Tribunal Tradicionais
Tribunal Tradicionais
Tribunal Tradicionais
POLO-CAXITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
1º Ano
Sala nº: 05
Período: Pós Laboral
Curso: Direito
Docente
______________________
Dr. Manuel Adão Gomes
CAXITO-2022/2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA (ISTA)
POLO-CAXITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Autor:
Pedro Quiassissua
CAXITO-2022/2023
RESUMO
Por fim, este trabalho chama a atenção para o facto de que, apesar de a Constituição de
2010 impor limites à aplicação das normas costumeiras, continuam ainda a existir, nos
tribunais tradicionais, ações que atentam contra a Constituição e a dignidade da pessoa
humana. Este é um problema que carece de completa resolução. Para se encontrar uma
solução a este nível, importa, desde logo, começar pela elevação do nível de cultura jurídica
das autoridades tradicionais.
INTRODUÇÃO........................................................................................................................01
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................02
1.1. Autoridades Tradicionais...................................................................................................02
1.2. Poder Local em Angola......................................................................................................03
1.3. Princípios Fundamentais das Autoridades Tradicionais e Legitimidade...........................04
CAPÍTULO II – O COSTUME E A AUTORIDADE TRADICIONAL.................................06
2.1. Caracterização do Costume................................................................................................06
2.1.1. O costume como fonte de direito administrativo em Angola..............................07
2.2. O Direito Costumeiro........................................................................................................08
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................11
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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muitos casos, sobretudo lá onde o Estado é inoperante ou quase inexistente, muitos ou alguns
deles são ainda a autoridade respeitada e considerada legítima, detendo uma capacidade de
intervenção e organização social que não pode ser desprezada nem ignorada (NETO, 2002).
O reconhecimento destas pelo Estado não é feito através da pessoa física, mas sim pela
instituição que ela representa, ou seja, na perspectiva da organização administrativa, o Estado
reconhece a instituição autoridade tradicional. Porém, as autoridades tradicionais afirmam
que:
Em primeiro lugar, a todos a lei deve dar iguais direitos e o destino social de cada um
não deve depender do seu nascimento – seja de linhagem nobre, plebeu ou descendente de
escravos, seja homem ou mulher, filho do rico ou do pobre. A História regista diferentes tipos
de sociedades hierarquizadas em castas, ordens ou outras categorias hereditárias (como certas
situações de escravidão, por exemplo). Hoje em dia, quase todas as sociedades recusam essa
vinculação estrita do estatuto social à filiação. (NETO, 2002, p.3).
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Ao longo da dominação colonial, com maior ou menor vigor, tentou enquadrá-las
como forma de controlo das populações, desta forma hesitando entre o modelo de dominação
através da administração indireta (MATA, 2012). Entretanto, após a dominação colonial,
alguns chefes tradicionais foram-se acomodando ao formato colonial, no intuito de serem
transformados em representantes das administrações locais do Estado. A falta de poderes
públicos, em certas regiões, na altura fez com que as autoridades tradicionais fossem
chamadas a exercer funções administrativas, tornando-as socialmente um poder autónomo.
Devido a estas complexidades, a constituição angolana atual nos seus Artigos 213º e
214º, embora muito discutida, adotou o princípio da descentralização, sendo as autoridades
tradicionais um dos elementos principais do poder local. A descentralização dos serviços está
intrinsecamente ligada a este poder.
As autoridades tradicionais são tidas como o elo de ligação dos interesses do Estado
junto das populações, tendo em conta a prossecução do desenvolvimento económico,
tecnológico, científico, e social do país no âmbito do sistema de governação administrativa
(desconcentração e descentralização). O modelo ideal de entrosamento entre o poder local
público e as autoridades tradicionais tem sido tema de debate e aceitação nestes últimos anos.
Assim, há necessidade de uma lei específica e bem enquadrada no direito civil, que
regularize a situação das autoridades tradicionais. Nesta conformidade, surge um paradoxo do
princípio democrático que nem sempre tem recetividade no direito costumeiro de alguns
povos de Angola. Para Feijó (2001), além da eleição, encontramos, em muitas regiões de
Angola, autoridades tradicionais que defendem o princípio da independência como sendo um
dos princípios gerais do modelo de poder local autárquico que provem do processo tradicional
de sucesso Porém, o reconhecimento do modo de proveniência não democrático das
autoridades tradicionais resulta precisamente do respeito que o Estado demonstra às
autoridades tradicionais, visto que é uma realidade que lhe antecede e que com ela se tenciona
conformar.
