CandombléEnsino Produto
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Propostas e abordagens de
saberes afro-brasileiros em sala
de aula
(Kabengele Munanga)
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Candomblé e Ensino de História:
Propostas e abordagens de
saberes afro-brasileiros em sala
de aula
Ficha técnica
Texto:
Leonardo Silva Oliveira
Uberlândia, 2022
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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................................4
Alguns pontos importantes acerca do Candomblé............................................6
PROPOSTAS DIDÁTICAS ...............................................................................................16
ANEXO I – Contos................................................................................................................34
ANEXO II - Oxalufã é banhado com água fresca e limpa ao sair da
prisão ........................................................................................................................................41
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................44
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Introdução
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ALGUNS PONTOS
IMPORTANTES
ACERCA DO CANDOMBLÉ
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ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
1. Existem várias outras religiões, como o Terecô, Xangô do Nordeste, Pajelança, Catimbó, Nago Egbá,
Tambor de Mina e Batuque.
2. Na África os conhecimentos preservados pelo Candomblé serão encontrados em muitos cultos diferentes,
de orixás/voduns/inquices, culto de egungun (ancestrais), Sociedade Geledé, Ogboni, Culto de Ifá. 7
ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
8
ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
3. A cultura iorubá engloba vários povos diferentes, como os egbá, ijebu, ijexá, oios, quetos, ekitis que
falam a mesma língua e possuem cultos religiosos semelhantes. A denominação iorubá foi dada
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pelos ingleses, no contexto do imperialismo.
ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
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ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
Fonte: Wikimedia[4]
O Candomblé enquanto religião tenta, por meio dos mitos, itãs[5], cantos,
danças, possibilitar aos filhos da diáspora africana ressignificar seus
espaços e território, criando um mundo que se contrapusesse ao mundo
da escravidão. Logo, então, esse espaço da religião se tornou um lugar
privilegiado de preservação dos valores civilizatórios africanos no Brasil.
Etnias diferentes se auto identificaram com traços semelhantes e, através
disso, criaram uma religião unicamente nova, que desde o seu princípio
acolheu a todos na "família de santo". O espaço do sagrado, então, é uma
forma de reconstituição da família perdida, da família que foi separada
pelo tráfico.
A nação conhecida atualmente como angola é formada pela tradição de
culto aos inquices, proveniente da África Central (onde hoje se localiza
Congo e Angola), compreendendo os povos Bacongos e Ambundos que
falavam as línguas Quimbundo e Quicongo. Vieram principalmente dos
reinos do Ndongo e do Kongo. Na figura 2 podemos ver os dois reinos.
[4]https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Map_of_the_Niger-Congo_and_Khoisan_languages.svg.
Acesso em 20 jul. 2022.
[5] Lendas que descrevem passagens míticas dos Orixás/Voduns/Inquices em terra.
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ALGUNS PONTOS IMPORTANTES ACERCA DO CANDOMBLÉ
Fonte: Wikipedia[6]
A tradição bantu foi muito perdida, como aponta Prandi (1996), por ser
mais antiga, tendo chegado aqui principalmente nas primeiras levas do
século XVII. A cultura bantu também foi muito negada devido a uma visão
preconceituosa que afirmava que os povos iorubá e jeje eram superiores.
Os bantus eram vistos como mais doceis, mais fáceis de serem
escravizados, não civilizados, inferiores culturalmente, como aponta Nei
Lopes (2011).
Os povos jeje não possuem tal denominação em território africano. Luis
Nicolau Parés (2007) aponta que jeje pode ter sido a denominação de um
grupo minoritário localizado na área atual de Porto Novo, no Benim. No
entanto, o termo foi utilizado para definir os escravizados que provinham do
Reino do Daomé (atual Benim). É uma denominação meta-étnica que
engloba os povos adjá, fon e ewe que para o autor são também definidos
como falantes da língua Gbê, ocupando os territórios do atual Benin, Togo
e Gana. São vizinhos aos povos iorubá/nagô, localizados na atual Nigéria e
parte do Benin.
