Garantismo E Segurança Pública
Garantismo E Segurança Pública
Garantismo E Segurança Pública
SEGURANÇA PÚBLICA
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Sumário
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................3
2. POLÍTICAS PÚBLICAS GARANTISTAS ...................................................................................4
2.1 Políticas pública ..........................................................................................................................4
2.2 Política criminal como tipo de política pública .......................................................................6
2.3 Políticas de segurança pública .............................................................................................. 10
2.4 O garantismo penal ................................................................................................................. 13
2.4.1 Conceito e características ............................................................................................... 13
2.4.2. Princípios norteadores .................................................................................................... 15
2.4.3 Acepções da doutrina garantista – validade e efetividade ......................................... 17
2.4.4. Principais críticas .......................................................................................................... 19
4. OUTRO PONTO-DE-VISTA EXTERNO DE LEGITIMIDADE ............................................ 21
5. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 25
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1. INTRODUÇÃO
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Segundo Maria das Graças Rua (1998), as políticas públicas, (policies) em
inglês, são resultantes da atividade política (politics). Conforme esta autora, as
políticas públicas normalmente envolvem não só uma decisão, bem como um
conjunto delas, compreendem [...] diversas ações estrategicamente selecionadas
para implementar as decisões tomadas. [...] uma decisão política corresponde
a uma escolha dentre um leque de alternativas, conforme a hierarquia das
preferências dos atores envolvidos expressando [...] uma adequação entre os fins
pretendidos e os meios disponíveis. (RUA, 1998, p. 02).
Isso quer dizer que uma política pública é sempre resultante de uma decisão
política, já que envolve atividade política, contudo nem toda decisão política configura
uma política pública.
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Embora não goze de conceito unânime a expressão política criminal é
vista pela maioria da doutrina jurídica como uma ciência. A arte de selecionar
os bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal bem como os caminhos de tal
proteção, implicando na crítica dos valores e caminhos já eleitos (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2009).
Entretanto, para certa parcela da comunidade penal, não há que ser vista na
condição de ciência, pois apesar de se valer, muitas vezes, de dados científicos, estes
são pertencentes a outros ramos do saber. Além de que muito do substrato
(aperfeiçoamento da lei penal e consequentes modificações) da política criminal
é oriundo de proposições carregadas de ideologias.
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Para os defensores deste movimento a pena é aplicada com caráter
retributivo, ou seja, a sanção penal deve ser o instrumento utilizado com rigor e
não deve ser vista como uma preocupação preventivo-especial de reintegração
social do indivíduo. Ao contrário, deve permitir que o infrator seja castigado na
medida do crime por ele cometido. Como medida punitiva, pugna-se, por exemplo,
pela pena de morte para crimes considerados repugnantes e ainda a de prisão
perpétua.
A nova defesa social foi, entretanto, reformulada pelas idéias de Marc Ancel,
que ao invés da eliminação do direito penal defendia a sua transformação e
humanização. Para isso ressaltava que o direito penal não era o único instrumento de
controle da criminalidade, mas carecia das outras ciências para que a defesa
social pudesse se efetivar. Foi a corrente de pensamento político-criminal de maior
aquiescência na sociedade científica do século XX e pretendia ser um sistema
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protetor tanto da sociedade como do delinquente pregando a manutenção do
princípio da legalidade dos delitos e das penas (SANTORO FILHO, 2000).
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se sustentar um sistema falido. Seria necessária, para eles, a abolição da justiça
criminal e do próprio direito penal, o que ensejaria a busca de soluções por meio da
elaboração de alternativas como, por exemplo, a participação da sociedade, a
integração da vítima com o criminoso e a utilização da justiça civil e administrativa na
resolução dos conflitos.
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Esse mal é, também, resultado do tráfico de drogas, responsável pelo enorme
número de assassinatos praticados principalmente contra jovens, além da
divulgação por parte da mídia de atitudes descomedidas de violência, seja em
noticiários, filmes ou programas de televisão ou ainda das políticas de direito penal
máximo que pregam sua aplicação em prima ratio.
Não bastasse tudo isso, contou-se, ao longo dos anos, com inúmeras
situações que acabaram impregnando na justiça criminal brasileira um cunho
ditatorial no qual as instituições policiais eram distanciadas da população. Ainda
hoje, mesmo que em menor proporção, e claro, em uma nova configuração, as
corporações policias ainda resistem a uma aproximação de parceria com
comunidades na luta contra o crime demonstrando técnicas ultrapassadas de
atuação.
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Sob esse aspecto, o conceito tradicional de segurança pública dá-se no
sentido de que a função maior do Estado é garantir aos cidadãos incolumidade física
e moral com base em um reflexo de convivência pacífica e harmoniosa entre os
indivíduos. Hoje, um conceito propício seria o de que a segurança pública visa
à ausência de perturbação e à disposição harmoniosa das relações sociais (JUCÁ,
2002).
Em tal contexto, a realidade vivida hoje no Brasil traduz sem qualquer dúvida
que o fator segurança pública não dispõe de políticas capazes de propiciar a
diminuição da violência e criminalidade ou ainda segundo os mais otimistas, sua
extirpação. Ao contrário, denota que não se acertou até o presente momento quais
ferramentas implementadas conseguiriam atingir esse fim.
Isso deixa claro que não somente o poder público é o responsável, mas a
sociedade organizada é capaz de desempenhar um papel singular na diminuição
da criminalidade e violência. Fator que requer a conscientização desta em sua
responsabilidade pela segurança.
