Acórdão STJ - Direito Adquirido
Acórdão STJ - Direito Adquirido
Acórdão STJ - Direito Adquirido
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA
do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Benedito Gonçalves (Presidente) e
Hamilton Carvalhido votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Denise Arruda.
Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2010(Data do Julgamento)
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.140.680 - RS (2009/0175443-3)
RELATÓRIO
O recurso especial foi inadmitido no Tribunal a quo (fl. 340/341), subindo a esta
Corte por força de provimento a Agravo de Instrumento (fls. 343/344).
É o Relatório
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 4 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.140.680 - RS (2009/0175443-3)
EMENTA
VOTO
EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator): Preliminarmente, conheço do
recurso especial pela alínea "a", do permissivo constitucional, uma vez que a matéria federal tida
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 5 de 4
Superior Tribunal de Justiça
por violada sobejou efetivamente prequestionada.
O art. 6º, caput e § 2º, Decreto-lei nº 4.657/42, dispõe sobre o tema, litteris:
Por sua vez, os ditos direitos de exercibilidade futura são os que restam
suscetíveis à ocorrência de circunstância futura ou incerta para seu ingresso no patrimônio
jurídico do titular, porquanto direito em formação, que não se encontra a salvo de norma futura.
Por sua vez, Pontes de Miranda, em seu Tratado de Direito Privado, leciona que:
"Os direitos nascem instantaneamente, ou não. No
primeiro caso, todo o fato, ou todos os fatos, de que depende a
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 6 de 4
Superior Tribunal de Justiça
aquisição dos direitos, se produzem de uma só vez, como em jato,
que toma o seu lugar no mundo dos direitos; quer dizer: no
sistema jurídico ou ordem jurídica, de que se trata. No segundo
caso, há fatos diferentes, ou reiterados, que vêm uns após
outros, ou um após outro; de modo que cada um deles,
acontecendo, é passo para a aquisição do direito, porém não
ainda a aquisição. Há momentos em que muito falta; e momento
em que quase nada falta. Estão os futuros titulares em
expectativa. Mas erraríamos se tratássemos como sendo no
mesmo plano todas as expectativas. Há direitos in fieri a que
apenas falta a quem o vai adquirir o exercício de algum direito,
ou pretensão; e direitos in fieri, que somente surgirão se algo
acontecer, ou outrem praticar algum ato. Naturalmente, todos os
direitos ainda não adquiridos, ainda não formados, não existem.
Porém há diferença de probabilidade de virem a existir e, a juízo
do titular futuro, são bem próximos de existência, de surgimento,
aqueles cuja formação só depende de ato seu. Algumas vezes,
esse critério, subjetivo, não corresponde aos fatos.
Os direitos em formação, portanto as expectativas (os
ainda não-direitos), podem ser reais ou pessoais, o que permite
falar-se de expectativas reais e de expectativas pessoais. Não só.
Algumas expectativas são de aquisição originária; outras, de
aquisição derivada.
2. O termo "expectativa". O termo expectativa é,
conforme vimos, equivoco. Nem lhe tira a equivocidade o
distinguirem-se expectativa e mera expectativa, como alguns
juristas fazem. Nem toda expectativa significa que alguém, - que
expecta, que espera, que tem por si algum fato que justifica
aguardar-se a aquisição de certo direito, - já tem direito
expectativo ou pretensão expectativa. Às vezes, expecta-se, e
tem-se direito expectativo, ou pretensão expectativa; outras
vezes, expecta-se, e não se tem esse direito, ou essa pretensão.
Há grau de intensidade em que a quem expecta já surgiu, já
nasceu, direito ou pretensão a adquirir o objeto da expectativa.
É o que ocorre sempre que essa aquisição só depende do
exercício de certo ato (leia-se, portanto: do exercício de algum
direito, ou pretensão, ou ação)." (In "Tratado de Direito
Privado", Editora BookSeller, Tomo 5, páginas 326/328)
Em face desta diferenciação entre direito adquirido e mera expectativa de direito
assenta Paulo Nader, verbis:
"45.3. Direito adquirido. Pode-se dizer que
adquirido é o direito que integra o patrimônio jurídico de uma
pessoa pelo preenchimento de todos os requisitos previstos na
ordem jurídica. Se uma determinada lei prevê o direito à
aposentadoria por idade aos 65 anos, o implemento deste limite
mínimo gera o direito adquirido, intangível por lei superveniente
que eleve a idade. Não há que se confundir direito adquirido
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 7 de 4
Superior Tribunal de Justiça
com exercício de direito. Se o empregado requereu e obteve o
beneficio, exercitou o seu direito. Se resolveu permanecer em
atividade, optando por não exercitá-Io, o direito permanece
íntegro desde quando preenchidos os requisitos legais. O
exercício, portanto, não é requisito, mas faculdade do portador
do direito.
