Textos para Regimental

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 30

1-TEXTOS – REGIMENTAL 2023_1

h ps://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/05/cerrado-com-recorde-de-desmatamento-
pode-alterar-regime-de-agua-no-pais.shtml

CERRADO, COM RECORDE DE DESMATAMENTO, PODE ALTERAR REGIME DE ÁGUA NO PAÍS

Sistema Deter, do Inpe, registra alta em abril, antes de temporada crí ca para o bioma

O cerrado perdeu 782 km² de vegetação em abril deste ano. No acumulado desde janeiro, o
número vai a 2.206 km², área aproximada à de Palmas, capital do Tocan ns, segundo dados
divulgados nesta sexta (12) pelo sistema Deter.

A alta de desmatamento na savana mais biodiversa do mundo já havia sido apontada em dados
parciais do Inpe (Ins tuto Nacional de Pesquisas Espaciais) para o mês de abril.

Na Amazônia, houve uma queda em relação a abril do ano passado, com 329 km² derrubados
na floresta. O número é a terceira marca mais baixa de alertas para o mês desde o início da série
histórica, em 2015.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o cerrado sofre com terras públicas sem
des nação, tem menos áreas conservadas do que a Amazônia e pode ser afetado por regulações
da União Europeia que se concentram na floresta tropical.

Ainda, a interação do cerrado com a Amazônia tem papel fundamental no regime de chuvas e
no abastecimento de corpos hídricos do país. As reservas legais no bioma variam de 20% a 35%,
quase inversas às da Amazônia, com 80% protegidos por lei nas propriedades rurais.

Os próximos meses serão um desafio para o combate à derrubada, facilitada pelo tempo seco e
pela falta de chuvas —não à toa, estão nesse período os picos da série histórica do Deter, iniciada
em 2019 no cerrado.

O sistema mapeia e emite alertas de desmate para orientar ações do Ibama e outros órgãos de
fiscalização. Os resultados representam uma indicação, mas não são o dado fechado do
desmatamento, que é publicado pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na
Amazônia Legal por Satélite), também do Inpe.

O principal alerta do Deter, para especialistas, é o de urgência na região, que deve ser analisada
em conjunto com o bioma vizinho. "Há uma ênfase histórica, e jus ficada, na Amazônia, mas há
uma ligação bastante grande entre o que acontece na floresta e no cerrado", diz Paulo Mou nho,
pesquisador sênior do Ipam (Ins tuto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Um deles é regulatório. "O cerrado só tem 7% de sua área protegida legalmente. Na Amazônia,
o conjunto de unidades de conservação, reservas extra vistas e terras indígenas, entre outros,
chega a 50%", conta Mou nho. "Ainda, não há des nação para 2,5 milhões de hectares de terras
públicas, que vêm sendo griladas numa velocidade bastante grande."

Segundo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, as autuações por desmatamento


cresceram 287% de janeiro a abril deste ano na Amazônia, em comparação com o mesmo
período do ano passado. O aumento no cerrado, somado a outros biomas, foi de 169%.

O governo prevê começar em julho a atualização do Plano de Prevenção e Controle do


Desmatamento no Cerrado. Seu par para a Amazônia, o chamado PPCDAm, está em fase de
análise das contribuições recebidas em consulta pública.
Yuri Salmona, diretor-execu vo do Ins tuto Cerrados, chama a atenção para outro fator que
impulsiona o desmate do cerrado: a própria legislação internacional, como a aprovada pelo
parlamento europeu, leva a uma migração do desmatamento na região.

Isso ocorre porque há restrições para a compra de produtos originados em áreas desmatadas ou
que não sigam regras de controle da cadeia produ va. O cerrado, no entanto, está de fora da
legislação da União Europeia.

Para Salmona, o ideal seria que o desmatamento no cerrado não passasse de um teto, e que se
pudesse equilibrar a produção agropecuária com a preservação da vegetação.

"Temos mais de 30 milhões de hectares de pastagens subu lizadas, às vezes com uma cabeça de
gado por hectare. Para que desmatar se con nuamos com manejo ruim e baixa tecnologia?",
diz.

A região de intensa a vidade agropecuária conhecida como Matopiba (nome formado pelas
siglas de Maranhão, Tocan ns, Piauí e Bahia) liderou a expansão do desmatamento no cerrado
em 2022, e já mostra efeitos na produção.

"A re rada do cerrado, combinada a um efeito de mudança climá ca global, já causou uma perda
de 30% da produ vidade da soja, porque o ó mo climá co foi deslocado geograficamente", diz
Mou nho.

O ó mo climá co é a faixa de temperatura favorável à soja, que varia entre 20°C e 30°C, com a
temperatura ideal em torno dos 25°C.

Para a pesquisadora Isabel Figueiredo, do ISPN (Ins tuto Sociedade, População e Natureza), há
um problema estrutural que faz a Bahia liderar o índice de derrubada, concentrado nas
autorizações de supressão de vegetação na va —o desmate legal.

"Há conivência do governo do estado, na figura do Inema (Ins tuto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos), que dá autorização de supressão de vegetação sem observar os critérios necessários",
afirma Figueiredo, coordenadora do programa para cerrado e caa nga do ISPN.

Entre as irregularidades citadas por ela estão dificuldades de acesso a documentos


administra vos das autorizações.

A pesquisadora afirma ainda que o governo estadual demora a resolver conflitos agrários para
regularizar a posse de comunidades tradicionais, como as de fundo e fecho de pasto, cujo marco
temporal deve ser julgado na próxima quarta (17) no Supremo Tribunal Federal.

A Folha procurou o governo da Bahia para comentar os apontamentos, mas não houve resposta.

Outro problema é a redução da vazão de rios do cerrado. Estudo do Ins tuto Cerrados, em
parceria com o ISPN, aponta que 88% de 81 bacias hidrográficas do bioma já veram redução de
vazão causada pelo desmatamento entre 1985 e 2022.

A projeção indica que o cerrado pode perder 34% da vazão nas suas bacias nos próximos 28
anos. Em 2050, essa redução deve chegar a 23,6 mil metros cúbicos de água por segundo, o
equivalente a oito vezes o volume de água que corre pelo rio Nilo.

Salmona destaca que diversos rios que alimentam bacias na Amazônia nascem na região do
cerrado, como o Tocan ns e o Xingu. Essa água, junto com a evapotranspiração da floresta, ajuda
a formar os rios voadores, corredores de umidade que levarão chuva a outros locais do país.
Além disso, o cerrado guarda 8 das 12 maiores bacias do país.

Do ponto de vista hidrológico e de outros, é preciso falar no binômio cerrado-Amazônia. São


como pernas de um corpo", resume.

Para o Greenpeace, a baixa de 68% no desmatamento da Amazônia em relação a abril do ano


passado pode estar relacionada a uma maior cobertura de nuvens (que prejudicam as imagens
de satélite) e ações de combate a garimpo e extração ilegal de madeira. O acumulado, no
entanto, segue alto, se considerado o período de agosto —mês em que o ano começa para o
Deter— a abril.

"É o maior da série histórica iniciada em 2015, registrando 5.977 km² de alertas de
desmatamento", diz Rômulo Ba sta, porta-voz da organização no Brasil para a Amazônia.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Founda ons.

_____________________________________________________________________________

h ps://g1.globo.com/sp/sao-paulo/no cia/2023/04/27/k2-k4-k9-drogas-sinte cas-saem-das-


sombras-tomam-as-ruas-de-sao-paulo-e-governos-resolvem-falar-pessoas-estao-
sumindo.ghtml

2-K2, K4, K9: DROGAS SINTÉTICAS SAEM DAS SOMBRAS, TOMAM AS RUAS DE SÃO PAULO, E
GOVERNOS RESOLVEM FALAR: 'PESSOAS ESTÃO SUMINDO'

Secretaria da Saúde informou que, até o momento, em 2023, foi registrado o dobro de
no ficações de casos suspeitos de intoxicação por canabinoides sinté cos, o nome técnico das
drogas K, do que todo o ano de 2022. Prefeitura soltou nota técnica sobre como tratar crianças
e adolescentes que usam a droga e governo de SP diz que os efeitos da droga podem ser piores
do que os do crack.

Por Claudia Castelo Branco, Gabriel Gabira e Willam Santos, g1 SP e TV Globo

Droga com efeitos devastadores preocupa as autoridades de saúde

Crianças dormem profundamente nos arredores de uma estação de trem. No chão, dezenas de
pipetas vazias. Uma das crianças acorda de súbito, agitada. Parece que não sabe o que
aconteceu. Lambe o fundo de uma pipeta no chão. Sai e volta com uma nova dose. Na mesma
posição que inala a droga da pipeta, apaga e fica. Ali, numa estação de trem na Zona Leste,
chamam de K9. A presença das drogas K - conhecidas como K2, K4, K9 e spice - não é mais uma
cena restrita ao Centro de São Paulo.

As chamadas drogas K surgiram em laboratórios no início dos anos 2000, têm como base os
canabinoides sinté cos, mas o termo maconha sinté ca é errado. A explicação é complexa, mas
em suma quer dizer que o canabinoide feito em laboratório se liga ao mesmo receptor do
cérebro que a maconha comum, mas em uma potência até 100 vezes maior. O governo de São
Paulo diz que os efeitos da droga podem ser piores do que o crack.

“É absolutamente estarrecedor. A realidade é que uma tempestade de drogas sinté cas se


aproxima”, descreve o promotor Tiago Dutra Fonseca que integra o Grupo de Atuação Especial
de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público de SP.
O promotor mergulha em estudos e obras sobre o tema. Destaca uma, ainda sem tradução: "La
fiesta se acabó: Por qué siempre perderemos la guerra contra las drogas sinté cas". E usa
argumentos que corroboram as poucas esta s cas que existem sobre o tema. O promotor teme
que em pouco tempo o sistema público de saúde seja sobrecarregado por ví mas e dependentes
de drogas sinté cas.

A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que, até o momento, em 2023, foram
registradas 216 no ficações de casos suspeitos de intoxicação exógena por canabinoides
sinté cos, o nome técnico das drogas K, mais do que o dobro registrado em 2022 _ 98
no ficações. Os números de no ficações são tanto da rede pública, quanto da rede privada.

Diante desse aumento expressivo, a Secretaria publicou no Diário Oficial (DO), na semana
passada, uma nota técnica para assistência a crianças e adolescentes por intoxicações por
canabinoides sinté cos.

A Secretaria destacou o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI-SP), instalado no


Hospital Municipal (HM) Arthur Ribeiro de Saboya, para atender os usuários de drogas K. O CCI
dispõe de um serviço à população e profissionais da saúde que fornece informações
toxicológicas para o diagnós co, tratamento e prognós co de intoxicações, sobre a toxicidade
de produtos químicos e a prevenção dos agravos à saúde causados por substâncias químicas.

Uma das dificuldades enfrentadas atualmente é a falta de dados sobre ví mas de drogas K. Os
que circulam sem fontes oficiais não devem ser considerados e mesmo os oficiais ainda são
imprecisos. Também não há um método que iden fica a causa mor s de alguém pelo uso dessas
drogas. A Polícia Cien fica está ciente e disse que vem desenvolvendo novos métodos que
acompanhem a nova realidade.

Pessoas simplesmente somem

Ao g1, um guarda da região central contou que pais de ví mas mortas após usar o K4 acreditam
que filhos morreram por causa do crack. Tese corroborada pela ONG que atua ao lado das
crianças e adolescentes no Centro.

"A gente só sabe quando as famílias entram em contato ou a no cia corre entre as próprias
crianças que a gente atende”, disse Vania Cou nho, coordenadora do Gente de Perto, projeto
que faz parte da ONG ABBA e atua nas regiões do Centro - Praça da Sé, Pateo do Collegio,
Liberdade, Avenida Paulista e arredores. “Essas crianças são invisíveis a vida inteira e depois da
morte também”. Ela prefere não divulgar o número de jovens que simplesmente some.

