Edicina de Épteis: Rasília
Edicina de Épteis: Rasília
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS............................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1
ANATOMIA E FISIOLOGIA......................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
CARACTERÍSTICAS GERAIS ...................................................................................................... 15
UNIDADE II
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS................................................................................................................ 20
CAPÍTULO 1
SEMIOLOGIA E CRIAÇÃO........................................................................................................ 20
CAPÍTULO 2
CONTENÇÃO FÍSICA .............................................................................................................. 23
CAPÍTULO 3
COLHEITA DE SANGUE............................................................................................................. 27
UNIDADE III
MEDICINA DOS OFÍDIOS...................................................................................................................... 30
CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS ANÁTOMO-FISIOLÓGICAS........................................................................... 30
CAPÍTULO 2
MANEJO E CLÍNICA................................................................................................................ 38
UNIDADE IV
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS....................................................................................................... 50
CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS ANÁTOMO-FISIOLÓGICAS........................................................................... 50
CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA............................................................................................................... 56
UNIDADE V
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS.............................................................. 68
CAPÍTULO 1
BIOLOGIA E CRIAÇÃO DE QUELÔNIOS ................................................................................... 68
CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA DOS QUELÔNIOS ................................................................................... 74
CAPÍTULO 3
CRIAÇÃO E MEDICINA DE CROCODILIANOS........................................................................... 95
UNIDADE VI
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS........................................................................................................ 110
CAPÍTULO 1
RADIOLOGIA......................................................................................................................... 110
CAPÍTULO 2
ENDOSCOPIA E ULTRASSONOGRAFIA ................................................................................... 119
CAPÍTULO 3
PATOLOGIA CLÍNICA............................................................................................................. 131
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 137
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Os répteis sempre despertaram o fascínio e o pânico das pessoas por questões
culturais e religiosas, porém com uma carga de desconhecimento e exageros que
foi passada por longas gerações.
Esta apostila está dividida em: anatomia, fisiologia, criação, legislação, clínica,
cirurgia, anestesiologia, exames de imagem e patologia, para podermos ter a
compreensão total desse grupo de animais.
Objetivos
» Demonstrar que a realidade de répteis não está restrita aos zoológicos
e centros de pesquisas.
8
» Abordar, de forma direta, prática e objetiva, as principais enfermidades
clínico-cirúrgicas, apontando aspectos anátomo-fisiológicos,
particularidades e curiosidades das espécies mais comuns em clínicas
veterinárias: lagartos, quelônios e serpentes.
9
10
ANATOMIA GERAL UNIDADE I
DOS RÉPTEIS
CAPÍTULO 1
Anatomia e fisiologia
O 1o ovo amniota
O ovo amniótico foi um dos maiores ganhos dos répteis em terra. Com isso, não
houve uma adaptação para a vida aquática como nos anfíbios. A casca oferece
proteção e uma grande quantidade de vitelo, que fornece alimento ao embrião.
Por isso, diferentemente dos anfíbios, os répteis podem eclodir com um tamanho
razoável, sem que haja um período de adaptação como nas classes anteriores
e sem a necessidade de sair prematuramente à procura de alimento (ROMER;
PARSONS, 1985). Um filhote desse grupo é uma réplica do adulto sem fase de
transformação, diferentemente de anfíbios e peixes.
c
d
12
ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I
Figura 2. Cladograma mostrando as relações entre os grandes grupos de tetrápoda (Chordata, vertebrata),
incluindo as aves em reptilia, que assim passam a ser considerado um agrupamento monofilético.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662008000200003.
13
UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS
Essa morfologia craniana estava presente nos primeiros amniotas. Ela também
ocorre em um grupo atual, as tartarugas, embora a condição anápsida nas
tartarugas provavelmente tenha evoluído de forma secundária a partir de
ancestrais dotados de fenestras temporais. Dois outros clados de amniotas,
Diapsida e Synapsida, representam derivações evolutivas independentes da
condição ancestral anápsida.
O crânio diapsida (Gr. di, duplo, + apsis, arco) tem duas aberturas temporais:
um par localizado na região lateral inferior, e um segundo par localizado sobre
o par inferior, no teto do crânio e separado do primeiro par por um arco ósseo.
Os crânios diapsidas caracterizam as aves e todos os amniotas tradicionalmente
conhecidos como “répteis”, à exceção das tartarugas.
Qual teria sido o significado funcional das aberturas temporais para os primeiros
amniotas? Nas formas atuais, essas aberturas são ocupadas por grandes
músculos que elevam (fecham) a mandíbula. As modificações na musculatura
mandibular poderiam refletir uma mudança na modalidade de alimentação
por sucção, presente em vertebrados aquáticos, para a alimentação em meio
terrestre, que requer músculos mais poderosos, capazes de exercer maior
pressão estática empregada em determinadas funções mecânicas, como cortar
matéria vegetal com os dentes anteriores ou macerar o alimento com os dentes
posteriores (HICKMAN, 2016).
14
CAPÍTULO 2
Características gerais
Introdução
A classe reptilia é subdivida em três ordens: Squamata (lagartos e serpentes),
Chelonia (quelônios) e Crocodilia (crocodilianos).
Anatomia
Pele
Figura 3. Corte da pele de um réptil mostrando escamas queratinizadas sobrepostas na epiderme, além de
Epiderme
Derme
15
UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS
Sistema respiratório
16
ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I
Associada a isso, há uma língua móvel e relevante para movimentar o alimento para
dentro da cavidade oral e deglutir. A exceção são as serpentes, cuja língua possui
atividade tátil/sensorial que capta partículas odoríferas do ambiente e as leva para o
órgão de Jacobson para interpretação (HICKMAN, 2016).
A maioria dos anfíbios elimina seus rejeitos metabólicos na forma de amônia. Ela
é tóxica e deve ser eliminada diluída em água. Já os mamíferos eliminam seus
rejeitos na forma de ureia, que se concentra nos rins e reduz a perda de água pela
excreção.
17
UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS
Os répteis, assim como as aves, eliminam seus rejeitos na forma de ácido úrico.
Como esse rejeito não costuma ser tóxico, ele pode ser concentrado, o que requer
pouca quantidade de água. Essa excreção se assemelha a uma massa semissólida e
branca na maiorias das vezes.
Ectotermia
Você sabia? Caso você tenha um réptil criado sem um sistema de aquecimento,
ao utilizar medicamentos parenterais, é fundamental aquecer o ambiente. Caso
contrário, não haverá absorção sistêmica do fármaco.
» Ectotérmicos.
18
ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I
19
CLÍNICA GERAL DOS UNIDADE II
RÉPTEIS
CAPÍTULO 1
Semiologia e criação
Legislação
A Instrução Normativa do IBAMA no 31, ao tecer várias considerações sobre a
criação de répteis, suspendeu de forma temporária diversas criações de répteis
com o objetivo de produção de animais de estimação para a venda no mercado
interno. Vide IN IBAMA no 31, de 2002. Porém, algumas normativas recentes
estão sendo confeccionadas, permitindo a criação de determinadas espécies, como
a jiboia (Boa Constrictor) e a jiboia arco-íris (Epicrates Cenchria).
20
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II
Semiologia
Os répteis representam o grupo que menos informações nos traz ao exame clínico
se comparado aos grupos dos animais homeotérmicos.
Alguns parâmetros não são possíveis ou não têm validade para serem
mensurados, como: linfonodos, temperatura retal (muitas oscilações), tempo
de preenchimento capilar e pulsação. Mesmo a ausculta cardíaca não é fácil,
precisando de um doppler para conseguir ampliar o som, principalmente nas
serpentes. Já os quelônios, a ausculta é praticamente impossível.
Normalmente costumo dizer que: quando o réptil demonstra algo estranho a seu
proprietário, é porque o problema já tem certo tempo.
A palpação nem sempre é possível, como no caso dos quelônios, em que o pouco
acesso para a cavidade celomática está entre os membros e o casco e, com isso,
permite palpar alguma tumoração ou presença de ovos – a distocia é algo muito
comum entre os chelônios terrestres (nota do autor).
É sabido que muitos problemas de pele são ocasionados por problemas de manejo,
seja por uma pedra de aquecimento desregulada que queimou a região ventral do
animal, seja por hipovitaminose C por oferta de presas de forma inadequada, ou
quando a pele se descola espontaneamente como folha de papel velha.
21
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS
Perguntas sobre o manejo alimentar devem ser feitas, bem como sobre
periodicidade, pois possuímos poucas informações sobre a questão nutricional
dos diferentes répteis. Como exemplo, a osteodistrofia fibrosa de origem
alimentar em quelônios e lacertílios por excesso de fósforo, no caso por oferta
muito acentuada de músculo ou vísceras.
