John Wesley o Polímata

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DEDICATÓRIA: Ao meu filho Alberto, uma

pessoa que se interessa por muitos assuntos e


aprende sobre muitos assuntos
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“O CONHECIMENTO SEM AMOR É


VAIDADE”

Prof. Dr. Luiz Carlos Susin


Profesor de Teologia sistemática
PUC – Rio Grande do Sul
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Índice
Prefácio
Introdução
Capítulo 1. Uma mente brilhante muito além de seu tempo
Capítulo 2. A tradição acadêmica da família Wesley
Capítulo 3. Educacão nos primeiros anos de vida
Capítulo 4. Estudos na Charterhouse School e Universidade de Oxford
Capítulo 5. Experiência profissional nos Estados Unidos
Capítulo 6. Ações sociais por um mundo mais justo
Capítulo 7. O amor aos livros e à leitura
Capítulo 8. Medicando os sem médicos e medicamentos
Capítulo 9. Disposição para o trabalho
Capítulo 10. O Contexto familiar e socio- econômico que contribuíram para torná-lo um polímata.
Capítulo 11. Atributos de personalidade que contribuíram para torná-lo um polímata
Conclusão
Referências bibliográficas
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Prefácio
Quando você houve a palavra “Inglaterra” o que vem à sua mente?
O inglês como língua global? A Revolução Industrial?
A monarquia ou quem sabe os guardas palacianos com aquele enorme chapéu preto?
Comecemos com a contribuição inglesa no campo das ciências com Isaque Newton que
postulou “a lei da gravidade”. Acrescentemos a este ícone da física o nome de Robert Hooke, o
primeiro a descrever uma célula e do biólogo molecular Francis Crik que juntamente com o
americano James Watson “descobriram” o DNA, a molécula base da vida.
Outros nomes de destaque seriam o naturalista Charles Darwin e sua controversa obra “A
origem das espécies”; Frederick Sanger (bioquímico que ganhou duas vezes o prêmio Nobel),
Alan Turing que decifrou os códigos de guerra nazista e é considerado o pai da computação e da
inteligência artificial. Poderíamos, após deixar para trás algumas centenas de nomes, concluir esta
longa lista com o cientista e escritor Stephen Hawking e sua imensa capacidade de fazer o leitor
comum entender a complexa natureza de nosso universo.
Mas para quem pensa que os ingleses são “sisudos”, lembremo-nos do humor universal de
Charles Chaplin; do humor inocente de Stan Laurel (o magro da dupla o gordo e o magro); do
humor atrapalhado do inspetor Jacques Clouseau (Peter Sellers) de a “Pantera cor de Rosa” ou do
ainda mais atrapalhado “mister bean” (Rowan Atkinson).
Deixando o cinema, mas não sem antes citar o grande mestre do suspense, Alfred
Hitchcock, passemos agora para a literatura, onde começaremos com William Shakespeare.
Acrescentemos a este que é considerado um dos grandes nomes da literatura mundial, a alta
fantasia de C.S. Lewis em “As Crônicas de Nárnia”; a ficção fantástica de J. R. Tolkien em “o
Senhor dos Anéis”; sem nos esquecer do grande clássico da literatura infantil “Alice no país das
maravilhas” de Lewis Carroll.
A Inglaterra também nos deu o maior detetive de todos os tempos. Seria ele “Sherlok
Holmes” de Arthur Conan Doyle? Eis a resposta: “elementar meu caro Watson”. Pena que o
detetive “Sherlok Holmes” não tenha vivido o suficiente para ajudar a desvendar os crimes
misteriosos dos contos policiais de Agatha Christie ou os crimes internacionais tramados pelos
vilões dos filmes de James Bond, o agente 007 “a serviço de sua majestade”. Outros grandes
nomes da literatura incluem John Milton e seu poema épico “o Paraíso Perdido”; a poesia
romântica de Lorde Byron; o romance realista de Charles Dickens e a intensa oposição ao
totalitarismo de George Orwell no livro “1984”. Deixando o ano de “1984”, entremos na
“máquina do tempo” (romance de ficção científica de H. G. Wells) e alcancemos os dias atuais,
onde iremos “tomar um chá das cinco” com a família real no castelo de Windsor.
Deixando a literatura e indo para o campo da filosofia façamos esta transição citando o
romance filosófico “utopia” de Thomas More e acrescentemos os nomes de John Locke e Adam
Smith no campo da economia; de Thomas Hobbes na filosofia política e de Francis Bacon em
relação ao método científico. Finalmente, não poderíamos deixar de citar o almirante Nelson
considerado o maior estrategista naval que já existiu; o Duque de Wellington que venceu
Napoleão em Waterloo; o general Montgomery que venceu “a raposa do deserto” (o general
alemão Rommel) e ainda o estadista Winston Churchill.
Decrevemos até o momento cerca de três dezenas de ilustres ingleses que se destacaram
nos campos das ciências, filosofia, literatura, cinema, política e estratégias de guerra e mais
alguns que mesmo não tendo existido (Sherlock Holmes, James Bond, o rei Lear de Shakespeare)
estarão sempre vivos em nosso imaginário.
Então julgo ser o momento propício para lhe fazer esta simples pergunta: você já ouviu
falar de John Wesley?
Talvez você tenha visto este nome pela primeira vez quando se deparou com a capa deste
livro. Mas, não se preocupe. Você terá a partir de agora a oportunidade de conhecer um pouco
mais da vida e obra deste homem, um polímata que colocou em prática seus amplos
conhecimentos para a construção de um mundo melhor para seus contemporâneos e cuja obra
ainda alcança um impacto positivo no mundo atual.
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Introdução
Polímata! Com certeza esta palavra esquisita é estranha para você!
O termo polimatia vem do grego clássico e é a junção de poli, que significa muitos ou
vários, e math, que é a raiz tanto de manthanein (o verbo aprender) e mathema (algo que é
aprendido, especialmente através da reflexão).
Polímata significaria então “aquele que aprendeu muito” enquanto polimatia refere-se à
capacidade de alcançar excelência em distintas áreas do conhecimento.
Contrastando com o mundo atual que valoriza indivíduos altamente especializados, o
polímata é alguém que se destaca em diversas áreas ao mesmo tempo.
O historiador inglês Peter Burke define o polímata como um intelectual reconhecido por
sua multifacetação. Este modo de atuar contrasta com a grande maioria dos intelectuais
contemporâneos que se destacam apenas na área em que são ultra-especializados. Por esta razão,
segundo Peter Burke, o polímata é uma espécie em extinção.
Não apenas concordo com a opinião de Peter Burke, mas ainda acrescento: os polímatas
em seu processo de extinção estão sendo substituídos pelos falsos polímatas. Indivíduos que
aparentam ter algum tipo de conhecimento sobre todos os assuntos. Porém, este conhecimento é
superficial ou nulo. Porque é embasado em rápidas leituras de uma avalanche de mensagens de
duas ou três linhas recebidas pela internet. Os falsos polímatas dominarão o mundo nas próximas
décadas na medida em que arrebanham bilhões de seguidores nas redes sociais.
Provavelmente o mais conhecido polímata da história da humanidade tenha sido
Leonardo da Vinci, um gênio artístico e científico que se destacou como matemático, físico,
engenheiro, arquiteto, anatomista, botânico, pintor, escultor, poeta e musico.
Embora não seja um exemplo tão eloqüente quanto Leonardo da Vinci, o caráter polímata
da vida e obra de John Wesley não tem sido avaliado. Isto porque o foco principal em relação a
este teólogo inglês tem sido seu trabalho como líder religioso.
Talvez em um futuro distante a ciência consiga determinar o perfil genético de pessoas
com potencial de se tornarem polímatas. Mas, enquanto este avanço da ciência não chega teremos
de nos contentar em tentar entender os fatores ambientais que favorecem o surgimento destes
indivíduos fora de série.
Cumpre destacar que no caso específico de John Wesley este trabalho é bastante facilitado
porque durante mais de 55 anos ele conservou a disciplina de escrever um diário. Neste diário ele
descreve detalhes de sua vida pessoal, experiências de vida, opiniões e atividades profissionais. O
diário inicia a partir de sua viagem missionária aos EUA em 1735 quando ele tinha 32 anos sendo
interrompido apenas alguns meses antes de sua morte em 1791.
Minha descoberta de John Wesley como alguém mais do que um líder religioso bem
sucedido ocorreu quando visitei a “Wesley Chapel” em Londres. Trata-se da casa pastoral onde
John Wesley viveu os últimos anos de vida, hoje transformado em um museu. Entre os objetos
pertencentes a John Wesley temos “uma maquina de choque elétrico” para o tratamento de
diversas doenças. Na loja de souvenirs encontrei uma reedição recente de um livro de plantas
medicinais escrito por John Wesley. Estes dois exemplos e outros detalhes logo me levaram a
concluir que estava diante de algo mais que um clérigo anglicano que viveu no século XVIII.
John Wesley foi professor, educador, líder, escritor, editor, elaborador de material
didático, poliglota, tradutor, teólogo, pregador, compositor de hinos, terapeuta e possuidor de
outras habilidades que fizeram dele um dos mais destacados intelectuais do século XVIII.
Neste livro apresentaremos uma visão geral da vida de John Wesley, um homem que faz
parte de uma rara extirpe de polímatas capazes de colocar seus conhecimentos em prática de
modo a contribuir efetivamente para um mundo melhor.
Os textos escritos por John Wesley serão apresentados em negrito enquanto porções de
textos escritas por outras pessoas, em particular sua mãe, Susana Wesley serão apresentados em
itálico.
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CAPÍTULO 1: Uma mente brilhante muito além


de seu tempo
A definição do historiador Peter Burke para polímata, isto é, “alguém que se interessa por
muitos assuntos e aprende sobre muitos assuntos”, se encaixa como uma luva para John Wesley.
J. Ernest Rattemburry em sua obra “Wesley’s Legacy to the World” comenta: “Há, na
verdade, pouca dúvida, de que o cidadão inglês do século dezoito, de maior importância para o
mundo, não era um político, nem poeta, nem soldado ou marinheiro, mas o pequeno itinerante a
cavalo - o grande cavaleiro como eu o chamaria, ainda esta cavalgando para novas conquistas”.
Homem de cultura eclética, seu interesse, além de religião, se estendia às ciências,
filosofia, política, medicina, literatura, poesia, composição de hinos sacros e o domínio do inglês,
grego, latim, hebraico, francês, alemão e espanhol.
No campo teológico destacam-se as centenas de sermões que escreveu, a tradução do
Novo Testamento do grego para o Inglês e um comentário minucioso sobre o mesmo, intitulado:
“Notas Explicativas de John Wesley sobre o Novo Testamento”. No livro “Hinologia
Metodista”, de David Creamer, publicado em 1848 temos 34 hinos compostos por John Wesley.
Foi o fundador (1778) e editor da revista mensal “Arminian Magazine” até o ano de sua
morte (1791). Após sua morte a revista continuou a ser publicada até o ano de 1969 com o nome
de “Wesleyan Methodist Magazine”.
Ele também escreveu um diário pessoal intitulado de “O Diário de John Wesley” que
pode ser considerado uma autobiografia onde relata mais de 50 anos de sua vida.
John Wesley se interessava muito pelo tema “eletricidade”, o que o levou a desenvolver
uma maquina de choques elétricos que ele utilizava no tratamento de diversas doenças.
Entre suas publicações também se destacam dois livros direcionados aos alunos da Escola
de Kingswood (escola fundada por John Wesley em 1748): “Gramática Hebraica” e “Lições para
Crianças”, publicados em 1751. Em 1753 publicou seu “Dicionário da língua inglesa.
No “Compêndio de Filosofia Natural” (1775) John Wesley apresenta as descobertas das
ciências naturais. Esta obra sofreu várias reedições e seu conteúdo foi também popularizado na
revista “Arminian Magazine” entre os anos de 1778 e 1797.
O trabalho poético de John Wesley, juntamente com seu irmão Charles Wesley, impresso
pela Conferência Wesleyana (1868–1872) é constituído de treze volumes com quase seis mil
páginas. Outra forma de John Wesley expressar suas ideias, opiniões, sentimentos e
reivindicações foram suas cartas. Lusto L. Gonzales, editor da “Obras de Wesley”, afirma que
existem cerca de 3500 cartas escritas por John Wesley (das quais foram recuperadas cerca de
2600) que foram escritas para mais de 1500 pessoas.
Sua enorme capacidade de escrever com qualidade em diferentes temas reflete seu
empenho em aprender. Contudo, quando se tornou o líder máximo do Movimento Metodista seu
tempo para ler e escrever ficou muito reduzido em função de suas viagens. Mas, John Wesley se
adaptou a esta nova situação ao desenvolver a capacidade de ler enquanto realizava suas longas
viagens no lombo de um cavalo.
A visão panorâmica da produção intelectual de John Wesley até aqui apresentada é
bastante incompleta, mas acreditamos ser suficiente para convencer o leitor que estamos diante de
alguém possuidor de uma ampla gama de conhecimentos teológicos, científicos, filosóficos e
literários. Esta rara combinação gerou um homem cuja “mente viveu muito além do seu tempo”.
John Wesley nasceu e viveu ao longo do século XVIII (de 28 de junho de 1703 a 02 de
março de 1792). Ele foi contemporâneo de Voltaire, Lavoisier, Diderot, Montesquieu e outros
grandes pensadores que viveram naquele que é conhecido como o século das luzes.
Ele vivenciou a revolução industrial, a revolução francesa e a guerra pela independência
dos Estados Unidos, entre os inúmeros eventos históricos que marcaram aquele tumultuado
período da história da civilização ocidental.
Vivendo neste contexto, John Wesley não apenas foi alguém com ideias avançadas para o
seu tempo. Mas, possuidor de preocupações e ações que ainda são bastante atuais.
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Para o mundo atual em que a obesidade infantil cresce assustadoramente iremos encontrar
as seguintes orientações de John Wesley: “Pais sábios e amorosos cuidam para não nutrirem
nos filhos a propensão natural de gratificarem o paladar. Assim, a mãe fará com que
provem apenas leite até serem desmamados e então, acostume-os a alimentos mais simples,
principalmente de origem vegetal; mas sempre incluindo o leite em cada refeição e tendo
apenas a água como bebida. Eles nunca desejarão provar carne ou bebida, entre as
refeições, se não forem acostumados a isto. Além disso, se frutas ou doces forem oferecidos
que sejam consumidos apenas durante as refeições. Porém, nunca se oferecerá dessas coisas
como uma recompensa; mas ensine os verem mais alto do que isto. Elas também devem se
habituar a não pedirem nada além do que lhes é dado”.
Se contrapondo ao mundo atual em que o trabalho escravo ainda se faz presente, John
Wesley expressa sua opinião sobre o assunto em seu diário do dia 12 de dezembro de 1772.
“No retorno li um livro muito diferente sobre aquela execrável soma de todas as
vilanias que é comumente chamada de comércio de escravos. Não li nada parecido no
mundo pagão, tanto antigo como moderno, e infinitamente excede em muitos exemplos de
crueldade o que os escravos cristãos sofreram em terras muçulmanas”.
Se contrapondo ao mundo atual com seu infindável número de dependentes de drogas,
John Wesley expressa bem sua opinião sobre o assunto: “Reprimir a onda de vícios, eis uma
das mais nobres iniciativas que pode conceber o coração humano”.
Se contrapondo ao mundo atual em que as pessoas estão cada vez mais indiferentes ao
sofrimento alheio, John Wesley expressa bem suas opiniões (e ações) sobre o assunto em seu
diário do dia 03/10/1739: “Os pobres prisioneiros não tinham quem se preocupasse com suas
almas. Ninguém restou para visitar os asilos, onde encontramos as mais tocantes situações
de compaixão. Nossa pequena escola onde as crianças pobres eram ensinadas estava quase
destruída e não havia ninguém para apoiá-la ou atendê-la”.
Em 1747 John Wesley publicou: “Primitive Physick: um método fácil e natural para curar
a maioria das doenças”. Este material representa um esforço para atender às necessidades de
saúde das pessoas sem acesso a médicos e/ou medicamentos. Segundo alguns comentaristas,
cerca de um terço das orientações terapêuticas contidas neste livro foram baseadas em tratados de
medicina da época. O livro apresenta cerca de novecentas receitas visando a cura de cerca de
trezentos “problemas de saúde”. A maioria das receitas envolve a utilização de plantas da
medicina popular. O livro fez tanto sucesso que alcançou trinta e duas edições.
Cumpre ainda destacar que os cuidados de John Wesley para com os seres humanos se
estendia aos animais: “Os pais não irão permitir que os filhos firam ou causem dores a nada
que tenha vida; que eles roubem ninhos de pássaros; muito menos matem alguma coisa sem
necessidade, nem mesmo cobras que são tão inocentes quantos minhocas ou sapos. Não
obstante, a feiura e a má fama, elas são tão inofensivas quanto insetos. Que eles ampliem a
qualquer animal a regra de fazer a eles o que gostariam que lhes fosse feito!”
Após apresentar uma visão geral da ampla gama de conhecimentos que John Wesley
apresenta em relação a diversas áreas do saber, uma questão poderia ser levantada: quais os
fatores que contribuíram para que ele se tornasse um polímata?
Não temos como avaliar o peso da genética na manifestação de uma “mente polímata”,
mas sem duvida o contexto socioeconômico e o ambiente familiar contribuem para o surgimento
destes indivíduos. De acordo com esta afirmação, o historiador John Simmons em seu livro os
100 maiores cientistas da história comenta: “com poucas exceções, nenhum deles nasceu em um
ambiente de pobreza. Na verdade, vieram de origens abastadas ou lares de bom nível em que a
busca de valores intelectuais era altamente apreciada”. Esta afirmação de John Simmons se
aplica “como uma luva” a John Wesley, em particular em sua última porção: “lares de bom nível
em que a busca de valores intelectuais era altamente apreciada”.
Nos próximos capítulos estaremos detalhando a tradição acadêmica da família Wesley, o
ambiente familiar onde John Wesley viveu seus primeiros anos de vida e outros fatores que
contribuíram para que John Wesley se tornasse um polímata.
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CAPÍTULO 2: A tradição acadêmica da família