A Secretaria da Saúde do Estado de SP respondeu que drogas sinté cas podem causar uma série
de efeitos colaterais graves:

paranoia

ansiedade

alucinações

convulsões

insuficiência renal

arritmias cardíacas

até a morte
“O novo Hub está apto a cuidar destes casos, em que os efeitos colaterais são dis ntos e, em
algumas situações, piores do que os causados pelo crack”, diz a secretaria.

'Todo dia, toda hora' chega apreensão de droga sinté ca, diz diretor do IC de SP

Por falar no HUB

É preciso voltar a noite de 11 de abril, no Centro de São Paulo. Felicio Ramuth (PSD), vice-
governador, apresentava oficialmente o HUB de Cuidados em Crack e Outras Drogas do Governo
de SP que subs tuiu o an go Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras
Drogas (Cratod).

Num palco disputado e cercado de câmeras, Ramuth discursou por quarenta minutos sobre
abordagens, equipamentos, acolhimento. Até que falou, despretensiosamente, sobre uma droga
que atende pelos nomes K2, K4, K9 e spice. "Não sei se vocês sabem, mas estamos também
preparados para essa onda que são as novas drogas sinté cas…"

Há três meses, Estado e município evitavam o assunto. Quando perguntados sobre o mo vo de


manter nas sombras a droga feita em laboratório, fingiam desconhecimento ou alegavam que
"geraria curiosidade". Mas o fato é que a droga segue circulando aos montes.

Jovens, especialmente crianças, são as principais afetados pela droga que o PCC chama de Spice.
“No caso das drogas K, o terror já está estabelecido entre os jovens brasileiros de baixa renda. A
sociedade e o poder público apenas não queriam ou fingiam não ver”, disse um integrante das
forças de segurança da cidade.

É o que tem acontecido em silêncio nos úl mos seis anos: drogas novas e de rastreamento di cil
. “E que se acelerou brutalmente há dois anos”, diz o promotor do Gaeco. Elas enchem as ruas
de jovens vulneráveis, invisíveis, que simplesmente somem. “Não é exagero afirmar que, em
pouco tempo, estará por trás da maior crise financeira, de saúde pública e de segurança do país”,
comentou.

Em 2022, a droga começou a aparecer com mais força, mas o boom mesmo está sendo agora.

“Desde fevereiro o cenário ficou assustador”, contou uma assistente social.

Segundo o GAECO, quem fatura com os sinté cos é organizado, tem tecnologia, contatos na
indústria farmacêu ca e nenhum tempo a perder.

Por que drogas sinté cas são um desafio

Pela dificuldade de fiscalização. Os traficantes da drogas misturam em chás, por exemplo, para
dificultar a iden ficação.

Crianças e adolescentes andam em grupos pelas ruas das cidades e migram para vários lugares
sem parar em pontos específicos, o que dificulta o rastreamento e acolhimento

Pelo alto poder de dano aos usuário. São drogas com um potencial danoso absolutamente
estarrecedor

Pela probabilidade de microtraficantes espalhem essa droga de maneira difusa

Pela perpetuação no vício que pode levar ao come mento de delitos para sustentá-lo.

Uma máxima entre assistentes sociais é a de que os “traficantes sempre saem na frente e muito
tempo depois os órgãos de combate ao narcotráfico saem atrás”.
Em março, o Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc/SP)
afirmou que o combate às chamadas drogas k são uma prioridade para a Segurança Pública.

O Denarc apreendeu 35,1Kg de drogas K de 2021 a 2023, sendo 5,7 Kg em 2021, 11,6 kg em
2022, e 17,8 Kg nos quatro primeiros meses deste ano. Parece pouco, mas uma folha de tamanho
A4, uma das formas em que a droga se apresenta, pode conter até 1,2 mil micropontos ou selos
(equivalentes a doses) a vos. A Zona Leste é o principal foco no momento.

Procurado, o Ministério da Jus ça se pronunciou sobre o tema.

“Alterações no número de apreensões podem refle r diversos fenômenos, tal como uma maior
oferta e demanda de uma droga nos mercados ilícitos, mas também flutuações neste mercado
por outros fatores (por exemplo, restrições em substâncias precursoras) ou um maior esforço
por parte ins tuições de segurança pública e de saúde em iden ficar estas drogas em suas
ocorrências”. No momento, a pasta está analisando informações para verificar se existe a
necessidade de alguma ação específica de âmbito nacional, em especial por meio do Sistema de
Alerta Rápido de novas Drogas.

“Você encontra em qualquer esquina” foi uma das frases que o g1 mais escutou nas úl mas
semanas. “O comprome mento da integridade sica e mental causado pela droga sinté ca está
escancarado”, afirma o promotor do Gaeco.

Durante o processo de elaboração da reportagem, o g1 recebeu relatos de ao menos quatro


apreensões. “De K9 foram umas 50 porções prontas para venda”, disse Estevão Castro, Delegado
de Polícia Assistente da DISE Carapicuíba. Na quarta-feira, 19 de abril, mais 60g de drogas K foram
apreendidas pelo Denarc.

K9, K2, K4 são apenas nomes dado à mesma droga. O que muda é a maneira como a droga é
consumida:

seja em papel borrifado com a substância

seja em selo, micropontos

inalado direto da pipeta

seja misturado em ervas para fumo em cigarro

ou sais para inalar.

Em fevereiro, uma mensagem entre dois integrantes do PCC foi interceptada numa operação
“proibia o uso e a venda da spice na região da Cracolândia”. Estão presos. Não foram bons
sen mentos que mo varam a tal proibição, mas lucros. O estado dos usuários estava chamando
a atenção. “Quando acontece uma proibição assim, logo surge um novo nome. Daí o traficante
diz que não está vendendo K4, e sim a K9”, explicou um dos entrevistados.

A Secretaria da Administração Penitenciária respondeu que mantém suas ações preven vas e
vem reforçando seus procedimentos para impedir a entrada de drogas nos presídios paulistas.
Somado a isso, realiza em suas unidades o treinamento dos agentes para que evitem casos como
os da droga sinté ca K4. Neste ano, até março, foram 528 casos. Quase a totalidade dessas
apreensões se deu antes da entrada na unidade, sendo apreendidas pelos policiais penais
durante revista. Após apreendida, a droga segue para a polícia cien fica.

O que diz a ciência


Uma apreensão acabara de chegar no IC nesta quarta-feira (26). Num saco plás co, centenas de
pipetas com ervas que cheiravam à camomila. “Tem sido bem comum, isso é todo dia”, comenta
Alexandre Learth Soares, diretor do Núcleo de Exames de Entorpecentes do Ins tuto de
Criminalís ca - Superintendência da Polícia Técnico-Cien fica do Estado.

Quando as pipetas com droga e cheiro de camomila chegaram ao IC elas foram:

protocoladas

pesadas

fotografadas

Uma fração da amostra é re rada e levada para análise

São u lizados equipamentos de úl ma geração u lizados nas melhores polícias do mundo.

Em 14 minutos, define-se é uma droga clássica ou de uma droga sinté ca, seja um opióide
sinté co, seja um canabinoide sinté co.

O laudo não detalha a "qualidade da droga". Logo, a hipótese de vários nomes para a mesma
droga _ K2, K9, Spice_ ter relação com a potência caem por terra. Todas as drogas K citadas são
canabinoide sinté co.

Para cada prisão em flagrante, o laboratório tem que produzir um laudo de constatação. E tem
dez dias para produzir o o laudo defini vo.

“É aqui que a gente sabe qual molécula foi administrada. E ela é muito perigosa. Primeiro que é
um fenômeno novo. Então a gente não conhece a fundo os efeitos, tanto agudo, quanto
possivelmente crônico dessa droga. Mas com uma pequena variação de dosagem o usuário pode
ter uma overdose”, explica Alexandre.

Outro desafio é o de que criminosos estão sempre tentando inovar e laboratórios também têm
que adquirir novos equipamentos para iden ficar essas novas substâncias. Existe uma máxima
repe da pelo jornalista Ben Westhoff de que “a química está sempre um passo à frente da
Jus ça”.

Há 5 anos, 95% das apreensões recebidas eram de maconha e cocaína. Agora, os sinté cos que
eram 5%, passaram a representar 15%. “Em pra camente toda grande apreensão a gente
localiza também drogas sinté cas junto”, diz o diretor.

A matéria-prima para a fabricação da droga chega ao Brasil pelo contrabando em portos,


aeroportos e fronteiras terrestres. Aqui são misturadas até com pes cida. Mas também há o
contrabando local que envolve desvios com farmacêu cas. São transformadas em um líquido
transparente que pode ser borrifado em qualquer coisa que seja consumida. Esse é outro perigo.

Desde que essas drogas passaram a ser iden ficadas, o MP passou a agir mais. Um caso famoso
do Gaeco é o de São José do Rio Preto. Uma organização criminosa se valeu do sistema prisional
como um balão de ensaio inicial para essa comercialização. “Nesse momento nós iden ficamos
que a organização criminosa nha um setor próprio que cuidava disso".

Ao g1, o Ministério da Saúde diz que atua no fortalecimento da rede de atenção psicossocial do
SUS.
"Uma das primeiras atuações da atual gestão foi a criação da diretoria de Saúde Mental, que já
está preparando a rede pública para uma ampliação dos serviços através da habilitação de novos
centros de atenção psicossocial e da qualificação do atendimento.

A pasta iniciou também um movimento de revisão e readequação do modelo de atenção à saúde


mental, observando o surgimento de novos fenômenos de relevância epidemiológica surgidos
ao longo dos úl mos anos, em especial com pandemia da Covid-19.

O Ministério da Saúde apoia o desenvolvimento de uma polí ca de cuidado a usuários de drogas


de forma integral e com acesso universal."

_____________________________________________________________________________
3-_h ps://www.bbc.com/portuguese/ar cles/cp0ez7m7qg7o

O ARTISTA BRASILEIRO QUE VIVEU 50 ANOS EM INSTITUIÇÕES PSIQUIÁTRICAS E É TEMA DE


EXPOSIÇÃO NOS EUA

Arthur Bispo do Rosario acreditava ter recebido de vozes celes ais a missão de “representar
todas as coisas existentes na Terra”.

Era quase véspera de Natal quando o sergipano Arthur Bispo do Rosario, então com 29 anos de
idade, recebeu a revelação que iria definir sua vida e obra.

Na noite de 22 de dezembro de 1938, guiado pelo que descreveu como a aparição de sete anjos
e vozes celes ais, ele peregrinou durante dois dias pelas ruas do Rio de Janeiro, onde morava,
até chegar ao Mosteiro de São Bento, no centro da cidade.

Após anunciar aos monges que era um enviado de Deus para "julgar os vivos e os mortos", Bispo
foi encaminhado ao Hospital Nacional de Alienados, an go manicômio localizado na Praia
Vermelha. Diagnos cado com esquizofrenia paranoide, foi transferido dias depois para a Colônia
Juliano Moreira, ins tuição psiquiátrica em Jacarepaguá onde passaria a maior parte das cinco
décadas seguintes.

Segundo Bispo, as vozes que o acompanhavam diziam que ele deveria se "trancar em um quarto
e começar a reconstruir o mundo" e "representar todas as coisas existentes na Terra". Durante
o resto da vida, ele se dedicou incansavelmente a cumprir a missão divina que acreditava ter
recebido, de catalogar e organizar "o caos do mundo" em preparo para o Dia do Juízo Final.

Ele transformou as celas em que estava confinado em oficina de trabalho e começou a recriar
cenas do co diano e a contar a sua versão da história do universo. U lizava qualquer material
que encontrasse, como lençóis, uniformes, pedaços de madeira de caixas de feira, cabos de
vassouras, chinelos, tênis Conga, talheres, canecas e todo o po de sucata e objetos que ganhava
e trocava com outros pacientes.