Fonte Wikiwand[8]
Figura 5: Mapa dos povos que formam o que aqui no Brasil ficou
conhecida como cultura jeje
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PROPOSTAS DIDÁTICAS
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PROPOSTA DIDÁTICA 01
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O que são os valores civilizatórios afro-brasileiros?
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Principio do Axé ENERGIA VITAL - tudo que é vivo e que existe, tem
axé, tem energia vital: Planta, água, pedra, gente, bicho, ar, tempo,
tudo é sagrado e está em interação. Imaginem se nosso olhar sobre
nossas crianças de Educação Infantil forem carregados da certeza de
que elas são sagradas, divinas, cheias de vida.
[...]
[...]
[...]
[...]
19
MUSICALIDADE – A música é um dos aspectos afro-brasileiros mais
emblemáticos. Um povo que não vive sem dançar, sem cantar, sem
sorrir e que constitui a brasilidade com a marca do gosto pelo som, pelo
batuque, pela música, pela dança.
[...]
[...]
Estes são alguns dos valores importantes que podem ser trabalhados
em sala de aula. É importante ressaltar que os terreiros de Candomblé
(e também as outras religiões afro-brasileiras) foram espaços
privilegiados de preservação destes costumes, valores e saberes
ancestrais. Foi através da oralidade e do culto a ancestralidade, da
preservação dos valores ancestrais, que essa manifestação religiosa
se reorganizou e se manteve viva.
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MOMENTO INICIAL
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MÓDULO I
Nesse módulo, será divida a turma em grupos (do jeito que for melhor, de
acordo com a realidade da sala e do número de alunos) e dividir os três
contos entre os grupos. Não tem problema repetir, é até bom que vários
grupos diferentes opinam sobre o mesmo conto. É interessante que antes
um outro conto seja escolhido e analisado conjuntamente com os alunos,
de modo a mostrar o “como se faz”. Os contos encontram-se reproduzidos
em anexo.
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No “Árvore que se curva, vento não quebra” trazemos o valor da
ORALIDADE, na qual mostra uma irmã mais velha de um terreiro
contando uma historia que havia aprendido sobre resiliência e
flexibilidade, valores esses que não são essencialmente afro-
brasileiros, mas se somam ao valor citado anteriormente. Esse conto
trabalha a necessidade de ser resiliente frente as adversidades da
vida, necessidade sendo esse um dos valores essenciais para os
escravizados frente a tudo que passaram no Brasil – sendo privados de
sua terra, sua ancestralidade, sua vida, sua família e tudo mais que
dava sentido a sua vida.
1) Título:
2) O que você entendeu da História?
3) Qual ou quais os o valores civilizatórios afro-brasileiros trabalhados
no conto?
4) Algum outro valor, além dos mencionados foi trabalhado? Mencione
e explique.
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MÓDULO II
MÓDULO III
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Módulo IV
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PROPOSTA DIDÁTICA 02
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Módulo I
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Módulo II
Oió era o centro militar dos iorubás e Ifé o centro espiritual. Oió era
próixima aos Nupes e Borgus, tendo tipo muita influência destes.
Apoiava-se mais nos funcionários servis para organizar o exército,
tendo estes cavaleiros e arqueiros. Foram eles que levaram o culto
de Xangô para toda a Iorubaland. A cidade teve uma capital
antiga, que foi invadida e derrubada pelos nupes. Aliada aos
borgus, ela conseguiu se reerguer. Oió acabou por passar longe da
influência europeia, diferente do Reino do Daomé, até o século XIX,
por não estar tão ligada a costa.
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Módulo III
Figura 2: Ilê Axé Opô Afonjá – Salvador, Bahia. Inaugurado em 1910 para cultuar Xangô.
