Transformações Na Educação CTS: Uma Proposta A Partir Do Conceito de Tecnologia Social
Transformações Na Educação CTS: Uma Proposta A Partir Do Conceito de Tecnologia Social
Inclui referências.
APRESENTAÇÃO ....................................................................... 19
1. EDUCAÇÃO CTS E O PENSAMENTO LATINO
AMERICANO EM CTS ................................................................ 31
1.1. Educação CTS: origens e disseminação no contexto
brasileiro .................................................................................. 31
1.2. Tradição latino-americana em CTS ou PLACTS ......... 38
1.3. PLACTS e a importação de tecnologia........................ 46
1.4. Proposta de pesquisa de relevância social ................. 49
1.5. Convergência Freire-PLACTS ..................................... 53
2. TECNOLOGIA SOCIAL COMO UMA POSSIBILIDADE DE
TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO CTS ............................... 57
2.1. Marco conceitual da Tecnologia Social (TS) ............... 57
2.1.1. A Contribuição de Hugh Lacey para a TS............ 59
2.1.2. A Contribuição de Andreew Feenberg para a TS 62
2.1.3. A Contribuição da Escola de Frankfurt para a TS:
uma divergência .................................................................. 66
2.1.4. Contribuição do PLACTS para a TS .................... 73
2.2. Dimensão metodológica .............................................. 76
2.2.1. Caracterização da amostra .................................. 76
2.2.2. Análise Textual Discursiva (ATD) como Recurso
Metodológico ....................................................................... 78
2.2.3. Processo de Construção das Categorias ............ 83
3. INSTAURAÇÃO DE CTS TRANSFORMADO .................... 85
3.1. Vivência a Partir de Valores Outros ............................. 85
3.1.1. Foco nos Valores da Tecnologia .......................... 86
3.1.2. Foco no Contexto Sociocultural e Histórico ......... 90
3.2. Processos de Tomadas de Decisões em CT .............. 98
3.2.1. Dar voz aos grupos sociais enquanto demanda .. 99
3.2.2. Enquanto conquistas/ganhos ............................. 103
3.3. Formação em uma Perspectiva Coletiva ................... 106
3.3.1. Coaprendizagem ................................................ 108
3.3.2. O técnico na interação com o coletivo ............... 125
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 135
4.1. Educação CTS e Possíveis Horizontes ..................... 135
4.2. Amostra, Sua Amplitude e Perspectivas ................... 138
ARTIGOS ANALISADOS .......................................................... 145
REFERÊNCIAS ......................................................................... 149
APÊNDICE I - Material empírico ............................................... 157
APRESENTAÇÃO
1
No capítulo 2 aprofundamos o conceito de TS bem como seus
objetivos.
19
A partir disso formulamos o seguinte problema de
pesquisa: que elementos do conceito de tecnologia social podem
contribuir com uma perspectiva transformadora da educação
CTS no contexto brasileiro? Por entendermos que a forma como
as relações CTS e a educação CTS são compreendidas não são,
de forma alguma, estanques mas, sim, passam por processos de
transformação torna-se relevante selecionar fontes e/ou
perspectivas outras que possam contribuir com os processos de
transformação na educação CTS.
Em nossa pesquisa de mestrado (ROSO, 2014),
iniciamos o capítulo de ―conclusões, horizontes e possibilidades
para a educação em ciências‖ (p. 75) com um alerta importante
sobre a educação CTS no contexto brasileiro.
2
A literatura em termos de educação CTS, sobretudo na educação em
ciências, é vasta no Brasil. No entanto, cabe um alerta que ditará o tom
do presente texto ao longo de seu desenvolvimento.
20
também de outros colegas de área, que logo trataremos,
podemos passar a questionar que aprofundamentos seriam
esses. Ou ainda, o que a educação CTS poderia aprender com
perspectivas outras de relações CTS em um sentido crítico e
transformador?
Já Rosa (2014), que também debruçou-se em seu
trabalho sobre a educação CTS, faz crítica que caminha em tom
semelhante. Em seu trabalho, a autora tinha como objetivo
identificar possíveis manifestações sobre a suposta neutralidade
de CT em práticas educativas sobre CTS resultando na
identificação de ―vazios‖ sobre os valores envolvidos em CT. Em
seu trabalho, argumenta, não identificou explicita ou
implicitamente discussões sobre construções históricas de CT
que problematizassem a suposta neutralidade de CT. Também
nas considerações finais de seu trabalho sublinha:
22
exercitar modificações em termos de currículo em escolas da
região, que seriam estruturados a partir desses temas.
Não obstante, como brevemente já indicamos, nossa
prática, pesquisas e estudos sobre a educação CTS
possibilitaram a identificação da necessidade de
aprofundamentos conceituais na literatura disponível e vinculada
à educação em ciências. Dentre essas limitações a serem
enfrentadas, podemos destacar o reducionismo metodológico
atribuído à CTS (MUNCHEN, 2006), a não centralidade na
discussão curricular em CTS (ROSO, 2014), a não
problematização do consumismo, vinculado ao capitalismo,
(ROSO, 2014), a escassa problematização da suposta
neutralidade de CT (SANTOS, 2012), o pouco destaque aos
valores incutidos em CT (ROSA, 2014), a necessidade de uma
nova articulação entre sociedade e universidade (DALMOLIN,
2014), dentre outros.
Entre os anos 2010 e 2011, ainda no âmbito do GETCTS,
resgatamos de forma mais sistemática um comentário frequente
do professor Décio durante algumas das discussões sobre CTS.
Estávamos em formação inicial e tendo os primeiros contatos
com a literatura CTS, por vezes nos parecia que a educação
CTS era um bloco único! O alerta do professor Décio era para
que tomássemos cuidado, existiam perspectivas várias de CTS,
inclusive algumas que sequer haviam repercutido no âmbito da
educação em ciências. Um exemplo que dava, era de alguns
professores universitários latino-americanos que dedicaram seus
trabalhos com as relações CTS. Lembrava ele, ainda, que em
sua tese (AULER, 2002) havia contemplado alguns desses
autores de forma breve, sobretudo em função dos seus objetivos
na época.
Entre esses anos, 2010 e 2011, localizamos algumas
bibliografias que nos possibilitaram o estudo desses autores,
inicialmente Amílcar Herrera, Renato Dagnino, Oscar Varsavsky,
dentre outros3. Ao conjunto de contribuições, no que diz respeito
às relações CTS, desses autores, Dagnino, Thomas e Davyt
(1996) atribuíram a identificação de Pensamento
Latinoamericano em Ciência-Tecnologia-Sociedade (PLACTS) e
identificaram a origem de suas contribuições na década de 1960.
3
Aprofundaremos no capítulo 1 o pensamento desses e outros autores.
23
Foi no conjunto de trabalhos vinculados ao PLACTS que
pudemos identificar uma outra perspectiva de compreender as
relações CTS.
Estamos compreendendo a presente tese como uma
continuidade de nossa pesquisa de dissertação (ROSO, 2014;
ROSO e AULER, 2016). Naquele trabalho focamos em analisar
processos de definição e construção de currículos em práticas
educativas vinculadas ao Movimento Ciência-Tecnologia-
Sociedade (CTS). Em termos de detalhamento, nossas intenções
eram identificar quais sujeitos participavam da definição dos
currículos orientados por CTS e os encaminhamentos dados,
relativamente ao campo curricular, nas práticas CTS a fim de
sinalizarmos possíveis horizontes a serem considerados na
educação em ciências.
Em termos de resultados, construímos quatro categorias
que se articulam: (i) currículos temáticos, (ii) professores
selecionam temas para cumprir listagens de conteúdos, (iii) não
realização da investigação dos temas e (iv) focos de colaboração
e interdisciplinaridade.
Embora a totalidade tenha assumido o trabalho com
temas, a qualificação desse conceito, no material analisado,
evidenciou um espectro amplo de encaminhamentos. Um
primeiro subconjunto trabalhava com temas de significação
social, que tinham possibilidades de explorar dimensões relativas
à CT e entendidos como mais globais, passíveis de serem
trabalhados em diversos contextos, de afetarem várias pessoas
em várias partes do mundo e não serem solúveis apenas em
determinadas regiões (MERRYFIELD, 1991). São, ainda, temas
―questionadores‖ (STRIEDER, 2012) em que estão presentes
preocupações com implicações de CT na sociedade e a
utilização responsável de recursos naturais e aparatos
tecnológicos, e a discussão de vantagens e desvantagens, e a
avaliação de impactos de CT: potencializar os aspectos positivos
e minimizar os negativos (ROSO, DALMOLIN e AULER, 2011b;
DALMOLIN e ROSO, 2012).
O segundo subconjunto trouxe a marca de conteúdos
tradicionais designados de temas, conforme conceituação
(AULER, DALMOLIN e FENALTI, 2009), restritos à lógica interna
da própria ciência e que, por apresentarem certo grau de
abstração, podem dificultar o engajamento dos estudantes às
24
práticas educativas, quando concebidos como ponto de partida
destas. Já em um terceiro subconjunto produtos foram
considerados temas em que se buscou trabalhar conceitos
científicos presentes nestes. Algo muito próximo a objetos
técnicos que foram decodificados em que a ciência presente
nesses produtos era explorada. No entanto, contextos sócio
históricos e culturais não foram explicitados. Nesses
encaminhamentos, ao menos dois riscos pode-se estar
assumindo, mesmo que implicitamente: (i) naturalização de
currículos tradicionais, em que não são questionados o ―o quê?‖
e ―por quê?‖ ensinar, permanecendo o foco no ―como?‖ ensinar,
(ii) endosso a suposta neutralidade e determinismo de CT ao
passo que a ciência, a tecnologia, os produtos e aparatos são
discutidos desconsiderando-se seus contexto de produção e uso.
Na segunda categoria do nosso trabalho de dissertação
focalizamos na centralidade que as chamadas ―listagens de
conteúdos‖ têm mesmo em perspectivas um pouco mais
―arejadas‖ de educação. As justificativas quanto a escolha de
temas são diversas, aspectos econômico e políticos, formação e
vida dos estudantes, vida em sociedade, eventos públicos,
constituírem saberes importantes, e outras. O que foram
consideradas justificativas coerentes com os trabalhos propostos.