Quando morreu, em 1989, aos 80 anos, havia deixado um acervo de mais de mil objetos, entre
estandartes, indumentárias, bordados, vitrines, fichários, móveis, esculturas, miniaturas e outras
peças diversas sem categorização. Nenhuma nha data ou a assinatura do autor.

Pobre, negro e considerado "louco", Bispo passou a vida inteira à margem da sociedade, e não
se considerava um ar sta e nem via seu trabalho como arte. "Essa é minha missão, representar
a existência na Terra. É o sen do da minha vida", dizia.

Mas, a par r da década de 1980, nos anos finais de sua vida, o mundo ar s co começou a
descobrir suas obras. Após a morte, ele con nuou a ganhar reconhecimento da mídia e da crí ca
especializada, com exposições no Brasil e no exterior e uma apresentação na Bienal de Veneza,
em 1995, onde sua arte foi aclamada como vanguardista.

"Bispo do Rosario é um dos maiores ar stas brasileiros", diz à BBC News Brasil o curador do
Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, Ricardo Resende. O museu funciona nas
instalações da Colônia Juliano Moreira.

"Quando sua obra emergiu, não se encaixava em nada do que havia registrado na história da
arte, mas parecia se inserir em tudo o que a modernidade e a contemporaneidade haviam
criado. Na verdade, pode-se dizer, precede tudo", diz Resende.

"O que poderíamos chamar de ‘esté ca da precariedade’, ou ‘esté ca da pobreza’, tão comum
na arte contemporânea, expressando a simplicidade da vida na ins tuição, nas cidades e
campos, e da criança que nunca foi esquecida. É isso que Bispo involuntariamente nos apresenta
como sua esté ca."

Agora, sua vida e obra são tema de uma exposição na galeria da Americas Society, em Nova York,
no que é a primeira retrospec va dedicada a ele nos Estados Unidos. O tulo da mostra, que vai
até 20 de maio, é Bispo do Rosario: All Exis ng Materials on Earth (Todos os Materiais existentes
na Terra), uma referência à missão que marcou a trajetória do ar sta.

Do caos à ordem

Bispo do Rosario nasceu em 1909 na cidade de Japaratuba, em Sergipe. Teve passagem pela
Marinha, de onde foi desligado em 1933 por indisciplina, e uma breve carreira como pugilista
profissional, encerrada após um acidente em que teve o pé esmagado. Também trabalhou como
lavador de bondes na companhia Light e empregado domés co, até ser internado.

"Todas essas experiências de vida, marcadas por diferentes graus de marginalização por conta
de raça, classe e doença mental, se refletem em sua obra", diz à BBC News Brasil uma das
curadoras da mostra, Tie Jojima, responsável pela exposição ao lado de Ricardo Resende, Aimé
Iglesias Lukin e Javier Téllez.

Após a internação inicial, Bispo chegou a passar alguns períodos fora de ins tuições
psiquiátricas, por ter fugido ou recebido alta. Em 1954, fugiu da Colônia Juliano Moreira, e nos
anos seguintes exerceu diversas a vidades, como segurança, porteiro e funcionário em uma
clínica pediátrica, onde con nuou a se dedicar a sua obra, trabalhando no porão do prédio.

Em 1964, voltou defini vamente à Colônia e foi instalado no Núcleo Ulisses Vianna, que era
composto por 11 pavilhões cercados por um muro alto, nos quais eram alojados pacientes
considerados violentos ou agitados. Os pavilhões eram divididos em enfermarias, cada uma com
cerca de 40 camas, onde não havia privacidade, e também nham uma ala sem camas, chamada
de "bolo".

Segundo o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, "nessas alas, os pacientes ficavam
amontoados no chão e, ao seu redor, 10 celas-fortes – pequenos cubículos com portas de ferro
– man nham os mais agitados con dos ou isolados por punição". Eles "recebiam alimentação
pela fresta da porta e u lizavam um buraco no chão como sanitário".

Bispo deixou um acervo de mais de mil objetos, entre indumentárias, estandartes, bordados,
vitrines, fichários, móveis, esculturas, miniaturas e outras peças
Bispo acabou transformando um conjunto de celas no Pavilhão 10 em ateliê. "Forte e sisudo, o
ex-boxeador tornou-se um 'xerife', posição que lhe assegurou privilégios e permi u a recusa de
eletrochoques e medicações", descreve o museu. "Nunca se interessou em par cipar dos ateliês
de arteterapia, mas estava sempre produzindo objetos num processo cria vo incessante e
solitário."

Tie Jojima ressalta a capacidade de Bispo de "resis r e sobreviver às forças que o reprimiam" e
de encontrar formas de "subverter o sistema hospitalar que deveria controlá-lo". "Ele
transformou o espaço em que vivia em um lugar onde criava seu trabalho e, eventualmente,
nha as chaves e controlava quem entrava e saía. Também trocava favores com funcionários
para conseguir materiais", destaca.

Bispo trabalhava dia e noite, e só concedia acesso ao local a quem respondesse qual era a cor de
sua aura. "A criação obsessiva de trabalhos têxteis e o acúmulo de objetos o levaram do caos à
ordem e o ajudaram a sobreviver às duras condições de sua vida", diz à BBC News Brasil o co-
curador Javier Téllez.

Há traços da Colônia por toda a sua obra, como nas linhas azuis extraídas dos uniformes e
u lizadas nos bordados, nas representações de prédios e nas listas de nomes de pacientes,
psiquiatras e funcionários.

"Era um lugar extremamente di cil para os pacientes, mas forneceu a Bispo tempo e materiais
para desenvolver sua obra, o que ele não teria conseguido em outro lugar, considerando sua
condição social", observa Téllez.

Descoberta e reconhecimento

Em 1980, Bispo e seus trabalhos apareceram em uma reportagem de TV que mostrava a Colônia
Juliano Moreira e denunciava a precariedade em que viviam pacientes psiquiátricos no Brasil.
Dois anos depois, ele foi tema do curta-metragem "Prisioneiro da Passagem", do fotógrafo e
psicanalista Hugo Denizart.

Também em 1982, estandartes produzidos por Bispo foram incluídos na mostra cole va "À
margem da vida", no Museu de Arte Moderna do Rio, na primeira vez que sua obra foi exibida
fora da Colônia. Nos anos seguintes, Bispo foi tema de outras reportagens, mas somente após a
sua morte, em 1989, ele ganhou a primeira exposição individual, in tulada "Registros de minha
passagem pela Terra".

Suas obras con nuaram a chamar a atenção dos crí cos e do público e circularam em mostras
em diversas capitais brasileiras. Em 1991, foi realizada sua primeira exposição internacional, em
Estocolmo, na Suécia, com curadoria de Frederico Morais, que organizou várias das mostras
dedicadas ao ar sta.

A arte de Bispo con nuou ganhando notoriedade, representando o Brasil na Bienal de Veneza
em 1995, e sendo exposta em diversas cidades e países nos anos seguintes. Sua vida e obra
inspiraram filmes, livros, teses, peças de teatro, espetáculos de dança e até enredo de escolas
de samba, e seu acervo foi tombado pelo Ins tuto do Patrimônio Histórico e Ar s co Nacional
(Iphan).

A mostra na Americas Society, primeira exposição solo nos Estados Unidos e realizada em
colaboração com o Museu Bispo do Rosario, reúne suas obras mais icônicas, com destaque para
o "Manto da Apresentação", considerado sua obra-prima, que ele planejava ves r no Dia do
Juízo Final.

"A parte externa (do manto) traz uma seleção de palavras, formas e objetos pertencentes ao seu
universo visual. Na parte interna, bordou nomes de mulheres que conheceu e escolheu para
acompanhá-lo no Dia do Juízo Final", diz Jojima.

Muitos dos trabalhos em exposição são reconstrução de objetos do co diano, com materiais
simples que ele conseguia obter na Colônia. Os bordados têm destaque, assim como os temas
que remetem à sua biografia, como os navios.

Jojima cita, entre os outros pontos altos da mostra, os Estandartes, feitos de lençóis que Bispo
costurava, com nomes de pessoas que conheceu, eventos mundiais, embaixadas de diferentes
países, navios de guerra e suas experiências de vida no Rio de Janeiro, entre outros temas.
"Funcionam como uma enciclopédia visual e incluem referências autobiográficas", diz a co-
curadora.

A vida e a obra de Bispo geram debates sobre os limites entre loucura e genialidade e sobre
questões de categorização. "Desde a década de 1980, quando se tornou conhecido no Brasil e
depois internacionalmente, curadores e historiadores debatem se sua obra pode ser considerada
'arte'", dizem os responsáveis pela exposição.

"Quando chamou a atenção de ins tuições de arte e curadores, muitos acharam que não
condizia com nada do que já havia sido visto na história da arte, embora ressoasse com
estratégias e experimentos de ar stas do pós-guerra e contemporâneos, que desafiaram
fronteiras disciplinares e abraçaram objetos do co diano com o obje vo de fundir arte e vida",
diz o catálogo da mostra em Nova York.

Javier Téllez ressalta que, apesar das semelhanças com outros ar stas modernos e
contemporâneos pelo uso de objetos, há "diferenças radicais em termos de intencionalidade"
entre a obra de Bispo e prá cas ar s cas de vanguarda e neovanguarda.

"A obsessão de Bispo do Rosario por colecionar e classificar as coisas é uma necessidade interna
que corresponde a uma visão mís ca, e não a uma estratégia esté ca conceitual", salienta o co-
curador.

_____________________________________________________________________________

h ps://www.bbc.com/portuguese/ar cles/cg626dr67p9o

4-LYGIA FAGUNDES TELLES: UM SÉCULO DE HISTÓRIAS DA DAMA DA LITERATURA BRASILEIRA

Lygia Fagundes Telles adorava viajar. Mas, aparente contradição, detestava aviões.

"Por que estou sempre me da em algum deles?", queixou-se à escritora Clarice Lispector,
durante voo para a Colômbia, em 1974.

As duas eram convidadas de um congresso de literatura hispano-americana, em Cali. Para


disfarçar o nervosismo, abriu um jornal e fingiu ler algumas no cias.

Não adiantou. Sentada na poltrona ao lado, Clarice esboçou um sorriso e tranquilizou a amiga.
"Lyginha, minha cartomante já avisou que não vou morrer em nenhum desastre!"

Em terra firme, as duas logo se entediaram com o evento literário. "Essa gente fala demais!",
reclamou Clarice, ucraniana naturalizada brasileira.
Terminada a apresentação, foram às compras. Na volta, passaram pelo bar do hotel. Lygia pediu
vinho e Clarice, champanhe.

"Na saída, precisávamos mascar chiclete porque nossos bafos estavam péssimos!", recordou
Lygia, aos risos, em entrevista ao jornal O Globo, de 15 de outubro de 2011.

O medo de voar não a impediu de conhecer dezenas de países. Com o segundo marido, o crí co
de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, visitou o Irã, em 1968.

Convidada do Fes val Internacional de Cinema, descobriu, durante visita ao túmulo do rei Ciro,
da Pérsia, que a Pasárgada do poeta Manuel Bandeira não era uma invenção poé ca. "Sou um
horror em geografia", admi u, em 2013.

"Em Berlim, ao ver que João Ubaldo Ribeiro nha comprado caixas de uma 'vitamina milagrosa',
exigiu que ele a levasse à farmácia para comprar um lote. 'Preciso estar pronta para envelhecer',
dizia. Se alguém do grupo fizesse uma compra, ficava enciumada. Era preciso levá-la ao mesmo
lugar. Grandes pessoas têm pequenas idiossincrasias", afirma o jornalista e escritor Ignácio de
Loyola Brandão.

"A grande dama da literatura era uma mulher simples, low-profile, sem pose. Talvez soubesse
que era grande. E ponto."

