Caracterização Queijo Artesanal Serra Geral
Caracterização Queijo Artesanal Serra Geral
Caracterização Queijo Artesanal Serra Geral
MUNICÍPIOS DA REGIÃO DA
SERRA GERAL DO NORTE DE MINAS COMO
PRODUTORES DE QUEIJO ARTESANAL
BELO HORIZONTE/MG
MAIO/2018
SUMÁRIO
2
4.3.2 – UMIDADE...............................................................................................73
5 – LEVANTAMENTO SOCIOECONÔMICO............................................................74
5.1 – ENTREVISTA ESTRUTURADA...................................................................74
5.2 – PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO QUEIJO ARTESANAL DA SERRA
GERAL...................................................................................................................76
5.2.1 – ORDENHA..............................................................................................76
5.2.2 – FILTRAGEM...........................................................................................79
5.2.3 – COAGULAÇÃO......................................................................................80
5.2.4 – CORTE DA COALHADA E MEXEDURA...............................................82
5.2.5 – ENFORMAGEM.....................................................................................84
5.2.6 – PRIMEIRA SALGA.................................................................................85
5.2.7 – SEGUNDA SALGA................................................................................86
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................87
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA.....................................................................................89
FICHA TÉCNICA.......................................................................................................92
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Terraço fluvial coberto por pastagem - Janaúba/MG. (Foto: Luiz Resende)
...................................................................................................................................33
Figura 2: Terraço com pastagem ao fundo e plantio em primeiro plano - Jaíba/MG.
(Foto: Luiz Resende).................................................................................................34
Figura 3: Terraço com pastagem e vegetação - Gameleiras/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................35
Figura 4: Terraço com cultivo - Catuti/MG. (Foto: Luiz Resende)..............................36
Figura 5: Terraço com cultura de milho e criação de animais - Porteirinha/MG. (Foto:
Luiz Resende)............................................................................................................36
Figura 6: Terraço arado com plantio de banana ao fundo - Nova Porteirinha/MG.
(Foto: Luiz Resende).................................................................................................37
Figura 7: Rampa - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)...........................................38
Figura 8: Rampa - Montezuma/MG. (Foto: Luiz Resende)........................................39
Figura 9: Rampa com pastagem - Pai Pedro/MG. (Foto: Luiz Resende)..................40
Figura 10: Rampa vegetada - Riacho dos Machados/MG. (Foto: Luiz Resende)......41
Figura 11: Superfície ondulada - Monte Azul/MG. (Foto: Luiz Resende)..................42
Figura 12: Superfícies onduladas - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz Resende)
...................................................................................................................................43
Figura 13: Colina de topo alongado - Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)............44
Figura 14: Colina de topo alongado ao fundo - Matias Cardoso/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................45
Figura 15: Vertente côncava em anfiteatro - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................46
Figura 16: Vertente côncava em anfiteatro aberto - Verdelândia/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................47
Figura 17: Colina de topo convexo - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)...............48
Figura 18: Vertente convexa - Mato Verde/MG. (Foto: Luiz Resende)......................49
Figura 19: Vertente convexa arredondada - Santo Antônio do Retiro/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................50
Figura 20: Série de vertentes ravinadas - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)........51
Figura 21: Vertentes ravinadas - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)......................52
Figura 22: Planície fluvial inundada do Rio Verde Grande - Verdelândia/MG. (Foto:
Luiz Resende)............................................................................................................53
Figura 23: Planície fluvial alagada do Rio São Francisco - Matias Cardoso/MG.
(Foto: Luiz Resende).................................................................................................54
Figura 24: Planície inundada do Rio Serra Branca - Catuti-Pai Pedro/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................55
Figura 25: Chapa e rebordos - Gameleiras/MG. (Foto: Luiz Resende).....................56
Figura 26: Conjunto de serras - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende).......................56
Figura 27: Domo - Monte Azul/MG. (Foto: Luiz Resende).........................................57
Figura 28: Maciço rochoso Parque Estadual Serra Nova - Serranópolis de
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Minas/MG. (Foto: Luiz Resende)...............................................................................58
Figura 29: Domo - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)............................................59
Figura 30: Afloramento e matacões - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)..............60
Figura 31: Afloramento granito-gnáissico com veio de quartzito - Espinosa/MG.
(Foto: Luiz Resende).................................................................................................61
Figura 32: Lagoa em proprieadade - Riacho dos Machados/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................62
Figura 33: Abastecimento de água para criação de gado - Verdelândia/MG. (Foto:
Luiz Resende)............................................................................................................63
Figura 34: Cachoeira do Serrado no Parque Estadual Serra Nova - Porteirinha/MG.
(Foto: Luiz Resende).................................................................................................64
Figura 35: Campo de pastagem - Janaúba/MG. (Foto: Luiz Resende).....................66
Figura 36: Plantação de banana - Nova Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)........71
Figura 37: Plantio de cultura anual - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz
Resende)...................................................................................................................72
Figura 38: Ordenha manual em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo
Caires).......................................................................................................................77
Figura 39: Ordenha mecânica em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo
Caires).......................................................................................................................77
Figura 40: Teste da caneca - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)..........................78
Figura 41: Teste CMT em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
...................................................................................................................................78
Figura 42: Teste CMT - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)..................................79
Figura 43: Filtragem do leite - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires).........................80
Figura 44: Adição de coagulante - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)..................81
Figura 45: Mistura do leite e coagulante - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)......81
Figura 46: Corte da massa da coalhada - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)......82
Figura 47: Etapa de mexedura - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires).....................83
Figura 48: Colocação da massa em formas - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires).85
Figura 49: Primeira salga do queijo - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)..............86
Figura 50: Segunda salga do queijo - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires).............87
LISTA DE DIAGRAMAS
5
LISTA DE MAPAS
LISTA DE GRÁFICOS
Y
Gráfico 1: Tempo de coagulação do leite nas propriedades de Serra Geral, 2018.. .82
Gráfico 2: Materiais utilizados para realização do corte da coalhada, 2018..............84
LISTA DE TABELAS
Y
Tabela 1 - Municípios estudados.................................................................................7
Tabela 2 - Produto interno bruto, 2015........................................................................8
Tabela 3 - Rebanho e produção leiteira por município, 2017....................................13
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1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA SERRA GERAL
7
Entre 2000 e 2010, houve o aumento de 4,66% da população total dos
municípios. Já a população rural reduziu-se de 43,9% para 38,8%. Ainda assim, o
contingente rural dos municípios estudados é mais expressivo do que a média brasileira
15,6% e a estadual 14,78%. Em outras palavras, estamos tratando de uma região
expressivamente rural, sobretudo, levando em consideração a definição de Veiga (2002)
para municípios rurais, segundo a qual um município é considerado rural quando
apresenta população inferior a 50 mil habitantes e densidade demográfica inferior a 80
hab./km² Com exceção de Janaúba, todos esses municípios se enquadram nessa
categoria. No que tange ao IDHM, o avanço do ano 2000 para 2010 foi significativo.