No entanto, ao olhar para a relação com o conteúdo percebemos
que praticamente inexistiam problematizações quanto às
listagens de conteúdos/conhecimentos levados à sala de aula.
Ou seja, mesmo que professores tenham selecionado seus
temas, o que é positivo, novas concepções de currículo não
foram exercitadas. Os temas não foram utilizados para gerar
novos currículos escolares. O que de alguma forma foi objetivo
em CTS.
Já na terceira categoria identificamos que embora em
cerca de 50% do material analisado houvesse preocupações em
termos de currículo e praticamente a totalidade desse material
referenciasse a obra de Paulo Freire, ou desdobramentos, em
nenhum trabalho houve a realização da Investigação Temática
proposta pelo educador, possivelmente uma das principais
contribuições sua. Ou seja, a atuação docente, mais uma vez,
fica limitada em executar/cumprir programas de ensino pré-
definidos. A realização da investigação temática além de sinalizar
parâmetros para a construção e execução de novos currículos
25
poderiam ser um importante processo de identificação de
demandas locais, necessidades reais da sociedade local (ROSO,
2014; ROSO e AULER, 2016; AULER e DELIZOICOV, 2015).
Em nossa última categoria discutimos os focos de
colaboração e interdisciplinaridade. Consiste em um conjunto de
trabalhos, vinculados à CTS, que demonstrou articulações
interdisciplinares e trabalhos colaborativos e coletivos. São
trabalhos potenciais, sobretudo se destacarmos nossa defesa
pela abordagem de temas reais, complexos, de significado
social. Por sua natureza não podem ser compreendidos, menos
ainda solucionados, apenas por um campo do conhecimento,
mas sim pela interação de coletivos com formação diversificada e
quando da realização de uma trabalho colaborativo. Ainda, são
formas de trabalho que avançam em relação à tecnocracia por
haver a compreensão de que é um coletivo que pode enfrentar
um tema real, e não um sujeito dentro de uma formação
específica.
Ao final de nossa pesquisa de mestrado, destacamos
quatro dimensões consideradas desafios que poderiam ser
enfrentadas pela educação em ciências e estiveram ausentes no
material analisado na época: não problematização do
consumismo, reducionismo metodológico atribuído à CTS,
esvaziamento de Freire em CTS.
Mesmo o tema energia tendo sido um dos mais
frequentes, não se fizeram presentes reflexões mais
aprofundadas quanto ao capitalismo, ao consumismo, a lógica da
obsolescência programada ou mesmo a degradação ambiental
que decorre desse modelo social e econômico. Uma das
discussões presentes no material era sobre coleta seletiva de
lixo, focando a análise do problema no pós-produção e
silenciando sobre a raiz do problema: a matriz produtiva.
O currículo, inicialmente aspecto privilegiado na
educação CTS, bem como a concepção de novos currículos,
perde centralidade. Listagens de conteúdos já ―tradicionais‖ e
cristalizadas têm atuado como tencionadoras da seleção de
temas e restringindo a possibilidade de concepção de novas
formas de relação tema-conteúdo. Algo semelhante ocorre
quando a articulação do pensamento de Freire com CTS, no
material então analisado, em que um dos principais contributos
do autor não vem sendo utilizado: a investigação temática.
26
Poderia desencadear um processo de identificação e
problematização de demandas junto à sociedade. Ou seja, a
identificação de temas, de problemas, junto à comunidade
poderia gerar currículos para a Educação Básica da mesma
forma evidenciar necessidades de determinada localidade.
Em linhas gerais, e finalizando a síntese inicial sobre
nossa pesquisa de mestrado, compreendemos que as
problematizações feitas naquele trabalho claramente tinham
como pressuposto que a educação, ou melhor, outro modelo de
educação que não o tradicional, tem muito que contribuir com
valores desejáveis para a sociedade, para a ciência e para a
tecnologia. Valores como solidariedade, sustentabilidade, outra
organização econômica, nova forma de relações de trabalho,
modelos produtivos, dentre outros que serão destacados ao
longo desta tese. Em especial, e ao que nos dedicaremos neste
texto, o modelo de tecnologia que poderia ser concebido em
nossas observações, propostas, guarda grande similaridade com
uma proposta de geração de tecnologia que já vem sendo
praticada no Brasil. O conceito de Tecnologia Social (TS)
(LASSANCE JR., 2004; DAGNINO, 2010).
Naquela pesquisa focamos o olhar para a construção de
currículos em uma linha de trabalho potencialmente crítica, CTS,
e argumentávamos que a educação pode, sim, contribuir para
outro modelo de sociedade, tecnologia e ciência. Já na presente
pesquisa nosso olhar será, de certa forma, o oposto ao praticado
naquela oportunidade. Ou seja, a partir da tecnologia, ou de uma
determinada forma de conceber e produzir tecnologia, social,
focaremos e analisaremos possíveis implicações para processos
educativos/formativos.
Uma forma relativamente nova de conceber tecnologia,
naturalmente, para sua manutenção, deve passar por processos
de instauração e disseminação dessa perspectiva para seu
próprio fortalecimento. Ou seja, processo de formação de novos
profissionais que, em maior ou menor medida, se engajarão à
essa forma de produção. Mais e novas pessoas que direcionem
seu trabalho para a geração de TS. É a partir dessa linha de
pensamento que o problema de pesquisa que guiará a tese foi
selecionado e formulado.
A instauração de uma perspectiva transformada da
educação CTS, que trabalhamos ao longo do texto, é balizada
27
pela análise do material empírico selecionado, logo a seguir
caracterizado, considerando três aspectos: (i) referenciais que
fundamentam CTS transformado, (ii) encaminhamentos
praticados no âmbito da TS e (iii) artigos auto identificados como
filiados à perspectiva da TS. A seguir, recolocamos o problema
da tese e os objetivos assumidos.
29
1. EDUCAÇÃO CTS E O PENSAMENTO LATINO
AMERICANO EM CTS
4
Em função do imbricamento de CT, contemporaneamente tem sido
utilizado, cada vez mais, o termo tecnociência.
5
Consiste em uma compreensão de que o desenvolvimento científico
leva do desenvolvimento tecnológico que, por sua vez, acarreta em
desenvolvimento econômico e, por sim, desenvolvimento social
31
essa constatação deu-se em função, por exemplo, da
degradação ambiental (CARSON, 2007) associada ao
desenvolvimento de CT, seus vínculos com a guerra, como a
segunda guerra mundial e do Vietnam a contribuição da
epistemologia do século XX como Thomas Kuhn (2011) e outros.
Isso acarretou um olhar mais crítico sobre CT.
Esse olhar mais crítico, nestes contextos, acarretou numa
realocação de CT, passando da esfera da suposta neutralidade,
em termos de valores, e colocada no campo do debate político.
Esse panorama social, ocorrido, na visão desses autores,
principalmente no Hemisfério Norte, deu origem ao Movimento
Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS), que buscava um olhar
mais crítico quanto às inter-relações dessa tríade tendo como
pano de fundo a problematização da suposta neutralidade de CT.
Ainda segundo García, Cerezo e López (1996), o
conjunto de manifestações decorrentes do movimento CTS,
ocorridas no Hemisfério Norte, dentre outros aspectos, postulava
algum controle social sobre CT, de forma que se configurou num
dos objetivos centrais do denominado movimento CTS. Ou seja,
passou-se a postular processos decisórios mais democráticos,
em detrimento do modelo de decisões puramente técnico,
tecnocrático.
A partir desses episódios, CT passa a ser discutida
também no âmbito do campo político e ideológico e não mais
onde seria seu local ―tradicional‖, laboratórios de pesquisa,
indústrias e centros de pesquisa. Dessa forma, passam a ser
destacados valores intrínsecos ao fazer científico e ao modelo de
desenvolvimento então praticado. O conjunto de manifestações
decorrentes do movimento CTS, dentre outros aspectos,
postulava algum controle social sobre CT configurando, assim,
um dos objetivos centrais dos estudos CTS. Em outras palavras,
houve a defesa por processos decisórios mais democráticos,
envolvendo CT, em detrimento do modelo de decisões
puramente técnico, tecnocrático.
Os estudos CTS, em sua forma mais ampla, acabam por
repercutir no campo educacional em que são assumidos novos
objetivos e inovações no campo curricular. Dentre os temas
6
Organizado pela Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em
Ciências (ABRAPEC) e realizado na UFSC.
34
Strieder e Kawamura (2009) e Toti, Pierson e Silva (2009),
Strieder (2012), Roso (2014), também têm evidenciado o
crescimento de CTS no contexto brasileiro. Essas pesquisas
foram desenvolvidas no sentido de melhor caracterizar as
repercussões educacionais de CTS no Brasil, aspecto que
corrobora a consolidação da linha de pesquisa no país, em
termos de tendências, fundamentos teórico-metodológicos e
sinalizações para o contexto local. Enquanto detalhamento dos
objetivos dessas pesquisas, os focos têm priorizado as
configurações curriculares, e/ou atividades didáticas, tanto em
educação formal como informal, concepções de professores e
estudantes sobre CTS, educação para a cidadania e revisões
bibliográficas. De forma geral, essas pesquisas têm sinalizado a
grande diversidade de encaminhamentos associados à CTS,
bem como a necessidade de maior precisão conceitual em
alguns elementos.
Diversos trabalhos vinculados à CTS, no contexto
brasileiro, têm sinalizado, dentre outras dimensões, para a
formação para a cidadania, para a democracia, democratização
em processos decisórios e prática social engajada. No entanto, o
que significam tais expressões? Toti, Pierson e Silva (2009), em
um levantamento sobre as compreensões de cidadania em
periódicos vinculados à educação em ciências, destacam a
amplitude de encaminhamentos sobre esse conceito. Apesar
dessa aparente divergência, apontada pelos autores, o conceito
de cidadania, no material analisado, converge para aspectos
como, por exemplo, a necessidade da cidadania estar em pauta
na educação, a pertinência dessas discussões em âmbito social
e a preocupação com questões ambientais. Parcela dos
encaminhamentos trabalha a cidadania vinculada a decisões
coletivas e individuais através de CT, para além de questões
éticas e morais, enquanto outra parcela emprega o conceito
enquanto justificativa do trabalho de pesquisa em termos de
discussões sobre educação científica e cidadania. Por fim Toti,
Pierson e Silva (2009) destacam que, no âmbito da educação em
ciências, a conceituação de cidadania, apesar de amplamente
citada, raramente é esclarecida, ao passo que os autores têm
citado o mesmo termo pensando em coisas diferentes, o que
remete à necessidade de uma maior precisão conceitual.
