Indústria 4.0 Histórico e Conceitos

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INDÚSTRIA 4.

Luis Fernando Quintino


Revisão técnica:

Marcos Antônio Abdalla Júnior


Graduado em Engenharia Industrial Elétrica
Mestre em Engenharia Elétrica

I42 Indústria 4.0 [recurso eletrônico] / Luis Fernando Quintino...[et


al.] ; [revisão técnica: Marcos Antônio Abdalla Júnior]. –
Porto Alegre : SAGAH, 2019.

ISBN 978-85-9502-853-1

1. Engenharia elétrica. I. Quintino, Luis Fernando.


CDU 621

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147


Indústria 4.0: histórico
e conceitos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as características das revoluções industriais ao longo do tempo.


 Relacionar os conceitos e elementos formadores da Indústria 4.0.
 Analisar a mudança de conceito com a aplicação das novas tecnologias
aplicadas à Indústria 4.0.

Introdução
Com o passar dos séculos, o mundo vivenciou verdadeiras transformações em
muitos sentidos. No contexto econômico, político e social, foram marcantes as
revoluções no campo industrial, que iniciaram a partir da manufatura artesanal e
culminaram no que vivemos hoje, a Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0.
Neste capítulo, você vai conhecer as características das Revoluções In-
dustriais, vai aprender a diferenciar as tecnologias emergentes, os requisitos,
preceitos e as ferramentas das demais fases da indústria e também vai analisar
alguns exemplos inovadores de novas tecnologias aplicadas à indústria.

As Revoluções Industriais
A maioria dos produtos consumidos nos dias de hoje são provenientes de
indústrias, fabricados em escala. Porém, nem sempre foi assim: até o final do
século XVIII, os produtos eram fabricados por artesãos, de maneira muito
rudimentar e com ferramental muito simples. Em sua maioria, produziam
para o próprio consumo, mas alguns também comercializavam seus produtos.
Mesmo com uma fabricação artesanal, Inglaterra e França contavam gran-
des oficinas, nas quais diversos artesãos trabalhavam para o dono da oficina.
Essas oficinas eram chamadas de manufaturas. Sendo assim, as principais
características desse período de manufatura artesanal são:
2 Indústria 4.0: histórico e conceitos

 produtos despadronizados, com baixa qualidade;


 baixo volume de produção, com alto custo de fabricação;
 trabalhadores altamente qualificados, pois precisavam dominar todo o
processo de fabricação e comercialização.

A Primeira Revolução Industrial


Em torno de 1750, começou a ficar mais acentuado o surgimento da equi-
pamentos mecanizados. Muitos processos que eram realizados de forma
manual e apenas por trabalhadores altamente especializados tornaram-se não
competitivos, dando espaço para as fábricas mecanizadas. Um fato importante
foi a criação do tear a vapor, de James Whatt, que podia ser operado por um
trabalhador não qualificado. Tal equipamento marcou o início da tecelagem
a nível industrial, na Inglaterra, e assim começou a chamada Primeira Re-
volução Industrial. As principais características dessa revolução podem ser
resumidas como:

 mecanização da produção com o uso de máquinas a vapor;


 aceleração substancial da produção;
 migração de mão de obra camponesa para indústria;
 surgimento de novos atores sociais, como os industriais (donos de indús-
trias e homens de negócios) e o operariado (mão de obra das fábricas).

A Segunda Revolução Industrial


No final do século XIX, a partir de 1860, o uso de energia elétrica impulsionou
a modernização de máquinas e equipamentos industriais. A industrialização
alcançou outros países, além da Inglaterra, como França, Alemanha, Estados
Unidos e até mesmo o Japão. Nos Estados Unidos, surgiu um novo modelo
de produção industrial, chamado fordismo, que tinha como características a
repetitividade, padronização do produto e produção em massa. Assim, iniciava
a Segunda Revolução Industrial, cujas principais características foram:

 uso de novas tecnologias, como a eletricidade;


 desenvolvimento tecnológico;
 expansão da industrialização em diversos países;
 produção em massa.
Indústria 4.0: histórico e conceitos 3

