mais evoluídos.
atividade ou o ciclo da soja. Esta nova cultura
expulsou os trabalhadores que migraram para Vale destacar a evolução da pesquisa
os grandes centros urbanos ou para outros agrícola, com excelentes resultados na
Estados à procura de empregos. genética das nossas sementes, as práticas
conservacionistas do solo, adubação
Na sequência a cultura do algodão
adequada, a assistência técnica oficial e
seguiu o mesmo destino do café, ou seja,
privada e a disponibilidade de crédito facilitado,
migrou para os Estados de Minas Gerais, Bahia
elevaram o País aos patamares dos melhores
e Mato Grosso. Ressalte-se que a cultura do
produtores mundiais.
algodão já enfrentava sérios problemas de falta
de mão de obra nos últimos anos. Assim se O agronegócio passou a ser o principal
justifica a redução nos plantios de mandioca e componente da pauta das exportações e vem
ao mesmo tempo os desafios que o setor contribuindo para o equilíbrio da balança
enfrenta para mecanizar as lavouras que antes comercial brasileira. Os produtos de maior
eram executadas pelo homem do campo. relevância na geração de excelentes
(Tabela.1). exportáveis destacam-se a soja, o milho e as
carnes de aves, suínas e bovinas, café, açúcar,
TABELA 1 - PRODUÇÃO MUNDIAL DE MANDIOCA EM
RAIZ, NOS PRINCIPAIS PAISES (MILHÕES DE entre outros.
TONELADAS).

PAÍSES 1970 2014 2015 2016 2017


Dentro do avanço tecnológico e do
ÁFRICA 40,5 146,8 154,4 157,2 177,9 aumento da produção agrícola, destaca-se a
NIGÉRIA 10,2 56,3 57,6 57,1 59,4
cultura do milho no Paraná, que nos últimos 10
*CONGO 10,3 13,0 13,3 13,6 31,5

GANA 1,5 17,7 17,2 17,7 18,4 anos passou de 3.800 kg/ ha para 8.000 kg/ ha.
OUTROS 18,5 59,8 66,3 68,8 68,6 Da mesma forma a cultura da soja que já
ÁSIA 23,1 90,1 89,4 89,2 85,7
registrou 3.700 kg/ha e a cevada com 4.900
TAILÂNDIA 3,2 30,0 32,3 31,1 30,9

INDONÉSIA 10,7 23,4 21,8 20,7 19,0 kg/ha, na safra de 2016/17. Assim sendo, o que
OUTROS 9,2 36,7 35,3 37,4 35,8
se observa é o avanço das lavouras
AMÉRICA DO SUL 33,9 30,6 30,4 28,3 26,2

BRASIL 30,0 23,2 23,0 21,0 18,8


mecanizadas ocupando maiores áreas e
OUTROS 3,9 7,4 7,4 7,3 7,4 conquistando novas fronteiras em outros
TOTAL MUNDIAL 98,5 292,0 295,2 296,0 291,9
FONTE: FAO, SEAB/DERAL 2019 *REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO estados, como é o caso de Mato Grosso,
Rondônia e MATOPIBA, em detrimento das

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culturas destinadas basicamente ao mercado brasileiros, porém a sua concentração continua


