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RESUMO
O câncer infantil é um diagnóstico temido pelas famílias. Carrega consigo uma
série de mudanças e fantasias, tais como o medo da morte, a hospitalização e
a quebra da dinâmica familiar. O objetivo do estudo foi conhecer a produção
científica da psicologia com o intuito de articulá-la com a visão da atuação no
projeto de extensão universitária em que as autoras participam. A coleta de
dados foi realizada pelo portal Períodos Eletrônicos em Psicologia,com
múltiplos termos e combinações. Após o levantamento de 22 artigos publicados
nos últimos dez anos (2004-2014), foram criadas quatro categorias temáticas e
subtemáticas. As intervenções buscam, de modo geral, produzir espaços
criativos, capacitando a elaboração e compartilhando vivências acerca do
câncer infantil. Além disso, foi evidenciada a importância da equipe
multidisciplinar para que haja um espaço de humanização e compreensão do
paciente como um ser biopsicossocial.
Palavras-chave: corpo psico-oncologia pediátrica; ambiente hospitalar;
humanização da assistência; formação dos profissionais de saúde; revisão de
literatura.
ABSTRACT
Child cancer is a very feared diagnosis by all families. It carries itself a series of
changes and fantasies, like fear of death, hospitalization and the break of the
family dynamic. The goal of this study was to acknowledge the brazilian
psychology scientific production with the aim to articulate them with our
experience on a university extension project. The data collection was obtained
in the portal Períodos Eletrônicos em Psicologia, using multiple terms and
combinations. After the survey of twenty two articles published in the last ten
1
Psicóloga Graduada pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – e-mail:
[email protected]
2
Doutora em Ciências da Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Docente do curso de Terapia
Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo campus Baixada Santista – UNIFESP/BS –
e-mail:[email protected]
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years (2004-2014), a categoric analysis was made, creating four tematic and
subtematic categories. The interventions had the aim, in general, to produce
creative spaces, capacitating the psychological elaboration and sharing of
experiences concerning childhood cancer. Furthermore, it was evidenced the
importance of a multidisciplinary team with the goal to enable the existence of a
humanization contact and the comprehensiveness of the patient as a
biopsychosocial being.
Keywords: pediatric psycho-oncology; hospital environment; humanization
assistance; health professionals education; literature review
Introdução
O câncer infantil é um diagnóstico extremamente temido pelas
famílias, sendo que uma série de mudanças e fantasias, tais como o medo da
morte, a hospitalização, a quebra da dinâmica familiar e o questionamento do
papel da infância ficam em evidência. Assim como em países desenvolvidos,
no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte por doença entre
crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, para todas as regiões (Instituto
Nacional de Câncer, 2015). Com os avanços da medicina, Menezes, Passareli,
Drude e Santos (2007) afirmam que as expectativas favoráveis de cura e o
diagnóstico e tratamento adequados assumem um importante papel
psicológico no processo de remissão dos sintomas.
Considerando que o câncer infantil perdeu o sentido de uma doença
aguda e fatal, este foi capaz de apresentar então características de doença
crônica, tornando-se passível de cura, de forma que a investigação dos fatores
psicossociais relacionados ao tratamento mostra-se extremamente relevante
nos estudos atuais. Diante desse panorama, pode-se considerar que o câncer
é agora um problema de saúde pública e com relevância que vai além do seu
caráter epidemiológico.