Os dados do Produto Interno Bruto de 2015 revelam a estrutura de composição
dos setores econômicos dos municípios.
Tabela 2 - Produto interno bruto, 2015.
MUNICÍPIO AGRO. INDÚSTRIA SERVIÇOS ADM.PÚBLICA IMPOSTOS TOTAL
Catuti 3.638,34 1.907,06 8.198,81 20.908,12 877,52 35.529,85
Espinosa 12.447,05 26.544,49 99.630,87 106.957,22 16.120,15 261.699,77
Gameleira 5.218,61 1.090,44 9.412,64 20.443,93 1.266,30 37.431,91
Jaíba 120.531,98 61.276,82 130.476,60 124.276,36 33.524,31 470.086,07
Janaúba 41.060,65 106.874,20 485.847,59 255.899,64 82.574,07 972.256,14
Mamonas 2.710,32 1.409,31 10.492,01 23.822,22 1.299,41 39.733,28
Matias Cardoso 49.586 7.595 22.321 42.082 4.552 126.136
Mato Verde 4.832,87 9.096,40 42.335,46 43.547,55 3.752,53 103.564,82
Monte Azul 9.488,74 8.409,06 72.382,33 74.187,09 7.671,13 172.138,34
Montezuma 13.261 1.731 11.385 29.105 1.261 56.744
Nova Porteirinha 21.307,12 6.482,70 31.274,07 27.867,57 3.855,11 90.786,56
Pai Pedro 4.707,80 1.525,63 6.980,98 24.564,35 886,72 38.665,47
Porteirinha 28.585,98 20.361,41 113.065,34 124.357,52 14.007,66 300.377,91
Riacho dos
13.000,60 51.792,43 26.594,20 36.557,15 3.769,02 131.713,40
Machados
Serranópolis de
2.433,90 1.368,78 6.593,04 19.359,36 856,14 30.611,22
Minas
Santo Antônio do
5.180 1.873 10.682 28.025 1.055 46.815
Retiro
Verdelândia 19.731 4.026 15.592 31.552 2.974 73.874
2.988.163,7
TOTAL 357.721,96 313.363,73 1.103.263,94 1.033.512,08 180302,1
4
Fonte: Censo Demográfico, IBGE, 2000, 2010.
8
daquela região.
O processo de ocupação da Serra Geral, onde se inserem os municípios
estudados, está alicerçado sobre uma base econômica, que se constituiu como parte
da projeção da economia açucareira desenvolvida no litoral nordestino, por meio da
pecuária bovina de corte, do cultivo de algodão e da agricultura de subsistência.
Período em que o Norte de Minas pertencia às Capitanias de Pernambuco (margem
esquerda do rio São Francisco) e da Bahia (margem direita), e em que havia
disputas territoriais que diziam respeito a três grupos básicos, identificados por
Rodrigues (2000) como: os indígenas, ocupantes originais; os colonizadores
europeus, que enviaram exploradores pelo rio São Francisco, com objetivo de
adentrar o sertão, principalmente portugueses; e os africanos, trazidos à força para
trabalho escravo no século XVII.
A Serra Geral, também conhecida como Serra do Espinhaço, corta o Sertão
norte mineiro de sul a norte até as terras baianas. D'Angelis Filho, Dayrell (2006),
destaca que os registros de ocupação remontam ao século XVII, com a chegada dos
primeiros brancos, de negros fugidos da escravidão e de pelo menos três nações
indígenas (Catolé, Canacan e Dendy), que tiveram aí seus lugares de paragem ou
de correrias (Costa, 1997). Desenhos e inscrições rupestres, possivelmente da
tradição Itaparica, foram encontradas em muitas das grutas, sinalizando uma
ocupação dos Gerais, que remonta há 11.000 anos. Certamente a agricultura
geraizeira nasceu de uma mescla de influências da agricultura colonial branca,
indígena e negra, coevoluindo através dos séculos, carregando traços de sociedades
tão antigas quanto a dos caçadores coletores que viviam em ambientes dos
Cerrados.
Mata-Machado (1991) descreve a pecuária extensiva como a matriz
econômica das grandes fazendas introduzidas por bandeirantes baianos e paulistas,
que se estabeleceram com o uso da mão de obra escrava negra e indígena. A
produção era destinada ao abastecimento das populações dos engenhos, ao
mercado urbano no litoral nordestino e, posteriormente, aos núcleos de mineração
no interior do Estado. Paralelamente, pequenos proprietários, posseiros e agregados
espalhados pelo Sertão também se constituíram como um todo econômico, pela
produção coletiva assentada nas relações de parentesco, vizinhança e compadrio,
que viabilizou uma agricultura diversificada e extrativista, associada à criação de
gado na “solta”. Nesse contexto, o sistema de produção econômica e as
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configurações sociais existentes contribuíram para as primeiras ocupações, que se
constituíram nas cidades de Januária, Matias Cardoso, Itacarambi e São João das
Missões.
