Ação Popular
Ação Popular
A ação popular tem como maior objetivo proteger direitos difusos, coletivos, ou seja, não é
possível satisfazer apenas um dos detentores dos interesses, mas sim na necessidade de satisfação
do coletivo.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
A ação popular iniciou-se em Roma, onde, segundo Silva (2013, p.465), a origem das ações
populares foi aperfeiçoada na história do direito romano. O nome ação popular originasse do fato
que era delegado ao povo a legalidade para interceder, por qualquer de seus membros, a tutela
jurisdicional de interesse que não lhe pertence, mas sim à coletividade.
Segundo Almeida apud Fernandes, a ação popular tem uma origem remota no direito
romano e uma origem próxima nas Leis Comunais, na Bélgica, em 1937, na França, em 1837.
(2011, p. 327)
- Constituição de 1824:
“Art. 157”. Por suborno, peita peculato, e concussão haverá contra eles ação Popular, que poderá
ser intentada dentro de ano, e dia pelo próprio queixoso, ou por Qualquer do Povo, guardada a
ordem do Processo estabelecida na Lei.”
-Constituição de 1934:
(38) Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou “Anulação dos
atos lesivos do patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios.”
- Constituição de 1946:
“Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade,
nos termos seguintes:
(...)
§ 38 - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de
atos lesivos do patrimônio da União, dos Estados, dos Municípios das entidades autárquicas e das
sociedades de economia mista.”
- Constituição de 1967:
(...)
§ 31 - Qualquer cidadão será parte legítima para propor ação popular que vise a
(...)
§ 31. Qualquer cidadão será parte legítima para propor ação popular que vise a
- Constituição de 1988:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
Seguintes:
(...)
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a Anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à Moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural Ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da “Sucumbência;”
Salienta-se que a ação popular é regulamentada pela lei n ° 4.417 de 1965, modificada na
vigência da Constituição de 1946, podendo registrar antecipadamente não acarretou melhorias como
na Constituição de 1988.
CARACTERÍSTICAS:
A Ação Popular é dividida em preventiva, ocorrera quando for ajuizada antes da efetivação
dos efeitos ofensivos e repressiva quando o objetivo da ação é anular algum ato lesivo, conseguindo
então a reparação aos danos e para reorganizar o que é prejudicial ao patrimônio público.
É importante salientar que a Ação Popular pode ser acionada antes ou depois de te ocorrido
o dano, assegurando uma melhor eficiência para a proteção de todos os direitos aqui estudados.
Temos duas formas básicas para iniciar a proposta da ação popular, sendo elas:
b) Requisito objetivo: deverá ter algum prejuízo ou uma ameaça de prejuízo ao patrimônio
público, por ilegalidade ou imoralidade.
Podemos observar que o ato além de nocivo ao patrimônio público, deverá ser também ilegal.
Entretanto a própria Constituição menciona que o ato praticado necessitará de ofensa à moralidade
administrativa para que seja utilizado a ação popular. Como podemos ver a seguir:
LEGITIMIDADE
Ocorrera a comprovação do cidadão por intermédio do título de eleitor ou com por meio de
outro documento que comprova a realização das suas obrigações eleitorais.
O Ministério Público atuará como parte pública autônoma, tendo como atribuição, guarda
pela regularidade do decorre do processo e pela correta aplicabilidade da lei, podendo então opinar
pela procedência ou improcedência da ação.
Além disso, poderá operar como substituto e sucessor do autor, na possibilidade deste omitir
ou retirar a ação, caso considere de interesse público o seu prosseguimento, até o julgamento.
Ainda, será responsabilidade do Ministério Público promover a responsabilização dos réus, na esfera
civil ou criminal (se for o caso).
É importante salientar que, por ser uma ação constitucional, pode acorrer o autor propor em
qualquer localidade, tendo em vista que a condição de cidadão é nacional.
Para concluir, os indivíduos maiores de dezesseis anos e menores que dezoito anos já
possuem capacidade eleitoral ativa, ou seja, logo poderão ajuizar a ação popular.
