1º Teste
1º Teste
Fragmentação do Eu.
Moderna cosmovisão motivada pelo poder da máquina.
Consciência e esperança no devir/futuro.
Poder criador e autêntico da palavra e literatura.
Recusa pela regularidade estrófica e métrica, evidenciando uma nova arte poética.
Atração pelo mistério, oculto, secreto, exótico e pelos excessos loucos de qualquer natureza.
O Fingimento Artístico
O fingimento artístico é um dos temas que parecem sintetizar bem Pessoa. Pessoa é, de facto,
o camaleão das emoções, pois prefere transformar com o pensamento tudo o que sente. Aliás, quer
seja nas suas composições poéticas da ortonímia, como da heteronímia, esta capacidade está
presente.
O ortónimo escreve de acordo com o seguinte processo: sente (sentimento, coração), pensa
sobre o que sentiu (pensamento, razão, «fingimento» - que não é mentira, mas intelectualização e
transformação mental do que sentiu) e, só no final, escreve.
Assim, Pessoa não transmite na sua poesia a emoção pura e simples, mas submete-a sempre
ao exame da inteligência e da razão poética, deixando que racionalize, afastando-se do tradicional
sentimentalismo, típico do passado.
As dores sentidas e pensada caracterizam a produção artística; e a perceção do leitor em
relação à dor transmitida no poema constitui a receção. Conclui-se, então, que a poesia para Pessoa
Ortónimo, é a intelectualização dos sentimentos e emoções.
Tópicos:
A poesia é um produto intelectual;
Não acontece no momento da emoção, resulta da sua recordação;
É necessário intelectualizar os sentimentos e sensações para criar arte;
Fingir não é mentir, mas sim transfigurar a realidade utilizando a imaginação e a razão.
Dor de Pensar
Vamos passar agora para outro tema: a dor de pensar, em que tudo o que o poeta sente.
Pensamento – permite ao Homem ter consciência da sua existência (logo, na perspetiva de
Fernando Pessoa ortónimo, aqueles que pensam são superiores aos inconscientes).
Contudo, a razão omnipresente provoca no eu a dor de pensar, decorrente de uma tendência
permanente para refletir sobre a realidade e para intelectualizar as suas emoções.
A angústia decorrente da impossibilidade de se libertar de um movimento reflexivo incessante
e da consequente incapacidade de ser uno leva o sujeito poético a aspirar à inconsciência.
No entanto, o eu acredita que aqueles que não pensam não podem ser verdadeiramente felizes,
uma vez que não têm consciência da sua suposta felicidade.
Assim, manifesta o desejo de ser inconsciente, mas tendo consciência disso. O caráter
paradoxal desta aspiração mostra, desde logo, a impossibilidade de libertação da dor de pensar – e o
consequente fracasso da tentativa de alcançar a felicidade.
Tópicos:
Tensões:
o Pensar/sentir;
o Consciência/inconsciência;
o Pensamento/emoção pura, vontade;
o Fingimento/sinceridade.
Intelectualização permanente e angustiante;
Inveja e desejo de inconsciência/vida instintiva, natural, espontânea.
Sonho e Realidade
Alguns poemas de Pessoa ortónimo tratam o tema do sonho, abordando-o em contraste com
a noção de realidade.
Este é também um dos temas que percorre a poesia ortonímica e retrata a multiplicidade do
“eu” que faz introspeção, inquieta-se e desdobra-se noutros seres, despersonalizando-se. Assim,
Pessoa exprime nos seus poemas um misto de inquietação e absurdo perante esta divisão do Ser que
o faz sentir-se estranho de si mesmo, fragmentado. Todo este sofrimento fá-lo fugir para o mundo do
sonho.
Estes dois mundos são sempre apresentados ao leitor (porque sentidos assim pelo poeta) em
contraste/oposição. O «sonho» é, regra geral, conotado como Ideal, Liberdade, Perfeição, Plenitude.
A realidade é o factual, o inevitável, o quotidiano físico em que vive o poeta e que lhe causa frustração,
sofrimento e desequilíbrio. Como Pessoa vive entre o Real e o Ideal e acabando, efetivamente, por ser
um ser perdido no labirinto de si mesmo, não encontrando o fio que o conduziria à saída e lhe
permitiria alcançar o equilíbrio interior. (“Não sei se é sonho, se realidade”).