Wesley
John Wesley nasceu em uma família com forte tradição acadêmica.
Seu bisavô paterno, de nome Bartolomeu Wesley estudou teologia e medicina na
Universidade de Oxford. Foi clérigo em Charmouth.
O avô paterno de John Wesley e que lhe “emprestou o nome” era formado em artes pela
Universidade de Oxford, mas optou pelo sacerdócio, em lugar da carreira acadêmica, sendo
nomeado para a paróquia de Winterbourne, em 1658.
Seu pai, Samuel Wesley também obteve diploma universitário na Universidade de Oxford
(Exeter College) e desde então atuou como clérigo da igreja anglicana (igreja oficial inglesa). Em
12/11/1688 se casou com Susana Wesley.
Entre os anos de 1691 e 1697, Samuel e Susana Wesley (pais de John Wesley) viveram
em South Ormsby, condado de Lincolnshire. Em seguida foram transferidos para Epworth, onde
Samuel Wesley atuou como clérigo e permaneceu morando na casa paroquial até seu falecimento
no ano de 1735.
Samuel Wesley se destacou por sua produção literária. Seu último livro, “Dissertações
sobre o livro de Jó” foi editado e publicado por John Wesley, após a sua morte.
A vida de Samuel Wesley foi marcada por dificuldades financeiras. Uma vez ele foi preso
por causa de dividas. Porém, esta continua adversidade não o impediu de encaminhar seus três
filhos para estudar em renomadas escolas. Isto foi necessário porque, Epworth, localizada 300
quilômetros ao norte de Londres era uma cidade com poucos habitantes.
O primeiro a sair de casa para dar continuidade aos estudos foi Samuel Wesley Junior, o
filho primogênito de Samuel e Susana Wesley. Nascido em 10/02/1690, ele deixou o lar bem
jovem para estudar na Westminster School, em Londres. Em seguida estudou na Universidade de
Oxford, onde concluiu o bacharelado em 1715 e o mestrado em 1718. Após ter sido ordenado
clérigo ele também se dedicou ao magistério. Além de professor e pregador também se destacou
como escritor. Aqui elencamos algumas de suas publicações: A história de três crianças (1724);
O porco e o mastim: dois contos (1726); Pastoral (1726); Em memória do reverendo Francis
Gastrell (1726); As prisões de um poema (1729); O sapateiro: um conto (1731); Quatro contos à
maneira do genial Matt Prior (1735); Poemas em várias ocasiões (1736).Samuel Wesley Junior
foi professor na escola de Westmister por quase 20 anos. Depois se tornou capelão e depois
diretor na Blundell´s Free Gramar School em Tiverton, onde ganhou boa reputação por combinar
altos padrões de ensino com um cuidado pastoral profundo.
John Wesley, treze anos mais novo do que Samuel Wesley Junior e cinco anos velho do
que Charles Wesley foi o segundo a deixar a cidade natal para dar continuidade aos estudos. Ele
foi sem duvida o que mais se destacou entre os três irmãos, mas não falaremos dele neste capítulo,
porque o restante do livro será dedicado exclusivamente a ele.
Charles Wesley, nascido em 18/12/1708 em Epworth, deixou sua cidade natal aos oito
anos de idade (1716) para estudar na Westminster School em Londres, onde seu irmão mais velho
(Samuel Wesley Jr.) era professor. Nessa escola a disciplina era muito rigorosa e dava se muita
importância ao estudo do latim. O que explica, porque quando adultos John e Charles Wesley
costumavam conversar em latim.
Charles e John Wesley eram muito próximos. Esta forte relação fraternal é muito bem
definida nesta frase de John Wesley: “Eu tenho um irmão que é como a minha própria alma”.
Charles Wesley estudou no Christ Church College da universidade de Oxford. Em 1730
tornou-se bacharel em artes e em 1735 clérigo da igreja Anglicana. Neste mesmo ano, iniciou
com seu irmão John Wesley uma viagem missionária à Geórgia, Estados Unidos onde atuou como
missionário e secretário do governador da Geórgia entre 06/02/1736 e 26/07/1736.
Sua fecundidade composicional fez sua fama.
No livro “Ênfases Metodistas: A Redenção”, Warren C. Wofford informa que Charles
Wesley escreveu 6500 hinos, mas este número poderia alcançar 9000 hinos segundo Barrie W.
Tabrahan, em sua obra “Brother Charles: Vida e Obra de Charles Wesley”.
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A importância de Charles Wesley na composição de hinos pode ser vislumbrada no


livro “Hinologia Metodista” de David Creamer, publicado em 1848, onde dos 697 hinos ali
elencados, 501 hinos são de Charles Wesley e apenas 34 hinos compostos por John Wesley.
Dos hinos de Charles Wesley, o mais conhecido tem o título de “Natal”. Este hino ainda é
muito cantado nas festas natalinas.
Na homenagem feita pelo Dr. Whitehead (medico da família) há uma porção que define
bem o legado deixado por Charles Wesley: “Morto ele ainda fala através de seus numerosos e
excelentes hinos que continuam a promover edificação diária para milhares de pessoas”.
A tradição acadêmica e cultural da família Wesley rendeu muitos outros frutos,
destacando-se Samuel Sebastian Wesley, neto de Charles Wesley. Em reconhecimento ao seu
talento como organista a rainha Vitória lhe concedeu no ano de 1873 o título de cavaleiro.
Enquanto temos muitas informações sobre a tradição acadêmica da família de John
Wesley por parte de pai, em relação à mãe, sabemos bem menos. O pai de Susana Wesley foi um
clérigo protestante e Susana cresceu vendo o pai dedicar boa parte do dia ao estudo da bíblia.
Ao se casar com um pastor anglicano Susana, mãe de John Wesley assumiu imediatamente
três funções: ser pobre, ser cristã e gerar filhos. E ela cumpriu bem estes três papeis.
É provável que a maior demonstração da “força intelectual” de Susana Wesley ocorreu
quando seu filho John Wesley se envolveu em uma disputa teológica (arminianismo versus
calvinismo) com George Whitefield (1714–1770), também reconhecido como um dos maiores
líderes protestantes do século XVIII.
Firme defensor do calvinismo, George Whitefield rompeu com o arminianismo de John
Wesley e as razões desta ruptura encontram-se em uma série de cartas trocadas entre eles no
período de 09/08/1740 a 24/12/1740.
Quando “o conflito” foi deflagrado, Susana Wesley escreveu um pequeno livro publicado
anonimamente com o título: “Alguns reparos sobre uma carta do Rev. Whitefield ao Rev.
Wesley”. O livro é a resposta a uma carta onde George Whitefield havia atacado com veemência
a linha teológica seguida por John Wesley. Neste livro, Susana defende seu filho John Wesley e
argumenta fortemente contra o pensamento de George Whitefield, mostrando um respeitável
conhecimento da literatura teológica relevante da época.
Uma leitura cuidadosa deste pequeno livro revela Susana como uma excelente teóloga e
polemista, um aspecto de sua vida menos conhecido.

Capítulo 3: Educação nos primeiros anos de


vida
Susana teve 19 filhos dos quais 9 faleceram antes de completar um ano. Isto era comum
em uma época em que não havia vacinas e antibióticos e a expectativa de vida era de 30 anos.
Como estes filhos nasceram ao longo de cerca de vinte anos, foi possível contar com a
ajuda das filhas mais velhas na criação dos filhos mais novos. De qualquer forma, podemos inferir
que durante muitos anos havia “pelo menos uma meia dúzia de crianças para ela cuidar”.
Como o pai, Samuel Wesley, tinha pouco tempo disponível para ajudar a cuidar dos filhos,
a tarefa de educá-los foi em sua maior parte assumida por Susana Wesley.
O historiador Richard Green (1829–1907) fala do compromisso de Susana Wesley, mãe de
John Wesley na educação dos filhos: “A guia mestra daqueles pequeninos e jovens em
desenvolvimento era sua melhor, mais amorosa e amada amiga: uma sábia, doce e piedosa mulher.
Eles não foram deixados aos cuidados de servos ignorantes ou professores desinteressados. Ela,
com a ajuda de seu marido, era a professora deles, até que sob seus olhos, o mais velho fosse
capaz de dar instrução ao mais jovem. Sua família era governada pela lei e ela era a legisladora,
mas a lei em sua boca era a lei da delicadeza. A instrução e o treinamento de seus filhos foi
consequência de seu próprio treinamento: sua disciplina seguiu sua própria autodisciplina.”
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Susana Wesley criou os filhos em um ambiente de muita disciplina. Mas antes de