Não gostava de comemorar aniversário

Lygia Fagundes Telles ainda se chamava Lygia de Azevedo Fagundes — só se casou com o
advogado Goffredo da Silva Telles Júnior, em 1950 — quando prometeu a si mesma escrever no
mínimo dez obras, entrar para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e ter um busto na Praça da
República, ao lado da escultura de Álvares de Azevedo.

Dos três sonhos de infância, realizou dois: publicou mais de 20 obras e, por 32 votos a sete, foi
eleita para a cadeira 16 da ABL em 24 de outubro de 1985.

Foi mais ou menos nesta época que Lygia tomou ranço de aniversário. Quando nha 10 anos,
sua mãe, a pianista Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, a Zazita, preparou uma festa linda.
Ninguém apareceu. Também, pudera. A aniversariante esqueceu de entregar os convites...

"Aniversário é uma data boa quando se é jovem. Depois da velhice brutal, não quero mais!",
desabafou ao Globo, em 12 de abril de 2013. Depois de sua morte, descobriu-se que Lygia
Fagundes Telles não nasceu em 19 de abril de 1923. Nasceu cinco anos antes: em 19 de abril de
1918.

"Quando Lygia nasceu, todas as fadas se debruçaram sobre seu berço. Era uma mulher linda,
inteligente, excelente escritora e um senso de humor formidável. Tinha o coração do lado certo.
Sempre defendeu as boas causas. Era um orgulho ter o mesmo passaporte dela", exalta a
escritora e acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira que, no dia 31 de outubro, vai fazer uma palestra
na ABL em homenagem ao centenário da amiga.

"Sua maior contribuição à literatura brasileira foi ela mesma. Nunca foi uma militante. Mas
influenciou as mulheres que a leram. Lygia não criava personagens. Criava pessoas. Sou muito
grata a Lygia por todas as reflexões que despertou em mim."

'O grande amor de sua vida foi seu trabalho'


O número de livros publicados só não é maior porque ela rejeitava os três primeiros, de contos:
Porão e Sobrado, de 1938; Praia Viva, de 1944; e O Cacto Vermelho, de 1949, que classifica como
"imaturos" e "precipitados".

Lygia começou a escrever muito cedo, quando cursava o an go ginásio no Ins tuto Caetano de
Campos, em São Paulo. Seu primeiro livro foi publicado com recursos do pai, o advogado Durval
de Azevedo Fagundes.

"Fico aflita só de pensar nas novas gerações lendo esses meus livros. Não quero que percam
tempo com eles!", afirmou, em 1998.

Do pai, Lygia dizia ter herdado "o vício do risco". Com uma diferença: ele jogava com fichas; ela,
com palavras.

"Hoje, perdemos, mas amanhã a gente ganha", costumava repe r. Certo dia, Durval perdeu tudo
na roleta. Por essa razão, Lygia criou verdadeiro pavor da instabilidade econômica. Conclusão:
concluiu duas faculdades: a de Educação Física, em 1941, e de Direito, em 1946, ambas na
Universidade de São Paulo (USP).

Para o crí co Antonio Candido, a fase “madura” de sua obra teve início em 1954, com Ciranda
de Pedra. É o primeiro de seus quatro romances. Os outros são Verão no Aquário, de 1964; As
Meninas, de 1973; e As Horas Nuas, de 1989.

Ciranda de Pedra ganhou duas adaptações para a TV: em 1981, adaptado por Teixeira Filho, e em
2008, por Alcides Nogueira.

"No livro, não há um só casamento; na novela, arrumaram dez! Eu via aquilo e falava: 'Oh, meu
Deus, outro casamento!?'", espanta-se, referindo-se à primeira versão.

Quem também gostou de seu romance de estreia foi Simone de Beauvoir. As duas se conheceram
em São Paulo em almoço oferecido pelo editor Barros Mar ns em 1960.

Às vésperas de regressar a Paris, a francesa marcou um encontro em uma livraria.

Queria presentear a brasileira com um exemplar de Todos os Homens São Mortais, de 1946.

Em retribuição, Lygia ofereceu uma cópia — da lografada e em francês — de Ciranda de Pedra.

Dias depois, Lygia recebeu uma carta que a deixou "em estado de graça". "Não só lera o livro
como se apressara em alegrar o coração de uma escritora brasileira que passou esse dia
levitando", derrete-se em crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 8 de janeiro de
1978.

"Lygia trabalhou muito, durante toda sua vida, até os úl mos anos. Posso dizer que o grande
amor de sua vida foi seu trabalho", garante sua neta, Lúcia Telles, filha de Goffredo da Silva Telles
Neto.

"Quando meu pai morreu, escreveu Conspiração de Nuvens para afastar a depressão."

"Minhas primeiras memórias com ela são em seu apartamento: os gatos, a máquina de escrever,
recortes de jornais com os crimes que a interessavam... Quando eu era pequena, contava
histórias de terror e mistério. Lia Edgar Allan Poe para mim e eu adorava. Adoro até hoje. Sinto
uma falta enorme dela."

Foi a Brasília protestar contra a censura


Quando colocou o ponto final em As Meninas, Lygia caiu no choro. Chegava ao fim uma
"convivência encantadora". Uma das protagonistas chegou a "suplicar para que não a matasse".

"Ainda tenho muito o que dizer”, protestava Ana Clara. “Não posso morrer agora". Lygia não
conseguiu salvá-la: morreu por overdose.

Em 1976, Lygia foi a Brasília, acompanhada por outros intelectuais, como a escritora Nélida
Piñon, entregar ao ministro da Jus ça, Armando Falcão, um manifesto contra a censura.

Passado algum tempo, Paulo Emílio chegou em casa rindo. Soube que o censor encarregado de
ler As Meninas não conseguiu passar da página 40. "Achou tudo muito chato", explicou a autora,
em 2009.

Sorte a dela. Nas páginas 148 e 149, reproduz um doloroso relato de tortura. O romance ganhou
quatro versões: três para o teatro e uma para o cinema.

No filme de Emiliano Ribeiro, Lorena, Lia e Ana Clara foram interpretadas por Adriana Esteves,
Drica Moraes e Cláudia Liz.

"Uma série de autoras contemporâneas que dedicaram obras ao período da ditadura militar
poderiam ser netas da Lygia. Não posso afirmar que todas a leram, mas, de todo modo, se juntam
a Lygia nessas páginas de nossa história literária como um alerta do que não pode ser esquecido
por todos nós, como cole vidade, mas sem apagar os caminhos mais interiores, mas ressaltá-
los", afirma a pesquisadora Luciana Araújo Marques que, no próximo dia 19, vai mediar, às 20h,
na livraria Gato sem Rabo (SP), um bate-papo com as escritoras Andréa del Fuego e Aline Bei
sobre o legado da aniversariante do dia.

"Para mim, essas escritoras agem como guerrilheiras da negação da morte. Talvez menos em um
sen do de eternidade e da monumentalização do que é do como 'o que fica' e é 'canonizado',
e mais como uma exaltação da vida contra tudo o que mata antes da hora de morrer."

'O que diabos eu vim fazer em Chicago?'

Além da francesa Simone de Beauvoir, Lygia conheceu outros gigantes da literatura universal: o
americano William Faulkner e o argen no Jorge Luís Borges.

Faulkner, Nobel de Literatura, esteve em São Paulo entre os dias 8 e 14 de agosto de 1954 para
par cipar do I Congresso Internacional de Escritores.

Durante sua estadia, experimentou camarão à baiana, espantou-se com uma sucuri de oito
metros e deitou-se no chão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) para aliviar as dores nas
costas.

Chegou meio fora de órbita", contou Lygia ao jornal Folha de S.Paulo, de 14 de setembro de
1997. "Estava sempre com o cabelo molhado. Creio que para ficar desperto, devido ao excesso
de álcool."

Hospedado no Esplanada, Faulkner conheceu Lygia no Butantan. Os dois foram apresentados


pelo crí co Mário da Silva Brito.

"Se os seus contos forem tão belos quanto seus olhos, a senhora, certamente, é uma grande
escritora", elogiou.

Nessa hora, Brito cochichou para Lígia: "Não se esqueça de colocar esse comentário na orelha
do seu próximo livro. É o único que Faulkner conseguiu fazer a respeito da literatura brasileira".
Ao se despedir, já na fila de embarque do Congonhas, o visitante perguntou: "O que diabos eu
vim fazer mesmo em Chicago?"

'A literatura é uma forma de amor'

Trinta anos depois, reencontrou um velho amigo, Jorge Luís Borges, que conheceu em 1960. Em
um jantar, o escritor argen no falou da importância do sonho.

"Tenho um amigo que morreu quando deixou de sonhar", adver u. "No exato momento em que
mencionou seu nome, alguém deixou cair uma taça e não consegui ouvir", recordou Lygia, em
2009.

Anos depois, a escritora leu o conto Uma Estação de Amor e decifrou o mistério: o tal amigo
suicida era o uruguaio Horacio Quiroga. "Gravemente doente e sem esperança, suicidou-se com
cianureto", conta no livro Durante Aquele Estranho Chá, de 2002.

Na entrevista ao Cadernos de Literatura Brasileira, Lygia lembra da ocasião em que, na década


de 1970, recebeu o telefonema de um rapaz dizendo que, por causa de seus livros, não queria
mais rar a própria vida.

Lá pelas tantas, emocionada, a escritora perguntou: "O que eu posso fazer por você?". O leitor
respondeu: "A senhora já fez". E desligou.

"Fico relendo meus textos, procurando, procurando, qual a palavra, meu Deus, qual a palavra
que foi capaz daquilo? Nunca vou saber", divagou, em 1998. "No fundo, a literatura é uma forma
de amor", concluiu.

"Era uma mulher à frente de seu tempo. Tinha forte preocupação com o papel social da mulher.
Debater sua contribuição à literatura é tarefa dos acadêmicos. Queremos enfa zar sua
contribuição humanista. Às vezes, nos preocupamos tanto em estudar uma obra que
esquecemos da pessoa incrível que criou aquela obra", afirma a jornalista Rachel Valença,
coordenadora de literatura do Ins tuto Moreira Salles (IMS) que, desde 2002, guarda o acervo
da escritora, composto de cartas, originais, fotografias e até da Olive que ganhou de Paulo
Emílio na Itália.

No dia 11 de maio, o IMS organiza uma mesa de debates, com par cipação da acadêmica Ana
Maria Machado, a agente literária Lúcia Riff e a pesquisadora Elizama Almeida, na ABL

Foi indicada ao Nobel em 2016

Avessa a autobiografias, Lygia lançou três livros de memórias: Invenção e Memória, de 2000;
Durante Aquele Estranho Chá, de 2002, e Conspiração de Nuvens, de 2007.

No segundo volume, esmiúça, entre outras histórias, a visita que fez a Monteiro Lobato no
presídio Tiradentes em 1941 — o criador do Sí o do Picapau Amarelo fora preso por cri car o
Estado Novo — e o encontro com o poeta modernista Mário de Andrade na confeitaria Vienense,
na rua Barão de Itape ninga, em 1944.

"Se eu vesse pernas tão lindas, ia lá pensar em literatura?", foi obrigada a ouvir em uma das
vezes em que esbarrou com Monteiro Lobato.

No estranho chá com o autor de Macunaíma, a jovem estudante de Direito com aspiração
literária saiu da confeitaria com uma carta. O que Mário de Andrade teria achado de seus
escritos? Nunca saberemos...
"No dia seguinte, na maior emoção, levei a carta para exibi-la a dois colegas da Faculdade. Mas,
acabei por perdê-la numa das salas de aula e nunca mais", lamentou na crônica que dá tulo ao
livro.

Dos 16 livros publicados pela Companhia das Letras, onze são de contos. Apenas um, Passaporte
para a China, é de crônicas — a pedido de Samuel Wainer, dono do jornal Úl ma Hora, escreveu
impressões sobre uma viagem de 20 dias a Pequim e Shanghai em 1960.

