Trabalho Exames RM
Trabalho Exames RM
Trabalho Exames RM
I
Em 1.10.2016, a Pizaria X, que acabara de abrir ao público, celebrou
com Ana um contrato de trabalho para o exercício das funções de empregada
de balcão, em contrapartida de € 600/mês. Ana, que concluíra o 9.º ano, tinha
então 17 anos. O contrato, celebrado a termo por 2 anos, observou as
formalidades legais. Foi convencionado que Ana trabalharia de 3.ª feira a
sábado, das 12h às 24h, com 2h de intervalo entre as 17h e as 19h.
Cumprindo ordens de Bernardo, gerente, Ana usava o cabelo preso e
um uniforme com o logotipo da Pizaria X.
Em 1.12.2016, aniversário de Ana, Bernardo ouviu-a confidenciar a
Carla, cozinheira, que estava grávida. No dia seguinte, Bernardo comunicou a
Ana que o contrato cessava de imediato, pois não terminara o ensino
secundário, além de que estava ainda em curso o período experimental.
Em 2.12.2016, para compensar a saída de Ana, a Pizaria X celebrou um
contrato a termo com Diana, também por 2 anos, com o seguinte fundamento:
“início de laboração de estabelecimento”. Porém, Diana recusa-se a usar o
uniforme, apesar de concordar com o cabelo preso.
Em 1.1.2017, a Pizaria X foi vendida a Edu. Em 2.1.2017, a primeira
medida de Edu foi denunciar o contrato de Diana, ao abrigo do período
experimental. Entretanto, Ana reclamou a Edu o pagamento de 2h diárias de
trabalho suplementar, desde 1.10 até 1.12. Por sua vez, Diana argumenta que
tem direito a férias e a subsídio de férias de 2016 e de 2017. Edu recusa
ambos os pedidos, considerando que não está obrigado a arcar com as
consequências da má gestão de Bernardo. Quid Iuris?
Duração: 90 minutos
I
A empresa X, do ramo da metalurgia, foi constituída no ano de 1994, tendo origem na
fusão de diversas sociedades que exerciam a sua atividade no âmbito do mesmo complexo
fabril. Os trabalhadores destas sociedades passaram automaticamente para a empresa X,
tendo-lhes sido dito na altura que os respetivos contratos de trabalho se mantinham
inalterados, bem como todos os direitos que tinham anteriormente. Nesse contexto, a
empresa X manteve a prática de anos anteriores e até 2013 sempre concedeu,
simultaneamente, o feriado da terça-feira de Carnaval e o feriado municipal de São João,
permitindo aos trabalhadores não terem que trabalhar nestes dias sem que fossem
prejudicados na sua retribuição. No ano de 2014, porém, a empresa X retirou aos
trabalhadores o gozo daqueles dois feriados e considerou injustificada a falta daqueles que
não trabalharam nestes dias. João, dirigente sindical que não compareceu naqueles dias,
reclamou perante a empresa pelo facto de esta lhe ter descontado dois dias de trabalho. A
empresa X, por sua, vez, decidiu instaurar-lhe um procedimento disciplinar por violação de
diversos deveres laborais e dar-lhe uma ordem para que este deixasse de trabalhar no
complexo fabril do Porto e passasse para o complexo fabril de Setúbal, com pagamento das
correlativas despesas de instalação. Simultaneamente, sabendo que os trabalhadores criaram
uma página no Facebook aberta a “todos os trabalhadores do país preocupados com a luta de classes”,
onde expressavam “repúdio pela violação gritante das conquistas dos trabalhadores e pela supressão
ilícita de dois feriados”, a empresa decidiu também intentar procedimentos disciplinares
contra os autores daquela página e os que nela se expressaram contra a supressão legítima
dos referidos feriados.
Quid iuris
Tópicos de correção
II
I
(i) 4 valores / ii) 3,5 valores / iii) 4 valores / iv) 3,5 valores)
Em 1 de julho de 2021, Amílcar foi admitido como operador de caixa no supermercado Fruta Fresca,
a tempo parcial, trabalhando 4 horas por dia, cinco dias por semana, auferindo mensalmente a quantia de €
500,00.