35
Strieder (2012), analisando os pressupostos educacionais
de CTS, no contexto brasileiro, identificou três grandes grupos
que têm balizado esses encaminhamentos. Segundo a autora, no
primeiro grupo, situam-se trabalhos que visam desenvolver a
percepção de relações existentes entre o contexto dos
estudantes e o conhecimento científico escolar, em que aspectos
relacionados à ciência, à tecnologia e a sociedade
contextualizam os conhecimentos científicos trabalhados, na
escola, sendo presente a preocupação com a aproximação à
vivência cotidiana dos estudantes. No segundo grupo, estão
trabalhos com o objetivo de desenvolver questionamentos sobre
a ciência, a tecnologia e/ou a sociedade, avançando em relação
ao contextualizar para discussões sobre implicações de CT na
sociedade e a utilização responsável de produtos tecnológicos e
de recursos naturais. O terceiro grupo, em um nível mais crítico,
defende a necessidade do desenvolvimento de compromisso
social frente a problemas inéditos, envolvendo aspectos da
ciência, da tecnologia e da sociedade, de forma que a sociedade
tenha ferramentas para lidar com problemas diversos. Ainda
nesse terceiro grupo, Strieder (2012) destaca que suas
propostas, em geral, entendem que a racionalidade científica é
insuficiente para a solução de problemas sociais e reais, este
desenvolvimento de CT ocorre de acordo com seu contexto e
que a participação da sociedade ocorra em esferas políticas.
Também a autora sublinha que o terceiro grupo, de compromisso
social, aproxima-se de elementos da perspectiva educacional de
Freire.
Em Santos e Mortimer (2001) é evidente a sugestão de
que as repercussões educacionais de CTS considerem a
dimensão do debate político em busca da democratização em
processos decisórios, em termos de busca de soluções que
atendam aos interesses de maior parte da sociedade e que
contemplem as contradições sociais. Enquanto horizonte, os
autores destacam que, além da inclusão da dimensão política, é
fundamental que os critérios de julgamento avancem em relação
aos conhecimentos já estabelecidos, sobretudo das ciências
naturais e dos ―problemas acadêmicos‖. Dessa forma, os autores
sinalizam a necessidade de incluir aspectos geralmente deixados
à margem das decisões, em problemas concretos e não
completamente definidos, como, por exemplo, conhecimentos de
36
outras disciplinas, considerando aspectos relacionados aos
valores e às questões éticas, em uma perspectiva de
desenvolvimento sustentável, em contraste com os valores
consumistas amplamente difundidos.
Já Auler (2007), apoiado em repercussões de CTS e nas
concepções educacionais de Freire, sinaliza encaminhamentos
para a educação em ciências, no contexto brasileiro, em torno de
três dimensões interdependentes: (i) abordagem de temas de
relevância social; (ii) interdisciplinaridade; (iii) democratização de
processos de tomada de decisão em temas envolvendo CT. Na
compreensão de Auler, a abordagem de temas locais, de
relevância social, funciona como ponto de partida para a
organização curricular. Sobre interdisciplinaridade, o autor se
posiciona apoiado na complexidade dos temas contemporâneos,
não abarcáveis pelo viés unicamente disciplinar, o que remete à
superação da dicotomia entre as ciências naturais e humanas,
das duas culturas, como destaca Snow (1995). Já a terceira
dimensão sinalizada por Auler, a democratização dos processos
de tomada de decisão, remete à necessidade de problematizar a
suposta neutralidade de CT, sendo considerada sustentáculo de
modelos decisórios tecnocráticos. Para o autor, através da
ampliação do número de atores participando de processos de
tomada de decisões é que poderíamos chegar a decisões de
interesse da maior parte da sociedade.
Por sua vez, Auler (2011), sinalizando horizontes para a
educação CTS, na América Latina, sublinha o fato de que muitos
pesquisadores/estudantes de CTS têm sua história, sua origem,
seu trabalho cotidiano, em contextos em que construções
históricas como o determinismo tecnológico e a suposta
neutralidade de CT são pouco problematizadas. Construções que
sustentam e endossam modelos tecnocráticos de tomada de
decisões. O autor chama a atenção para o que denominou de
―recaídas tecnocráticas‖. Ao abordar os processos de tomada de
decisão, destaca uma tendência de que estes sejam
fundamentados apenas em conhecimentos/critérios científico-
tecnológicos, sendo negligenciados outros campos de
conhecimento, o que, para ele, consiste em um retorno à
tecnocracia. No mesmo texto, o autor ainda destaca que, em
geral, decisões técnicas e políticas estão presentes em
processos decisórios. Entende que, na tecnocracia, os
37
detentores de conhecimento técnico/científico tomam as
decisões tanto no campo técnico quanto político. Defende que,
para que a decisão seja mais democrática, as decisões políticas
cabem à sociedade como um todo. Como exemplo de decisão
política, concebida, segundo um senso comum, como decisão
técnica, cita a definição da agenda de pesquisa, dos rumos
dados ao desenvolvimento científico-tecnológico. Outro exemplo
que cita refere-se aos organismos geneticamente modificados.
Juntamente, ou anterior ao processo técnico de sua produção, há
uma decisão política a ser tomada: vamos, enquanto sociedade,
querer, produzir ou não transgênicos?
38
Dagnino, Thomas e Davyt (1996) fizeram um resgate
histórico do nascimento do PLACTS, destacando o seu contexto
de emergência. No referido texto, os autores analisam um
período de cerca de quarenta anos, em que fazem duas divisões:
décadas de sessenta-setenta e décadas de oitenta-noventa, do
século XX. Dedicamos maior atenção ao primeiro período,
sessenta-setenta, visto que nesse texto nossas preocupações
estão centradas nas origens do PLACTS e sua crítica à
importação de CT. Esses autores destacam que na América
Latina as preocupações com problemas relacionados à CT
datam da década de 1960. Após a Segunda Guerra Mundial têm
início um período de rápida expansão de países com sua
economia baseada no mercado, refletindo na acelerada
expansão e centralização dos recursos, bem como a quantidade
de atores econômicos do mercado internacional de bens e
serviços.
Nos países centrais, avançados, a gestão da economia
se deu através da exportação de um estoque de inovações
geradas desde meados da década de 1930 até o final da guerra.
Implicou na facilidade de produção periférica baseada na
universalidade do uso desses produtos, modificação do perfil
produtivo e possibilidade de constantes reduções de custos.
Esse quadro é refletido da internacionalização da economia
através expansão e proliferação de conglomerados
transnacionais, sobretudo na América Latina, que estavam
orientadas à produção para os mercados internos, desses países
receptores, acarretando em um processo de homogeneização
dos espaços econômicos. De modo geral, esses acontecimentos
estão localizados, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970.
Decorrente da crise de 1929, a produção de alguns
países periféricos é reorientada, a partir da intervenção do
estado, em que é adotada a industrialização por substituição de
importação (ISI), conforme caracterizam Dagnino, Thomas e
Davyt (1996), ou, simplesmente, a importação de tecnologia
(DAGNINO, 2008). Em síntese, foi um movimento de pressão
externa a qual objetivava que países periféricos se apropriassem
das tecnologias dos países centrais. O pressuposto por trás
desse movimento estava calcado na suposta universalidade do
uso desses produtos, desses aparatos tecnológicos. Já em
termos econômicos, esse movimento de importação possibilitaria
39
o repasse desses produtos abrindo caminho para a produção de
novos e os países receptores poderiam reduzir os custos de uma
produção local.
Principalmente nos anos sessenta, o estado implementa
uma política de modernização em que o objetivo era articular o
capital nacional com o capital transnacional, do qual era
esperado uma forte contribuição, através da proteção do
mercado interno e dos incentivos às exportações. Dagnino,
Thomas e Davyt (1996) destacam que a excessiva proteção, a
ineficaz política do ―compre nacional‖, a demasiada concessão
de subsídios e o precário desenvolvimento tecnológico
implicaram em um quadro de produtividade, qualidade e
competitividade de produtos e processos muito abaixo da média
mundial.
Ainda, a ISI, ou importação de tecnologia, se mostrou
inadequada para o contexto latino-americano, visto que trazia
implícitas certas determinações tecnológicas, condicionando o
funcionamento da indústria local ao contínuo crescimento através
da crescente importação de tecnologia e reduzindo o processo
de adequação de tecnologias à escala micro. Ou seja, essa
dinâmica não implicou em uma lógica de produção de novos
produtos e processos, eram desnecessárias inovações mais
amplas, sendo que não havia necessidade de ampliar e
diversificar as bases de CT local. O setor produtivo não absorveu
a necessidade de geração de CT significativa para o contexto
local.
Já em termos de pesquisa, essa não incorporou o
objetivo de formar uma dinâmica endógena de inovação
vinculada aos interesses e necessidades locais, que tivesse
como horizonte um padrão de desenvolvimento não dependente
dos países centrais. Em linhas gerais a pesquisa latino-
americana esteve focada na saúde e na atividade agrícola,
sendo escassa sua vinculação com o setor industrial (DAGNINO,
THOMAS e DAVYT, 1996).
O modelo tradicional/linear de progresso pressupunha
que o desenvolvimento de ciência e tecnologia seria condição
necessária e suficiente para o desenvolvimento econômico e
social. A atuação de organismos internacionais, como a
UNESCO, BID e OEA, difunde no contexto latino-americano que
o modelo de desenvolvimento implicava na ampla difusão das
40
experiências de reconstrução de CT, alavancados pelos países
centrais no pós-guerra. Em suma, Dagnino, Thomas e Davyt
(1996) consideram que a atuação de instituições como a
UNESCO acarretaram no endosso do modelo tradicional/linear
de progresso.