"Tentei fazer poesia quando estava na Faculdade de Direito. Mas logo percebi que era apenas
um apelo de juventude", reconheceu ao Cadernos de Literatura Brasileira.

Só Jabu , o mais importante prêmio literário brasileiro, foram quatro: O Jardim Selvagem, de
1966; As Meninas, de 1973; A Noite Escura e Mais Eu, de 1996, e Invenção e Memória, de 2001.

Em 2005, levou para casa o Camões, o "Nobel" da Língua Portuguesa. Em 2016, teve seu nome
indicado ao Nobel de Literatura. Perdeu a honraria para o cantor e compositor americano Bob
Dylan.

"Era minha vizinha no Jardins. Quando caminhávamos pelo bairro, abraçava as árvores, brincava
com os animais... Também íamos ao cinema. Comentava o filme em voz alta. Às vezes, isso gerava
um 'psiu' dos outros espectadores", relata o escritor e acadêmico José Renato Nalini.

"Também gostava de conversar ao telefone. Lia seus contos e pedia minha opinião. O que me
desvanecia. Tínhamos em casa uma poodle que era avessa a humanos. Mas, quando Lygia
chegava, pulava no seu colo. Ficava extasiada. Sinto imensa falta de Lygia, a amiga, mais do que
a imortal."

_____________________________________________________________________________

h ps://www.bbc.com/portuguese/ar cles/c25en10v9nyo

5-A ONDA DE VIOLÊNCIA ARMADA POR MOTIVO FÚTIL QUE ABALA OS EUA

Tocar a campainha errada.

Dirigir na estrada errada.

Aproximar-se do carro errado.

Deixar a bola cair no quintal de um vizinho.

Esses são os mo vos banais pelos quais cidadãos comuns americanos foram baleados nos
úl mos sete dias — um deles com apenas seis anos.

Mais do que massacres, são esses incidentes menores que representam a maioria das mortes e
ferimentos causados por armas de fogo nos Estados Unidos. E esta semana mostrou como esses
atos isolados se acumulam formando um retrato mais amplo da violência armada no país.

"O principal po de incidente que temos é uma ou duas pessoas serem baleadas", afirma Mark
Bryant, diretor do Gun Violence Archive. Eles calcularam 165 massacres a ros neste ano até
agora, mas milhares de incidentes menores.

Os suicídios representam mais da metade de todas as mortes por armas de fogo nos EUA, de
acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).
Mas uma média de 50 pessoas morrem todos os dias no país devido a incidentes com armas de
fogo não relacionados a suicídio, e cerca de 100 ficam feridas, de acordo com Bryant e o Gun
Violence Archive.

Os massacres são, segundo ele, uma pequena parcela dos incidentes gerais de violência armada
no país. Esses eventos com muitas ví mas "recebem atenção extra", mas representam apenas
cerca de 6% do total de lesões e mortes.

Em vez disso, muitas histórias são como a de Ralph Yarl, um adolescente negro de 16 anos do
Missouri, que foi baleado por um homem branco após tocar a campainha da casa dele por
engano em 13 de abril.

Ou a de Kaylin Gillis, uma jovem de 20 anos baleada e morta em 15 de abril, quando ela e os
amigos pegaram por engano a entrada errada no Estado de Nova York e um proprietário abriu
fogo contra o carro deles.

Ou a de duas cheer leaders (líderes de torcida), alunas do ensino médio, que se aproximaram do
carro errado em um estacionamento do Texas em 18 de abril, levando o homem que estava
dentro do veículo a sair e começar a a rar, ferindo gravemente uma delas.

Ou de uma menina de seis anos e do pai na Carolina do Norte, que foram baleados em 18 de
abril depois que a bola de basquete deles caiu no quintal do suposto a rador, segundo a polícia.

"A bala voltou e entrou na minha bochecha", disse a garo nha a um canal de no cias local.

E essas são apenas as histórias que veram repercussão nacional.

"A violência armada a nge todas as comunidades de alguma maneira ou forma, mesmo que
tenha menos visibilidade do que um grande massacre a ros", afirma Kelly Drane, diretora de
pesquisa do centro jurídico do grupo Giffords, de prevenção à violência armada.

"Pareceu muito real para muita gente esta semana: a violência armada acontece em nosso país
todos os dias."

"Isso tem um preço muito alto para esta nação", diz ela.

Nem todas as comunidades americanas são afetadas igualmente; os negros morrem em


decorrência de armas de fogo em taxas mais altas do que qualquer outro grupo racial ou étnico
nos EUA. As mortes relacionadas a armas de fogo aumentaram acentuadamente entre crianças
negras e hispânicas durante a pandemia de covid-19, de acordo com uma pesquisa da Kaiser
Family Founda on.

Os disparos acontecem em meio a debates cada vez mais polarizados sobre o acesso e uso de
armas de fogo nos Estados Unidos. Os defensores do direito às armas pedem menos restrições
para a compra, uso e porte de armas de fogo, enquanto os defensores da segurança em relação
às armas con nuam a pressionar por regras que limitem o acesso às mesmas.

A Segunda Emenda da Cons tuição dos EUA garante aos americanos o direito às armas de fogo
— mas até que ponto é uma questão que provoca um acalorado debate polí co e jurídico.

Os conservadores, que muitas vezes apoiam os direitos da Segunda Emenda, colocam a culpa
pela violência armada em uma crise de saúde mental mais ampla ou no aumento da
criminalidade. Os liberais, que tendem a apoiar uma regulamentação mais rígida sobre as armas,
apontam os níveis de acesso às armas de fogo nos EUA como a causa da violência.
Apenas em 2023, 12.719 pessoas haviam morrido até 20 de abril, em incidentes de violência
armada, de acordo com dados fornecidos pelo Gun Violence Archive. A metodologia deles
abrange uma ampla variedade de incidentes, incluindo acidentes, roteios envolvendo policiais,
assaltos à mão armada, massacres, familicídio, assassinato e uso de armas para defesa.

Desde 13 de abril, dia em que Ralph Yarl tocou a campainha da casa errada, foram registrados
845 incidentes relacionados a armas de fogo nos Estados Unidos, de acordo com dados
preliminares do Gun Violence Archive.

Uma pequena fração desses incidentes não envolveu o disparo de ros, como um incidente de
13 de abril em que um adulto deixou uma arma carregada no banheiro de uma escola primária
em Atlanta, na Geórgia.

Mas muitos deles, sim.

No total, esses 845 incidentes deixaram 743 feridos e 328 mortos.

Na próxima semana, haverá mais.

Chelsea Bailey, Brandon Drenon e Madeline Halpert contribuíram para esta reportagem.

_____________________________________________________________________________

h ps://no cias.uol.com.br/ul mas-no cias/rfi/2023/04/29/de-olho-no-ouro-o-que-alimenta-


o-ape te-da-russia-pela-guerra-civil-do-sudao.htm

6-DE OLHO NO OURO: O QUE ALIMENTA O APETITE DA RÚSSIA PELA GUERRA CIVIL DO SUDÃO

Região estratégica entre a África e o Oriente Médio, o Sudão é um país pobre que enfrenta a
violência endêmica e, agora, uma guerra civil.
Em 2005, dois anos após o início de uma rebelião sangrenta em Darfur, que deixou cerca de
300.000 mortos, Moscou violou o embargo da ONU, tornando-se o único fornecedor de armas
do regime. O país con nua representado em solo africano pelo grupo armado de mercenários
Wagner, que defende os interesses do Kremlin, e que apoia, segundo experts, uma das milícias
que brigam pelo poder.
Explosões, ataques aéreos e ros con nuam na capital Cartum e outras cidades sudanesas, mas
países estrangeiros conseguiram negociar a re rada de seus cidadãos com os dois beligerantes:
o exército do General Abdel Fa ah al-Burhane, líder de fato do Sudão, e seu vice - o General
Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como "Heme ", que comanda as FSR. Foi necessário
"aproveitar uma pequena janela de oportunidade", explicou nesta segunda um porta-voz do
governo britânico.
Além do bloco, que tem uma delegação em Cartum, sete países membros (França, Alemanha,
Itália, Espanha, Holanda, Grécia e República Tcheca) estão representados na capital. Mas nem
todos os países se posicionam da mesma forma desde o início das hos lidades.
A Rússia parece ter razões de sobra para querer con nuar no país, mas para entender melhor os
interesses russos na região, é preciso voltar algumas décadas no tempo. A leste do con nente
africano, e dominando a entrada de navegação ao Mar Vermelho, o Sudão (ou seus atuais
líderes) também parece(m) ter alguns interesses na presença do aliado russo. O país foi um dos
únicos a se abster da votação na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o texto que
condenava a invasão russa na Ucrânia.
MINAS DE OURO E GEOPOLÍTICA AUMENTAM APETITE RUSSO
"Os russos estão por trás de Heme , que prometeu fidelidade e recebe suas ordens de Moscou",
declarou ontem o coronel Peer de Jong, um especialista em empresas militares privadas, à
revista francesa Le Point. "Ele vai precisar do apoio material deles (russos) para enfrentar o
exército sudanês", sublinhou o especialista Ainda segundo ele, sem sinais de escalada no conflito
no momento, "é preciso recuar alguns anos para entender como Moscou conseguiu se enredar
em todos os níveis do Estado sudanês". Mais precisamente, é preciso voltar ao início dos anos
2000, quando a Rússia cresceu os olhos para este país de cerca de 30 milhões de habitantes, a
maioria sunitas muçulmanos.
Em 2014, o Sudão reconheceu a anexação da Criméia pela Rússia, uma decisão diplomá ca
importante, na contramão de quaisquer parceiros ocidentais.
Em 2017, Moscou e Cartum assinaram um acordo para a criação de uma base naval russa, que
seria construída em Port Sudan, a segunda maior cidade do país, respondendo por 90% das
exportações nacionais. Um símbolo forte para a Rússia, que não nha base na África desde a
queda da URSS. Nas margens do Mar Vermelho, o porto está localizado hoje no coração de uma
das rotas de navegação mais movimentadas do mundo. China, Estados Unidos, França e Japão
já se encontram presentes lá, com suas forças estacionadas em Djibou , no sul da baía sudanesa.
Apesar dos repe dos golpes de Estado (nove, desde os anos 1960), nos quais Cartum detém o
triste recorde africano, a cooperação com Moscou tem permanecido forte ao longo dos anos.
Em outubro de 2021, mais um golpe sacudiu o país, quando o chefe de gabinete do governo
anterior, general Abdel Fa ah al-Burhan, finalmente tomou o poder, compar lhado com seu
braço direito: "Heme ", o chefe da RSF, as chamadas forças revolucionárias sudanesas. "Os
egípcios, que nham muita influência no Sudão, não queriam civis no poder. O mesmo vale para
os russos, que, no entanto, precisam de um parlamento para aprovar leis que lhes sejam
favoráveis", analisa Roland Marchal, pesquisador da Sciences Po Paris e especialista em Sudão,
ao site Slate.
Treinadas e equipadas por Moscou, as RSF deixaram o grupo Wagner no controle de novas minas
de ouro, das quais o Sudão é o terceiro maior produtor na África. Apesar das reiteradas nega vas
oficiais da Rússia, as visitas diplomá cas de alto nível con nuam entre os dois países. Em
fevereiro de 2023, o chanceler Sergei Lavrov finalizou seu giro africano com uma visita ao Sudão,
onde insis u em acabar com as sanções impostas pelas Nações Unidas, elogiando os esforços de
Cartum "para atrair inves mentos russos".
OURO PARA O KREMLIN?
Desde a volta dos militares ao poder, a colaboração entre o Grupo Wagner e Hemed se
intensificou. Em fevereiro de 2022, enquanto a Rússia dava início à invasão da Ucrânia, Hemed
viajou a Moscou para dar apoio aos planos russos de estabelecer uma base militar no Mar
Vermelho, algo que havia sido rejeitado por Burhan. Nessa viagem à Rússia, o avião u lizado por
Hemed também teria transportado barras de ouro, segundo apurou o jornal americano The
New York Times, citando autoridades ocidentais. Nas conversas em Moscou, o paramilitar
sudanês teria pedido ajuda às autoridades russas para adquirir equipamentos militares.
Em 2021, até 32,7 toneladas de ouro sudanês - avaliadas em 1,9 bilhão de dólares - haviam
desaparecido, segundo uma reportagem da emissora americana CNN, que diz ter encontrado
provas de que a Rússia colaborou com a junta militar do Sudão para assegurar que bilhões de
dólares em ouro fossem desviados do Tesouro do país em troca de apoio polí co e militar do
Kremlin. "Durante todo o tempo, esse esquema corrupto envolvendo o Grupo Wagner e o
governo militar era supervisionado por Hemed ", afirmou o a vista sudanês de direitos
humanos Ahmed Abdallah, que vive exilado na Alemanha. "Sempre me pareceu que ambos
[Hemed e Burhan] não estavam de acordo no que diz respeito a como fazer negócios com o
Grupo Wagner."
Na semana passada, a CNN apontou que o grupo de open source All Eyes on Wagner ("Todos os
olhos sobre o Wagner") analisou imagens de satélite que pareciam mostrar um avião de
transportes russo realizando um trajeto entre duas bases na Líbia controladas por Khalifa Hi er,
líder do Exército Nacional Líbio, apoiado pelo Grupo Wagner. Segundo a reportagem, o aumento
das a vidades do Grupo Wagner nas bases aéreas líbias sugere um plano de Hi er e Moscou
para apoiar as FAR, mesmo antes de o atual conflito começar....
NEGÓCIOS OBSCUROS
"Por trás das inves das de Hemed pode estar o Grupo Wagner, cujos membros foram presos e
acusados de traficar ouro pelo regime de Burhan antes do início dos confrontos", afirmou à DW
o advogado sudanês Yaser Abdulrehman. "Hemed e o Wagner são como gêmeos siameses." As
intenções do grupo russo, porém, permanecem obscuras. "Ao mesmo tempo que o Wagner
oferece ajuda militar a Hemed , seu envolvimento nesse conflito con nua nebuloso", avaliou
Isabella Curie, que pesquisadora as a vidades do grupo paramilitar.... –
"É preciso cautela antes de se chegar a conclusões sobre uma potencial aliança entre o Wagner
e Hemed , ou sobre o papel do grupo ao incitar a turbulência civil no Sudão. A instabilidade no
país pode ser prejudicial tanto ao governo Pu n quanto à rede de Prigozhin, em par cular, se o
conflito começar a ter impacto sobre a fronteira sudanesa com a República Centro-Africana,
onde Prigozhin possui relações e contratos de extração de recursos", observou a pesquisadora.
_____________________________________________________________________________