Entretanto, a partir do século XIX, esse sistema de organização sofreu
alterações, que se estenderam até a metade do século XX, devido à solicitação de
novos produtos pelo mercado internacional, como o algodão e o couro, propiciando a
ampliação das vias de acesso à região e a expansão demográfica. Será a partir da
década de 19404 e principalmente nos anos 60/70 que a intervenção estatal na
região introduz políticas desenvolvimentistas, de base capitalista, promovendo a
modernização do campo e a industrialização em alguns municípios. Transformação
que redefine um quadro econômico, que se produz através de quatro eixos
principais: a) reflorestamento de eucalipto e pinhos em diversos municípios, b)
implantação de grandes projetos agropecuários, c) instalação de indústrias em
alguns municípios e d) implantação de perímetros de agricultura irrigação, de forma
concentrada. (Oliveira et al:2000, p.107)
De acordo com Dayrell (2000), inúmeros proprietários rurais acessaram
subsidiados para “modernizarem” suas fazendas; o processo promoveu a retirada de
muitos que moravam na condição de agregados e posseiros. O processo de retirada,
em muitos casos, se deu de forma violenta. Em meados de década de 1970, ocorreu
a chegada das empresas de reflorestamento, como a implantação de grandes
projetos florestais na região das chapadas. Para o governo estadual e federal, os
projetos vinham preencher os “vazios” econômicos e demográficos, uma maneira de
ocupar terras pouco apropriadas para explorações agrícolas e pastoris. Com grande
disponibilidade de recursos financeiros, facilidades fiscais e acesso gratuito às terras
dos gerais, os projetos governamentais foram generosos com as grandes empresas
de reflorestamento.
Nesse contexto, a intervenção estatal se fez, principalmente, por meio de
instituições, como: a Superintendência de desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a
Companhia para o Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco (Codevasf)5,
4 De acordo com Filho (2003), a partir da década de 40, formou-se uma infraestrutura energética em Minas Gerais, criando um
amplo parque siderúrgico, que se tornou o maior consumidor de carvão vegetal no processo de beneficiamento do minério de
ferro e deu início a um processo de exploração sem critérios racionais dos recursos vegetacionais. É nesse mesmo período que
se iniciou o “reflorestamento” no Estado, introduzindo a monocultura de Pínus e Eucalipto para abastecer essas indústrias, e
que na década de 70 e 80 foi nomeado de “florestas energéticas”.
5 De acordo com Oliveira ET AL (2000), enquanto a Sudene se encarregou do desenvolvimento da região Nordeste do Brasil
(aí incluindo o “Polígono das Secas”), a Codevasf, articulada com a Sudene, ocupava-se do desenvolvimento econômico da
bacia hidrográfica do rio São Francisco.
10
entre outras, trazendo mudanças substanciais na estrutura produtiva regional, uma
vez que não ocorreu de forma homogênea, variando de intensidade em alguns
municípios e microrregiões, além de privilegiar o segmento empresarial.
Fundamentadas por uma lógica mercantil, essas políticas promoveram a vinculação
da região ao mercado externo, por incentivos fiscais, alterando as dinâmicas sociais
e a lógica produtiva vigente. O resultado foi a expropriação dos agricultores de seu
território, a degradação dos recursos naturais e o aumento da concentração fundiária
em toda região.
De acordo com D’Angelis Filho, Dayrell (2006), até anos recentes, os
geraizeiros desciam a Serra com objetivos de trocar e vender seus produtos nos
mercados de Salinas, Porteirinha, Mato Verde e Monte Azul, baseados num
complexo manejo da biodiversidade de ambientes e da biota que compõem os
Gerais. Essas populações tiveram importância fundamental no desenvolvimento e na
manutenção dos mercados desde o período colonial, na medida em que víveres
oriundos dos Gerais compunham o rol de produtos, tais como: rapadura, farinha de
mandioca, goma, aguardente, arroz e os mais diversos feijões, além de muitos tipos
de frutos. Contudo, a chegada da década de 1970 desencadeou uma brusca
mudança na paisagem do Sertão, desarticulando a grande parte dos sistemas
culturais de produção.
Ao serem encurralados nas grotas e expropriados dos territórios que ocupavam
por séculos, essas populações se viram obrigadas a alterar as estratégias de
sobrevivência, resistindo na localidade ou migrando definitivamente para vilas e
favelas dos centros urbanos. Uma pequena parte que resistiu passou a viver
somente das grotas, já que os tabuleiros e chapadas, de onde tiravam lenha,
madeira, plantas medicinais e frutas e colocavam seus animais para pastar, de
forma coletiva, foram expropriados e tomados de assalto pela monocultura do
eucalipto. (D'ANGELIS FILHO; DAYRELL:2006)
Desta forma, segundo D’Angelis Filho; Dayrell (2006), centenas de famílias
deixaram de descer a Serra em direção aos mercados, onde vendiam ou trocavam
seus produtos culturais, para se venderem como força de trabalho em condições
degradantes, muitas vezes privados até mesmo da liberdade, configurando-se como
escravos em pleno século XX, numa servidão imposta para viabilizar os planos da
modernidade, que demandavam o aço, a celulose, o açúcar e o álcool.
Situada entre a Serra do Espinhaço e o rio São Francisco, a Serra Geral
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apresenta duas dinâmicas de produção agrícola: uma lavoura de agricultura familiar,
que se consorcia com a criação de gado e de pequenos animais, e lavouras
irrigadas, destinadas à fruticultura, à produção de cana-de-açúcar para etanol e
grãos, especialmente, nos projetos Jaíba e Gorutuba. Destaque também é dado à
pecuária bovina, também, praticada pelas agriculturas familiar e não familiar. Se na
primeira há o consórcio entre pecuária e produção de alimentos, na segunda é
comum a existência de extensas fazendas dedicadas, exclusivamente, à
bovinocultura. (BARBOSA et al, 2013)
Neste contexto, têm relevância os seguintes municípios: do lado do rio São
Francisco e dos rios Verde Grande e Gorutuba – Jaíba, Janaúba e Nova Porteirinha;
e do lado da Serra do Espinhaço – Porteirinha, Mato Verde, Monte Azul, Espinosa,
Pai Pedro, Serranópolis de Minas, Riacho dos Machados, Mamonas, Catuti e
Gameleiras.