disciplinar, ela dava o exemplo ao levar uma vida extremamente regrada. Ela separava um
período do dia para o seu devocional. Não importava o que ocorresse, ao badalar do relógio, ela
fazia seu retiro espiritual. Deste modo, o ponto de partida de todo o processo educacional
conduzido por Susana Wesley eram suas meditações diárias. Em sua biografia “Susana Wesley, a
mãe do Metodismo”, a escritora Mabel R. Brailsford comenta: “Quando nos perguntamos como
24 horas podiam conter todas as atividades que uma frágil mulher de 30 anos, era capaz de
fazer, a resposta pode ser encontrada no tempo de retiro diário quando obtinha de Deus na
quietude de seu quarto: paz, paciência e uma coragem incansável”. Nestas meditações ela
encontrava a força necessária para travar as lutas de cada dia.
Sua coragem, autoridade, firmeza, independência, controle da mente, o fervor de seus
sentimentos devocionais e a direção prática dada em seus ensinamentos brotaram e se repetiram
muito visivelmente no caráter e na conduta de seu filho John Wesley. Assim, para entender o
caráter, a religiosidade e o amor ao conhecimento de John Wesley é preciso entender o modo de
agir de uma mãe exemplar cuja atuação como incansável educadora formou um homem que
mudou a história da Inglaterra e influenciou o mundo. Na verdade, poucas mulheres na história
possuíram a sensibilidade espiritual, o vigor e a sabedoria de Susana Wesley.
Se uma boa formação educacional desde os primeiros anos de vida pode alavancar o
desenvolvimento intelectual do ser humano podemos afirmar que neste quesito John Wesley foi
um privilegiado. Já adulto ele pediu para a mãe escrever como criou os filhos. Ela então escreve:
“Ninguém pode, no sentido mais literal, empregar meu método sem renunciar ao mundo. Poucas
pessoas devotariam inteiramente vinte anos do vigor da vida na esperança de salvar as almas
dos filhos. Porque esta foi minha principal intenção, mesmo que realizada de maneira inábil”.
Uma de suas prioridades era vencer a rebeldia latente em cada criança como podemos ler
nesta carta de Susana Wesley enviada ao filho, John Wesley: “Para formar a mente das crianças
a primeira coisa a ser feita é vencer lhes a vontade e fazê-las obedecer. Formar o entendimento
da criança é obra que exige tempo e deve ser feita gradualmente de acordo com a capacidade da
criança. Contudo, dominar a vontade da criança é algo que deve ser feito de uma vez e quanto
mais cedo melhor. Se acaso negligenciarmos de corrigi-las, isto torna as crianças teimosas e
obstinadas, sendo necessários castigos mais severos se quisermos corrigir estes hábitos mais
tarde. Quando uma criança for corrigida sua obstinação deve ser vencida e não será difícil fazê-
lo se ela ainda não está viciada pela demasiada tolerância dos pais com seus erros. Antes de a
vontade da criança estar completamente vencida e ela estar pronta para obedecer aos pais, ela
deve ser corrigida brandamente. Contudo, a desobediência voluntária não deve ser perdoada,
devendo a criança receber o castigo de acordo com a ofensa e a circunstância. Eu insisto que a
vontade da criança deve ser dominada o mais cedo possível ... E todo aquele que incentiva a
obstinação de uma criança garante seu naufrágio no futuro. Mas, todo aquele que a educa e
disciplina a vontade própria promove a felicidade e a piedade da criança no futuro ....”.
O rigoroso processo educacional começava no terceiro mês de vida como bem descreve
Susana Wesley em uma de suas cartas: “Querido filho, de acordo com o seu desejo organizei as
principais regras que observei na educação de minha família e agora lhe envio na ordem em que
ocorreram na minha mente. Você pode dispô-las como quiser. As crianças passavam os três
primeiros meses de vida dormindo. Depois disso, se possível, as crianças eram deitadas acordadas
no berço e balançadas até caírem no sono e então balançadas até a hora de acordar. Isto se fazia
para acostumá-las com as horas certas para dormir que a princípio eram três horas pela manhã
e três horas à tarde; depois duas horas até não precisarem mais dormir durante o dia”.
A educação oferecida por Susana Wesley aos seus filhos era extremamente rigorosa, o que
podemos inferir com base nesta porção de uma carta escrita por ela: “Quando alcançavam um ano
de idade e algumas antes disto, eram ensinadas a temer a vara, a chorar baixinho, o que lhes
poupou muitas outras correções. Assim, raramente se ouvia o barulho de crianças chorando e a
família vivia em tal silêncio, como se não houvesse crianças em nosso lar”.
O quinto aniversário era um acontecimento importante na vida de cada criança e para o
qual as devidas preparações eram feitas. Mas, tão logo o aniversário com suas simples
festividades terminavam, o aprendizado começava de fato. A este respeito Susana Wesley
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escreve: “A nenhuma criança se ensinava a ler antes dos cinco anos de idade. Quando se tentou
mais cedo, a criança levou mais tempo para aprender”.
Cada aluno tinha seu lugar na sala de aula, onde havia tarefas a serem cumpridas e
horários rígidos para iniciar e terminar os trabalhos como escreve Susana Wesley: “No dia antes
de começarem a aprender a casa era colocada em ordem. Cada um tinha sua tarefa e ninguém
podia entrar na sala das 9:00 às 12:00 horas e das 14:00 às 17:00 horas”.
Eram seis horas de aulas de segunda a sábado, onde eram alfabetizados, tendo a bíblia
como texto. Seu método, ela garantia, levava seus filhos a aprender a ler e escrever em três meses.
Mas, o ensino não ficava restrito à leitura da bíblia. Eles também recebiam aulas de matemática,
literatura e ciências.
Não havia conversas em voz alta, uma vez que cada um dedicava-se ao seu estudo.
Sair do seu lugar ou da sala não lhes era permitido sem uma boa razão.
Às 17:00 horas acontecia o culto doméstico diário.
Além das atividades escolares, cada criança, uma vez por semana, em horários pré-
definidos, conversava privativamente com Susana Wesley. Ela os tratava de acordo com suas
idades e temperamentos individuais. Para John Wesley ela reservava duas horas nas noites de
quinta-feira. Em relação a este período, John Wesley já adulto, escreveria: “Se você puder me
reservar apenas pequena parte da quinta-feira à tarde, eu não duvido que fosse tão útil
agora para corrigir meu coração, quanto foi útil para formar meu juízo”.
A prova de que o método de ensino de Susana foi bem sucedido foi que todos os seus
filhos, aparentemente sem exceção desenvolveram amor pela leitura. Isto porque o trabalho era
feito de modo gentil e com muita paciência. Por exemplo, certa vez, o marido Samuel, bastante
irritado disse a Susana: “Acho admirável sua paciência, porque você repetiu a mesma coisa e essa
criança nada menos do que vinte vezes”. Ela respondeu calmamente: “Teria perdido o meu tempo,
se tivesse repetido somente dezenove, porque foi só na vigésima vez que alcancei meu objetivo”.
Suzana escreve: “Às 18:00, logo que se encerrava o culto doméstico nós jantávamos; às
19:00 horas a empregada dava banho nas crianças e mudava a roupa delas começando pela mais
nova. Às 20:00 eram levadas para a cama, onde permaneciam acordadas porque não era
costume em nossa casa alguém ficar ao lado da cama da criança até caírem no sono”.
O jantar como um momento de reunião da família acontecia dentro das regras
estabelecidas por Suzana Wesley. É interessante observar que as crianças não deveriam comer
fora de horário das refeições. Esta orientação, dada por uma mulher “à frente de seu tempo” é tão
avançada que ainda não foi posta em prática nos dias atuais.
Suzana Wesley escreve: “Elas ficaram tão acostumadas a comer e beber o que era dado
que quando ficavam doentes, não era difícil conseguir que tomassem o remédio, ainda que de
mau paladar e mesmo que vomitassem logo em seguida. Faço menção disso para demonstrar que
uma pessoa pode ser ensinada a tomar qualquer coisa ainda que seja repelida pelo estomago”.
Comentário: Remédios no século XVIII eram bem mais amargos do que em nossos dias.
Contudo, vemos que quando alguém é ensinado a portar se com ordem e decência nas coisas
agradáveis da vida (jantar), isto facilita o enfrentamento dos “remédios amargos”.
O ambiente familiar criado por Susana Wesley pode ser resumido neste texto escrito por
ela: “Logo aprenderam que não ganhariam nada gritando. Se quisessem alguma coisa elas
deveriam falar com delicadeza e pedir em voz baixa. Também aprenderam cedo a ficar quietas
na hora do culto doméstico e a dar graças na mesa. Obscenidades, nomes feios ou menos respeitosos
não se ouviam entre elas. Não havia choro, mas risos e brincadeiras eram sons habituais”.
Susana Wesley alfabetizou suas filhas, sem qualquer distinção em relação aos filhos.
Mesmo nos dias atuais onde a igualdade das mulheres ainda não foi alcançada, a ideia de oferecer
às meninas condições educacionais semelhantes à dos meninos, mostra que a maneira de pensar
de Susana Wesley estava muito além do seu tempo.
Sua opinião sobre a educação feminina é resumida nesta frase: “Não deixe uma menina
trabalhar antes de saber ler, esta é uma das razões porque tão poucas mulheres sabem ler”.
Temos poucas informações desempenho intelectual das irmãs de John Wesley, mas o
suficiente para entendermos que estas “meninas” foram culturalmente diferenciadas da maioria
das mulheres de seu tempo.
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Nascido em 1703, John Wesley tinha 5 irmãs mais velhas: Emily, Susana (Suckey), Mary
(Molly), Mehetabel (Hetty) e Anne (Nancy). Elas eram muito afeiçoadas a John Wesley e
ajudavam a mãe em sua educação, lendo para ele todos os dias. Havia também duas irmãs mais
novas: Martha (Paty) e Kezia (chamada de Kezzy).
Emily, nascida em 1692 demonstra seu gosto pela leitura nesta porção de uma carta escrita
ao irmão John Wesley: “Eu vivi uma vida simples. Tive a maioria de minhas necessidades
supridas, apesar de pouca diversão e também nunca viajei ao exterior. Ainda assim, após
terminar um dia de trabalho eu leio algum bom livro e me sinto suficientemente contente”.
Molly que nasceu em 1696 atuou como secretária do pai.
Hetty nasceu em 1697. Ensinada pelo pai lia o novo testamento em grego aos oito anos.
Quando adulta Hetty tornou-se uma mulher que gostava de ler bons livros e escrever poesias.
Anne nascida em 1701 gostava de sentar-se com a mãe para conversarem sobre literatura.
Martha nasceu provavelmente em 1706 tinha boa memória e era capaz de se lembrar de
longos textos de livros e peças que havia lido.
Kezzy era uma leitora ávida e pedia ajuda a John Wesley para escolher os livros.
Apesar de todo potencial intelectual, as irmãs de John Wesley não se destacaram
profissionalmente. Para este fato a explicação é muito simples: a falta de acesso das mulheres em
cursos universitários retirava a possibilidade de elas contribuírem além dos relevantes papeis de
mães, donas de casa, governantas, damas de companhia e cuidadoras dos pais idosos.

CAPÍTULO 4: Estudos na Charterhouse


School e Universidade de Oxford
Em 1714, com apenas 10 anos, John Wesley deixou a pacata Epworth, onde nascera para
viver como interno durante seis anos (1714–1720) na “Charterhouse School”, uma conceituada
escola fundada em 1611. Na verdade, a família não tinha recursos para custeá-lo, mas o reverendo
Samuel Wesley, seu pai, conseguiu esta posição graças à influência do Duque de Buckingham
(1648–1721).
Observação: o apoio para as suas pretensões possivelmente teve como base suas atividades
políticas. Em 1688 (ano em que Samuel e Susana se casaram) William Orange, (protestante e
defensor da monarquia parlamentar), com apoio das tropas holandesas expulsou James II
(católico), tornando-se rei da Inglaterra, Irlanda e Escócia. Este evento conhecido como a
“Revolução Gloriosa” contou com o apoio de uma importante facção política da época: os
“Tories” (protestantes contrários aos ingleses terem um rei católico) em oposição aos “Whigs”
(partidários de James II). Samuel Wesley era vinculado aos Tories.
Nesta fase de sua vida John Wesley contou com a ajuda do irmão mais velho. É o que
podemos inferir a partir desta porção de uma carta de Samuel Wesley Junior endereçada ao pai:
“Jack está comigo; este bravo garoto aprende Hebraico tão rápido quanto ele pode”.
Alguns anos depois Charles Wesley, o irmão mais novo, se juntaria a John e Samuel e o
costume familiar do irmão mais velho ensinar o irmão mais novo se mantém, mesmo longe de
casa. É o que podemos inferir a partir desta porção de uma carta de Samuel Wesley Junior
endereçada ao pai: “Meu irmão Jack (John Wesley), eu posso assegurar-lhe fielmente, não lhe dá
motivo de desencorajamento, em fazer de seu terceiro filho (Charles Wesley) um estudioso.
Em 1720 John Wesley obteve uma bolsa para estudar na universidade de Oxford e aos 21
anos (em 1724) concluiu seu bacharelado em artes no “Christ Church College” (fundado em 1546).
Durante este período ele continua a receber preciosos conselhos de sua mãe - Trecho de
carta escrita em 24/11/1724: “Desejo que você economize todo o dinheiro que você puder poupar
convenientemente, não para gastar em uma visita, mas com um propósito mais sábio e sublime:
pagar suas dívidas e ficar mais tranquilo. Mas, não perdi a esperança de encontrá-lo no próximo
verão, se Deus prolongar minha vida sem valor”.
É possível que tenha pesado na decisão final de se tornar um clérigo, uma carta de sua mãe
de 23/02/1725 (pouco antes dele completar 22 anos): “Meu querido Jack. A transformação
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operada em sua alma tem me dado muito que pensar. ... Peço-lhe encarecidamente que faça um
exame rigoroso de sua consciência. ... Se você se encontrar nesse estado de religião, a satisfação
de saber disso recompensará amplamente os seus esforços; caso contrário, você terá motivo de
derramar lágrimas, muito mais amargas que aquelas que a presença de uma tragédia poderia
arrancar de você”. A exortação feita por sua mãe deu resultados, como vemos nesta porção de
uma carta ao filho John Wesley: “Fiquei muito contente com a proposta de ordenação pastoral.
Aprovo a disposição de sua mente. Penso que este período que antecede a páscoa é bem
apropriado para sua preparação para as ordenanças e penso que quanto mais cedo você for um
diácono melhor”.
A ordenação ocorreu em 19/09/1725. John Wesley tinha apenas 22 anos quando foi
ordenado clérigo da igreja Anglicana no “Christ Church College”. Além disso, em função de seu
destaque como acadêmico recebeu o título de “Felow’ da universidade de Oxford, uma honraria
que lhe conferia uma posição nesta universidade.
Em 1726, aos 23 anos tornou-se tutor de grego e filosofia no Lincoln College (Universidade
de Oxdord), onde ainda existe um espaço reservado (The Wesley room) em sua homenagem.
Em uma carta escrita em 30/03/1726 vemos Susana comemorar mais uma vitória de seu
filho:
“Querido Jacky. Eu lhe parabenizo pelo sucesso alcançado no grau de mestre”. Nesta
mesma carta Susana escreve: “Querido Jacky. Agradeço ao Deus Todo-Poderoso por lhe dar
sucesso em Lincoln ....”.
Foi durante este período que a leitura de textos do Monge alemão, Tomás de Kempis
(1380 - 1471) e de seu contemporâneo, o clérigo Anglicano Willian Law (1686 - 1761) o
influenciaram fortemente.
Sobre o período em que estudou em Oxford algumas porções do diário de John Wesley
nos sugere que ele mantém: 1. O fervor religioso que caracterizou sua infância e adolescência; 2.
O desejo de alcançar um conhecimento mais profundo. 3. A necessidade de aproveitar o tempo.
4. Disciplina em relação aos estudos. 5. O cuidado em manter uma vida irrepreensível. 6. O
desejo de ser um modelo de vida.
Em agosto de 1727, atendendo um pedido de seu pai passou a auxiliá-lo como pastor em
Epworth. Em novembro de 1729 retornou para a Universidade de Oxford onde permaneceria por
mais seis anos.
Ao retornar à Universidade incorporou-se ao clube santo fundado por Charles Wesley.
Eles tinham hora determinada para oração, leitura bíblica, meditação e também jejuavam todas as
quartas e sextas- feiras até as 15:00. Outra característica do clube Santo era a visita regular aos
presos e enfermos; cuidado com os pobres e idosos e a alfabetização de crianças.
John Wesley logo se tornou o líder do grupo, não apenas por ser o mais velho, mas por
suas qualificações intelectuais. Além do fato de já ter sido ordenado clérigo enquanto os demais
ainda eram estudantes de graduação.
Os colegas universitários, observando que eles eram “extremamente metódicos”, os
apelidaram por zombaria de “Metodistas”, “traças da bíblia”, “Sacramentalistas”, “O Clube
Divino” e “Entusiastas”. Na época o termo entusiasta era extremamente negativo porque era
usado para designar fanáticos religiosos. O próprio nome “clube santo” seria mais um deboche
por parte dos colegas universitários. Na verdade, desde o princípio eles também tiveram de lutar
contra a frieza ou ataques diretos. Por exemplo, em 1733, o semanário “Fogg´s Weekly Journal”
acusou o grupo de querer transformar a universidade em um mosteiro.
Ao grupo se incorporaram outros estudantes e professores, mas nunca ultrapassaram o
número de 25 pessoas. Dentre os ilustres participantes do “Clube Santo”, talvez o mais conhecido
além de John e Charles Wesley foi George Whitefield, um jovem estudante advindo de uma
família muito pobre e que posteriormente seria considerado o maior pregador do século XVIII.
John Wesley queria que os membros do Clube Santo seguissem seu estilo de vida, por
exemplo, no aproveitamento do tempo: ele acordava todos os dias às quatro horas da manhã,
sendo a primeira hora do dia consagrado à leitura da bíblia e orações.
Em carta datada de 25/10/1732, Susana Wesley expressa seu apoio ao trabalho dos filhos
John e Charles no Clube Santo: “Sinceramente, uno-me à sua pequena sociedade em todas as
suas ações piedosas e de caridade que são planejadas para a glória de Deus. Que vocês
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continuem tão bem com estas obras e prosperem. Apesar de ausente no corpo, estou presente com
vocês em espírito e diariamente recomendo e empenho todos à divina providência”.