Porém, ocorre uma grande divergência entre os doutrinadores acerca deste posicionamento, como
por exemplo, Rodolfo Camargo Mancuso, ele acredita que para definir a legitimidade passiva, temos
como base o artigo 1º e 6º da lei 4717/65, que nos ensina que a ação será proposta contra:
a) Pessoas jurídicas de direito público, cujo patrimônio se procura proteger, bem como suas
entidades autárquicas e qualquer outra pessoa jurídica que utilizem do dinheiro público;
b) Qualquer responsável pelos atos lesivos, podendo ser a autoridade diretamente responsável pelo
ato ou os administradores ou os demais funcionários;
A pessoa jurídica de direito privado ou pública, que é objeto de impugnação, poderá abster
de contestar ou será capaz de atuar ao lado do autor, desde que isso seja de interesse público,
conforme nos ensina o artigo 6º, parágrafo 3º da lei 4717/65
LEGITIMAÇÃO ATIVA
Somente o cidadão, seja o brasileiro nato ou naturalizado, inclusive aquele entre 16 e 18 anos, e
ainda, o português equiparado, no gozo de seus direitos políticos, possuem legitimação
constitucional para a propositura da ação popular. A comprovação da legitimidade será feita com a
juntada do título de eleitor (no caso de brasileiros) ou do certificado de equiparação imposto dos
direitos civis e políticos e título de eleitor (no caso do português equiparado).
LEGITIMAÇÃO PASSIVA
Os sujeitos passivos da ação popular são diversos, prevendo a Lei nº 4717/65, em seu Art. 6º, § 2º,
a obrigatoriedade da citação das pessoas jurídicas públicas, tanto da administração direta quanto da
indireta, inclusive das empresas públicas e das sociedades de economia mista ou privadas, em
nome das quais foi praticado o ato a ser anulado, e mais as autoridades funcionários ou
administradores que houverem autorizado aprovado ratificado ou praticado pessoalmente o ato ou
firmado o contrato impugnado, ou que, por omissos, tiverem dado oportunidade a lesão, como
também, os beneficiários diretos do mesmo ato ou contrato.
NAUREZA JURIDICA
Destaca-se na natureza jurídica dupla da ação popular, que se trata de um direito constitucional
político de participação e fiscalização direta da Administração Pública.
“Contudo ela se manifesta como uma garantia coletiva na medida em que o autor popular
invoca a atividade jurisdicional, por meio dela, na defesa da coisa pública, visando à tutela
de interesses coletivos, não de interesses pessoal. ” Silva (2005, p.466).
Com a ação popular sendo remédio constitucional e previsto na CF/88, onde o cidadão se
veste de autonomia:
Cidadão brasileiro que estiver em débito com os seus direitos políticos. Porém os
inalistáveis, os partidos políticos, as entidades de classe e qualquer pessoa jurídica não têm
qualidade para propor ação popular.
Ilegalidade ou ilegitimidade do ato impugnado, que nada mais é que a existência de uma
manifestação ilegal da Administração, que, poderá ser de natureza comissiva ou omissiva. O ato
atacado precisa ser ilegal, contrário ao Direito, infringente das normas legais específicas que
regulam sua prática, ou destoante dos princípios gerais que norteiam a atuação da Administração
Pública (moralidade, impessoalidade, publicidade etc.).
Por fim temos a lesividade do ato que é todo aquele que desfalca o erário da Administração,
que atinge a moralidade administrativa, o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural. Observe-
se que a ação popular também alcança aqueles atos que ferem a moralidade administrativa. Assim,
mesmo à míngua de lesão patrimonial, comprovada a ofensa à moralidade administrativa, teremos
motivo para a propositura da ação.
HIPÓTESE DE CABIMENTO
O cabimento para darmos início a ação popular é o conjunto de condições que, uma vez
preenchidas, permitirão o ajuizamento da demanda. O termo refere-se ao domínio de atuação desse
requerimento especial, à sua aceitação pelo Poder Judiciário, à sua justificativa.
