1) O documento descreve a conversão de Martinho Lutero e como ele encontrou paz interior ao ler Romanos 1:17 - "O justo viverá da fé".
2) Nos primeiros 40 anos da Igreja Adventista, os pregadores se concentraram nas doutrinas peculiares ao adventismo, como o sábado, em vez de enfatizar a graça e a justificação por fé.
3) Isso levou a críticas de que o adventismo pregava a salvação por obras e alguns pregadores proeminentes acabaram
1) O documento descreve a conversão de Martinho Lutero e como ele encontrou paz interior ao ler Romanos 1:17 - "O justo viverá da fé".
2) Nos primeiros 40 anos da Igreja Adventista, os pregadores se concentraram nas doutrinas peculiares ao adventismo, como o sábado, em vez de enfatizar a graça e a justificação por fé.
3) Isso levou a críticas de que o adventismo pregava a salvação por obras e alguns pregadores proeminentes acabaram
1) O documento descreve a conversão de Martinho Lutero e como ele encontrou paz interior ao ler Romanos 1:17 - "O justo viverá da fé".
2) Nos primeiros 40 anos da Igreja Adventista, os pregadores se concentraram nas doutrinas peculiares ao adventismo, como o sábado, em vez de enfatizar a graça e a justificação por fé.
3) Isso levou a críticas de que o adventismo pregava a salvação por obras e alguns pregadores proeminentes acabaram
1) O documento descreve a conversão de Martinho Lutero e como ele encontrou paz interior ao ler Romanos 1:17 - "O justo viverá da fé".
2) Nos primeiros 40 anos da Igreja Adventista, os pregadores se concentraram nas doutrinas peculiares ao adventismo, como o sábado, em vez de enfatizar a graça e a justificação por fé.
3) Isso levou a críticas de que o adventismo pregava a salvação por obras e alguns pregadores proeminentes acabaram
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O Justo Viverá da Fé 1
O JUSTO VIVERÁ DA FÉ
"Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está
escrito: Mas o justo viverá da fé." Romanos 1:17.
Era um jovem estudante com um elevado quociente de inteligência.
Acompanhando seu progresso intelectual, os professores anteciparam-lhe um futuro promissor e brilhante. Depois de haver concluído os estudos secundários, ingressou na universidade com o propósito de se especializar em leis. Enquanto estudava na Universidade, um problema que o angustiava se intensificou: a ausência de paz interior. Perturbado por grandes inquietudes religiosas, sentia a consciência acicatada por um constante e esmagador sentimento de culpa. Posteriormente, contrariando as aspirações de seu pai, abandonou a Universidade e entrou para um mosteiro, animado pelo anseio de encontrar a paz tão indispensável para o coração perturbado e aflito. Ele cria em um Deus iracundo, severo e inclemente, cuja ira só podia ser aplacada através de rígida penitência e constante disciplina pessoal. Passava dias incontáveis imerso no mundo do silêncio, absorto em profundas reflexões sobre a natureza de Deus e Seu relacionamento com o homem. Jejuava pelo menos cem dias por ano. No inverno dormia desnudo sobre o piso frio, sem cobertor ou agasalho. Levantava-se duas ou três vezes durante a noite para orar a Deus em silêncio. Conhecendo as tensões e angústias que o oprimiam, seus superiores lhe recomendaram a leitura dos escritos de Pedro Lombardo, João Duns Escoto e Tomás de Aquino, teólogos intérpretes do pensamento escolástico-medieval. Vendo-o frustrado em seus esforços por encontrar a paz, enviaram-no a Roma. Pensando poder calar o clamor angustioso da alma, ele subiu sobre suas mãos e joelhos a legendária escada de Pilatos, situada em uma das O Justo Viverá da Fé 2 basílicas patriarcais em Roma. Repetindo o Pater Noster (Pai Nosso), e beijando cada degrau, alimentava a esperança de assim liberar uma alma do purgatório. Ao chegar ao topo da escada, entretanto, sua mente foi iluminada por um pensamento que mudou o curso de sua vida e, posteriormente, modificou a corrente da História. ". . . de súbito " – escreveu Ellen G. White - "uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: 'O justo viverá da fé.' Romanos 1:17 Ergueu-se de um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse texto nunca perdeu a força sobre sua alma." 1 Certamente a dramática experiência de Lutero se assemelha em alguns aspectos à experiência vivida por muitos adventistas durante os anos formativos da Igreja.
