Livro Hidroterapia
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AQUÁTICA
Efeitos fisiológicos
da imersão
Gabriela Souza de Vasconcelos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A fisioterapia aquática tem sido cada vez mais utilizada na reabilitação física de
muitas doenças e disfunções cinético-funcionais, como as doenças cardíacas,
respiratórias, neurológicas, ortopédicas, esportivas e reumatológicas. De fato, os
benefícios da fisioterapia aquática são indiscutíveis; porém, algumas informações
precisam ser consideradas na hora de indicar ou contraindicar essa terapia física.
Daí a importância de o fisioterapeuta conhecer os efeitos fisiológicos da imersão
em repouso e em exercício, bem como os efeitos após a imersão, para identificar
se a fisioterapia aquática é adequada para o paciente naquele momento.
Neste capítulo, vamos tratar dos efeitos fisiológicos decorrentes da imersão
em repouso e em exercício, assim como os efeitos fisiológicos após a imersão.
Sistema cardiovascular
No sistema cardiovascular, os efeitos da imersão estão relacionados com
a pressão hidrostática e com a temperatura da água. Assim que a pessoa
entra na água, a imersão causa bradicardia, vasoconstrição periférica e,
consequentemente, o desvio de sangue para os órgãos vitais. Esse desloca-
mento do sangue das extremidades para o tronco gera aumento do retorno
venolinfático, da pressão intratorácica, da pressão venosa central, pressão
arterial pulmonar e do volume de ejeção. Além disso, ocorre aumento do
débito cardíaco (volume sanguíneo versus frequência cardíaca), visto que há
um aumento do volume sanguíneo e uma redução no número de batimentos
cardíacos (diminuem, aproximadamente, 10 batimentos por minuto ou 5%
da frequência cardíaca) (HALL; BISSON; O’HARE, 1990; BRODY; GEIGLE, 2009).
Além disso, em função da imersão em água aquecida, ocorrem o au-
mento da circulação sanguínea, a vasodilatação periférica e a melhora do
suprimento sanguíneo para as extremidades e do retorno venoso (RUOTI;
MORRIS; COLE, 2000).
Sistema respiratório
Os efeitos da imersão no sistema respiratório são decorrentes da pressão
hidrostática. Resumidamente, ocorre um aumento da pressão intratorácica
e da pressão transmural nos grandes vasos, o que implica um aumento do
trabalho respiratório e a redução da capacidade vital e do volume de reserva
expiratório. Portanto, de modo geral, os efeitos no sistema respiratório são
aumento do volume central e compressão da caixa torácica e do abdome
(HALL; BISSON; O’HARE, 1990; BRODY; GEIGLE, 2009).
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Sistema renal
No sistema renal, os efeitos da imersão incluem o aumento do débito uri-
nário (diurese), com perda de volume plasmático, de sódio (natriurese) e
de potássio (potassiurese). Segundo Hall, Bisson e O’Hare (1990) e Brody e
Geigle (2009), a diurese é um mecanismo compensador homeostático e tem
a função de equilibrar a distensão sofrida pelos receptores de pressão do
sistema cardiovascular.
A pressão sobre o sistema cardiovascular provoca uma resposta vagal,
aumentando o transporte tubular de sódio e diminuindo a resistência vascular
renal pela supressão de vasopressina, renina e aldosterona plasmática. Essa
resposta vagal é maximizada na imersão em água fria (HALL; BISSON; O’HARE,
1990; BRODY; GEIGLE, 2009).
Sistema nervoso
No sistema nervoso, o efeito associado com a imersão em repouso é a dimi-
nuição da sensação dolorosa. A água aquecida e a turbulência conseguem
bloquear terminações nervosas, visto que a transmissão de impulsos nervosos
é mais rápida nas fibras do calor e do tato do que nas fibras da dor (SKINNER;
THOMSON, 1985; BRODY; GEIGLE, 2009).
Sistema endócrino
De acordo com Becker e Cole (2000) e Ruoti, Morris e Cole (2000), o sistema
hormonal é um importante regulador das funções dos demais sistemas cor-
porais e, por isso, muitas alterações hormonais acarretam consequências
aos sistemas cardiovascular, renal e nervoso.
Com a imersão, ocorre o aumento do hormônio peptídeo natriurético atrial,
que estimula o aumento do volume sanguíneo no tronco, do débito cardíaco
e do retorno venoso. Esse aumento do fluxo sanguíneo nos rins favorece o
aumento da liberação de creatinina e a inibição da produção de aldosterona
e do hormônio antidiurético, contribuindo para aumento do débito urinário.
