A Documentação Pedagógica Como Mote para A Formação de Professores - o Caso de Uma Escola Participante Do OBECI
A Documentação Pedagógica Como Mote para A Formação de Professores - o Caso de Uma Escola Participante Do OBECI
A Documentação Pedagógica Como Mote para A Formação de Professores - o Caso de Uma Escola Participante Do OBECI
RESUMO ABSTRACT
O presente texto tem como proposta compartilhar o This paper aims to share the work that the Centre
trabalho que o Observatório da Cultura Infantil - for Children's Culture - OBECI has developed with a
OBECI vem desenvolvendo junto a um grupo de group of Early Childhood Education. The focus is to
escolas de educação infantil. O foco é evidenciar a highlight the perspective adopted by this
perspectiva adotada por este observatório a respeito observatory regarding pedagogical documentation,
da documentação pedagógica, especialmente, no especially with regard to its use as a motto in
que diz respeito ao uso dela como mote na formação teacher training. It is shared the process of
de professores. É compartilhado o processo de formation that one of the schools of the OBECI
formação que uma das escolas do OBECI vivenciou experienced with a group of teachers when
com o grupo de professores ao problematizar uma problematizing a scene of the daily life of the Early
cena do cotidiano da escola de educação infantil. Childhood Education. Finally, in addition to
Por fim, além de sublinhar a importância das emphasizing the importance of daily activities, the
atividades cotidianas, o texto demarca uma crença text highlight a belief in Pedagogy as a possibility of
em relação ao campo da pedagogia, como transformation of the context before the
possibilidade de transformação do contexto diante construction and contextual training.
da construção e vias de formação contextuais.
Keywords: Pedagogical documentation. Early
Palavras-chave: Documentação Pedagógica. Childhood Education. Observatory of Children's
Educação Infantil. Observatório da Cultura Infantil. Culture. Teacher training
Formação de professores
* Doutorando em Educação (USP); Mestre em Educação (UFRGS) e Pedagogo (Unopar). Professor do curso
de Pedagogia da Unisinos e Coordenador do OBECI – Observatório da Cultura Infantil. E-mail:
[email protected]
** Pedagoga (Unisinos), Especialista em Educação Infantil (Unisinos) e Coordenação Pedagógica (UFRGS),
João de Barro de Novo Hamburgo e membro do OBECI – Observatório da Cultura Infantil. Email:
[email protected]
A documentação pedagógica como mote para a formação de professores 166
Contexto da formação
sse texto se ocupa em apresentar o trabalho desenvolvido no Observatório
da Cultura Infantil - OBECI, centrado na documentação pedagógica como
mote na formação de professores e gestores de Educação Infantil.
O OBECI nasceu de forma independente a instituições universitárias, a
fim de criar um grupo de profissionais da Educação Infantil que
estivessem interessados em refletir as dinâmicas do cotidiano e da formação dos
professores das suas instituições, a partir dos princípios da documentação pedagógica
(FOCHI, 2017). O nome deste grupo, Observatório da Cultura Infantil, está
diretamente ligado as crenças conceituais de pesquisa e a um dos pilares da
documentação pedagógica, o da escuta.
Profissionais
Professores dos
Professores dos
Coordenadora
grupos de 0-3
grupos de 3-6
instituições e
professores e
profissionais
geral (outras
Pedagógica
Público em
das escolas
Diretor/a
Demais
anos
etc)
Atividades
1. Encontros quinzenais da Equipe Gestora x x
1.1Grupo fechado no Facebook para
x x x x x
divulgação e compartilhamento de materiais
2. Encontros mensais do Grupo de
Investigação-Ação (GIA) do Brincar x x
Heurístico
2.1 Grupo fechado no Facebook para
compartilhamento de materiais específicos
sobre o GIA Brincar Heurístico, além das x x x
investigações que as professoras estão
realizando em suas escolas
3. Encontros mensais do Grupo de
Investigação-Ação (GIA) do Ciclos de x x
Simbolização
3.1 Grupo fechado no Facebook para
compartilhamento de materiais específicos
sobre o GIA Ciclos de Simbolização, além das x x x
investigações que as professoras estão
realizando em suas escolas
4. Encontro de Investigação-Ação (GIA)
x x x x
sobre Jogos de Luz e Sombra
4.1 Grupo fechado no Facebook para
compartilhamento de materiais específicos
sobre o GIA Jogos de Luz e Sombra, além x x x x
das investigações que as professoras estão
realizando em suas escolas
5. Encontro semestral das Escolas
Observadoras tematizando sobre as Mini- x x x x x
Histórias
6. Jornada Anual de Educação Infantil
x x x x x x
tematizando a Documentação Pedagógica
7. Mostra fotográfica de Mini-Histórias:
Espalhando boas histórias: Rapsódias da x x x x x x
vida cotidiana na Educação Infantil
Fonte: Fochi, 2017
Sintetizando esta primeira etapa, podemos dizer que o professor (i) observa as
crianças em suas relações e experiências cotidianas; (ii) registra por meio de
anotações ou imagens (fotográficas ou audiovisuais) e/ou resgata produções
realizadas pelos meninos e meninas; e (iii) interpreta tais observáveis para conseguir
compreender os interesses, teorias, assuntos ou perguntas que as crianças estão
produzindo sobre si, sobre os outros e sobre o mundo. Ademais, o argumento que
temos construído é de que a documentação pedagógica pode ser compreendida
enquanto uma abordagem curricular, pois: (i) a observação e o registro tornam-se
auxílio para a tomada de decisão; (ii) a ação pedagógica é constituída a partir dos
registros gerados e interpretados e assentada em teorias que valorizem a cultura da
infância; e (iii) a narratividade das experiências tem a finalidade de comunicar os
percursos das crianças e dos professores, no sentido generativo de textos
pedagógicos.