De acordo com Poulson apud Feijó (2001, p.148) a assimetria do modo de provimento
de órgãos administrativo não é privativa do poder tradicional local. De resto, os membros do
Governo em Angola (Ministros e Secretários de Estado) providos de forma não democrática
(nomeação) possuem poderes administrativos próprios. Em princípio, as autoridades
tradicionais exercem, de facto, o seu poder, mas não em conformidade com a divisão
administrativa enunciada na lei constitucional, nem com a divisão territorial que existia na era
colonial. Como exemplo desta situação, temos caso do soberano das Lundas que até em
algumas regiões do Congo é reconhecido, sobretudo em regiões fronteiriças.
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CAPÍTULO II – O COSTUME E A AUTORIDADE TRADICIONAL
O costume é, assim, enquadrado como um dos tipos de ação social, diferindo desta
forma dos usos e da própria convenção. Segundo Max Weber, o costume, na sua acepção
primária, significará uma regra não externamente garantida, a que o agente de facto se atém
livremente, quer apenas de modo inconsiderado, quer por comodidade, ou quaisquer outros
motivos, e cuja observância possível pode, em virtude de tais motivos, esperar de outros
indivíduos que pertencem ao mesmo círculo. Acresce que a estabilidade do simples costume
baseia-se essencialmente no facto de que quem por ele não orienta a sua ação age de modo
desajustado, e deve, por essa razão, aceitar de antemão pequenas e grandes incomodidades e
inconvenientes enquanto a ação da maioria pertencente ao seu meio ambiente contar com a
subsistência do costume e a ele se ajustar.
Naturalmente, este costume tem uma evolução fluida, quer para convenção, quer para
o direito. Ora, a evolução para convenção, no entender de Weber, já comporta uma validade
externamente garantida pela probabilidade de que, no interior de um determinado círculo de
homens, um desvio na conduta virá esbarrar numa reprovação geral e praticamente sensível.
A convenção, por conter já um carácter coercivo, é, assim, uma classe mais elevada do que o
simples costume.
O carácter coercivo desta classe de costume encontra o seu fundamento sobretudo nas
próprias relações sociais na medida em que quem depende do apoio no seu círculo de amigos
faz por isso bem em submeter-se às suas normas, e o mesmo se dirá do individuo que
transgrede, deverá contar com as consequências da sua conduta. Portanto, a fonte do poder
coercivo de todas as normas sociais e do Direito decorre dentro da ação da Ética, além da
observância externa de preceitos, dos costumes, da religião, da honra, do decoro, do bom-tom,
da moda.
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Destarte, Freitas do Amaral define o costume como “a prática habitualmente seguida,
desde os tempos imemoriais, por todo o povo, por parte dele, ou por determinadas
instituições, ao adotar certos comportamentos sociais na convicção de que são impostos ou
permitidos pelo Direito” Assim, o costume em Angola e na maior parte dos países africanos
está presente no modus vivendi das populações e deve ser visto e adotado dentro da ordem
jurídica vigente em cada país.
Resulta de tudo isso que o costume integrou sempre, desde os primórdios, a doutrina
das fontes de direito administrativo, apesar do papel central que a lei sempre ocupou na
prática administrativa. Este papel é reforçado pelo facto de a criação das próprias normas
administrativas ter sempre um sentido centralizador, o que a torna de certa forma
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incompatível com a ideia de costume que tem origem local, entre as comunidades13. O quadro
normativo reinante aos níveis central e institucional emana do direito positivo.
Acresce a isto que o direito costumeiro tem o seu maior âmbito de ação na
Administração Local, uma vez que vigora no seio de pequenas comunidades com interesses
próprios. No n.º 2 do artigo 223.º da Constituição é mesmo escrito que todas as entidades
públicas e privadas estão obrigadas a respeitar, na sua relação com as Instituições do Poder
Tradicional, os valores e normas costumeiras observadas no interior das mesmas. Destarte, o
costume é também fonte de direito administrativo no ordenamento jurídico Angola.
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direito positivo e direito costumeiro. Entretanto, mesmo no direito costumeiro, a resolução de
conflitos não é uniforme, porque existem tantas ordens costumeiras quantos espaços e
entidades sociocultural, o que permite concluir que o próprio direito costumeiro é em si
mesmo uma pluralidade.
Em situação de morte de alguém, as ações para resolução do caso têm por base
aspectos endógenos do direito ancestral, segundo o qual a morte só pode ter duas causas, a
direta ou indireta; as causas diretas provêm de Deus e as causas indiretas são provenientes da
ação do homem. Nessas comunidades, crê-se morte direta aquela que é motivada por
catástrofes da Natureza ou por acidente fortuito; quanto à morte indireta, é a resultante de
causas como feitiço, assassinato e envenenamento. Assim, a primeira não origina ação
punitiva, já na morte indireta a punição é movida pela família do de cujus.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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