Com relação ao sistema nervoso, com a imersão, ocorre a liberação de
neurotransmissores de forma alternada, com a liberação de catecolaminas,
gerando uma redução dos níveis de epinefrina e norepinefrina. A epinefrina
e a norepinefrina aumentam o limiar para dor das pessoas, ou seja, a pes-
soa passa a tolerar mais a sensação dolorosa (BECKER; COLE, 2000; RUOTI;
MORRIS; COLE, 2000).
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Sistema musculoesquelético
Os efeitos da imersão no sistema musculoesquelético ocorrem em função
da pressão hidrostática e da temperatura da água, estando diretamente
relacionados com os efeitos no sistema cardiovascular (SKINNER; THOMSON,
1985; BRODY; GEIGLE, 2009).
Segundo Skinner e Thomson (1985) e Brody e Geigle (2009), com a imersão,
ocorre o aumento do fluxo sanguíneo nas extremidades e, consequentemente,
para os músculos, resultando em diminuição dos espasmos musculares, em
melhor distribuição de oxigênio, em melhor nutrição tecidual e no estímulo da
cicatrização tecidual. Além disso, a imersão favorece a eliminação de edemas
e diminui a compressão articular, o que permite realizar intervenções fisio-
terapêuticas precoces e seguras em comparação com a fisioterapia no solo.
(Continua)
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(Continuação)
Sistema cardiovascular
Durante a realização de exercícios dentro d´água, ocorre um aumento da
frequência cardíaca, do débito cardíaco, do volume de ejeção, da pressão
arterial sistólica e da manutenção da pressão arterial diastólica, sendo esse
aumento dependente da temperatura da água. Esses efeitos exigirão um
aumento da força de contração do miocárdio e maior gasto energético (RUOTI;
MORRIS; COLE, 2000; BRODY; GEIGLE, 2009).
Sistema respiratório
No sistema respiratório, os efeitos da imersão em exercício são semelhantes
aos da imersão em repouso. Conforme a intensidade aumenta, ocorre um
aumento do trabalho respiratório e da frequência respiratória, bem como
a redução da capacidade vital e do volume de reserva expiratório, como
Efeitos fisiológicos da imersão 7
Sistema renal
Durante a realização de exercício em imersão, a diurese se mantém ou, até
mesmo, pode ser aumentada. Isso está relacionado com o aumento da fre-
quência cardíaca e do débito cardíaco, que aumentam durante o exercício,
já que a diurese é um mecanismo útil para manter a homeostasia corporal e
resulta do estímulo provocado pela pressão sobre o sistema cardiovascular
(RUOTI; MORRIS; COLE, 2000; BRODY; GEIGLE, 2009).
Sistema nervoso
Além do efeito analgésico, que também é obtido na imersão em repouso, a
prática de exercícios dentro d´água estimula o sistema vestibular, visto que
a instabilidade e o desequilíbrio provocados pela água permitem melhorar/
tratar os distúrbios proprioceptivos e de equilíbrio. Outros efeitos benéficos
ao sistema nervoso incluem o desenvolvimento da coordenação motora
e o estímulo da consciência corporal, gerados pelo apoio do meio líquido
(SKINNER; THOMSON, 1985; BRODY; GEIGLE, 2009).
Sistema endócrino
No sistema endócrino, os efeitos do exercício em imersão são semelhantes aos
do repouso, embora estejam relacionados com a intensidade dos exercícios.
Conforme aumenta a intensidade dos exercícios, aumentam as respostas
fisiológicas do sistema endócrino (RUOTI, MORRIS, COLE, 2000).
Sistema musculoesquelético
No sistema musculoesquelético, além dos efeitos da imersão em repouso, a
viscosidade da água provoca uma resistência tridimensional, gerando con-
trações musculares sincronizadas. Soma-se a isso a possibilidade de que
os pacientes com disfunções articulares, pós-operatórios e com traumas
agudos que impossibilitem a descarga de peso sobre o segmento realizem os
exercícios em meio líquido sem a compressão articular (SKINNER; THOMSON,
1985; BRODY; GEIGLE, 2009).
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Referências
BECKER, E. B.; COLE, A. J. Terapia aquática moderna. Barueri: Manole, 2000.
BRODY, L. T.; GEIGLE, P. R. Aquatic exercise for rehabilitation and training. Champaign:
Human Kinetics, 2009.
CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução nº 443,
de 3 de setembro de 2014. Disciplina a Especialidade de Fisioterapia Aquática e dá
outras providências. Brasília, 26 set. 2014. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/
nsite/?p=3205. Acesso em: 24 fev. 2021.
DUTTON, M. Fisioterapia ortopédica: exame, avaliação e intervenção. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
HALL, J.; BISSON, D.; O’HARE, P. The physiology of immersion. Physiotherapy, v. 76, nº
9, p. 517–521, 1990.
PEAKE, J. M. et al. The effects of cold water immersion and active recovery on inflam-
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Journal Physiology, v. 595.3, p. 659–711, 2017.
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