Enquanto resposta crítica à atuação internacional, seja de
estados ou de instituições, no que concerne às atividades
vinculadas à CT, passa a tomar forma nos anos sessenta o
Pensamento Latino-Americano de Ciência-Tecnologia-Sociedade
(PLACTS) que formulou instrumentos de análise capazes de
descrever não somente a situação local, mas abarcavam um
modelo descritivo global em termos de desenvolvimento de CT.
Dagnino, Thomas e Davyt (1996) sublinham alguns termos
próprios do PLACTS como ―projeto nacional‖, ―demanda social
por CT‖, ―política implícita e explícita‖, ―estilos tecnológicos‖ e
―pacotes tecnológicos‖, em que, basicamente, a linha de atuação
esteve orientada pelo (i) diagnóstico crítico do modelo vigente e
intenção de mudanças sociais para os países latino-americanos,
e (ii) crítica ao modelo tradicional/linear de progresso.
A corrente de pensamento identificada como PLACTS
teve como seus principais representantes, todos eles professores
universitários, pesquisadores das áreas de ciências naturais e
exatas, com carreiras já consolidadas, Amílcar Herrera, Jorge
Sábato e Oscar Varsavsky, na Argentina, José Leite Lopes, no
Brasil, Miguel Wionczeck e Victor Urquidi, no México, Francisco
Sagasi, no Peru, Máximo Halty Carrere, no Uruguai, Marcel
Roche, na Venezuela, dentre outros vários. O PLACTS defende
que uma reorientação utilitária de CT poderia ser o caminho para
o desenvolvimento da sociedade latino-americana, em
contrapartida à postura otimista, idealista e positivista atribuída à
CT, considerando-a como necessária e suficiente. Por outro lado,
a unicidade do PLACTS parece estar restrita ao plano descritivo
da análise de CT, sendo que o plano normativo apresenta
divergências ao passo que para alguns autores a PCT seria uma
ferramenta para as tarefas revolucionárias e consolidação do
estado socialista, enquanto outros consideram um aspecto
integrante da estratégia nacional. Outro aspecto bastante
disseminado no PLACTS é o objetivo de acoplar a infraestrutura
de CT às condições produtivas da sociedade (HERRERA, 1995)
41
sendo a dimensão social o ponto de partida das análises,
diferentemente de muitos encaminhamentos CTS.
Dias (2008) destaca que a corrente de maior sucesso
apresentada pelos estudos CTS foi a Economia da Inovação,
desenvolvida em países centrais. O autor considera que ela
representa uma leitura adequada à realidade vivenciada pelos
países que a originaram, no que se refere à CT, porém à
transposição dessa corrente descritivo-explicativa, bem como a
derivação de algumas normativas, para o contexto latino-
americano é inadequado, ao passo que esse modelo explicativo
visa compreender a dinâmica do seu contexto de origem e que
originalmente não tinha como objetivo prescrever sobre ele. Em
outras palavras, a importação desse modelo descritivo para a
análise da dinâmica de CT latino-americana resulta inadequado,
visto que as próprias dinâmicas sociais e produtivas, de origem e
destino, são distintas. Um exemplo assinalado por Dias (2008) é
o caso das empresas que, nos países centrais, ocupam
destacado lugar na dinâmica do desenvolvimento de CT, já nos
países periféricos não podem ser assim entendidas. Ainda, o
autor considera que o PLACTS, apesar de menos conhecido, é
mais aderente à realidade de países periféricos.
Dagnino Thomas e Davyt (1996) destacam que as
políticas de CT nos anos sessenta e setenta se sustentaram em
quatro principais elementos: oferta externa, vinculação,
transferência de tecnologia e autonomia restrita. Na oferta
externa, a política explícita de CT tinha como horizontes maior
autonomia no processo de tomadas de decisões e montar um
sistema de CT que internalizasse o modelo tradicional/linear de
progresso que levaria do desenvolvimento do país, de forma que
a geração de conhecimentos se daria a partir da definição de
prioridades pelas instituições governamentais de inovação,
sendo os conhecimentos automaticamente transferíveis para o
campo produtivo. Como forma de potencializar a dinâmica de
oferta externa, foi desenvolvida a vinculação, que gerava
relações entre as instituições de desenvolvimento e o sistema
produtivo, de forma que a produção de CT seria condição
necessária e suficiente para a geração de processos de
inovação.
Em função da incoerência entre política explícita e
implícita de CT (HERRERA, 1995), originadas de determinações
42
econômicas e industriais, cuja produção implicava considerável
dependência tecnológica, o objetivo de gerar rápido
desenvolvimento econômico e modernização parecia mais
atraente através do fluxo de capital e da transferência de
tecnologias.
Já a autonomia restrita é caracterizada pelo princípio de
que autarquia frente uma estratégia de desenvolvimento seria
impossível em função das limitações locais, de forma que a
autonomia deveria ser restrita a alguns setores. Tendo por base
os fundamentos de criação de uma capacidade de engenharia de
sistemas e a identificação de tecnologias que propiciassem
melhores resultados a autonomia restrita, com forte participação
do estado, teve relativo sucesso. Entretanto, não incidiu de forma
significativa na dinâmica dominante em termos globais, também
em função de que o aumento de sua eficiência afetaria os
demais setores pela via econômica. Assim a autonomia restrita
não implicou em redirecionamentos entre oferta externa e/ou
transferência de tecnologias.
As principais características do PLACTS, e do contexto
em que ele surge, nos anos sessenta e setenta são que (i) a
multinacionalização, através da abertura ao capital externo,
favoreceu a transferência de tecnologias, (ii) a produção local de
tecnologia foi posta em segundo plano, em relação ao desejo de
estímulo ao desenvolvimento, (iii) a seleção de tecnologias foi
deixada, pelo estado, à cargo de critérios puramente
econômicos, de dimensão micro, (iv) o PLACTS entendia que o
estado deveria ter papel central na seleção de tecnologias, nos
rumos do desenvolvimento de CT, considerando também os
critérios econômicos, mas em dimensão macro, (v) os aspectos
de aprendizagem foram negligenciados pela política oficial, (vi)
na agenda do PLACTS não constavam aspectos relacionados à
dinâmica interna do desenvolvimento de CT, (vii) o PLACTS
assumia uma perspectiva de reinvenção da sociedade, através
de sua visão prospectiva, ao passo que a economia da época, se
mantida, estaria fadada ao fracasso, (viii) o PLACTS vinculou as
mudanças de CT à mudanças no contexto político, social e
econômico, sendo que sem mudança social não haveria uma
reorientação no desenvolvimento de CT, uma demanda explícita
por CT, (ix) o PLACTS não se constituiu em um corpo teórico, ou
uma comunidade, mas um grupo de pesquisadores preocupados
43
em repensar as dinâmicas entre CTS tendo como elemento
comum o caráter político e propositivo dessas preocupações em
uma clara resposta aos cenários que se formavam no exterior e
(x) a universidade na América Latina nos anos sessenta e
setenta era um claro espaço de debate social contra
hegemônico, o que favoreceu a confluência do PLACTS.
A relativa estabilidade, sobre CT e economia, dos anos
sessenta e setenta se modifica bastante nos anos oitenta, em
que a difusão de conhecimentos, tendo como vetor a informática,
gerados nos anos anteriores implicou em um novo padrão em
termos de CT bem como um novo case tecno-enconômico e de
organização sócio-institucional, culminando, através da
acumulação e centralização de recursos, aceleração do ritmo de
mudanças e aparição de alternativas tecnológicas, na crescente
incerteza quando à economia (DAGNINO, THOMAS e DAVYT,
1996).
Nos anos oitenta, a constante inserção de conhecimentos
de CT ao processo produtivo gera a redução do espaço entre
concepção e aplicação de determinada inovação. Decorrente do
esgotamento do modelo de desenvolvimento pós-guerra os
países centrais passam a adotar novas orientações políticas para
reverter o desajuste entre a base produtiva internacionalizada e o
fluxo financeiro como a reorganização da circulação de
tecnologias, estruturas de tomada de decisões e controle,
estratégias de mercado supranacionais mundialmente
normatizadas, geração de padrões de consumo e redução das
fronteiras nacionais. Assim, o papel do estado é revisto,
passando a ser um facilitador do trabalho das multinacionais.
Dessa reorientação do modelo de desenvolvimento, a
divisão internacional do trabalho também é alterada levando à
reversão do fluxo econômico entre os hemisférios norte e sul, e
incrementando as exportações nas principais economias latino-
americanas, sendo a produção local orientada para o mercado
externo em detrimento do mercado local. Assim, o
desenvolvimento local de CT foi considerado inadequado ao
passo que era lento, supostamente ineficiente e mais caro para
suprir as necessidades do sistema produtivo, sendo a
transferência de tecnologias considerada a única alternativa de
obtenção de tecnologias ―avançadas‖.
44
Dagnino, Thomas e Davyt (1996) pontuam que a adoção
do mercado como parâmetro para a definição de necessidades e
prioridades gerou a noção de eficiência e funcionalidade
(econômica), a qual determinaria a continuidade de apoio de
determinada instituição e/ou linha de pesquisa. Dessa forma o
desenvolvimento de CT passa do estado para a esfera público-
privada, decorrendo o surgimento de uma suposta nova fonte de
financiamento para a pesquisa universitária e redução das
políticas públicas geradas pelas universidades, sendo que a
demanda empresarial prima por objetivos de curto prazo, lucro e
escassa transcendência (DAGNINO e DAVYT, 1996).
Dagnino, Thomas e Davyt (1996) apontam que esse novo
paradigma do planejamento universitário passou a ser visto como
única alternativa viável à utilidade social da pesquisa universitária
e tornando a universidade única responsável por uma relação
muito mais ampla que seus muros. Essa super responsabilidade
depositada na universidade repercutiu em alguns setores da
comunidade de pesquisa, gerando certa retirada estratégica,
defensiva e geralmente corporativa, em direção às ciências
básicas, determinando a necessidade cultural de saberes
científicos básicos e dinamizando o papel das ciências básicas
no modelo tradicional/linear de progresso. O controle de CT
passa a ser exercido pela própria comunidade de pesquisa em
termos de qualidade da produção, o que tende à sublinhar gastos
excessivos na base da pirâmide dessa comunidade.