CAPÍTULO 5: Experiência profissional nos


Estados Unidos
Considero extremamente relevante para a formação profissional de qualquer indivíduo a
oportunidade de trabalhar em outro país. Morei um ano nos Estados Unidos onde fiz meu Pós
Doutorado na Universidade do Texas. Considero este acontecimento como a mais importante
experiência profissional de minha vida. Pois, este período relativamente curto, influenciou
fortemente minha maneira de pensar e agir. Porém, os Estados Unidos que conheci é muito
diferente dos Estados Unidos onde John Wesley foi trabalhar.
Em 1735 John Wesley e seu irmão Charles foram convidados para atuarem como
missionários nos Estados Unidos.
Nesta época as viagens marítimas eram muito perigosas. Pois, havia uma razoável
probabilidade do navio afundar durante as tempestades ou de ser atacado por piratas. Além disso,
naquela época a região dos Estados Unidos que corresponde hoje ao estado da Geórgia era apenas
uma área de disputa entre ingleses e espanhóis e ainda havia os conflitos entre as tribos indígenas
e os conflitos entre “índios e não indios”.
Os dois irmãos queriam aceitar o convite, mas antes, mais especificamente no dia
21/02/1735 foram consultar a mãe. Susana Wesley já se aproximando dos 66 anos de idade, se viu
diante de um novo desafio: concordar com a viagem. Naquele momento, seu marido (Samuel
Wesley) agonizava, (ele iria falecer algumas semanas depois, mais especificamente no dia
25/04/1735). Devemos ainda nos lembrar de que a morte do marido implicaria em ter de deixar a
casa paroquial, onde Susana Wesley tinha morado por quase 40 anos. Além disso, ficaria sem
uma renda para se manter e deveria procurar um filho ou filha para acolhê-la. Diante destes fatos
assustadores eis a resposta de Susana Wesley: “Se eu tivesse vinte filhos, me alegraria em
consagrar todos eles à obra missionária, ainda que tivesse a certeza de nunca voltar a vê-los”.
Descrevo este episódio para destacar um fato sempre presente na vida de John Wesley: o
apoio irrestrito de seus pais em relação aos seus empreendimentos profissionais.
Contudo, antes de “iniciarmos a viagem aos Estados Unidos” é importante entendermos o
contexto histórico em que esta viagem ocorreu. Na verdade, a possibilidade de John Wesley
realizar esta viagem surgiu quando o rei Jorge II da Inglaterra criou em 09/07/1732, uma nova
colônia na América do Norte que recebeu o nome de Geórgia em sua homenagem.
A colonização desta região se deu através da liderança de James Eduard Oglethorpe, um
homem que conseguia combinar carreira militar, política (foi deputado do parlamento britânico
entre 1722 e 1754) e empreendorismo.
Em 1734, James Eduard Oglethorpe, na condição de governador da Georgia, retornou à
Inglaterra e conseguiu que o parlamento inglês libertasse pessoas que estavam encarceradas, (em
parte por causa de dívidas) para que fossem colonizar a nova terra. Oglethorpe acreditava que
seria possível reabilitar pessoas condenadas levando-as para a Geórgia. Para alcançar seus
objetivos, Oglethorpe recebeu apoio político. Isto porque os prisioneiros que davam despesas se
transformariam em mão de obra barata. Além disso, havia a necessidade de povoar as terras “do
Novo Mundo”, ameaçadas por franceses e espanhóis e também porque “quanto mais gente para
morrer lutando contra os invasores melhor”. “Aos prisioneiros” logo se acrescentaram
protestantes alemães, morávios, presbiterianos escoceses e outros grupos que tinham em comum o
desejo de escapar das perseguições religiosas que aconteciam na Europa.
Como Oglethorpe estava preocupado com a espiritualidade dos colonos ingleses, ele
decidiu convidar clérigos anglicanos para atuarem na Geórgia.
Neste processo de arregimentação surgiram os irmãos John e Charles Wesley.
Um ponto a ser destacado é que a partir do início desta viagem John Wesley passou a
escrever um diário que até hoje constitui a principal fonte de informações sobre sua vida pessoal.
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Já nas primeiras páginas do diário aparece uma característica de sua personalidade: “14 de
outubro de 1735 (terça-feira): O Sr. Benjamim Ingham do Queen´s College, Oxford; o Sr.
Charles Delamotte, filho de um magistrado de Londres; meu irmão Charles Wesley e eu
pegamos um navio com a finalidade de embarcar para a Geórgia. O motivo de deixarmos
nosso país não foi dificuldades financeiras (pois, Deus nos tem dado bênçãos temporais
suficientes) ou para receber migalhas dos ricos ou obtermos honra; mas simplesmente para
salvar nossas almas e viver completamente para a glória de Deus”.

John Wesley sempre apresentou forte interesse em aprender novas línguas e uma das
razões era seu forte desejo de interagir com as pessoas: “17 de outubro de 1735 (sexta-feira):
Comecei a aprender alemão visando conversar com os vinte e seis alemães que estavam a
bordo”.

Na porção do diário que se encontra no próximo parágrafo vemos que a vida de John
Wesley era marcada por extrema disciplina onde se acrescenta uma característica típica do
polímata: trabalhar intensamente, característica que ele manterá até os últimos dias de sua vida.
21 de outubro de 1735 (terça-feira): Nosso modo de viver era esse: das quatro às
cinco da manhã cada um fazia sua oração; das cinco às sete horas, lemos a bíblia juntos e
cuidadosamente para não nos apoiarmos em nossas próprias convicções. Às sete horas
temos o café da manhã; às oito horas lemos as orações públicas; das nove às onze horas
aprendo alemão. Ao meio-dia nos encontramos para prestar contas uns aos outros do que
fizemos desde nosso último encontro e o que pretendemos fazer até o próximo encontro. Por
volta de uma hora da tarde almoçamos. Após o almoço até às quatro horas lemos ou
conversamos, conforme a necessidade, com aqueles pelos quais cada um de nós se
responsabilizou. Às quatro horas, somos os oradores da tarde, quando a segunda lição é
explicada e as crianças são catequizadas e instruídas .... Das cinco às seis da tarde, lemos
novamente as orações em particular; das seis às sete horas da noite leio para dois ou três
passageiros e cada um dos irmãos leem para mais alguns deles. A partir das sete horas
reúno-me com os alemães no seu culto público. Às oito horas da noite nos reencontramos
para nos exortarmos e instruir uns aos outros. Entre nove e dez horas da noite nos
recolhemos, onde nem mesmo o rugido do mar e o movimento do navio podem perturbar o
sono refrescante que Deus nos proporciona.

A elevada carga de trabalho combinada com muitos estudos não desligava John Wesley do
mundo. Muito pelo contrário, ele se mostra um bom observador do comportamento das pessoas
ao seu redor. No comentário que transcreveremos a seguir ele deixa o patriotismo de lado e
reconhece que os Morávios possuem melhor conduta cristã do que seus compatriotas ingleses.
25 de janeiro de 1736 (domingo): Às sete horas fui até os alemães. Há algum tempo
tenho observado o comportamento deles. A seriedade e humildade ao realizarem trabalhos
servis em favor de outros passageiros, o que não acontecia com qualquer dos ingleses a
bordo. Eles recusavam pagamento por seus serviços dizendo “isto é bom para nossos
corações orgulhosos” e que “o amoroso Salvador tinha feito muito mais por eles”. Todos os
dias mostravam mansidão. Se eram empurrados, atingidos ou jogados no chão, eles se
levantavam novamente e iam embora e nenhuma queixa era encontrada em suas bocas.

John Wesley não apenas observa, mas é pró-ativo procurando entender comportamentos
que não se encaixam com sua maneira de pensar, como vemos nesta porção de seu diário.
Uma onda quebrou sobre o navio e fez a vela principal em pedaços .... Um terrível
grito foi ouvido entre os ingleses. Os alemães, no entanto, cantavam calmamente. Mais tarde
perguntei a um deles:
- Vocês não estavam com medo?
E ele respondeu: - Graças a Deus não.
Então perguntei: - Mas as mulheres e as crianças não estavam com medo?
Ele respondeu suavemente: - Nossas mulheres e crianças não tem medo de morrer!
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John Wesley (que morria de medo de morrer) acaba de aprender uma lição. E aqui temos
mais uma característica deste polímata: ele põe imediatamente em prática o que aprendeu.

Logo em seguida fui até seus vizinhos que choravam e tremiam e mostrei-lhes a
diferença na hora da provação entre aquele que teme a Deus e aquele que não teme.

No dia 06/02/1736, a viagem iniciada quase quatro meses antes (em 14/10/1735) chegou
ao fim. Ao chegarem à Geórgia enquanto John Wesley atuava como clérigo em Savannah, seu
irmão Charles Wesley atuava em um cargo administrativo e como capelão no forte Frederica. Seis
anos mais tarde (1742), os espanhóis tentaram tomar o forte Frederica, mas foram derrotados
pelos homens comandados por James Oglethorpe. Em resumo, o trabalho dos irmãos Wesley se
desenvolveu em um ambiente marcado pelo conflito entre ingleses e espanhóis.
O período em que permaneceu nos Estados Unidos foi marcado por muitos contatos com
uma grande diversidade de povos e línguas. Neste período John Wesley manteve vivo interesse
em dialogar, conviver e evangelizar todos ao seu redor. Além disso, realizou um trabalho intenso
em atividades além das funções de clérigo. Por exemplo, por estar vivendo em um lugar sem
médicos e medicamentos ele assumiu funções extra-pastorais que incluiu atender as demandas de
saúde de seu rebanho. Por exemplo, em seu diário de 26 de junho de 1737 lemos: o Sr. Causton,
lojista e magistrado chefe de Savannah foi atacado por uma febre. Eu o atendo todos os dias
(como faria com qualquer paroquiano que estivesse em alguma enfermidade dolorosa ou
perigosa) ...

Em dezembro de 1737, após um ano de dez meses na Geórgia (EUA) John Wesley
retornou à Inglaterra.

