Genero e Sexualidade 100519 PDF
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de gênero. Vamos evidenciar que não se trata de ressaltar a diferença entre o homem e
a mulher, tampouco de tentar alçar a mulher em uma posição de superioridade, mas de
ESTUDANDO E REFLETINDO
nascem, mas, sim, como se fazem com diferentes poderes, diferentes comportamentos
e diferentes sentimentos.
Vale dizer que, embora os estudos de gênero foquem a mulher como objeto
de estudo, de um ponto de vista mais abrangente, devemos entender o termo como
Vale dizer que as desigualdades de gênero não são distintas das demais
desigualdades presentes na sociedade, tais como, raça, religião, economia, que
concretizam mecanismos de produção e reprodução da discriminação.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 01 - Gênero e História
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
homem, por ser, fisicamente, menor; pelo poder de maternidade; pela feminilidade.
Aceitar a diferença de mulher e homem do ponto de vista biológico pode
homens.
Scott (1990) afirma ser o gênero elemento constitutivo das relações sociais
assentadas nas diferenças distintivas dos sexos. Um estudo de gênero deve levar em
consideração como as diversas sociedades dão significação ao feminino e ao masculino.
BUSCANDO CONHECIMENTO
positivistas.
Barbosa (1989) afirma que gênero não significa homem e mulher tal como
nascem, mas, sim, como se fazem com diferentes poderes, diferentes comportamentos,
diferentes sentimentos.
intelectuais. Surge a “Nova Eva”, em que passa, na cidade, a ser a mulher importante,
embora tal relevância ainda esteja ligada à família. Trata-se da gestão da vida cotidiana.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 01 - Gênero e História
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
Perrot (1992), em seu estudo sobre as mulheres do século XVII e XIX, afirma que,
embora juridicamente ocupassem posição inferior aos homens, uma vez que não
aluguéis justos e organizam mudanças na calada da noite, quando não podem pagá-
los. É uma mulher mais livre nos gestos, nas vestimentas, resistindo também à polidez e
à afetação recatada.
Saber se há “nova Eva”, se as mulheres se ativam em todos os sentidos, só pode
ser por um caminho: o estudo dos discursos da e sobre as mulheres, temas de nossas
próximas unidade.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa
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Objetivo:
Efetuar um estudo sobre o papel da mulher
ESTUDANDO E REFLETINDO
uma determinada formação ideológica, pode-se afirmar que o sexo social é, então,
determinado pelos discursos que circulam, na sociedade, sobre a relação homem e
mulher.
distinção da atualidade, mas, segundo Bruschini (1990), a opressão feminina não ocorre
num período histórico determinado, mas se estende para as sociedades primitivas.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa
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para participarem dos trabalhos domésticos. Isso, segundo a autora, merece crítica,
pois, embora sendo tais afirmações Aleitamento Mercenário: As mulheres de
famílias mais abastadas possuíam
verdadeiras, não é possível
escravas, empregadas, também, com a
estabelecer um grau de
função de amas de leite.
valorização sobre as atividades
voltadas para o interior (espaço reservado à mulher) e exterior (espaço masculino).
dormir não espere mamãe mandar”. Ora, aqui está clara a função educativa e guardiã
da formação dos filhos da mãe. Ela manda, os filhos obedecem.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa
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mas austera, da mulher que educa é uma retomada do já dito que é assumido e
endossado. Além disso, ela, mulher, reserva ao policial feminino tarefas diferentes das
dos policiais masculinos, corroborando o discurso da desigualdade entre homens e
mulheres.
BUSCANDO CONHECIMENTO
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa
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“Meu maior sofrimento foi ter que deixar a minha filha nos braços da minha
irmã e entrar na viatura”.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80
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Cantinho Feminino, cujas responsáveis foram Carmem Suzana até 1976 e, dessa época
até 1999, a cronista Olga Amorim, e instituímos séries temáticas, que abordam os
discursos da e sobre a mulher, a partir das quais é possível detectar a construção da(s)
identidade(s) feminina interiorana. Nesta unidade, examinamos os textos publicados na
série Beleza.
ESTUDANDO E REFLETINDO
legenda de Dicas, em que são abordadas as técnicas de como tornar os lábios mais
bonitos, regimes milagrosos, maquiagem, uso de perucas, enfim, dicas que evidenciam
como a mulher deve proceder para se tornar mais bela e, obviamente, endossar os
valores sociais.
Chama-nos a atenção o destaque dado aos olhos femininos, como podemos
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80
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Bem poucas mulheres dão aos olhos os cuidados que merecem. Salientando a beleza
dos olhos, você estará destacando o encanto do seu rosto. Como o essencial é a
simplicidade, você poderá usar a mesma pintura pela manhã e à noite. Agora, se quiser
um efeito mais sofisticado, depois das seis da tarde acrescente um leve sombreado
Em outro, depreende-se
Um par de olhos bem maquilados dá maior força sobre a beleza feminina (...). Aplique
cílios superiores como inferiores. E pronto: você está com os olhos mais sedutores do
mundo.
razão de tanta atenção aos olhos. Para nós, trata-se de uma retomada do saber
consensual de “os olhos são as janelas da alma”, que, uma vez destacados, permitem a
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80
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feminina.
Se a beleza é bastante enfocada nos textos, cabe salientar que ela só pode ser
classificada e percebida em relação ao seu oposto, a feiúra. Essa relação semântica é ali
referenciada, nos textos, pois as mulheres feias são instauradas como interlocutor
explícito. O próprio título corrobora essa afirmação “Como corrigir os defeitos”, cujo
sentido é a feiúra. Para isso, há uma intertextualidade, na forma de citação, dos versos
de Vinícius de Moraes: “As muito feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”.
Cabe salientar que a esse discurso sobre a beleza contrapõe-se outro expresso no
texto, sem que lhe sejam atribuídas palavras precisas), como se pode verificar em
“porém há quem defenda a tese de que a mulher não deve ser bela, mas simplesmente
“diferente”. É com base nesse “diferente” que o sujeito produtor afirma o seu ponto de
vista.
Vejamos, então, diferente em quê? À primeira vista pode-se dizer que diferente
é a mulher que foge aos padrões de beleza construídos na e pela sociedade, mas,
segundo as próprias palavras do sujeito, é a mulher “nem feia nem bonita, com defeitos
e qualidades, mas não anônima, apagada ou insignificante”. Nesse discurso, está nítida
“ponto forte”. Mas como isso é possível? Quais as estratégias plausíveis? De acordo
com a autora do artigo, o recurso seria o uso da inteligência, inferindo-se,
contrariamente à memória (saber acumulado sobre os discursos) estabelecida, que a
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80
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Nós não criamos nada, mas os discursos que produzimos são retomados de
outros discursos já ditos, caracterizando a memória discursiva: todo o saber
arquivado em nossa memória. No entanto, é possível romper com o já dito e
instaurar um novo saber. Trata-se da Polissemia Discursiva. Quer saber um
exemplo de polissemia? Ouça a música Bom Conselho de Chico Buarque.