As principais características do PLACTS, e do contexto
em que ele se desenvolve, nos anos oitenta e noventa são que
(i) a produção de estudos CTS locais foi incentivada pela
velocidade e profundidade das mudanças em CT, (ii) a alteração
conceitual de política de CT para política de inovação não
chegou a ser incorporado na agenda política local, (iii) a forçosa
necessidade de integração internacional foi gerada em função da
inclusão de critérios puramente econômicos nos processos de
tomada de decisões na América Latina, (iv) os saberes
desenvolvidos pelos estudos CTS perdem espaço nos processos
de tomada de decisões em CT em função do caráter incremental
da política econômica neoliberal, ou seja, o modelo de tomada de
decisões tecnocrático ganha força , (v) a escassa demanda
estatal sobre os estudos CTS resulta em um processo de
internacionalização de alguns intelectuais da região que se
45
voltam à atuação acadêmica internacional em detrimento da
ação política local, (vi) da mesma forma que nos anos sessenta e
setenta, não foi possível a conformação de um marco teórico
local, sendo possível identificar o PLACTS, enquanto coletivo
endógeno, preocupado com questões locais e as analisando
através de modelos locais e o estudos CTS aplicados à América
Latina (ECTSAL), exógeno, que adotava modelos norte
americanos e europeus para analisar o contexto e dinâmica de
CT local, em que seus participantes guardavam maior vinculação
com as comunidades de suas disciplinas de origem do que
estudiosos de CTS.
7
Muito embora é importante destacar que demandas cognitivas não
são, em momento algum, descartadas ou mesmo postas em segundo
plano. Em Freire (2005) o conhecimento já disponível é considerado,
sobretudo, no processo de redução de temas identificados onde são
selecionados conhecimentos para a compreensão de determinado
54
localizadas nessas realidades a partir das quais a sociedade, o
povo, destacaria suas necessidades, interesses, visão de mundo,
etc.
Mesmo que o foco principal de Freire não tenha sido CT,
no conjunto de sua obra, comparece a importância e orientação
que atribui ao tema. Para o autor, a sociedade deve exercer
algum controle sobre CT. Freire (1979) defende o compromisso
dos técnicos para com a sociedade e o conhecimento da
realidade, com a qual deve estar ensopado e disposto a auxiliar
na transformação, de forma que sua práxis é que irá possibilitar a
identificação de obstáculos a serem transpostos, para a
problematização do status quo junto à comunidade. Freire
sublinha que o excessivo apelo apenas às técnicas e
especialidades ―salvadoras‖, revelaria um sujeito alienado da
realidade, habitante de um mundo estranho, e crente possuidor
da salvação e da verdade, um messias para o povo.
Freire (1977), na obra Extensão ou Comunicação?,
analisa o papel dos especialistas exemplificando com o processo
de comunicação entre o agrônomo e o camponês durante o
processo de reforma agrária no Chile. Freire nega que o trabalho
do agrônomo educador deva limitar-se à substituição dos
procedimentos empíricos dos camponeses pelas suas técnicas,
visto que, em sua opinião, apenas técnicas não conseguiriam
mudar a realidade, mas a conjugação entre técnicas e o sujeitos.
Para Freire, o papel do técnico, exemplificado através do
agrônomo-educador, não é ser o agente da mudança, mas um
dos agentes que, junto dos camponeses, administradores,
pesquisadores, professores, etc., problematizam as relações
camponeses-natureza-cultura para transformarem a realidade
superando, dessa forma, o assistencialismo existente em
relações verticalizadas. Ainda, de forma coerente com o que vem
sendo exposto, não é qualquer formação de possibilitará à esses
sujeitos a prática dessa relação proposta8.
58
Figura 1: Contribuições ao marco analítico-conceitual da TS
63
Figura 2: eixos do empreendimento científico
65
2.1.3. A Contribuição da Escola de Frankfurt para a
TS: uma divergência
66
como um bloco único e coeso de pensamento, desconsiderando
possíveis divergências entre seus integrantes.
Considerando importante (re)inserir a contribuição da
escola de Frankfurt às discussões sobre CTS não estamos nos
colocando na posição de defender a visão de qualquer autor
inserido nesse grupo, da mesma forma que não é objetivo negar
suas contribuições, mas melhor compreender como as
discussões em torno da ciência e da tecnologia daquele contexto
contribuíram para o desenvolvimento do que hoje se têm como
teoria crítica de ciência-tecnologia. Elementos dela influenciaram,
por exemplo, as propostas de Feenberg (2010) de teoria crítica
da tecnologia, que posteriormente seriam base para a construção
de conceitos como adequação sociotécnica e tecnologias sociais,
da mesma forma que é localizado o entendimento de uma visão
latino-americana sobre CTS. Compreender a dinâmica entre
esses atores, suas discussões e como atuaram na
fundamentação de Feenberg pode contribuir para melhor
fundamentar práticas que tenham como pressuposto essa visão
latino-americana de CTS e outras perspectivas democráticas de
interação da tríade.
Dagnino (2008) é um dos autores que hoje tem grande
prestígio no campo dos estudos sociais de CT na América Latina.
Em um de seus livros analisa contribuições de diversos autores
sobre CT considerando-a enquanto processo e não apenas como
produto. Ele divide o livro em duas abordagens, foco na CT e
foco na sociedade. No foco na CT estão inseridas as teses de
neutralidade e determinismo, enquanto no foco na sociedade
estão as teses fraca e forte de CT, que interessam aos
propósitos desde texto.
A tese fraca de CT considera que o processo científico-
tecnológico não é endógeno, é influenciado/determinado pela
sociedade e que o conhecimento gerado internaliza e materializa
as características do contexto tornando-se, assim, funcional para
ele. Dessa forma, apresenta a tendência de reproduzir as
relações sociais dominantes. Já a tese fraca, incorporando a
anterior e avançando, está a compreensão de que CT
restringe/impossibilita a mudança social em razão de sua
funcionalidade à sociedade que seria modificada, CT está de tal
maneira comprometida com a sociedade de origem que é
disfuncional para outras.
67
É citando Heidegger (1978) que Dagnino (2008) situa a
escola de Frankfurt em uma espécie de transição entre tese fraca
e tese forte, assume que CT é socialmente condicionada e
expressa todo seu pessimismo ao assumir que não há o que ser
feito se a tecnologia for nociva. Heidegger (1978), hoje tido como
um tecnófobo, é bastante explícito quanto a sua posição em uma
passagem de Introdução à Metafísica. Em suas palavras:
72
relacionamento e percepções do homem sobre a tecnologia,
embora ainda em aberto.
Diferentemente da abordagem que alguns autores de
CTS, além dos aqui analisados, dão à contribuição da escola de
Frankfurt aos estudos CTS, esta não consistiu em um corpo
teórico de pensamento único e coeso. Mesmo que as
preocupações de seus representantes fossem semelhantes e
eles mantivessem alguma interação, suas perspectivas e
encaminhamentos eram diferentes. Embora o pessimismo
apontado por Dagnino (2008) e Neder (2010) esteja em vários de
seus representantes, há exceções em que Marcuse (1966)
ganha destaque. Suas proposições mais otimistas exerceram
significativo papel na formulação de reprojetamento feita de CT
por Feenberg (2010). Mesmo que a formulação original de
Marcuse (1966) tenha carregado consigo algumas fragilidades,
como admite Feenberg (2010), parece ser importante revisitar
sua obra como possibilidade de identificar novos elementos a fim
de robustecer fundamentações em torno da teoria crítica de CT.
A escola de Frankfurt, fundamentalmente na divergência
Habermas-Marcuse parece evidenciar um importante ponto de
inflexão na sociologia do conhecimento. De um lado, podemos
reivindicar à Marcuse o posto de precursor de uma vertente de
teoria crítica que tem como horizonte o desenvolvimento de um
projeto futuro, do qual em nossa sociedade não parece viável
pensar sem considerar a ciência e a tecnologia. De outro lado, é
em Habermas que encontramos a gênese de soluções das quais
CT estão fora do escopo que irão reforçar a visão pessimista que
alguns autores apontam.
Além da contribuição, aqui destacada, da escola de
Frankfurt aos estudos CTS, elementos de seus representantes
circulam nas áreas de educação e educação em ciências. Tendo
como ponto de partida alguns elementos apontados neste texto,
talvez seja interessante, para pesquisas futuras, melhor
compreender como esses autores, e não somente eles, têm
contribuído tanto para a pesquisa em educação como para o
desenvolvimento de práticas educativas que incorporem suas
contribuições.
73
2.1.4. Contribuição do PLACTS para a TS
9
Fonte: <www.rts.org.br> ou <www.fbb.org.br/tecnologiasocial>.
75
que vêm ocorrendo na América Latina, (ii) articulações com a
primeira frente de trabalho, (iii) capacitação de professores,
pesquisadores, gestores, estudantes, militantes de movimentos
sociais, etc., que estejam ou queiram envolver-se com TS e (iv)
socialização de resultados, possibilidades e limites, em uma
perspectiva crítica, à partir das práticas desenvolvidas em as
frentes de trabalho.
10
Importante destacar, novamente, que, nesse primeiro foco, os artigos
analisados serão obtidos de portais indexadores, como banco de teses
e dissertações da CAPES e portal de periódicos da CAPES bem como
produções ligadas à RTS e FBB. Todos documentos disponíveis para
acesso na Web.
82
ou boa parte, do material bibliográfico já produzido sobre o
assunto pesquisado, possibilitando a reconstrução de fatos e
episódios históricos, além de acrescentar a dimensão do tempo à
compreensão do social, dos objetos de estudo, favorecendo a
observação dos processos de evolução e maturação de
indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos,
mentalidades, práticas, etc., e sua gênese (CELLARD, 2010). A
análise de documentos também permite a abertura a novas
perspectivas sobre o campo de estudo e seus processos,
configurando uma abordagem (FLICK, 2009). Essa abertura
pode, por exemplo, potencializar a identificação de novas
possibilidades para a educação CTS, tanto na articulação Freire-
PLACTS como encaminhamentos quanto à concepção de TS,
aspectos ligados aos objetivos assumidos para o trabalho.
