A Origem Da Dependencia Emocional - Matheus Jesus - Patacii-1
A Origem Da Dependencia Emocional - Matheus Jesus - Patacii-1
A Origem Da Dependencia Emocional - Matheus Jesus - Patacii-1
DEPENDÊNCIA EMOCIONAL:
A ORIGEM DA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL NOS RELACIONAMENTOS
AMOROSOS A PARTIR DA TEORIA DO APEGO.
Rio de Janeiro
2021
RESUMO
ABSTRACT
Key words: emotional dependence; attachment theory; John Bowlby; pathological love;
love relationships.
INTRODUÇÃO
O amor é um tema que tem rodeado a sociedade, tem sido mencionado e relatado
através de muitas músicas, poesias, novelas, filmes, séries e filosofias. Dentre tantas
formas de amar e de se relacionar, podemos, através desse estudo, apontar a classificação
do que é o amor para a Psicologia, relacionando a definição de alguns autores.
Visto o quão pouco esse tema é abordado e como a correlação com sua origem na
infância ainda é pouco associada, verificamos a importância de levantar tal assunto, com
os objetivos de entender melhor o funcionamento desta patologia e inclusive contribuir
no sentido de apontar e valorizar a saúde mental e emocional, visando os reflexos da
dependência emocional nos relacionamentos amorosos, tudo isso a partir da Teoria do
Apego de John Bowlby, que destaca os estilos de apego identificando duas classes de
estilo de apego: os seguros e os inseguros. Nos inseguros temos o resistente, evitante e
desorganizado.
Como citado anteriormente, ainda é uma área de estudo que precisa ser investida
em pesquisas mais profundas, pois além de pouco abordado, é um tema que possui
relevância e carece de atenção para contribuição em informações para as pessoas que não
sabem do que se trata essa patologia, onde ela se origina, como vencer e tratá-la.
O AMOR PARA A PSICOLOGIA
Reik (1944) propôs outra teoria na tentativa de explicar o amor. Este autor,
também psicanalista, propôs uma teoria diferente da teoria psicanalista tradicional. Para
Freud, o amor é baseado na energia da libido, ou seja, amor e desejo são funções um do
outro, enquanto para Reik, amor e desejo têm motivações diferentes. Mais
especificamente, o autor acredita que o amor, diferente do desejo que é o interesse
apaixonado pelo corpo, é um forte interesse por outra personalidade.
Walster e Walster (1978) definiram o amor como dois tipos: amor do parceiro e
amor apaixonado. A teoria acredita que o amor tem dois estágios: o primeiro estágio é a
atração da paixão. Se o relacionamento sobreviver ao estágio inicial da paixão, ele se
tornará o amor de um parceiro. Outra teoria que surgiu no mesmo período foi a proposta
de Clark e Mills (1979). Esses autores estudaram a atração interpessoal nas relações de
troca e nos relacionamentos românticos e, com base nas descobertas, a relação de troca
proposta é baseada em questões econômicas, a existência de uma relação de amor é
baseada em motivos altruístas. Além da proposta de Rubin, essas propostas teóricas
iniciais ajudam a tratar o amor como um fenômeno multidimensional complexo. No
entanto, de acordo com Hendrick e Hendrick (1986), esses esforços são mais teóricos do
que empíricos.
A proposta teórica para quebrar esse padrão é a proposta de John Alan Lee,
chamada de estilo de amor. A teoria de estilo de amor foi proposta pela primeira vez em
1970, e seu fundamento é que o amor se aprende, e o estilo de amor reflete a diversidade
dos estilos de amor humano. Para definir o estilo de amor que existe nas relações
interpessoais, Lee usa vários métodos. Primeiro, investiga o amor em romances, filmes e
livros nas áreas de Filosofia e Psicologia. Em seguida, classifica os dados coletados para
obter uma sugestão de estilo. Para verificar a aplicabilidade desses estilos, foram
realizadas entrevistas com heterossexuais e homossexuais para confirmar os tipos
propostos (Lee, 1988).
Eros: estilo onde as pessoas podem descrever claramente qual formato de corpo é
mais atraente na sua concepção e se atraem ao observar pessoas semelhantes à sua forma
corporal favorita, expressam o prazer de estar um com o outro de forma verbal e tátil.
Lee (1988) aponta que a partir desses três estilos primários de amor dá-se origem
a vários outros estilos, listados seis estilos descritos resumidamente a seguir:
Ludus + storge = pragma: pessoas com este estilo de amor são realistas e práticos,
por isso procuram um parceiro compatível, ou seja, alguém que corresponda às suas
expectativas.
Ludus + eros = predimínio ludus: estilo projetado para ser uma experiência
divertida e interessante. Essas pessoas se caracterizam por serem fáceis de conhecer
outras pessoas e têm interesse em experimentar diferentes tipos de relacionamento, mas
não demonstram fortes emoções em seus relacionamentos.