Além disso, silencia-se outro discurso opositor: aquele que diz ser a mulher bonita
desprovida de capacidade intelectual. A esse respeito, faz-se importante notar a tensão
como no caso do uso da inteligência, avança, indo além das normas. Mas é preciso
observar que o recurso da inteligência é invocado em tema visto como feminino, isto é,
a beleza.
Em seguida, o produtor do texto dá a “receita”, para que a mulher “diferente”
sobre a mulher: a portadora do sexto sentido (capacidade de ser a mulher mais afeita
aos estados emocionais, aos estados da alma) e feminilidade (traço hegemônico da
Scott, entre outras que, não de hoje, estão atentas às relações de gênero e ao estudo
das relações e estratégias de dominação.
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UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80
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O que se coloca sobre essa afirmação é: Será que todas as mulheres possuem
intuição e inteligência e são capazes de aprender as técnicas de cuidados corporais?
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II
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[...] Em torno das relações com o corpo, convém ressaltar que as inúmeras e
diversas exigências feitas ao corpo feminino partem de um padrão masculino e
de várias maneiras, para seduzir e agradar seus parceiros. Dessa maneira, os discursos
selecionados em nossa pesquisa classificam, normatizam e criam corpos delineados em
de Tânia Swain:
(2002:328)
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II
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“Para estar sempre na moda e bem penteada, para sair à noite sem ter ido ao
cabeleireiro, a solução é sempre a mesma: você deve usar uma peruca”.
Nele, duas informações merecem destaque: estar na moda e estar bem penteada sem
que, à época, podiam estar na moda, podiam ter peruca? Possivelmente, só aquelas
com poder aquisitivo, remetendo-nos a uma determinada raça, “as brancas”. Além
disso, ir ao cabeleireiro, sem ser para uma ocasião especial, mas simplesmente para sair
à noite, também é uma prática de mulheres de nível econômico razoável. Assim, o
“as mulheres não bonitas devem escolher penteados sofisticados, selvagens, nada de
modelos simples”.
referência a ele. Mesmo assim, o texto apresenta solução, ou seja, as não bonitas
devem recorrer a maquiagens, vistas como recurso para mudar o que, socialmente, é
apresentado como intolerável, por causar, no lugar do prazer e admiração, o
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UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II
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“por contraste entre branco e marrom, traços fortes, anatomia forte, delineador preto e
cílios postiços”.
BUSCANDO CONHECIMENTO
posição discursiva do seu produtor “Os quarenta anos representam um ponto crucial
para o sexo fraco”, que se caracteriza Se a Polissemia Discursiva se
“A vida agitada que tantas e tantas mulheres levam hoje - quer trabalhando fora de
casa, quer no lar - representa uma forte ameaça, impondo-lhes, sobretudo, esforços
marido e aos filhos, no presente, sem negar o passado, há o discurso da dupla jornada
das mulheres. Portanto, o que é avanço, a ocupação da mulher do espaço público, do
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UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II
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conservada do que a das avós. Isso, segundo o produtor do texto, se deve aos cuidados
que a mulher atual dispensa à sua beleza, por meio de alimentação cuidada e prática
é inevitável, quer para a dona de casa, quer para a que executa dupla jornada; o
diferencial está no uso da inteligência e no desejo de se enquadrar ao protótipo de
meio de virtude e inteligência, se valer dos recursos a sua disposição, feita mulher
consumidora ávida por produtos de beleza.
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UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis.
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de síntese, senso espacial desenvolvido, ressaltando-se que essas se ajustam, uma vez
mais, ao campo do feminino.
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UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis.
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também consideradas próprias do feminino. Tais profissões têm como espaço o salão
de beleza, freqüentado, à época, exclusivamente por mulheres, não todas, obviamente.
1976: a fome, a doença, a ignorância, ressaltando que é com esses fatos que devem os
políticos se preocupar e não com o divórcio. Usa, ainda, metáforas religiosas, tais como:
só irá abalar ainda mais nossa pequena estabilidade constitucional”; como “cavalo de
Tróia”, cujo interior está repleto de “amargura, insegurança, neurose, frustração e
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UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis.
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desestruturação dessa instituição. Fora da família, não teriam mais o espaço único e
privilegiado de atuação e convívio.
desajustes familiares?
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tendências sociológicas. Além disso, em tom laudatório clama pela luz divina para que
interceda nos cérebros dos deputados e para que não aprovem o divórcio e, no futuro,
interlocutor a mulher que sai de casa de férias sem o marido, mas com os filhos.
revela as falsidades das quais os maridos se apoderam para assumirem outros papéis,
como o de “coitados”. Para isso, ao lado das práticas masculinas “escrevem cartas
diárias às esposas, contando suas desventuras por estarem abandonados, como um
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UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis.
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cachorro sem dono”, explicita-se o discurso feminino “coitadinho, tão sozinho em casa,
enquanto eu me divirto com as crianças”, inferindo-se, portanto, o já-dito sobre a
carrega os filhos consigo. Então, o questionamento a ser feito é: Quem realmente está
de férias, está se divertindo?
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UNIDADE 06 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis Parte
II
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com os filhos. A mulher namorada e a mulher mãe! Queria ser agradável, servir, ser
mulher, ajudar, doar-se, amar enfim”.
Nesse discurso, está clara a submissão, o anular-se, para viver a vida do marido
e dos filhos; o discurso da mãe “para isso foi feita, a mais sublime de todas as missões”.
Uma vez mais cabe um questionamento, ou seja, quem define tal sublimidade? Não
seria uma sociedade patriarcal, pautada por padrões, conceitos e discurso, em sua
maioria, masculinos, brancos e heterossexuais?
procurando nos gestos e na vida o lugar que não é seu! Ou então na noite e dia
outras palavras, quem destinou a ela o lar e o fogão? Não teriam sido os próprios
homens? Outro refere-se à negação explícita que o sujeito faz da mulher que usa calça
Lee, da mulher que executa tarefas diferentes daquelas a ela destinadas. Assim,
calcando-se no discurso da mulher “carinho”, “mulher namorada”, “mulher mãe”, enfim,
mulher Amélia, o sujeito produtor abomina a que executa outras tarefas. Na verdade,
ser mulher, para ele, é repetir os modelos e papéis que ele assume e dos quais não
abre mão.