83
3. INSTAURAÇÃO DE CTS TRANSFORMADO
86
sempre maior por parte da tecnocracia
capitalista, e que é obtida por meio de
códigos técnicos cada vez mais restritivos e
engessados.
Ou seja, uma primeira característica
inegociável da tecnologia social é que ela
seja empoderadora, que ela seja capaz de
produzir uma ordem sociotécnica na qual as
bases (usuários, trabalhadores e sociedade
em geral) tenham mais voz na definição
daquilo que direta ou indiretamente diz
respeito às suas vidas (individual ou
coletivamente).
Mas tecnologia social é mais do que apenas
tecnologia democratizada. O seu segundo
grande demarcador é o compromisso
inegociável com as massas hegemonizadas.
Compromisso que se traduz em basicamente
dois grandes objetivos principais: 1) construir
com os grupos com os quais se trabalha
solução técnica que responda às urgências
deles; 2) garantir tanto que 2.a) tal solução
emule, reforce ou inspire uma ordem
sociotécnica tão empoderadora, dignificante
e sustentável quanto possível; como que 2.b)
o processo dessa construção ajude o grupo a
crescer em consciência do seu poder e das
múltiplas possibilidades de mundos
sonháveis e tecnicamente viabilizáveis, e,
nisso, caminhe em direção à própria
libertação (em relação às condições de
opressão e menos vida em que são mantidos
presos) IT e AST(CRUZ, 2016, p. 6-7 –
ARTIGO ANALISADO).
88
Freire tem uma crítica aos ―grupos‖ sob a figura de
opressores e oprimidos, CT têm endossado aquilo que o autor
criticou. Então, não caberia outro estilo de CT que não propague
tais valores? Vai-se chegar a sugestão de outro estilo
tecnocientífico que incorpore outros valores que não os
hegemônicos. Ou seja, está sendo questionado uma forma de
conceber CT e outro já está em processo de instauração e
queremos disseminá-lo através de outro tipo de educação, ele
(esse estilo de CT, a TS) pode nos ―dizer‖ algo novo.
90
transgênicos, medicina curativa ou
preventiva, macro ou microgeração etc.).
De outra parte, e no que toca a questões que
sequer se cogita serem passíveis de
superação técnica, a vinculação a alguma
perspectiva de valor tenderá a delimitar o
espaço daqueles dentre tais problemas que
poderão vir a ser identificados como tal, e
eventualmente superados tecnologicamente.
Estivéssemos em um outro contexto social,
com outros valores de fundo, os desafios
técnicos encontrados ou tidos como mais
urgentes – que poderiam ter a ver com a
segurança no trabalho e a salubridade da
atividade laboral, p.e. –, assim como as
respostas produzidas para eles, tenderiam a
ser diferentes.
Isso posto, podemos agora começar a
responder à pergunta com que iniciamos a
seção anterior. Um(a) engenheiro/a capaz de
inventar tecnologia social precisa, de uma
parte, conseguir enxergar o mundo a partir
do lugar do excluído (A IT pode potencializar
isso) com o qual está trabalhando. Será isso
que permitirá a ele/a desenvolver soluções
comprometidas tanto com as efetivas
necessidades e urgências do grupo, quanto
com os valores e os sonhos que seus
membros desposam.
Com efeito, se tomamos o que autor
apresenta em Extensão ou Comunicação?,
chegamos a uma caracterização desse/a
profissional que se funda em quatro
habilidades não técnicas principais:
- Empatia e capacidade de dialogar, ou seja,
de se dizer de forma clara e acessível, e de
escutar o outro em profundidade. É isso que
tornará o/a engenheiro/a capaz de conhecer
o sistema de saber-crença do grupo com o
qual está trabalhando, além de conseguir
estabelecer uma comunicação horizontal e
verdadeiramente de duas mãos com ele;
- Censo crítico. Que será aquilo que, de um
lado, poderá fazer da ação técnica do/a
profissional uma práxis engajada com a
91
libertação. De outro lado, esse mesmo senso
crítico, associado com a empatia, permitirá a
ele/a não apenas enxergar no grupo com o
qual trabalha pessoas capazes tanto de
reflexão, consciência e práxis – habilidades
cujo desenvolvimento, a partir disso, ele/a
estimulará continuamente nos membros do
grupo –, quanto, exatamente por essas
potencialidades, (possíveis) sujeitos ativos
dos seus próprios processos de libertação;
- Abertura (e humildade) para aprender, ou
seja, consciência de que aquilo que se sabe
será sempre insuficiente (poderíamos pensar
que está faltando a TS, alcançável via AST?)
para a transformação social almejada,
podendo vir a ser continuamente alargado
tanto a partir da reflexão sobre os resultados
que a sua prática no mundo produz, quanto
pela tomada de consciência do saber próprio,
ainda que ingênuo, dos marginalizados aos
quais se busca servir.
É exatamente por isso, porque precisamos
aprender a ser coadjuvantes de uma
transformação sociotécnica que, não
obstante, não pode ter lugar sem a nossa
contribuição profissional, que é
imprescindível que aprendamos a dialogar;
que desenvolvamos empatia por aqueles que
foram e seguem sendo postos à margem; e
que nos exercitemos na abertura para
aprender, inclusive – e eventualmente
sobretudo – com aqueles que desde sempre
fomos acostumados a enxergar como
despossuídos de tudo, até de saber em
qualquer nível útil para nós.
Esses aspectos, porém, as abordagens CTS
exclusivamente teóricas não dão conta de
desenvolver. Porque eles só podem ser
desenvolvidos na imersão (Para nós, parece
quase ―natural‖ pensar: A IT freiriana
constitui um bom caminho teórico-
metodológico), no contato direto, no vínculo
efetivo com pessoas de carne, osso e
história (CRUZ, 2016, p. 5-8 – ARTIGO
ANALISADO).
92
Aqui está, para o Simondon, um (ou o) papel do técnico.
Ou seja, vivência/formação sob outra perspectiva de valor que
não a hegemônica: capital! Ainda, em termos de valores, há
relações entre tecnocracia e democracia, ou mesmo o papel da
sociedade em identificar, problematizar e selecionar eventuais
demandas.
Ou seja, a própria demanda, enquanto categoria, deve
ser entendida como permeada por valores. A AST e a IT não
ocorrem à margem do campo dos valores. Se queremos
aprender com as TS na perspectiva de potencializar processos
educativos transformadores, uma categoria de análise talvez
pudesse estar relacioanada ao modo como valores outros tem
sido trabalhados nas TS
Freire, extensão ou comunicação? Mas é preciso lembrar
que não se aprende o que ainda não existe, ou seja, deve fazer
parte desse perfil, mesmo que em Freire (ver isso no livro citado)
não estivesse claro, a capacidade de criar à partir dos valores
que se assume como objetivo de sociedade. Sobretudo as
etapas 6 e 7 de AST. Importante: Explorar e aprofundar do livro
E ou C? o item Educação como situação gnosiológica. É neste
item que ele aborda a relação problemas, diálogo e busca de
soluções. Talvez seja necessário aprofundar os demais itens do
capítulo.
Perfil profissional e limitações de disciplinas CTS
―tradicionais‖. Algo a observar: pode-se chamar uma disciplina
CTS de tradicional? Frente a suposta criticidade que assumiam e
o potencial que, mesmo nós, vimos nelas não seria desde a
gênese disciplina não tradicionais e educacionalmente
progressivas? É um bom elemento de discussão.
Participação social faz emergir novas demandas (Ver
artigo UnB – Auler e Delizoicov, 2015), que devem ser
problematizadas. O Contrário, a burocratização/fragmentação,
acaba por cercear/impedir a emergência de demandas não
selecionadas, seja intencionalmente ou não. Em outras palavras,
um sistema tecnocrático acaba por impedir manifestações e/ou
demandas dos que não estão nos fóruns decisórios. Ainda, vê-se
uma dinâmica de reprodução, manutenção e impedimento de
mudança de um sistema, o tecnocrata/capitalista (não
excludentes). Que interessa a TS?
93
experiência de AST levada a cabo por um
catador de materiais recicláveis sobre o
maquinário de duas cooperativas que
produzem vassouras a partir de garrafas PET
[...] a tecnologia utilizada possui influência
não somente sobre a produção e condições
de trabalho, mas também sobre os aspectos
associativos e de gestão desse tipo de
empreendimento [...] produção e organização
autogestionária devem compor o campo de
ações estratégicas de movimentos sociais e
universidades no sentido da sustentabilidade
e desenvolvimento da Economia Solidária
enquanto projeto de sociedade (ATOLINI,
2013, p. 838 – ARTIGO ANALISADO)
depende fortemente de um modelo de
desenvolvimento técnico-científico que não
mantenha as estruturas de poder na
sociedade. Que produza tecnologia não
hierárquica e alienante, que possibilite o
controle e trabalho coletivo, respeite a saúde
do trabalhador, promova relações igualitárias
de gênero, entre outras características
condizentes com os valores da ES (ATOLINI,
2013, p. 841 – ARTIGO ANALISADO).
Um dos grupos recorreu a um catador
conhecido por ter desenvolvido tecnologias
para produção de varal a partir de garrafas
PET (ATOLINI, 2013, p. 845 – ARTIGO
ANALISADO).
A sua inserção na história de luta de uma
categoria, a dos catadores, e o contexto
socioeconômico no qual esse inventor se
desenvolveu (sob a propriedade coletiva dos
meios de produção, o associativismo e a
autogestão) produziu nele uma relação com
a tecnologia e uma metodologia de trabalho
totalmente distinta daquela encontrada na
economia dominante. Por isso a maneira
como as adequações foram conduzidas
merecem destaque (ATOLINI, 2013, p. 846 –
ARTIGO ANALISADO).