CAPÍTULO 6: Ações por um mundo mais justo


Há dois tipos de polímatas. A maioria deles seriam definidos como enciclopédias
ambulantes. Porém, guardam o conhecimento para si ou o usam pare mostrar que sabem muito
sobre muitas coisas. Por outro lado, temos aqueles que se destacam por transferir seus amplos
conhecimentos para a sociedade em que vivem. John Wesley faz parte deste grupo.
Mas para fazer uso do que sabe em serviço da sociedade é preciso compreender os
problemas desta sociedade. Então cumpre destacar que John Wesley tinha uma clara compreensão
da sociedade inglesa do período da revolução industrial caracterizada pela miséria de uma classe
trabalhadora explorada de forma cruel pelas classes dominantes.
É importante destacar que John Wesley não era do tipo que defendia o combate à pobreza
“com o dinheiro dos outros”. Ele pedia apoio financeiro para seus empreendimentos sociais, mas
dava o exemplo, ao repetir continuamente e vivenciar no dia a dia esta frase: “Ganhe tudo o que
puder, poupe tudo o que puder e doe tudo o que puder”.
Na educação John Wesley buscava priorizar os excluídos pela sociedade. Em relação aos
participantes do Movimento Metodista Wesley deixou bem claro: “Os Metodistas poderão ser
pobres. Mas não há necessidade de que eles sejam ignorantes”.
John Wesley antecipou quase todas as formas atuais de serviço social quando liderou o
Movimento Metodista: casas para operários, orfanato e alfabetização para crianças, esquemas de
trabalho para desempregados, bancos para empréstimos aos pobres, tratamento dos sem médicos e
sem medicamentos, etc. Em resumo, com John Wesley aprendemos a cuidar integralmente das
pessoas, particularmente dos marginalizados sociais.
Ele era intensamente interessado nas questões sociais. No texto “Pensamento a respeito
da presente escassez de provisões”, publicado em 1773, ele descreve vividamente a miséria do
povo ao mesmo tempo em que condena o esbanjamento e o luxo.
John Wesley esteve envolvido em diversas ações sociais que além da propagação do
cristianismo incluía o combate à exploração dos trabalhadores impostas pela revolução industrial,
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melhoria das condições dos encarcerados, tratamento humanitário aos prisioneiros. O combate à
escravidão, ao analfabetismo, ao etilismo e à fome.
Em relação ao combate à escravidão, em 1774, muito antes de ocorrer a abolição da
escravatura na Inglaterra e suas colônias (1833), John Wesley escreveu um livro chamado
“Pensamento sobre a Escravidão”, onde ele comenta: “Metade da riqueza de Liverpool é
derivada da execrável soma de todas as vilanias comumente denominada comércio de
escravos. Desejo por Deus que o comércio de escravos nunca mais seja estabelecido. Que
nunca mais roubemos e vendamos nossos irmãos como animais, nunca mais os assassinemos
aos milhares”.
John Wesley reimprimiu esse tratado diversas vezes e o distribuiu na Inglaterra,
incentivando as pessoas na luta contra a escravidão. Em carta endereçada ao Sr. Samuel Hoare,
em 18/08/1787 John Wesley escreve: Sem dúvida nenhuma, você deve se preparar para
encontrar uma áspera e violenta oposição. Afinal, os escravagistas são numerosos, ricos e,
consequentemente, um grupo muito poderoso. No momento em que você coloca os negócios
deles em perigo, você toca naquilo que lhes é mais querido. Então eles irão concentrar todas
as suas forças contra você. Eles irão contratar escritores em grande número e esses tratarão
você sem justiça e sem misericórdia. Mas, eu confio que você não vai se assustar quando
alguns dos seus amigos se voltarem contra você. Admita-me dizer: para homens será
impossível, mas sabemos que todas as coisas são possíveis com Deus. O pouco que eu posso
fazer para promover esse excelente trabalho eu o farei com prazer. Vou mandar imprimir
uma ampla edição do tratado que eu escrevi alguns anos atrás, intitulado “Os Pensamentos
sobre a Escravidão”, e mandá-lo para todos os meus amigos.
John Wesley prosseguiu em sua luta contra a escravidão até os últimos dias de sua vida.
Em 24/02/1791, menos de uma semana antes de seu falecimento, ele enviou uma carta ao líder
abolicionista inglês William Wilberforce cujo projeto para o fim do comércio de escravos havia
sido rejeitado pelo parlamento inglês.

À William Wilberforce
... Lendo esta manhã um tratado escrito por um pobre africano, fiquei
particularmente chocado por esta circunstancia de que se um homem de pele negra foi
injustiçado ou ultrajado por um homem branco. Ele não pode receber reparação sendo lei
em todas as nossas colônias que o juramento de um negro contra um branco para nada
serve. Que vilania é esta? Que aquele que tem guiado você desde a juventude possa
continuar a fortalecê-lo nesta e em todas as coisas. Esta é a oração, querido senhor, de seu
afetuoso servo”. J. Wesley.
Em 1807 o Parlamento aprovou o Abolition Act, que proibia o tráfico de escravos na
Inglaterra. Mas a abolição da escravatura só ocorreu em 1833.
Cumpre destacar que a luta de John Wesley contra o racismo e a escravidão teve
prosseguimento, onde destacamos o trabalho de Rosa Louise Parks (1913-2005) e Nelson
Mandela (1918-2013). Nelson Mandela, membro da igreja Metodista do Sul da África se destacou
na luta contra o apartheid na Africa do Sul.
A seguir, extraímos algumas porções do diário de John Wesley que descrevem suas ações
sociais em prol de um “mundo melhor”.
15 de outubro de 1759 (segunda-feira): Caminhei para Knowle, a uma milha de
Bristol para visitar os prisioneiros franceses. Mais de mil e cem estavam reunidos num
pequeno espaço tendo apenas palha suja para se deitarem; sem cobertores e com apenas
alguns trapos imundos para se cobrirem de modo que morriam facilmente. Fiquei
horrorizado ...
Depois de expressar sua indignação John Wesley reage: Levantou-se uma coleta que
rendeu imediatamente 18 libras, alcançando 24 libras no dia seguinte. Com esta quantia
compramos roupa de cama, cobertores e pano que foram convertidos em camisas e calças;
compramos também meias e tudo foi cuidadosamente distribuído onde houvesse maior
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necessidade. Logo depois a Congregação de Bristol mandou grande quantidade de colchões


e cobertores. E não demorou para chegar mais doações de Londres e de outras partes do
reino. Portanto, creio que daqui em diante os soldados serão mais bem servidos.
Observação: este episódio deve ser entendido no contexto da guerra dos sete anos, isto é,
uma série de conflitos internacionais entre o ano de 1756 e 1763. Neste conflito tínhamos de um
lado a Inglaterra, Portugal, Reino da Prússia e o Reino de Hanôver, e de outro a França, a
Monarquia de Habsburgo e seus aliados (Saxônia, Império Russo, Império Sueco e Espanha).
14 de fevereiro de 1771 (quinta-feira): ... Porque todas as creches (que acolhem
crianças privadas de suas famílias) em Londres e em todo o Reino Unido não são limpas?
Simplesmente pela falta de senso de honestidade daqueles que a supervisionam.
Comentário: Após mostrar-se indignado com a falta de higiene nos orfanatos da Inglaterra,
ele imediatamente trabalhou para solucionar o problema.
Vivendo em um mundo onde “as maquinas estão devorando os empregos”, John Wesley já
expressava suas preocupações (e ações) com esta situação. Temos como exemplo esta porção de
seu diário de 25/12/1740: “Depois de diversos métodos propostos para os desempregados,
decidimos com a menor despesa possível tirá-los de imediato da necessidade e da ociosidade.
Com este propósito contratou-se doze dos mais pobres e um professor que ficariam
empregados por quatro meses até a primavera. E o objetivo foi alcançado: eles foram
mantidos com pouco mais que o produto de seu próprio trabalho”.

CAPÍTULO 7: O amor aos livros e à leitura


Sabemos que ao fugir de um incêndio qualquer pessoa procura carregar o que considera
mais precioso. Veja no caso de John Wesley, o que ele levou consigo quando certa noite foi
retirado da cama às três da manhã em função de um pavoroso incêndio: “ ... Nesse meio tempo
muitas labaredas enormes voavam continuamente sobre a casa ... Numa grande área a uma
pequena distância havia fogo ... Não havia possibilidade de ajuda, porque não havia água.
Percebendo que não seria de grande utilidade peguei meu Diário e meus papeis e me retirei
para a casa de um amigo. Não tive medo, deixando o assunto nas mãos de Deus e sabendo
que ele faria o que fosse melhor”. Foi graças a esta atitude que informações sobre sua vida ao
longo de mais de 50 anos, escritas em seu diário pessoal foram preservadas e chegaram até nós.
Em resumo, ao fugir do incêndio John Wesley demonstrou primeiramente um grande desapego
por bens materiais e que livros eram importantes para ele.
Na verdade John Wesley sempre foi um ávido leitor e escritor. Aos 83 anos, sentindo as
limitações da idade reduziu o tempo de Lee e escrever a apenas 15 horas por dia!

25 de setembro de 1786 (segunda-feira): Agora me apliquei de fato a escrever a


“Vida do Sr. Fletcher” ... A isto dedicarei todo tempo que puder poupar até novembro, das
cinco da manhã às oito da noite. Essas são as minhas horas de estudo: não posso escrever
mais tempo, em um dia, sem ferir meus olhos.
Comentário: o livro de 228 páginas “A Short Account of the Life and Death of the Rev.
John Fletcher. By the Rev. John Wesley”, pode ser adquirido pela Amazon.com

John Wesley dizia ser um homo unislibri (homem de um só livro) e também afirmava:
“Meu alicerce é a bíblia. Eu a sigo em todas as coisas. Grandes e pequenas”. Porém, John
Wesley também valorizava outros tipos de leitura. Pois, dizia: “se não necessitas nenhum outro
livro, a não ser a Bíblia, então tu és mais que o apóstolo Paulo, pois, ele quis aprender de
outros livros também”.
A importância da leitura e os conhecimentos que deveriam ser adquiridos através dela se
estendia aos clérigos sobre sua liderança. Em seu diário encontramos as seguintes porções:
19

“O ministro deve possuir conhecimento da história, de costumes antigos, de


cronologia e de geografia, para aquele que deseja entender as escrituras totalmente, sendo
também altamente recomendável algum conhecimento de ciência .... Em outra porção de seus
escritos encontramos “sem ler intensamente, ninguém pode ser um pregador profundo ou um
completo cristão”.

Contudo, embora valorizasse os livros, John Wesley também reconhecia suas limitações, o
que sintetizou de forma esplendida nesta frase: “Cuidado para não ser tragado pelos livros!
Um grama de amor vale mais que um quilo de conhecimento”.
Esta valorização dos livros e da leitura aparece em diversas porções de seu diário. Por
exemplo, durante sua viagem de navio aos Estados Unidos.
20 de novembro de 1735 (quinta-feira): Durante nossa estadia ali, tivemos várias
tempestades. Em uma delas, as embarcações que estavam no ancoradouro de Yarmouth se
perderam. Distribuímos alguns livros entre os muitos que estavam ali, que eles receberam
com todas as possíveis expressões de agradecimento.
Já atuando como missionário nos EUA, John Wesley coloca entre suas demandas para a
população da cidade onde atuava como clérigo, uma maior disponibilidade de livros.
24 de fevereiro de 1737 (quinta-feira): Concordamos que o Sr. Inghan fosse para a
Inglaterra .... Então por intermédio do Sr. Inghan escrevi que enviassem uma livraria
paroquial a Savannah.
O amplo conhecimento adquirido através de muita leitura levou o desenvolver um apurado
senso crítico como mostra esta porção de seu diário que apresentaremos a seguir.
26 de janeiro de 1737 (quarta-feira): Então me propus avaliar cuidadosamente as
obras de Maquiavel. Eu considerei como um ponto a seu favor a informação de que ele tem
sido mal compreendido e grandemente distorcido. Assim, me esforcei para formar um
julgamento razoável e imparcial. Conclui que se todas as doutrinas que o diabo tem se
comprometido a escrever fossem reunidas em um só volume, elas não se igualariam a este
livro. Além disso, se pudesse um príncipe ter a hipocrisia, a infidelidade, a mentira e os
assassinatos de todos os tipos recomendados neste livro, Nero seria um anjo de luz
comparado a este homem.
Em relação a este comentário sobre Maquiavel, observe que primeiro ele procura se
esquivar de preconceitos evitando os juízos pré-estabelecidos em relação à obra e ao autor. Mas,
apesar do esforço, John Wesley não parece ter encontrado nada de bom na leitura de Maquiavel.

O amplo conhecimento adquirido através de muita leitura levou o desenvolver uma


apurada capacidade de de refletir sobre temas complexos em areas onde o conhecimento ainda
não se encontra estabelecido até os dias atuais. Como exemplo temos este texto extraido de um de
um sermão pregado em agosto de 1789 com o título “A vida do Homem é um sonho” onde John
Wesley fala sobre os sonhos. Seus comentários são bastante avançados, considerando que quando
ele escreveu este sermão (1789), Freud (1856–1939) ainda não tinha nascido e os conhecimentos
sobre a neurobiologia do sono e dos sonhos ainda eram incipientes: “Mas levarei esse
pensamento mais longe e mostrarei as semelhanças entre a vida humana e o sonho. O poeta
Cowley, (provavelmente o poeta inglês Abrahan Cowley), avança nesta comparação ao chamar
a vida de “o sonho de uma sombra” e acrescentar: Ó vida, tu és o irmão mais novo do nada!
Mas, deixando esses voos poéticos de lado, eu pergunto: O que é um sonho? Há algo mais
misterioso na natureza? Quem não o experimentou milhares de vezes? Quem pode dar um
relato satisfatório do pai dos sonhos: o sono? ... durante nossos sonhos .... como poderíamos
saber se estamos acordados ou dormindo? Tão logo, despertamos sabemos que estivemos
sonhando. Mas, como podemos saber se é um sonho enquanto estamos nele? O que é o
sonho? ... o sonho seria uma série de pessoas e coisas apresentadas à nossa mente durante o
sono e que existem apenas em nossa imaginação. O sonho parece ser uma espécie de
distanciamento da vida real ou ainda uma forma de eco do que temos dito ou feito quando
estamos acordados. Poderíamos definir o sonho como um fragmento da vida não conectado
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com o que vem antes ou depois? ... podemos reconhecer o sonho por ele não ter uma
conexão apropriada com as coisas reais que precedem e das que seguem a vida ....

O interesse de John Wesley em termos de leitura era bastante eclético, e incluía temas
totalmente fora de sua área de atuação. Por exemplo, ele leu todo o material publicado por
Benjamin Franklin (1706-1789) nos temas de física e eletricidade. Em relação ao tema
eletricidade John Wesley escreve em seu diário:
04 de janeiro de 1768 (segunda-feira): Esta semana, em meus momentos de folga, li o
engenhoso livro sobre eletricidade do Dr. Priestley. Ele parece ter reunido e assimilado
cuidadosamente tudo o que é conhecido sobre esse curioso assunto ...
Observação: Junto com o interesse por eletricidade, John Wesley desenvolveu uma
maquina de choques elétricos que descreveremos no próximo capítulo.

CAPÍTULO 8: Medicando os sem médicos e


medicamentos
Se John Wesley vivesse nos dias atuais certamente seria “preso por prática ilegal da
medicina”. Contudo, no século XVIII a medicina da Inglaterra tinha muito pouco a oferecer aos
menos favorecidos. Portanto, os textos que veremos a seguir devem ser vistos dentro do contexto
histórico em que ele viveu.
Os cuidados de John Wesley com a saúde dos sem médicos e sem medicamentos podem
ser mais bem evidenciados a partir de porções de seu diário que veremos a seguir.