Para Humberto Theodoro Jr., (2008, p. 535) “Da previsão constitucional, extraem-se três
requisitos para a admissibilidade da ação popular: a) a condição de cidadão brasileiro, por parte de
quem se disponha a aforá-la; b) a ilegalidade do ato a invalidar; e c) a lesividade do ato para o
patrimônio público”.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009, p. 787), acerca do tema, assevera: “É a ação civil pela
qual qualquer cidadão pode pleitear a invalidação de atos praticados pelo poder público ou
entidades de que participe, lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente, à moralidade
administrativa ou ao patrimônio histórico e cultural, bem como a condenação por perdas e danos dos
responsáveis pela lesão”.
Para Wesley Newcomb Hohfeld (1917, p. 710-770), “a ideia de direitos corresponde com a
de deveres”. Ou seja: em qualquer uma das suas manifestações, apenas haverá o autêntico direitos
quando houver deveres a eles correlatos. Aplicando esse entendimento, o direito político do cidadão
ao eleger corresponde a um dever de fiscalizar.
No entender de Rodolfo de Camargo Mancuso (2008, p. 84), a ação popular deve ser
tomada no seu sentido mais estrito, constitucional. Isto é, trata-se de um “instrumento processual
cujos contornos vêm marcados no art. 5º, LXIII, da CF, a que corresponde o regime processual –
procedimental da Lei nº 4.717/65, com as alterações trazidas pela legislação superveniente”. Com
base nos autores citados, no texto constitucional e na lei especial, pode-se conceituar ação popular
como a medida excepcional judicial destinada ao exercício da democracia participativa, na qual o
cidadão brasileiro, no uso de seus direitos civis e políticos, tenciona a anulação de atos ou contratos
administrativos ilegais ou lesivos ao p. 112 Revista da SJRJ, Rio de Janeiro, n. 27, p. 107-117, 2010
Direito Constitucional, Administrativo e Propriedade Industrial patrimônio público, à moralidade3
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, contra a administração pública
ou entidade na qual o Estado participe.
Portanto, entende-se que, para o cabimento da ação popular, devem estar presentes as
condições exigidas para o manejo desse importante remédio constitucional, como a qualidade de
cidadania e a junção de ilegalidade e/ou lesividade do ato administrativo perante o patrimônio
público. Vamos, a seguir, definir cada um desses requisitos.
A Ação Popular permite em seu polo ativo como regra a participação de qualquer cidadão
brasileiro e elenca no polo passivo a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as
entidades autárquicas, as sociedades de economia mista, as sociedades mútuas nas quais a
União represente os segurados ausentes, as empresas públicas, as de serviços sociais
autônomos, as instituições ou fundações, conforme o artigo 1º, caput, da Lei 4.717/65.
O ART 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal estabelece que “qualquer cidadão é parte legítima
para propor ação popular e impugnar, ainda que separadamente, ato lesivo ao patrimônio material,
moral, cultural ou histórico do Estado ou de entidade de que ele participe.”
COMPETÊNCIA
Pela origem do ato a ser anulado que é definida a competência para processar e julgar a ação
popular.
CUSTAS PROCESSUAIS
Na ação popular quando comprovado a má-fé o autor ficará inseto das custas judiciarias e do ônus
da sucumbência, como consta na nossa constituição art. 5°, LXXIII.
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência;
A isenção constitucional em favor do autor quando a pretensão popular for julgada improcedente,
não pode ser confundida com a obrigação do arguido de remunerar se a pretensão for procedente.
Aparentemente, a indenização constitucional beneficia o autor da ação coletiva se julgada
improcedente e desde que não aja de má-fé na propositura da ação coletiva. Foi um meio
encontrado pelo legislador constituinte para estimular o controle popular sobre a gestão dos bens
públicos, instituindo a livre ação (não há pagamento de taxas e custas nos julgamentos) e isenção
do ônus de sucumbir, no caso dessa ação popular.
Diante dos réus obviamente, não é necessário falar em isenção do ônus de sucumbir: se a ação
coletiva for considerada procedente, eles serão sentenciados a reembolsar as despesas incorridas
pelo autor bem como as despesas.