Quatro Décadas de História
Os pioneiros do movimento adventista, Tiago White, José Bates,
Hirã Edson e outros, criam na suficiência do sacrifício vicário de Cristo. Antes de se identificarem com o adventismo, haviam experimentado o gozo da conversão em suas igrejas de origem. Temas fundamentais como o arrependimento, novo nascimento, justificação pela fé, a graça redentora, etc., eram considerados por eles como preciosas verdades evangélicas. Não obstante, em seu ministério, davam especial realce às doutrinas que nos são peculiares, verdades que haviam sido então restauradas. Devido à ausência de ênfase na pregação dos grandes temas do evangelho, foram rotulados como legalistas e judaizantes pregadores da lei de Moisés, como instrumento de salvação. As razões que justificavam este destaque na proclamação das doutrinas caracteristicamente adventistas eram evidentes. À medida que a igreja crescia, multiplicavam-se os ataques contra ela. Proliferavam por toda a parte um sem-número de publicações denunciando as "heresias" adventistas. A observância do sábado passou a ser o ponto focal das O Justo Viverá da Fé 3 investidas adversárias. Para invalidar a importância do quarto mandamento, os pregadores protestantes elaboraram argumentos especiosos e refinados sofismas, em um esforço inútil por provar que Deus modificou a lei ou proscreveu a vigência do Decálogo. Refutando tais argumentos, os pregadores e escritores adventistas dedicaram demasiada atenção às doutrinas controvertidas, relegando inconscientemente a um plano secundário, temas vitais como Cristo e Sua justiça, a conversão, a justificação e a santificação. Os artigos publicados em nossos periódicos, e os sermões pregados em nossas cruzadas de evangelização se inspiravam em um estilo polêmico e combativo. Alguns de nossos ministros se tornaram hábeis polemistas. Em debates memoráveis, com talento e brilho, logravam neutralizar os argumentos antinominianos, silenciando a arrogância adversária. Porém, estas polêmicas produziam resultados escassos e limitados. Preocupada com os constantes debates nos quais se envolviam nossos ministros, escreveu a serva do Senhor: "Estas discussões, orais ou escritas, produzem mais danos que benefícios."2 Em histórico sermão, pregado em 1888, a Sra. White exortou: "Abandonai o espírito de controvérsia, no qual vos estais educando durante anos."3 Com efeito, nestas inflamadas discussões públicas, os relâmpagos do Sinai ofuscavam com freqüência os fulgores do Calvário. Os triunfos pessoais alcançados nestes debates alimentavam um espírito de suficiência própria, responsável pelo naufrágio espiritual de alguns de nossos mais talentosos obreiros. Hirã S. Case, após um ministério efêmero, caracterizado por exaltadas confrontações com os adversários da Igreja, renunciou ao adventismo em 1854. Moisés Hull, talentoso e eloqüente evangelista, escritor prolífico, após inúmeras vitórias conquistadas em memoráveis debates públicos, O Justo Viverá da Fé 4 defendendo a fé adventista, abandonou a Igreja e se identificou com o espiritismo. B. F. Snook e W. H. Brinkerhoff, respectivamente presidente e secretário da Associação de Iowa, jamais dissimularam o espírito polêmico e combativo que os animava. Em 1886, entretanto, deixaram a Igreja e fundaram um movimento dissidente proclamando entre outras excentricidades, a teoria universalista segundo a qual todos os seres humanos serão salvos. D. M. Canright, no calor de ásperos debates, revelou brilho, retórica e eloqüência. Mas permitiu-se, como resultado, ser dominado por um espírito enfatuado e arrogante, convertendo-se, após sua apostasia em 1887, em um mordaz, amargo e implacável adversário da Igreja. "Aqueles que gostam de estar em tais dissensões " – escreveu E. G. White – "em geral perdem a espiritualidade. Não confiam em Deus como deveriam. Usam a teoria da verdade para fustigar seus oponentes. Os sentimentos próprios de um coração pecaminoso produzem os argumentos sarcásticos, usados como aporte para irritar e provocar os opositores. O espírito de Cristo nada tem em comum com isto." 4 O destaque que os adventistas davam nestes debates à lei e ao sábado, produzia a convicção generalizada de que criam mais na salvação por obras meritórias que pela fé em Cristo Jesus. É certo que haviam aceitado a Jesus quando desfrutaram o gozo da conversão. A graça redentora era-lhes, pois, uma experiência viva, irradiante e pessoal. Entretanto, sem se aperceberem, começaram a dar um tratamento preferencial aos temas que nos são peculiares, e inconscientemente relegaram a um plano secundário a proclamação de Cristo e Sua justiça. A preeminência de Jesus foi imperceptivelmente ignorada. Os sermões, artigos e editoriais obedeciam a uma orientação gradualmente argumentativa e cada vez menos cristocêntrica. Como resultado a Igreja sofreu as conseqüências nefastas de um grande torpor espiritual, que precipitou a crise de 1888, um dos capítulos mais sombrios da história do adventismo. O Justo Viverá da Fé 5 Se os ministros adventistas houvessem proclamado os trovões do Sinai e sua relação com os fulgores do Gólgota, não teriam sido atacados com tanta veemência por adversários gratuitos, e as quatro primeiras décadas de nossa história seriam agora consideradas pelos historiadores como um período fecundo, caracterizado pela piedade, fervor e dedicação de seus membros aos ideais da cruz.
A Crise Entre Duas Revistas
A tendência legalista revelada no púlpito e na experiência dos
adventistas em geral, se refletia também nos livros, periódicos e folhetos publicados por nossas editoras. A vigência da lei de Deus, a santidade do sábado, a imortalidade condicional, profecias e escatologia, eram os temas preferidos pelos escritores adventistas. A justificação pela fé, embora considerada como importante verdade bíblica, não recebeu entre eles um tratamento prioritário. Investigando as cópias da revista oficial da igreja – Review and Herald – publicadas durante aquele período, descobrimos uma alarmante e sintomática pobreza de artigos sobre Cristo e Sua obra redentora. Em 1877 saiu à luz o livro The Biblical Institute (O Instituto Bíblico). Era uma obra de 352 páginas, publicada com o propósito de explicar em forma sistemática a teologia adventista. Porém, surpreendentemente, não encontramos neste livro nenhuma menção à salvação pela fé em Jesus. Despontou, entretanto, no seio da Igreja, um homem que prestou relevante e inolvidável contribuição à causa do adventismo: Harvey Waggoner. Com apenas seis meses de educação formal, revelou-se extraordinário autodidata. Compensou suas limitações acadêmicas mediante intenso e disciplinado programa de estudo pessoal. Antes de aceitar a mensagem adventista, havia sido batista e editor de um pequeno diário de orientação política no Estado de Wisconsin. O Justo Viverá da Fé 6 Como adventista, revelou-se talentoso evangelista e escritor versátil. Deplorando a ausência de ênfase na proclamação de Cristo e Seu poder redentor, escreveu em 1874 uma série de artigos na revista The Signs of the Times, sobre Cristo, a esperança do mundo. Em 1881, substituindo o falecido editor da revista, Pastor Tiago White, decidiu como parte de sua política editorial publicar, se possível, em cada número um artigo sobre a graça redentora de Cristo. Para ajudá- lo, convocou os serviços de dois novos assistentes: seu filho médico, Ellet J. Waggoner, com pouco entusiasmo pela medicina e acentuado interesse pelos temas teológicos; e