The Unsustainable Weight of Self-Image: (Re) Presentations in The Spectacle Society
The Unsustainable Weight of Self-Image: (Re) Presentations in The Spectacle Society
The Unsustainable Weight of Self-Image: (Re) Presentations in The Spectacle Society
08782021 2663
artigo article
(re)apresentações na sociedade do espetáculo
Abstract This study aimed to identify adoles- Resumo Este estudo teve por objetivo identificar a
cent self-image in the face of a society forged by autoimagem apresentada pelos adolescentes, fren-
perfect image-body standards, understanding the te à uma sociedade tecida pela exigência de ima-
influence of social relationships and the media in gem e padrões corporais considerados perfeitos,
constructing their identities. This is qualitative compreendendo a influência das relações sociais e
research based on Oral History involving 13 male da mídia na construção de suas identidades. Tra-
and female and adolescents aged 15-19, students ta-se de uma pesquisa qualitativa, alicerçada na
from a public school in Minas Gerais. We em- História Oral, envolvendo 13 adolescentes de 15
ployed interviews with a semi-structured road- a 19 anos, dos sexos feminino e masculino, alunos
map to collect data, which were later interpreted de uma escola pública de Minas Gerais. Utilizou-
by thematic content analysis proposed by Bardin. se de entrevistas com roteiro semiestruturado para
The findings were arranged into two categories: 1 a coleta dos dados, que posteriormente foram in-
- Self-image in the construction of the adolescent’s terpretados por análise temática de conteúdo, pro-
identity and 2 - The aesthetic ideal of the specta- posta por Bardin. Os achados foram dispostos em
cle society. The reports show a strong influence of duas categorias: 1 - A imagem de si no processo de
technology in forming their identities and possib- construção da identidade do adolescente e 2 - O
le consequences that the search for a spectacular ideal estético da sociedade do espetáculo. Os rela-
image to meet the aesthetic standards of the vir- tos demonstram a forte influência das tecnologias
tual or real world can bring to adolescents. This na formação de suas identidades e possíveis conse-
idealized self-image reveals the new way of being quências que a busca de uma imagem espetacular
and living, the values, and the fragile and superfi- para atender aos padrões estéticos do mundo vir-
cial relationships in the spectacle society. tual ou real podem trazer aos adolescentes. Esta
Key words Adolescent, Self-image, Body image, autoimagem idealizada revela o modo de ser e
Social identification, Beauty culture viver da contemporaneidade, os valores, a fragili-
dade e a superficialidade das relações estabelecidas
na sociedade do espetáculo.
1
Universidade Federal de Palavras-chave Adolescente, Autoimagem, Ima-
São João Del-Rei. Praça
Frei Orlando 170, Centro. gem corporal, Identificação social, Cultura à be-
36307-352 São João del-Rei leza
MG Brasil.
michelle_rodrigues7@
hotmail.com
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Oliveira MR, Machado JSA
ção do material e tratamento dos resultados. A cem importante papel na construção da identi-
utilização desta técnica se justifica devido à for- dade do sujeito10. É importante salientar que o
ma com que trata as informações coletadas, além uso indiscriminado das tecnologias pode trazer
de favorecer a análise do contexto das mensagens consequências negativas como problemas rela-
e caracterizar sua influência social, o que vem ao cionais e ou psicológicos21.
encontro dos objetivos do estudo. A análise com- Considerando a relação do adolescente hoje
preendeu: a organização e transcrição das narra- com a tecnologia e a mídia, a imagem é, portanto,
tivas na íntegra; a leitura vertical, que compreen- um ponto importante neste contexto. Questiona-
de a leitura estafante de cada narrativa individual dos sobre a importância da imagem no mundo
para captação das idéias centrais; e as leituras atual, eles afirmaram que ela é bastante valoriza-
horizontais para determinar discursos que se as- da pela sociedade:
semelham, a fim de organizá-los em grupos que [...] tem muitas pessoas que, tipo, um carinha,
deram origem às categorias e subcategorias. ele vai ligar mais pra beleza agora do que pro cará-
O estudo foi aprovado pelo CEPES-UFSJ, em ter, eu acho isso muito errado, não só ele, também
consonância com a Resolução 466/2012/CNS. muitas meninas fazem isso [...] eu acho estranho
porque ninguém vai ter a beleza pra sempre, então
não sei porque... - A 5 (F, 17).