Tópico:
Realidade:
o Tédio existencial (desalento e angústia) – disforia;
o Introspeção, autorreflexão, autoanálise (estranheza e desconhecimento do “eu”);
o Fragmentação interior (drama da identidade perdida);
Sonho:
o Refúgio e evasão (espaço/tempo idílico – dimensão onírica);
Nostalgia da Infância
A infância é um período de vida recheado de momentos felizes, plenos e maravilhosos. Porém,
sendo trazida por um som, uma visão ou sensação, a referida infância vem intensificar o contraste
entre um passado longínquo e um presente (idade adulta), tão próximo do poeta quanto fonte de
problemas. Por conseguinte, ao recordar esse passado infantil, o poeta evoca espaços, pessoas e
vivências que hoje, para sua tristeza e imensa saudade, são apenas memórias, não factos.
A infância surge sempre como a época em que não havia ainda o drama da dor de pensar, é
sinónimo de segurança, pureza e felicidade e o poeta evoca esse tempo através da memória que acaba
por trazer-lhe mais angústia e solidão, quando se apercebe que essa época não é mais do que um
paraíso longínquo, perdido na memória do tempo.
(É bom relembrar que a infância de Pessoa não foi completamente boa, logo, quando fala da
infância refere-se ao que esta significa, inconsciência, etc.)
Tópicos:
A nostalgia de uma infância idealizada estilizada;
A infância como paraíso perdido;
A infância como símbolo da inocência, inconsciência e felicidade;
Desejo frustrado de reviver a infância no presente;
Saudade de um passado feliz (“fingido artisticamente”).
Uso das formas da lírica tradicional portuguesa: quadras e quintilhas e versos frequentemente
em redondilha menor e maior.
Regularidade estrófica, métrica e rimática.
Musicalidade: presença de rima, aliterações e transporte.
Vocabulário simples, mas pleno de símbolos.
Simplicidade na construção sintática.
Uso de pontuação expressiva.
Recursos expressivos abundantes:
o Anáfora- repetição de uma palavra ou expressão no início de dois ou mais versos ou frases;
o Antítese- aproximação de duas palavras, expressões ou ideias que estabelecem uma relação de
contraste (oposição forte);
o Apóstrofe- invocação de um interlocutor presente ou ausente, humano, objeto ou ideia;
o Enumeração- sequência de palavras ou elementos que ocorrem em jeito de lista;
o Gradação- sequência de elementos que se organizam por ordem ascendente ou descendente;
o Metáfora- equivale a uma semelhança em que é omitida a conjunção comparativa «como» (ou
outro termo comparativo);
o Personificação- figura em que se atribuem a animais, plantas, objetos, entidades abstratas, etc.,
traços ou comportamentos próprios do ser humano.
*Heteronímia
“hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano eu o dividi entre os autores
vários de cuja obra tenho sido o executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade
só minha”.
Em Fernando Pessoa Ortónimo estudamos a fragmentação do eu, de modo a conseguir se
entender, Pessoa criou vários “eus”.
As sensações captadas pelos sentidos do poeta são o meio exclusivo de conhecimento do real,
requerendo condições ideais de luz natural.
O método do poeta consiste em colocar-se perante as coisas sem subjetivismos que se
interponham entre elas e o seu olhar azul: as coisas não têm lado de dentro, são pura
exterioridade, sem sentido oculto, esgotando-se nas suas propriedades físicas; assim, recusa o
pensamento metafísico, o seu lado de dentro, pois ver e a ouvir é conhecer e compreender o
mundo.
O pensamento deturpa o seu olhar sobre as coisas, projetando sobre elas todas as
aprendizagens, interpretações e ideias feitas do «eu», impeditivas da visão pura, de grau zero,
(a única que garante o acesso à verdade e à felicidade e devolve o homem à natureza).
Ao admitir que pensa e escreve com menos perfeição do que a natureza no seu modo de
exprimir-se, Caeiro refere-se às imperfeições com as quais se confronta: a intromissão frequente e
perturbadora do pensamento; os conceitos abstratos; o artificialismo da linguagem humana - «as
mentiras dos homens»; e a poesia pura inatingível.