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CAPÍTULO 2
Contenção física
Quelônios
Em quelônios, a contenção física é feita pela porção caudal do casco, pois os
quelônios podem morder e arranhar. Embora não possuam dentes, mas bico
córneo, sua mordida é muito dolorida, principalmente na tartaruga mordedora.
A B
Lagartos
Apresentam musculatura mandibular forte e unhas que podem causar lesões. A
contenção visa inicialmente segurar a cabeça, logo após a mandíbula. E, como em
outros répteis, como as serpentes, nunca se deve segurar um lagarto apenas pela
cabeça, pois ele pode realizar movimentos de rotação do corpo e, como apresentam
apenas um côndilo unindo a coluna cervical ao crânio, poderá ocorrer a ruptura da
medula e paralisia do animal.
A cauda desses animais pode provocar lesões. Por isso, devem ser contidas na
sua base, assim como a pelve e os membros pélvicos. Não é indicado conter ou
segurar no meio da cauda, pois é comum os animais fazerem a autotomia desse
membro como reposta de fuga a um estímulo do agressor. Ao contrário do que
se pensa, não se cresce uma nova cauda, mas a lesão se fecha, fibrosa e sem a
porção óssea, dando a impressão de crescimento. Toalhas e luvas raspa de couro
são indicados.
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UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS
Figura 6. Contenção correta de iguana verde (Iguana iguana). Uma mão imobiliza a cabeça e abraça uma
A B
Crocodilianos
São animais raramente atendidos em clínicas (são atendidos mais em zoológicos).
Sua contenção deve ter a participação de, no mínimo, dois profissionais
treinados para animais grandes. Para indivíduos pequenos, pode-se conter como
os lagartos, mantendo a boca fechada com esparadrapo ou algo semelhante, e
segurar a base da cauda para evitar lesões severas.
Para indivíduos de porte maior, utiliza-se uma caixa de madeira com aberturas na
parte de cima e uma corda de aço ou pau de couro, por onde se coloca no pescoço
e em um membro do animal, (como um cinto de segurança). É interessante
também imobilizar as patas do animal para cima e evitar lesões.
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CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II
Serpentes
Para efeitos de contenção, há duas formas de se realizar, tendo em vista a serpente
ser peçonhenta ou constritora. Para as constritoras, o tamanho influencia na
contenção. Para serpentes menores, utiliza-se um gancho apropriado e se segura
pela cabeça. Em serpentes maiores, uma pessoa para cada metro de serpente para
sua contenção.
25
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS
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CAPÍTULO 3
Colheita de sangue
Introdução
Até pouco tempo atrás, colhia-se sangue nos répteis puncionando o coração. Essa
prática deixou de ser utilizada, pois pode provocar danos irreversíveis ao coração.
Porém, por experiência pessoal, em raras situações, quando não se consegue
acessar outros pontos, pode-se usar essa técnica com ponderação.
Crocodilianos
Nesse grupo, após a devida imobilização, há dois pontos onde se pode coletar
o sangue: no seio venoso da cabeça, logo após o occipital, e na cauda, na região
ventral. Leva-se em consideração que, em ambas as situações, não se observam
o vaso e a sua pulsação. É comum acessar o seio linfático correspondente. Sendo
assim, despreza-se o conteúdo e se realiza nova coleta.
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UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS
Serpentes
Em serpentes, o local mais indicado é supravertebral. Dobra-se a coluna para que
se abram os espaços intravertebrais e assim se faz a punção.
Quelônios
Esse grupo é o mais privilegiado, pois possui mais locais para se coletar o
sangue: veia jugular, com certa dificuldade, pois o animal recolhe o pescoço para
dentro da carapaça, o que impede a punção; veia caudal; veia braquial (requer
experiência); seio venoso: pós-occipital e próximo à entrada da carapaça.
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CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II
Figura 13. Locais de colheita de sangue em quelônios. A. cauda. B. seio venoso (carapaça). C. seio venoso pós-
occipital. D. braquial.
A B
C D
Lacertílios
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MEDICINA DOS UNIDADE III
OFÍDIOS
CAPÍTULO 1
Características anátomo-fisiológicas
Introdução
As serpentes estão incluídas na Ordem Squamata e compõem a Subordem
Serpentes, atualmente com cerca de 2.900 espécies no mundo. Elas, assim como
os outros répteis, são encontradas em todo o planeta, com exceção dos polos.
Estão em maior presença em climas tropicais pela dependência das regiões
quentes. Podem ocupar vários nichos, desde o ambiente terrestre, aquático,
arbóreos e subterrâneos.
30
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Anatomia e fisiologia
Esqueleto
Ausência de esterno
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=589&evento=4.
31
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
Figura 17. Crânio de píton, em (A) ausência de sínfise mandibular, (B) mandíbula, (C) osso quadrado.
Fonte: https://www.pinterest.cl/pin/91127592438689548/.
Coração e pulmão
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MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Língua
A língua das serpentes é bífida, não tem a função de deglutição, mas olfatória, pois,
ao se expor ao ambiente (dardejamento), ela capta substâncias químicas e as envia
ao órgão de Jacobson (órgão vomeronasal). Este está situado na região do palato
e é revestido por células quimiorreceptoras que levam informação adquirida até o
cérebro (GREGO, 2014).
Dentição
Sem função mastigatória, todos os dentes são repostos, inclusive as presas. Existem
quatro tipos de dentição:
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UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
Proteróglifas Solenóglifas
Fonte: https://biologiaentenderrespeitar.wordpress.com/2018/03/29/diferencas-de-denticao-de-serpentes/.
Sistema digestório
São animais que apresentam fígado, vesícula biliar, baço e pâncreas, esses
dois últimos unidos no chamado esplenopâncreas (GREGO, ALBUQUERQUE,
KOLESNIKOVAS, 2014).
34
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Sistema urogenital
Os rins estão situados no terço caudal. Como as serpentes não possuem bexiga,
os ureteres esvaziam seu conteúdo no urodeum. Elas são incapazes de concentrar
urina devido à ausência da alça de Henle; com isso, os produtos metabólicos do
nitrogênio são excretados em formas insolúveis, como ácido úrico e sais de urato,
uma adaptação para evitar perdas desnecessárias de água.
Figura 19. Rins (A), testículos (B), intestino (C) e gordura (D) de uma serpente.
A B
A B
35
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
Figura 21. (A) Cascavel, diferença entre fêmea (foto acima) e macho (foto abaixo); (B). hemipênis e espículas.
A B
As serpentes, assim como os demais répteis, possuem sistema porta renal, que
tem a função de garantir a perfusão adequada dos túbulos renais quando o fluxo
sanguíneo através dos glomérulos é diminuído, prevenindo necrose isquêmica
dos túbulos. O sangue dos membros pélvicos passa direto dos rins para o fígado,
enquanto o fluxo venoso da cauda é exposto aos túbulos renais. Por isso, evita-se
administrar antibióticos na porção caudal pelo tropismo que esses fármacos podem
ter pelo sistema renal, causando-lhes lesão (SKOCZYLAS, 1978).
Nas fêmeas, duas vaginas e ovidutos longos, ovários situados entre a vesícula
biliar e os rins.
A maioria das serpentes são ovíparas e depositam seus ovos elípticos e coriáceos
sob troncos ou tocas no solo. Algumas são vivíparas, como as cascavéis, e dão à
luz filhotes formados (e com a presença da peçonha) e os nutre com sua placenta.
Alguns são ovovivíparas, e o filhote é nutrido somente pelo saco vitelínico.
Pele
A pele dos répteis se renova constantemente dado o crescimento do animal (que
cresce a vida toda). Esse evento é chamado de ecdise, e a frequência dessas mudas
está condicionada ao meio ambiente (luz, temperatura e umidade) e à alimentação do
animal.
36
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Nas serpentes, a troca de pele ocorre por inteiro (quesito que demonstra saúde).
No período que antecede a muda (pré-ecdise), o animal está em inatividade. Não se
alimenta, não evacua, e os olhos ficam com aspecto “leitoso” (nota do autor).
A
B
A córnea das serpentes não tem pálpebras. Encontra-se protegida por escama
modificada transparente, que troca em cada ecdise, junto com a pele. O globo
ocular é imóvel, e a visão pouco acurada. Porém, serpentes arborícolas têm uma
excelente visão binocular.