interno ou de cesta básica. Este fato tem nas Regiões Norte e Nordeste do País. Neste
contribuído para a estagnação da cultura de contexto se sobressai o Norte com 34,5%,
mandioca, que há vários anos vem registrando Nordeste 23,6%, Sul 24,8%, Sudeste 10,5% e
uma área menor que 2 milhões de hectares e a Centro-Oeste com 6,6 %. Na verdade, a Região
produção não ultrapassa a 23 milhões de Nordeste já foi a principal produtora Nacional
toneladas. de mandioca, porém sofreu esta mudança em
consequência ao fenômeno das secas que se
O Brasil já foi o maior produtor mundial
repetem com muita frequência nos seus
de mandioca, com uma produção de 30 milhões
principais estados produtores.
de toneladas no ano de 1970, em seguida
perdeu a hegemonia para a Nigéria e durante Essas duas Regiões guardam grande
os últimos anos cedeu o 2º e o 3º lugar para a semelhança, tanto na produção agrícola quanto
Indonésia e a Tailândia. O último levantamento no consumo final do produto. Ambas possuem
do IBGE indica uma produção brasileira de muitas casas de farinha e todas de pequeno
apenas 19 milhões de toneladas para a safra de porte, onde boa parte do processo industrial é
2018/19. Casso esse resultado seja realizado manualmente, o que emprega um
confirmado, será a menor produção obtida dos grande contingente de mão de obra. O
últimos anos. panorama nas regiões Sul e Sudeste que
compreende o Paraná, Mato Grosso e São
Uma das características da
Paulo, também se assemelha pois predominam
mandiocultura brasileira é o seu consumo
as indústrias de maior porte, tanto de fécula
voltado ao mercado interno e com pouca
como de farinha.
expressão no comércio internacional. Esta
situação fragiliza com facilidade os preços Na Região Norte destaca-se o estado
quando a produção atinge maiores volumes, o do Pará que assumiu a liderança da produção
que leva muitas vezes os empresários a brasileira de Mandioca. A sua participação é da
utilizarem os recursos da Política de Preços ordem de 4 milhões de toneladas e conta com
Mínimos do Governo Federal. São dois os um significativo número de casas familiares que
instrumentos da Política Agrícola destinados a produzem farinha, goma bijus e tapiocas. È
comercialização; Aquisição do Governo muito importante a cultura de mandioca
Federal-AGF e Empréstimo do Governo naquele Estado, pois desempenha forte
Federal – EGF, com objetivo de enxugar os influência socioeconômica do seu povo. Na
estoques e transportar a produção durante um capital Belém, os produtos são largamente
tempo até a recuperação dos preços. comercializados em mercados ou em feiras
livres e a origem desses produtos é proveniente
2.2 Principais Regiões Produtoras no Brasil
da agricultura familiar. O Mercado Ver-o-Peso
O plantio de mandioca encontra-se é o local de maior comercialização, pois
presente em praticamente todos os municípios movimenta uma enorme quantidade todos os

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dias e durante o ano todo. A farinha representa organização da cadeia produtiva da mandioca.
os maiores volumes comercializados, mas Esta região é contemplada com o Estado de
também são bastante significativos os mais São Paulo que ao longo de décadas concentra
diversos tipos de molho a partir das folhas. Por vários órgãos de pesquisa com destaque para
tudo isto, o Pará apresenta o maior consumo o IAC, a UNESP e o CEPEA. Apresenta altas
“per capita” de farinha, estimado em 35 kg/ano. produtividades agrícolas, possui um importante
parque industrial, principalmente de fécula e
No Nordeste destacam-se os estados
seus produtos modificados através de química
da Bahia, Ceará e Maranhão, que juntos
fina. O Estado de São Paulo também concentra
representam cerca de 70% da área plantada
significativa parcela do mercado de farinha.
desta Região. Estes Estados enfrentam, com
muita frequência, as secas, cujo fenômeno é Já a Região Centro-Oeste é a mais
determinante para a frustação das safras. recente na exploração da mandioca, com vários
Quando ocorrem as secas e a produção empresários que migraram do Paraná para o
agrícola é reduzida, o abastecimento é Mato Grosso do Sul, em busca de novos
complementado com a farinha oriunda do horizontes e também atraídos pela oferta de
Paraná, São Paulo e Santa Catarina. terras mais baratas. Este Estado já se tornou o
2º produtor de fécula e possui um forte
O Nordeste concentra elevado número
potencial de crescimento para os próximos
de pequenas fábricas ou casas de farinha, que
anos. Levando-se em conta principalmente a
normalmente são conduzidas com a mão de
maior disponibilidade do capital terra em
obra familiar. Esta Região se limita, a exemplo
relação às demais regiões.
do Norte, apenas na fabricação de farinha e não
conta com indústrias de fécula, que são mais Com relação ao Mato Grosso, a cultura
tecnificadas e de grande porte. da mandioca é praticamente inexpressiva e as
grandes extensões de terras são ocupadas
Dada a sua importância
com os plantios de soja, milho e algodão. Em
socioeconômica, a Empresa Brasileira de
função destes grandes plantios serem
Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA com sede
totalmente mecanizados e a alta escassez de
em Cruz das Almas/BA possui um excelente
mão de obra no campo, na opinião do setor, o
Centro de Pesquisa. O Centro Nacional de
cultivo de mandioca neste Estado não deverá
Pesquisa de Mandioca e Fruticultura – CNPMF
se expandir, restringindo-se aos pequenos
se dedica há muitos anos à pesquisa da
plantios para atender basicamente o consumo
Mandioca, com uma equipe de excelentes
humano. (Tabela 2)
técnicos especializados em diversas áreas para
atender as especificações de cada cultura.