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Informações importantes:
Afonjá – um dos nomes do Orixá Xangô.
Casa Branca do Engenho Velho - terreiro de Candomblé mais antigo do
Brasil, fundado na década de 1830 por Ya Nassô.
Ya Nassô - era o nome do cargo da mulher que era responsável pelo
culto de Xangô no Palácio do Alafin de Oió. Ao ser trazida para o Brasil
enquanto escravizada, ela acaba dando origem, juntamente com
outras sacerdotisas, ao Candomblé no Brasil.
Alafin – senhor do palácio. O rei.
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É interessante trabalhar com os alunos o seguinte texto:
O Terreiro do Axé Opô Afonjá, conhecido como Ilê Axé Opô Afonjá (seu nome significa
“Casa sob o comando e o sustendo do cajado de Afonjá”), descende do Terreiro da
Casa Branca do Engenho Velho, que é um dos terreiro de Candomblé mais antigos
que se tem notícia no país, servindo de modelo para vários outros. Um grupo
dissidente da Casa Branca, comandado por Eugência Anna dos Santos, conhecida
como mãe Aninha, fundou o Axé Opô Afonjá, em 1910, com a finalidade de cultuar o
orixá Xangô.
No Brasil o culto de Xangô é muito importante, tendo até mesmo a religião Xangô do
nordeste. Levando em consideração que algumas de suas sacerdotisas foram
enviadas para o Brasil enquanto escravizadas, como é o caso de Ya Nassô, seu culto
veio para o Brasil muito preservad. Toda pessoa que se inicia no Candomblé e fecha
o ciclo de 7 anos de iniciação passa por uma roda de Xangô para se tornar “mais
velho”.
Quando o irmão de Xangô, Dadá, é louvado na Bahia, é feita uma cerimônia na qual
Xangô destrona a coroa de Dadá, dança com ela na sala e depois devolve a coroa
para o mesmo, simbolizando os 7 anos que reinou em Oió.
Conta-se que no palácio de Oió havia o culto de Xangô, dos ancestrais e o culto dos
Orixás de branco (associados a Oxalá). No Candomblé é reproduzida parte dessa
estrutura, tendo a importância de Xangô e de Oxalá reconhecidas, em meio ao culto
de outras divindades iorubá e fon, sincretizadas a tradições do Candomblé angola de
matriz bantu.
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Módulo IV
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ANEXO I - CONTOS
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Alagbè: o contador de histórias
Pai Renato, ogã do terreiro de Mãe Luzia, me contou sobre seus tempos
de molecote, quando aprendeu a tocar os instrumentos sagrados do
culto aos Orixás. Com alegria e saudades, falou do Alagbè Nonô de
Ogunjá, um senhor já idoso, sorridente, que lhe ensinou tudo o que sabe
sobre os ritmos e cânticos do Candomblé.
Das muitas histórias que escutou de seu mestre, Pai Renato me relatou
uma, dentre todas, que mais lhe chamou a atenção. Segundo Pai Nonô,
quando chegava a época da colheita, uma parte dos frutos da terra era
separada para a grande festividade da cidade. Os agricultores de todas
as aldeias levavam balaios de tubérculos para a praça do palácio, para
que a comunidade pudesse realizar um grande banquete coletivo, em
homenagem aos Orixás, agradecendo pela fertilidade do solo, pelas
chuvas e pelo bom crescimento das plantas.
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De frente a uma casa ele cantava o nascimento de uma criança; em
outra, o falecimento de um ancião; em outra, relatava casamentos e
assim por diante. Com seus versos improvisados, o Alagbè contava
para as divindades as novidades do mundo, além de relatar-lhes os
acontecimentos da comunidade como um todo.
Todos diziam: “Nosso Pai Alagbè é um homem de ori poderoso. Ele é
criativo e muito inteligente. Salve o seu ori abençoado! Orioooooo!”