Fochi (2017), menciona que esta concepção perseguida no OBECI considera que
na abordagem da Documentação Pedagógica existam dois níveis focais do trabalho:
“o primeiro, interno, de construção de uma prática observada, interpretada e
registrada para a sua retroalimentação e para a identificação das zonas de construção
de conhecimento das crianças e dos professores” (2017, p.10), o segundo nível,
externo, pois “trata-se da comunicação das crenças e dos valores que a instituição
construiu; da comunicação dos modos como as crianças interpretam e elaboram a si
mesmas, aos outros e ao mundo num nível de compartilhamento e diálogo
democrático com a comunidade” (2017, p. 11).
O autor enfatiza que, sumariamente, pode-se dizer que esse primeiro nível:
[...] é aquele que cria um espaço de investigação ao perceber o cotidiano da
escola como algo que dá o que pensar e, por sua vez, que autoriza e
encaminha as tomadas de decisões sobre a criação de um contexto educativo
(tempo, espaços, materiais e grupos) de qualidade com base em evidências
concretas e refletidas (FOCHI, 2017, p. 11).
Por fim, temos acreditado que é dessa forma que torna-se possível criar uma
espécie de sistema, interconectando a cultura infantil com a cultura adulta,
diminuindo os abismos que existem entre elas (MALAGUZZI, 1999) para poder gerar
pedagogias mais respeitosas com estes que estão chegando no mundo. Tanto no
primeiro como no segundo nível da abordagem da documentação pedagógica, o
objetivo é a promoção da cultura da infância e de uma cultura pedagógica. Isso
porquê nossa crença de que a escola é o espaço privilegiado para a garantia dos
direitos das crianças e da “construção de um estatuto pedagógico que respeite os
meninos e meninas e que reconheça na área da pedagogia a possibilidade de inovar e
estabelecer-se como ciência que efetivamente contribua com os modos de fazer,
pensar e avaliar o que se faz na escola” (FOCHI, 2017, p. 12).
vida cotidiana daquele grupo, como por exemplo, a transição entre o uso da
mamadeira e o uso do copo.
A partir do acompanhamento e da retroalimentação da sua própria prática, o
adulto percebe o papel que ocupa para que as crianças possam elaborar suas teorias
e, ao mesmo tempo, vai compreendendo como as crianças procedem, que hipóteses
têm, quais estratégias utilizam, como se relacionam com seus pares. Ou seja, é
sempre mais uma forma de aprender o como as crianças aprendem.
Emergiu, diante destes observáveis, comentários sobre a qualidade e
competência dos dois bebês em manusear os utensílios (neste caso, brinquedos) do
cotidiano. Além disso, o conhecimento que essas crianças já construíram a respeito
sobre como utilizamos determinados objetos. Esse conhecimento é fruto das
experiências pessoais dessas crianças em contextos reais, de suas participações a uma
cultura que manuseia tais objetos desta ou daquela forma, do pertencimento a
determinadas práticas sociais que figuram comportamentos e modos de agir.
Voltando-se a este exemplo de Laura e Lorenzo, do “brincar de servir”, nos
impulsionou a refletir com as professoras sobre as práticas sociais que ocorrem no
âmbito da escola. Como uma metáfora, essas imagens nos convidaram a pensar sobre
que maneira acontecem nessa escola práticas como: troca da mamadeira pelos copos,
troca dos copos com tampa para canecas; comer com colher para comer com garfo e
faca; uso do bico; servir-se no buffet; deslocamentos pelos espaços da escola.
Todos esses exemplos são práticas sociais que envolvem transições complexas
para as crianças e que muitas vezes passam despercebidas nas rotinas automatizadas
da jornada da escola. Quando os professores param frente a essas cenas e conseguem
extrair delas questões, possivelmente, o modo como passa a olhar para as transições
vividas pelas crianças na escola os ajudam a planejar esses momentos de forma a
respeitá-las. Staccioli (2013, p. 133) assinala que: "[…] devemos sempre nos lembrar
que cada criança é diferente e diferentes são suas estratégias para enfrentar e superar
os vários momentos de crescimento, por isso, certamente, será negativo prever
normas rígidas e iguais para todas. "
Ainda a respeito deste tópico, Oliveira-Formosinho, Passos e Machado (2016),
destacam que pensar em transições, como tudo na infância (e na vida) está
relacionado ao modo de experienciar as situações, pois:
horizontes.
Embora saibamos que no cotidiano da escola existe uma potência muito grande
a partir das muitas relações estabelecidas pelas crianças com o tempo e o espaço
escolar, pois, assim como Carvalho e Fochi (2016, p. 160) nos apontam
Referências
ALTIMIR, D. Como escuchar a la infância? Barcelona: Octaedro, 2010.
CARVALHO, R. S. de; FOCHI, Paulo Sergio. “O muro serve para separar os grandes
dos pequenos”: narrativas para pensar uma pedagogia do cotidiano na educação
infantil”. Textura, v. 18 n. 36, jan./abr.2016.
__________. Será que um dia os arco-íris terão cores? In: GAI, Daniele Noal;
FERRAZ, Wagner. Parafernálias II: currículo, cadê a poesia. Porto Alegre: Indpein,
2014, p. 98-111.
MALAGUZZI, L. Histórias ideias e filosofia básica. In: EDWARDS, C.; GANDINI, L.;
FORMAN, G. As cem Linguagens da Criança. Porto Alegre, Artmed, 1999.
Recebido em 20/12/2017.
Aprovado em 28/12/2017.