37
CAPÍTULO 2
Manejo e clínica
Nutrição
Como todas são carnívoras, a maioria das serpentes se alimenta de anfíbios,
lagartos e mamíferos. Algumas espécies, como a coral verdadeira, alimentam-se
da coral falsa. Outras espécies, menores, alimentam-se de moluscos, minhocas
e artrópodes. Jiboias, dado a seu grande tamanho, podem ingerir mamíferos de
mesmo porte ou maior.
Instalações
Devem atender a exigências de luz, umidade, ventilação e higiene. Para as
serpentes desérticas como a cascavel, ambiente sem umidade, pois pode
ocasionar fungos. Para serpentes aquáticas, um pequeno lago para mergulhar e
um ambiente mais úmido com a ajuda de umidificadores em épocas de seca ou
borrifadores.
Tampas com bom encaixe para evitar a fuga, e o substrato pode ser de papelão
ondulado, terra vegetal, substituto de pó de xaxim, vermiculita, Sphagnum,
maravalha, lascas de madeira ou folhiço. Cada um desses materiais apresenta
vantagens e desvantagens, como: a maravalha pode ocasionar ingestão acidental,
causando estomatite e obstrução intestinal; a areia pode causar irritação e
dermatite.
38
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Clínica
Anestesia
Fluidoterapia em serpentes
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MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Patologia clínica
Quadro 2. Valores hematológicos e bioquímicos de serpentes cativas no Instituto Butantan, São Paulo.
Doenças infecciosas
Dermatite vesicular
Também chamada blister, com presença de bolhas no tecido subcutâneo, são mais
comuns em sucuris e corais. As vesículas, ao se romperem, infeccionam, evoluindo
41
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
Essas três enfermidades estão correlacionadas e podem ser causadas por fungos
e principalmente bactérias gram-negativas. Fatores estressores desencadeiam
a baixa imunidade, principalmente quando os animais estão submetidos ao
cativeiro (SOUSA; BONORINO, 2019).
42
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
As lesões orais devem ser debridadas com retirada de tecidos necróticos. Há perda
dentária, o que não é um problema para o animal, pois haverá substituição. Essa
limpeza deve ser diária, e os antibióticos mais frequentes são as quinolonas, como a
norfloxacina e enrofloxacina, a cada 48 horas SC. Instituir fluidoterapia e manter o
animal aquecido para haver a metabolização do medicamento.
Como se trata de uma tríade, é frequente a evolução para uma dermatite e uma
pneumonia, sendo o tratamento o mesmo para qualquer dessas doenças. O
apetite do animal está ausente. Por isso, é necessária a alimentação forçada por
sonda semanalmente com ração de gato. Evita-se, nesse período, o uso de ratos
mesmo que haja apreensão espontânea do réptil, pois poderá haver, pela queda
da taxa metabólica tão comum na convalescência, uma diminuição das atividades
gastrointestinais e, com isso, a putrefação do alimento no estômago do animal.
Por isso, utiliza-se um alimento de melhor assimilação e digestão (nota do autor).
43
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
44
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
A B C
Doenças virais
IBD
45
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS
A transmissão ainda não foi esclarecida, mas pode ser atribuída ao ácaro
Ophionyssus natricis, mas outros vetores não foram descartados. O contato por
fômites também pode propiciar a transmissão, além de brigas. O diagnóstico
consiste na biópsia dos tecidos e o PCR por swab oral, sangue. Exames post
mortem também consistem na observação dos corpúsculos intracitoplasmáticos.
Não há tratamento, pois a septicemia é frequente, além das lesões serem
irreversíveis. Alguns autores tentaram a ribavirina com resultados variáveis. Na
maioria dos casos, o indicado é a eutanásia. A profilaxia é fundamental ao se
instituir a quarentena para serpentes provenientes de outros serpentários, os
quais devem ter procedência (SILVA; BONORINO, 2019).
Ecto e endoparasitas
46
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Fonte: https://www.projectnoah.org/spottings/840676020/fullscreen.
Gota úrica
AST costumam se elevar. O tratamento melhora a condição de vida, mas não cura.
Aquele consiste na hidratação diária de ringer lactato + nacl 0.9% (15 a 25 ml), o
que faz eliminar o excesso de ác. úrico. O uso de alopurinol também é preconizado,
e evitam-se fármacos nefrotóxicos.
Figura 31. Gota úrica em serpente. Note uratos depositados no parênquima renal.
Cirurgia
Particularidades para esse grupo são na forma de sutura e no tempo de cicatrização.
Para as serpentes, utilizam-se padrões evaginantes, por serem mais apropriados e
evitarem a inversão da sutura e o atraso da cicatrização. É recomendado retirar os
pontos após 4 a 6 semanas.
48
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III
Como se pode observar, (A) incisão inicial da pele entre a primeira e segunda
fileira de escamas laterais; (B) entrada na cavidade celômica apenas ventral
às costelas para permitir a exteriorização de ovos retidos numa “kingsnake”
(Lampropeltis spp); (C) encerramento da camada muscular numa boa constritora
(Boa constrictor) usando um padrão contínuo simples e sutura absorvível; (D)
encerramento cutâneo de rotina numa boa da areia (Gongylophis colubrinus),
demonstrando eversão cutânea.
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MEDICINA DE UNIDADE IV
SQUAMATA-SÁURIOS
CAPÍTULO 1
Características anátomo-fisiológicas
Introdução
A ordem Squamata é a mais diversificada na classe reptilia e inclui a subordem
Sauria (lacertília, lagartos), que habita o meio aquático, terrestre e arborícola.
Características anátomo-fisiológicas
Crânio ossificado e presença de osso quadrado (como nas serpentes). Neles
são inseridos músculos que ligam a mandíbula ao crânio. A mandíbula tem a
capacidade de deslocar-se para frente ou para trás. Os dentes são cônicos,
dotados de polpa e recobertos por esmalte. Não existem alvéolos dentais, o que
faz a reposição ser constante. Presença de um único côndilo occipital.
50
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
A tão conhecida autotomia dos lagartos é usada para defesa e fuga, mas a cauda
se regenera parcialmente; não é reconstituída a parte óssea da cauda; apenas
neoformações cartilaginosas. Em uma inspeção, é possível ver o local em que a
cauda rompeu, pois a conformação das escamas fica alterada (WERTHER, 2014).
Legenda
a. Traqueia k. Ventrículo
i a b. Timo l. Esôfago
j b
c c. Átrio direito m. Pulmão
k
L d d. Fígado n. Estômago
m
e e. Vesícula biliar o. Baço
n
o f f. Pâncreas p. Intestino
p g
delgado
g. Cólon
q
h q. Rim
h. Vesícula urinária
r
r. Reto
s i. Paratireoide
s. Cloaca
j. Tireoide
Reprodução
As espécies apresentam dimorfismo sexual, os machos geralmente são maiores,
apresentam enorme papo, são mais coloridos e têm poros femurais evidentes.
Em sua maioria, são ovíparos, com fecundação interna, e o macho apresenta o
hemipênis, com dança para o acasalamento. Existem espécies vivíparas, além da
partenogênese (MESQUITA, 2006).
Figura 34. Dimorfismo sexual pela visualização dos poros femorais (setas) em iguana (Iguana iguana). A. Macho; B:
Fêmea.
52
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Nutrição
Os sáurios apresentam os mais variados hábitos alimentares da classe Reptilia,
havendo espécies de hábitos herbívoros, onívoros e carnívoros. Enquanto as
iguanas se alimentam de folhas em vida livre, em cativeiro a dieta é construída de
vegetais, frutas e legumes. Para espécies onívoras, além dos vegetais, acrescenta-se
proteína animal, como ração para cães ou gatos, além de frango.
Instalações e manejo
O terrário deve contemplar condições de umidade, temperatura e iluminação que são
fundamentais para a manutenção desses animais em cativeiro, além de espaço na
vertical por árvores para as espécies arborícolas como as iguanas.
O recinto deve ser de fácil higienização, e o tamanho do terrário deve ser de acordo
com o tamanho dos animais e a quantidade.
54
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Figura 37. Terrário adequado para lagartos de clima desértico, como o dragão barbado (Pogona vitticeps).
55
CAPÍTULO 2
Clínica e cirurgia
Contenção
Como já mencionado, os lagartos não podem ser contidos pela cauda tendo em
vista o risco de soltá-la. O laço de lutz é o equipamento mais usado para lagartos
grandes. Para os pequenos, apenas as mãos e uma toalha. A contenção deve ser
realizada com as duas mãos, uma na base do pescoço e da cintura escapular, e
a outra sobre a cintura pélvica, contendo a cauda sob a axila do manipulador.
