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CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO CURRICULAR EM PSICOLOGIA DA

EDUCAÇÃO NAS PRÁTICAS ESCOLARES DIRIGIDAS AOS ALUNOS DA


EDUCAÇÃO ESPECIAL.

OLIVEIRA, TAIZE, mestranda em psicologia do desenvolvimento e aprendizagem pela


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, [email protected]

LEITE, LÚCIA PEREIRA, Livre-Docente em Psicologia da Educação, Professora Associada


do Departamento de Psicologia da Unesp, câmpus de Bauru. [email protected]

Resumo

O número de crianças com alguma deficiência matriculadas no ensino regular vem


crescendo nos últimos anos, muito em função das normativas fundamentadas numa
proposta educacional inclusiva, que se fundamenta no princípio da Escola para Todos.
Diante desse cenário, é usual encontrar professores do ensino comum com muitas
dificuldades na operacionalização da prática pedagógica dirigida a essa demanda
educacional. Nesse direcionamento, o presente trabalho, ocorrido num município do
centro-oeste paulista durante um semestre letivo, visa relatar as ações de suporte
educacional ofertadas como parte de um estágio curricular na área da Psicologia da
Educação, ofertado para estudantes do quinto ano do curso de graduação em Psicologia, de
uma universidade pública do Estado de São Paulo. A proposta teve foco o suporte
educacional para professores regentes e alunos de Pedagogia, com vistas a adoção e a
revisão de propostas educativas dirigidas aos alunos da Educação Especial que frequentam
o ensino comum. Com professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I seus
objetivos se concentraram na promoção de ações compartilhadas, por meio de reuniões
dialógicas, na oferta de subsidio teórico-operacional para a participação mais efetiva de
alunos com deficiência intelectual ou com transtorno do espectro do autismo (TEA) na sala
de aula comum. Com os graduandos de Pedagogia foram realizados minicursos no formato
de oficinas, que eram trabalhadas estratégias educacionais e estudo de caso sobre alunos
com deficiência. A Educação Inclusiva é uma realidade posta no sistema educacional
brasileiro. No entanto, devido as particularidades apresentadas pelos alunos com
deficiência, o processo educacional necessita ser ajustado e reformulado para
que todos os alunos acessem o currículo escolar. Nessa direção, as vivências tratadas no
presente trabalho valorizam a contribuição do profissional da psicologia na formação de
pedagogos e na formação continuada de professores para que conjuntamente possam
refletir e repensar a prática pedagógica no atendimento a essa demanda, para que a
Educação Inclusiva extrapole as prescrições legais.

Palavras-chave: Educação Inclusiva. Inclusão Educacional. Psicologia da Educação.

1. Introdução

O atual cenário da educação pública brasileira tem se deparado com o aumento de


matriculas de crianças com deficiências no ensino regular, isso devido as atuais políticas
públicas de inclusão e legislação pertinente a esta conduta. O aumento destas matriculas
implica em possíveis desafios de professores que não possuem uma formação especifica
para atender as demandas de inclusão e acessibilidade, desde o nível assistivo
metodológico até mesmo ao manejo das interações entre as crianças com desenvolvimento
típico e as crianças com desenvolvimento atípico. Ainda, é importante destacar que o
aumento do número de matriculas não implica em aumento real de inclusão desses alunos,
podendo os mesmos somente estarem integrados ao ensino regular. Dito de outra forma
podem estar matriculados em sala de aula comum, porém sem nenhum ajuste no processo
de ensino que favoreça a aprendizagem escolar. (FREITAS- CARVALHO, A. et al 2016;
SOUZA, M. V. S., 2016; LEMOS, C. F. S, et al., 2016; KASPER, A. A. et al., 2008).
A promulgação do Estatuto da pessoa com deficiência em julho de 2015, a saber a
Lei Brasileira de Inclusão 13.146/15, que entrou em vigência em janeiro de 2016, trouxe
dispositivos normativos que têm favorecido a Educação Inclusiva no país. Em termos
numéricos, segundo dados do Censo Escolar, levantados pelo INEP em 2017, as
estatísticas do ano de 2016 indicavam que 896.809 estudantes com deficiências estavam
matriculados em classes comuns, na Educação Básica, de uma total de 48.608.093,
representando 1,8% do total de matrículas.
Porém, acredita-se, que preocupada em asseverar o acesso, a participação e a
aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação no ensino comum, a Secretaria da Educação Especial
(SEESP/MEC) ao organizar o documento, “Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva” (BRASIL, 2008), fortaleceu o acesso e a permanência
do público-alvo da Educação Especial nos espaços comuns. Na normativa é definido por
alunos: (a) com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, intelectual, mental ou sensorial; (b) com transtornos globais do desenvolvimento; (c)