A Região Sudeste tem uma


participação menor no volume de produção
agrícola, porém é de grande importância na

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TABELA 2- MANDIOCA- PRINCIPAIS ESTADOS- ÁREA, cerca de 59% das indústrtias e cerca de 64%
PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE 2018/19
da capacidade instalada, ou aproximadamente

Regiões/Estados Área Produção Produtividade Partic


14.000 toneladas de raíz/dia.
(1000 ha) (1000t) (Kg / ha) % A industrialização mais significativa no
NORTE 495 6.675 13.485 34,5
Paraná, iniciou-se na década de 80, ocasião
PARÁ 279 3.871 13.875 20,0
em que ocorreram as fortes geadas que
AMAZONAS 126 1.332 10.572 6,9
dizimaram as lavouras de café, dando início a
ACRE 36 994 27.611 5,1
um novo ciclo econômico que foi o advento da
OUTROS 54 478 8.852 2,5
soja. Paralelamente iniciava-se o plantio de
NORDESTE 454 4.557 10.038 23,6

BAHIA 171 1.858 10.866 9,6


mandioca em grande escala em propriedades

MARANHÃO 58 444 7.655 2,3


que antes eram ocupadas com o café. Neste
CEARÁ 62 489 7.887 2,5 momento, ocorreu uma importante migração de
OUTROS 163 1.766 10.834 9,2 empresários catarinenses que foram atraídos
SUL 213 4.786 22.470 24,8 pelo melhor clima do Paraná, à disponibilidade
PARANÁ 142 3.483 24.528 18,1 de terras propícias à produção de mandioca e
RIO G. DO SUL 50 896 17.920 4,6
algumas benesses oferecidas pelos prefeitos,
S. CATARINA 21 407 19.381 2,1
motivaram a transferência de suas indústrias
SUDESTE 112 2.018 18.018 10,5
para o Estado do Paraná.
MINAS GERAIS 39 535 13.718 2,8
A concentração das indústrias de
SÃO PAULO 53 1.199 22.623 6,2
fécula deu-se basicamente nos Núcleos
OUTROS 20 284 14.200 1,5
Regionais de Paranavaí, Umuarama, Campo
CENTRO OESTE 68 1.265 18.603 6,6

MATO G. DO SUL 37 821 22.189 4,3


Mourão e Toledo. Do total de 42 fecularias, a
MATO GROSSO 19 261 13.737 1,4 distribuição espacial é de 25 plantas no
OUTROS 12 183 15.250 0,9 Noroeste paranaense, 10 no extremo Oeste e 7
BRASIL 1.342 19.301 14.382 100,0 no Centro-Oeste. Juntamente com o aumento
FONTE: IBGE, SEAB/DERAL 2019
do parque industrial feculeiro, foram
2.3 - Produção Brasileira De Fécula implantadas várias farinheiras de médio e
grande portes. A partir desta época, estava
Segundo pesquisa anual de campo
consolidada o novo rumo da mandiocultura e o
realizada pelos técnicos do Centro de Estudos
Paraná tornou-se o segundo produtor Nacional
Avançados em Economia Aplicada –
de raiz e assumiu a liderança na produção de
CEPEA/ESALQ – a produção brasileira de
fécula.
fécula de mandioca, em 2018, foi de 536.611
A produção brasileira de fécula
toneladas, contra 422.322 toneladas
apresentou um forte crescimento no período de
alcançadas no ano de 2017. Esta pesquisa
28 anos, passando de 170 mil toneladas em
confirma também a grande concentração das
1990 para 537 mil toneladas em 2018, ou o
indústrias de fécula no Estado do Paraná, que
equivalente ao aumento de 232%. Durante os
conta com 42 unidades de um total de 71
anos de 2008 e 2013 houve uma certa
existentes no País. Estes dados representam