Animais mais agressivos podem eventualmente necessitar de contenção com
cambão ou com uma toalha, envolvendo-o.
Anestesia
As aplicações podem ser feitas IM, IV e raramente por outra via devido a seus
poucos relatos.
56
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Quadro 3. Valores recomendados de fármacos anestésicos e analgésicos para lagartos (que também podem ser
Atenção! Sabendo que a temperatura corpórea poderá variar, uma vez que a
temperatura ambiental esteja baixa, o fármaco levará mais tempo para ser
metabolizado, o que pode confundir o veterinário. Por isso, é interessante que a
temperatura ambiental não esteja menor do que 26 º C.
57
UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS
Diagnóstico e semiologia
Valem as mesmas premissas dos outros répteis quanto à coleta e ao
armazenamento. Os valores de referência listados anteriormente para
serpentes podem ser extrapolados, com ressalva nas mudanças ambientais e
nos diferentes manejo, pois têm uma influência grande nos animais e em seus
valores hematológicos e até bioquímicos. Por isso, leva-se em consideração no
momento da interpretação.
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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Podem-se realizar culturas bacterianas e fúngicas, uma vez que esse grupo,
assim como seus parentes mais próximos, as serpentes, sofre de patologias como
abscessos, pneumonias e outras enfermidades que carecem desses exames (nota
do autor).
A ausculta cardiopulmonar deve ser feita com toalha entre o estetoscópio e a pele,
assim como o gel de ultrassom para retirar todos os ruídos oriundos do roçar da
pele seca. Um doppler pode ampliar os sons cardíacos.
Os dentes dos lagartos são pequenos, e o exame da cavidade oral pode revelar
placas diftéricas, abscessos, úlceras e lesão por traumas.
Exames de fezes
Imagens
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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS
órgãos. Como não existe diafragma nos lagartos, é possível avaliar todos os
órgãos. Durante essa intervenção, não há necessidade de ventilar o animal,
pois, na maioria dos casos, a contração da musculatura lisa ao redor dos septos
pulmonares é responsável pela continuação da respiração, mesmo com a cavidade
celomática aberta (WERTHER, 2014).
Fluidoterapia
Outra via de rápida absorção é a via intracelomática (acesso pelo flano direito).
Cirurgia
Fraturas de dígitos são uma das patologias mais comuns, principalmente em
ambientes de zoológicos.
Em minha experiência, tive a oportunidade de atender uma iguana com uma massa
nasal que, após a extração, revelou ser um carcinoma de células escamosas. Portanto,
répteis também desenvolvem tumores.
O acesso à cavidade celomática pode ser realizado por incisão ventral paramedial
para evitar danos à veia abdominal ventral, que se localiza na linha média, entre a
cicatriz umbilical e a cintura pélvica. A incisão da pele deve ser realizada entre as
escamas, e a utilização de suturas evaginantes é fundamental, pois a pele incisada
tende à inversão, atrapalhando o processo de cicatrização.
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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Lembre-se de que, como todo o réptil, o processo cicatricial leva tempo. Por isso, a
retirada dos pontos poderá ser feita em 4 semanas.
Figura 40. Celiotomia por abordagem paramediana numa Iguana (Iguana iguana).
Como se observa na Figura 40, em (A) veia abdominal ventral (linha vermelha)
e local proposto para incisão (linha preta); (B) incisão na pele feita com uma
lâmina de bisturi invertida para evitar danos inadvertidos a estruturas mais
profundas; (C) dissecção por meio da musculatura abdominal usando cotonete;
(D) exposição do celoma e visualização da veia abdominal da linha média ventral.
Clínica
Doenças infecciosas
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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS
Abscessos em répteis (e aves), por ausência de lisozima, são caseosos, o que exige a
sua extração por incisão e, portanto, anestesia.
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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Disecdise
Figura 41. Muda normal de pele em iguana – a nova pele mantém tonalidade vibrante.
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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS
Queimaduras
Isso ocorre em dias frios, quando os lagartos procuram essas fontes. Por isso, é
necessário monitorar o gradiente de temperatura.
Figura 42. Queimadura na região ventral de iguana (Iguana iguana) causada por pedra de aquecimento caseira.
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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Fraturas
Figura 43. Curativo e imobilização de membros pélvicos em teiú (Tupinambis merianae) após osteossíntese.
Doença osteometabólica
Distúrbio metabólico que aparece com certa frequência, muitas vezes relacionado
como erro de manejo. Há uma relação entre o cálcio e vitamina D3, pois a vit.
D é responsável pela absorção de cálcio no intestino e pela reabsorção de cálcio
e excreção de potássio nos rins. Por isso, é essencial na regulação do cálcio do
organismo pelo paratormônio e pela calcitonina.
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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS
Baixa exposição à luz solar (baixa exposição UV), alimentação errada por pouca
ingestão de cálcio ou excesso de fósforo (que desbalanceará na corrente sanguínea
a relação CA:P de 2:1) levarão à redução de cálcio sérico e consequentemente à
ativação da produção do paratormônio, que tem a função de retirar reserva de cálcio
dos ossos. É o hiperparatireoidismo nutricional secundário (MACLAUGHLIN,
1982).
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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV
Figura 45. Hiperparatireoidismo nutricional secundário. Note desvio na coluna; o animal não consegue erguer o
Fonte: http://www.vevet.com.br/2013/02/hiperparatireoidismo-nutricional.html.
Figura 46. Aumento de volume na região mandibular em iguana por hiperparatireoidismo nutricional secundário.
Fonte: http://www.vevet.com.br/2013/02/hiperparatireoidismo-nutricional.html.
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MEDICINA DE
QUELÔNIOS UNIDADE V
(TESTUDÍNEOS) E
CROCODILIANOS
CAPÍTULO 1
Biologia e criação de quelônios
Biologia
São répteis anapsida: crânio sólido, primitivo, sem aberturas temporais (fenestrae
temporalis) superior e inferior = cavidades do crânio associadas aos músculos da
mandíbula. São as tartarugas, os cágados, os jabutis e outros.
Animais da ordem Testudines diferem dos de outras ordens dos répteis por
terem a coluna vertebral fixada à carapaça. Além disso, são os únicos répteis
cuja escápula está localizada ventralmente às costelas (DUTRA, 2014).
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Anatomia e fisiologia
Bico córneo sem dentes = placa queratinizada dura e afiada tanto no maxilar como
no mandibular (FREITAS, 2011).
A cavidade nasal se comunica com a oral pela fenda palatina (coana). Esta ocorre
em todos os répteis, exceto crocodilianos.
Como todos os répteis, faz a troca gasosa por pulmões. Uma característica curiosa
nos répteis em geral é sua capacidade de fazer apneia, principalmente entre os
quelônios aquáticos, que mantém uma reserva de ar em sacos aéreos para realizar
a troca gasosa nos pulmões. Essa hipóxia provocada não é um problema para esse
grupo, pois, primeiro, seu sistema nervoso central pode utilizar vias anaeróbicas e
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
não ser facilmente danificado por hipoxia; segundo, as tartarugas podem manter um
volume normal de oxigênio mesmo durante carência prolongada, isto é, possuem
uma pressão de oxigênio alveolar pouco crítica.
Porém, pode haver uma pequena troca gasosa pela pele, pela orofaringe ou
pela cloaca em tartarugas aquáticas, resquício evolutivo de seus ascendentes
anfíbios (DUTRA, 2014). A anatomia e a fisiologia cardíaca mantêm as mesmas
características das serpentes.
Quanto à fisiologia, o sistema renal pode variar de acordo com a espécie. Quelônios
terrestres de ambientes áridos tendem a ser uricotélicos (excretando nitrogênio
principalmente como ácido úrico e uratos) ou ureouricotélicos (excretando
uma combinação de ácido úrico e ureia), enquanto espécies semiaquáticas
aminoureotélicos (FRYE, 1991).
O casco protetor tem o formato de placas soldadas; é constituído por uma porção
dorsal, a carapaça, e por uma porção ventral, o plastrão, que fazem parte do
exoesqueleto dos quelônios. Lâminas córneas recobrem essa estrutura óssea e
trocam periodicamente em partes.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Nutrição
Uma tartaruga mantida em ambiente frio não pode manter um metabolismo ativo,
o que leva à diminuição do consumo de comida e água. A taxa metabólica em
tartarugas é de aproximadamente 25 a 35% da taxa metabólica de um mamífero
(MILLER, 2008). Sua necessidade alimentar compreende de 15 a 30% do seu
peso vivo. As necessidades aumentam com a atividade de predação, reprodução,
crescimento e produção de proteínas (cicatrização).
