Relatório Esclerometria + Carbonatação
Relatório Esclerometria + Carbonatação
Relatório Esclerometria + Carbonatação
Santana do Araguaia - PA
Outubro/2022
1. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL
O local escolhido para a realização dos ensaios situa-se na avenida Dr. Antônio Portugal,
próximo ao setor Residencial Carajás na cidade de Santana do Araguaia - PA. A ponte
escolhida é denominada como “Ponte do Carajás" e foi construída no segundo semestre de
2009, tendo 13 anos de idade. A mesma passa em cima do Ribeirão Pantera.
Por ser uma obra de arte especial situada na área urbana da cidade, ligando dois bairros
importantes e com fluxo intenso de pessoas e veículos, deduziu-se que seria um local
interessante para se realizar os ensaios, pois a estrutura de concreto possui mais de 10 anos de
idade e resiste a diversos carregamentos diariamente, além de passar pela cheia anual do
Ribeirão Pantera no final do inverno.
4.1 CARBONATAÇÃO
O ensaio de carbonatação com o uso de fenolftaleína visa identificar a porção do concreto
afetado pela frente de carbonatação, indicando se a superfície do concreto está perdendo sua
capacidade de proteção e se as armaduras estão comprometidas à corrosão.
Para a execução do ensaio, o grupo utilizou uma barra de aço e um martelo para fazer um furo
na longarina central da ponte, na face vertical esquerda do elemento, até atingir a
profundidade de 4,5 cm. O furo foi feito a 75 cm do pilar de fundação e a 7 cm da borda
inferior da longarina, conforme a Figura 5.
4.2 ESCLEROMETRIA
Após a escolha do local a ser ensaiado, realizou-se a regularização da superfície com uma
pedra de moagem, e em seguida fixou-se o gabarito disponibilizado na NBR 7584. Foram
medidas as distâncias do ponto em relação à borda da longarina e ao pilar de referência
(Figura 7), e logo em seguida deu-se início a sequência de golpes com o esclerômetro (Figura
8 e 9).
Figura 8 – Aplicação dos golpes na superfície horizontal (esclerômetro na vertical, de baixo pra cima)
Entretanto, durante o ensaio, após a aplicação da solução no furo, não se observou a mudança
na coloração do concreto mesmo após a secagem da solução, o que indica que toda a parte
exposta à solução já está carbonatada. Como o furo tem 4,5 cm de profundidade, pode-se
deduzir que provavelmente toda essa espessura de cobrimento já está carbonatada, atingindo
as armaduras (ver Figura 11).
Figura 11 – Resultado do ensaio
Sousa e Gomes (2018) explicam que o valor da profundidade de carbonatação é utilizado para
corrigir o índice esclerométrico, pois a carbonatação influência nos resultados da resistência
superficial da estrutura. Ainda segundo os autores, com a introdução do gás carbônico (CO2)
para o interior do concreto, ocorre a formação de carbonato de cálcio nos poros, o que torna a
superfície do concreto mais densa e interfere na reflexão do esclerômetro.
Com a realização do ensaio de carbonatação, foi possível perceber que a estrutura da ponte
não apresenta alcalinidade satisfatória no cobrimento, pois toda a profundidade do furo está
com pH abaixo do recomendado, indicado pela solução de fenolftaleína. Como agravante,
foram localizadas armaduras expostas ao longo da longarina já com indício de corrosão, como
mostra a figura 12.
Figura 12 – Armadura Exposta
5.2 ESCLEROMETRIA
Os valores obtidos no ensaio passam por tratamento de dados dentro da tolerância de +/-10%
da média total dos pontos ensaiados. Para obter a dureza superficial da longarina (MPa), foi
utilizado o índice de correção conforme a norma NBR 7584. Os índices esclerométricos
obtidos em cada ponto são apresentados nas tabela a seguir:
Tabela 1 – Índices esclerométricos dos pontos ensaiados
F
onte: Autores (2022)
Observa-se que o ponto P2 na superfície horizontal foi o que apresentou o maior índice
esclerométrico médio, porém não foi o ponto com a maior dureza superficial, sendo o P3 o
ponto com maior resistência. Isso pode ser justificado pela falta de calibragem do aparelho,
pois durante a realização do ensaio nos três pontos, este estava configurado apenas para a
posição B/C (de baixo para cima), não sendo compatível para os demais pontos. Dessa forma,
parte dos resultados podem ser considerados como inválidos, e somente o P2 apresenta dados
consistentes.