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estagnação e o volume médio produzido situou- TABELA-3 PRODUÇÃO DE FÉCULA NOS ESTADOS

se em torno de 538 mil toneladas e registrou um


2014 2015 2016 2017
pico de 670 mil toneladas no triênio 2014/2016. ESTADOS
PRODUÇÃO (t)
Em 2017 foi o ano de menor produção o que PARANÁ 450.150 520.070 419.370 249.640

evidentemente é explicado pela maior MATO G. DO 133.630 184.940 145.370 112.250


SUL
demanda de farinha pelos estados do
SÃO PAULO 52.820 43.410 49.420 39.200
Nordeste, quando a seca interfere na produção
S.CATARINA 5.480 2.450 1.700 4.040
agrícola daquela Região.
BAHIA 1.600 4.530 5.750
Os maiores volumes produzidos de
PARÁ 1.500
fécula ocorreram em anos que se reduz a
BRASIL 645.180 755.410 616.230 410.880
produção de farinha, ou seja, em safras que as FONTE: CEPEA, SEAB/DERAL,2019

chuvas no Nordeste do País são mais


GRÁFICO 1- PRODUÇÃO BRASILEIRA DE FÉCULA -
frequentes e o mercado é abastecido com o 2008/2018 (EM T)
produto regional. Assim foi o caso de 2017,
645.180
616.233
quando houve maior procura de farinha no 565.115 542.200
536.611
519.671

Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul e


TONELADAS
consequentemente a produção de fécula já foi
menor. Lembrando também que a menor
disponibilidade de matéria-prima às indústrias é
2008 2010 2012 2014 2016 2018
o principal fator de redução na produção de
FONTE: CEPEA, SEAB/DERAL,2019
fécula.
Dentre os principais estados 2.4 Demanda Brasileira De Fécula
produtores destacam-se o Paraná que
A produção brasileira de fécula se
representa acima de 60% da produção nacional
destina basicamente ao consumo do mercado
e na sequência o Mato Grosso, São Paulo e em
interno e uma pequena parcela em torno de 1%
menor escala o Estado de Santa Catarina.
é exportada para outros países. Porém, em
Destes, o Mato Grosso do Sul vem registrando
anos de seca no Nordeste brasileiro, boa parte
contínuo crescimento agrícola/industrial e na
da matéria-prima é canalizada para as
opinião dos técnicos e empresários esta
farinheiras em detrimento da produção de
evolução deverá continuar nos próximos anos.
fécula, gerando a necessidade de pequenas
(Tabela 3) e (Gráfico 1).
importações. Caso semelhante ocorreu em
2013, quando algumas indústrias substituíram
a fécula pelo amido de milho e completaram a
demanda com o produto importado,
principalmente oriundo da Tailândia.
O uso de fécula entra na composição
de inúmeros produtos, porém destacam-se a
indústria de papel e papelão, os frigoríficos, a

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indústria alimentícia, a química e a têxtil. Dentro brasileira é destinada basicamente ao mercado


da indústria alimentícia destaca-se o crescente interno. À exceção de algumas safras,
consumo da tapioca que para muitas famílias consideradas normais, quando os estados
até substitui o pão no café da manhã. Durante nordestinos demandam menos farinha e a
os dois últimos anos, devido a crise no setor Região Sul passa a produzir mais fécula. Assim
industrial brasileiro, o segmento atacadista foi o ano de 2015 quando o Brasil conseguiu
enfrentou dificuldade no repasse aos seus exportar o expressivo volume de 22 mil
consumidores finais. (Tabela 4) toneladas de fécula. Esta foi a primeira vez que
TABELA 4 – PRINCIPAIS USOS DE FÉCULA – 2012 / a exportação brasileira alcançou 3% da
2018
produção, pois em outras ocasiões dificilmente

SETORES 2012 2014 2016 2018


ultrapassa a 1%.