com altas habilidades/superdotação. No interior do documento há uma série de prescrições


para o fortalecimento da Educação Inclusiva, tais como: a) transversalidade da educação
especial desde a educação infantil até a educação superior e atendimento educacional
especializado; b) continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; c)
formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais
profissionais da educação para a inclusão escolar; d) participação da família e da
comunidade; e) Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos,
nos transportes, na comunicação e informação; e) articulação intersetorial na
implementação das políticas públicas. Percebe-se, portanto, que cabe ao profissional da
Psicologia também atuar em prol de uma Escola para Todos, principalmente na leitura dos
itens (c) e (e).
No entanto, a partir da consolidação de políticas públicas e legislação pertinente
para a inclusão desse público na educação regular, novas inseguranças surgem nesse
contexto escolar. Atualmente, no Brasil, há poucos cursos de graduação em educação
especial em universidades públicas, dentre os mais procurados no vestibular estão o da
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar e da Universidade Federal de Santa Maria
UFSM-RS. Há ainda um grande número de oferta em instituições privadas, principalmente
pós-graduação e especialização.
Mais especificamente ao contexto a qual se insere esta proposição, percebe-se no
cenário atual da educação do interior paulista a contratação de profissionais com formação
em educação especial para o cargo de professor itinerante. Sendo que há uma grande
demanda nas escolas púbicas e poucos profissionais disponíveis para atender a mesma.
Desta maneira, cabe muitas vezes ao professor regente, sem formação específica, a
elaboração de práticas pedagógicas voltadas ao público-alvo da Educação Especial, ou
seja, é ele que precisa adequar as atividades de ensino dirigidas à classe de uma maneira
geral às necessidades especiais apresentadas por alguns alunos.
No entanto, o que ocorre é que muitos professores não tiveram preparo ou incentivo
para se adaptarem e se formarem academicamente para atender a essa nova demanda, e
trazem como queixas terem que dedicar um maior tempo para se pensar em atividades
adaptativas para os alunos com desenvolvimento atípico, além das dificuldades no trato
pedagógico com problemas cotidianos da escolarização de alunos considerados com
desenvolvimento típico e (DIAS, L. F; FERREIRA, M., 2017; TEIXEIRA, R. et al 2016;
SANT’ANA, I. M., 2005). .
Preocupados com tais questões, o Ministério da Educação - MEC tem ofertado
cursos de formação continuada com conteúdos curriculares da educação especial, inclusive
na modalidade a distância. A solicitação deve partir da rede municipal ou estadual de ensino,
e a escola deve ter como obrigatoriedade estar contemplada no programa de implantação
da sala de recursos para garantir participação.
Coadunando com as considerações apresentadas por Martins e Leite (2014)
entende-se que os debates sobre a inclusão escolar têm ocorrido fortemente indicando a
necessidade de ajustes de várias naturezas - infraestruturais, instrumentais, curriculares e
interacionais - por parte da escola e dos profissionais que nela atuam para assegurar em
particular que alunos com deficiência possam acessar o currículo escolar.
Nesse direcionamento, o texto aqui apresentado visa relatar duas diferentes
experiências de ações de formação continuada ofertadas por estagiários de Psicologia da
Educação vistas à promoção da Educação Inclusiva, ocorridas durante um semestre letivo. A
primeira com professores que já atuam em salas de aulas que apresentam matrículas de
alunos com deficiência, mas que não possuem formação especializada, e a outra com
graduandos de Pedagogia que se interessam pelo tema.