A Serra Geral é interligada por várias rodovias, dentre as quais se destacam a
MG–122 e a MG–401, interligando o Norte de Minas à Bahia, sendo ambas
pavimentadas. A região também é cortada por uma série de estradas vicinais, não
pavimentadas. Em relação aos recursos hídricos, três importantes rios cortam a
região: o rio Gorutuba, o rio Verde Grande e o rio São Francisco. De maneira geral, o
clima da região pode ser dividido em dois regimes distintos, inverno e verão. O
inverno é caracterizado pela ausência de chuvas, devido, principalmente, à retração
da massa equatorial continental. Desta forma, a massa tropical atlântica apresenta
maior poder de penetração, fato que dificulta a ocorrência de precipitações, devido
ao deslocamento da umidade para alturas maiores, por consequência, provoca
grandes instabilidades. Já o verão é caracterizado por ocorrência de precipitações
provocadas pela massa equatorial continental, em geral, marcado por chuvas
intensas, acompanhadas de trovoadas e mal distribuídas, variando de 750mm a
1.250mm, situação que leva ao acúmulo de déficit hídrico bastante significativo ao
longo do ano e que caracteriza a região como predominantemente semiárida.
(PTDRS, 2018)
Segundo levantamento de BARBOSA et al (2013), nos anos 1990, o Norte de
Minas Gerais foi o principal produtor estadual de algodão, com área plantada de
104.592 hectares, representando 80,4% do total de área plantada no Estado.
Somente os municípios de Porteirinha, Mato Verde, Monte Azul e Espinosa
plantavam, nesse período, 76.400 hectares, representando 73% da área plantada na
12
mesorregião Norte de Minas e 59% de todo o Estado. Por abrigar grande área
plantada e um complexo de galpões de usinas beneficiadoras de algodão, o
município de Porteirinha–MG era regionalmente tratado como a capital nacional
daquele produto. Entretanto, entre os anos 1990 e 2000, o plantio do algodão foi
diminuindo drasticamente no Estado de Minas Gerais, na região Norte de Minas e
nos principais municípios produtores da Serra Geral. As extensas áreas antes
destinadas à monocultura do algodoeiro, com grandes níveis de compactação e de
erosão de solos, deveriam ser destinadas, desde então, às lavouras de alimentos e à
criação de gado. Constitui-se, na Serra Geral, uma importante produção leiteira,
destinada ao processamento artesanal de queijos, requeijões e doces.
A pecuária, a agricultura irrigada e agricultura familiar são as bases da
economia do produtor rural da região. O rebanho bovino da Serra Geral representa
14% do total da mesorregião Norte de Minas Gerais, com 355.519 cabeças de gado.
O Norte de Minas possuía, em 2016, o terceiro maior rebanho do Estado, com
2.471.358 cabeças de gado, ou seja, 10,4% do total. (IBGE, 2016)
Os municípios de Janaúba, Jaíba e Nova Porteirinha abrigam projetos de
agricultura/fruticultura irrigada, com destaque para o projeto Jaíba, nos municípios de
Jaíba, mas também o projeto Gorutuba, nos municípios Janaúba e Nova Porteirinha.
Os dois projetos objetivam irrigar mais de 110 mil hectares. Os principais cultivos são
banana e cana-de-açúcar. Há, em menor escala, cultivos de limão, manga, café,
feijão, milho, dentre outros.
A agricultura familiar nos municípios estudados representa 83,78% dos
estabelecimentos rurais e ocupa 33,97% da área dos estabelecimentos rurais. Já a
agricultura patronal ou não familiar, por sua vez, representa 16,22% dos
estabelecimentos rurais e ocupa 66,33% da área destes. A área média dos
estabelecimentos da agricultura familiar na região é de 20,7 hectares e dos
estabelecimentos não familiares é de 211 hectares.
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08 Montezuma 510 510
09 Mato Verde 2.360 2.776
10 Monte Azul 4579 4250
11 Nova Porteirinha 550 950
12 Pai Pedro 3875 3086
13 Porteirinha 11.000 11.000
14 Riacho dos Machados 520 570
15 Santo Antonio do Retiro 145 110
16 Verdelandia 1130 2200
17 Serranópolis de Minas 650 650
46.521 54,6 milhões
Fonte: EMATER-MG
O queijo artesanal de leite bovino faz parte da história mineira há mais de três
séculos, desde que foi trazido por imigrantes portugueses. No Norte de Minas, a
pecuária firmou suas bases ainda em meados do século XVII, formando currais de
gado, que se estendiam das margens do Vale do rio São Francisco, penetrando o
interior do Sertão, sobretudo a leste do rio, até o “pé” da Serra do Espinhaço,
também conhecida como Serra Geral (COSTA FILHO, 2008). Tudo isto antes da
descoberta do ouro que atraiu grandes contingentes populacionais para o centro de
Minas Gerais e que, por isto mesmo, forjou a especialização norte mineira como
região fornecedora de gêneros alimentícios para as minas.
Com o declínio da mineração, a reorganização social e econômica coloca a
pecuária em evidência novamente, e o Queijo Minas Artesanal, especialmente o
queijo produzido nas bordas das minas, ganha desde então lugar na sustentação
econômica e social das famílias rurais mineiras (SHIKI, WILKINSON, 2016). No
Norte de Minas, o queijo artesanal se manteve mesmo após a atividade pecuária
dividir espaço com fortes processos agrícolas de especialização produtiva, que
dominaram a região e suas fronteiras, como, por exemplo, a atividade algodoeira,
estabelecida fortemente na região da Serra Geral em Minas, chegando a assumir
contornos da grande lavoura do período colonial, tão representativo quanto a cana-
14
de-açúcar, de traço essencialmente agroexportador, no contexto da revolução
industrial inglesa, quando o produto norte mineiro passa a ser demandado pelo
mercado europeu. (PRADO-JUNIOR, 1999)
Mesmo após esse período do “boom algodoeiro” no mercado externo, a atividade se
manteve pujante até a penúltima década do século XX. Apesar disso, no campo
norte mineiro sempre imperou a vocação para a oferta da carne bovina, do queijo e
de outros derivados do leite, os quais assumiram importante papel na reprodução
econômica das famílias agricultoras da região.
O Estado de Minas Gerais reconhece institucionalmente sete microrregiões
produtoras do Queijo Minas Artesanal. O queijo da Serra Geral, do Norte de Minas,
ainda não figura entre essas regiões, mas pela tradição em seu modo de produção,
aliada às especificidades dessa microrregião, poderá vir a ser reconhecido e
integrado a essa categoria de produtos com valor agregado, conforme os padrões
expressos pelo Programa Queijo Minas Artesanal–QMA
SEAPA/EMATER/IMA/EPAMIIG.