A Lei de Introdução, pelo art. 6°, § 2°, ao definir os
direitos adquiridos indica como núcleo conceptual o poder de
exercício atual ou futuro. Pode haver direito subjetivo,
entretanto, sem poder de exercício imediato, conforme prevê o
dispositivo. O legislador houve por bem exemplificar dois casos
desta espécie: a existência de termo prefixado e "condição
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem". Em ambos
casos o direito adquirido existe, enquanto o seu poder de
exercício permanece suspenso. Neste mesmo sentido é o disposto
no art. 131 do Código Civil, que prevê a suspensão apenas do
exercício pelo termo inicial, não a aquisição do direito. O Direito
brasileiro, tanto pelo texto constitucional quanto pela legislação
ordinária, resguarda o direito adquirido em face de lei nova. O
direito poderá ser exercitado pelo seu titular no momento que lhe
for oportuno.
Direito adquirido não se confunde com expectativa
de direito. Aquele é situação jurídica resguardada pela ordem
jurídica, enquanto esta outra figura revela apenas probabilidade
de aquisição de direito. Expectativa éapenas o direito em
potência, pois depende de algum acontecimento futuro e incerto.
É a situação jurídica de alguém que, mantidas as condições
existentes, poderá adquirir um direito, como no caso de herança.
Orlando Gomes distingue expectativa de direito de expectativa
de fato. A primeira é protegida por lei, como no caso de herdeiro
necessário, que não pode ser preterido pelo autor da herança,
mediante testamento de todos os bens. Já os herdeiros não
necessários desfrutam apenas da chamada expectativa de fato,
não amparada por lei. O autor da herança, por exemplo, poderá
preteri-lo inteiramente em testamento." (In, "Curso de Direito
Civil - Parte Geral Vol. 1 - 4ª Edição - Editora Forense - páginas
153/154) (grifou-se)
A hodierna jurisprudência desta Corte está assentada no sentido de que os
diplomas expedidos por entidades de ensino estrangeiras, sob a égide do Decreto 3.007/99, que
revogou o Decreto Presidencial 80.419/77, exigindo prévio processo de revalidação, à luz da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (art. 48, § 2º, da Lei 9.394/96), são insuscetíveis de
revalidação automática, uma vez que o registro de diplomas subsume-se ao regime jurídico
vigente à data da sua expedição e não à data do início do curso a que se referem.
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 8 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Sob esse enfoque confiram-se, à guisa de exemplo, recentes julgados desta Corte:
"ADMINISTRATIVO – AGRAVO REGIMENTAL EM
AGRAVO DE INSTRUMENTO – REGISTRO DE DIPLOMA DE
CURSO SUPERIOR OBTIDO NO EXTERIOR – REVALIDAÇÃO.
1. A jurisprudência desta Corte pacificou-se no sentido de
que inexiste direito adquirido à revalidação automática de diploma
expedido por universidade estrangeira quando a diplomação ocorreu na
vigência do Decreto 3.007/99, que passou a exigir prévio processo de
revalidação, segundo o regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação - Lei 9.394/96 (art. 48, § 2º).
2. Agravo regimental não provido." (AgRg no Ag
976.661/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 22/04/2008, DJ de 09/05/2008)
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 10 de 4
Superior Tribunal de Justiça
(...)
2. O direito adquirido conforme cediço configura-se no
ordenamento jurídico pátrio quando incorporado definitivamente ao
patrimônio do seu titular.
3. Sobrevindo novel legislação, o direito adquirido restará
caracterizado acaso a situação jurídica já esteja definitivamente
constituída na vigência da norma anterior, não podendo ser obstado o
exercício do direito pelo seu titular, que poderá, inclusive, recorrer à
via judicial.
4. In casu, inocorreu a constituição definitiva da situação
jurídica ensejadora do pretenso direito adquirido do recorrido pelo fato
de ter iniciado o curso de medicina no Equador quando a lei brasileira
não exigia a revalidação do diploma obtido no exterior, sendo certo
que alteração da legislação ocorreu antes da conclusão, momento em
que lhe seria permitido o exercício do direito à automática
revalidação. Precedentes: REsp 849437/RO DJ 23.10.2006; RMS nº
16.268/GO, DJ de 19/06/2006 e RMS nº 13.412/PR, DJ de 12/06/2006.
(...)
8. Recurso Especial provido." (REsp 762.707/RS, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/08/2007,
DJ 20/09/2007 p. 225)
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 11 de 4
Superior Tribunal de Justiça
880051/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 06/03/2007, DJ 29/03/2007 p. 236)
É como voto.
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 12 de 4
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. CÉLIA REGINA SOUZA DELGADO
Secretária
Bela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LEONARDO LEITE ALVES
ADVOGADO : MILTON ALMEIDA PIVA E OUTRO(S)
RECORRIDO : UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
PROCURADOR : ERNESTO CROS VALDEZ JUNIOR E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Benedito Gonçalves (Presidente) e Hamilton
Carvalhido votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Denise Arruda.
Documento: 939969 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/02/2010 Página 13 de 4