Outro texto faz referência às múltiplas facetas da mulher, citando de Eva a
Barbarella. Assim, tomando como ponto de partida a descoberta que Eva fez sobre a
nudez, analogamente, o sujeito produtor vê a nova mulher: a que “tira os véus, desata
as fitas, joga fora os quimonos, ganha o pão, o batom, a pílula com o suor de seu
rosto”. Trata-se da mulher moderna, capaz de executar atividades iguais às dos
homens, da mulher que usa como armas o “cálido olhar, a carícia das mãos, a seda da
pele, a chama misteriosa da espécie, a quentura do sorriso”. É a mulher sedutora, que
tem querer próprio, ciente da sua subjetividade, é a posse e uso de sua sexualidade,
condição socialmente a ela negada.
de um já dito, rompe-se com ele e se instaura um novo dizer. E esse novo dizer é fazer
o que os homens fazem, sem, entretanto, perder os doces mistérios da sedução. É
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 06 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis Parte
II
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vestir-se das múltiplas identidades: mãe, mulher, amante, profissional, sem ser
mulher, segundo esse sujeito produtor: uma nova Eva, vibrante, pronta para descobrir o
paraíso perdido, e que não pertence ao sexo frágil, pois esse “sexo frágil” deixa de ser
“Na estrutura atual da vida religiosa, uma freira não tem praticamente, nenhum
direito, mas sobre os ombros muitos deveres: algumas monjas se resignaram de tal
modo à situação que acabaram convencendo-se de que, ao fazer seus votos, impõem-
se renunciar a todos os direitos humanos... E, contudo, é natural que tenhamos tantas
que as relações de submissão entre marido e mulher são reproduzidas nas instituições
religiosas. Esse é o paralelo traçado pela freira que afirma:
“Até agora, foram sempre os homens que decidiram a que horas devemos
levantar-nos, a que horas devemos almoçar e como devemos trajar-nos. Trata-se, no
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011
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de 2000 a 2011
Na unidade anterior, examinamos os textos produzidos por e sobre
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desejo.
Segundo Berger (1972: 58),
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011
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Vale dizer que os valores fixados para a mulher são materializados nos
textos publicitários, principalmente, de épocas mais antigas. Assim, a mulher surge
como a responsável pelos cuidados dos mínimos detalhes da vida dos membros de sua
família, prevenir-se sobre a manifestação de qualquer doença de seus membros,
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011
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“Para os meus...”, pode-se inferir que há uma referência a todos os membros de sua
família, que, embora não nomeados estão implícitos no uso das reticências
BUSCANDO CONHECIMENTO
nova imagem de mulher, simbolizada pela independência, pela força, pela luta para
transformar a realidade cotidiana e, principalmente, como um ser com desejos que não
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011
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seus desejos e ímpetos sexuais não podiam ser mostrados, surge uma nova mulher
capaz de tomar iniciativa em busca de um afeto, como podemos observar na imagem
acima.
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UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II
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[...] A associação entre produtos e mulheres sensuais pode ser inferida nesse
texto, por meio das alusões visuais e verbais. No visual, observamos a mulher com
pernas bem feita e bem à mostra, pois usa um vestido curto e insinuante. Vale dizer
que a cor do vestido: vermelha carrega consigo toda uma simbologia de pecado, pois
Vale dizer que a autoestima pode referir-se à sensação de bem estar da mulher, como
também pode implicar maior capacidade de sedução.
o rosto de cada um dos personagens estivesse à mostra seria uma individualização, isto
é, seres específicos. No entanto, é possível uma leitura de generalização, ou seja,
qualquer mulher que usar meias TriFil é capaz de seduzir e imobilizar o homem por
meio de seus encantos.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II
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O objeto veiculado no texto acima é a Meia, razão pela qual estão em destaque,
Em Rago, observamos:
Na sociedade atual, as relações entre o homem e a mulher são falsas e imorais,
porque se fundam em interesses econômicos e consagram uma situação de
dominação: a mulher se torna escrava do homem, a quem deve obedecer
servilmente. Isto, por sua vez, significa sua total anulação social, refletindo a
hipocrisia dos sentimentos. (RAGO, 1997: 105)
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II
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jovem com um homem bem mais velho. A mulher, ao alimentar seu marido na boca,
endossa o papel a ela atribuído no tempo: a “cuidadora” da família, retomando as
afirmações de Rago, citadas acima. Agora, atente bem, para a segunda parte do texto.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II
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Ora, ao dizer: Casamento começa com “meu bem” e termina com “Meus bens”,
já não constatamos uma mulher submissa, mas uma mulher que planeja, a mulher que
seduz para tirar vantagem, no caso em questão, os bens advindos do casamento.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
extramuros.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Para Antunes (1992), a própria opção da mulher em exercer este espaço de ação
é singular. Concordamos com essa afirmação e aliamos a ela o fato de essa opção
Orlandi (1999). Entretanto, o exame sobre a história do policial feminino revela-nos que
os textos produzidos na criação da corporação caracterizam-se por movimentos de
paráfrase, isto é, o mesmo que volta, apenas com roupagens diferentes, no novo dizer.
Ao ser criada, no Brasil, a polícia feminina consideraram-se os discursos que
Feminino,
“a polícia feminina destina-se a executar tarefas de policiamento às quais, pela
natureza, melhor se ajuste o trabalho feminino, em razão de sua formação
psicológica peculiar, principalmente as que se referem à proteção de menores
e mulheres”.
Nesse discurso, há a figura da mulher possuidora do sexto sentido e da mãe que
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços
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caráter social, há, no Guia, imposições como: uso de batom, uso de esmalte claro nas
unhas e obrigatoriedade de cabelos presos, durante o horário de trabalho. Trata-se de
regulamentos que, a nosso ver, acentuam a diferença entre homens e mulheres, uma
vez que impõem hábitos especificamente femininos, não deixando opção de a mulher
BUSCANDO CONHECIMENTO
foi verificar como o já dito retorna no novo dizer, orientados pela seguinte questão: nas
produções escritas há movimentos de paráfrase ou de polissemia?
mulher sai do espaço interno a ela confinado, passa a ocupar o espaço externo, não
mais o da “cozinha”, como nos revelam os seguintes trechos, abaixo relacionados.
1 -“A profissão de “policial feminino” é mais uma conquista da mulher, em um
campo ocupado antes exclusivamente por homens”.
2 -“A mulher, na sociedade, vem desenvolvendo um excelente trabalho dentro
das várias profissões, alcançando inclusive cargos que exigem liderança”
3 -“Diante da “Amélia, mulher de verdade”, muito de nós mulheres lutamos
para conseguir um lugar de destaque que, em determinadas profissões, era
privilégio dos homens”
4 -“Nos dias de hoje, é normal as pessoas vêem (sic) mulheres trabalhando em
profissões, que antigamente, eram ocupadas só por homens”
5 -“No mundo inteiro e no trabalho, nós mulheres, estamos garantindo nosso
espaço”.
6 -“A mulher a cada dia vai conquistando o valor de seu trabalho em várias
profissões. É comum encontramos muitas delas ocupando cargos de confiança
e respeito. A profissão de “Policial Militar” é um exemplo claro, pois temos
desde o Soldado Feminino até o Comandante”.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços
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ela pode exercer qualquer outra atividade. Surge, então, a mulher líder, a mulher que
ocupa cargos importantes, a mulher, que diante da “Amélia”, que sabe lavar e cozinhar,
luta para conseguir lugar de destaque, deixando implícito que a Amélia ocupa cargo
inferiorizado. Entretanto, esse discurso polissêmico não se sustenta no decorrer dos
respeito, silenciou-se que tais cargos eram ocupados apenas por homens. Portanto, o
que o produtor afirma é que, hoje, há a igualdade. Em seguida, entretanto, vê-se
só para mulheres.