FUNDAMENTOS JURIDICOS
A ação popular está fundamentada na lei (Lei nº 4.717, de 1965) tendo como foco regula a previsão
constitucional de ações que podem ser iniciadas por pessoas do povo, com objetivo de anular algum
ato da administração pública que tenha causado danos aos cofres do governo ou a patrimônio
público, seja na esfera Federal, Estadual ou Municipal.
O procedimento da ação popular segue o rito ordinário, com algumas modificações, como
informaremos a seguir.
- Logo após, ordenará a citação pessoal dos que praticaram o ato e a citação edital r nominal dos
beneficiários, se o autor assim requerer.
- E por fim decidirá sobre a suspenção liminar do ato impugnado, se for pedida;
Uma vez citada, a pessoa jurídica interessada na demanda poderá contestar, abster-se de contestar
ou encampar expressamente o pedido da inicial.
Tendo como prazo para contestação de 20 (vinte) dias, prorrogável por mais vinte, a requerimento
dos interessados, se difícil a obtenção da prova documental.
A Lei admite expressamente a concessão de liminares em ação popular, tendo como objetivo à
imediata sustação do ato impugnado até que o mérito da causa seja considerado.
A liminar concedida na ação popular proposta contra o Poder Público poderá ser cassada
(suspensa) pelo Presidente do Tribunal competente para o conhecimento do respectivo recurso,
mediante despacho fundamentado, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de
direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e
para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública.
O Presidente do Tribunal, tem cinco dias para ouvir previamente o autor e o Ministério Público
quando da apreciação do pedido de cassação de liminar.
SENTENÇA
Porém, a sentença pode ter, subsidiariamente, efeito condenatório, o que tem levado parte da
doutrina a denominá-la de desconstitutiva-condenatória (Alexandre de Moraes).
c) condenará os réus ao pagamento das custas e despesas com a ação, bem como dos honorários
do advogado do autor da ação; Como se vê, a sentença cuida de três aspectos distintos, a saber:
2º) dos responsáveis pela prática do ato (réus), responsabilizando-os pela reparação do dano;
3º) dos beneficiários do ato (co-réus), também solidariamente responsáveis pela reparação do dano.
Somente ficará para ser apurada em ação específica (ação regressiva) a responsabilidade dos
eventuais servidores envolvidos, que não tiverem integrado a ação popular, pois a apuração dessa
responsabilidade depende da comprovação de culpa ou dolo, nos estritos termos do art. 37, § 6º, da
Carta da República.
Com a invalidação do ato impugnado, a condenação abrangerá as indenizações devidas, as custas
e despesas com a ação realizadas pelo autor, bem assim os honorários de seu advogado (ônus de
sucumbência.
Assim, se ao final da ação popular restar comprovada alguma violação de norma penal ou
disciplinar, a que a lei comine pena nessas esferas, o juiz determinará, de ofício, a remessa de
peças processuais ao Ministério Público, para a instauração da persecução penal devida, e à
autoridade a quem competir a aplicação da punição, se for o caso de penalidade administrativa
(pena de demissão de servidor, por exemplo).
RECURSOS
As sentenças proferidas em ação popular são passíveis de recurso de ofício e apelação voluntária,
com efeito suspensivo.
O recurso de ofício só será interposto quando a sentença concluir pela improcedência ou pela
carência da ação. Como se vê, a hipótese é diametralmente contrária ao que ocorre no mandado de
segurança, em que o recurso de ofício só é interposto quando a segurança é concedida.
Enfim no mandado de segurança, temos o duplo grau de jurisdição obrigatório quando a ação é
julgada procedente (sentenças concessivas da segurança);
Conforme ensina o Prof. Hely Lopes Meirelles, “O recurso de ofício só será interposto quando a
sentença concluir pela improcedência ou pela carência da ação. Inverteu-se, assim, a tradicional
orientação desse recurso (que nas outras ações é interposto quando julgadas procedentes), para a
melhor preservação do interesse público, visto que a rejeição da ação popular é que poderá
prejudicar o patrimônio da coletividade, lesado pelo ato impugnado”.