A Terceira Revolução Industrial


Também conhecida como Revolução Digital e Revolução Técnico-Científica,
a Terceira Revolução Industrial foi marcada pelo advento dos semicondu-
tores, particularmente o “Transistor”, que proporcionou a modernização dos
computadores e demais equipamentos elétricos e eletromecânicos, fazendo
surgir, então, os equipamentos eletrônicos e digitais. Após o esgotamento do
modelo americano fordismo, surgiu no Japão um novo modelo produtivo, o
toyotismo, que tinha como principal característica a produção flexível, pro-
duzindo conforme demanda de mercado e sendo conhecido, também, como
Produção Enxuta, do inglês Lean Manufacturing.
A eletrônica foi evoluindo ao longo do tempo, tornando-se mais barata e
com maior capacidade (SACOMANO et al., 2018). Entre as principais carac-
terísticas dessa revolução, destacam-se:

 produção flexível;
 automação industrial;
 nanotecnologia;
 biotecnologia;
 mecatrônica;
 microinformática;
 telecomunicações;
 tecnologia da automação (TA);
 tecnologia da informação (TI).

A Quarta Revolução Industrial


A Indústria 4.0, a Quarta Revolução Industrial, é a era da interação digital
da indústria, caracterizando o conceito de Fábrica Inteligente, do inglês Smart
Factory. Inicialmente, o conceito de Indústria 4.0 foi fixado à manufatura,
porém, houve uma disseminação para os outros setores, como a agricultura e
os serviços. Foi criada em 2012, na Alemanha, com o intuito de aumentar a
produtividade da indústria e melhorar a competitividade com países asiáticos,
e tal reviravolta tecnológica se espalhou mundo afora. Mas não é apenas sobre
a automação de alto nível que a Indústria 4.0 trata: ela está acontecendo a
partir de ondas que afetam diversas áreas do conhecimento humano, como
nanotecnologia, computação quântica, sequenciamento de DNA, Internet das
Coisas e vários outros exemplos que não só modificam áreas do conhecimento
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humano, mas possibilitam uma interconexão com outras tecnologias. Assim,


estamos no início de uma revolução que irá alterar a maneira como vivemos,
nos relacionamos e trabalhamos (SCHWAB, 2016).
Para Sacomano et al. (2018), a Indústria 4.0 promoverá transformações
nas formas de produção e propõe novos desafios para o Brasil. Devido à
digitalização e ao autogerenciamento das fábricas, haverá redução do quadro
de funcionários, além de profissões que deixarão de existir, dando espaço
para outras. A Internet das Coisas e Serviços será um pré-requisito para tal.
Dessa forma, haverá uma mudança de paradigma na interação entre homem
e máquina, que, nesse novo contexto, tomarão decisões conjuntas.
Com o surgimento das fábricas inteligentes, também aparecerão os produtos
inteligentes, capazes de se comunicar com os processos produtivos, enviando
informações sobre seu uso, estado de conservação, desgastes prematuros e
outras informações que serão úteis para ajustar automaticamente a produção,
melhorando o produto para tal requisito.
A Indústria 4.0 se apoia sobre nove pilares tecnológicos, que você pode
ver na Figura 1 e que são descritos a seguir.

Figura 1. Pilares da Indústria 4.0.


Fonte: Adaptada de elenabsl/Shutterstock.com.
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Ponto de inflexão é o ponto no qual a tecnologia atinge uma massa crítica suficiente
para se espalhar pela sociedade, causando impacto.

 Big Data: é a análise de uma grande quantidade de dados, considerando


volume, velocidade, variedade e complexidade (MORAIS, 2018). Um
exemplo do uso de Big Data na Indústria 4.0 é o caso da Danone, em
que a empresa norte-americana tinha como necessidade a otimização da
cadeia logística de um produto que perecia muito rápido; sendo assim,
ele precisava ser fabricado e entregue em um período curto e síncrono
com o consumidor. Para tal, a empresa cruzou informações de rotas,
tempo de entrega e prazo validade, viabilizando a tarefa.
 Robótica autônoma: a robótica já é uma tecnologia conhecida há muitos
anos, desde o início da Indústria 3.0, mas, só no final dessa fase e na
entrada da Indústria 4.0, ela ganhou inovações como a Robótica Colabora-
tiva, em que robôs e seres humanos dividem o mesmo espaço de trabalho
com total segurança. Além de trabalharem com algoritmos de Inteligência
Artificial, a partir da qual tais equipamentos podem tomar decisões e
compartilhar experiências com outros equipamentos (SCHWAB, 2018),
muitas aplicações exigem soluções mistas, com robôs e humanos dividindo
o mesmo espaço de trabalho. Assim, o ser humano contribui com sua
capacidade cognitiva e o robô com sua robustez, precisão, velocidade e
repetibilidade ininterrupta. Além disso, reduz problemas ergonômicos
e melhora a produtividade significativamente, devido à alta velocidade
de trabalho do equipamento, e os seres humanos deixam de realizar
trabalhos repetitivos, podendo gerenciar a tarefa ou realizar outras com
maior valor agregado. Um ótimo exemplo do uso de robôs colaborativos
é o case da Sabó, empresa do mercado automotivo que enfrentava um
problema de produtividade devido à grande quantidade de tarefas manuais.
Para resolver tal problemática, implantaram equipamentos robóticos que
auxiliassem em tais tarefas. Os equipamentos tiveram um payback de 6
meses e, hoje, a produção roda ininterruptamente.
 Simulação computacional: com a evolução do poder computacional,
também surgiram os softwares de simulação, que são programas que
podem simular fielmente comportamentos de produtos, processos e
até mesmo plantas industriais completas (SCHWAB, 2018). Modelos
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computacionais são algoritmos e/ou equações usadas para capturar o


