Análise Semiótica Da Luminária
Análise Semiótica Da Luminária
Análise Semiótica Da Luminária
DGM 2
Design e Semiótica - Trabalho Final
Semioticamente, essa luminária pode ser analisada enquanto ato projetual, processo esse
onde os signos são centrais, afinal, eles são o modo de representar o mundo no qual vivemos. Em
outras palavras, projetar é fazer design, e fazer design é linguagem, pois “onde houver algum tipo de
ordem, codificação, transmissão de informação, processo de comunicação, aí haverá linguagem”
(SANTAELLA, 1996).
É por isso que podemos dizer que todo produto de design segue uma lógica semiótica: os
projetamos para satisfazer uma necessidade particular, mas acabamos por projetar nós mesmos a
partir deles, nossos conhecimentos, nossos gostos e nossa relação com o mundo. Assim, todo
artefato é potencialmente produtor e transmissor de modelos mentais e comportamentais.
Por isso, uma semiótica do projeto deveria, antes de qualquer coisa, se perguntar como
podemos projetar o sentido das nossas coisas e indagar sobre o efeito que ele produz. Analisar
semioticamente a luminária seria, portanto, pensar em um dos principais conceitos de Charles S.
Peirce, a semiose. Ela consiste na produção de sentido na qual um signo, por meio da sua relação
com o objeto que representa, produz um interpretante. Logo, é o que nos permite buscar esse
sentido do artefato e seus efeitos no usuário, o que devemos fazer pensando nos materiais, no
processo, no contexto de produção e consumo, nas ações que o mesmo cumpre e nas sensações
que produz em cada uma de suas situações de uso.
Isso seria basicamente interpretar a luminária considerando seu design como baseado nos
três pilares que vimos em uma das aulas do professor Caixeta: forma, significado e função. Eles
encontram correspondência direta na tríade das categorias fenomenológicas de Peirce:
primeiridade, secundidade e terceiridade. Segundo ele, elas podem ser usadas para categorizar
todo e qualquer fenômeno, ou seja, tudo que aparece para a mente. No entanto, mesmo que um
fenômeno seja sempre mais um que outro (mais primeiro, mais segundo ou mais terceiro), ele pode
ser sempre experienciado nos três níveis, pois há uma interdependência entre essas categorias.
Para além da fenomenologia, podemos fazer uma última associação entre a luminária e a
semiótica de Peirce, sendo ela baseada em dois conceitos muito relevantes para a teoria dele: a
dúvida e a crença. Para Peirce, a dúvida é um estado geral de busca e de incerteza; a crença é, ao
contrário, o estado no qual o pensamento encontra “repouso”, contentamento e complacência após
atingir determinado objetivo (ZINGALE, 2016). Nesse sentido, é fácil perceber que isso encontra certa
correspondência no design, afinal, um projeto nada mais é do que esse mesmo processo semiótico
de inquietação com um problema e busca por uma solução satisfatória.
Logo, tem-se também que a própria metodologia do trabalho da luminária tem relação com os
métodos de fixação da crença de Peirce. De modo sucinto, em seu ensaio “The Fixation of Belief”,
de 1877, ele defende que todos os modos de determinar uma crença são incorretos, exceto um. O
único método a ser considerado válido é, para Peirce, o científico. Porque é o único que procede por
inferência, por progressiva interpretação de signo para signo, por hipóteses e, em seguida, por
experimentação e verificação (ZINGALE, 2016). Em outras palavras, para ele, artefatos não devem
ser produzidos pensando que a qualidade de um projeto está no gosto pessoal, na tradição, no seguir
regras consolidadas e jamais discutir, mas sim que é necessário pesquisar, elaborar diferentes
soluções para o problema proposto, contornar obstáculos, se dispor a receber críticas, experimentar e
verificar se o resultado final atende ao que foi pedido, bem como se produz no intérprete um
interpretante desejado. Como já foi dito, isso foi exatamente o que o Caixeta queria que fizéssemos e
o maior aprendizado proporcionado por esse trabalho.
A partir dessa análise semiótica da luminária, pode-se compreender então que a semiótica
tem papel fundamental não só no âmbito teórico do design, como também no ato projetual. Os
semióticos podem, para além de interpretar o mundo dos signos, ajudar a transformá-lo, projetá-lo e
investigá-lo para melhor compreender o sentido da produção de bens, das relações sociais mediadas
por artefatos e dos modos pelos quais as comunidades humanas tomam forma. (ZINGALE, 2016).