09 de novembro de 1756 (terça-feira): ... Ordenei às pessoas que estavam


manifestando várias desordens que sofressem descargas elétricas. Algumas encontraram
cura imediata; outras curas graduais. A partir de então, fixei primeiro algumas horas da
semana, depois uma hora por dia para todos que quisessem experimentar as virtudes deste
surpreendente medicamento. Dois ou três anos depois nossos pacientes eram tão numerosos
que precisamos dividi-los. Uma parte era submetida a choques elétricos na “Southward”,
outra na Fundição, outros perto de “St. Paul” e o restante perto da “Seven Dials”. Temos
usado este método sem interrupção onde talvez milhares tenham recebido inexplicável bem.
Porém, não soube de nenhum homem, mulher ou criança que tivesse sido ferido.
Comentário: John Wesley desenvolveu uma máquina de choques elétricos que ele usava
para tratar de inflamações, reumatismo, gota, dores (cabeça, nas costas, estomago), etc. Convém
destacar que John Wesley aplicava em si mesmo os tratamentos que desenvolvia No diário de
26/12/1765 encontramos: Ficaria satisfeito com alguns dias de descanso, mas isto não poderia
acontecer nesta ocasião. Entretanto, submetendo-me a choques elétricos de manhã e de
noite, minha capacidade foi restaurada, se bem que vagarosamente.
Vivendo em um mundo onde o sedentarismo, o tempo reduzido de sono e os maus hábitos
alimentares tornam-se cada vez mais habituais as recomendações de John Wesley para Lady
Maxwell, através de uma carta com data de 05/07/1765, ainda permanecem atuais: “ ... Permita-
me, minha querida amiga, acrescentar uma palavra sobre sua saúde física. Você deve tomar
bastante ar e fazer exercícios o quanto puder. E devo aconselhá-la (muito embora o velho
hábito torne isto difícil) dormir o mais cedo possível. Pois, uma boa disposição, depende
muito disso”. Em outra porção desta mesma carta, John Wesley expressa ter maior confiança em
uma vida saudável do que no tratamento medicamentoso. Em outras palavras, a ideia de que
cuidar da saúde é mais eficaz do que tratar da doença já estava presente em suas orientações feitas
a mais de 250 anos: “Creio que os remédios serão de pouco benefício, porque você precisa
mesmo é de apenas uma dieta adequada e exercícios regulares com a benção de Deus”.
Em outra carta para Lady Maxwell com data de 23/02/1767, John Wesley combina
orientações para a saúde física e espiritual deixando claro que devemos cuidar de ambas: “Minha
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querida amiga. Mantenha-se à maior distância da tentação e evite cuidadosamente o mal.


Faça exercícios, especialmente, agora que a primavera vem chegando, isto seria de maior
benefício para a sua saúde do que centenas de remédios ... ”.
Embora John Wesley desse preferência à prevenção em relação ao tratamento, quando a
doença estava instalada ele não vacilava em atuar. Contudo, antes de lermos a porção de texto
abaixo, que extraímos de seu diário do dia 26/06/1737, devemos mais uma vez nos lembrar de
que estes procedimentos não seriam adequado em nossos dias. Mas, em tempos onde o
atendimento médico era muito limitado ou inexistente, John Wesley assume o papel de cuidador
de enfermos fazendo uso de seus conhecimentos de plantas medicinais. Por exemplo, em seu
diário do dia 26/08/1748 lemos: “ ... À tarde tomei dez grãos de ipecacuanha ...”.
Observação: a ipecacuanha, conhecida no Brasil por ipeca foi introduzida na Europa em
1672. Ela contem em suas raízes um estimulante do reflexo do vômito denominado emetina.

Concluiremos este capítulo apresentando algumas recomendações de John Wesley para


termos uma vida mais saudável e que ainda permanecem atuais.
1. O alimento conservado em salmoura (solução de água saturada com sal), defumado,
salgado ou muito temperado não faz bem à saúde.
Comentário: A ciência atual tem comprovado os malefícios do excesso de sal (cloreto de
sódio) na dieta, em particular no desencadeamento ou agravamento da hipertensão.
2. A água é a mais saudável de todas as bebidas.
Dispensa comentários.
3. Bebidas alcoólicas fortes são de certo modo um veneno vagaroso.
Comentário: Hoje, a toxidade das bebidas alcoólicas, particularmente as destiladas,
encontra-se cientificamente bem estabelecida.
4. Certa medida de exercício é necessária para a saúde e uma longa vida.
Comentário: Hoje se encontra bem estabelecido cientificamente que em geral exercícios
moderados e feitos com regularidade são benéficos à saúde.
5. Caminhar é o melhor exercício.
Comentário: Hoje, esta bem estabelecido que caminhar é a forma mais saudável e
universal de se fazer exercício.
6. Podemos fortalecer qualquer parte fraca do corpo através de constantes exercícios.
Comentário: Em geral a atividade física, mesmo que feita moderadamente e de forma
regular é útil para recuperar a massa muscular, em particular nos idosos.
7. As pessoas que estudam devem estabelecer tempos para os exercícios.
Comentário: Nos tempos de John Wesley, o sedentarismo estava mais restrito aos que
estudavam e escreviam (certamente uma minoria). Hoje o combate ao sedentarismo, através da
realização de exercícios regulares e moderados é uma recomendação amplamente aceita.
8. As paixões influenciam mais a saúde do que pensa a maioria das pessoas. Todas as
paixões violentas e repentinas favorecem as enfermidades. As paixões vagarosas e
duradouras tais como a mágoa e a desilusão amorosa trazem doenças crônicas e até que a
causa da doença seja atacada, o tratamento médico pouco pode fazer.
Comentário: esta opinião foi emitida muito antes da psicanálise de Freud (1856–1939), do
estabelecimento do conceito de estresse pelo médico canadense Hans Selye (1907–1982) e de
outros avanços recentes na área da medicina psicossomática.
9. O amor a Deus é o melhor medicamento para todas as misérias e, em especial, previne
eficazmente todas as doenças do corpo que as paixões trazem, por manter as paixões dentro
dos devidos limites; e pela inexprimível sabedoria e perfeita calma que proporciona à
mente, ele se torna o mais poderoso de todos os meios de saúde e longa vida.
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Comentário: A espiritualidade como modo de prevenir ou auxiliar no tratamento de


doenças tem cada vez mais recebido embasamento científico.

CAPÍTULO 9: Disposição para o trabalho


O historiador Peter Burke divide os polímatas em ativos e os passivos. Os passivos seriam
aqueles indivíduos que aparentemente sabem tudo, mas não produzem nada enquanto os ativos
seriam aqueles que combinam intensa atividade intelectual com trabalho. John Wesley certamente
se enquadra nesta ultima categoria e escapa com segurança de uma crítica comum aos polímatas:
dissipar seus talentos não fazendo nada.
O ritmo de trabalho intenso começou a partir dos cinco anos de idade quando de segunda a
sábado recebia oito horas de aulas e teve continuidade até os últimos dias de sua vida.
Calcula-se que em 50 anos, John Wesley tenha percorrido cerca de 400 mil quilômetros a
cavalo (equivalente a 10 voltas ao redor do nosso planeta). Neste período ele visitou cidades da
Inglaterra, Escócia e Irlanda conquistando o apelido de “O Cavaleiro de Deus”.
Estima-se que tenha pregado entre dois e três sermões por dia cerca alcançando ao longo
de 50 anos cerca de quarenta mil sermões.
O conjunto da obra que veio diretamente de sua caneta na forma de livros, cartas, sermões,
folhetos e panfletos de todos os tipos alcançam cerca de 5.000 itens.
Neste capitulo selecionamos algumas porções de seu diário que descrevem sua enorme
disposição para o trabalho intenso e por período prolongados na esfera intelectual (ler e escrever),
no falar em publico (pregações) e em suas viagens.
24 de junho de 1739 (domingo): Quando cavalgava até Rose Green, meu cavalo de
repente lançou sua cabeça para frente e rolou várias vezes. Não sofri nenhuma lesão, além
de uma contusão e preguei sem dor para seis ou sete mil pessoas ... Aqui temos um recorde:
sete mil ouvintes. Porém, no dia 9 de setembro iremos encontrar: “Declarei para
aproximadamente 10 mil pessoas em Moofield o que deveriam fazer para serem salvas ...
Por volta das cinco horas fui para Kennington onde supostamente haveria outras 20 mil
pessoas ... ”. Sendo que o mesmo público se repete em 16 de setembro: “Novamente preguei em
Moofield para 10 mil pessoas e em Kennington Common, acredito que perto de 20 mil ... ”.

Hoje pregar para mil, cinco mil ou cem mil pessoas faz pouca diferença porque dispomos
de eficientes sistemas de amplificação de som. Contudo, no século XVIII, falar para grandes
públicos dependia inteiramente da potencia da voz do pregador e pregar para tal número de
pessoas exigia um considerável esforço.

7 de janeiro de 1754 (segunda-feira): Estabeleci um método regular levantando-me


na minha hora e escrevendo das cinco às nove horas da noite, com exceção dos momentos
em que estou cavalgando ...
Observação: “das cinco às nove horas da noite” significa 16 horas!
23 de junho de 1755 (segunda-feira): ... Estava bastante fadigado quando cheguei em
Bristol, mas preguei até que todas as minhas queixas fossem embora. Agora tenho uma
pequena folga para me sentar calmamente e terminar “As notas sobre o Novo Testamento”.
Comentário: John Wesley vem de uma maratona de viagens e pregações e seu corpo
deveria estar “exaurido”. Mas, após sentir se recuperado ele aproveita a uma pequena folga para
concluir uma importante obra intitulada: “Notas sobre o Novo Testamento”.
Diante do intenso ritmo de trabalho, quando se sentia cansado fazia pequenos descansos.
28 de junho de 1774 (terça-feira): Sendo hoje o primeiro dia do septuagésimo
segundo ano, estive pensando porque tenho as mesmas forças de 30 anos atrás? Como
minhas vistas estão consideravelmente melhores agora e meus nervos mais firmes do que
eram antes? Por que não tenho as enfermidades da velhice e perdi muitas das que tive na
23

minha juventude? A grande causa de tudo isto é o enorme prazer de servir a Deus naquilo
que lhe agrada. Outros meios principais são: meu constante despertar às quatro horas da
manhã há cerca de cinquenta anos, de geralmente pregar às cinco da manhã, um dos
exercícios mais saudáveis do mundo e o fato de viajar anualmente pelo menos quatro mil e
quinhentas milhas.
Comentário: Alguém que se sente mais saudável aos setenta anos do que aos quarenta
anos, certamente representa uma condição muito rara. Considerando que John Wesley começava
seu ritmo intenso de trabalho, a partir das quatro horas da manhã, aprendemos com seu exemplo
que a sobrecarga de trabalho “não envelhece ou desgasta”, quando existe um enorme entusiasmo
por aquilo que se faz.
18 de agosto de 1776 (domingo): ... Estava cansado quando cheguei, mas depois de
dormir um quarto de hora toda minha fraqueza se foi.
Comentário: Quinze minutos de sono foi suficiente para John Wesley recuperar seu vigor.
Creio que a maioria das pessoas com sua idade (73 anos) teria muita dificuldade em imitá-lo.
22 de setembro de 1776 (domingo): ... Preguei debaixo das árvores para tal multidão,
como não tem sido vista ultimamente por lá. Comecei na King´s Square, um pouco antes das
cinco onde a palavra de Deus foi rápida e poderosa. E não estava mais cansado à noite do
que quando me levantei. Tal é o poder de Deus.
Comentário: Após um longo dia de trabalho a declaração “não estava mais cansado à
noite do que quando me levantei”, revela um homem de saúde excepcional aos setenta e três
anos de idade.
1 de janeiro de 1787 (segunda-feira): Começamos o culto às quatro horas da manhã
para uma congregação incomunmente grande. Tivemos outra oportunidade confortável na
nova capela, na hora de costume e a terceira à noite em West street.
Comentário: Aos 83 anos John Wesley começa o ano de 1787 bem cedo (culto às quatro
da manhã) e ainda pregou mais duas vezes naquele dia.

Para John Wesley o problema não era adoecer, mas ter algo que limitasse sua capacidade
de realizar seu trabalho. E então temos um conflito muito peculiar em John Wesley: “a
necessidade de repouso para recuperar a saúde” versus “a necessidade trabalhar intensamente para
alcançar os objetivos”.
Qual era a opção de John Wesley?
Simplesmente ele trabalhava mesmo doente, só fazendo repouso “depois de perder os
sentidos”. Isto porque embora valorizasse a saúde, ele priorizava ainda mais seu trabalho. Como
expresso nesta frase encontrada em seu diário de 19/07/1782 quando tinha 79 anos: “Mas o
repouso não é para mim neste mundo”.
É interessante observar o empenho de John Wesley em manter seu ritmo de trabalho,
mesmo diante das situações mais desfavoráveis como o exemplo que apresentamos a seguir,
extraído de seu diário.
17 de fevereiro de 1751 (domingo): Fui carregado e preguei de joelhos, já que não
podia ficar de pé.
Comentário: No domingo anterior John Wesley havia escorregado no gelo e batido o
tornozelo em uma pedra. Naquele dia Wesley pregou com a perna enfaixada, mas o quadro piorou
e agora, não podendo ficar de pé ele pregou de joelhos. Mas, como consta em seu diário do dia
18/02/1751, naquela mesma semana ele ainda pregou de joelhos mais duas vezes.

1 de janeiro 1790 (sexta-feira): Sou agora um homem idoso, decaído da cabeça aos
pés. Meus olhos estão embaçados; minha mão direita treme muito; minha boca é quente e
seca toda a manhã; tenho febre quase todos os dias; meu movimento é fraco e lento. Porém,
graças sejam dadas a Deus; não diminui meu trabalho; ainda posso pregar e escrever.
Comentário 1: John Wesley faz um balanço de seu estado físico que para uma pessoa
normal desembocaria em uma conclusão óbvia: esta na hora de parar. Mas John Wesley conclui
de maneira diferente: “não diminui meu trabalho; ainda posso pregar e escrever”.
24

Comentário 2: Perto de completar 87 anos ele já havia vivido mais que o dobro do tempo
médio de vida de um cidadão inglês do século XVIII. Hoje, a expectativa de vida masculina na
Inglaterra é de 78 anos.
o Diário de John Wesley cessa em 24/10/1790, cerca de quatro meses antes de seu
falecimento. Neste dia ele escreve:: Expliquei para uma numerosa congregação em
Spitalfields “todas as fortificações de Deus”. A igreja de São Paulo em Shadwell estava ainda
mais cheia à tarde, enquanto eu aplicava aquela importante verdade “Uma coisa é necessária”
e espero que muitos tenham decidido escolhe-la”.