94
A experiência mostra como a tecnologia
utilizada interfere não apenas a produtividade
e qualidade do produto, características
básicas do processo produtivo. Muito mais
do que isso, ela provoca uma série de
influências sobre o aspecto organizativo do
empreendimento (isso envolve um processo
formativo). Questões de gênero, conflitos
internos entre associados e externos
relacionados a fornecedores e vendas, a
forma de organização do grupo para a
produção e gestão do empreendimento,
enfim, os resultados da utilização da
tecnologia extrapolam do aspecto produtivo
das técnicas para todo o projeto político do
empreendimento (ATOLINI, 2013, p. 847 –
ARTIGO ANALISADO).
A ―nova‖ tecnologia além de aumentar a
produtividade, resgatou valores do
associativismo, autogestão, possibilitou o
ganho de autonomia tecnológica e a
desalienação dos trabalhadores e
trabalhadoras sobre o processo produtivo
(ATOLINI, 2013, p. XX – ARTIGO
ANALISADO).
101
públicas nacionais, mas cabe ao legislativo a
organização das leis, que darão suporte para
a execução da política. Essa é uma relação
conflituosa e de interesses, que na verdade
deveria ser pautada por estudos e análises
que poderiam contribuir com a tomada de
decisão e com a participação efetiva da
comunidade (RAUBER et al., 2016, p. 7 –
ARTIGO ANALISADO).
103
Mas tecnologia social é mais do que apenas
tecnologia democratizada. O seu segundo
grande demarcador é o compromisso
inegociável com as massas hegemonizadas.
Compromisso que se traduz em basicamente
dois grandes objetivos principais: 1) construir
com os grupos com os quais se trabalha
solução técnica que responda às urgências
deles; 2) garantir tanto que 2.a) tal solução
emule, reforce ou inspire uma ordem
sociotécnica tão empoderadora, dignificante
e sustentável quanto possível; como que 2.b)
o processo dessa construção ajude o grupo a
crescer em consciência do seu poder e das
múltiplas possibilidades de mundos
sonháveis e tecnicamente viabilizáveis, e,
nisso, caminhe em direção à própria
libertação (em relação às condições de
opressão e menos vida em que são mantidos
presos) IT e AST(CRUZ, 2016) (p. 7 –
ARTIGO ANALISADO).
104
da comunidade e compartilhamento da
tecnologia (RAUBER et al., 2016, p. 8 –
ARTIGO ANALISADO).
106
3.3. Formação em uma Perspectiva Coletiva
3.3.1. Coaprendizagem
108
nisso, caminhe em direção à própria
libertação (em relação às condições de
opressão e menos vida em que são mantidos
presos) IT e AST(CRUZ, 2016) (p. 7 –
ARTIGO ANALISADO).
Formação...
110
Esses aspectos, porém, as abordagens CTS
exclusivamente teóricas não dão conta de
desenvolver. Porque eles só podem ser
desenvolvidos na imersão (Para nós, parece
quase ―natural‖ pensar: A IT freiriana
constitui um bom caminho teórico-
metodológico), no contato direto, no vínculo
efetivo com pessoas de carne, osso e
história (CRUZ, 2016 – ARTIGO
ANALISADO).
113
forma de reestabelecer, sobretudo, o papel social da
universidade?
Trabalho coletivo, interdisciplinar e solidário. Rever o que
está na minha dissertação de mestrado. Coaprendizagem.
116
(ATOLINI, 2013, p. 840 – ARTIGO
ANALISADO).
é um erro abordar o tema da TS ignorando
os exemplos existentes de resistência
tecnológica (como ocorre na agricultura
familiar, nos mutirões autogeridos de
construção de moradia popular, nas
cooperativas, entre outros). Isso porque,
segundo ela, ―[…] se a se a tecnologia social
parte da superação da tecnologia apropriada,
isto é, não entende como adequado que
universidades, institutos públicos de
pesquisa ou organizações da sociedade civil
devam escolher o problema a ser enfrentado
(IT Freriana) e construir soluções
tecnológicas de maneira isolada dos
usuários-produtores, essas formas de
resistências podem ser o ponto de partida
para o desenvolvimento de tecnologia
social.‖ (FRAGA, 2011) (ATOLINI, 2013, p.
841 – ARTIGO ANALISADO).
Embora essas experiências existam e sejam
urgentes elas são pontuais e incapazes de
suprir tanto nos níveis macro, meso e micro
as demandas tecnocientíficas que surgem do
projeto de sociedade para além do capital
desejado. Pensar na sua construção significa
pensar na transformação do que existe hoje,
se não quisermos começar tudo do zero
(ATOLINI, 2013, p. 842 – ARTIGO
ANALISADO).
se propôs a ajudar, pedindo para que o
grupo apresentasse as dificuldades e as
sugestões de adequação. A partir disso,
juntos catador, grupo e técnica de incubação,
elaboraram propostas para solucionar os
problemas daquele processo produtivo. Para
materializar as adequações o catador exigiu
que as pessoas que utilizariam os
equipamentos acompanhassem todo o
processo. Esse ponto é importante ressaltar,
pois flagra uma proposta pedagógica na
ação dele (Coprodução e coaprendizagem
relacionado à tese da Rafaela – Parece-me
que aqui tem algo importante para a tese).
117
Para ele era fundamental que pelo menos
uma pessoa do grupo estivesse junto na
construção para que assim, além de garantir
conformidade com a demanda, o grupo teria
a possibilidade de intervir na tecnologia
posteriormente já que se apropriariam do seu
funcionamento (ATOLINI, 2013, p. 846 –
ARTIGO ANALISADO).
A experiência mostra como a tecnologia
utilizada interfere não apenas a produtividade
e qualidade do produto, características
básicas do processo produtivo. Muito mais
do que isso, ela provoca uma série de
influências sobre o aspecto organizativo do
empreendimento (isso envolve um processo
formativo). Questões de gênero, conflitos
internos entre associados e externos
relacionados a fornecedores e vendas, a
forma de organização do grupo para a
produção e gestão do empreendimento,
enfim, os resultados da utilização da
tecnologia extrapolam do aspecto produtivo
das técnicas para todo o projeto político do
empreendimento (ATOLINI, 2013, p. 847 –
ARTIGO ANALISADO).
A ―nova‖ tecnologia além de aumentar a
produtividade, resgatou valores do
associativismo, autogestão, possibilitou o
ganho de autonomia tecnológica e a
desalienação dos trabalhadores e
trabalhadoras sobre o processo produtivo
(ATOLINI, 2013, p. XX – ARTIGO
ANALISADO).
118
democracia ou tecnocracia, por exemplo. Nossos referenciais,
nossas convicções ajudam a responder. Coaprendizagem.
Coprodução de soluções, mas a demanda é do grupo
social que usa. O catador assume um papel diferente do seu
original, passando a figurar como uma espécie de técnico que
também educa ao se educar. Mesmo sendo soluções ―simples‖ e
muito mais mecânicas, não demandando conhecimento novo ou
C ou T. Ou seja, primeiras etapas da AST. Isso tem relação, no
campo educativo, com a investigação/redução temática?
Resgatar e vivenciar esses ―novos‖ valores, reorganizar o
―aspecto organizativo‖, exige aprendizagens diferentes das
convencionais. Um novo processo formativo
Ver: o papel ou possível papel de incubadoras
tecnológicas universitárias para a manutenção e transformação
de cooperativas e associações de trabalhadores.
119
O enfoque teórico proposto nesse artigo
parte da negação de duas visões da
tecnologia: a neutralidade tecnocientífica e o
determinismo tecnológico. Isso significa que
abordamos a questão tecnológica enquanto
problema intrinsecamente político e que
compreendemos o desenvolvimento
tecnocientífico, não como linear e inexorável,
mas como resultado de escolhas. O nosso
pressuposto é o da democratização dessas
escolhas. Defendemos, portanto, a
democracia para além da democracia política
representativa, ―chegou o momento de
estender a democracia também à tecnologia‖
(FEENBERG, 2010) (FRAGA e WIRTH,
2013, p. 880 – ARTIGO ANALISADO).
120
Inovação (NEDER, 2013, p. 2010 – ARTIGO
ANALISADO).
A Caatinga trabalha com o campesinato
tradicional do sertão nordestino. Desenvolve
experiências agroecológicas que operam sob
dois eixos articuladamente: educação para a
transição agroecológica (parceria com
agências internacionais e programas de
Governo) e em segundo, articulação de
redes sociais locais para a definição de
estratégias e propostas técnicas (em
políticas públicas locais) capazes de colocar
a extensão e assistencia técnica em campo
por intermédio de assessorias técnicas
populares cujo contato com as populações
do semiárido é parte do seu dia a dia
(CAATINGA, 2012; PHDC, 2009) (NEDER,
2013, p. XX – ARTIGO ANALISADO).
O conflito que se estabeleceu em torno
desse dispositivo (cisterna PVC) é altamente
significativo porque marca diferenças
conceituais entre duas políticas de mudança
técnica, Segundo a ASA os indicadores de
adoção da tecnologia social da cisterna de
placa e tecnologia convencional de cisterna
em PVC revelam várias diferenças
marcantes. O processo construtivo no caso
da cisterna de placa é iniciado pelo produtor
com predeiro/a junto com o grupo familiar.
No caso da cisterna PVC empresa e pessoas
ligadas dominam as partes do processo. No
tocante ao domínio da técnica de construção
e autonomia para fazer a manutenção, os
grupos familiares dominam todo o processo,
constroem e se integram com outras famílias
para multiplicar a experiência. (coprodução e
coaprendizagem) No caso da cisterna
industrializada, o domínio da produção é de
empresas fora da localidade, sem repasse da
manutenção (NEDER, 2013, p. XX –
ARTIGO ANALISADO).
121
Há uma perspectiva de coprodução e de formação da
população para ―saber fazer‖, assim como o conhecimento e as
práticas são compartilhados.
Coletivos.
Formação...
128
desenvolver. Porque eles só podem ser
desenvolvidos na imersão (Para nós, parece
quase ―natural‖ pensar: A IT freiriana
constitui um bom caminho teórico-
metodológico), no contato direto, no vínculo
efetivo com pessoas de carne, osso e
história (CRUZ, 2016 – ARTIGO
ANALISADO).