Alonzo T. Jones, um ex-militar que se converteu a Cristo. Ambos determinaram exaltar em seus escritos os "atrativos incomparáveis de Cristo. "Ninguém terá acesso ao Céu, sem o manto imaculado da justiça de Cristo", reiteravam convictos. "Este manto não pode ser comprado, e tão pouco obtido por obras meritórias." "Somos salvos pela fé, sem as obras da leí'',5 acentuavam em seus artigos e editoriais. Esta ênfase reproduzida nas páginas da revista The Signs of the Times, suscitou uma crescente preocupação e alarme no seio da Igreja. Muitos entre os adventistas (e até mesmo entre os dirigentes) se haviam identificado inconscientemente com o pensamento de que somos justificados pela fé em Cristo e mais as obras da lei. Como resultado, um abismo se interpôs entre a Review and Herald, revista oficial da Igreja, e The Signs of the Times, nossa publicação missionária. Sob a orientação editorial de Uriah Smith, a Review and Herald defendia uma posição legalista, uma espécie de sinergismo ou semipelagianismo. A revista The Signs of the Times, sob a direção de J. H. Waggoner, e seus dois assistentes, defendendo uma posição diametralmente oposta, exaltava o princípio sola fide (somente por fé) aclamado pelos pregadores da Reforma. O Justo Viverá da Fé 7 Em 1886, Uriah Smith publicou um artigo escrito por O. A. Johnson, no qual, consoante o autor, a lei mencionada na carta aos Gálatas, era a legislação cerimonial. A interpretação de Johnson foi imediatamente refutada com ardor por E. J. Waggoner, em um artigo publicado nas páginas da revista The Signs of the Times, defendendo a exegese de que a lei apresentada por Paulo nessa epístola não era a legislação levítica, mas sim o Decálogo proclamado no Sinai. E assim desatou uma acirrada controvérsia entre dois periódicos denominacionais, dividindo a Igreja em partidos antagônicos. Alarmada com o debate e seus ruinosos efeitos, a Sra. White, que se achava então na Europa, escreveu aos dois grupos litigantes, repreendendo-os por divulgar suas diferenças. Em uma carta dirigida ao Dr. Waggoner, assim se expressou: "Não vacilo em dizer que o irmão cometeu um erro. Apartando-se das diretrizes positivas que Deus deu sobre este assunto, teremos como resultado apenas prejuízo. ... "Devemos manter perante o mundo uma frente unida. Satanás triunfará vendo diferenças entre os adventistas do sétimo dia. . . . "Que pensa o irmão acerca dos seus sentimentos ao ver nossos dois principais periódicos envolvidos em controvérsia? Conheço como eles vieram à existência e sei o que sobre eles Deus tem dito, que não deve haver distensões entre estas duas instrumentalidades divinas. Devem permanecer unidas, respirando o mesmo espírito, exercitando-se no mesmo trabalho, preparando um povo para subsistir no dia do Senhor, unido na fé, unido no propósito."6 Com efeito, a semeadura da controvérsia produziu, pouco depois, na Assembléia Geral de 1888, uma colheita amarga e dolorosa.
Um estudo da história durante as quatro décadas que antecederam o
momentoso encontro de 1888, nos permitem as seguintes conclusões: 1. Que a doutrina da justificação pela fé, conquanto jamais refutada, não ocupou um lugar conspícuo no arcabouço doutrinário adventista, durante aqueles anos. O Justo Viverá da Fé 8 2. Que as exortações da Sra. White contra os perigos de um evangelho carente de Cristo, não encontraram no seio da Igreja a ressonância que seria de se esperar. 3. Que os ensinos que se inspiravam no princípio protestante, sola fide, foram recebidos com preocupação e desconfiança, até mesmo por alguns líderes da Associação Geral. 4. Que estas circunstâncias conjugadas precipitaram a eclosão da crise de Minneapolis, encontro histórico carregado de conflitos, tensões e emoções.