2. Percurso metodológico

Formação continuada de professoras do ensino comum

A proposta de intervenção psicoeducacional ocorreu com professoras regentes de


sala comum que possuem alunos com deficiência matriculadas, em dois diferentes
contextos, no ensino infantil e no segundo no fundamental I, em escolas da rede pública
municipal de uma cidade do interior paulista.
A intervenção ocorreu com a participação de estudantes do quinto ano de
Psicologia, que participavam do estágio curricular Processos de Intervenção: Inclusão
Educacional. Nessa proposta era realizado o acompanhamento e atendimento semanal de
crianças com transtorno do espectro do autismo – TEA, em diferentes contextos: em uma
Entidade de Assistência social que presta atendimento e assessoramento a pessoa com
deficiência e nas respectivas unidades escolares - de ensino regular - a qual as crianças
estavam frequentavam. A efetivação do estágio compreendia a observação de situações de
atendimento e/ou aulas e a oferta de proposições que promovem a Educação Inclusiva,
fundamentadas nos preceitos da Psicologia Histórico-cultural, objetivando a promoção das
funções psicológicas superiores e das interações sociais.
No contexto escolar as intervenções ocorreram em dois principais focos, sendo um
primeiro de intervenção com a classe, sensibilizando os alunos para às diferenças humanas,
na perspectiva de reconhecimento e acolhimento à diversidade como também a elaboração
de estratégias de ensino ajustadas as necessidades específicas dos alunos com TEA; num
segundo momento as intervenções foram voltadas para os professores (e cuidadores
quando a escola apresentava esse profissional), discutindo temas relacionados aos ajustes no
componentes curriculares (objetivos, conteúdos, estratégias e recursos), bem como
considerações relacionadas ao desenvolvimento humano da pessoa com deficiência e
aspectos relacionados ao TEA.
O trabalho realizado com as professoras e cuidadoras ocorreu por meio de dialogo
expositivo, com apresentação multimídia e entrega de textos antecipadas para discussão
nos encontros. Foram identificadas pelas participantes dificuldades em compreensão de
alguns aspectos teóricos retratados nos textos, sanadas após aos momentos de orientação
dialogada promovida pelos estagiários, auxiliando assim na apreensão dos conteúdos que
ficaram previamente ‘incompreendidos’.
Debater aspectos que envolvem o desenvolvimento humano, incluindo discussões
sobre desenvolvimento atípico, em especial daqueles com transtorno do espectro autista,
auxiliou as professoras a compreenderem os comportamentos da criança com autismo
apresentados em sala de aula – que muitas vezes são entendidos como inadequados,
desobediência ou ainda como ‘falta de atenção’, quando na verdade são características
comportamentais comuns aos sujeitos com TEA. Foi possível ainda refletir de modo
conjunto as adequações curriculares que podem auxiliar no processo educacional desse
público.
Uma ressalva importante, diz respeito a satisfação das professoras em realizarem
tais encontros, que se configuram como ações de formação continuada, realizadas em
serviço. O fato dessas atividades ocorrerem durante outras aulas dos alunos, como
educação física, facilitou o compromisso e responsabilidade das educadoras com as
atividades, posto que elas deviam estar presentes no contexto escolar nesses horários,
porém não em atividades letivas com a turma.

Formação inicial de educadores que estão em formação do 1º ao 4º ano a respeito


da inclusão

Como mencionado um outro foco de atuação dos estagiários foi com graduandos de
Pedagogia. Foram ofertadas oficinas com estudantes da educação básica se mostraram
diversas por alguns fatores: a) haviam estudantes do 1º ao 4º ano de formação, com
diferentes apropriações de conteúdos; b) por serem oficinas optativas, as quais não tinham
obrigatoriedade de realizá-las, sendo assim o público frequente estava motivado com a
temática; c) as oficinas ocorreram em horários de aula, o que facilitou a participação, posto
que muitos trabalham no contraturno; 4) muitos dos participantes não tinha tido contato na
graduação, até então, com assuntos relacionados as práticas educativas inclusivas.