Carne de peixe é o ingrediente mais utilizado das rações peletizadas. Porém, são
carentes em vitaminas essenciais e minerais. As rações extrusadas perdem as
vitaminas no beneficiamento pelo calor. Por isso, o ideal é uma suplementação
de alimentos vegetais frescos. O erro mais comum é ofertar somente um
ninicrustáceo, que pode levar a distúrbios nutricionais (MCARTHUR, 2004).
Animais com expectativa de mais de 80 anos, maturidade sexual por volta dos 6
anos. O acasalamento pode ocorrer por todo o ano. A nidificação acontece durante
a primavera e verão, colocando entre 2 a 15 ovos, podendo realizar mais de uma
postura por período de nidificação. Incubam seus ovos por um período muito longo,
variando de 4 a 10 meses, com uma média de 150 dias.
Recintos com água com, no mínimo, 0,5 m a 1,2, com rampa. Recinto para cria:
recebimento dos filhotes e pode durar de seis meses a um ano, dependendo do
desenvolvimento dos animais. Comedouros de preferência fora da água para evitar
o desperdício, uso de ração peletizada. Sistema de proteção telada para evitar a
predação.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Fonte: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125987/1/CPAF-AP-2015-Quelonicultura.pdf.
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CAPÍTULO 2
Clínica e cirurgia dos quelônios
Introdução
Animais estão crescendo entre as criações e podendo ser vendidos na forma
legalizada com registro. Porém, muitos ainda são vendidos de forma ilegal.
Semiologia
Para os aquáticos, observa-se o seu movimento na água, como já mencionado.
Em animais terrestres, observa-se o andar em círculos ou claudicação. Deve-se
observar alimentação, defecação e prostração.
A abertura da cavidade oral não é fácil. Os quelônios relutam em abri-la. Por isso,
devem-se usar espátulas ou pinças. Observe placas diftéricas, necroses e muco.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Anestesia em quelônios
Como todo o animal pecilotérmico, a resposta à anestesia, como para qualquer
fármaco, dependerá da temperatura ambiental. Por isso, para atingir o resultado,
deve-se aclimatar o ambiente para que os fármacos atinjam seus efeitos.
Havia um desconhecimento de que os répteis não sentiam dor, porém isso foi
descartado pelas reações demonstradas por apatia, inapetência e gemidos que os
quelônios (melhor do que os outros répteis) emitem.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Pelas diferentes vias de administração, a cetamina pode ser usada com doses
que variam de 20 a 50 mg/ kg e de preferência combinada com algum fármaco
sedativo. Associada com xilazina, meperidina, diminui a dose da cetamina quando
isolada e evita o prolongamento da anestesia, o que já é comum nos répteis, visto
seu metabolismo. Tiletamina e zolazepan, na dose de 6mg/kg, também têm bons
resultados. Alguns autores relatam depressão cardiorrespiratória, porém são casos
isolados.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Figura 48. Jabuti anestesiado com propofol, entubado com Baraka e monitorado.
Entubar répteis é mais fácil do que mamíferos, pois a glote se localiza na base
da língua. O traqueotubo não pode ter cuff, pois répteis possuem anéis traqueais
completos, o que pode levar ao rompimento, caso se insufle.
Diagnóstico
Como já mencionado, os vasos com melhores acessos são: veias jugular,
coccígea, braquial e subcarapaciais. Porém, em alguns desses vasos, pode ocorrer
contaminação linfática, perceptível quando, no momento da coleta, o sangue
coletado se torna “pálido”. Já para as veias jugulares, há menor risco dessa
contaminação.
Os exames sanguíneos mais solicitados são: hemograma, ác. úrico, AST, CK,
albumina e proteína total.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Fonte: https://www.facebook.com/pccbuern/photos/pcb.1943922575864376/1943922459197721/?type=3&theater.
Exame clínico
Palpação inguinal permite aferir tumores, prenhez, corpos estranhos, fecalomas
e outros. Percussão da carapaça permite suspeitar de pneumonias e qualidade
desta. A auscultação é possível para indivíduos de pequeno porte e de casco
mole, fazendo uso de toalha úmida e um bom estetoscópio pediátrico.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
B
A
Fluidoterapia
Como resultado de sua taxa metabólica mais lenta, répteis sintetizam água muito
mais vagarosamente que mamíferos e aves. Fluidos cristaloides e coloides são
usados para fluidoterapia. A administração de um fluido hipotônico deve ser
feita com extrema atenção em animais cronicamente desidratados, porque causa
rápido desvio de fluido dentro da célula e pode produzir edema celular e ruptura.
Procedimento cirúrgicos
A cicatrização de feridas é mais lenta se comparada à dos mamíferos, podendo
levar de 4 a 6 semanas para acontecer, o que pode ser facilitado por condições
ambientais. As suturas devem ser feitas com fios não absorvíveis, como o nylon
ou prolipropileno, pois os absorvíveis apresentam grande chance de infecção e
deiscência.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Observa-se na foto que o corte deve ser feito em cunha para evitar que o retalho de
osso se desloque para dentro no momento do reposicionamento. O corte em ângulo
mantém o contato osso a osso e promove a consolidação óssea.
Após a osteotomia, eleva-se a seção do osso com parte traseira do bisturi. Daí
podem-se visualizar dois grandes seios venosos, um de cada lado da linha mediana
que não se pode danificar.
O trato intestinal das tartarugas é curto e preso por um mesentério curto, o que
faz com que a exteriorização das vísceras, como é feita em mamíferos, com a
finalidade de percorrer todo o intestino, seja dificultada (MCARTHUR, 2004).
Quando a celiotomia acaba, a cavidade deve ser lavada com solução fisiológica
morna, removendo-se qualquer detrito de casco ou outras contaminações. Os
líquidos mornos também servem para fornecer aquecimento interno para o paciente.
A linha medioventral deve ser fechada com padrão simples contínuo ou simples
com fio de material absorvível. O retalho ósseo é cuidadosamente limpo e colocado
de volta no local da osteotomia.
Para se selar o retalho, usa-se resina epóxi de polimerização rápida. Alguns autores
também fixam com fios de cerclagem para firmar o retalho.
Figura 52. A e B. Incisão e sutura da membrana celomática; C. epóxi para vedação em jabuti.
A B C
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Figura 53. Vista ventral do plastrão. Isolado com resina epóxi e fibra de vidro.
Figura 54. Abordagem pré-femoral. (A) Tartaruga gigante de Aldabra (Aldabrachelys gigantea) em decúbito
lateral, pronta para celiotomia pré-femoral; (B) após incisão na pele, os tecidos moles são dissecados para revelar
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Cirurgias obstétricas são muito comuns quando as fêmeas não conseguem realizar
a postura. Alguns métodos como fraturar ou aspirar os ovos podem ser usados, mas
com cautela, pois poderão ocasionar contaminação celomática; caso se proceda a
esses métodos, após a sucção, realizar a lavagem com solução salina e tergenvet®
para retirar todos os restos de casco que sobraram.
Prolapso de pênis
Muito comum na rotina dos jabutis, o falo desses animais fica retraído à abertura
em comum que dá acesso à cloaca. É frequente também em animais com
hiperparatireoidismo secundário nutricional. Outras causas são: constipação
intestinal ou esforço (tenesmo) associados a corpos estranhos gastrintestinais, tais
como cálculos vesicais, urólitos cloacais ou parasitas.
O mais corriqueiro é a amputação do pênis quando este está com tecido desvitalizado.
Em animais cujo prolapso é recente e o órgão esteja viável, procede-se à reposição,
gelo, lavagem com furacin e sutura em bolsa de tabaco. Mantém-se a sutura por, no
mínimo, 3 semanas somente com dieta por suco de laranja, antibióticos, analgésicos
por 10 dias (nota do autor). Há relatos de prolapso em tartarugas machos por
masturbação ao roçar nas pedras.
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Figura 56. Doença osteometabólica. Nota-se diminuição do tamanho do caso exoftalmia (provável
hipovitaminose A associada).
Ortopedia
Fraturas de casco são uma das situações ortopédicas mais comuns em quelônios,
seja por ataque de predadores, queda, atropelamento ou mesmo por doença
osteometabólica. Para fraturas patológicas, a consolidação óssea poderá vir em 6 a
18 meses, mas, para fraturas por osteodistrofias, somente quando se estabilizarem
os valores de cálcio e fósforo na corrente sanguínea é que se dará o processo de
osteossíntese.
Após a fratura, retiram-se os debris com uma escova cirúrgica e iodo povidine.