Resultados e discussão Infelizmente é. Vamos supor, se você só vai ser
levado a sério, perante a sociedade, se você tiver
A imagem de si no processo de construção bem arrumado, se você tiver bonito, essas coisas...
da identidade do adolescente O que é uma coisa muito ruim, porque tipo assim,
a gente tem que avaliar o que a pessoa tem pra fa-
Na contemporaneidade, a imagem ganha lar, o conteúdo, não essa parte externa, sabe? E tipo,
novos contornos e exige dos sujeitos uma outra eu acho erradíssimo, tanto no meio do... mercado
forma de se apresentar. Neste contexto, em sua de trabalho é assim, entende? No meio social, pra
travessia para o mundo adulto, o adolescente, você fazer amigos, no meio de relacionamentos, en-
considerado “nativo digital” por ter nascido num tende? E a sociedade cobra muito isso de você. - A
mundo de novas tecnologias e mídias digitais21, 6 (M, 16).
manifesta esta influência em seu comportamen- Sim, na sociedade sim. Cobra muito né? Mas
to e características, como se vê na definição de si eu acho que isso é errado do mesmo jeito. - A 10
mesmos, fortemente associada a elementos ele- (F, 15).
trônicos, direta ou indiretamente: Em relação à imagem no mundo contempo-
Não tem uma coisa fixa tipo... eu gosto... que râneo, os resultados se assemelham a outro estu-
tem gente que... tipo eu gosto de praticar esporte do8 onde as narrativas apontam uma obrigatorie-
tal, eu não gosto tipo de fazer nada, só ficar no tele- dade do sujeito em atender aos padrões impostos
fone mesmo sabe? - A 4 (F, 16). para que possa ser inserido em determinados es-
[...]eu gosto de ver bastante televisão, de dan- paços. O fato de não seguir os padrões preconiza-
çar, ouvir música... sou uma menina bem amiga, dos interfere nas relações com os outros e reflete
o que precisar pode contar comigo. - A 11 (F, 17). de forma significativa no olhar sobre si, gerando
Sobre mim... Eu levo menino na escola, che- por vezes, desconforto e insatisfação com o pró-
go, arrumo lá em casa, depois eu vou ver série, aí prio reflexo no espelho.
quando acaba a série eu vou ver novela, depois da Ao falar sobre sua percepção ou sentimento
novela eu vejo mais um pouco de série, aí depois é frente ao espelho, alguns adolescentes trouxeram
outra novela. - A 13 (F, 18). a problemática no seu relato, mencionando sen-
Os relatos apontam que os adolescentes são timentos negativos:
extremamente ligados à tecnologia e ao falar de [...] uma frase que me define quando eu me
si mesmos, tem dificuldade de separar suas ca- vejo no espelho é tipo assim... DE NOVO... só isso,
racterísticas pessoais dos seus hábitos, interesses tipo, quando eu olho assim, eu só escuto uma frase:
ou desejos. De novo. Mas eu não sei... falar o que eu... tipo, de
Com a ascensão da internet e dos meios vir- novo você, de novo você vai passar pelas mesmas
tuais, a comunicação tem sido cada vez mais coisas, de novo você vai viver as mesmas coisas, e
rápida, associada à capacidade de realização de tal... ah ... e... você vai ver as mesmas pessoas. Você
multitarefas em poucos ‘cliques’, fatores atrativos vai passar pelas mesmas coisas, as mesmas piadi-
para o público adolescente, caracterizado pelo nhas de sempre você vai escutar... as pessoas vão te
imediatismo e impaciência. Tais influências exer- julgar sem te conhecer... isso. - A 4 (F, 16).
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futuro com tendência a evitar atitudes que abre- imagem que os adolescentes têm de si mesmos
viem a concretização do amadurecimento, con- em relação aos padrões estéticos ideais difere, as-
sequentemente, da fase adulta10. O que justifica a sim como difere a relação que estabelecem entre
ausência, quase unânime, de relatos que abordem os padrões de beleza e avaliação da autoimagem:
planos futuros ou projetos de vida. [...] nem cheguei nem perto nem na portinha,
Observa-se que a tecnologia e os meios virtu- mas né. Assim, já me incomodou mais, mais sabe
ais têm exercido influências nos vínculos sociais, a ponto de sei lá... eu pensar assim que que eu vou
no fortalecimento ou não das relações interpes- fazer? Porque eu tô presa numa casca que tipo por-
soais e na percepção do indivíduo nas questões que né? A pessoa você tem por dentro fica presa na
que envolvem a autoimagem, o que nos instiga pessoa você tem que por fora quando você não se
a uma reflexão sobre a influência das relações encaixa, aí você fica tipo como é que eu vou fazer?