De modo geral os graduandos relataram que se sentem despreparados para atuar


com o público-alvo da educação especial, e caracterizaram como falha do currículo da
graduação que frequentam. A escassez de disciplinas e de estratégias/materiais
pedagógicos diferenciados na formação em Pedagogia para lidar com alunos da educação
especial não ‘incapacita’ os educadores a atuarem com este público, mas dificulta tanto
para eles próprios em relação a manejo de sala de aula e ao ensino dos conteúdos previstos.
Desse processo muitas vezes decorre que alunos com deficiência acabam sendo integrados a
sala de ensino comum, mas não verdadeiramente incluídos no processo educativo.
Disseram ainda, durante as oficinas, que previam ser necessárias formação complementares
à Pedagogia, como especialização ou outra modalidade de pós- graduação, para lidar com
esse público.
Foram realizadas oficinas no caráter de minicursos durante a semana de pedagogia e
educação de instituição de ensino superior da qual os participantes eram graduandos. O
formato da formação foi dinâmico, com exposição dialogada, estudos de casos e atividades
que visavam desenvolver habilidades dos alunos em intervenções com o público alvo da
educação especial. Durante os minicursos foram realizadas atividades que buscavam
promover a compreensão dos alunos a respeito do fenômeno deficiência e inclusão,
projetar intervenções e adequações curriculares para a promoção do desempenho escolar, a
partir de estudos de casos que procuravam retratar aspectos educacionais e
socioemocionais de crianças com diferentes deficiências.
Quanto contribuições das oficinas, os estudantes relataram que o fato de se pensar e
discutir questões relacionadas a Educação Inclusiva já no período de formação inicial, pode
auxiliá-los a se sentirem mais preparados para atuarem frente a essa nova configuração de
ensino. Ainda, mencionaram o quanto é importante pensar em ajustes curriculares para
atender as especificidades desenvolvimentais de estudantes com deficiência,
caracterizando-os como profissionais responsáveis com a formação e com
desenvolvimento humano de todos os alunos.

3. Considerações finais

A formação de professores para atuar com alunos da Educação Especial dentro de


uma perspectiva inclusiva tem se configurado como meritória em tempos em que uma série
de políticas públicas orientam a proposição de uma Escola para Todos.
Nesse direcionamento a proposta aqui relatada procurou descrever ações da
Psicologia da Educação como suporte teórico e operacional para a prática pedagógica
dirigida a esse púbico.

O trabalho em parceria, realizado pelo grupo de estagiários com professores


regentes e graduandos em Pedagogia, se mostrou uma ferramenta importante para a
promoção da motivação desses profissionais em contexto de despreparo frente ao
desconhecido, no caso alunos com deficiência matriculados no ensino comum.
Os relatos dos participantes indicaram a necessidade de se investir em formações
complementares na própria graduação, posto que nem todos os profissionais estão expostos
as oportunidades de continuarem estudando a respeito de temas tão específicos. Igualmente
apontaram a necessidade de as escolas promoverem um espaço de orientação e debate em
que os professores possam participar, uma das sugestões foi promover formação
continuada nas “aulas vagas”, favorecendo a adesão desses profissionais nas atividades
extraclasse.
A parceria da psicologia com a educação se mostrou relevante e pertinente para a
compreensão sobre as particularidades do desenvolvimento humano de pessoas com
deficiência, em especial, aqueles classificados com transtorno do espectro do autismo. Um
outro ponto de destaque foi a oferta de dinâmicas de sensibilização e/ou estudo de casos
que favoreceram o debate sobre as práticas pedagógicas e as relações interpessoais
estabelecidas na classe entre alunos com e sem deficiência.
Por fim cumpre dizer que as orientações, tanto para os professores em serviço como
para os estudantes de Pedagogia, foram pontuais e ocasionais e ocorreram dentro de um
semestre letivo. Desse modo entende-se que deveriam ser mais frequentes e que a presença
do psicólogo - que atua na no campo da educação - pudesse fazer parte da rotina escolar,
favorecendo a contribuição mais sistemática para a efetivação de um processo educacional
que acolha às diferenças.

Eixo: 5- Direitos humanos, educação, gênero e diversidades

4. Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de


Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.

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