Procede-se à osteossíntese com fios de aço transfixando o casco em forma de
“X”, ou por parafusos ortopédicos e fios de cerclagem por fora. Ao apertar os
parafusos, aproximam-se os bordos das fraturas. Uso de resina ou cimento epóxi,
retalhos de vidro autoclavado.
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Clínica
Doenças infecciosas
Um fato curioso é que os répteis não são vacinados pelo simples fato de não
produzirem imunidade ativa. Mesmo assim, processos infecciosos em répteis
não costumam ser contagiosos. Pela experiência pessoal, trabalhando com
populações de répteis, raramente se percebiam situações de contágio bacteriano.
Isso não quer dizer que devemos negligenciar. Uma vez identificado algum agente
patógeno, deve-se sempre isolar esse animal dos outros em uma quarentena de
tratamento.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
O abscesso nos répteis é caseoso pela ausência de lisozima. Portanto, devem ser
incisados como se fosse um processo cirúrgico. Quando se percebem abscessos
em quelônios, deve-se desconfiar de Hipovitaminose A, além da possibilidade de
pneumonias concomitantes (nota do autor).
Pneumonia
A B
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Na rotina veterinária, doenças respiratórias são muito comuns nas aves, roedores,
quelônios e serpentes. No caso dos répteis, os animais podem ficar muitos dias
doentes sem apresentar sinais evidentes a seus tutores. Secreções respiratórias
nem sempre são observadas. Porém sons de sibilo ou estalido costumam ocorrer,
e os animais mantêm o bico córneo mais aberto a depender do desconforto
respiratório. Na mesma proporção, os animais esticam a cabeça na tentativa de
“captar mais ar”. Sinais inespecíficos de inapetência e prostração também estão
presentes.
Queimaduras
São comuns em jabutis de vida livre em biomas que costumam ter uma época de
seca bem marcada (nordeste e centro-oeste). Nessa situação, a lâmina de queratina
se descola do osso, expondo-o. A aparência é de um animal “albino” em uma
observação leiga. O tratamento é voltado à dor e à hidratação para evitar lesões
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
renais. Não se podem esquecer curativos diários com ou sem bandagem e, após o
retorno da vitalidade do casco, o fechamento das partes ósseas com eugenol.
Portanto, morfina BID nos primeiros dias, curativo com clorexidine não alcoólico
diário, antibióticos não nefrotóxicos, anti-inflamatório SID, (meloxican). Quando
terminarem os curativos, isolamento do casco com pasta de eugenol (não produz
reação exotérmica) e acompanhamento por hemograma, ácido úrico, ureia e AST.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Desidratação
Caso a ingestão de água seja ineficiente, deve ser feita a administração parenteral
por via intracelomática (na abertura da virilha), intraóssea (um pouco mais
difícil, pela cortical densa) ou intravenosa, que no caso pode ser pelas veias
jugulares. Os quelônios desidratados apresentam olhos fundos, pele seca,
depressão e anorexia (FRYE,1986).
Distúrbios renais
Gota úrica
Decorre da deposição de urato nos órgãos e articulação, tendo como causa dietas
com níveis de proteína de baixa qualidade associados à desidratação. O consumo
hídrico está intimamente associado a essa patologia, em que muitas vezes não se
tem a oferta de água.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Cálculos vesicais
Jejum
O jejum pode ter várias causas, entre elas: doenças, temperatura inapropriada
ou mesmo em populações em que alguns indivíduos se sobrepõem a outros e os
impedem de se alimentar. Isso pode levar a fígado esteatótico. Um dos tratamentos,
além de corrigir o fator etiológico, é aumentar a temperatura ambiental, e, caso o
animal não queira se alimentar de uma oferta variada de legumes e frutas frescas,
realizar a esofagostomia, em que se insere uma sonda nasogástrica 12 atrás da
mandíbula e por ela se colocam alimentos batidos com frutas e vitamínicos.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Casco piramidal
Figura 62. Em A, o jabuti da esquerda com piramidismo, o da direita normal; em B, detalhes do piramidismo.
Como já relatado, as deficiências de cálcio ou vit. D3, assim como baixa exposição a
raios solares, levam à doença osteometabólica.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Hipovitaminose A
Hipovitaminoses B1 e E
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CAPÍTULO 3
Criação e medicina de crocodilianos
Introdução
O surgimento dos crocodilianos ocorreu há mais de 200 milhões de anos e forma
atualmente a ordem Crocodylia, pertencente à subclasse Archeosauria, a mesma
dos dinossauros e das aves (WALKER, 1972), o que torna muito próximas as
características entre aves e crocodilianos.
Esses predadores estão distribuídos por quase todo o clima tropical, podendo
ser vistos também em regiões subtropicais e em climas temperados. Na Ásia,
Índia e Oceania, encontramos uma espécie de aligátor (Alligator senensis),
seis espécies de crocodilos (Crocodylus johnstoni, Crocodylus minorensis,
Crocodylus novaeguineae, Crocodylus palustris, Crocodylus porosus e
Crocodylus siamensis), uma espécie de gavial (Gavialis ganeeticus) e uma
defalso gavial (Tomistoma schlegelii). A África contém três espécies de
crocodilos (Crocodylus cataphractus, C. niloticus e Osteolaemus tetraspis). Já
nas Américas há onze espécies de crocodilianos, sendo uma espécie de aligátor
(Alligator mississippiensis), seis espécies de jacarés (Caiman crocodilus, C.
latirostris, C. yacare, Paleosuchus palpebrosus, P. trigonatus e Melanosuchus
niger) e quatro espécies de crocodilos – Crocodylus acutus, C. intermedius, C.
moreletii e C. rhombifer (BASSETTI; VERDADE, 2014).
No Brasil, ocorrem os jacarés, que são animais menores do que os crocodilos. São
eles: jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), jacaré-tinga (C. crocodilus),
Jacaré-do-Pantanal (C. yacare), jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus),
jacaré-paguá (P. palpebrosus) e jacaré-açu (Melanosuchus niger). Os maiores
são os jacarés-açus, que podem passar de 3,5 metros e os coroas, que raramente
passam de 1,8m.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Entre os grupos, alguns dos jacarés estão em menor risco, segundo a IUCN,
como os do papo amarelo, o jacaré-anão, coroa, o jacaré-açu. Embora estejam
em baixo risco, dependem de conservação, considerando a estimativa de sua
população – de 25.000 a 50.000 habitantes distribuídos na América do Sul.
Crocodilos Jacarés
Família Crocodilidae Alligatoridae
N de espécies
o 14 8*
Cabeça Mais afilada Focinho largo e arredondado
Escamas do ventre Com poros glandulares** Ausentes
Dentes: Escondido dentro da boca Hipertrofiado e encaixado numa cavidade lateral na parte externa da
boca (aparecem fora da boca)
Quarto dente do maxilar
inferior
Superiores Desalinhados
Alinhados com os inferiores
* Oito espécies – entre elas, estão as dos gêneros Caiman e Paleosuchus, aos quais pertencem os jacarés brasileiros (não há
crocodilos no Brasil).
**Os cientistas ainda não conhecem exatamente a função desses poros, mas especulam que possam servir para a simples
troca de calor e água com o ambiente.
Anatomia e fisiologia
Pele de grande resistência composta de placas queratinizadas que percorrem
todo o tronco e a cauda, estando disposta em fileiras. Em adultos, estão presentes
placas osteodérmicas, que são responsáveis pela defesa nas lutas, além de captar e
distribuir o calor dos banhos de sol aos capilares sanguíneos, aquecendo o animal.
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Vista lateral
Vista superior
Fonte: https://www.facebook.com/socientifica/photos/a.391060364393728/1004250019741423/?type=3&theater.
Sistema digestório
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Sistema esquelético
Sistema nervoso
Possuem boa audição em terra ou quando submersos, possuem ouvidos perto dos
olhos em formato de fenda, protegidos por membrana muscular que fecha a cavidade
auditiva quando submersos (FOWLER, 2003).
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Sistema circulatório
Sistema urinário
É composto por dois rins lobulados e achatados, que estão em contato com a
parede dorsal na região pélvica. Os glomérulos filtram o sangue, deixando passar
somente água e sais minerais, retendo células e outras moléculas grandes, que
passam para os túbulos renais, onde parte da água é reabsorvida. Os répteis não
podem concentrar a urina muito acima da osmolaridade plasmática. A urina e os
uratos precipitados são transportados para a cloaca, e a água liberada é, então,
reabsorvida. Essa condição de conservação da água nos répteis processa-se por
uma modificação na via do catabolismo de proteína e pela capacidade da cloaca de
funcionar como ponto de reabsorção (TROIANO, 1991).