Em uma outra produção, observamos que o sujeito, ocupando o lugar de policial
feminino, emprega a primeira pessoa, para modalizar o enunciado, mas, ao falar dos
policiais femininos, afasta-se do enunciado e usa a terceira pessoa, produzindo um
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
“Na condição de policial feminina, creio que se torna mais difícil, pois elas
lidam ainda com o preconceito que existe tanto da parte dos civis, como
dentro da corporação. Enfrentam todos os preconceitos devido a condição de
MULHER. Isso fica mais forte por ser um campo novo que estão conquistando,
o qual era restrito aos homens. O reconhecimento do trabalho desempenhado
pelas policiais femininas é raramente reconhecido e elogiado. Já dos policiais
masculinos é sempre reconhecido e elogiado, durante as solenidades
existentes nos quartéis. O grande tabu é que estão sempre comparando a
força do homem com a da mulher, e nisso elas ficam em desvantagem. Mas,
no caso da Polícia Militar, as mulheres desempenham um excelente trabalho
na parte burocrática, no trânsito, na área social, no trabalho com mulheres e
crianças”
afirmam serem as mulheres incapazes de realizar todas as tarefas que o homem realiza.
Reclama dos preconceitos e diferenças em relação ao tratamento dispensado ao
defende a igualdade entre os gêneros. Mais uma vez, porém, esse discurso de
igualdade não é sustentado: mais uma vez as mulheres desempenham excelente
trabalho burocrático. Ora, isso é uma paráfrase do próprio guia do policial militar
feminino, conforme já citado anteriormente.
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Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10
Mulheres Transgressoras
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
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artigos de mercearia, organizam motins que se alastraram aos setores têxtil, chegando
aos portos industriais, embora contra elas investissem os sindicalistas, que discordavam
Concluindo seus estudos, Perrot afirma que as mulheres não são submissas nem
passivas. Elas se afirmam por outras palavras, outros gestos. Na cidade, na própria
fábrica, elas têm outras práticas cotidianas, elas “traçam um caminho que é preciso
reencontrar”.
Nesse caminho que se afirma “por outras palavras” e “outros gestos”, há,
de São Paulo indicam sentidos assentados no confronto entre o velho e o novo dizer
das (e sobre) mulheres? Para isso, analisamos textos produzidos por vinte detentas de
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Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10
Mulheres Transgressoras
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
BUSCANDO CONHECIMENTO
“Me falaram que tem que pedir licença para entrar na sala do
delegado. Somos dez mulheres as três mais velhas do X praticamente
não fazem nada. As sete mais novas cada dia uma pra fazer faxina no X
e cada X tem suas regras.
Temos que ter cuidado e pensar antes de falar qualquer coisa, porque
qualquer palavra errada pode gerar uma briga, as regras são rígidas,
por isso, quando chega uma nova a mais velha do X explica o que
deve e o que não deve fazer, se erramos somos chamadas atenção na
hora e perto das outras e nem pensar em reclamar se não arranja briga
com todas”
2
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Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10
Mulheres Transgressoras
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que têm; consolam-se, podendo-se inferir que a imagem que elas têm da sociedade
não corresponde à união encontrada nas celas, conforme se depreende das afirmações
abaixo:
mulher ser uma guerreira, o que nos revela o movimento da polissemia discursiva, isto
é, o já dito que retorna de forma diferente, produzindo uma ruptura nos processos de
subsistência do lar e da família. Não é mais a mulher do século XIX que apenas
complementava o orçamento doméstico, com pequenos comércios; é a que, sozinha,
“Guerreira é a mulher que batalha, que vai à luta pra sustentar sua casa,
criar seus filhos, que mesmo sozinha não teme a sociedade, enfim não
tem limites pra uma guerreira”.
esse papel é assumido, conforme o grifado, nos fragmentos acima, como se fossem
homens, resgatando-se no dito, a visão a partir da qual foi construído: é o homem que
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trabalha na roça para sustentar os filhos; é o homem que enfrenta a sociedade para
proteger a família.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
ESTUDANDO E REFLETINDO
Duas produções mostram-nos uma posição de mulher que questiona, que não
mulher “submissa” que sou que a mulher é dona de uma grande sabedoria”.
Entendemos que essa mulher, na verdade, não é mais submissa, pois , ser
submissa é aceitar a diferença estabelecida com base no sexo biológico, é aceitar que à
mulher cabem apenas o lar e os tecidos, conforme apregoavam os naturalistas. Ela é
diferente e isso pode ser comprovado no uso de aspas na palavra submissa, reflexo de
outra voz que ela introduz no texto. Essa mulher é diferente, ela não tem apenas
emoção, ela tem sabedoria e consciência. Ressalte-se, ainda, que, no decorrer de seu
texto, ela deixa marcas que nos permite dar sentido à “sabedoria” a que se refere. Para
ela, ser sábia é tirar proveito da situação em que se encontra (“aprendi a fazer tapetes
de crochê e quando sair daqui vou vender e ganhar dinheiro”). Para nós, essa é a
mulher que tem consciência de seu papel, porque, utilizando-se da memória discursiva
da submissão da mulher, ironiza-a e aproveita-se da sua experiência para tornar-se
sábia, portanto, com o poder (advindo do saber construído) de, inclusive, criticar a
“A sociedade é muito falsa, egoísta, mas tem poder sobre nós, encarceradas. O
grande mal da sociedade é que eles estão cegos, eles não conseguem ver que
mesmo encarcerada, nós somos úteis para eles próprios. Trabalhamos aqui
sem direito a nada, ganhamos aquilo que a gente produz”
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II
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isto é, nas palavras do sujeito, “ser útil” não significa produzir para o bem comum, não
significa ser cidadão, mas, nessa situação não ser um peso para o Estado. Nesse
sentido, ela é útil porque faz tapetes, vende e sustenta seus filhos, mesmo estando
presa. Se não os fizesse, seria a própria sociedade que deveria manter seus filhos, aí
Outra produção que nos chamou a atenção foi a referente ao texto abaixo:
“Ser mulher na cadeia não muda nada, o que somos lá fora somos aqui
dentro. Não me sinto ‘so, não tenho tristeza, só fico triste quando vejo uma
mulher desvalorizando seu corpo, seu respeito. A falta de respeito é muito
grande aqui nessa cadeia, são mulheres que usam um argumento tão forte
que se deixar você fica até sem a calcinha”.
“Estou presa por uma grande injustiça. São uma quadrilha de traficantes que
por pouco não tira a minha vida. Tudo armação, começa na alta sociedade e
termina na favela. Uma quadrilha que matou meu filho e iria matar o outro
também e ainda olha na minha cara e diz que vai tentar de novo. Veja agora
se uma pessoa dessa merece viver em sociedade e ainda diz que estuda
Direito. Veja como são as coisas, nós, pessoas de bem temos que aceitar os
traficantes e nós não podemos fazer nada. Onde está a justiça”.