Dentro do que justificaria a inclusão do queijo da Serra Geral como região
produtora de Queijo Artesanal, a Serra do Espinhaço opera como elemento que
configura ao produto os atributos para a Indicação Geográfica (IG). Na verdade, a
Serra do Espinhaço constitui uma cadeia montanhosa localizada no planalto
Atlântico, estendendo-se pelos Estados de Minas Gerais e da Bahia, e nesta porção
do Norte de Minas é conhecida como Serra Geral. Dada a sua altitude, destaca-se
na paisagem regional com exuberante beleza visual, sobretudo pela interferência
que exerce nas condições edafoclimáticas da região, tecendo influências sobre a
temperatura, regime de chuvas, recursos hidrológicos e minerários, configurando um
mosaico paisagístico, permeado por fontes de água, cachoeiras, serras, vales de
rios, grutas e águas termais.
Por tais características, este ambiente natural exerceu importância histórica
no processo de povoamento e ocupação da região, quer em função da busca por
metais preciosos, quer pela procura por água para criar rebanhos, conforme
apresentado anteriormente. Essa gente foi responsável pela formação de um rico
patrimônio imaterial da cultura local expresso pelo queijo da Serra Geral, junto com
uma diversidade de produtos que compõem a gastronomia regional, com alguma
influência dos produtos do altiplano Serra Geral, como: a rapadura da cana-de-
açúcar, o requeijão, as quitandas, diferentes doces e a cachaça.
15
Com efeito, a região da Serra Geral conciliou historicamente pelo menos duas
atividades principais: pecuária e algodoeira. Costa Filho (2008) expressa que a
melhor denominação do setor agrário nesta porção do Norte de Minas é a de
Nordeste algodoeiro–pecuário, com predomínio da agropecuária.
Na década de 1990, com a produção algodoeira em crise e tendo como
referência o papel histórico da produção de queijo na Serra Geral, o governo federal
estimulou a formação de associações de agricultores familiares voltadas para a
atividade leiteira, especialmente com foco na produção do queijo. A medida
provocou maior dinamismo na paisagem, antes ocupada pelo algodão, e reorientou
os meios de vida dos agricultores e as atividades desenvolvidas, visando a
especialização em sua reprodução socioeconômica. O incentivo foi a alavanca para
que inúmeros agricultores da Serra Geral se organizassem em associações coletivas
ou individualmente em torno de pequenas fabriquetas de queijos e queijarias
maiores, promovendo maior dinamismo na economia regional.
No final da mesma década, considerando as dificuldades das restrições
comerciais, por falta de registro dos estabelecimentos produtores de queijo, o
governo federal estimulou a criação de outro modelo de organização formal coletiva,
a cooperativa de produção, para que fosse estruturado um laticínio com a articulação
dos vários grupos de agricultores familiares. Cooperativas criadas (dentre outros,
destaque para a Cooperativa CRESCER, no município de Porteirinha, e a
Cooperativa CRISTAL, no município de Riacho dos Machados). No entanto, as
dificuldades permaneceram em função dos exigentes parâmetros físico-químicos e
microbiológicos exigidos pela legislação sanitária que regulamenta este tipo de
estabelecimento. Muitos agricultores mantiveram a atividade na clandestinidade, o
que se justifica pelos altos custos dos investimentos em infraestrutura, controle de
qualidade da matéria-prima e sanidade animal, entre outros.
Assim, na esteira dos processos de reconhecimento do Programa Queijo
Minas Artesanal–QMA, o queijo da Serra Geral reivindica sua condição de queijo
artesanal, por seus marcadores de origem e modo de fazer típico da região da Serra
Geral. Ao mesmo tempo, este guarda certa semelhança com os procedimentos de
fabricação das regiões já reconhecidas pelo elemento do modo de fazer utilizando o
leite cru, além de sua interação com a cultura alimentar da população local. Outro
traço do produto da Serra Geral constitui a maior oferta do queijo fresco ou meia
cura, mais adaptado às condições de produção no clima do semiárido, de grande
16
aceitação pelos consumidores, não só os mineiros, mas também de Estados como
São Paulo, para onde seguem carregamentos periodicamente.
Com efeito, esse constitui um dos principais elementos para que o fabricante
do queijo artesanal da Serra Geral busque o reconhecimento na condição de produto
artesanal, a fim de que este seja inserido na legislação específica dos Queijos
Artesanais, que permitirá aos produtores o acesso ao mercado formal. Além de que,
há ainda a agregação de valor ao produto, por meio de selos de garantia de
qualidade nos moldes de como ocorreu na Canastra, no Serro e em outras, em que
uma reestruturação dos padrões de qualidade é baseada também em impactos
ambientais e social, valorizando as relações de confiança e tradição, com métodos
artesanais e de vínculos territoriais. (SHIKI, WILKINSON, 2016)
Já há em torno do queijo da Serra Geral o que pode ser compreendido como
um “movimento social em prol do queijo artesanal de leite cru” (SHIKI, WILKINSON,
2016), lembrando a rede de apoio mobilizada em prol do reconhecimento do Queijo
Minas Artesanal da Canastra e do Serro. Uma expressão disso é o envolvimento dos
chefes de cozinha, mobilizados por entidades de apoio à agricultura familiar, com
atuação na região da Serra Geral, que passaram a inserir o queijo da Serra Geral em
suas receitas, como forma de promoção do produto em seus espaços gourmet e
eventos de grande público, destaque para a Feira da Agriminas.
Este documento, portanto, constitui o primeiro passo de um processo em
curso, assim como ocorreu em outras regiões com QMA já reconhecidos, de
realização de ações de caracterização da região e sensibilização dos produtores
sobre o interesse de promoção de seus produtos, melhoria da qualidade sanitária
dos produtos e, principalmente, uma porta de saída destes da clandestinidade.
2 – APRESENTAÇÃO
17
pelo Instituto Mineiro de Agropecuária–IMA e pela Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Estado de Minas Gerais–Epamig.