PANIFICAÇAO 18,6 21,5 22,8 22,0


Por outro lado, em períodos de safras
ATACADISTAS 25,0 21,3 18,9 18,4
menores e quando se produz mais farinha, os
TAPIOCA 7,5 12,9
empresários brasileiros complementam as suas
PAPEL/PAPELÃO 15,8 18,8 8,9 6,0

FRIGORÍFICO 13,2 11,4 17,6 21,6


necessidades com a importação do vizinho

OUTRAS/FECULARIAS 5,2 8,2 6,0 3,7 Paraguai e também da Tailândia. No ano


VAREJISTAS 7,6 6,6 7,3 6,4 passado, o Brasil importou 9.508 toneladas de
TÊXTIL 3,7 4,2 2,6 1,4 fécula no valor de US$ 4.493.000 e durante os
IND.QUÍMICA 4,7 1,4 5,2 3,7 meses de março e abril de 2019 já foram
OUTROS 5,6 6,1 9,8 3,4 importadas 348 toneladas no valor de US$
EXPORTAÇÃO 0,6 0,5 0,9 0,5
155.000. (Tabela 5).
FONTE: CEPEA, SEAB/DERAL

TABELA – 5 - PRINCIPAIS ESTADOS EXPORTADORES


2.5 Mercado Internacional De Fécula
DE FÉCULA

Com relação ao mercado internacional


2014 2016 2018
de fécula, pouca alteração tem sido observada Estados
t US$ t US$ t US$
nos últimos anos, uma vez que a Tailândia (1000) (1000) (1000)

continua na liderança de maior produtor e Paraná 2.605 2.734 5.688 3.687 2.490 2.494

São Paulo 166 363 816 641 495 379


exportador. O volume transacionado com a
Mato G. Do Sul 2.153 1.172 5.506 2.616 600 575
fécula tailandesa no mercado internacional
Santa Catarina 1.016 1.184 1.281 940 726 914
situa-se em torno de 85% e se destina
Outros 37 74 91 185 266 131
principalmente aos países da União Europeia.
Brasil 5.977 5.527 13.382 8.069 4.577 4.493
Eventualmente, o Brasil também complementa FONTE: MDIC/SECEX, SEAB/DERAL,2019

o seu abastecimento com a importação daquele


País.

Conforme já foi comentado ao longo


dos últimos anos, a produção de fécula

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3 – A Produção Paranaense de destinada principalmente para o consumo


humano e animal. Como se trata de pequenos
Mandioca
volumes, o excedente da produção é
Apesar da redução da área plantada durante os comercializado localmente, nos
dois últimos anos, causada principalmente pelo supermercados ou em feiras livres.
alto preço de arrendamento e falta de mão de
Durante os últimos 10 anos a mandioca
obra, o Paraná continua sendo o segundo
de mesa vem ganhando destaque,
produtor de mandioca. Perde na produção
principalmente nos municípios próximos aos
agrícola para o Estado do Pará, porém é o líder
grandes centros consumidores, como Curitiba,
absoluto na industrialização em especial na
Londrina, Maringá e Cascavel. Destaca-se
produção de fécula, nos produtos modificados
ainda o grande aumento no consumo de
e também se destaca na fabricação de farinha.
tapioca, que é um produto de fácil preparo,
O Paraná conta com o maior e o mais relativamente barato e pode substituir o pão no
moderno parque industrial de fécula e participa café da manhã. Atualmente, a tapioca está em
com cerca de 65% da produção brasileira deste todas as regiões brasileiras, inclusive nos
produto. Também possui várias indústrias de estados do Sul, onde praticamente não se
farinha, em grande maioria de médio e garnde consumia produtos de mandioca.
porte, o que lhe permite uma produção
Conforme já mencionado, as áreas
significativa e abastece vários estados do
mais tecnificadas são aquelas onde a produção
Nordeste em época de seca.
é comercializada em grande escala e se
Os maiores plantios e os mais destina ao abastecimento das indústrias de
tecnificados se concentram nas Regiões Norte, fécula ou de farinha. Normalmente são
Nordeste e Leste do Paraná. Nestas Regiões produtores que realizam a análise do solo,
está localizado o parque industrial que conta empregam manivas selecionadas, adubação
atualmente com 42 fecularias e cerca de 50 adequada e ainda recebem orientação dos
farinheiras. Da produção estadual estima-se técnicos da pesquisa ou da extensão rural.
que aproximadamente 70% seja transformado (Tabela 6).
em fécula, farinha e polvilho azedo. Sua
distribuição espacial concentra-se nos Núcleos
Regionais de Umuarama (33) Paranavaí (29%)
Campo Mourão (11%) e Toledo (6%).