Acreditamos que esse texto, entre os vinte analisados, é o segundo que revela
uma mulher que é ciente do seu papel como “guerreira”, semelhante à anterior: assume
o encarceramento “sem tristeza”, como resgate de sua pena, critica a mulher que
desvaloriza o corpo, critica a companheira que cede às regras da cela (“... se deixar você
fica até sem a calcinha:); critica a sociedade, pois sente-se injustiçada (“...a quadrilha de
traficantes...”, “tudo armação”, “...e ainda diz que estuda Direito”, “...onde está a
justiça?”).
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II
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visse como “guerreira”, entenderia que o queimar as roupas é uma resposta negativa às
regras impostas na cela, já que as mais velhas se assenhoram dos pertences das mais
novas. Entenderia também que seu filho havia sido morto, sim, por traficantes, que com
sua ação levaram seu filho à morte por overdose. Enfim, ela é uma guerreira.
É nesse “atalho” das celas dos presídios analisados que constatamos ser muito
complexos os caminhos para “reencontrarmos” (conforme Perrot) a mulher nos dias
atuais. Tanto nelas como na sociedade, elas se perdem na ilusão de estarem agindo
como “guerreiras”, quando, na verdade, ainda veem o mundo pelos olhos dos homens.
BUSCANDO CONHECIMENTO
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre)
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre)
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre)
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual
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ESTUDANDO E REFLETINDO
O trecho a seguir foi retirado dos “Parâmetros Curriculares Nacionais” onde fala
da infância.
Assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das
criança faz na região genital e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças
recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou “julgamento” do mundo adulto
em que estão imersas, permeado de valores e crenças atribuídos à sua busca de prazer,
partir das relações familiares é que a criança se descobre num corpo sexuado de
menino ou menina. Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre os
1
Disponível: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/orientacao.pdf> acesso em: 02/07/2015.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual
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padrões são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir das
diferenças biológicas dos sexos, e transmitidas através da educação, o que atualmente
ocupam de crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são seres “puros” e
“inocentes” que não têm sexualidade a expressar, e as manifestações da sexualidade
infantil possuem a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se deve à
má influência de adultos. Entre outros educadores, no entanto, já se encontram
sexuais com pessoas do mesmo sexo e do outro sexo. A experimentação dos vínculos
tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de pares
estão presentes nos seus movimentos e gestos, nas roupas que usam, na música que
produzem e consomem, na produção gráfica e artística, nos esportes e no humor por
eles cultivado.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual
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foco de interesse que marca essa etapa de suas vidas e que é tão importante para a
construção de sua identidade.
BUSCANDO CONHECIMENTO
princípios que deverão nortear o trabalho de Orientação Sexual e sua clara explicitação
para toda a comunidade escolar envolvida no processo educativo dos alunos. Esses
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
referência por meio da reflexão. Nesse sentido, o trabalho realizado pela escola,
denominado aqui Orientação Sexual, não substitui nem concorre com a função da
Tal postura deve, inclusive, auxiliar as crianças e os jovens a discriminar o que pode e
deve ser compartilhado no grupo e o que deve ser mantido como vivência pessoal.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 13 - Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Orientação Sexual
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
defendem; outros, a criticam. E você, o que pensa? Vamos discutir a temática com
vistas a dotá-lo de conhecimentos sobre o assunto
ESTUDANDO E REFLETINDO
Você já parou para pensar no conceito de sexualidade? O que você entende por
esse termo? A Organização Mundial da Saúde (1975) define sexualidade como:
“A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um.
É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser
separado de outros aspectos da vida.
A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do
orgasmo.
Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva encontrar o
amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, na forma de as
pessoas tocarem e serem tocadas.
A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e
tanto a saúde física como a mental.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 13 - Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Orientação Sexual
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
circunscrita às portas de banheiros e muros das escolas, no entanto, hoje, ela invade as
salas de aula, quer com perguntas, quer com piadinhas.
A proposta dos PCNs é que a orientação sexual deixe de ser tabu, deixe de ser
tema com algumas poucas respostas evasivas de docentes e de pessoal que trabalha na
crítico e reflexivo.
É evidente que a meta com a Orientação Sexual na escola é cuidar da saúde de
crianças e jovens, frequentes nas redes de pedofilia. Além disso, há que se debaterem
discussões de questões polêmicas, tais como masturbação, iniciação sexual, o “ficar”, o
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 13 - Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Orientação Sexual
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BUSCANDO O CONHECIMENTO
para:
• respeitar a diversidade de valores, crenças e comportamentos relativos à sexualidade,
• conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde como condição necessária para
usufruir prazer sexual;
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 13 - Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Orientação Sexual
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vírus da Aids;
• Evitar uma gravidez indesejada, procurando orientação e fazendo uso de métodos
contraceptivos;
• consciência crítica e tomar decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 14 - Estudos sobre Gêneros
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
ESTUDANDO E REFLETINDO
excerto do artigo desenvolvido pela pesquisadora Miriam Pillar Grossi 1 sobre o assunto.
Os Estudos de Gênero
O conceito de gênero chegou até nós através das pesquisadoras norte-
americanas que passaram a usar a categoria "gender" para falar das "origens
exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e mulheres". A ênfase
colocada na "origem social das identidades subjetivas" não é gratuita. De fato, não
existe uma determinação natural dos comportamentos de homens e de mulheres,
apesar das inúmeras regras sociais calcadas numa suposta determinação biológica
diferencial dos sexos usadas nos exemplos mais corriqueiros, como ”mulher não pode
natural não passa de uma formulação ideológica que serve para justificar os
comportamentos sociais de homens e mulheres em determinada sociedade. No caso
das sociedades ocidentais, a biologia é uma explicação de grande peso ideológico, pois
aprendemos que ela é uma ciência e que, portanto, tem valor de verdade. Jane Flax,
uma das teóricas feministas pós-modernas, ensina que a ciência surge no Ocidente
com o Iluminismo. A ciência, tal como a conhecemos, parece dar explicações "neutras"
1
Disponível:
<http://joomla.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/capacitacao_rede%20/modulo_2
/grossi_miriam_identidade_de_genero_e_sexualidade.pdf.>
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 14 - Estudos sobre Gêneros
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refletem apenas uma parte do social: a dos homens, brancos e heterossexuais. Sempre
aprendemos que Homem com H maiúsculo se refere à humanidade como um todo,
incluindo nela homens e mulheres. Mas o que os estudos de gênero têm mostrado é
que, em geral, a ciência está falando apenas de uma parte desta humanidade, vista sob
o ângulo masculino, e que não foi por acaso que, durante alguns séculos, havia poucas
cientistas mulheres.
BUSCANDO CONHECIMENTO
O que é gênero?