Amílcar pretende agora i) reclamar a diferença entre a retribuição mínima mensal garantida e o valor
de € 500,00, uma vez que o seu contrato não foi reduzido a escrito e ii) faltar no dia 28 de janeiro, para
acompanhar o seu cão ao veterinário.
Entretanto, a Fruta Fresca pretende iii) instalar câmaras sobre as caixas registadoras, de forma a
prevenir a ocorrência de assaltos, e iv) abandonar a prática de conceder aos trabalhadores 25 dias úteis de
férias, em vigor desde 2012, passando a conceder apenas 22 dias úteis.
Amílcar pretende a sua opinião sobre os pontos i) a iv).
II
(4 valores)
Comente a seguinte afirmação:
“A exigência legal da indicação do motivo justificativo é uma consequência do caráter
excepcional que a lei atribui à contratação a termo e do princípio da tipicidade funcional que se
manifesta no art.º 140.º: o contrato só pode ser (validamente) celebrado para certos fins e na medida
em que estes o justifiquem.” (Ac. do TRP, de 8 de março de 2019).
Critérios de correção:
I
i. Definição de período normal de trabalho (art. 198.º do CT), por referência ao conceito de tempo de
trabalho (art. 197.º);
Referência ao regime de trabalho a tempo parcial, tendo em conta a respetiva definição (arts. 150.º
ss.);
Requisitos da celebração de contrato de trabalho a tempo parcial, em particular, forma escrita (art.
153.º, n.º 1);
Definição e regime da retribuição mínima mensal garantida (art. 273.º e Decreto‑Lei n.º 109‑A/2020
de 31 de dezembro);
Análise da pretensão de A., tendo em conta o regime da invalidade do contrato de trabalho, em
particular, a regra constante do art. 122.º, n.º 1.
ii. Definição de faltas e respetivo regime, por referência aos arts. 248.º ss.;
Análise da pretensão de A., tendo em conta a diferença entre faltas justificadas e injustificadas (art.
249.º, n.º 1), as justificações legalmente previstas (art. 249.º, n.º 2) e a imperatividade do respetivo
regime (art. 250.º);
Ponderação da aplicação das justificações legais à situação em causa, em particular, a referida no art.
249.º, n.º 1, al. d);
Referência ao procedimento de comunicação e justificação da ausência (arts. 253.º e 254.º);
Efeitos da ausência, em face da conclusão quanto à justificação (arts. 255.º e 256.º).
iii. Análise da pretensão da empresa quanto à instalação das câmaras, tendo presente o regime do art. 21.º
e a finalidade pretendida;
Referência ao Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento e do Conselho, de 27 de abril de 2016, e ao
regime dos arts. 19.º e 28.º da Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto.
iv. Apreciação da prática da empresa por referência à definição e regime dos usos laborais e sua
qualificação como fonte (art. 1.º);
Análise da possibilidade de abandono da mesma, com garantia da concessão de 22 dias úteis de férias,
tendo presente a duração mínima legalmente prevista (art. 238.º, n.º 1).
II
1. Enquadramento da excecionalidade da contratação a termo em face da segurança no emprego (art. 53.º
CRP);
2. Referência aos requisitos da contratação a termo, em especial, às situações que permitem o recurso à
contratação a termo (art. 140.º);
3. Referência aos requisitos de forma, em particular, quanto à indicação do termo estipulado e do
respetivo motivo justificativo (art. 141.º, n.º 1, al. e), e 3);
4. Consequências da violação dos requisitos substanciais e formais referidos (art. 147.º, n.º 1, als. b) e
c)).
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Recurso de Direito do Trabalho I (coincidências) – 4.º Ano - Dia
25-02-2022 / Duração: 90m
2. Quando Amílcar recebe o seu primeiro recibo de vencimento, verifica que não lhe foi
pago o período de disponibilidade entre as 18h e as 02h, nem as horas em que foi
efetivamente chamado à empresa (4 valores).
Apreciação da noção de tempo de trabalho prevista no artigo 197.º do CT, em particular,
do alcance da expressão "ou permanece adstrito à realização da prestação", tomando
posição quanto à qualificação do tempo de disponibilidade (entre as 18h e as 02h) como
tempo de trabalho, referindo, para o efeito, a discussão doutrinária e jurisprudencial
(nacional e europeia), bem como os requisitos que têm sido avançados para a qualificação
como tempo de trabalho;
Independentemente da posição adotada quanto ao tempo de "mera disponibilidade",
qualificar as horas em que foi efetivamente chamado à empresa como tempo de trabalho
(197.º) e, em particular, como trabalho suplementar (artigos 226.º, 227.º e 228.º) e,
eventualmente, como trabalho noturno (223.º, n.º 1, do CT), tendo direito ao pagamento do
trabalho nos termos dos artigos 268.º e 266.º do CT.
