Atividade - Mito - de - Ícaro - 2

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

RIO GRANDE DO NORTE – IFRN


Campus – Canguaretama
Língua Portuguesa – Professora Monick Munay

TEXTO PARA ESTUDO

As asas de Ícaro

— Meter-se com reis dá nisto, Ícaro! — dizia o inventor Dédalo, desconsolado, ao seu filho, que o
observava.
Ambos estavam presos no labirinto de Creta, encomenda que o rei Minos fizera ao próprio Dédalo
para encerrar o Minotauro, flagelo da cidade. O Minotauro fora derrotado, mas Dédalo caiu em desgraça
com o rei, pois fornecera a princesa Ariadne o fio que ela entregou a Teseu e o qual este usou para fugir do
labirinto após matar o Minotauro. Minos, que não esperava que Teseu derrotasse o monstro, passou a ver
Dédalo como traidor e o fez provar, junto com o filho Ícaro, um pouco do seu próprio remédio.
Um dia os dois estavam a contemplar o azul do céu, sentados em uma colina como de hábito, quando
Dédalo deu uma palmada repentina na testa:
— Já sei, Ícaro, o que faremos!
Sem dizer mais nada, começou a descer o rochedo, acompanhado pelo filho, que o seguia
apressadamente. O jovem sabia que o pai era muito inventivo e que estava sempre com a cabeça cheia de
novos projetos. Preferiu deixar que a idéia amadurecesse na cabeça do velho enquanto desciam. Tão logo
chegaram à base da ilha, o velho mandou.
— Vamos, pegue minhas ferramentas — disse o pai ao filho, antes de sair em busca de alguma coisa.
Quando Dédalo retornou, seus braços estavam repletos de penas de aves, que ele abatera com a
eficiência de um experiente caçador.
— O que pretende fazer, pai, com todas estas penas? — disse Ícaro.
Sem responder, Dédalo começou a serrar pedaços de madeira. De suas mãos começaram a surgir
duas grandes armações, que lembravam o esqueleto de uma asa.
— O que é isto, uma fantasia? — perguntou Ícaro, ao ver o pai colar as penas nas varas de madeira.
— Tudo se inicia pela fantasia, meu Ícaro... — disse o velho, com o ar sonhador.
Logo Dédalo tinha nas mãos um grande e alvo par de asas.
— Vamos, filho, me ajude a colocá-las nas costas!
Ícaro, que naturalmente já entendera o plano, ajudou-o, empolgado pela idéia.
Nem bem Dédalo terminara de colocar o par de asas as costas, seus pés começaram a se erguer do
solo.
— Funciona! — exclamou Ícaro, sentindo no rosto suado o vento refrescante das asas do pai.
— Vamos, Ícaro, vamos construir uma para você também!
Os dois passaram o resto do dia aplicados em aperfeiçoar o mecanismo das asas artesanais.
— Aqui está a nossa liberdade! — disse o velho, ao colar as últimas penas nas armações.
— Mas serão sólidas o bastante para atravessarmos o oceano? — perguntou Ícaro.
— Claro! — respondeu Dédalo — O único cuidado que devemos ter é não nos aproximarmos muito
do sol, pois o calor poderia derreter a cera que prende as penas.
No dia seguinte, bem cedo, subiram para o alto da torre, cada qual carregando com amoroso cuidado
o seu par de asas. Exaustos, descansaram um pouco ate que Ícaro, impaciente para testar o seu equipamento,
ajustou as suas asas às costas.
— Veja, pai, estou voando! — disse o rapaz, sem conter a sua euforia.
Deu várias voltas ao redor da torre, perdendo aos poucos o medo da altitude; seu pai também
circundou a ilha munido das asas para testar-lhes a resistência.
— Basta de preparativos! — disse Dédalo. — Vamos embora!
Pai e filho, juntos, colocaram os pés sobre a amurada, no ponto mais alto da torre; abaixo deles o mar
espumava, chocando-se violentamente contra os recifes negros que pontilhavam toda a costa. — Agora! —
ordenou Dédalo. Os dois lançaram-se ao ar, batendo os braços de maneira tão ritmada que pareciam dois
pássaros a dividir o azul do céu com as gaivotas, que os observavam, pasmadas.
— Não se esqueça do sol! — dizia de vez em quando Dédalo, ao ver que Ícaro se descuidava,
subindo em demasia.
No começo os dois lutaram um pouco com as correntes de ar, que Ihes roubavam momentaneamente
o equilíbrio. Às vezes, o pai buscava apoio nos braços do filho, às vezes, o filho recorria ao auxilio do pai.
Já haviam deixado há muito tempo a ilha e agora não havia outro jeito senão mover os músculos com
vigor, tentando poupar ao máximo o fôlego. Dédalo ainda estava entregue ao deslumbramento quando
percebeu que seu filho havia desaparecido.
— Ícaro, onde está você? — disse, inquieto.
O jovem, muito distante dali, planava nas alturas. De olhos cerrados, Ícaro lançara-se num vôo cego,
para além das nuvens. Após haver ultrapassado a linha dos grandes e acolchoados montes brancos, ficara
pairando sobre eles, enquanto o sol arrancava um brilho intenso de suas asas. Sua pele refletia um tom
dourado e parecia que ele era o próprio filho do Sol.
— Queria ficar aqui para sempre! — disse, inebriado de liberdade.
Enquanto agitava as asas, percebeu que uma grande pena roçou-lhe o nariz. Seus o olhos a
acompanharam rodopiando pelo espaço sem limites ate desaparecer misturada ao branco das nuvens.
Ícaro passou as costas das mãos sobre a testa suada. Uma deliciosa rajada de vento refrescou sua pele
ao mesmo tempo em que percebeu que um grande tufo de penas espalhava-se ao seu redor, como se um
imenso travesseiro tivesse sido rasgado e esvaziado de todo o seu conteúdo. Grossos fios de cera derretida
escorriam pelas armações, alcançando os seus braços. Com um grito de medo, Ícaro percebeu que a estrutura
das asas se desfazia. Procurou esconder-se sob as nuvens, mas o sol tornara-se tão intenso que desmanchava
as próprias nuvens. Ícaro percebeu que era o seu fim:
— Socorro, pai! — gritou.
Entretanto, sua voz perdeu-se no vácuo. Seu pai, longe dali, estava impotente para lhe prestar
qualquer auxílio. Desistindo, afinal, de tentar recuperar altura, Ícaro abandonou-se ao destino, indo cair nas
águas revoltas do oceano.
Enquanto isto, Dédalo vasculhava os céus.
— Ícaro, meu filho, responda! — clamava inutilmente.
Durante muito tempo o velho vagou, fugindo sempre ao calor do sol, até que avistou sobre as ondas
algumas penas. Sobrevoando mais um pouco o local, Dédalo acabou por avistar o corpo do filho jogado às
margens de uma das praias. Depois de tomá-lo nos braços, ficou um longo tempo abraçado a ele. Com o
coração despedaçado, como as asas de Ícaro, Dédalo o enterrou no mesmo local, que passou a se chamar
Icária, em sua homenagem.