Ora, o indivíduo não pode ser pensado sozinho: ele só existe em relação. Basta
que haja relação entre dois indivíduos para que o social já exista e que não
seja nunca o simples agregado dos direitos de cada um de seus membros, mas
um arbitrário constituído de regras em que a filiação (social) não seja nunca
redutível ao puro biológico (HÉRITIER, 1996: 288 – tradução minha)
Por “gênero”, eu me refiro ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ele não
remete apenas a ideias, mas também a instituições, a estruturas, a práticas
cotidianas e a rituais, ou seja, a tudo aquilo que constituías relações sociais. O
discurso é um instrumento de organização do mundo, mesmo se ele não é
anterior à organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade
biológica primária, mas ele constrói o sentido desta realidade. A diferença
sexual não é a causa originária a partir da qual a organização social poderia ter
derivado; ela é mais uma estrutura social movediça que deve ser ela mesma
analisada em seus diferentes contextos históricos (SCOTT, 1998: 15 – tradução
minha).
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 14 - Estudos sobre Gêneros
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sexual, insiste sobre o fato de que o gênero se constrói na relação homem/mulher, uma
vez que não existe indivíduo isolado, independente de regras e de representações
sociais. Joan Scott (1998), em recente definição da categoria gênero, ensina-nos que o
gênero é uma categoria historicamente determinada que não apenas se constrói sobre
a diferença de sexos, mas, sobretudo, uma categoria que serve para “dar sentido” a esta
diferença. Concordo com essas definições e penso que, em linhas gerais, gênero é uma
categoria usada para pensar as relações sociais que envolvem homens e mulheres,
relações historicamente determinadas e expressas pelos diferentes discursos sociais
pensou alguma vez em assinalar M e não F nos inúmeros formulários que temos de
preencher em nossa vida cotidiana? E vocês acham que a burocracia que lê estes
do sexo feminino, pois o gênero (ou seja, aquilo que é associado ao sexo biológico) é
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 14 - Estudos sobre Gêneros
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Gênero seria, então, um sinônimo da palavra sexo, uma vez que estou falando
de feminino e masculino? E os homossexuais, homens ou mulheres, seriam outro
poderia ser associado a nenhum dos dois gêneros conhecidos? Não; quando falamos
de sexo, referimo-nos apenas a dois sexos: homem e mulher (ou macho e fêmea, para
sermos mais biológicos), dois sexos morfológicos sobre os quais "apoiamos" nossos
significados do que é ser homem ou ser mulher. Estas questões nos levam a refletir
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 15 - Estudos sobre Gêneros Parte II
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ESTUDANDO E REFLETINDO
diversidade cultural humana tem mostrado que os papéis de gênero são muito
diferentes de um lugar para outro do planeta.
que, numa mesma ilha da Nova Guiné, três tribos – os Arapesh, os Mundugumor e os
Tchambuli – atribuíam papéis muito diferentes para homens e mulheres. Agressividade
determinação biológica, entre estas tribos lhes eram associados de outra forma. Num
destes grupos, homens e mulheres eram cordiais e dóceis; no outros ambos eram
eram mais passivos e caseiros. A partir deste estudo, muitos outros foram feitos em
outros grupos humanos, mostrando que os papéis atribuídos a homens e a mulheres
não eram sempre os mesmos. O que acontecia até muito recentemente era que muitos
1
Disponível:
<http://joomla.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/capacitacao_rede%20/modulo_2
/grossi_miriam_identidade_de_genero_e_sexualidade.pdf.>
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 15 - Estudos sobre Gêneros Parte II
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antropólogos olhavam para outras culturas com sua visão ocidental, contexto em que
as mulheres são vistas culturalmente como passivas, o que os impedia de perceber
grande opressão para uma de libertação. Estes textos começam, por exemplo, falando
da mulher no tempo do homem das cavernas, quando eram puxadas pelos cabelos;
fogueiras; e finalmente chegam aos dias de hoje, falando dos avanços que as mulheres
conseguiram a partir de suas lutas. Estes textos, que seguidamente são divulgados em
mulheres seguidamente foram vítimas ao longo da História, creio que não é possível
mulheres, havia situações e práticas nas quais elas detinham poder e reconhecimento
social. No campo da Antropologia, o mesmo tem sido feito quando se reflete sobre a
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 15 - Estudos sobre Gêneros Parte II
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iluminista. É neste projeto que se separam as esferas de público e privado, às quais são
associados os papéis de gênero contra os quais o feminismo tem lutado desde as
sufragistas.
BUSCANDO CONHECIMENTO
escondidos e que, por engano, haviam sido rotulados com o gênero oposto ao de seu
sexo biológico, diz uma coisa impressionante: que é " mais fácil mudar o sexo biológico
do que o gênero de uma pessoa". Para ele, uma criança aprende a ser menino ou
menina até os três anos, momento de passagem pelo complexo de Édipo e pela
mas podemos associar novos papéis a esta "massa de convicções". Este núcleo de
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 15 - Estudos sobre Gêneros Parte II
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mesmo antes, com as novas tecnologias de detectar o sexo do bebê, quando se atribui
um nome à criança e esta passa a ser tratada imediatamente como menino ou menina.
anos de idade, uma vez que ele tiver superado a fase do complexo de Édipo, momento
no qual todo ser humano descobre que é único e não a extensão do corpo da mãe.
Vejamos, então, esta última questão, que nos ajuda a entender o que é gênero.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 16 - Sexualidade e Reprodução
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ESTUDANDO E REFLETINDO
Para refletir sobre esse tema tão pertinente aos estudos de gênero, apresento
um excerto do artigo da pesquisadora Miriam Pillar Grossi 1
Sexualidade e Reprodução
classificar indivíduos que mantêm relações sexuais e/ou afetivas com outros do mesmo
sexo como homossexuais, uma categoria que remete imediatamente, no imaginário
de Deus”, fruto do intercurso sexual entre um homem e uma mulher. Hoje, inúmeros
1
Disponível:
<http://joomla.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/capacitacao_rede%20/modulo_2
/grossi_miriam_identidade_de_genero_e_sexualidade.pdf.>
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 16 - Sexualidade e Reprodução
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única e exclusiva relação sexual entre dois indivíduos de sexo oposto. Entre várias
sociedades tribais brasileiras, considera-se que o embrião não cresce sozinho e que ele
humanos, e diferentes países vêm buscando fazer leis que proíbem todo e qualquer
tipo de reprodução humana pela técnica da clonagem. Algumas feministas lésbicas, no
reprodução da espécie humana, no final do século XIX, por exemplo, pensava-se que o
desejo sexual era uma característica masculina e que as mulheres copulavam apenas
para as necessidades de reprodução da espécie e da família. O prazer feminino era
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 16 - Sexualidade e Reprodução
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desejo e o orgasmo femininos não são mais vistos como pecaminosos ou “antinaturais”.
Vemos, portanto, que os valores associados às práticas sexuais são marcados
historicamente.