17 de Janeiro de 2017
Duração: 1 h 30
TÓPICOS DE CORREÇÃO
I
António, engenheiro informático, trabalha na empresa X e adoece
gravemente.
Entre A e a Empresa X existe um contrato de trabalho (ainda que a hipótese
não esclareça a existência de subordinação jurídica – artigo 11.º CT).
A é engenheiro informático (categoria subjectiva).
A doença de A dá origem a faltas (noção – artigo 248.º/1 CT) que, em
princípio, serão justificadas (artigo 249.º/2d) CT, desde que observado o
procedimento constante dos artigos 253.º e 254.º, cujos efeitos se encontram
previstos no artigo 255.º/2a) CT); de referir que, quando por período superior a
30 dias, a ausência determina a suspensão do contrato (artigo 296.º CT).
CONTRATO A TERMO
Entre B e a Empresa X é celebrado um contrato de trabalho (artigo 11.º
CT), a termo resolutivo certo – explicitação; artigo 53.º CRP; Diretiva
1999/70/CE; artigos 139.º e seguintes CT;
- Apreciação da existência de motivo justificativo: artigo 140.º/1 CT
– verificação da existência de uma necessidade temporária, correspondente à
ausência de A por doença e à consequente necessidade de substituição;
1
problematização do segundo requisito (pelo período estritamente necessário),
uma vez que não há dados relativos à previsibilidade da recuperação de A. No
entanto, o contrato é celebrado por um ano. Caso o empregador demonstre
(artigo 140.º/5 CT) que era previsível, aquando da celebração, que a ausência
de A se prolongasse durante um ano (ou mais), o contrato poderia ser válido.
Caso contrário, seria nulo – artigo 147.º/1b) CT.
- Ponderação da existência de substituição: relevância ou não da
categoria subjectiva dos trabalhadores; atendendo à diferente profissão de A e
B, deverá ser ponderada a eventualidade de B não ocupar o posto de trabalho
de A – se assim for, o contrato poderá ser nulo pelo artigo 147.º/1a) CT. Contudo,
não é improvável que B seja contratado efectivamente para substituir A, até
porque uma das cláusulas refere a manutenção dos sistemas informáticos; outra
hipótese é tratar-se de uma substituição indirecta, prevista no artigo 140.º/2a)
CT;
- Apreciação dos requisitos de forma: artigo 141.º CT – ausência
de dados quanto à alínea a) e parte da alínea c) do n.º 1 deste preceito (PNT) –
não originam a conversão prevista pelo artigo 147.º/1c) CT. Problematização da
necessidade de explicitar o termo, mencionando expressamente os factos que o
integram e estabelecendo a relação entre o motivo e o termo estipulado (artigo
141.º/3 CT), que no caso não parece acontecer, tendo como consequência a
conversão em contrato sem termo – artigo 147.º/1c) CT.
TEMPO DE TRABALHO
Limites ao tempo de trabalho – artigo 58.º CRP; Directiva 2003/88/CE;
artigos 203.º e seguintes CT;
Qualificação como tempo de trabalho, tempo de descanso ou tempo de
terceiro tipo;
Inadmissibilidade da cláusula – artigo 3.º/4 CT, por impor ao trabalhador
uma disponibilidade absoluta de tempo de trabalho;
Obrigatoriedade da existência de períodos de descanso: artigos 203.º/1,
213.º/1, 214.º, 232.º e 233.º CT;
Nulidade – artigos 121.º e 122.º CT;
Nota: não parece estar em causa uma situação de isenção de horário, já
que não se enquadra em nenhuma das alíneas do n.º 1 do artigo 218.º CT.
Porém, poderia estar prevista em IRCT (artigo 218.º/2 CT).