CAPÍTULO 10: O Contexto familiar e socio-


econômico que contribuíram para torná-lo
um polímata
Neste capítulo apresentaremos uma visão geral dos principais fatores que contribuíram
para que John Wesley se tornasse um polímata. Esta abordagem terá como base seu diário,
trechos de cartas escritas por sua mãe e alguns aspectos do contexto familiar, religioso, social,
econômico e político descrito em capítulos anteriores.

1. SER DO GÊNERO MASCULINO


Na Inglaterra do século XVIII apenas os meninos podiam deixar o lar para estudar e
apenas o gênero masculino podia frequentar universidades.

2. TRADIÇÃO FAMILIAR DE POSSUIR FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA


O bisavô, o avô, o pai e os dois irmãos e o próprio John Wesley concluíram a graduação
na renomada Universidade de Oxford, que ainda hoje se destaca como uma das melhores
universidades do mundo.

3. RIGOROSA EDUCAÇÃO EM UM AMBIENTE FAMILIAR FAVORÁVEL AOS


ESTUDOS
A rigorosa educação recebida nos primeiros anos (detalhada no capítulo 3) combinava
alfabetização com educação moral, cívica e religiosa.
Neste intenso processo educacional os irmãos mais velhos ajudavam a mãe a educar os
mais novos e no caso de John Wesley, ele recebeu uma boa atenção de suas irmãs mais velhas
(Emily, Susana, Mary, Hetty e Anne).

4. RECEBIMENTO DE UMA ATENÇÃO DIFERENCIADA


Com apenas 5 anos de idade, devido a um pavoroso incêndio ocorrido na noite de 8 para 9
de fevereiro de 1709, John Wesley foi miraculosamente salvo pouco antes de o fogo alcançar seu
corpo. Este acontecimento criou em sua mãe o sentimento de que o filho, a quem às vezes se
referia como “um tição tirado do fogo”, tivesse uma missão especial neste mundo. Este
sentimento é expresso nesta porção de uma carta escrita por ela: “Senhor. Fazei que me esforce
com maior dedicação em prol desta criança que salvaste tão misericordiosamente. Procurarei
transmitir lhe fielmente ao coração os princípios da tua religião e virtude. Senhor, de me a graça
necessária para fazer isto sincera e sabiamente. E abençoa os meus esforços com bom êxito”.
O sentimento de ser alguém portador de uma grande missão irá permear a vida pessoal de
John Wesley.

5. INÍCIO DO PROCESSO EDUCACIONAL EM UM MOMENTO ESPECIAL


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No capítulo 3 descrevemos o rigoroso processo educacional ao qual foi submetido John


Wesley, seus irmãos e irmãs. Como este rigoroso processo educacional se iniciava aos cinco
anos, o incêndio fez com que John Wesley tivesse que ir morar durante cerca de um ano na casa
uma família vizinha. Suzana Wesley percebeu que a interrupção do processo educacional trouxe
uma influencia negativa para a vida dos filhos como vemos nesta porção de uma de suas cartas:
“Por alguns anos nunca houve crianças tão bem comportadas e dispostas à piedade e sujeição
aos seus pais. Porém, tivemos aquela dispersão fatal das crianças para outras famílias depois do
incêndio da casa paroquial. Em outros lares ..... aprenderam modos rudes e a pronunciarem
palavras grosseiras, o que custou para corrigir. Reconstruída a casa começamos uma reforma
rigorosa. Então adotamos o costume de cantar salmos na abertura das aulas de manhã e à tarde
e também a observância de um retiro geral às 17:00 horas quando todos liam os salmos que
tinha estudado durante o dia e um capítulo do novo testamento seguido de oração particular”.
Se John Wesley aos cinco anos foi submetido a um rigoroso processo educacional “antes
do incêndio”, este processo se tornou ainda mais rigoroso “depois do incêndio”. Este modus
vivendi metódico ensinado pela mãe iria permear sua vida.

6. EXPERIÊNCIA PRECOCE DE FALAR EM PÚBLICO


John Wesley aprendeu a falar em publico em voz alta já nos primeiros anos de vida como
fica explicito em uma porção de uma das cartas de sua mãe: “Logo que podiam falar aprendiam a
orar em voz alta. Primeiro o pai nosso que tinham de repetir ao levantar e deitar ao qual quando
maiores, se acrescentava uma oração pelos pais, algumas outras orações e porções das
escrituras de acordo com a sua capacidade .... ”.
A experiência de falar em publico certamente o ajudou em sua atuação como clérigo,em
particular em suas pregações ao ar livre para públicos que chegaram até 20 mil pessoas.

7. APOIO FINANCEIRO DA FAMÍLIA ATÉ CONCLUIR A FORMAÇÃO


UNIVERSITÁRIA
Ser do gênero masculino e descendente de pessoas com boa formação acadêmica pode
contribuir para que alguém decida alcançar uma formação universitária. Contudo, outros fatores
se fazem necessários, a começar pela disponibilidade de recursos para manter os filhos estudando
fora de casa em escolas que oferecem ensino de elevada qualidade.
Cumpre destacar que Samuel Wesley, o pai de John Wesley, sempre viveu em
dificuldades financeiras. Mas, fazendo uso de seus contatos políticos (ele era vinculado aos
“Tories”, protestantes contrários aos ingleses terem um rei católico), conseguiu viabilizar o
custeio de seus os filhos até a conclusão do curso universitário. No caso especifico de John
Wesley ele contou com a influência do Duque de Buckingham (1648–1721).

8. FORMAÇÃO EDUCACIONAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO COM ELEVADO


GRAU DE EXCELÊNCIA
Ao deixar seu lar estudou primeiramente na conceituada Charterhouse School e em
seguida a graduação e o mestrado na Universidade de Oxford.

9. DESTAQUE ACADÊMICO
Em função do excelente desempenho como estudante recebeu o título de “Felow’ da
universidade de Oxford, uma honraria que lhe conferia uma posição nesta universidade.

10. INÍCIO DA VIDA PROFISSIONAL OCUPANDO UMA POSIÇÃO DE DESTAQUE


Em 1726, aos 23 anos tornou-se tutor de grego e filosofia no Lincoln College (Universidade
de Oxdord), onde ainda existe um espaço reservado (The Wesley room) em sua homenagem.

11. APOIO DA FAMÍLIA EM SUA VIDA PROFISSIONAL


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Não apenas apoio financeiro, mas apoio integral em todas as decisões profissionais. O
exemplo mais contundente foi quando decidiu deixar sua confortável posição na Universidade de
Oxford para uma perigosa viagem missionária nos Estados Unidos. Nesta ocasião ele recebeu
apoio total da mãe que continuou acompanhando e apoiando a vida profissional do filho até seu
falecimento (23/07/1742) quando John Wesley tinha 38 anos.

12. NECESSIDADE DE ASSUMIR FUNÇÕES FORA DE SUA ÁREA DE ATUAÇÃO


PROFISSIONAL
O historiador Peter Burke divide os polímatas em centrífugos (que acumulam
conhecimentos sem se preocupar com conexões) e centrípetos (que tem uma visão da unidade do
conhecimento e procura encaixar suas partes em um grande sistema). No caso de John Wesley,
ele se enquadra na categoria dos centrípetos, onde a disposição de aprender algo novo esta sempre
ligada a uma necessidade prática imediata. Por exemplo, ampliar seus conhecimentos em
fitoterapia (escreveu um livro no tema) para poder atender os sem médicos e medicamentos.

CAPÍTULO 11: Atributos de personalidade que


contribuíram para torná-lo um polímata
Neste capítulo apresentaremos uma visão geral das principais características da
personalidade de John Wesley que contribuíram para que ele se tornasse um polímata. Esta
abordagem terá como base seu diário, trechos de cartas escritas por sua mãe e alguns aspectos de
sua personalidade descritas em capítulos anteriores.

1. MATURIDADE PRECOCE
Há indicativos de que John Wesley apresentava um grau de maturidade para a sua idade
que o diferenciava dos demais irmãos. Por exemplo, entre 8 e 9 anos de idade ele teve varíola. Em
relação a este problema de saúde Susana Wesley escreve ao esposo: “Jack tem suportado sua
enfermidade, bravamente, como um homem, e, na verdade, como um cristão, sem queixa”.
O primeiro desafio para a maturidade de John Wesley provavelmente foi sua saída de casa
aos 10 anos para estudar na Chaterhouse School que ficava em Godalming, 200 milhas ao sul de
Epworth sua cidade natal.

2. EXCELENTE MEMÓRIA
16 de outubro de 1771 (quarta-feira): “Em South Lye, há quarenta e seis anos,
preguei meu primeiro sermão. Apenas um homem que esteve presente naquela época ouviu
meu sermão hoje. O restante deles já partiu para a sua eterna morada”.

3. RIGOR CONSIGO MESMO E COM OS OUTROS


28 de fevereiro de 1738 (terça-feira): Com respeito ao meu comportamento renovei
minhas resoluções anteriores: 1. Usar de absoluta franqueza para com todos ao conversar.
2. Trabalhar sempre com seriedade, não favorecendo a mim mesmo. 3. Não falar palavras
que não visem a glória de Deus, em especial, não falar coisas mundanas. 4. Não ter prazer
naquilo que não vise a glória de Deus, agradecendo a ele continuamente por tudo que tenho.
Observação: este rigor consigo mesmo alcançava seus subordinados. Aos pregadores que
estavam sob seu comando ele dizia: Leiam os livros mais úteis, regular e constantemente.
Gastem toda a manhã nesta tarefa, ou, pelo menos, cinco horas em cada vinte e quatro ...
Algum pregador poderia argumentar: Mas não gosto de ler! Pois, eu digo: adquira o gosto
pela leitura ou volte ao seu antigo ofício.

4. NECESSIDADE DE APROVEITAR O TEMPO DO MELHOR MODO POSSÍVEL


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1 de janeiro de 1776 (segunda-feira): ... Eu ainda, de certa forma, me apresso quando


leio. Apresso-me, embora não esteja com pressa. Isto me cabe fazer, já que minha obra é
grande e meu tempo curto. Porque quanto mais pode um homem esperar sobreviver, se ele
tem entre setenta e oitenta anos? ...
Observação: John Wesley percebe que esta vivendo seus últimos anos de vida e reage a
esta situação acelerando seu ritmo de trabalho intelectual.

5. HÁBITOS DE VIDA BEM ESTABELECIDOS


28 de junho de 1776 (sexta-feira): Tenho 73 anos e estou mais capacitado para pregar
do que quando tinha 23. Que método natural Deus tem usado para produzir este efeito
maravilhoso? 1. Exercícios e mudança de ar contínuo, viajando cerca de quatro mil milhas
ao ano. 2. Levantar às quatro horas da manhã. 3. A habilidade (que eu quero sempre) de
dormir imediatamente. 4. Nunca perder uma noite de sono ...

6. NÃO SE ACOMODAR DIANTE DE BONS RESULTADOS


11 de setembro de 1781 (sexta-feira): Fui até a Kingswood. Doce recesso! Onde todas
as coisas estão agora como espero. “Mas o homem não nasceu para se deitar na sombra.
Vamos trabalhar agora para que possamos descansar mais tarde”.
Comentário: Kingswood foi fundada por John Wesley em 1748. Ao fazer esta visita a
escola já tinha 33 anos de existência. Ao encontrar tudo funcionando como ele gostaria que fosse,
um homem já com os seus 80 anos deveria dizer: “Missão cumprida”. Mas ele reage bem ao seu
estilo: “Vamos trabalhar agora para que possamos descansar mais tarde”.

7. INQUIETAÇÃO MESMO DIANTE DE UM SUCESSO RETUMBANTE


Quando iniciou o movimento metodista as portas das igrejas se fecharam, foi perseguido e
enfrentou apedrejamentos. Quando no final de sua vida a situação mudou completamente e ele já
não conseguia mais atender a demanda de convites para pregar ele reagiu deste modo: “Não temo
que o Metodismo se acabe. Mas que se torne mais uma religião”.

8. TRABALHAR COM MATERIAL DA MELHOR QUALIDADE POSSÍVEL


25 de setembro de 1786 (segunda-feira): Agora me apliquei de fato a escrever a
“Vida do Sr. Fletcher” e procurei os melhores materiais que pude ....”.

9. TRABALHAR COM PESSOAS DA MELHOR QUALIDADE POSSÍVEL


Esta marca de sua personalidade pode ser resumida nesta frase: “Dai-me cem homens que
nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, e eu abalarei o mundo”.

10. COMPREENSÃO DE QUE TÍTULOS ACADÊMICOS NEM SEMPRE SIGNIFICAM


“MAIS CONHECIMENTO”
Um exemplo desta compreensão é explicita nesta porção de seu diário: “20 de março de
1760 (quinta-feira): Conversei bastante com o senhor Newton. Seu caso é muito peculiar.
Nossa igreja requer que nossos clérigos sejam homens de leitura e para esse fim necessitam
de uma educação universitária. Mas quantos têm educação universitária e, ainda assim não
são homens de leitura? E tais homens são ordenados! Enquanto isto um dos eminentes
homens de leitura e de um comportamento irrepreensível não pode ser ordenado porque
não esteve na universidade! Que mera farsa é essa!
11. COMPRENSÃO DE QUE SE PODE APRENDER COM PESSOAS SEM FORMAÇÃO
ACADÊMICA
1 de junho de 1736 (quarta-feira): “ ... me surpreendi ao deparar com uma das
questões mais controversas da teologia: o amor desinteressado. A questão foi resolvida por
um pobre homem idoso, sem educação ou leitura, ou qualquer instrutor ... ”.
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Comentário: Ao mesmo tempo em que era bastante crítico em relação ao conhecimento


que era colocado ao seu alcance ele era receptivo a informações vindas das pessoas mais simples.