O mesmo ocorreu em relação a práticas erótico-sexuais entre indivíduos do
mesmo sexo que, em inúmeras culturas do planeta, são vividas e experimentadas como
possíveis e não “anormais”.9 No Ocidente, segundo a análise de Michel Foucault, é no
século XIX, em virtude do advento da Medicina, que as relações entre dois indivíduos
do mesmo sexo passarão a ser rotuladas como “doença”.
Grande tem sido o debate no campo da Psicanálise desde que Freud formulou
a hipótese de que todo indivíduo é portador da bissexualidade psíquica, ou seja, da
BUSCANDO CONHECIMENTO
Homossexualidade ou Homoerotismo?
Ainda segundo Stoller (1978), a escolha do objeto sexual, de desejo, dá-se a
Um homem que não deseje mulheres e que se sinta atraído por homens não deixa de
se sentir homem. Mas é claro que, devido a pressões sociais, alguém que não é
heterossexual se sente "diferente" daquilo que aprendeu como o comportamento
sexual correto. Mesmo as travestis sabem que são “homens”, e algumas chegam
mesmo a dizer que estão apenas "brincando" de ser mulheres ao se vestirem e se
portarem corporalmente enquanto tais. Muitas delas parecem reproduzir muito mais o
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 16 - Sexualidade e Reprodução
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
R. S. Silva (1993). Para Stoller (1978), ao travestir-se o indivíduo joga um jogo em que diz
"agora sou feminina", tendo, no entanto, o núcleo arcaico que lhe afirma "sou homem".
mulher com as drag-queens. Me fantasio para ser mulher e consigo representar este
papel por um dia. Mas depois volto para casa, coloco uma roupa velha e não me sinto
nada sexy".
“A experiência de transexuais tem inspirado uma série de pesquisadores da
masculinos, as travestis, as drag queens? Se não são "homens", como se costuma dizer,
são, então, "mulheres"? E as lésbicas, as mulheres travestidas – os travestis –, os drag
A partir de tudo que expus nos itens anteriores, não creio que exista um
terceiro gênero, porque existem apenas dois grandes modelos de identidade de
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 16 - Sexualidade e Reprodução
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
sujeitos, mas como uma possibilidade presente na maior parte dos indivíduos de
desejam alguém de seu próprio sexo. Da mesma forma que não podemos falar em
gênero sem pensar em "relações" que envolvam homens e mulheres, não creio ser
possível pensar em homossexualidade como uma condição fixa, mas sim como uma
possibilidade erótica para muitos indivíduos, experiência que não configura o núcleo de
identidade dos sujeitos, apenas parte de seu reconhecimento afetivo e social.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 17 - Educação e Gênero
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
ESTUDANDO E REFLETINDO
inclusão e diversidade.
Para refletir sobre esse assunto, trago um excerto do artigo produzido pela
igreja católica, reflete diretamente a constituição da educação formal no país, com total
exclusão das mulheres, como nos mostra Beltrão e Alves:
1
Disponível: http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/CC06.pdf, acesso em: 01/07/2015.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 17 - Educação e Gênero
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira) de 1961 foi garantido
acesso igualitário ao ensino superior para as mulheres que cursavam o magistério,
feminista.
Nesse momento, no entanto, a discussão sobre a desigualdade de sexos na
de que estamos falando, em que este conceito ainda estava sendo introduzido no
próprio movimento popular de mulheres.
inclusão de meninos e meninas na escola, tendo em vista que são pouco examinadas as
dimensões de gênero no dia-a-dia escolar, talvez pela dificuldade em refletir não
LDB e do PCN.
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 17 - Educação e Gênero
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
BUSCANDO CONHECIMENTO
O Conceito de gênero
O conceito de gênero, que norteará toda a nossa discussão, permite pensar em
relações que não são fixas, ao contrário, estão o tempo todo em tensão, de forma que
homem e mulher têm posições de relativa mobilidade no campo social. Sendo assim, as
identidades, primariamente sexuais, são construídas de uma forma cada vez mais social,
na medida em que ocorre um movimento de desnaturalização do sexo.
ser uma afirmação ou uma negação, mas sim uma construção que ocorre através da
repetição de atos correspondentes às normas sociais e culturais. Sendo assim, um
gênero é um modo de subjetivação dos sujeitos, pois, “o ‘eu’ nem precede nem se
segue ao processo de atribuição de gênero, mas surge, apenas, no interior e como
matriz das próprias relações de gênero”. (Butler, 1999, p. 153).A autora argumenta ainda
que o sexo, assim como o gênero, é materializado através de práticas discursivas, de
normas que nunca são finalizadas, pois permanecem num processo constante de
reafirmação. Este processo é indispensável para a hegemonia das leis reguladoras sob
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 17 - Educação e Gênero
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
Não podemos ignorar os esforços feitos ao longo dos tempos para tornar essas
relações mais igualitárias. A história dos movimentos feministas se confunde com a
própria história da luta pela igualdade entre os sexos. É importante ressaltar que esta
divisão histórica não é estanque como nos informa Scavone:
feminismo igualitário, que lutava por igualdade entre os sexos na vida pública.
Na década de 60, mais precisamente depois de 1968, começam a emergir as
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 18 - O Feminismo no Brasil
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
ESTUDANDO E REFLETINDO
Para refletir sobre esse tema tão pertinente aos estudos de gênero, apresento
um excerto do artigo da pesquisadora Miriam Pillar Grossi 1
para a época, como, por exemplo, a sexualidade e o divórcio. Ainda segundo Pinto, há
uma terceira vertente de feministas, oriunda do movimento anarquista e do Partido
1
Disponível:
<http://joomla.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/capacitacao_rede%20/modulo_2
/grossi_miriam_identidade_de_genero_e_sexualidade.pdf.>
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Gênero e Sexualidade
UNIDADE 18 - O Feminismo no Brasil
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva
de 1970. No entanto, isso não significa que durante esse período o movimento de
mulheres não tenha tido nenhuma expressão. Ao contrário, momentos importantes de
diversa no qual estavam inseridos, sendo que os primeiros grupos feministas em 1972,
em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram inspirados no feminismo dos países do Norte.
Organização das Nações Unidas (ONU). O evento organizado para comemorar o Ano
Internacional, realizado no Rio de Janeiro e a criação do Centro de Desenvolvimento da
ameaçada pela reforma partidária de 1979, que dividiu os grupos opostos, e a relação
do movimento com os governos democráticos que viriam a se estabelecer,
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importante passo na luta contra a violência cometida contra as mulheres, pois apesar
de o feminismo, as feministas e as delegacias da mulher não resolveram a questão, a
criação das delegacias foi um avanço na medida em que a mulher passou a ser
reconhecida como vítima de violência.
movimento feminista, do final do século XIX até o final da década de 1980, nos parece
suficiente para que possamos pensar na conjuntura em que foram elaboradas as leis
BUSCANDO CONHECIMENTO
LDB E PCN
Aprovada em dezembro de 1996, após oito anos de tramitação no Congresso,
a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) representa por um lado a vitória de
setores ligados à educação, que vinham mobilizando-se em torno de sua elaboração, e
UNBEHAUM, 2004).