(A. S. Franchini e Carmen Seganfredo. Deuses, heróis e monstros. Adaptação de Ana Mariza Filipouski.
Porto Alegre: L&PM, 2005. p. 10-4)
Vocabulário:
Façanha: feito heroico, impressionante,
excepcional.
Flanar: andar ociosamente, sem rumo e sem
sentido certo.
Inebriado: embriagado, entontecido.
Revolta (pronuncia-se “revôlta”): revirada,
remexida, desarrumada.

CURIOSIDADES

Quem era Dédalo na mitologia?

Dédalo, o pai de Ícaro, era filho de reis de Atenas e discípulo do deus Mercúrio (o mensageiro dos
deuses do Olimpo). Depois de matar seu sobrinho por ciúme, Dédalo foge de Atenas e se refugia na corte de
Minos, em Creta, onde constrói o labirinto em que é encerrado o Minotauro.
Teseu: o defensor do povo

Teseu desde cedo consagrou-se como herói na luta contra bandidos e monstros. Sua prova mais
difícil foi a luta contra o Minotauro.
Todos os anos, Minos, o rei de Creta, exigia que o povo lhe entregasse sete moças e sete rapazes para
serem devorados pelo Minotauro, que vivia no labirinto. Desejando pôr fim a essa situação, o herói se
oferece para ser uma das vítimas. Luta contra o monstro, mata-o e, com a ajuda de Ariadne, consegue sair do
labirinto.

De Ícaro a Armstrong

O homem chegou à Lua em 1969. Antes de pôr o pé no solo lunar, o astronauta norte-americano Neil
Armstrong disse: “Um pequeno passo para o homem e um gigantesco salto para a humanidade”.
Com essa frase, o astronauta resumia o significado daquela conquista. Pisar a Lua era, sem dúvida,
um salto importantíssimo na longa aventura humana de voar e conquistar o espaço – um sonho que sempre
povoou o imaginário humano, conforme demonstra o mito grego de Ícaro.

Leonardo da Vinci: o precursor

Aquilo que hoje conhecemos como asa-delta foi inventado por Leonardo da Vinci (1452-1519), um
dos mais importantes gênios da humanidade. Da Vinci foi também o inventor das primeiras versões do
helicóptero, da bicicleta, do sistema de respiração para mergulho, do robô, de blindados e outras máquinas
de guerra. Famoso principalmente como pintor, sua obra mais conhecida é a Monalisa.

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO

1. Dédalo e o filho estão presos no labirinto da ilha de Creta. O motivo pelo qual estão na prisão é explicado
por outra história, que envolve o Minotauro. As perguntas a seguir são sobre essa história.
a) O que era o Minotauro e onde ele vivia?
b) Qual era a relação de Dédalo com o labirinto?
c) Quem matou o Minotauro? Como?
d) Como e com a ajuda de quem essa personagem conseguiu sair do labirinto?
e) Explique esta frase do texto: “Minos [...] fez Dédalo provar [...] um pouco do próprio remédio”.