2
LOCAL DE TRABALHO
Princípio da inamovibilidade – artigo 129.º/1f) CT;
Discussão sobre a (in)determinabilidade do local de trabalho – artigos
193.º/1 e 141.º/1c) CT;
Inobservância do artigo 141.º/1b) CT; de referir o artigo 106.º/3b), nos
termos do qual o empregador deve informar o trabalhador o local de trabalho,
ou, não havendo um local fixo ou predominante, a indicação de que o trabalho é
prestado em várias localizações;
Excessiva amplitude da cláusula, indeterminável; discussão sobre a
consequência da indeterminabilidade; ponderação da consequência da
respectiva nulidade – artigos 121.º e 122.º CT e artigo 280.º CC; o local deverá
ser determinado pela integração desta lacuna (artigo 239.º CC), atendendo ao
princípio da boa fé e ao modo de execução da prestação.
II
A Associação Sindical dos Trabalhadores Administrativos (ASTA) celebrou
uma convenção colectiva com a Associação dos Bancos (AB), na qual se previa:
“a presente convenção é aplicável a todos os trabalhadores, independentemente
de filiação”.
FONTES
IRCT negocial; convenção coletiva; contrato colectivo; artigo 56.º/3 CRP;
artigos 1.º, 2.º/1, 2 e 3/a) CT;
Artigo 443.º/1a) CT;
Conteúdo negocial e conteúdo normativo: análise crítica;
Determinação dos âmbitos de aplicação: pessoal (artigo 496.º/1 CT –
trabalhadores filiados no ASTA que tenham celebrado contrato de trabalho com
entidades membros da AB); temporal (artigo 499.º CT); material e geográfico
(artigo 492.º/1c) CT;
Convenção vertical;
Análise do conteúdo: artigo 3.º/1 CT e sua explicitação; o artigo 496.º/1 CT
é uma norma injuntiva absoluta, pelo que a situação se enquadra na parte final
do n.º 1 do artigo 3.º do CT, sendo assim nula a cláusula do CCT, nos termos do
artigo 478.º/1a) CT;
3
Relativamente às cláusulas: admissibilidade da cláusula de redução da
retribuição (artigo 3.º/1, 1.ª parte e artigo 129.º/1d) CT); dúvidas quanto à
cláusula referente às férias, já que refere 25 dias, não esclarecendo se são ou
não dias úteis, pelo que, caso não o sejam, a cláusula seria nula, por se tratar
de regime imperativo mínimo (artigo 3.º/1, in fine e 3/h), conjugado com o artigo
238.º/1 CT, sendo também contrária à Diretiva 2003/88/CE)
4
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito do Trabalho I – 4.º Ano – Dia
17/01/2022. Duração: 90 minutos
I
(4 valores por cada ponto)
Em 1 de julho de 2021, Antónia foi contratada como enfermeira do Hospital Particular de Lisboa
(HPL).
Nos termos do contrato celebrado, Antónia ficou obrigada à prestação de 40 horas semanais, tendo
sido acordado o seguinte horário: 2.ª-feira a 6.ª-feira, das 8 h às 12 h e das 13 h às 17 h.
Atendendo à actual situação pandémica, o HPL: i) alterou o horário de Antónia, passando esta a
realizar a sua prestação no turno nocturno (das 0 h às 9h, com uma hora de intervalo), o que recusou, invocando
motivos familiares; ii) ordenou que Antónia desse algum apoio ao serviço de higienização das salas de
operações, indicação que foi igualmente recusada, sem qualquer argumento; iii) instruiu os recursos humanos
que assegurassem que só os trabalhadores vacinados prestariam a sua actividade; iv) foi comprado pelo grupo
Hospitais de Portugal, que determinou uma reestruturação no modelo retributivo, só salvaguardando a
irredutibilidade relativamente à retribuição base.
Antónia pretende a sua opinião sobre os pontos i) a iv).
II
(3 valores)
Comente a seguinte afirmação:
“O regime legal da retribuição de férias … e do subsídio de Natal prevalece sobre as cláusulas
dos Acordos de Empresa, quando estas estabelecerem regime menos favorável” (Ac. do STJ, de 16 de
Dezembro de 2010).