130
(ATOLINI, 2013, p. 842 – ARTIGO
ANALISADO).
132
O que percebemos nesse movimento social
é uma especificidade tanto na atividade
produtiva quanto na forma de organização e
gestão do trabalho (isso envolve
aprendizagem/processo formativo), que é
associativa e autogestionária. Essas
condições colocam o trabalho e a forma de
organizá-lo técnica e politicamente como
questão central. E é nesse contexto que
alguns problemas tecnológicos estão
colocados para o setor. Primeiro porque é
escassa a tecnologia disponível para a coleta
e triagem do material reciclável. E segundo
porque, geralmente, as cooperativas e
associações de catadores utilizam máquinas,
equipamentos e instrumentos obsoletos e
desenvolvidos para outros setores (esteira,
mesas, carrinhos e até reciclagem) (FRAGA
e WIRTH, 2013, p. 879 – ARTIGO
ANALISADO)
134
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
138
Um exemplo que ilustra de forma muito clara essa
observação é o P1MC11. Havia uma demanda específica nas
localidades atendidas pelo programa que foi atendida, que gerou
uma dinâmica formativa/educativa singular para o contexto, que
trouxe resultados considerados positivos para a população
gerando, também, uma nova relação entre CTS. No entanto, não
foram localizados, por exemplo, trabalhos que voltassem àquelas
localidades com o intuito de analisar como esses resultados tidos
como positivos puderam ou não reorganizar a dinâmica social no
sentido de efetivamente estabelecer uma nova forma, local mas
em articulação com o global, de conceber as relações CTS e,
principalmente, demandar novas soluções que envolvam
conhecimentos de CT. Em outras palavras, os resultados
positivos apontados pelos autores de fato estão sendo
incorporados na organização social daquelas regiões?
Evidentemente, como temos argumentado, são construções que
demandam processos formativos e que podem levar um bom
tempo até tornarem-se efetivas. Ainda, essa ausência pode estar
relacionada, além do tempo histórico como acabamos de indicar,
com o tempo de duração de projetos de pesquisa sobre esses
temas.
Tal observação busca evidenciar uma nova possibilidade
para pesquisas futuras: o acompanhamento, caracterização e
análise de projetos institucionais, em curso, cujo tempo de
execução seja longo. Atendendo essa característica, a relação
estabelecida entre instituição e comunidades pode, efetivamente,
caracterizar novas relações entre CTS ao passo que a
possibilidade de criar agendas de pesquisas e desenvolvimento
endógenas, no que se refere a demandas por CT, pode tornar-se
mais concreta.
Duas iniciativas, em desenvolvimento no estado do Rio
Grande do Sul, podem configurar como exemplares dessa
possibilidade de materialização de novas relações CTS
consideradas de forma não tradicional, conforme a
argumentação que vimos fazendo ao longo o texto. Tratam-se do
Centro de Tecnologias Alternativas Populares (CETAP) e o
projeto de Incubadora Social da UFSM (IS/UFSM)12.
11
Programa um milhão de cisternas.
12
Material complementar sobre ambos os projetos podem ser
acessados nos apêndices II e III.
139
Em um primeiro momento, cabem alguns destaques mais
gerais sobre os dois exemplares selecionados. De forma geral o
conceito de TS não é objeto central dessas ações, mesmo assim,
tais exemplares parecem apresentar significativo potencial crítico
sobre as relações CTS, justificando a pertinência de considera-
los em estudos futuros.
Colaborar no desenvolvimento e
implantação de uma nova agricultura,
adequada às condições socioculturais,
140
econômicas e ecológicas, visando eliminar
os problemas sociais e ambientais causados
pelas formas atuais do processo produtivo
agroquímico.
Desenvolver e fomentar o uso de
tecnologias com princípios agroecológicos,
especialmente para a agricultura familiar e
camponesa, através da experimentação,
demonstração, formação e pesquisa-ação.
Desenvolver atividades de formação
técnica, socioambiental, de caráter
educacional e/ou cultural visando o
desenvolvimento sustentável (CETAP -
<www.cetap.org.br>).
141
discutir e deliberar sobre os assuntos que lhe
competem, tendo como princípios
norteadores a participação, a solidariedade,
a autonomia, a autogestão e a
sustentabilidade socioambiental (social,
ambiental, cultural e econômica) (IS-UFSM -
<www.ufsm.br/pre>).
Potencializar a conquista da
autonomia e autogestão por parte dos grupos
com projetos incubados, para a constituição
de novos modelos de organização social:
economia solidária, cooperativas,
agroecologia, associações de produtores e
de consumidores;
Vivenciar outra concepção de
universidade: comprometida com as
demandas de grupos sociais historicamente
ignorados, mediante a transformação dessas
demandas em problemas de pesquisa e
processos educativos.
Incubar novos modelos de
organização social, pautados pelos princípios
que norteiam a ação da IS-UFSM;
Estimular e potencializar a geração de
tecnologias sociais;
Proporcionar aos estudantes da UFSM
o contato com a práxis de economia
solidária, do cooperativismo e do
associativismo;
Desenvolver práticas e conhecimentos
que sustentem a integralização curricular
com ações de extensão na perspectiva da
sustentabilidade socioambiental (IS-UFSM -
<www.ufsm.br/pre>).
143
ARTIGOS ANALISADOS
TECSOC 2011
TECSOC 2013
145
Renato Dagnino, Luzia Mota. A Rede de Institutos Federais como
vetor de transformação sociotécnica.
Tarcila Mantovan Atolini. Adequação Sociotécnica: Reflexão
Teórica e Experiência em Cooperativas de Produção de
Vassouras Ecológicas.
Cassandra Dalle Mulle Santos, Martin Zamora. Impactos
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Cooperativa de Dois Irmãos.
Lais Fraga, Ioli Wirth. Tensões tecnológicas na cadeia produtiva
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sociotécnicos.
TECSOC 2015
ESOCITE 2016
148
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155
APÊNDICE I - Material empírico
157
ESOCITE_2016_Cruz
162
Isso posto, podemos agora começar a
responder à pergunta com que iniciamos
a seção anterior. Um(a) engenheiro/a
capaz de inventar tecnologia social
precisa, de uma parte, conseguir
enxergar o mundo a partir do lugar do
excluído com o qual está trabalhando.
Será isso que permitirá a ele/a
desenvolver soluções comprometidas
tanto com as efetivas necessidades e
urgências do grupo, quanto com os
valores e os sonhos que seus membros
desposam (p. 7).
164
ESOCITE_2016_Jacinski-Vaz-Gonçalves-Bertoni-Gomes-
Picanço-Bueno-Kuhn
165
A Universidade, como mencionado
acima, tem sido um dos atores que pode
contribuir significativa na superação de
tais perspectivas e propiciar outras
formas mais dialógicas, democráticas e
sustentáveis. Há, contudo, importantes
desafios que necessitam ser superados:
desenvolvimento de uma perspectiva
teórico-metodológica interdisciplinar das
relações entre Ciência Tecnologia e
Sociedade; resgate da função social da
Universidade em termos inclusivos,
sustentáveis e que propiciem o
protagonismo e a participação da
comunidade, movimentos sociais, na
construção de soluções sociotécnicas e
democráticas; projetos pautados pela
indissociabilidade ensino pesquisa e
extensão alimentados em processos
dialógicos de parceria e cooperação com
a comunidade (p. 2).
ESOCITE_2016_Pinho-Santos
168
da teoria do desenvolvimento geográfico
desigual é que
(...) enquanto a preocupação da primeira
está em explicar porque uma formação
social periférica/atrasada, cujas forças
produtivas não estão desenvolvidas e
nem sob o controle de uma burguesia
nacional consolidada, pode experimentar
uma revolução política; a segunda
constitui uma tentativa teórico-
metodológica que busca captar a
espacialidade do desenvolvimento
desigual, portanto, a natureza
especificamente geográfica da
desigualdade socioeconômica entre
regiões e países. Talvez deva ser dito
mais: não se trata da desigualdade
socioeconômica entre espaços
geográficos em geral, mas da produzida
pelo capitalismo. Em outros termos: é a
geografia do desenvolvimento desigual
especificamente capitalista que importa
aqui. E esta principia pela diferenciação
do espaço geográfico que resulta dos
processos sociais cotidianos (p. 2-3).
169
Para a perspectiva crítica da tecnologia,
a tecnologia desenvolve dois papéis
fundamentais: ―no nível material,
mantém e promove os interesses dos
grupos sociais dominantes na sociedade
em que se desenvolve; no nível
simbólico, apoia e propaga a ideologia
legitimadora dessa sociedade, sua
interpretação do mundo e a posição que
nele ocupam‖ (Idem, ibidem) (p. 6).
170
ESOCITE_2016_Rauber-Ripka-Silva-Gomes-Fuggi
TECSOC_2013_Atolini
TECSOC_2013_Dagnino-Mota
TECSOC_2013_Guerra-Carvalho-Souza-Magalhães
TECSOC_2013_Jacinski
TECSOC_2013_Neder
TECSOC_2013_Santos-Zamora
TECSOC_2013_Silva
186
Esta afirmativa se justifica na medida em
que a característica dos resíduos
produzidos no país é a umidade, o que
significa que o seu potencial calorífico é
baixo e, consequentemente, que a
alimentação das usinas exigiria quantia
máxima de resíduos para seu
funcionamento, dispensando apenas
metal e vidro (RELATÓRIO FINAL,
2012). Em análise rasa, significa dizer
que a integralidade da produção de
resíduos seria destinada às usinas. Não
haveria material remanescente para a
coleta e a reciclagem. A cadeia produtiva
dos resíduos seria fatalmente
comprometida, a reciclagem de papel,
bastante desenvolvida, retrocederia, com
os efeitos ambientais correspondentes.
Sem ser esquecido que a destinação
direta dos resíduos teria o condão de
fazer cessar os já parcos investimentos
em contratação de catadores para a
prestação do serviço público de coleta
(p. 898).
187
TECSOC_2013_Silva-Silva
TECSOC_2013_Theis-Strelow-Lasta
TECSOC_2015_Mourão-Engler
190