Além destes Núcleos, a mandioca é


cultivada em praticamente todos os municípios
do Paraná. Porém em menor escala, com baixo
nível tecnológico, o que evidentemente resulta
em baixas produtividades e a produção é

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Prognóstico

3.2 Rentabilidade Econômica

TABELA – 6 - PRINCIPAIS NÚCLEOS REGIONAIS Dentro da cadeia produtiva a análise da


PRODUTORES 2018/19 E 2019/20
rentabilidade econômica é de fundamental
N. REGIONAIS SAFRA 2018/2019 SAFRA 2019/2020 importância, uma vez que mede os resultados
Área (ha) Produção (t) Área (ha) Produção (t) positivos ou negativos que determinada
UMUARAMA 46.000 1.128.000 44.400 963.300 atividade proporciona. No caso específico da
PARANAVAÍ 37.600 975.000 37,500 881.300 mandioca, durante as 3 últimas safras, a cultura
C. MOURÃO 14.500 376.000 14.000 580.000 proporcionou aos produtores resultados
TOLEDO 7.480 204.000 7.500 218.000
altamente satisfatórios com preços que
CURITIBA 7.850 158.000 7.500 153.000
geralmente se situaram próximos a R$ 500,00 /
MARINGÁ 6.600 169.000 6.600 165.000
t de raíz.
OUTROS 17.670 265.000 17.500 352.400

TOTAL 137.700 3.375.000 135.000 3.313.000 Esta reação positiva dos preços que
FONTE: SEAB/DERAL,2019
durou até meados de 2019 foi sem dúvida
3.1 Mão De Obra resultante de uma significativa redução no
plantio e também pela maior demanda pela
Dentro de uma análise dos fatores de
farinha dos atacadistas nordestinos. Nestes
produção observa-se que o uso de mão de obra
anos mais uma vez alguns estados nordestinos
nesta atividade é bastante intenso, impactando
enfrentaram fortes secas e consequentemente
altos valores nos custos de produção e ainda
tiveram suas safras frustradas.
pela sua escassez no campo, está contribuindo
na redução da área plantada. No Paraná, este Atualmente, o mercado do Nordeste
fator já teve influência na cultura do café, depois está abastecido com a sua própria produção. O
no algodão e ultimamente é um dos entraves setor industrial que demanda fécula continua
que mais limita o cultivo de mandioca. Esta em baixa, o que vem contribuindo para a
relação de trabalho se acentuou a partir de redução dos preços em todos os estados.
década de 80, com a intensificação da Durante os dois últimos meses a rentabilidade
mecanização e pela substituição das lavouras econômica da mandioca ficou em torno de 32%
de café e algodão pelo soja, milho e trigo. sobre o custo variável, mas já registra valores
negativos sobre o custo total de produção, ou
Na composição dos custos de
seja, não está remunerando todos os fatores de
produção da mandioca, a mão de obra aparece
produção.
com o maior valor, variando entre 50 e 60%. Na
safra de 2018/2019 foram cultivados cerca de 3.3 Preços
137.700 ha com a cultura de mandioca e
Conforme mencionado anteriormente
utilizando-se o coeficiente de 0,2 homens por
os preços da mandioca começaram a baixar
hectare ano, estima-se que foram empregados
lentamente a partir de janeiro de 2019 e se
aproximadamente 28.000 trabalhadores ao
acentuaram após o primeiro trimestre do
longo do ciclo.