sociais e da mídia na construção do sujeito ado- - A 4 (F,16).
lescente. Eu reconheço meu lugar de fala, eu sei que estou
dentro dos padrões porque eu sou alto, sou loiro, en-
O ideal estético da sociedade do espetáculo tende? Mas, ao meu ponto de vista, tem muitas coi-
sas que eu não gosto em mim. Que muitas pessoas
Dentro dos padrões de beleza impostos pela falam tipo “nossa mas porque você não gosta disso,
sociedade, os adolescentes pontuaram o corpo você tá tão bonito, tá tão dentro do padrão” sabe?
magro ou musculoso, cabelo grande e/ou liso, Mas eu me vejo e não gosto, entende? - A 6 (M, 16).
ser branco, ter olhos claros. Ainda que esse artigo Ahh, eu me acho bonita. Eu não importo muito
não tenha pretendido fazer uma análise acerca da assim não. - A 11 (F, 17).
racialização da beleza na sociedade do espetácu- O adolescente busca atender às expectativas
lo, tampouco foram aprofundadas estas questões do grupo à qual pertence, incluindo os padrões
com os participantes, não se pode deixar de men- de beleza e quando não há satisfação com a pró-
cionar a relevância dessas discussões em relação pria imagem, tende a recorrer à procedimentos
à valorização de certos traços racializados e as estéticos “milagrosos” que podem comprometer
tentativas de apagamento de outros considerados sua saúde9. Os relatos demostram que a insatisfa-
desvalorizados26: ção corporal está ligada à comparação do corpo
Uai, um corpo perfeito, sem tipo... um corpo es- real com o dito ideal e mesmo quando o sujeito
tilo Barbie, é... um nariz fininho, um cabelo longo, está dentro do padrão esperado, ainda lhe falta
liso, nem precisa ser liso, um cabelo longo sabe? Ah algo.
e precisa ser uma pessoa extrovertida também né? A exigência social em relação a imagem é cor-
precisa conversar com todo mundo. - A 4 (F, 16). relacionada pelos adolescentes com os padrões
Em contrapartida, um adolescente relatou estéticos da contemporaneidade, onde a adequa-
sobre os padrões impostos sobre a raça negra: ção é imperativa:
Agora ficou na moda ser negro sabe?... e ago- Então... o mundo cobra que a gente seja do pa-
ra se você é negro, você tem que ser forte, alto, en- drão deles né? Com o corpo assim... sarado, no caso
tendeu?... sorriso branco... e quando não tem isso, do homem. corpo sarado, forte, entendeu? - A 2 (M,
quando é baixinho... essas coisas... é favelado, é 17).
sujo... entendeu? - A 2 (M, 17). Assim, como eu sou adolescente, cobram mui-
Reafirmando o poder das mídias sociais na to né? Porque adolescência, acho que é a fase que
ditadura da beleza, sua influência aparece na dis- as pessoas mais querem aparecer, sei lá... Aparecer
torção da autoimagem corporal que o adolescen- para o mundo mais bonito, entendeu? Acho que
te tem de si: sim. Super. - A 6 (M, 16).
[...] o mundo depois que começou esse trem de Os relatos apresentados se assemelham ao es-
internet, blogueirinhas, essas coisas, acabou muito. tudo8 no qual observou-se uma obrigatoriedade
Porque todo mundo ligou muito, tipo pra aparên- dos adolescentes se adequarem às necessidades
cia sabe? ‘Aí eu tenho que ficar igual àquela fulana do meio em que vivem e convivem para que se-
de tal ali porque fulana de tal é bonita e porque jam socialmente aceitos.
fulana de tal usa aquela roupa. - A 9 (F, 18). Espera-se que o adolescente não fuja às nor-
Os relatos condizem com o estudo27 que afir- mas e se ajuste ao padrão, desconsiderando sua
ma que a sociedade ditava regras sobre concei- singularidade. Somado a esta imagem existe ain-
tos de padrões ideais, desde os séculos passados, da uma pressão familiar que fez questionamentos
numa busca incessante pelo fantasioso corpo a quem esse adolescente é e como seu corpo se
perfeito, rotulando os que fugiam à norma. A apresenta em um momento de transformação:
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