2. Para fugir com o filho do labirinto, Dédalo fabrica um par de asas para ele e outro para Ícaro.
a) Por que ele busca uma saída pelo céu?
b) Com que finalidade ele usa penas de aves nas asas que faz?

3. Observe as palavras destacadas nestes trechos do texto:


“Ícaro ajudou-o, empolgado”
“Ícaro, impaciente para testar a invenção”
“disse o rapaz, sem conter a euforia”
a) Conclua: Como Ícaro se sente diante da invenção do pai?
b) Essas emoções têm relação com a idade de Ícaro? Por quê?
c) Esses trechos podem ser vistos como pistas do que ainda vai acontecer na história? Por quê?

4. Observe a descrição de Ícaro voando:

“De olhos fechados, lançara-se num voo cego, para além das nuvens.
Ultrapassou a linha dos grandes montes brancos”

Que palavras desse fragmento comprovam o desejo de quebrar os limites, de se superar, experimentado por
Ícaro?
5. Se Ícaro, como Dédalo, se concentrasse apenas em seu objetivo – sair da ilha de Creta -, provavelmente
não teria tido um final trágico.
a) O que desviou Ícaro de seu objetivo principal?
b) Que sensação a personagem teve durante o voo? Destaque do texto um trecho que justifique a sua
resposta.

6. “As asas de Ícaro” reproduz uma das mais antigas e mais bonitas histórias de todos os tempos. Na sua
opinião:
a) A história pode representar os sonhos de toda a humanidade? Por quê?
b) Que lição a história de Ícaro nos deixa?
c) Apesar do final trágico da história, podemos considerar Ícaro um herói? Por quê?

7. Que outras invenções quebraram barreiras e se destacaram na realização de grandes sonhos da


humanidade?

8. De que cultura faz parte o mito de Ícaro?

9. A que grupo de mitos pertence o da história narrada no texto “As asas de Ícaro”? Justifique sua resposta.

10. Que ser sobrenatural é mencionado no texto “As asas de Ícaro”?

11. Muitos dos mitos gregos fazem parte também da cultura de outros povos, figurando em seus contos
populares, lendas, fábulas, etc.
a) Entre as lendas brasileiras, há um ser fantástico que se assemelha, na forma, com o Minotauro, pois
também tem corpo que é metade de bicho. Que ser é esse?
b) Afrodite, também conhecida por Vênus, nasceu nas ondas do mar. Nas pinturas, ela costuma ser
representada como uma mulher jovem, muito bela, de cabelos longos, nua, em pé numa concha aberta sobre
as águas. Que seres fantásticos do folclore brasileiro, indígena e africano se assemelham à deusa Afrodite?

12. Nos mitos, é comum haver ações heroicas de uma ou mais personagens, que podem ser semi-deuses ou
mortais dotados de poderes sobrenaturais ou de excepcional força física. Os protagonistas de “As asas de
Ícaro”, entretanto, não apresentam essas características. Que feito extraordinário os tornou heróis?

13. O mito não é apenas uma história aventuresca, mas também um meio de buscar a verdade ou o
significado das coisas. Por isso, com suas lições de sabedoria, serve de exemplo a seres humanos de
diferentes épocas.
a) Que lição o mito de Ícaro transmite a humanidade?
b) Qual dos seguintes provérbios traduz melhor a lição do mito de Ícaro?
 Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
 Uma andorinha só não faz verão.
 Quanto mais alto o voo, maior a queda.
 Devagar é que se vai longe.

A LINGUAGEM DO TEXTO

1. A palavra ambos significa “os dois” ou “um e outro”. No segundo parágrafo, que palavras ambos
substitui?

2. No trecho “Quando retornou, trazia muitas penas de aves récem-abatidas”:


a) Qual é o sentido da partícula récem em récem-abatidas?
b) Caso quiséssemos utilizar a partícula récem antes de outras palavras, como casado, nascidos,
descoberta, chegadas, que formas teríamos?

3. No trecho “Com o coração despedaçado, como as asas de Ícaro, Dédalo o enterrou nesse mesmo local”, o
que significa a expressão com o coração despedaçado?
4. Em “Sobrevoando mais um pouco o local”, o narrador emprega o verbo sobrevoar, que é formado por
sobre (acima) + voar. Que sentidos têm as palavras a seguir, também formadas com o emprego de sobre?
a) sobrecoxa
b) sobretudo
c) sobreloja
d) sobreviver

5. Releia este trecho do texto “As asas de Ícaro”:


“Os dois lançaram-se ao ar, batendo os braços de maneira tão ritmada que pareciam dois pássaros a
dividir o azul do céu com as gaivotas, que os observavam, pasmadas.”
a) Em que pessoa estão os verbos e os pronomes nesse trecho?
b) Em que tempo estão os verbos?
c) O narrador é personagem ou obseravador?

6. Como os contos maravilhosos, os mitos eram transmitidos oralmente. Depois passaram a ser registrados
por escrito, por poetas e prosadores, e publicados em livros, jornais, revistas e, nos dias de hoje, também
digitalizados em sites na Internet. A que tipo de público os mitos se destinam?

7. Observe a linguagem do texto. Que tipo de variedade linguística foi empregada?

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