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Prognóstico

corrente ano. A partir do mês de abril os 3.4 Tendências


produtores paranaenses estão recebendo em
Após um período de três safras
média de R$ 322,00 / tonelada de raíz posta na
favoráveis, em que todos os elos da cadeia
indústria. Este valor representa uma redução
produtiva trabalharam com margens de lucro
média de 30% se comparado ao mesmo
satisfatórias, novamente a safra de 2018/19, já
período do ano passado. Embora com pouco
reverteu essa situação. Mediante os preços
otimismo, o setor espera que haja uma
baixos e com remotas chances de subirem,
melhoria dos preços a partir do último trimestre
nesta safra, é muito provável que as projeções
que é o período em que a oferta de matéria-
para o próximo plantio sejam mais
prima começa a escassear e os empresários
conservadoras.
aumentam as suas compras de fécula e de
farinha. Normalmente durante os meses de A área plantada com a mandioca no
dezembro e janeiro além da entressafra, os Paraná sofreu uma acentuada redução durante
industriais aproveitam para realizar a os últimos anos. O maior desestímulo ocorreu
manutenção das máquinas e equipamentos. durante a safra de 2014/15, quando os preços
(Gráficos 2 e 3) atingiram limites inferiores aos garantidos pelo
Governo Federal. Além disso, o sucesso na
GRÁFICO 2- EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DA
MANDIOCA – JULHO 2018 A JULHO 2019 (EM T) produção e comercialização da soja e também
do milho, está absorvendo maiores
Julho 2018 a Julho 2019
quantidades de terras em detrimento da cultura
476,00 465,00

395,00
de mandioca. Vale ressaltar que essas culturas
365,00 355,00
325,00 322,00 são de ciclo curto, em média de 4 meses contra
R$/t

12 a 18 meses nos cultivos de mandioca.

Em função do sucesso da soja e


jul/2018 set/2018 nov/2018 jan/2019 mar/2019 mai/2019 jul/2019
MESES também pelo segundo ano do milho, os
FONTE: SEAB/DERAL,2019 arrendamentos das terras, principalmente no

GRÁFICO 3 – MANDIOCA – MÉDIA ANUAL DOS Norte do Paraná, sofreram elevados aumentos,
PREÇOS RECEBIDOS PELOS PRODUTORES R$/T) o que causou a migração de muitos produtores
de mandioca para Mato Grosso do Sul e São
552,00

478,00 Paulo. Existe ainda uma certa preferência dos


375,00
342,00 fazendeiros em alugarem suas terras para o
R$/t

175,00
plantio de grãos pelo fato de serem de ciclo
curto.

2015 2016 2017 2018 2019*


MESES
Entretanto o cenário para a próxima
safra de 2019/2020 poderá em parte se
FONTE: SEAB/DERAL,2019
beneficiar caso as cotações de milho se
mantenham em patamares elevados e

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Prognóstico

aumentem a concorrência do amido de milho


com a fécula de mandioca. O primeiro
levantamento realizado pelos técnicos do
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indica uma área de plantio para a próxima safra
de 2019/20 de 135.000 ha e uma produção de
3.313.000 toneladas de mandioca em raiz.

Esta estimativa representa uma


redução de 2% em relação a área plantada e
2% na produção, comparativamente à safra de
2018/2019. O plantio da nova safra enfrentou
sérios problemas devido à falta de chuvas que
praticamente não houve durante o mês de
julho. Porém esta prática deverá se concentrar
durante os meses de setembro, outubro e
eventualmente se estender por um período
maior se houver uma reação satisfatória nos
preços.

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