Critérios de correção:
I
i. Definição de período normal de trabalho e horário de trabalho (arts. 198.º e 200.º do CT), por referência
ao conceito de tempo de trabalho (art. 197.º);
Análise do horário de A., tendo em conta os limites máximos do PNT (art. 203.º), o intervalo de
descanso (art. 213.º), descanso diário (art. 214.º) e o descanso semanal (art. 232.º);
Regime da elaboração de horário de trabalho (art. 212.º);
Regime da alteração do horário de trabalho (art. 217.º); em particular, referência à possibilidade de
alteração do horário para horário nocturno por determinação unilateral do empregador e ponderação
da necessidade de acordo do trabalhador; em face disso, ponderação da possibilidade de recusa de A..
Definição de trabalho nocturno e sua aplicação no caso concreto (art. 223.º);
Definição de trabalhador noturno (art. 224.º, n.º 1) e regime de proteção do trabalhador noturno (art.
225.º).
ii. Definição da categoria de A., por referência ao objeto contratual definido pelas partes (art. 115.º, n.º
1);
Apreciação da licitude da ordem de modificação das funções, à luz do regime da polivalência funcional
(art. 118.º) e da mobilidade funcional (art. 120.º, n.os. 1 e 4), e 129.º, n.º. 1, alínea e)) e respectivos
requisitos.
iii. Apreciação da possibilidade de exigência de vacinação para a prestação de trabalho no contexto
concreto (prestação de cuidados de saúde), tendo em conta os deveres do empregador (art. 127.º, n.º 1,
alíneas c), g)), direitos de personalidade e os deveres do trabalhador (art. 128.º, n.º 1, alínea i)) e a
proibição da igualdade e não discriminação (arts. 23.º ss.), ponderando a aplicação do regime do art.
25.º, n.º 2;
Análise da possibilidade de exigência da informação sobre vacinação, à luz do regime dos arts. 16.º e
17.º; em particular, referência ao regime de prestação de informações sobre saúde, tendo em conta os
requisitos definidos no art. 17.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2.
iv. Regime da transmissão de empresa ou estabelecimento (arts. 285.º e ss.); em particular, a consequência
da transmissão da posição de empregador nos contratos de trabalho, com a manutenção de todos os
direitos contratuais e adquiridos, nomeadamente retribuição (art. 285.º, n.º 3); ponderação da eventual
não aplicação do regime da transmissão de estabelecimento, caso se trate de mera operação societária
de aquisição de participações sociais;
Definição e regime da retribuição (arts. 258.º ss.); em particular, definição do conceito de retribuição
e seus elementos essenciais (art. 258.º, n.os 1 e 2);
Definição de retribuição base (art. 262.º, n.º 2, alínea a));
Análise da possibilidade de reestruturação do modelo retributivo, com salvaguarda da retribuição base,
tendo em conta a irredutibilidade da retribuição (129.º, n.º 1, alínea d)).
II
1. Identificação da fonte coletiva e seu enquadramento (arts. 1.º e 2.º, n.os 1, 2, 3, alínea c), e 476.º e ss.);
2. Referência à hierarquia entre fontes e à relação entre IRCT (em concreto, a convenção coletiva) e a lei
(arts. 3.º, n.os 1 e 3, e 478.º, n.º 1, alínea a)).
3. Ponderação da imperatividade (mínima) do regime dos arts. 263.º e 264.º, n.º 2, e respetivas
consequências quanto à invalidade das cláusulas do acordo de empresa.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito do Trabalho I (época especial) – 4.º Ano - Dia
06-09-2022 / Duração: 90m
- Identificação do tipo contratual (artigo 11.º CT) e da lei aplicável (artigo 7.º Lei 7/2009, de
12/2).
- Caracterização do contrato (termo resolutivo certo) e apreciação dos requisitos materiais e
formais de celebração (artigo 53.º CRP; Diretiva 99/70/CE, respeitante ao acordo-quadro CES,
UNICE e CEEP relativo a contratos de trabalho a termo; artigos 140.º, n.ºs 1, 2, alínea a) e 5,
141.º e 40.º, n.º 1 CT); duração (artigo 148.º, n.º 2, CT); referência à sucessão de contratos a
termo (não aplicação do artigo 143.º CT: conceito de posto de trabalho, identificação de
fundamento diverso – artigo 140.º, n.ºs 1 e 2, alínea f) e referência ao facto de o período de
tempo exigido já ter decorrido). Conclusão pela validade do contrato a termo celebrado (caso
os pressupostos formais estejam preenchidos).