O recurso de ofício é manifestado por meio de simples declaração do juiz na conclusão da sentença
(geralmente com os seguintes dizeres: “sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição”).
Entretanto, caso o juiz prolator da sentença se omita, deverá o Tribunal avocar o processo,
considerando o recurso interposto, e reapreciar o mérito do julgamento inferior que deu pela
improcedência ou pela carência da ação popular.
APELAÇÃO
A apelação voluntária é cabível tanto da sentença que julgar procedente ou improcedente a ação,
quanto da que decidir pela sua carência. A apelação em ação popular tem sempre efeito suspensivo
e seguirá o trâmite comum, previsto no Código de Processo Civil (CPC).
Nesse ponto, o processo da ação popular também se distingue do de mandado de segurança pois
neste a apelação possui efeito meramente devolutivo, na ação popular a apelação é dotada de efeito
suspensivo.
OUTROS RECURSOS
COISA JULGADA
Nem toda sentença definitiva proferida em ação popular produz coisa julgada. Há necessidade de se
averiguar se houve ou não exame do mérito da ação, conforme expendido a seguir.
c) a sentença julga improcedente a ação, por deficiência de provas (sem exame do mérito).
Nos dois primeiros casos, em que a sentença decide sobre o mérito, há efeito da coisa julgada,
oponível erga omnes. Se há coisa julgada, significa dizer que não poder ser admitido outro processo
com o mesmo fundamento e assunto, mesmo que tenha sido proposto por outro cidadão. Se
proposto, poderá o réu alegar coisa julgada, para o não conhecimento da nova ação popular.
No entanto, no terceiro caso, como a sentença não examinou o mérito da ação, não há que se falar
em coisa julgada e, podendo, portanto, ser proposta nova ação com os mesmos fundamentos, caso
sejam apresentadas novas provas.
AÇÃO POPULAR PROPOSTA POR PESSOA FÍSICA PARA ANULAR CLÁUSULAS DE ACORDO
COLETIVO DE TRABALHO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. EXTINÇÃO DO PROCESSO.
Consoante inteligência dos arts. 5º, LXXII, da CF e 1º da Lei 4.717/65, são hipóteses de cabimento
da ação popular: 1) a anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe; 2) a anulação de ato lesivo à moralidade administrativa; e 3) a anulação de ato lesivo ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Observe-se que o art. 1º, caput, da Lei
4.717/65, exige como fundamento para a propositura da ação popular a ocorrência de lesividade
ao patrimônio público; e o parágrafo 1º do mesmo artigo define patrimônio público como "os bens e
direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico". Denota-se, assim, que não
cabe ação popular para questionar cláusula de acordo coletivo ou para combater direito individual
e social de natureza trabalhista criado por instrumento normativo autônomo. A ação popular é
cabível apenas para combater atos lesivos ao patrimônio das entidades estatais especificadas no
art. 1º da Lei 4.717/65, nele encartados os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético,
histórico ou turístico. Ou seja, o objeto mediato da ação popular é sempre o patrimônio das
entidades públicas, não se confundindo com o patrimônio público genericamente considerado, no
qual se incluem os interesses coletivos e individuais homogêneos de caráter trabalhista. Portanto,
conclui-se que norma coletiva autônoma que estabelece condição laboral, ainda que induza uma
possível violação de direito individual e social trabalhista, não pode ser combatida pela ação
popular, que não é ferramenta hábil a tutelar qualquer espécie de direito material coletivo, pois tem
um objeto restrito e legalmente previsto. Os interesses supostamente violados pelas cláusulas
negociadas podem ser questionados e eventualmente revertidos por outros instrumentos jurídicos;
porém não por meio de ação popular. Em face do exposto, e reconhecendo, de ofício, a
inadequação da via jurídica utilizada, extingue-se o processo, sem resolução do mérito, com fulcro
no art. 267, IV, combinado com o art. 295, V, do CPC .