O desenvolvimento infantil cognitivo é também afetado relevantemente
durante o período de internação, sendo que estes podem ser longos e em
grande número. Mesmo que a doença seja de cunho eminentemente biológico,
o contexto em que a pessoa está inserida influencia de modo relevante a forma
de manifestação e enfrentamento da doença, já que a criança se vê diante das
limitações inerentes à hospitalização, tais como afastamento da escola, amigos
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Objetivos
Diante dessa demanda, o presente estudo busca conhecer
experiências e estratégias apresentadas nas produções científicas da
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Método
Coleta de Dados
A coleta de dados se deu no período de agosto de 2014 a setembro de
2014 e foi realizada através da ferramenta de busca de artigos no portal de
Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC),com os termos: Hospital;
Hospitalização; Câncer; Criança; Infantil; Oncologia Pediátrica.Foram
realizadas pesquisas com múltiplos termos e combinações, como
apresentados abaixo:
Oncologia pediátrica - -
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Resultados
Análise do Processo de Adoecimento: Ferramenta Para Estratégias de
Atuação
Deve-se perceber que o sujeito que ali se encontra não chega
como a-histórico, não emerge do vazio, ele vem agregado de
suas vivências, sua cultura, enfim, sua construção sócio-
histórica. Desta forma, para a compreensão empática é
imprescindível saber quem realmente é esse outro, o
despojando das máscaras institucionais
despersonalizantes.(Veras e Moreira, 2009)
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direito legal, social e moral da criança e que não deve ser interrompido mesmo
durante o tratamento oncológico (Silva, Cabral & Christoffel, 2008)
O brincar é uma estratégia para que se possa transpor a
barreira da linguagem; é possível à criança expressar suas
fantasias, seus desejos e experiências de um modo simbólico,
fazendo uso de brinquedo e do jogo. Disponibilizar um espaço
potencial para que esses pacientes possam construir
ressignificações através do lúdico, além de apropriar-se de seu
corpo, de seu brincar e seu desenvolvimento. (Oliveira, Rosa,
Bonatto & Oliveiro, 2006)
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escolares enfrentados por crianças com câncer: os pacientes com fobia escolar
devido à doença ou aos efeitos colaterais derivados dos tratamentos; as
dificuldades na reintegração escolar depois de uma ausência prolongada; os
problemas de aprendizagem derivados da doença que requerem avaliação
psicológica e possível adaptação curricular; e a intervenção preventiva e
instruções de reintegração à rotina escolar.
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Considerações finais
Diante desse panorama, é possível afirmar que a psicologia busca
ferramentas de atuação com o intuito de mobilizar recursos psíquicos infantis
de enfrentamento diante da condição de doença instaurada. Essas
intervenções vêm sendo produzidas através da análise do processo de
adoecimento e de estudos de caso, buscando elementos em comum que
possam ser trabalhados pelo profissional.
Pudemos explorar, nesta revisão integrativa, um pouco das
repercussões do adoecimento oncológico pediátrico através da observação do
processo de adoecimento infantil, suas repercussões familiares e a importância
da atenção à família neste processo, o lúdico como um espaço inerente ao
mundo infantil e uma estratégia de aproximação psicológica, e finalmente, as
particularidades que as diversas abordagens são capazes de atribuir à atuação
propriamente psicológica.
É importante também reconhecer o papel do trabalho em equipe no
contexto hospitalar, onde a psicologia está sempre intrinsecamente relacionada
com as intervenções dos profissionais das diversas áreas de saúde. Este foi o
grande motivador deste trabalho, que teve início através do reconhecimento da
importância deste movimento na atuação interdisciplinar do projeto de
extensão universitária intitulado “A narrativa como um dispositivo na
elaboração de um novo olhar sobre o câncer infantil (PROENCC)” da qual as
autoras participam.
Neste espaço, os alunos de graduação das diversas áreas de saúde
propõem à criança um encontro lúdico onde esta estará livre para expressar
seus desejos conforme queira. Após este momento, a dupla responsável irá
produzir uma breve narrativa em formato de história infantil, que será
posteriormente devolvida para a criança no final do semestre através de uma
leitura “contação de histórias” para ela e/ou sua família.
Durante o encontro lúdico, é despertado uma série de questões e
incômodos, tanto da criança quanto de sua família. “E mais do que isso, por
meio do brincar a criança reproduz o seu mundo, a sua realidade, a sua
individualidade, a sua relação com o mundo. Construímos as narrativas
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Referências
Almeida, F. A. (2005). Lidando com a morte e o luto por meio do brincar: a
criança com câncer no hospital. Boletim de Psicologia, 4(123), 149-167.
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Federici, C. A. G., Passos, K. T., Abrão, R. O., Paula, T. B., Melo, C. V. I.,
Viana, C. V. A. &, Viudes, S. B. (2012). A narrativa como um dispositivo na
elaboração de um novo olhar sobre o câncer infantil. Revista Ciência em
Extensão, 8(3), 267-270.
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Oliveira, C. B., Rosa, C. R., Bonatto, T., & Oliveiro, N. M. (2006). O câncer
como manifestação do não simbolizado. Revista da Sociedade Brasileira de
Psicologia Hospitalar, 9(1), 15-29.
Santos, M. Z., Sardá Júnior, J. J., Menezes, M., & Thieme, A. L. (2013).
Avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças com câncer por meio do
DFH III. Avaliação Psicológica, 12(3), 325-332.
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