O mapa do queijo artesanal em Minas Gerais traz as regiões reconhecidas
como produtoras de queijo artesanal, sendo que as regiões Canastra, Serro,
Campos das Vertentes, Triângulo Mineiro, Salitre, Cerrado e Araxá são reconhecidas
como produtoras do Queijo Minas Artesanal – QMA, e as demais regiões, outros
tipos de queijo, também produzidos a partir de leite cru.
18
tornaram-se, secundariamente, agricultores.
Seguindo a mesma tendência do leite, a fabricação de queijos em Minas
Gerais também é responsável por manter o Brasil no posto do 6º maior produtor de
queijo do mundo, com cerca de 220 mil toneladas ao ano. Pouco mais da metade de
todo queijo consumido em solo nacional vem de Minas Gerais, contribuindo com o
crescimento da economia no Estado e com a permanência do agricultor no campo,
fator de caráter sociocultural de grande relevância.
Parte dessa produção de queijo vem de, aproximadamente, 9 mil famílias
produtoras do “Queijo Minas Artesanal” – QMA. Enquanto produto tradicional
proveniente, principalmente, da agricultura familiar, o QMA é típico exemplo de
produto com condições de ocupar maiores espaços no mercado local e nacional,
beneficiando-se de uma maior agregação de valor aos produtos e serviços
relacionados. Considerando a necessidade de produzir com sustentabilidade e as
novas demandas que valorizam não só os produtos em si, mas toda uma simbologia
cultural e territorial agregada a este, o QMA apresenta-se com forte potencialidade e
constitui uma alternativa de vida digna no campo para as famílias produtoras.
A produção do Queijo Minas Artesanal no Estado de Minas Gerais se manteve
não apenas pelo apego às tradições, mas devido ao isolamento das propriedades
produtoras, o que contribui para a preservação do produto com características
próprias e de imenso valor cultural e econômico.
Esta lei foi de real valor e significado para a produção queijeira artesanal no
Estado de Minas Gerais. Entre tantas medidas importantes, estão a identificação,
caracterização da região e sua tradição histórica e cultural na atividade. A partir
desta lei, as outras regiões, também produtoras de queijos artesanais, viram a
possibilidade da legalização de seus queijos.
19
O Estado tem como propósito ampliar as regiões caracterizadas com
processos de fabricação de queijos artesanais, com os objetivos de: conhecer os
processos de produção artesanal; identificar os gargalos e as potencialidades;
aumentar a cobertura do serviço de inspeção e de assistência técnica aos
produtores de queijo; orientar os processos de regularização sanitária das queijarias;
orientar a melhoria da qualidade dos produtos e a inserção nos mercados e apoiar a
organização dos produtores.
O Governo do Estado encaminhou à Assembleia o Projeto de Lei P. L.
4.631/17, que propõe modernizar a legislação e facilitar a certificação e
comercialização do produto no Estado. O projeto de lei em questão visa modernizar
a legislação e o processo de produção, facilitando assim a certificação e
comercialização do queijo artesanal mineiro, além de apresentar estratégias de
incentivo, como a qualificação técnica dos produtores de queijo. O PL abre espaço
para regulamentação de todos os tipos de queijos artesanais, incluindo os que são
elaborados com leite de outras espécies, como cabra, ovelha e búfala, assim como
os queijos artesanais da Mantiqueira, Alagoa, Requeijão Moreno, Cabacinha,
Suaçuí, entre outros.
Além desse projeto de lei estadual, existe o PL 8642/17, federal, que dispõe
sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos agroindustriais artesanais e o
comércio entre os estados, tramitando na Câmara dos Deputados e no Senado.
20
Mapa 2: Localização dos municípios estudados na Serra Geral do Norte de Minas Gerais.
21
neste Estudo de Caracterização é composta dos municípios de Catuti, Espinosa,
Gameleiras, Jaíba, Janaúba, Mamonas, Matias Cardoso, Mato Verde, Monte Azul,
Nova Porteirinha, Pai Pedro, Porteirinha, Riacho dos Machados, Serranópolis de
Minas e Verdelândia, Montezuma e Santo Antônio do Retiro. Tais municípios foram
objetos de levantamento de dados e visita técnica para o trabalho de caracterização
do presente estudo. (Mapa 3)
22
Mapa 4: Bacias hidrográficas da região e municípios nelas inseridos.
23
Unidades de paisagem, suas potencialidades, limitações, usos/ocupações atuais e
situações ambientais, com posteriores visitas às propriedades produtoras de leite e
queijo.
2 – OBJETIVOS
2.1 – GERAL
24
2.2 – ESPECÍFICOS
3 – METODOLOGIA
25
Estudo preliminar da Elaboração de roteiro
Visita à campo e
região e delimitação de coleta de dados
coleta de dados
da área alvo para análise
Análise do material ob do e
Confecção do
caracterização das Unidades de
presente relatório
Paisagem da região em estudo*
3.1 – FUNDAMENTOS
26
Diagrama 2: Manejo de ecossistemas integrado para sustentabilidade.
3.2 – PROCEDIMENTOS
27
Diagrama 3: Metodologia de caracterização de unidades de paisagem.
28
Trabalho de campo com registro fotográfico e georreferenciamento das
Unidades de Paisagem.
29
Mapa 7: Classes e sub-classes de solos na região estudada.
30
Mapa 8: Padrão de elevação da região estudada.
31
Mapa 9: Rede de drenagem dos municípios de Serra Geral.
32
Mapa 10: Pontos de fotografia realizados entre dias 12 e 18 de março de 2018.
33
.1 – UNIDADES DE PAISAGEM
Figura 1: Terraço fluvial coberto por pastagem - Janaúba/MG. (Foto: Luiz Resende)
34
Figura 2: Terraço com pastagem ao fundo e plantio em primeiro plano - Jaíba/MG. (Foto: Luiz
Resende)
Estes também podem ser formados por Neossolos Quartzarênicos, como visto
na região do município de Jaíba. Estes solos são pouco evoluídos, alumínicos e
distróficos, apresentam textura arenosa e têm relativa limitação quanto à sua
capacidade em armazenar água.