Sistema reprodutor
São animais que não possuem dimorfismo sexual. As gônadas são visualizadas
afastando a cloaca, quando se pode observar o falo e as glândulas de ferormônios
no macho. Os testículos são arredondados e estão localizados intracavitários em
contato com a parede dorsal do corpo, onde os ductos deferentes se unem à base
do falo (pênis).
Nas fêmeas, na parte anterior de cada ovário, situa-se o funil do oviduto, que vai
até a cloaca. Os óvulos são formados no ovário, passam para dentro do funil, são
fecundados nos ovidutos e são, então, envolvidos por albumina, membrana da casca
e casca antes da ovipostura (TROIANO, 1991).
100
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
A B
Exploração comercial
Os sistemas de criação visam ao aproveitamento econômico basicamente da carne
e couro. Normalmente, é explorada a espécie jacaré-de-papo-amarelo. Podem ser
divididos em 3 modalidades.
» Harvesting ou Cropping
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» Ranching
» Farming
102
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Instalações comerciais
Tanques em forma de círculo, evitando, assim, abrasões por atrito nas maxilas
dos animais e na perda de dedos, problema tão comum em pisos abrasivos, o que
pode propiciar osteomielite nos animais. A água deve ser monitorada e reposta
continuamente para evitar disseminação de parasitas e doenças infecciosas.
Figura 70. Piscinas circulares construídas para evitar a abrasão por atrito na maxila.
103
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Figura 72. Em A., recinto de crescimento do Criatório Caiman (estufa plástica e alvenaria); em B., visão interna do
recinto.
A B
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Alimentação
A alimentação compreende 50 a 60% do custo total de uma criação, o que pode ser
minimizado com o uso de descarte de produção animal, como refugos avícolas.
Figura 73. Contenção física de jacaré americano (Alligator mississippiensis) utilizando tiras de borracha no
fechamento da boca.
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Clínica e cirurgia
As situações mais corriqueiras são limpeza de feridas e reparação das amputações
de membros causadas principalmente no período de acasalamento por brigas.
Ovos
A porosidade dos ovos permite a troca gasosa e de água entre o meio ambiente
e o embrião. Quando há alguma diferença nos níveis dessa porosidade, há a
morte embrionária e consequentemente a proliferação de bactérias e fungos no
restante dos ovos do ninho e na incubadora. A má formação da casca com pouca
mineralização está relacionada com a pouca oferta de cálcio na alimentação das
matrizes.
Infertilidade
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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V
Por outro lado, caso haja incidência de ovos férteis em um ninho e inférteis, é
provável que possa estar ocorrendo problema nas fêmeas, sendo a infecção nos
ovidutos a principal causa de infertilidade, podendo ser ascendente da cloaca
ou descendente pelo infundíbulo. Porém, outros fatores também podem estar
envolvidos nesse processo, como distúrbios nutricionais, alta taxa de estresse,
alta taxa de lotação, baixas temperaturas etc. (VERDADE, 2014).
Onfalite
É uma das principais doenças em filhotes, e seu diagnóstico se faz pelo aumento de
volume abdominal e o não fechamento do umbigo. Basicamente, o processo consiste
no fechamento do canal vitelínico por uma infecção bacteriana vinda do saco da
gema. Assim, a gema contamina-se e não pode ser absorvida, afetando a nutrição
do recém-nascido. O conteúdo do saco da gema deixa de ser líquido e passa a ter
consistência endurecida, em grande parte das vezes por infecção ascendente, sendo
necessária sua remoção cirúrgica.
O animal vai a óbito por septicemia e choque endotóxico na maioria dos casos. A
desinfecção da incubadora com amônia quaternária antes da colocação dos ovos,
juntamente com a antissepsia da região umbilical com iodopovidona tópica e a
utilização de violeta de genciana na água da incubadora, ajuda a prevenir onfalites
(VERDADE, 2014).
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS
Figura 74. Em A., abertura umbilical; em B., desinfecção de umbigo com iodopovidona.
A B
Doenças infecciosas
Doenças gastroentéricas
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Gota úrica
Figura 75. Colocação de tubo de pvc para passagem de sonda alimentar, endoscópio.
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EXAMES DE IMAGEM UNIDADE VI
EM RÉPTEIS
CAPÍTULO 1
Radiologia
Introdução
Devido a seu metabolismo lento, os répteis possuem um trânsito gastrointestinal
mais lento do que os mamíferos, porém com trato mais curto. Alterações de
temperatura ambiental e corpórea influenciarão, assim como a ingesta. Portanto,
répteis predadores terão trânsito mais lento (o mesmo acontece em mamíferos
carnívoros), se comparados aos répteis herbívoros.
Para uma melhor visualização do TGI, o uso de contraste baritado poderá ser
realizado na dose de 5 a 20 ml/kg (BRETAS, 2007). É possível identificar corpos
estranhos, tumorações, obstruções. Porém, o trânsito é demorado e pode levar
muitos dias, como em lagartos e testudineos.
110
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Figura 76. Em A, presença de ovos em período normal.Em B, suspeita de distocia (aumento excessivo da
Quelônios
O casco ósseo dos quelônios não impede de observar as estruturas internas. Nela,
se observa pouca quantidade de gás no TGI, e frequentemente são encontradas
pequenas pedras, que se acredita que são ingeridas pelos animais para contribuir
no processo de maceração dos alimentos – assim como fazem as galinhas
(SILVERMAN, 1993).
Para animais de porte pequeno (+/- 400 g), Jackson e Fasal (1981) utilizaram
aparelhos regulados a 60 Kv e 100 miliamperes.
111
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Fonte: https://www.researchgate.net/figure/fig2_279270851.
112
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
O uso de contraste à base de bário foi descrito por Meyer (1988) com gastrofin®
por via orogástrica na dose de 1 ml/130 g de peso e realizando várias tomadas
radiológicas. Pode-se levar mais de 2 dias para se percorrer ao TGI.
Lagartos
Nos lagartos, também se realiza a projeção látero-lateral com o feixe horizontal de
raios X, principalmente para a avaliação da coluna vertebral e sistema respiratório,
pois os órgãos do trato gastrointestinal vão posicionar-se ventralmente na
cavidade celômica, incrementando, dessa forma, a visualização dos pulmões (os
rins, vasos e coração também poderão ser visualizados).
O coração, na maioria do répteis, com suas três câmaras cardíacas, ocorre nas
espécies como teiús e iguanas, cujo coração está localizado próximo à entrada do
tórax, porém em dragão-de-Komodo está mais caudalmente.
Figura 79. Radiografia de lagarto em projeção látero-lateral com feixe horizontal de raios X. (Lu) pulmão; (Li)
fígado; (t) traqueia; coração; (h); (s) estômago; (i) intestino; (f) gordura; (k) rins.
Serpentes
Nos ofídios, a ingesta alimentar se move em bolo pelo TGI com uma quantidade
mínima de gás.
Fonte: https://br.sputniknews.com/mundo_insolito/2019040313605054-raio-x-cobra-atropelada-mostra-ultima-refeicao-foto/.
Radiografias também são úteis para identificar vermes pulmonares, causa comum
de pneumonia verminótica, que pode ocasionar óbito em serpentes.
114
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Figura 81. Radiografias em projeções látero-lateral (A) e dorsoventral (B) de serpente com fratura e subluxação
Doença oteometabólica
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UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Fonte: https://docplayer.com.br/48744532-Reabilitacao-de-jabuti-chelonoidis-carbonaria-com-problema-de-casco-relato-de-
caso.html.
A B C
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EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Tanto para testudíneos quanto para lagartos, animais que apresentam vesícula
urinária, a análise de cálculo pode ser feita quando este é radiopaco. Para cálculos
radioluscentes, o uso de contraste iodado pode ser útil. Nos quelônios, a dose de
contraste recomendada para a realização do estudo contrastado é de 20mL/kg de
peso. Nesses animais, a avaliação dos segmentos intestinais é dificultada, uma vez
que o tempo do trânsito gastrointestinal pode ser muito lento, sendo de 24 a 40 dias
nas espécies terrestres, podendo ser mais rápido nas aquáticas.
117
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
118
CAPÍTULO 2
Endoscopia e ultrassonografia
Endoscopia
O exame endoscópio tem a intenção de observar, de forma precisa e em tempo real,
orifícios naturais ou cavidades, como cavidade celomática, órgãos digestórios,
vesícula urinária e traqueia.
Uma das vantagens é ser uma técnica minimamente invasiva, com pouco tempo
cirúrgico/anestésico, ideal para animais debilitados, sendo que não há necessidade
da hospitalização.