Segundo Lee (1988), as pessoas podem mudar de um estilo para outro com base
em suas próprias experiências de vida. No entanto, o autor destaca que é importante
avaliar o estilo preferido do indivíduo a qualquer momento, seja para autoconhecimento,
para identificar o estilo de amor do seu parceiro ou para encontrar um parceiro que melhor
se adapte ao seu estilo de amor.
Sophia (2008) nos aponta alguns pontos importantes que podem auxiliar no
diagnóstico de um quadro de amor patológico. Encaixando no padrão dos vícios, se faz
válido procurar por sinais de abstinência quando as partes estão fisicamente ou
emocionalmente distantes uma da outra. Outros sintomas comuns podem envolver o
abandono de atividades e afazeres que, no passado, eram considerados essenciais em prol
de tornar a rotina diária o mais favorável possível aos interesses do parceiro e os cuidados
que ele possivelmente precisaria.
De acordo com Sophia (2008), podemos listar alguns critérios para a identificação
do amor patológico: sinais e sintomas de abstinência - quando o parceiro está longe (física
ou emocionalmente) ou através de ameaças de desistência, como um rompimento de
relacionamento; Ato de cuidar do parceiro em maior quantidade do que o indivíduo
gostaria, o sujeito se queixa de manifestar atenção ao parceiro com maior frequência ou
por um período mais longo do que o pretendido; Grande investimento para controlar as
atividades do parceiro em detrimento do abandono de interesses e atividades antes
valorizadas, o sujeito passa a viver em função dos interesses do parceiro, atividades de
realização pessoal e desenvolvimento profissional são deixadas de lado.
Bowlby iniciou suas pesquisas sobre o assunto no fim da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), quando inúmeras crianças se encontraram órfãs e traumatizadas,
apresentando dificuldades significativas em todas as áreas do desenvolvimento humano.
Bowlby definiu o apego como “conexão psicológica duradoura entre seres humanos”
(Bowlby, 1969).
Visto que o apego é um estado interno, sua existência pode ser observada por meio
do comportamento de apego. Esse comportamento permite que o indivíduo alcance e
mantenha a proximidade do objeto de apego, ou seja, um indivíduo claramente
identificado e considerado mais apto a lidar com o mundo. Sorrir, olhar nos olhos,
chamar, tocar, agarrar-se, chorar, correr atrás são alguns desses comportamentos.
(Bowlby, 1989)
Há evidências crescentes de que pessoas de todas as idades são cada vez mais
felizes, quando estão convictos de que por trás deles exista uma ou mais pessoas que o
ajudarão quando se depararem com dificuldades. A pessoa na qual se confia é chamada
de figura de ligação (Bowlby, 1997), a que fornece ao seu companheiro uma base segura.
O apego evitante inclui rejeição quando o bebê procura a mãe, resultando em falta
de confiança em obter ajuda quando necessário. Partindo desse modelo, os indivíduos
começam a tentar viver sem amor e sem ajuda dos outros, isto é, tornam-se
emocionalmente autossuficientes.
Tipo Seguro: as crianças com estilo de apego seguro foram as que se demonstram
angustiadas quando o cuidador se ausenta, porém o recebem de volta e reconhecem que
suas necessidades serão satisfeitas. Essas crianças tendem a se tornar adultas mais
estáveis e seguras de que suas necessidades serão satisfeitas e geralmente confiam em
novos adultos também, ou seja, tendem a confiar em pessoas que ainda não conhecem
e nem são seus modelos parentais. As pessoas com o tipo Seguro demonstram uma
maior tolerância à separação das figuras por quem sentem apego. (Dalbem e Dell’aglio,
2005)
Tipo Evitativo: o apego evitativo ou ansioso denota uma criança que reage de
maneira bastante calma à separação de um dos pais, mostra-se um pouco inibida na
presença de outros, e ao se aproximar de seus cuidadores demonstra pouca necessidade
de atenção, se mantendo distante e não os procurando para obter conforto. Neste padrão
de apego a pessoa tende a se tornar um adulto que apresenta maior facilidade em lidar
com as separações, mantendo um equilíbrio emocional mais estável, apesar do
sofrimento que sentem. (Dalbem e Dell’aglio, 2005)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse artigo foi realizado uma revisão do material acadêmico e científico do tema
dependência emocional, Teoria do Apego de Bowlby. Os resultados mostram que esse
transtorno é caracterizado pela necessidade de estabelecer relacionamentos para alcançar
estabilidade emocional. Essa patologia é semelhante à dependência de substância, tanto
em termos de sintomatologia quanto dos processos neurológicos envolvidos.
A dependência emocional pode ter um sério impacto nas pessoas que sofrem deste
problema e nas pessoas ao seu redor, sendo a violência doméstica uma das consequências
discutidas como reflexo dessa patologia. Devido a consequências negativas e ao grande
número de pessoas que sofrem com essa dependência, é necessário obter um olhar mais
acurado sobre o assunto. Apesar da alta incidência na população e do número cada vez
maior de publicações, esse tema ainda é negligenciado. Portanto, acredita-se que um
conhecimento mais aprofundado sobre o assunto ajudará no seu diagnóstico, prevenção e
tratamento, ainda pouco estudados nesta área.
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