Glossário:
Ogã: pessoa que não incorpora, não entra em transe, mas possui
grande responsabilidade na organização dos cultos. Toca, cuida da
segurança do terreiro, recebe os convidados, organizam o espaço,
entre várias outras funções importantes.
Alagbè: é o Ogã responsável pelos toques.
Ori: Cabeça. O culto de Ori é muito importante entre os iorubás, jejes e
angolas.
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Árvore que se curva, vento não quebra
“O vento soprava forte nas terras Yorubá. Aqui e ali os redemoinhos subiam velozes e
bagunçavam os ninhos dos pássaros, arrancando-os do lugar. O vento, destemido e
forte, soprava ruidoso sobre o lago, formando marolas que viravam as canoas dos
pescadores.
No litoral, o mar ficou revolto, avançou sobre a praia na forma de forte ressaca. Que
medo! Em toda parte, viam-se matas retorcidas, muitas plantas quebradas ou
arrancadas pela raiz. O dendezeiro permaneceu de pé. Perdeu umas folhas, mas
não todas, pois sabia dobrar-se ao vento. O bambuzal também não teve todas as
suas varas quebradas, pois os gomos do bambu permitiam flexibilidade e as
grandes hastes curvavam-se na direção determinada pela tormenta.
Depois que a tempestade passou, viu-se em toda parte muita destruição e pavor.
Mas o dendezeiro permaneceu de pé, desgrenhado, mas ainda com algumas folhas.
O bambuzal também estava de pé, amarfanhado, mas íntegro.
Um velho Babalawo da cidade de Irá observou espantado toda aquela destruição e,
─
com sapiência, disse para seus filhos: Estão vendo, meus filhos? Os troncos rígidos
se quebraram e os flexíveis se curvaram com o vento. Sejam líderes firmes, rigorosos,
mas jamais rígidos. Na vida precisamos aprender a escolher a hora certa para nos
curvarmos humildemente, para seguir sendo o que somos nos momentos de
tempestades.
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Glossário:
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A circularidade da vida
Das muitas histórias que ouvi no terreiro, uma me marcou bastante. Foi
escrita por Tio Neguinho, um dos Ogãs do terreiro. Ele é poeta e
compositor de sambas de grande reconhecimento na cidade, embora
ainda seja jovem. Sua figura marcante, de corpo magro e longas
tranças africanas, sempre é vista nas reuniões do movimento negro e
de defesa de nossa religiosidade.
Na sombra do dendezeiro, tocando seu violão, meio que cantando,
meio que recitando, Pai Neguinho declamou mais ou menos assim:
“A água queria ser rio, mas espantou-se com a rigidez da rocha que a
impedia de brotar na superfície. A água brigou com a pedra para virar
rio e, depois de muito procurar, encontrou uma fenda pela qual pode
fluir com suavidade. A água virou olho d’água.
Mas assim como o regato que vira córrego, que por sua vez vira rio,
é preciso crescer sempre, avolumando-se de feitos e virtudes. No
final da vida, quando a glória do rio está nos seus instantes finais, se
alarga tanto no pântano que acaba desaguando mansamente no
mar. Quem vive plenamente, na velhice alarga a alma, expande a
sabedoria e retorna ao mundo dos ancestrais mansamente, sábio e
sem arrependimentos pelas coisas que ficaram para trás.
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Mas nesse momento chegaram alguns soldados do rei
à procura do animal perdido.
Viram Oxalufã com o cavalo e pensaram
tratar-se do ladrão do animal.
Maltrataram e prenderam Oxalufã.
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O rei de Oió mandou seus súditos vestirem-se de branco também.
E determinou que todos permanecessem em silêncio.
Pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufã.
Xangô vestiu-se também de branco
e nas suas costas carregou o velho rei.
E o levou para as festas em sua homenagem
e todo o povo saudava Oxalá
e todo o povo saudava Airá, o Xangô Branco.
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Disponível em: PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
REFERÊNCIAS
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