5.3 CORRELAÇÕES
Fazendo a correlação entre os dois ensaios realizados, percebe-se que a frente de carbonatação
está atingindo uma profundidade de 4,5 cm do cobrimento do concreto, provavelmente indo
além da profundidade do furo executado, já que não se observou nenhuma mudança de
coloração no fundo. No entanto, a perfuração não chegou até as armaduras, não sendo
identificados sinais de corrosão neste local. Foi observado que o P2 na posição B/C possui
uma resistência superficial estimada de 19,8 MPa, mas não é possível relacionar esse valor a
uma resistência inicial do concreto existente, pela falta dos projetos.
Essa espessura de carbonatação deve ser usada para a correção do índice esclerométrico, pois
esse índice aumenta de acordo com o aumento da profundidade de carbonatação, devido à
densificação dos poros do concreto, reduzindo o pH da camada protetora (SOUZA &
GOMES, 2018). Com o passar do tempo, a difusão de CO2 no interior do concreto diminui,
porém toda a parte atingida permitirá que o aço seja atacado por água ou outras substâncias,
causando a corrosão e em casos graves, o colapso da estrutura.
Por estar em um ambiente alagável, a estrutura está sujeita a ciclos de molhagem e secagem,
este tipo de ação possibilita que o CO2 da atmosfera penetre no concreto com maior
velocidade e reaja com os hidróxidos alcalinos dos poros, reduzindo seu pH e formando
carbonato de cálcio, o que resulta em um maior índice esclerométrico. Como não se obteve o
projeto estrutural da ponte, são se conhece qual a resistência do concreto utilizada na sua
execução, portanto é importante acompanhar nos próximos anos a evolução desse processo de
carbonatação bem como a resistência do concreto, a fim de garantir a segurança na ponte.
6. CONSIDERAÇÕES GERAIS
No presente relatório , foram realizados ensaios para avaliar a carbonatação e a resistência à
compressão na ponte conhecida como “Ponte do Carajás'' localizada no município de Santana
do Araguaia, como requisito parcial de aprovação na disciplina de Ensaios de estruturas e
materiais. Observou-se patologias porém não foi realizado nenhum estudo mais aprofundado
para averiguar os possíveis danos à estrutura futuramente.
A carbonatação verificada foi um fator preocupante para o estado da ponte, pois a camada
carbonatada foi de 4,5 cm, ou seja, praticamente toda a espessura de cobrimento das
armaduras. O furo não chegou a atingir nenhuma barra, daqui se tem duas hipóteses: ou o furo
realmente não coincidiu com nenhuma armadura, ou o cobrimento adotado na longarina é
bem maior que 4,5 cm, em todo caso, a frente de carbonatação detectada apresenta um avanço
significativo em relação ao tempo em que a ponte foi construída. As condições do ambiente
justificam a velocidade de difusão do CO2 no concreto, no entanto, as características do
concreto utilizado também contribuem na carbonatação, portanto se estas fossem conhecidas,
seria possível realizar uma verificação bem mais precisa dos elementos.
Houveram falhas na execução do ensaio de esclerometria que invalidaram ⅔ dos resultados,
tornando inviável uma análise mais profunda. Devido à diferença da posição das superfícies, o
esclerômetro deveria ter sido calibrado antes de cada ensaio de forma a se considerar a
inclinação do aparelho, sendo 0° para superfície vertical (aparelho na horizontal) e 90° para a
superfície horizontal (aparelho na vertical, de baixo para cima). Essa falha comprometeu os
resultados de dois dos três pontos ensaiados, gerando dados imprecisos. Assim, percebe-se a
importância de se conhecer o aparelho e suas especificações através da leitura do manual
disponibilizado, bem como os procedimentos a serem adotados durante a execução do ensaio
de esclerometria.
De acordo com os resultados obtidos, é possível deduzir que a estrutura da ponte resistiu ao
longo dos 10 anos em um ambiente medianamente agressivo, em contato frequente com água,
porém essa estrutura já apresenta sinais de alerta devendo ser avaliada de forma criteriosa para
se estimar sua vida útil restante devido aos problemas identificados, e indicar a necessidade de
reparos. Este trabalho apresenta apenas uma análise superficial, sendo necessário mais ensaios
para se chegar a um diagnóstico preciso, além das especificações de cobrimento, localização
da armação, resistência do concreto, entre outros fatores importantes para a validação dos
resultados.
REFERÊNCIAS
SOUSA, P. A.; GOMES, T. Estudo dos efeitos da carbonatação na vida útil de pontes de
concreto armado. Engineering Sciences Pag. 3 v.6 - n.2 Jun a Nov 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT. NBR 7584: Concreto
Endurecido - Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão - Método de
ensaio;. Rio de Janeiro, 2016. 10 p.