- Alteração, por acordo, para contrato de trabalho sem termo (artigo 110.º CT e, quanto à
inadmissibilidade de renovação, artigos 147.º, n.º 2, alínea a) e 149.º, n.ºs 2 e 3, CT).
- Identificação do período experimental: artigo 112.º, n.º 2, alínea b), CT; inaplicabilidade do
artigo 112.º, n.ºs 1 e 4, CT; referência ao facto de, em qualquer caso, não ser aplicável o
regime do artigo 112.º, n.º 1, alínea b), subalínea iii), dado que não se tratava do primeiro
emprego e menção ao Acórdão do TC n.º 318/2021, de 18 de maio.
- Ilicitude da cessação ao abrigo do período experimental e à eventual violação de deveres da
trabalhadora durante a discussão com a cliente (artigo 128.º, n.º 1, alínea a), CT).
2) Ana reclama: (i) que nunca gozou férias, nem recebeu o correspondente
subsídio; (ii) que no dia 1 de junho (quarta-feira) realizou 4 horas de trabalho
suplementar, por indicação de Carlos, o qual nunca lhe foi pago; (iii) que a loja
tem uma câmara de vigilância, que visa a proteção contra furtos, mas que
permite visionar total e permanentemente o espaço onde trabalha, o que é
ilegal. (6 valores)
- Caracterização das férias enquanto direito irrenunciável do trabalhador (artigo 59.º, n.º 1,
alínea d), CRP; Diretiva 2003/88/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de novembro
de 2003, relativa a determinados aspetos da organização do tempo de trabalho; artigos 237.º
ss CT); Identificação do direito a férias no ano de admissão (artigo 239.º, n.º 1, CT, 10 dias
úteis), da data do vencimento (ainda não vencido) e dos efeitos da cessação (artigo 245.º, n.º
1, CT).
- Trabalho suplementar (caracterização, artigo 226.º CT; requisitos de admissibilidade, artigo
227.º CT; autoridade de Carlos, enquanto superior hierárquico, artigo 128.º, n.º 2, CT; limite
de 2 horas diárias excedido, artigo 228.º, n.º 1, alínea d), CT; ilegitimidade (parcial) da ordem,
artigo 128.º, n.º 1, alínea e); efeitos, artigos 268.º, n.º 1, alínea a) e 337.º CT).
- Direitos de personalidade (artigo 26.º CRP, artigos 14.º ss CT); admissibilidade de instalação
de câmara de vigilância com fundamento na proteção e segurança de pessoas e bens (artigos
61.º e 62.º CRP; artigo 19.º da Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto; artigo 20.º CT), mas violação
da reserva da vida privada da trabalhadora, dada a colocação com visionamento direto para
o posto de trabalho e não para os locais de acesso.
- Identificação dos IRCT enquanto fontes de Direito do Trabalho (artigo 56.º, n.º 2, CRP; artigos
1.º, 2.º e 476.º ss CT); caracterização (contrato coletivo, artigo 2.º, n.º 3, alínea a), CT);
determinação dos âmbitos (pessoal, artigo 496.º, n.º 1, CT, aplicabilidade aos trabalhadores
filiados no SNTS, com contrato de trabalho com uma entidade que seja membro da ANP;
temporal, artigo 499.º CT; material e geográfico, artigo 492.º CT); convenção vertical; entrada
em vigor (artigo 519.º CT).
- Apreciação do conteúdo do CCT: explicitação do regime presente no artigo 3.º CT; invalidade
(parcial) da cláusula (i), dado o regime injuntivo decorrente do artigo 229.º, n.º 4, CT, mas
admissibilidade do valor diverso do estabelecido no artigo 268.º, n.º 1, alínea b, CT;
admissibilidade de remuneração superior à RMMG (artigos 3.º, n.ºs 1 e 3, alínea j) e 273.º, n.º
1, CT), inadmissibilidade de pagamento através de ajudas de custo (conceito de retribuição:
artigos 258.º e 260.º, n.º 1, alínea a), CT; efeitos da retribuição em vários domínios, tais como
os subsídios de Natal e de férias, prestações por desemprego, reforma, entre outros); nulidade
das cláusulas contrárias a disposições injuntivas (artigos 3.º e 478.º, n.º 1, alínea a), CT).