A Assembléia de 1888
A crescente controvérsia entre o inconsciente legalismo de alguns e
o princípio sola fide, defendido por outros, encontrou o seu clímax na histórica assembléia de Minneapolis, celebrada entre os dias 17 de outubro e 4 de novembro de 1888. Reuniram-se naquela oportunidade noventa delegados (incluindo três procedentes da Europa), representando 27.000 adventistas dispersos no velho e novo continentes. O encontro foi precedido por um concilio ministerial, realizado entre os dias l0 e 17 de outubro. Esta reunião preparou a arena para a grande e exacerbada batalha que quase fraturou a unidade da Igreja. A divergência de idéias e a radicalização de conceitos se evidenciou até mesmo na discussão de temas não relacionados com a justificação pela fé. Em um estudo sobre o capítulo 7 de Daniel, contrariando a opinião defendida por A. T. Jones, Uriah Smith afirmou que os hunos representavam um dos dez reinos simbolizados pelas dez pontas do "animal terrível e espantoso". Jones rejeitou com energia as conclusões de Smith, insistindo que uma correta exegese excluiria os hunos e em seu lugar porra os alamanos. Smith declarou com modéstia que sua interpretação não era original, pois se estribava na opinião de vários eruditos. Diante desta O Justo Viverá da Fé 9 afirmação, Jones, com rispidez e cortante ironia, declarou: "O Pastor Smith confessou que nada sabe sobre o assunto. Porém, eu conheço o tema, e não quero que me façam responsável pelas coisas que ele desconhece."7 O aparte de Jones foi qual faísca inflamando os ânimos, separando de forma mais definida os grupos antagônicos. A Sra. White repreendeu Jones por haver-se expressado de forma tão áspera, e exortou os delegados a manifestarem uma atitude mais tolerante, cordial e cristã. Porém, seu apelo não encontrou a ressonância que seria de se esperar. Divididos entre "hunos" e "alamanos" (estas duas expressões passaram a ser usadas para identificar os dois grupos litigantes), eles terminaram os trabalhos do concilio ministerial e, logo após, iniciaram, na assembléia da Associação Geral, o estudo e discussão do tema a justificação pela fé, no contexto da tríplice mensagem angélica. Os ânimos, entretanto, pareciam demasiado exacerbados para um estudo sereno do grande tema que então dividia a Igreja de forma aparentemente inconciliável. Era evidente que os delegados estavam divididos em três grupos, a saber: 1. Aqueles que aceitaram a mensagem sola fide (somente por fé) ou sola gratia (somente por graça) como preciosa experiência religiosa, e julgavam imperativo partilhar com outros o gozo e as alegrias resultantes da compreensão deste tema. 2. Aqueles que resistiam à mensagem e consideravam perigosas as "novas idéias" fermentadas nas páginas da revista The Signs of the Times. Criam que a mensagem da justificação pela fé, tal como estava sendo interpretada, poderia ser o começo do fim do movimento adventista. "Permaneçamos fiéis aos marcos antigos", repetiam com vigor. 3. Um terceiro grupo se caracterizou pela neutralidade ou indecisão. Procurando concordar a princípio com um lado e depois com outro, concluíram confusos, perplexos e desorientados. O Justo Viverá da Fé 10 Os dois principais expoentes da pregação "somente pela fé", representantes do primeiro grupo, se caracterizavam pela diversidade. O Dr. Waggoner era de baixa estatura, introspectivo, refinado e erudito. Jones, ao contrário, era alto, rude e impetuoso – um autodidata, com a mente cheia de erudição bíblica e histórica. Waggoner era suave e afetuoso; Jones era precipitado e sutil. Uriah Smith, veterano escritor e redator-chefe da Review and Herald, líder do segundo grupo, considerava as idéias apresentadas por estes dois pregadores como séria ameaça à Igreja. Para ele o problema era basicamente filosófico. Se somos salvos somente pela fé, que necessidade temos de guardar a lei? Não podendo discernir a diferença entre a fé e as obras, concluiu afirmando que a interpretação de Jones e Waggoner militava contra a importância da lei e a instituição do sábado. G. I. Butler, presidente da Associação Geral, não assistiu à Assembléia de Minneapolis. Sua esposa havia sofrido um derrame cerebral, e ele próprio sentia-se física e mentalmente alquebrado. Entretanto, embora ausente, não ocultou sua enorme preocupação com a nova ênfase dada pelos redatores da revista The Signs of the Times à justificação pela fé. Enviou cartas e telegramas a todos os amigos delegados, instando-os a rejeitar as "novas idéias". "Permanecei firmes ao lado dos marcos antigos'', repetia em cada carta. O encontro se caracterizou por um conflito de personalidades, motivado não tanto por diferenças doutrinárias inconciliáveis, mas pela vaidade, egoísmo e dureza de coração. Quando, mais tarde, se mostraram dispostos a ouvir a voz de Deus e se humilharam, as diferenças teológicas desapareceram. Após vários dias de estudos e discussões a assembléia foi encerrada, deixando no ar um sombrio sentimento de confusão e pesar. Em uma carta escrita posteriormente, assim se expressou a mensageira de Deus: "Foi-me mostrado que a terrível experiência de Minneapolis é um dos capítulos mais tristes na história dos crentes na verdade presente" 8 O Justo Viverá da Fé 11 Mas, apesar das tensões, conflitos e frustrações, essa assembléia passou para a história como um evento memorável. Produziu uma grande reforma na Igreja, um efervescente reavivamento entre aqueles que se dispuseram a aceitar os benefícios sublimes da justificação em Cristo.