h ps://diploma que.org.br/a-crise-no-hai -con nua/

7-A CRISE NO HAITI CONTINUA


Ofuscado principalmente pela guerra na Ucrânia, o marcado silêncio sobre o Hai pode passar a
errônea impressão de que a violência e a instabilidade que assolam o país caribenho seja tema
ou de importância descartável ou de desfecho claro e simples
Nos úl mos meses, o debate público brasileiro sobre a polí ca internacional e a própria
diplomacia presidencial do novo governo foram marcados pela ausência do tema do Hai .
Ofuscado principalmente pela guerra na Ucrânia, este marcado silêncio pode passar a errônea
impressão de que a violência e a instabilidade que assolam o país caribenho seja tema ou de
importância descartável ou de desfecho claro e simples. No entanto, esta ausência contrasta com
os numerosos esforços diplomá cos bilaterais e mul laterais que têm sido empreendidos para
tentar conter ou dar alguma solução diante do aprofundamento da crise mul dimensional
(segurança, polí ca, humanitária) pela qual passa o país em que o Brasil teve seu maior
engajamento militar desde a Segunda Guerra Mundial.
Desde a primeira parte deste texto, publicada em janeiro, a conjuntura internacional se
complexificou, e o cenário de violência, instabilidade e indefinição que paira sobre o Hai se
aprofundou, exigindo novo esforço de interpretação.
A caracterís ca mul dimensional da crise hai ana tem o efeito de reforçar seus diferentes
aspectos. O aumento da violência come da pelas gangues em disputas por territórios afeta o
fornecimento de assistência humanitária, dificulta a realização de eleições, e piora o
funcionamento de toda a infraestrutura básica de saúde, educação, alimentação, transportes,
comércio e moradia do país. Recentemente, após policiais e gangues colocarem em risco
instalações médicas, profissionais e pacientes, a ONG Médicos Sem Fronteiras fechou seu
hospital na favela de Cité Soleil, a maior de Porto Príncipe. A ONG já nha emi do comunicados
chamando atenção à gravidade da situação e apelando ao respeito pelo sistema de saúde. Além
de Porto Príncipe, a atuação violenta das gangues também tem aumentado nas regiões rurais e
interioranas, como em Ar bonite, ao norte da capital.
Imagens de manifestação de campesinas e campesinos na cidade de Monwi, Hai . (Foto: Ricardo
Cabano)
De acordo com o Escritório das Nações Unidas no Hai , os relatos de violência indicam
expressivo aumento de roteios, sequestros, estupros e assassinatos deliberados de homens,
mulheres e crianças de forma aleatória por snipers, como tá cas para difundir o medo entre
comunidades sob controle de gangues rivais e induzi-las ao deslocamento.
A ausência de uma única alta autoridade hai ana que tenha sido eleita também aprofunda a
crise. Tem exaurido a legi midade das ins tuições polí cas do país, e enfraquecido a elaboração
e o cumprimento de acordos que visam alguma tenta va de resolução vindos do atual governo.
O mandato do que restava do Senado – que nha se posicionado em outubro contra a
intervenção – encerrou-se em janeiro, e o primeiro-ministro e presidente de fato, Ariel Henry,
governa por meio de decretos. Para boa parte da oposição armada e desarmada hai ana, Henry,
que já é do como ditador, deveria ter deixado o cargo há muito tempo, e uma intervenção
internacional funcionaria como uma espécie de úl mo recurso para que ele se mantenha no
poder.
A crise também tem afetado fortemente a Polícia Nacional Hai ana (PNH). Sua relação com o
primeiro-ministro chegou a um momento crí co no final de janeiro, quando policiais saíram em
intensa revolta pelas ruas da capital, juntando-se a outros protestos da oposição. O grupo a rou
contra a residência de Henry, ocupou o quartel-general da ins tuição e invadiu parte de um
terminal do principal aeroporto do país em busca pelo primeiro-ministro, que retornava da
Argen na após ter par cipado do encontro da Comunidade dos Estados La no-Americanos e
Caribenhos (CELAC), onde renovou seu pedido pela intervenção internacional. O ga lho para a
revolta de membros da PNH foi a morte de policiais em Ar bonite, após frequentes ataques de
gangues às delegacias. O fato agravou a percepção difusa entre parte da corporação de falta de
apoio do governo e do Estado, devido aos baixos salários, crescentes números de mortos e falta
de equipamentos. Naquele momento, os policiais de Ar bonite também entraram em
paralisação, demandando materiais de proteção. Mais recentemente, diversas estações policiais
de comunas da mesma região foram fechadas, frente a ameaça de ações de gangues, e um
programa dos EUA para tentar controlar o fluxo de migrantes e refugiados de países do Caribe e
América Central acabou gerando incen vos para que os policiais deixassem o país.
No Conselho de Segurança da ONU, a resolução sobre a intervenção internacional con nua
suspensa devido à posição de Rússia e China, e a atuação de uma coalizão liderada pelos EUA
sem a autorização do Conselho é muito pouco provável. Possivelmente trará fortes reações
polí cas não somente de lideranças da sociedade civil hai ana e de movimentos internos aos
EUA, mas também de toda a comunidade internacional de Estados, cujas posições a respeito do
envio de militares é divergente. Além disso, o comitê do Conselho de Segurança da ONU,
formado no final de 2022 para indicar os indivíduos que serão sancionados por suposta ligação
com as gangues armadas, ainda não atualizou sua lista, que conta somente com o nome de
Jimmy Cherizier.
Com este impasse entre as grandes potências que, por ora, afasta o prospecto da intervenção, a
diplomacia interamericana tem ganhado relevância, e pode sinalizar, de alguma forma, para
possibilidades inovadoras, embora ainda frágeis, de atuação internacional.
Durante encontro em fevereiro, a Comunidade dos Países Caribenhos (CARICOM) repudiou a
ideia da intervenção internacional no Hai . O cole vo priorizou o socorro à Polícia Nacional
Hai ana (com equipamentos, salários, alimentos e aumento do efe vo) e apoiou o acordo
polí co elaborado em dezembro de 2022 por Henry, apontando a necessidade da sua expansão.
A posição da CARICOM com relação à intervenção é diferente daquela manifestada pela CELAC
na Argen na. Na Declaração de Buenos Aires (p. 26), a CELAC incen vou seus membros para que
estudassem as possibilidades de par cipação na intervenção, conforme as opções apresentadas
em outubro (S/2022/747) pelo Secretário-Geral da ONU. Ao se considerar a posição dos países
caribenhos presentes tanto na reunião da CELAC quanto da CARICOM, uma hipótese provável é
a da mudança de posição ao longo das três semanas que separaram os dois encontros.
Na diplomacia caribenha, Bahamas e Jamaica têm do atuação de destaque nos úl mos meses,
crescentemente preocupadas com o aprofundamento das consequências migratórias da crise
hai ana. A primeira, atual presidente da CARICOM, manifestou em outubro sua disposição para
enviar tropas e polícias, assim como o fez a Jamaica após a reunião da CELAC – em entendimento
que uniu governo e o maior par do de oposição do país. Com a mudança manifestada no
posterior endosso da declaração da CARICOM, repudiando a intervenção, ambos passaram a ter
uma posição de mediação, adquirindo mais proeminência regional nas tenta vas de solução da
crise. Em gesto apoiado pela CARICOM, a Jamaica também pretende hospedar um encontro para
expandir e avançar as negociações do acordo de dezembro de 2022 promovido por Henry.
Recentemente, uma delegação jamaicana liderada pelo primeiro-ministro Andrew Holness e
pela chanceler Kamina Johnson-Smith, junto com ministros e diplomatas das Bahamas e
Trindade e Tobago, visitaram o Hai em um encontro ar culado pelo Canadá, outro ator
fundamental na diplomacia do atual momento da crise hai ana. Resta ainda destacar que a
República Dominicana tem se posicionado fortemente pela intervenção, sendo, inclusive um de
seus principais promotores.
O Canadá tem sido pressionado pelos EUA para liderar a intervenção, caso ela ocorra, mas segue
relutante em enviar tropas ao Hai , com resistências inclusive de suas Forças Armadas. Durante
a conferência da CARICOM, o primeiro-ministro canadense Jus n Trudeau realçou o fracasso das
intervenções internacionais passadas, e defendeu a posição do país, fundamentada na aplicação
de sanções e apoio à PNH. Durante o encontro, o Canadá também anunciou a inclusão de dois
novos nomes à sua lista de sanções individuais: Jocelerme Privert, ex-presidente (2016-17), ex-
senador e ex-ministro do Interior durante o governo de Aris de, e Salim Succar, ex-chefe de
gabinete do primeiro-ministro Laurent Lamonthe – também sancionado pelo Canadá. Ao longo
de fevereiro, o país enviou ao Hai um avião e dois navios de vigilância e patrulha.
O que une as posições da CARICOM, da CELAC, da OEA e dos EUA é o reconhecimento da
plataforma “Consenso Nacional para uma Transição Inclusiva e Eleições Transparentes”, criada
em 21 de dezembro de 2022 por Ariel Henry como locus de negociação e ação para uma
resolução da crise. Contudo, a frágil posição de Henry tem colocado grandes desafios a que este
acordo tenha chances percep veis de sucesso. Diferentes en dades da sociedade civil hai ana
e internacional entregaram cartas aos chefes de Estado durantes os encontros da CELAC e da
CARICOM – que contaram com a presença de Henry. Nelas, além de repudiarem a intervenção,
também cri caram fortemente o apoio internacional dado ao primeiro-ministro na forma de
reconhecimento polí co internacional. As en dades também pediram a reparação histórica de
diversos crimes come dos contra o povo hai ano.
Tudo isto não acontece sem o acompanhamento próximo e atento do governo dos EUA. No
mesmo momento em que os policiais ocupavam as ruas de Porto Príncipe no final de janeiro,
Ariel Henry se encontrava com Todd Robinson, secretário-assistente do Bureau of Interna onal
Narco cs and Law Enforcement Affairs do Departamento de Estado e Frantz Elbé, diretor geral
da PNH. O encontro serviu para reforçar o apoio dos EUA à polícia hai ana na forma de envio de
equipamentos. No encontro da CARICOM, uma delegação norte-americana de 27 pessoas estava
presente e, recentemente, o mais alto oficial para o hemisfério ocidental dos EUA, o secretário
assistente de Estado Brian Nichols, também visitou o país.
Com o empasse no Conselho de Segurança da ONU e a frágil posição de Ariel Henry, a crise
hai ana ainda não tem uma solução clara no horizonte, mesmo com as várias inicia vas
diplomá cas que se desdobram. Frente a complexidade da situação, os silêncios no Brasil sobre
o tema não têm outra serven a que adiar uma discussão que se tornará necessária para
qualquer país que almeje uma posição de significa va relevância na polí ca internacional.
_____________________________________________________________________________
Fonte: h ps://www.bbc.com/portuguese/geral-64297796
8-O QUE É CHATGPT E POR QUE ALGUNS O VEEM COMO AMEAÇA
Shin Suzuki
Em 30 de novembro passado, enquanto o mundo começava a entrar no clima de fim de ano e
nha os olhos mais voltados para a Copa do Catar, estreava um programa que logo foi