comportamento do sistema que está sendo modelado. Simulação com-
putacional é a execução real do programa que contém essas equações
ou algoritmos; assim, a simulação é o processo de executar um modelo.
Com isso, torna-se possível saber antecipadamente os pontos fortes e
fracos do projeto, antecipar possíveis falhas e erros e corrigi-los antes
da implantação. Um caso de uso de sucesso foi a análise computacional
realizada pela TMSA, que conseguiu reduzir a massa de uma treliça
em 25% sem prejuízo à estrutura.
 Internet of Things — IoT: em português, Internet das Coisas, carac-
teriza a interconexão de objetos, sensores, máquinas, equipamentos,
automóveis e outros por meio da internet (MORAIS, 2018). Na filosofia
da Indústria 4.0, todos esses são inteligentes e conectados à internet
(LIMA et al., 2016). Nesse conceito, podemos citar a DHL, empresa do
ramo logístico que começou a usar a tecnologia da Internet das Coisas
para ajudar seus clientes a rastrear pacotes em tempo real. Esses sen-
sores também estão aumentando a produtividade no setor de logística.
 Cibersegurança: também conhecida como segurança do ciberespaço
(LIMA et al., 2016), contempla o conjunto de técnicas e tecnologias
que visam detectar, prevenir e combater ataques a dados, programas,
sistemas e redes. Podemos citar algumas abordagens, como reconhe-
cimento de padrões e análise preditiva, algoritmos de autodetecção de
tráfego de dados anormal na rede, autodetecção de comportamento
anormal com segurança efetiva e outros. Assim, como na Indústria 4.0
praticamente tudo está conectado e integrado, proteger dados e sistemas
torna-se uma necessidade imediata.
 Integração de sistemas: integra sistemas que compõem toda a cadeia de
valor produtiva, como SAP, ERP, MES e outros, integrando fabricante,
fornecedores, distribuidores e clientes, facilitando análise e tomada
de decisão.
 Cloud Computing (computação em nuvem): refere-se ao uso de servido-
res e computadores hospedados em data centers e interligados por meio
da internet, sendo possível fazer uso remoto de seu armazenamento,
memória e processamento. A computação na nuvem tem como vantagens
a escalabilidade de recursos computacionais, que pode ser utilizada
conforme demanda; disponibilidade, uma vez que os data centers são
munidos de sistemas redundantes; maior segurança das informações e
maior agilidade nas mudanças tecnológicas (LIMA et al., 2016).
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 Impressão 3D ou manufatura aditiva: já é utilizada nos dias de hoje


em grande escala, na criação de protótipos e produção de peças perso-
nalizadas. As impressoras 3D são equipamentos de prototipagem rápida,
com tecnologia CNC, e constroem uma peça adicionando material em
sucessivas camadas (SCHWAB, 2016; STEVAN JÚNIOR; LEME;
SANTOS, 2018). Essa tecnologia permitirá que consumidores perso-
nalizem seus produtos e os imprimam. A Figura 2, a seguir, apresenta
uma peça que foi digitalizada e, posteriormente, impressa.

Figura 2. Processo de digitalização, modelagem e impressão 3D, em


que: a) modelagem computacional; b) scanner de digitalização; c) peça;
d) impressora 3D; e) peça impressa.
Fonte: Adaptada de AlexLMX/Shutterstock.com.