Entre as consequências dessa substituição pode-se destacar a indefinição
quanto ao número de alunos por sala de aula (Art. 25), o que tem resultado na
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Nacionais para o Ensino Fundamental (PCN), é uma proposta de conteúdos que deve
orientar a estrutura curricular de todo o sistema educacional do país, servindo como
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ESTUDANDO E REFLETINDO
intelectuais com a frase Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. A expressão causou
impacto e ganhou o mundo. Mulheres das mais diferentes posições, militantes e
estudiosas passaram a repeti-la para indicar que seu modo de ser e de estar no mundo
não resultava de um ato único, inaugural, mas que, em vez disso, constituía-se numa
construção. Fazer-se mulher dependia das marcas, dos gestos, dos comportamentos,
das preferências e dos desgostos que lhes eram ensinados e reiterados,
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Disponível: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf, acesso em: 02/07/2015.
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poder de decidir e inscrever em nossos corpos as marcas e as normas que devem ser
seguidas? Qualquer resposta cabal e definitiva a tais questões será ingênua e
instituições legais e médicas mantêm-se, por certo, como instâncias importantes nesse
processo constitutivo. Por muito tempo, suas orientações e ensinamentos pareceram
conselhos e ordens, somos controlados por seus mecanismos, sofremos suas censuras.
As proposições e os contornos delineados por essas múltiplas instâncias nem sempre
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Gênero e Sexualidade
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Especialistas das mais diversas áreas dizem-nos o que vestir como andar, o que
comer (como e quando e quanto comer), o que fazer para conquistar (e para manter)
em suas diretrizes. Ainda que normas culturais de há muito assentadas sejam reiteradas
por várias instâncias, é indispensável observar que, hoje, multiplicaram-se os modos de
elas parecem ter se tornado mais visíveis ou ter se acelerado. Proliferaram vozes e
diversidade cultural que não parecia existir. Cada vez mais perturbadoras essas
transformações passaram a intervir em setores que haviam sido, por muito tempo,
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BUSCANDO CONHECIMENTO
Como parte de tudo isso, vem se afirmando uma nova política cultural, a
política de identidades. Muito especialmente a partir dos anos 1960, jovens, estudantes,
negros, mulheres, as chamadas minorias 2 sexuais e étnicas passaram a falar mais alto,
denunciando sua inconformidade e seu desencanto, questionando teorias e conceitos,
viver, os seus próprios modos: suas estéticas, suas éticas, suas histórias, suas
experiências e suas questões. Desencadeava-se uma luta que, mesmo com distintas
caras e expressões, poderia ser sintetizada como a luta pelo direito de falar por si e de
falar de si. Esses diferentes grupos, historicamente colocados em segundo plano pelos
grupos dominantes, estavam e estão empenhados, fundamentalmente, em se
autorepresentar.
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A cultura, diz Stuart Hall, é agora um dos elementos mais dinâmicos e mais
imprevisíveis da mudança histórica do novo milênio. Daí porque não deve nos
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UNIDADE 20 - Gênero e a Pedagogia Contemporânea Parte II
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ESTUDANDO E REFLETINDO
engenhosas. Talvez por isso a alguns escape a força dos embates culturais. Mas os
movimentos sociais organizados (dentre eles o movimento feminista e os das
escolas e universidades, eram fundamentais. A voz que ali se fizera ouvir, até então,
havia sido a do homem branco heterossexual. Ao longo da história, essa voz falara de
uma meta urgente para os grupos submetidos, apropriar-se dessas instâncias culturais
e aí inscrever sua própria representação e sua história, pôr em evidência as questões de
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Disponível: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf, acesso em: 02/07/2015.
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grande desafio, hoje, parece não ser apenas aceitar que as posições se tenham
multiplicado, então, que é impossível lidar com elas a partir de esquemas binários
é ainda mais complicado admitir que o lugar social no qual alguns sujeitos vivem é
exatamente a fronteira. A posição de ambiguidade entre as identidades de gênero e/ou
modo ingênuo essa visibilidade. Se, por um lado, alguns setores sociais passam a
demonstrar uma crescente aceitação da pluralidade sexual e, até mesmo, passam a
consumir alguns de seus produtos culturais, por outro lado, setores tradicionais
renovam (e recrudescem) seus ataques, realizando desde campanhas de retomada dos
normas. Foucault certamente diria que proliferam cada vez mais os discursos sobre o
sexo e que as sociedades continuam produzindo, avidamente, um saber sobre o prazer,
posição da diferença, porque, afinal, é disso que se trata. Em outras palavras, é preciso
saber quem é reconhecido como sujeito normal, adequado, sadio e quem se diferencia
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UNIDADE 20 - Gênero e a Pedagogia Contemporânea Parte II
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se dá pelo uso da força, e sim por meio de uma espécie de lógica que se poderia quase
dizer que é invisível, insidiosa (Ewald, 1993). A norma não emana de um único lugar,
não é enunciada por um soberano, mas, em vez disso, está em toda parte. Expressa-se
por meio de recomendações repetidas e observadas cotidianamente, que servem de
referência a todos. Daí por que a norma se faz penetrante, daí por que ela é capaz de
se naturalizar.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Quanto à diferença, é possível dizer que ela seja um atributo que só faz
sentido ou só pode se constituir em uma relação. A diferença não pré-existe nos corpos
dos indivíduos para ser simplesmente reconhecida; em vez disso, ela é atribuída a um
sujeito (ou a um corpo, uma prática, ou seja lá o que for) quando relacionamos esse
sujeito (ou esse corpo ou essa prática) a um outro que é tomado como referência.
segue-se que serão diferentes todas as identidades que não correspondam a esta ou
que desta se afastem. A posição normal é, de algum modo, onipresente, sempre
conta das possibilidades de práticas e de identidades, isso não significa que os sujeitos
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transitem livremente entre esses territórios, isso não significa que eles e elas sejam
igualmente considerados.
se trata de negar a materialidade dos corpos, mas sim de assumir que é no interior da
cultura e de uma cultura específica que características materiais adquirem significados.
Como isso tudo aconteceu e acontece? Através de que mecanismos? Se em tudo isso
estão implicadas hierarquias e relações de poder, por onde passam tais relações? Como
através dos discursos dos movimentos sociais e dos múltiplos dispositivos tecnológicos.
As muitas formas de experimentar prazeres e desejos, de dar e de receber afeto, de
amar e de ser amada/o são ensaiadas e ensinadas na cultura, são diferentes de uma
cultura para outra, de uma época ou de uma geração para outra. E hoje, mais do que
também desestabilizador. Mas não há como escapar a esse desafio. O único modo de
lidar com a contemporaneidade é, precisamente, não se recusar a vivê-la.
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