considerado um passo adiante no progresso da inteligência ar ficial: o ChatGPT.
Mas as consequências para a humanidade de seu uso em larga escala ainda precisam ser
totalmente compreendidas.
O salto evolu vo desse novo sistema está no poder de gerar conteúdo de forma bastante
coerente e também por conseguir "soar mais humano".
Apesar de erros e falhas ainda existentes, a capacidade já demonstrada pelo programa — e seu
potencial de se desenvolver ainda mais a longo prazo — vem provocando não só admiração, mas
também alguns temores.
Basta observar a quan dade de análises que associam o ChatGPT à palavra "ameaça". Muitos
acham que o programa parece convincente demais ao mime zar o discurso de um ser humano
e anteveem problemas.
São ques onamentos sobre a possibilidade de forte ruptura em áreas como cria vidade,
aprendizado e educação, trabalho, segurança digital — e a própria democracia, como afirmou
um ar go recente no jornal The New York Times.
Segundo os autores, o que antes era uma pessoa expressando sua opinião polí ca agora pode
ser apenas um robô que gera ar ficialmente um argumento.
O que é o programa?
O ChatGPT é, basicamente, um robô virtual (chatbot) que responde a perguntas variadas, realiza
tarefas por escrito, conversa de maneira fluida e inclusive dá conselhos sobre problemas pessoais
(embora haja a advertência de que não possui esse obje vo e que as orientações passadas são
genéricas. Mas ele quase sempre atende o usuário em busca de aconselhamento).
As possibilidades de geração de conteúdo são imensas.
Ele pode, por exemplo, ensinar a preparar um estrogonofe — e com um toque diferente na
receita, se você especificar —, dar dicas para conseguir uma vaga de trabalho, escrever poesia,
trabalhos acadêmicos ou um modelo de procuração judicial e também redigir uma carta de
reconciliação para um amigo de quem você se distanciou.
Programa do Google está iludindo os humanos ao dizer que possui sen mentos e vida própria?
O ChatGPT atende em questão de segundos um pedido aleatório como "escreva um poema
sobre inteligência ar ficial no es lo de Carlos Drummond de Andrade" — a qualidade do
resultado, a depender do crí co, pode ser bastante discu vel.
Segundo testes do site SEO.ai, o ChatGPT está disponível em quase 100 línguas (incluindo
português do Brasil), mas a performance do modelo varia conforme o idioma (funciona melhor
em inglês).
O sistema foi desenvolvido pela OpenAI, empresa fundada em 2015 nos EUA por Sam Altman
(hoje sua principal figura) e pelo onipresente Elon Musk (que se desligou dela em 2018 por
considerar que havia conflito de interesse com o seu principal empreendimento, a companhia
automo va Tesla).
Cinco dias após seu lançamento, o ChatGPT chegou a mais de 1 milhão de usuários (que,
ironicamente, precisam ser humanos; você precisa provar que não é um robô ao logar). Essas
interações estão sendo u lizadas para treinar e desenvolver o modelo.
A OpenAI diz que o uso será gratuito e aberto a todos durante essa etapa de "teste e pesquisa"
— levando especialistas a especular sobre futuros pos de mone zação da ferramenta.
A companhia também adverte que, nesse período, o so ware "pode ocasionalmente gerar
informações incorretas ou enganosas" e que seu histórico de dados está limitado a 2021.
Apesar de ter sido apontado como uma possível ameaça à hegemonia do Google como
facilitador de informações na internet, o sistema ainda comete erros crassos, como dizer que o
Brasil já ganhou ao menos cinco prêmios no Oscar (na verdade, o país nunca levou uma
estatueta).
Por que o ChatGPT é considerado um avanço para a IA?
Programas poderosos de inteligência ar ficial baseados em texto funcionam armazenando
quan dades gigantescas de dados (com ênfase em palavras e conversas nesse caso) e com
algoritmos para prever o melhor encadeamento de uma frase. São chamados de grandes
modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês).
O professor da Unifesp Álvaro Machado Dias, futurista e neurocien sta, explica que no
treinamento de um so ware são feitas perguntas para o chatbot como "o que é um cilindro?" e
técnicos elaboram as próprias respostas.
"Caso a resposta do chatbot não seja correta, são inseridas as corretas no sistema para ensiná-
lo. Isso é repassado para outras situações automa camente."
Apesar de já usarem uma modalidade que consegue depreender o contexto de uso das palavras,
permi ndo textos mais bem concatenados, programas anteriores não respondiam tão bem ao
usuário ou ainda soavam muito ar ficiais. O ChatGPT aprendeu a conversar de uma forma mais
próxima de um humano.
Machado Dias diz que o diferencial desse programa é o emprego de uma técnica que entende
como a linguagem funciona: o reforço de aprendizado por feedback humano (RLHF, na sigla em
inglês).
Engenheiros aplicam métodos de "recompensa" e "punição" para ensinar ao sistema as formas
mais desejáveis de interação. É um processo de sintonia fina.
"Na prá ca, os engenheiros ordenam as respostas dadas pelo algoritmo de acordo com a sua
relevância e es mulam o programa a aprender as preferências listadas na ordenação para
aumentar a relevância das produções textuais. O resultado é dado na forma de textos que
parecem mais profundos e significa vos do que os das alterna vas", diz o professor da Unifesp.
O ChatGPT foi também treinado para admi r erros, contestar premissas incorretas e rejeitar
pedidos inapropriados.
Mas um professor da Universidade da Califórnia conseguiu que o sistema escrevesse um código
de programação para dizer que apenas homens brancos ou asiá cos formam bons cien stas.
É uma ameaça ao aprendizado e à cria vidade?
A ameaça de disrupção já paira sobre trabalho e emprego. Campos que dependem do texto,
como o jornalismo, poderão ser largamente modificados — e vagas poderão sumir para sempre.
A competência do ChatGPT em gerar códigos também já provoca ques onamentos em um setor
rela vamente novo, a programação.
Mas uma das áreas que vem percebendo desde já o potencial de problemas do ChatGPT é
justamente uma das mais afetadas pela chegada de novas tecnologias: a educação.
A tentação entre estudantes de usar o programa para encontrar respostas prontas para suas
tarefas levou Nova York a tomar uma decisão rápida: apenas um mês após sua estreia, o sistema
foi proibido nas escolas e disposi vos da rede pública da cidade americana.
A OpenAI vem trabalhando em uma espécie de marca d'água digital que iden fique o conteúdo
originado no ChatGPT. Já existem algoritmos que calculam com boa precisão a probabilidade de
um texto ter sido feito por um chatbot.
Além do "copiar e colar", há o temor de impactos estruturais no aprendizado humano. Por
exemplo, o exercício cogni vo de escrever uma redação com começo, meio e fim, concatenando
ideias de forma coesa, será afetado?
"Ando bastante preocupado com a algoritmização do pensamento, que é a alteração do nosso
entendimento e relacionamento com o mundo em função da interação com a IA", diz Machado
Dias, da Unifesp.
"Acredito que esta será a maior mudança de mentalidade de toda a história moderna. Vale notar
que o cérebro humano vem reduzindo lentamente de tamanho, em função do desenvolvimento
tecnológico, há mais de mil anos. Este processo deve se acelerar. Assim, iremos nos tornar cada
vez mais sofis cados do ponto de vista técnico-cultural, mas também mais limitados do ponto
de vista neurocogni vo."
Martha Gabriel, autora do livro Inteligência Ar ficial: do Zero ao Metaverso e professora da PUC-
RS e SP, afirma que será necessário se adaptar aos novos tempos:
"Quando uma tecnologia passa a fazer algo melhor que um humano, não adianta querer
concorrer com ela nisso. A par r desse momento, as habilidades humanas que passam a ter
valor são: saber usar aquela tecnologia no seu máximo potencial e fazer aquilo que a tecnologia
não faz".
"O que faz a diferença nesse contexto não são mais as respostas, mas as perguntas. Tem que
saber perguntar. Para saber perguntar tem que saber pensar cri camente", diz.
Para Yuri Lima, pesquisador do Laboratório do Futuro da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), "o próprio ensino precisa ser adaptado para es mular a aprendizagem que reconheça os
alunos como ciborgues cada vez mais integrados às novas tecnologias".
"Isso exige que os professores também saibam u lizar essas mesmas tecnologias e integrá-las
nas suas a vidades. A par r do momento em que os projetos, a vidades e deveres de casa se
tornarem mais complexos e integrados ao universo atual no qual os alunos existem, a mo vação
deixa de ser afetada por essa questão tecnológica."
Outra questão gira em torno do futuro da cria vidade humana e da produção de conteúdo que
não seja baseada em inteligência ar ficial.

Dez dias depois da chegada do sistema da OpenAI, um designer em San Francisco (EUA)
conseguiu criar em apenas um fim de semana um livro infan l com texto e ilustrações feitos com
ChatGPT e MidJourney, um programa que produz imagens ao fornecer descrições.
Este item inclui conteúdo extraído do Twi er. Pedimos sua autorização antes que algo seja
carregado, pois eles podem estar u lizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a
polí ca de uso de cookies e os termos de privacidade do Twi er antes de concordar. Para acessar
o conteúdo clique em "aceitar e con nuar".
"Um ponto importante ainda a ser tratado é a questão do plágio. A par r do momento em que
o treinamento de modelos como o ChatGPT se baseia em textos disponíveis na internet como
no cias, livros e blogs, as suas respostas podem trazer ideias publicadas por certas pessoas sem
que essas recebam crédito por isso", afirma Lima.
"Em áreas cria vas, esse reconhecimento dos autores é considerado importante. Além disso,
não conhecer as fontes dificulta o reconhecimento de vieses ou até mesmo de men ras, como
em no cias falsas."
Machado Dias aponta que "a cria vidade emerge de combinações simultaneamente insólitas e
relevantes. Como algoritmos são disposi vos de geração de combinações, é esperado que o
impulso cria vo seja dirimido".
"Por outro lado, conforme algoritmos desempenham suas tarefas, tendem a gerar padrões que
sequer imaginávamos como possíveis, expandindo nosso entendimento combinatório, ou seja,
nossa cria vidade."
Martha Gabriel vai em uma linha semelhante: "A tecnologia pode ser uma ferramenta incrível
para amplificar o nosso pensamento, pois conseguimos em pouco tempo testar inúmeras
hipóteses, formatos, soluções para refinar nossas hipóteses e melhorar nossas perguntas".
"No entanto, isso pode também ser uma ameaça muito grande para aqueles que usam esses
sistemas cegamente, sem crí ca ou ques onamentos de moral e é ca. Isso não é apenas um
risco individual, mas para toda a humanidade."
_____________________________________________________________________________
h ps://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ceara/como-lidar-com-o-medo-e-agir-diante-da-
violencia-nas-escolas-1.3360209

9-COMO LIDAR COM O MEDO E AGIR DIANTE DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS?