35
Figura 3: Terraço com pastagem e vegetação - Gameleiras/MG. (Foto: Luiz Resende)
36
Figura 4: Terraço com cultivo - Catuti/MG. (Foto: Luiz Resende)
Figura 5: Terraço com cultura de milho e criação de animais - Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)
37
Figura 6: Terraço arado com plantio de banana ao fundo - Nova Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)
38
Figura 7: Rampa - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)
39
Figura 8: Rampa - Montezuma/MG. (Foto: Luiz Resende)
40
Figura 9: Rampa com pastagem - Pai Pedro/MG. (Foto: Luiz Resende)
41
Figura 10: Rampa vegetada - Riacho dos Machados/MG. (Foto: Luiz Resende)
42
Figura 11: Superfície ondulada - Monte Azul/MG. (Foto: Luiz Resende)
43
Figura 12: Superfícies onduladas - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz Resende)
44
Figura 13: Colina de topo alongado - Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)
Quando sob vegetação nativa de Mata Atlântica, tais unidades devem ser, por
lei, preservadas. Contudo, podem ser utilizadas para fruticultura arbórea e silvicultura
quando da ausência de vegetação nativa.
45
Figura 14: Colina de topo alongado ao fundo - Matias Cardoso/MG. (Foto: Luiz Resende)
46
Figura 15: Vertente côncava em anfiteatro - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz Resende)
47
Figura 16: Vertente côncava em anfiteatro aberto - Verdelândia/MG. (Foto: Luiz Resende)
48
Figura 17: Colina de topo convexo - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)
49
Figura 18: Vertente convexa - Mato Verde/MG. (Foto: Luiz Resende)
50
Figura 19: Vertente convexa arredondada - Santo Antônio do Retiro/MG. (Foto: Luiz Resende)
51
Figura 20: Série de vertentes ravinadas - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)
52
Figura 21: Vertentes ravinadas - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)
53
Figura 22: Planície fluvial inundada do Rio Verde Grande - Verdelândia/MG. (Foto: Luiz Resende)
54
Figura 23: Planície fluvial alagada do Rio São Francisco - Matias Cardoso/MG. (Foto: Luiz Resende)
55
Figura 24: Planície inundada do Rio Serra Branca - Catuti-Pai Pedro/MG. (Foto: Luiz Resende)
56
Figura 25: Chapa e rebordos - Gameleiras/MG. (Foto: Luiz Resende)
57
Figura 26: Conjunto de serras - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)
4.1.10 – DOMOS
58
Figura 27: Domo - Monte Azul/MG. (Foto: Luiz Resende)
Embora esta unidade seja pontual nesta região, ainda apresenta grande
importância turística regional – Parque Estadual Serra Nova.
59
Figura 28: Maciço rochoso Parque Estadual Serra Nova - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz
Resende)
60
Figura 29: Domo - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)
61
Figura 30: Afloramento e matacões - Mamonas/MG. (Foto: Luiz Resende)
62
Figura 31: Afloramento granito-gnáissico com veio de quartzito - Espinosa/MG. (Foto: Luiz Resende)
63
As fraturas (diaclases) constituem reservas de aquíferos em meio fraturado,
provenientes das águas pluviais que percolam e são armazenadas nas mesmas.
As cotas mais baixas das paisagens são ocupadas por lagos e lagoas,
naturais ou artificiais, que são denominados ambientes lênticos, ou seja, solos
submersos.
Figura 32: Lagoa em proprieadade - Riacho dos Machados/MG. (Foto: Luiz Resende)
64
Figura 33: Abastecimento de água para criação de gado - Verdelândia/MG. (Foto: Luiz Resende)
65
Figura 34: Cachoeira do Serrado no Parque Estadual Serra Nova - Porteirinha/MG. (Foto: Luiz
Resende)
66
rural e gastronômica no qual o Queijo Artesanal da Serra Geral tem papel relevante.
4.2.1 – PASTAGEM
67
Figura 35: Campo de pastagem - Janaúba/MG. (Foto: Luiz Resende)
68
4.2.2 – VEGETAÇÃO
4.2.2.1 - FLORESTA
69
principais biomas de Minas Gerais – Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica – como
pode ser visto no mapa a seguir. (Mapa 13).
70
Mapa 14: Remanescentes de Mata Atlântica.
4.2.2.2 - CERRADO
71
Mapa 15: Unidades de preservação ambiental na região estudada.
4.2.3 – PLANTAÇÕES
72
Figura 36: Plantação de banana - Nova Porteirinha/MG. (Foto: Luiz Resende)
73
Figura 37: Plantio de cultura anual - Serranópolis de Minas/MG. (Foto: Luiz Resende)
4.3 – CLIMA
4.3.1 – TEMPERATURA
74
menos um mês (subquente) e semiúmida metade do ano.
4.3.2 – UMIDADE
75
Mapa 17: Índices de umidade na região.
5 – LEVANTAMENTO SOCIOECONÔMICO
76
pastagem, seguida por Braquiária, com 18,4% de cobertura, Andropogon, com 3,1%,
e os 16,3% restantes, baseados em outras pastagens, como colonião e urochloa. A
silagem é utilizada no período de seca, sendo a principal cultura o sorgo, e, em
poucas propriedades, observaram-se outros alimentos, como a torta de algodão,
fubá, ração e a palma forrageira. O fornecimento de concentrado foi verificado em
91% das propriedades, e o de sal mineral, nos 9% restantes.
A água utilizada nas queijarias, para ser aplicada nas práticas higiênicas, em
56,6% das propriedades é proveniente de poço artesiano, em 38,1% provém de rede
pública, em 18,6% de nascentes, em 0,9% de cisternas e em 0,9% de açudes, sendo
que, somente em 15,8% das propriedades, a água é filtrada, e, em 33,6%, a água é
clorada.
77
Neste levantamento, foi constatado que a fabricação e comercialização do
queijo representa única fonte de renda para o sustento de 78,5% das famílias
entrevistadas, e, para as 21,5% restantes, representa o complemento da renda
familiar.
Durante a produção do leite, é preciso estar atento a vários fatores, tais como:
saúde do animal, higiene do local de ordenha e do ordenhador, limpeza dos
materiais e utensílios e o bom acondicionamento e transporte do leite. Todos esses
fatores definem os níveis de qualidade dos queijos a serem elaborados, respeitando
a legislação vigente.