Depois de 1888
Alguns saíram desse encontro com amargura, dispostos a
neutralizar o efeito da pregação de Jones e Waggoner. Houve inclusive uma tentativa para impedir que eles pregassem no Tabernáculo de Battle Creek. Porém, com o transcurso do tempo a paz e a unidade foram restauradas. A Sra. White e os dois editores da revista The Signs of the Times, visitaram as igrejas por toda a parte, pregando sobre a justificação pela fé. No ano seguinte, assistindo às reuniões gerais de reavivamento em todo o país, deram especial ênfase a este mesmo tema, proclamando "Cristo é tudo em todos''. Em 1890, um Instituto Bíblico foi celebrado, e nele Jones e Waggoner tiveram uma participação destacada. Produziu-se como conseqüência um notável reavivamento espiritual. Diversos pastores que se haviam manifestado hostis às "novas idéias", aceitaram a mensagem e, publicamente, confessaram-se arrependidos por haverem rejeitado a luz de Deus. No dia 31 de dezembro de 1890, a Sra. White enviou a Uriah Smith um testemunho particular de 13 páginas, denunciando a debilidade de sua experiência cristã. Uma semana após, Smith pediu uma reunião especial com Ellen G. White e alguns dirigentes da Associação Geral. Neste encontro leu o testemunho que lhe foi enviado e, pedindo que o perdoassem por sua obstinada resistência, revelou-se então disposto a proclamar com renovado fervor os "encantos incomparáveis" de Cristo e Sua justiça .9 Em 1893, o Pastor G. I. Butler, ex-presidente da Associação Geral, em um artigo publicado na Review and Herald, sob o título ''Pessoal", O Justo Viverá da Fé 12 confessou sua errônea atitude mental frente á mensagem proclamada em Minneapolis.10 Jones e Waggoner, que antes da Assembléia de Minneapolis haviam sido acusados como perturbadores de Israel, passaram a ser aceitos como lídimos mensageiros, suscitados pela Providência para despertar a Igreja e livrá-la dos efeitos entorpecedores de um legalismo vazio, destituído de poder. A Sra. White, animada pelo afã de salvaguardar a Igreja contra os riscos de cair outra vez nas malhas de um evangelho sem Cristo, consagrou sua pena à produção de cinco preciosos livros: Patriarcas e Profetas, Caminho a Cristo, O Desejado de Todas as Nações, O Maior Discurso de Cristo, e Parábolas de Jesus. A influência extraordinária destes livros, reconhecidos como clássicos na literatura evangélica, tem modelado o pensamento adventista, e preservado a Igreja contra os riscos de um culto semelhante à oferta de Caim.
Referências:
1. Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 125.
2. Ellen G. White, Testimonies, vol. 3, pág- 213. 3. Ellen G. White - Excertos de um sermão inédito pronunciado na assembléia de Minneapolis, Estado de Minnesota, em 1888; Citado por Norval Pease, em By Faith Alone, pág. 138. 4. Ellen G. White, Testimonies, vol. 3, pág. 285. 5. Romanos 3:28. 6. Ellen G. White, Counsels to Writers and Editors, págs. 75-80. 7. Citado por Norval Pease, em Solamente por Fe, pág. 113. 8. Ellen G. White, Carta 179, 1902; Citado por A. V. Olson, em 1888-1901 – 13 Crisis Years, pág. 43. 9. A. V. Olson, em 1888-1901 – 13 Crisis Years, págs. 97-107. 10. Idem, págs. 91.93.