12. HABITO DE TIRAR LIÇÕES PARA A VIDA, MESMO SE TUDO DER ERRADO
5 de julho de 1758 (quinta-feira): Disso aprendi 3 regras muito necessárias para os que
viajam entre a Inglaterra e Irlanda: (1) Nunca pague até que esteja embarcado. (2) Não entre
a bordo antes do capitão; (3) Traga a bagagem pessoalmente.

13. PODER DE CONCENTRAÇÃO NA LEITURA


Como John Wesley passava boa parte de seu tempo em viagens a cavalo, ele desenvolveu
a habilidade de ler enquanto cavalgava. Em relação a este hábito ele escreve em seu diário:
21 de março de 1770 (quarta-feira): Estive pensando: por que nenhum cavalo
tropeça enquanto estou costumeiramente montado lendo história, poesia e filosofia ...

14. SENSO CRÍTICO APURADO


03 de fevereiro de 1770 (sábado): Em meus momentos de lazer nos dias que se
seguiram li com muita expectativa o célebre livro “Da educação” de Rosseau. Como fiquei
desapontado. ... Como ele é tão espantosamente cheio de si mesmo. O que quer que fale, ele
pronuncia como um oráculo. Mas, muitos de seus oráculos são evidentemente falsos, como
aquele que afirma que “as crianças pequenas nunca amam as pessoas mais velhas” ... Pelo
contrário elas amam com mais calor e sinceridade do que quando se tornam adultas. ... Mas
eu contesto mais seu temperamento do que seu julgamento: ele é um mero misantropo
(inimigo da humanidade), um cínico, tanto quanto seu colega Voltaire.

15. OBSESÃO POR TUDO O QUE FAZIA


John Wesley não apenas realizava seu trabalho de forma intensa, mas também de forma
tão obsecada que não se dispunha a interrompê-lo, mesmo que as circunstâncias, o bom senso e as
normas sociais apontassem para isto. O trabalho intenso realizado por John Wesley acabou
afetando seu casamento. Na verdade ele se casou tardiamente (tinha mais de 50 anos) com uma
viúva (Mary Vazeille) que já tinha quatro filhos e seu casamento não durou muito.
O episódio que apresentaremos a seguir, extraído de seu diário, mostra sua obsessão pelo
trabalho que desenvolvia.
“Ao saber que minha esposa estava muito enferma, peguei a carruagem
imediatamente e retornei antes de uma da manhã. Vendo que a febre tinha passado e o
perigo cessado, por volta das duas horas parti novamente e a tarde (nada cansado) já estava
em Bristol”. Cerca de três anos depois, mais especificamente em 23/01/1771 lemos em seu
diário: “Não sei o motivo para ela ter partido para Newcastle propondo nunca retornar. Não
a deixei nem a mandei embora, também não irei chamá-la novamente”.
Comentário: Fica nos aqui a lição de que John Wesley não era um homem perfeito e tinha
limitações; pelo menos no que se refere ao seu relacionamento com mulheres.

16. RESILIÊNCIA
A resiliência refere-se a capacidade de adapção a situações desfavoráveis. São muitos os
exemplos de resiliencia na vida de John Wesley. Por exemplo, quando ele iniciou o movimento
metodista, além de não ter sua paróquia, ele foi proibido de pregar nas paróquias de seus colegas.
Isto porque sua mensagem, em geral, desagradava as classes dominantes. Em resposta a esta
punição John Wesley responde: “O mundo é a minha paróquia!”. E passou a pregar ao ar livre
reunindo multidões que com frequência alcançavam mais de mil pessoas.

17. APETITE INCOMUM POR DIFERENTES TIPOS DE CONHECIMENTO


Na adolescência, durante seu período de estudos na Chaterhouse School ele organizou o
estudo dos assuntos de seu interesse da seguinte forma: segunda e terça-feira (grego e latim),
quarta-feira (lógica e moral), quinta-feira (hebraico e árabe), sexta-feira (metafísica e
filosofia natural), sábado (retórica e poesia) e domingo (teologia).
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18. APRENDIZADO RÁPIDO


Em carta ao pai, Samuel Wesley, comentando sobre o desempenho dos irmãos mais novos
John e Charles, Samuel Wesley Junior escreve: “Meu irmão Jack (John Wesley), eu posso
assegurar-lhe fielmente, não lhe dá motivo de desencorajamento, em fazer de seu terceiro filho
(Charles Wesley) um estudioso; “Jack está comigo; este bravo garoto aprende Hebraico tão
rápido quanto ele pode”.

19. DESEJO DE ALCANÇAR UM CONHECIMENTO MAIS PROFUNDO


O polímata vivencia a cada dia o confronto entre a amplitude e a profundidade do
conhecimento. Diante deste conflito, John Wesley apresenta um posicionamento ousado:
“Coloquei em prática uma resolução que considero da mais extrema importância: livrar-me
de imediato de todo entendimento superficial”.

20. DESEJO DE AMPLIAR SUA ÁREA DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL ATRAVÉS DO


DOMÍNIO DE VÁRIAS LINGUAS

Em sua formação acadêmica John Wesley aprendeu latim, grego e hebraico. Mas,
desejando interagir com espanhóis franceses e alemães ele também aprendeu estas línguas.
A porção do diário que selecionamos abaixo constitui apenas um de muitos exemplos de
como suas habilidades como poliglota eram colocadas em prática.
20 de janeiro de 1765 (domingo): Um estranho perecendo por necessidade e
esperando ser atirado na prisão. Ele me disse que era um bispo grego. Examinei suas
credenciais e depois de muita conversa em grego e latim, porque ele não falava inglês, fiquei
completamente satisfeito.

21. FACILIDADE DE EXPLICAR TEMAS COMPLEXOS


Um exemplo é a sua explicação de um tema de difícil entendimento para os Cristãos: a
ideia da Trindade, o que ele faz através desta simples ilustração: “Diga me como pode haver
três velas neste recinto e apenas uma luz e então eu lhe explicarei a trindade”.

22. DISPOSIÇÃO PARA DIVERSIFICAR AS EXPERIENCIAS PROFISSIONAIS


Como vimos no capítulo cinco, John Wesley deixou a Inglaterra para trabalhar na Geórgia
(Estados Unidos) durante dois anos. Na verdade ele poderia ter se acomodado à boa posição
acadêmica que havia alcançado na universidade de Oxford. Mas, aqui temos uma característica de
John Wesley que é típica dos polímatas: o desejo de diversificar suas atividades, experiências e
estudos, mesmo que isto possa representar prejuízos financeiros e neste caso específico
poderíamos acrescentar: um elevado risco de vida.

23. CAPACIDADE DE ENXERGAR CONEXÕES ENTRE DIFERENTES CAMPOS DO


CONHECIMENTOS GERANDO NOVOS PRODUTOS
O campo do conhecimento A e B estão separados e cada um tem seus especialistas. Então
surge o polímata John Wesley que tinha um enorme interesse por tudo, incluído os temas:
eletricidade (A) e terapias acessíveis aos sem médicos e medicamentos (B). Estes dois interesses
convergiram para uma inovação tecnológica: a criação de uma maquina de choques elétricos que
ele utilizava no tratamento de diversas doenças.

24. UMA VIDA COM PROPÓSITO


Polímatas seriais são aqueles que mudam de campo de conhecimento ao longo de suas
vidas intelectuais. Um polímata serial poderia começar como matemático e filosofo e terminar
como químico e historiador. Este não é o caso de John Wesley. Sua trajetória intelectual e
profissional é pautada pela ideia central de melhorar o mundo que vivemos através da mudança
do homem pelo exercício da fé cristã tendo a bíblia como livro principal.
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CONCLUSÃO
Em 1953 o filósofo britânico Isaiah Berlin publicou o livro “O Ouriço e a Raposa –
Ensaio sobre a Visão Histórica de Tolstói” onde procura entender a complexidade da natureza do
saber. O ponto de partida deste ensaio é um aforismo do poeta grego Arquíloco (680 a.C. - 645
a.C): “A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante”. Deste
modo, os intelectuais poderiam ser classificados em dois tipos: os que focam em adquirir
pequenos saberes múltiplos, representados pela raposa e os que se obstinam em fechar o mundo
numa visão única e totalizante, representados pelo ouriço.
Ao aplicarmos as ideias de Isaiah Berlin ao polímata John Wesley penso ele foi na
essência um ouriço, ou seja, sabia uma coisa importante: de que deveria mudar o mundo através
da inserção de valores cristãos na sociedade em que vivia. Mas, para que suas ideias fossem
“além da toca em que o ouriço vivia”, ele se transformou em “uma raposa”, isto é, passou a
incorporar vorazmente todos os saberes que o “ouriço” precisaria para alcançar seu objetivo.
Outro modo de entender a polimatia de John Wesley, seria através de uma adaptação da
formula desenvolvida por Craig Wright. Este professor emérito da Universidade de Yale passou
mais de duas décadas estudando as personalidades mais brilhantes da história. Ele publicou seus
resultados no livro: “Os Hábitos secretos dos Gênios” (e-Book – Amazon.com).
Craig Wright desenvolveu a seguinte fórmula: G = S x N x D, ou seja, gênio (G) é igual a
quão significativo (S) é seu impacto ou mudança, multiplicado pelo número (N) de pessoas
impactadas e por sua duração (D) no tempo. Em outras palavras, para Craig Wright, os maiores
gênios seriam aqueles que causam o maior impacto sobre a maioria das pessoas e por mais tempo.
O problema desta formula é que ela não lida com números mas, com valores subjetivos
difíceis de serem quantificados e comparados. Mas isto não impede de nos atrevermos a adaptar
esta formula para “quantificar” a importância de um polímata. Assim, poderíamos adaptar esta
formula para: P = S x N x D, ou seja, polímata (P) é igual a quão significativo (S) é o impacto ou
mudança que o indivíduo promove na sociedade, multiplicado pelo número (N) de pessoas
impactadas e pela duração (D) do impacto da mudança ao longo do tempo.
Ao aplicarmos esta formula para John Wesley, a despeito da enorme dificuldade de
quantificarmos o peso de “S” e “N” nesta formula, não temos duvida de que o conjunto da obra
aponta para um significativo impacto (S) em milhões de pessoas (N) nestes 230 anos (D) que nos
separam de sua morte. As consequências do trabalho desenvolvido por John Wesley podem ser
resumidas nesta frase do francês Élie Halévy (1870-1937), um dos maiores historiadores do
século XX: “se os fatos econômicos explicam o curso tomado pela raça humana, a Inglaterra do
século dezoito, acima de qualquer outro país, estava seguramente destinada à revolução”. Neste
caso, a ausência de uma sangrenta revolução sociopolítica nos moldes da revolução francesa de
1789 (ocorreu cerca de três anos antes do falecimento de Wesley), teria como explicação o
movimento metodista liderado por John Wesley que foi o antídoto para impedir que as ideias dos
revolucionários franceses prosperassem na Inglaterra da revolução industrial.
Para o teólogo e historiador protestante Alderi Matos, John Wesley foi “um dos
personagens mais importantes do cristianismo dos últimos séculos. Suas ideias e práticas
reformularam e influenciaram o protestantismo e são abraçadas por uma parte significativa das
igrejas evangélicas ao redor do mundo. Sua ênfase na santificação, no avivamento, nas
pregações ao ar livre e na missão junto aos grupos marginalizados foram inovadoras e
revolucionarias rompendo com o formalismo e tradicionalismo de seu tempo”.
Se o tipo de fruto aponta para a natureza da árvore que o produz isto vale para a grande
obra de John Wesley. Entre os frutos produzidos pelo seu trabalho poderíamos citar as 75 milhões
de pessoas que expressam seu cristianismo em uma Igreja Metodista. O maior grupo concentra-se
nos Estados Unidos onde constitui a segunda maior denominação protestante. Outro fruto
relevante do trabalho de John Wesley são as numerosas instituições metodistas de ensino, desde o
fundamental ao grau universitário espalhadas por todo o mundo. Estas escolas ainda trazem a
influência de uma modesta dona de casa chamada Susana Wesley cujo trabalho de mãe e
educadora gerou uma pessoa cuja vida e obra continua contribuindo para um mundo melhor.
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Gostaríamos de finalizar este livro chamando a atenção do leitor que não foi possível
esgotar o tema. Pois outros aspectos da personalidade de John Wesley que contribuíram para que
ele se tornasse um notável polímata não foram comentadas neste livro. Por exemplo: gostar do
que faz, ética no trabalho, imaginação, curiosidade, criatividade, interesse no quadro geral e ao
mesmo tempo nos detalhes, enfim uma serie de ouros aspectos desta mente brilhante muito além
de seu tempo.

Referências Bibliográficas
1. Livros
John Simmons. Os 100 maiores Cientistas da História. Difel. 2002. 584p.

Barrie W. Tabraham. Brother Charles: Vida e Obra de Charles Wesley. Editeo. 2017. 180p.
John Wesley. O Diário de John Wesley. Angular Editora. 2ª Edição. 2017. 411p.

Mateo Lelièvre. John Wesley: sua Vida e Obra. Editora Vida. 1997. 373p.
Peter Burke. O Polímata: uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag. Editora
UNESP. 1ª Edição. 2020. 512p.
2. Outros Textos
Methodist Heritage – HANDBOOK Information for visitors to historic methodist places in
Britain. 3rd Edition. 2015/2016. 104p.

Informações sobre o autor

Roberto B. Bazotte,
Doutor em Ciências
Pós Doutorado – Universidade do Texas - Houston
Professor Universitário
Contatos: [email protected]

*Este livro pode ser adquirido neste formato ou como e-book no site da Amazon.com

Outros livros do autor

Trezentos e sessenta e cinco dias com John Wesley. Amazon. 2019. 382p ou Ebook
Amazon.com
.
Susana Wesley: uma mulher extraordinária. Ebook Amazon.com.

Susana Wesley: an extraoedinary woman. Ebook Amazon.com

As marcas de um Metodista. Ebook Amazon.com

O Sermão do Monte de John Wesley: do homem natural ao homem em plena comunhão


com Deus. Ebook Amazon.com

O Sermões de John Wesley: do homem natural ao homem em plena comunhão com Deus.
Ebook Amazon.com

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