Equipamentos
A endoscopia rígida é composto pela: óptica (endoscópio), uma fonte de luz e um cabo
de luz de fibra óptica. Para conforto do operador e melhorar a observação, o uso do
monitor com videocâmera possibilita uma melhor observação (CHAMNESS, 1999).
Figura 87. A. Óptica rígida de 2,7 mm de diâmetro; B. Fonte de luz de halogênio; C. Cabo de luz feito com fibras
ópticas.
A B C
119
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
A bainha de trabalho, nas ópticas de 2,7 mm, é uma parte do equipamento em que se
inserem 3 canais: a guia de entrada de pinça para biópsia (ou outra guia), mais duas
para entrada e saída de ar ou líquido (DIVERS, 2010).
Figura 88. A. Óptica semirrígida de 1 mm de diâmetro; B. Broncoscópio; C. Bainha de trabalho para óptica de 2,7
Para exame de cavidade, esta deve ser insuflada com CO2, e o equipamento
esterilizado. O uso do gás tem o propósito de deslocar os órgãos para melhor
observação. Para animais pequenos, pode-se fazer uso de uma seringa. Ambos
inseridos na bainha de trabalho.
O exame em répteis
120
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
121
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Nessas espécies, em decúbito lateral direito, o saco aéreo está localizado no espaço
entre 35% e 45% do comprimento do animal. Paralelamente ao eixo horizontal
do corpo, é realizada uma incisão na pele entre a segunda e a terceira fileira de
escamas laterais, seguida de divulsão da musculatura e do peritônio com pinça
hemostática pequena.
Ao atingir o saco aéreo, dois pontos de sutura de apoio são usados para fixação
em sua parede com fio de sutura absorvível. Entre os dois pontos, procede-se à
incisão, e se introduz o endoscópio.
Figura 90. A. Celioscopia em tigre d’água (Trachemys scripta). Acesso lateral esquerdo pela região pré-femoral; vu
= vesícula urinária; B. Celioscopia em tigre d’água (Trachemys scripta); acesso lateral esquerdo pela região pré-
A B
122
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Sistema respiratório
Para esse exame, pode-se usar um endoscópio rígido com abridores de boca para
evitar danos ao equipamento. Deve-se ter o cuidado para que o aparelho não seja do
mesmo calibre da traqueia, pois poderá machucar a mucosa.
Lembre-se! A oclusão da traqueia por alguns minutos não é um problema para répteis!
Figura 92. Pulmonoscopia em tigre d’água (Trachemys scripta). Acesso lateral esquerdo pela região pré-femoral.
O endoscópio foi introduzido por uma incisão na superfície pulmonar, possibilitando a visualização das estruturas
123
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Sistema digestório
Ultrassonografia
Introdução
Embora seja um procedimento não invasivo, que, para répteis, pouca ou nenhuma
anestesia é necessária, essa técnica ainda está em fase de estudos, pois são poucos
os profissionais que possuem a habilidade e a oportunidade de realizar exames
ultrassonográficos em répteis.
124
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Para melhor contato e obtenção de imagens adequadas sem interferência, usa-se gel e
limpeza da área a ser observada.
A intensidade dos ecos de retorno definem os termos utilizados: uma imagem preta
ou anecoica traduz um não retorno dos ecos para os transdutor; exemplo é a imagem
representada por líquido. Ecos de alta intensidade, como órgãos preenchidos por
gás, representam uma imagem branca ou hiperecoica, e ecos de média intensidade,
observados em tecidos moles, apresentam variados tons de cinza formando imagens
hipoecoicas (AUGUSTO, 2014).
125
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Figura 93. Ecografia de uma tartaruga terrestre com o transdutor posicionado na fossa pré-femoral.
Particularidades anatômicas
Em virtude do tamanho dos animais e de sua área dérmica ter contato limitado, um
transdutor de menor tamanho é ideal.
126
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Sistema reprodutor
» monitorizar gestações;
127
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Figura 94. Imagem ultrassonográfica de ovário de dragão-de-komodo (Varanus komodoensis). A. Vários folículos
Sistema urinário
Embora os rins dos répteis não sejam facilmente avaliados pelo ultrassom, nas
iguanas, a maior porção renal está próxima à cauda. Ao exame, o transdutor deve
ser direcionado na superfície lateral da base da cauda em ambos os lados. Essa
posição facilita também a realização de biópsias. Já nas serpentes, os rins estão
localizados no terço caudal do corpo, um em cada lado da coluna (STETTER, 2006).
128
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Para répteis com bexiga, como em alguns lagartos e quelônios, o ultrassom fornece
informações sobre inflamação, neoplasia, cálculos ou ureteres ectópicos. A urina
deve apresentar uma textura anecoica, e alterações de ecogenicidade podem ser
por artefatos, como alguns sedimentos. A bexiga dos quelônios apresenta uma
forma de Y (bilobada) (AUGUSTO, 2007).
Sistema digestivo
Sistema cardiopulmonar
129
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Baço
130
CAPÍTULO 3
Patologia clínica
Introdução
Leva-se em consideração que a contenção física dos animais silvestres, em regra,
gera o stress, que alterará alguns valores normais das análises de sangue, geralmente
elevando o número de neutrófilos/heterófilos, os níveis de glicemia, e diminui o
número de linfócitos, além de outros valores sanguíneos.
É importante ter cuidado ao interpretar o exame, uma vez que, para muitas espécies,
existem poucos estudos e poucas referências. Por isso, deve-se usar com cautela,
assim como usar parâmetros achados em espécies próximas. Valores encontrados
na internet ou literatura devem servir como base inicial para interpretações
laboratoriais de animais selvagens.
Quanto à bioquímica, poderá ser usado com sangue heparinizado para ser analisado
em aparelhos de bioquímica seca, como o reflotron®.
Outra questão é quanto ao termo que se dá aos elementos de hemostasia. Estas são
células nucleadas chamadas de trombócitos (THRALL, 2004). Os neutrófilos são
chamados de heterófilos em répteis devido à diferenciada característica celular.
Figura 95. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Eritrócito jovem (seta longa), eritrócitos e
trombócito (seta curta) em serpente biúta (Bitis arietans). As outras células são eritrócitos adultos.
Figura 96. Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa (1.000×). Heterófilo de serpente (Caudisona durissa)
apresentando degranulação.
Eritrócitos
São células grandes, ovaladas, nucleadas e com vida média elevada (3 a 5 anos). O
interior da célula é rico em hemoglobina, o que evidencia uma cor avermelhada.
132
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Figura 97. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Heterófilo de tigre d’água (Trachemis
dorbigni).
Figura 98. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Linfócito pequeno (seta à esquerda) e
133
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Os trombócitos de répteis são células que têm um estágio anterior de blasto como
as demais células do sangue, ao contrário das plaquetas dos mamíferos, que se
originam do megacariócito e são fragmentos de citoplasma. Essas células têm como
função participar da coagulação sanguínea (ALMOSNY, 2000).
Figura 99. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Heterófilo (seta abaixo) e trombócito (seta
134
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI
Figura 100. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Hepatozoon sp. em hemácia de
Bioquímica
No que diz respeito aos exames bioquímicos, o sangue poderá ser acondicionado
em frasco sem anticoagulante para posterior obtenção de soro. Deve-se ter
cuidado com a colheita em determinados locais. Por exemplo, a cardiocentese,
atualmente condenada, mas ainda realizada em répteis, às vezes, por falta de
opção, pode gerar falsos valores acentuados de enzimas musculares como a AST
e FA (ALMOSNY, 2014).
135
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS
Lesões Renais
Quanto à função renal, a elevação dos valores de ureia em répteis pode ser
sugestiva de doença renal ou pré-renal, mas esses valores também estão
elevados em outras condições, como ocorre em grande ingestão proteica, não
sendo, desse modo, confiáveis. A creatinina sérica é um indicador pobre para
detectar doença renal em répteis.
O ácido úrico representa cerca de 85% do total do nitrogênio excretado pelos rins
de répteis. Contudo, o ácido úrico plasmático também é um indicador inespecífico
de doença renal nesses animais, pois pode ser consequência de gota úrica ou de
ingestão excessiva de proteína. Por isso, associam-se valores de ácido úrico à
relação cálcio/fósforo, permitindo uma análise mais fiel de doença renal em répteis.
Em animais sadios, tal relação geralmente está acima de 1, e, em doença renal, a
relação é menor (GOLDBERG, 2011).
Doença hepática
136
Referências
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Medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014, pp. 256- 293.
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REFERÊNCIAS
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