 Realidade aumentada: a Indústria 4.0 visualiza uma enorme aplica-


bilidade da realidade aumentada, e interações entre o mundo real e
virtual facilitarão diversos procedimentos (SACOMANO et al., 2018).
Por exemplo, um mecânico de manutenção, com o uso de celular ou
tablet com câmera e um software especifico, poderá, no momento de
uma manutenção, apontar a câmera para uma peça danificada e instan-
taneamente visualizá-la como era antes de quebrar, além de ter acesso
a diversas informações ligadas à mesma, como manual de instruções,
dimensões, cotação direta com o fornecedor e outros. Veja um exemplo
de realidade aumentada na Figura 3.
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Figura 3. Visualização de um motor automotivo com recurso de realidade aumentada.


Fonte: Adaptada de Zapp2Photo/Shutterstock.com.

Fusão e impacto das novas tecnologias


A fusão de novas tecnologias é um dos principais impactos que serão causados
pela Indústria 4.0. Os impactos sofridos pela humanidade devido ao uso de
certas tecnologias podem ser de fácil ou complexa compreensão. Por exemplo,
o uso dos smartphones e da internet foram bem compreendidos, porém, outros
que chegarão talvez não o sejam. Nesse sentido, podemos citar a biologia sin-
tética, que apresenta bebês projetados num futuro próximo — essas mudanças
irão criar diversas discussões espirituais e éticas.
Outra tecnologia a ser citada é a Inteligência Artificial (IA), que também
impõe questões complexas. A Amazon e a Netflix fazem uso de algoritmos
de IA que conseguem prever quais filmes e livros o usuário gostaria de ler e
assistir. Outro exemplo são os robôs médicos, que, a partir de um algoritmo
de IA, realizarão o diagnóstico e prescreverão os medicamentos. Como os
seres humanos irão lidar com essa tecnologia ainda é um campo desconhecido,
Indústria 4.0: histórico e conceitos 9

uma vez que nunca passamos por uma evolução tecnológica que provocasse
impactos que afetem a individualidade, diversidade e democracia dos seres
humanos nesse nível (SCHWAB, 2018).

Disrupção tecnológica
Inovações tecnológicas, sendo produtos ou serviços, quando provocam uma
ruptura de padrões já estabelecidos pelo mercado, são chamadas de tecnolo-
gias disruptivas ou inovações disruptivas. Nesse contexto, podemos citar o
Uber, a maior empresa de táxis do mundo, que não possui sequer um veículo;
o Facebook, proprietário de mídia popular no mundo, que não cria nenhum
conteúdo; e o Airbnb, o maior provedor de hospedagem do mundo, que não
é proprietário de sequer um imóvel (SCHWAB, 2018). Outro exemplo é o
Snap, a companhia que inventou o Snapchat e que conseguiu criar uma nova
rede social que realmente trouxesse algo de novo (disruptivo), diferenciando-
-se das demais pelo fato de as mensagens “desaparecerem” pouco depois de
serem publicadas.

Para saber mais sobre a Indústria 4.0 no Brasil, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/VbZQLS

Manutenção preditiva por meio do uso da Internet das Coisas — IoT


Uma empresa fornecedora de robôs industriais está fazendo uso de IoT para reali-
zar manutenções preditivas em seus equipamentos; assim, o tempo de produção é
reduzido, otimizando as perdas na produção.
10 Indústria 4.0: histórico e conceitos

LIMA, A. W. B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher, 2016.
MORAIS, I. S. et al. Introdução a Big data e Internet das Coisas (IoT). Porto Alegre: SAGAH,
2018.
SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018.
SCHWAB, K. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
SCHWAB, K. Aplicando a quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2018.
STEVAN JÚNIOR, S. L.; LEME, M. O.; SANTOS, M. M. D. Industria 4.0: fundamentos, pers-
pectivas e aplicações. São Paulo: Érica, 2018.

Leituras recomendadas
RODRIGUES, R. Controle e automação da produção. Porto Alegre: SAGAH, 2016.
SILVA, E. B.; SCOTON, M. L. R. P. D.; DIAS, E. M. Automação & Sociedade: quarta revolução
industrial, um olhar para o Brasil. Rio de Janeiro: Brasport, 2018.
STEVAN JÚNIOR, S. L. IOT: internet das coisas: fundamentos e aplicações em Arduino
e Nodemcu. São Paulo: Érica, 2018.

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