Sob essa perspectiva, por meio da ação conjunta entre poder público e
sociedade, a instauração dos programas de policiamento comunitário baseada
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na elaboração de táticas preventivas, consequentemente, a abertura das
instâncias policiais às dinâmicas externas. Além ainda, de uma formação
transdisciplinar para os profissionais que atuam na área de segurança pública e
a interligação destes com a produção acadêmica que emerge dentro das instituições
voltadas para a segurança tem sido apontadas como políticas públicas eficazes na
busca da tão almejada paz social.
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assegure o máximo grau de racionalidade e confiabilidade do juízo e, portanto, de
limitação do poder punitivo e de tutela da pessoa contra a arbitrariedade.
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Continuamente, o princípio da lesividade ou da ofensividade (nulla necessitas
sine injuria) aduz a necessidade de efetiva lesão ao bem jurídico tutelado de modo
que advenha da Constituição a autorização de punição em caso de descumprimento.
Ainda o princípio da materialidade (nulla injuria sine actione) demonstrando a
necessidade de aspectos substanciais de ocorrência do fato delituoso; bem como
o princípio da culpabilidade (nulla actio sine culpa), o qual denuncia a
necessidade de responsabilização do agente que praticou o ato e para isso a devida
comprovação de sua autoria, o que em caso contrário, enseja a aplicação da máxima
do in dúbio proréu.
Sob essa ótica, tendo como base o sistema garantista, pode-se falar em
ordenamento baseado no direito penal mínimo – quando mais próximo se estiver
do asseguramento das referidas garantias – ou no direito penal máximo – quanto
menos garantias asseguradas forem.
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garantismo é medido com base em sua aplicabilidade e, se na prática não está sendo
efetivado na proporção em que a teoria determina, então não se tem garantismo.
Ainda pertencente a esta, mas num plano político, denota uma técnica de
tutela capaz de minimizar a violência e de maximizar a liberdade e, sob um
plano jurídico, como um sistema de vínculos impostos ao poder de punir do
Estado em garantia dos direitos dos cidadãos (CALABRICH et al., 2010).
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Nota-se, pois, que, há grande diferença entre direito válido e efetivo, ou seja,
são dois mundos de existência a serem observados: o do plano normativo e o
do plano concreto. Significa ainda dizer que o julgador não tem a obrigação de
aplicar as leis inválidas ou incompatíveis com o ordenamento constitucional ainda
que vigentes.
Sob essa ótica, para uma melhor compreensão, faz-se salutar a distinção
entre justiça, vigência, validade e eficácia. Segundo Cademartori (1999) uma norma é
justa quando ela satisfaz de maneira positiva um critério de valoração ético-
político. É vigente quando não possui vícios formais, ou seja, foram
obedecidos aos procedimentos prescritos no tocante a sua promulgação e
sujeitos competentes. É válida quando imunizada contra vícios materiais, isto é,
não se acha contradita com nenhuma norma hierarquicamente superior e, eficaz
quando é observada tanto por seus destinatários quanto pelos órgãos responsáveis
por sua aplicação.
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Outra crítica parte do vazio ontológico que permeia a doutrina garantista,
ou seja, apesar de ser uma teoria comprometida com ideais democráticos, indaga-se
qual critério para se fixar o conteúdo de direito fundamental. Além disso, a própria
tentativa de se fixar um conteúdo a esta categoria de direitos, esbarra-se no
formalismo justamente pelo vazio que caracteriza de fato os direitos fundamentais.
Preocupação que se torna maior quando o vazio ontológico serve de base para
ideologias distintas dos ideais democráticos, ou seja, regimes totalitários traçando
uma ideia do que para eles seja fundamental (MAIA, 2000).
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Para ilustrar um exemplo deste último caso, pode-se verificar que certas
práticas adotadas por policiais não são dotadas de validade, como no caso de uma
confissão obtida por meios não permitidos pelo Estado, como a tortura. Então,
observando-se o sistema jurídico de modo tradicional, não-garantista, verifica-se que
os graus de garantismo podem variar conforme o compasso (ou o descompasso) que
vai existir entre a normatividade e a efetividade do direito.
Logo, como o garantismo não pode ser medido apenas por um referencial,
Ferrajoli fala em graus de garantismo, pois ele seria maior se observássemos apenas
as normas estatais vigentes sobre os direitos sociais em um país como o Brasil.
Todavia, se o ponto de observação for o de sua aplicabilidade, o grau de garantismo
diminui. Percebe-se, então, que o grau de garantismo depende do ponto de partida
de observação do analisador.
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5. CONCLUSÃO
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penais buscando tornar reais mecanismos aptos a combater o crime de maneira
que este não venha a ser ainda mais financiado.
REFERÊNCIAS
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tempo – aspectos. In: ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello de (Org.). Sistema penal para o
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<http://www.artigonal.com/legislacao-artigos/a-politica-criminal-nos-dias-de-hoje-
437028.html >. Acesso em: 01 jun. 2020.
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: BUCCI, Maria Paula
Dallari (Org.). Políticas Públicas – reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva,
2006.
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Alegre: Livraria do advogado, 1999.
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LEIRIA, Cláudio da Silva. Os protetores dos criminosos. Jus Navigandi. n. 1244, 2006.
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MAIA, Alexandre da. O garantismo jurídico de Luigi Ferrajoli: notas preliminares. Revista de
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SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Bases críticas do direito criminal. Leme: Led, 2000.
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