5.2.1 – ORDENHA
78
A ordenha é uma das tarefas mais importantes em uma propriedade leiteira,
pois é o momento em que o produtor obtém o principal produto de sua atividade: o
leite. Uma ordenha correta é essencial para se obter um leite de qualidade. A partir
dos dados levantados, quanto ao nível tecnológico adotado nas unidades de
produção leiteira para o sistema de ordenha, observou-se que, em 78% das
propriedades, o sistema de ordenha empregado é o manual, e, em 22% delas, a
tarefa é realizada mecanicamente.
Figura 38: Ordenha manual em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
79
Figura 39: Ordenha mecânica em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
80
Figura 41: Teste CMT em propriedade leiteira - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
81
5.2.2 – FILTRAGEM
5.2.3 – COAGULAÇÃO
82
do fabricante. Então, inicia-se o processo de coagulação, que é a próxima etapa a
ser seguida na elaboração dos queijos.
83
a seguir.
67,5%
14,2%
10,0% 8,3%
Fonte: EMATER-MG
84
Em seguida, inicia-se a mexedura, que é a agitação dos cubos da coalhada e
do soro, cuja finalidade é aumentar a expulsão do soro retirado do interior dos grãos.
Na medida em que avança o período de mexedura, os grãos diminuem de volume,
sua densidade aumenta, e tendem a se soltar devido à perda gradativa de soro.
Nessa etapa, pode-se observar grande variação do tempo de mexedura da massa
entre as queijarias. Após esse tempo, retira-se parte do soro e se acrescenta a
mesma quantidade de água quente para que a massa atinja uma temperatura de
aproximadamente 40°C em relação ao soro retirado. Pode-se observar também uma
variação do volume de soro retirado entre as queijarias. Após a adição da água
quente, reinicia-se a mexedura até a massa atingir o ponto.
85
Gráfico 2: Materiais utilizados para realização do corte da coalhada, 2018.
Pá polietileno 5,6%
Mão 14,4%
Lira 30,4%
Fonte: EMATER-MG
5.2.5 – ENFORMAGEM
86
Figura 48: Colocação da massa em formas - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
87
Figura 49: Primeira salga do queijo - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
Após a salga ser feita em um dos lados, os queijos são virados ou tombados e
é realizada a salga do outro lado do queijo, por um período também muito variado
entre as queijarias. Pode-se observar uma variação sendo de alguns minutos em
algumas queijarias e de mais de 6 horas de salga em outras.
Finalizando-se esta etapa do processo, os queijos são lavados e enviados
para refrigeração, onde ficam armazenados até o momento de serem embalados e
distribuídos.
88
Figura 50: Segunda salga do queijo - Porteirinha/MG. (Foto: Diogo Caires)
Obs.: A salga predominante dos Queijos Artesanais da Serra Geral é a salga a seco,
estando presente em 86% das queijarias, sendo que em 14% delas se utiliza a salga
na massa e no leite.
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
possibilidades de intensificação de agregação de valores através da produção de
Queijo Artesanal, apresentam condições extremamente favoráveis à produção do
mesmo, o que leva à necessidade urgente do reconhecimento desta região como
produtora de queijo artesanal, pois o produto traz reflexos positivos na economia
regional e agregação de valor ao mesmo, para que estes sejam produzidos e
comercializados em conformidade com as regulamentações vigentes.
Ainda, os resultados obtidos dos questionários aplicados constataram que nas
queijarias visitadas existem variações no processo de fabricação do Queijo Artesanal
da Serra Geral, demonstrando a necessidade intensificar a assistência técnica e
capacitação dos produtores da região para padronização da forma de fabricação
desse queijo.
Diante da realidade encontrada na região da Serra Geral, acredita-se que há
necessidade de se investir em formação técnica dos produtores, por meio de
treinamento e também o suporte técnico para o melhoramento das condições de
produção e suporte à criação dos animais. Além disso, a adequação das instalações
da sala de ordenha, das queijarias e do processo de fabricação do Queijo Artesanal
da Serra Geral devem atender a uma regulamentação de produção e
comercialização, sendo isso uma forma de melhorar o produto e minimizar os riscos
de impactos negativos ao consumidor.
Faz-se ainda importante salientar o potencial turístico da região, nas
modalidades de Ecoturismo e Turismo Rural, sendo possível a inclusão da produção
do Queijo Artesanal neste contexto, nos roteiros turístico e gastronômico. O número
de parques estaduais na região, com destaque o Parque Estadual de Serra Nova,
principal atração turística, além da presença de inúmeras cachoeiras e quedas
d’águas presentes na região, pode contribuir para o crescimento tanto da
comercialização do queijo da região e como para o aumento do fluxo de turistas nos
municípios da região, gerando renda e desenvolvimento.
90
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
91
2012;
92
Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) – Território da
Cidadania Serra Geral. Disponível em:
http://sit.mda.gov.br/download/ptdrs/ptdrs_qua_territorio079.pdf. Acesso: 21/04/2018.
SHIKI, Simone Faria Narciso, WILKINSON, John (2016). Movimentos em torno dos
queijos artesanais de origem: o caso da Canastra e do Serro. In: WILKINSON, John,
NIEDERLE, Paulo André, MASCARENHAS, Gilberto Carlos Cerqueira. (orgs). O
Sabor da Origem. Ed. Escritos do Brasil, Porto Alegre.
VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias. O Brasil é menos urbano do que se
calcula. Campinas: Editora Autores Associados, 2002.
ZEFERINO, E. S. et al. Qualidade do Leite Produzido no Semiárido de Minas
Gerais. p. 54-60. Revista de Ciências Agroveterinárias: Lages, Vol. 16, 2017.
93
FICHA TÉCNICA
94
Thales Rodrigo do Carmo Pinto – Geógrafo CREA-MG 113284/D
COLABORADORES
Rômulo Soares Barbosa – UEMG Montes Claros
Daniel Coelho de Oliveira – UEMG Montes Claros
Fábio Dias dos Santos – CPDA/UFRRJ
PARCEIROS
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA
ELABORAÇÃO
Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Estado de Minas Gerais
EMATER-MG
Av. Raja Gabaglia, nº 1.626. Bairro Gutierrez – Belo Horizonte/MG
www.emater.mg.gov.br
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