O momento é sensível e há medidas para enfrentá-lo. Um passo fundamental é recuperar o
equilíbrio para evitar o pânico e atuar para aplacar o problema real.
Nas úl mas semanas, a sequência de ações violentas contra as escolas brasileiras tem mobilizado
o país. O momento é delicado e uma série de medidas foram traçadas pelas escolas e pelo poder
público, em diferentes níveis (Federal, Estadual e Municipal), e estão em curso para aplacar o
problema. O contexto é complexo e o volume de supostas ameaças e a propagação de boatos
acentuam a atmosfera de caos. Por isso, um passo fundamental é recuperar o equilíbrio para
conter o pânico e enfrentar a situação.
O medo expresso pela comunidade escolar diante da situação a pica e de casos concretos,
afirmam pesquisadores, é legí mo e, em alguma medida, atravessa a sociedade inteira. O
sen mento precisa ser acolhido e trabalhado. Mas o temor não pode se tornar algo
desproporcional a ponto de ser paralisante e gerar, por exemplo, omissão ou afastamento da
realidade, com aflições infundadas.
Para contribuir no enfrentamento ao problema, o Diário do Nordeste ouviu estudiosos que
tratam de aspectos psicológicos e sociais em conexão com a educação, e elencou alguns pontos
de reflexão e orientação sobre como é possível passar por momentos de tensão social e lidar
com eles.
A orientação de estudiosos busca cooperar com as famílias, crianças e adolescentes e
profissionais da educação, justamente em um contexto, tal qual o desta sexta-feira (20), em que
em muitas escolas o cenário é de menor comparecimento dos estudantes.
1. IDENTIFICAR E COMBATER O CLIMA DE PÂNICO
O momento gera alerta, pois há, de fato, aspectos preocupantes, mas também há uma
potencialização do medo.
Diante disso, diz o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Luiz Guilherme
Scorzafave, “a primeira coisa a se fazer é evitar criar um clima de pânico entre estudantes,
profissionais de educação e familiares. A segunda é termos tranquilidade e cobrar do setor
público medidas que tenham evidência de que funcionem”.
A psicóloga, doutora em educação e professora do curso de Psicologia da Uece, Luciana Quixadá,
explica que “o medo é algo que sempre nos atravessa e há uma tendência real a nos paralisar a
depender da sua intensidade”.
Para que essa sensação não ganhe contornos ilusórios, orienta, “os pais devem buscar entender
o que fundamenta seu medo, nesse caso, se há risco real, de onde veio a informação, se a fonte
é segura”.
Luciana pondera também que essa iden ficação por parte dos adultos é fundamental para que
se possa “tranquilizar os filhos e não serem cúmplices de medos infundados, muitas vezes,
inventados”.
Ela também destaca que o processo de temor extremo, que resulta em uma certa “fobia
cole va”, assim como em outros fenômenos sociais, “pode ser fonte da intencionalidade de
certos grupos”, logo, é preciso ponderar também as repercussões que esse afastamento social
tem.
2. TER CUIDADO COM AS INFORMAÇÕES CONSUMIDAS E DIVULGADAS
Outro ponto acionado sempre que há episódios de comoção social, como os vivenciados agora,
é a potencialidade da difusão de um intenso volume de informação e desinformação, sobretudo,
nas redes sociais e em aplica vos de conversas.
Luciana Quixadá reforça que a velocidade de difusão das informações, “infelizmente, dificulta o
acesso reflexivo e crí co ao conteúdo divulgado”.
“É preciso ter tranquilidade ao ver tantas no cias, ler com calma antes de repassá-las, muitas
vezes, de qualquer modo, sem responsabilidade. No momento em que repassamos essas
informações, nas redes sociais, por exemplo, somos responsáveis. E não temos garan as sobre
como elas serão interpretadas por quem as recebe. Então, precisamos regulamentar, criar
normas para veicular informações nas redes tão velozes”.
LUCIANA QUIXADÁ
Psicóloga
O integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Luiz Guilherme, também evidencia que
“estamos diante de um fenômeno novo, provocado pelo amplo uso das redes sociais. Elas
permitem que boatos sejam espalhados com muita rapidez e gerem esta sensação de medo em
muitas pessoas ao mesmo tempo”.

Ele pondera que, quando alguém recebe uma mesma mensagem de WhatsApp de várias
pessoas, é possível que passe a “acreditar que não é apenas um boato; e com base nisso, para
proteger os filhos, decida não mandar para a escola”. Contudo, reflete: “o que garante que
saberemos que dia ocorrerá realmente um ataque? E se ocorrerá mesmo?”
Por isso, orienta: “é importante a ar culação da escola com as famílias no sen do de implantar
medidas que sejam mais efe vas na prevenção deste po de ocorrência. É o melhor jeito de
responder a esta onda de boatos”.
Além disso, ainda que o compar lhamento de supostas ameaças seja com a intenção de alertar
conhecidos e familiares, é importante ter consciência que esse comportamento contribui com a
estratégia de disseminação de boatos e desinformações.
3. TER ATENÇÃO A RESPOSTAS REALMENTE EFETIVAS
Nesse contexto, surgem também uma série de “soluções fáceis” para um problema que é
complexo, e precisa de uma ampla e permanente mobilização para ser enfrentado.
Diante das tensões, diz o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Luiz Guilherme,
“infelizmente, o que temos visto é que no anseio de atender a esta angús a e medo gerado nos
pais dos estudantes, muitos governos têm anunciado medidas que não tem qualquer eficácia
comprovada para evitar este po de ataque”.
Ele menciona que a colocação de cerca elétrica, guarda armada na escola, detectores de metais
são pontos acionados de forma recorrente, mas sem evidências expressivas que possam
solucionar integralmente a questão.
O foco, reflete ele, deve ser em combater a causa e evitar que este po de ataque volte a ocorrer.
Um ponto concreto, relembra Luiz, é a atuação incisiva dos governos no monitoramento de
ameaça nas redes sociais, “procurando punir agentes que divulgam ou espalham conteúdos que
incen vem o pânico ou que façam apologia aos ataques”, completa.
O cien sta social e pesquisador dos temas educação e cidadania, Rudá Ricci, explica que os pais
e professores se veem desprotegidos e desorientados e “esse cenário propicia a proliferação do
pânico e ações aventureiras, voluntaristas ou populistas”.
Uma das medidas concretas, afirma, é o estabelecimento de protocolos que norteiam pais e
professores. Esses regulamentos, diz:
“Devem orientar sobre a quem recorrer e o que fazer em casos de ameaças ou violência. Devem
responder quando suspender aulas e quais sinais observar para medir o grau de perigo ou
gravidade. Sem isso, nos rendemos ao caos e às saídas fáceis de militarização da sociedade”.
RUDÁ RICCI
Cien sta social e pesquisador dos temas educação e cidadania
4. SABER QUAIS SÃO OS PROBLEMAS CONCRETOS
Luiz Guilherme pondera que a atual situação “não é fácil de ser enfrentada”, mas é fundamental
“procurar o diálogo com a escola e compreender que é papel de toda a sociedade garan r um
ambiente mais seguro para todas as nossas crianças”.
É preciso ter noção do que realmente está ocorrendo, quais situações foram registradas, em que
lugares, em quanto tempo. Além disso, ponderar informações sobre o tamanho das redes
escolares e a dimensão e recorrência dos ataques,
“A solução passa por medidas que tratam as causas deste fenômeno: um maior cuidado com a
saúde mental dos estudantes, enfrentamento da violência escolar, especialmente o bullying e a
criação de uma cultura de paz no ambiente escolar”.
LUIZ GUILHERME
Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
O cien sta social Rudá Ricci também explica que a ausência dos alunos nas escolas por medo
das ameaças revela uma certa “derrota das autoridades públicas” e “é fundamental que se
reverta a letargia de governos e instâncias de Estado”.
Governo Federal anuncia R$ 3 bilhões para medidas de proteção escolar
Ele reforça ainda a necessidade da existência de uma rede ar culada dos Centro de Referência
de Assistência Social (CRAS) e Centros de Atendimento Psicossocial (Caps) no apoio aos
professores e pais que se sen rem ameaçados.
5. SER PARTE ATIVA NO ENFRENTAMENTO
A psicóloga Luciana Quixadá também reforça que a “escolha”, por exemplo, por deixar os filhos
irem ou não à escola, vai depender de como “cada família entende e lida com esse fenômeno”.
E essa decisão, lembra ela, “é afetada por valores, crenças, experiências e mesmo
possibilidades”.
“Acho que é muito importante, tanto quanto essa reação (decisão), atuarmos na prevenção. Os
pais precisam estar atentos aos comportamentos dos filhos, os educadores precisam estar
atentos aos comportamentos dos alunos”, ressalta.
Ela reforça que “é preciso ensiná-los uma cultura da gen leza e da tolerância. Um ambiente
escolar de paz, não promove ataques. Crianças e adolescentes têm precisado muito de atenção,
acolhimento, escuta”.
Luciana acrescenta ainda que, sob o argumento de dar autonomia ao desenvolvimento das
crianças e adolescentes, “estamos desamparando-os, deixando-os à própria sorte. É bastante
necessário diálogo e aproximação intergeracional, especialmente, em momentos como esse”.
O integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Luiz Guilherme, também destaca que
uma alterna va que surgiu, na úl ma semana, diante de datas “marcadas” de supostas ameaças,
é uma mobilização no sen do contrário.
“De mostrar a importância da empa a e do cuidado com o outro. Mobilizar a comunidade
escolar para mostrar que cada aluno importa e que todos merecem ser cuidados”, acrescenta.
6. TER CIÊNCIA DOS CANAIS DE DENÚNCIA E ACOMPANHAR OS RESULTADOS
Além disso, ter ciência das medidas que estão sendo tomadas e dos canais oficiais de denúncia,
guiando efe vamente como as pessoas devem proceder em casos de ameaças, é uma medida
obje va que ajuda a refrear o medo exacerbado.
O cien sta social e pesquisador dos temas educação e cidadania, Rudá Ricci, indica que o
enfrentamento a esse cenário “exige inteligência policial, iden ficação de focos irradiadores e
desconstrução e punição de autores. Trata-se da manutenção da ordem democrá ca e segurança
pública”.
Luiz Guilherme indica que a criação de um ambiente que deixe es mule os estudantes a
denunciarem aos profissionais da escola eventuais ameaças que algum colega possa estar
fazendo é uma forma de prevenir os ataques.
No Ceará, a população pode realizar denúncias anônimas pelo número 181, o Disque-Denúncia
da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o
número de WhatsApp.
No âmbito federal, o Ministério da Jus ça e Segurança Pública criou um canal digital para coleta
de denúncias sobre possíveis ameaças a escolas. O canal pode ser acessado aqui. As denúncias
são anônimas.

Você também pode gostar