APOSTILA SUBSTANCIAS PSICOATIVAS Completo
APOSTILA SUBSTANCIAS PSICOATIVAS Completo
APOSTILA SUBSTANCIAS PSICOATIVAS Completo
AULA 1
AULA 02: O objetivo desta aula será o de apresentar conceitos básicos de psicofarmacologia para que, ao
decorrer da disciplina, fique evidente como cada droga interage com o organismo e como possivelmente
surgirão transtornos decorrentes de cada uso. As informações desenvolvidas nesta aula serão baseadas em
Stahl (2017), que descreve bem os mecanismos psicofarmacológicos no uso de substâncias psicoativas. Na
aula anterior, discutimos conceitos básicos no que se refere ao uso de substâncias psicoativas. Vimos que
conceitos importantes como dependência, tolerância, abstinência e abuso de drogas foram levantados a
nível conceitual básico.
Conversa Inicial
Farmacodinâmica e farmacocinética
Interação droga-receptor
Eficácia e eficiência
Tipos de receptores e neuropeptídeos
Mecanismos de neuroplasticidade
Na Prática
Finalizando
AULA 03: O objetivo é apresentar de maneira introdutória os principais efeitos de drogas psicodepressoras,
psicoestimulantes, psicotomiméticos e analgésicos, apontando seu mecanismo de ação, efeitos na
plasticidade e dependência. Além disso, discutiremos sobre mecanismos de sensibilização e tolerância no
uso dessas drogas, apontando outros efeitos danosos que podem ocorrer com seu uso prolongado ou
excessivo. Nesta aula, continuaremos o tema levantado na aula anterior sobre o efeito das substâncias no
organismo. Entretanto, aprofundar-nos-emos nos mecanismos de ação das principais substâncias
psicoativas (SPAs), drogas de abuso ou até drogas de usos clínicos controlados como ansiolíticos e afins.
Conversa Inicial
Sistema de Recompensa Cerebral
Psicodepressores
Psicoestimulantes
Psicotomiméticos
Analgésicos
Na Prática
Finalizando
SUMÁRIO – SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 04: Abordaremos temas como a epidemiologia e dados demográficos do uso de substâncias
psicoativas, fatores de vulnerabilidade emocional e social, ambientes promotores e nutridores que podem
aumentar ou reduzir as chances de transtornos relacionados ao uso, além de sugerir uma compreensão
complexa do uso de substâncias que inclua fatores genéticos e biológicos, psicológicos e sociais no uso
nocivo e na dependência de substâncias psicoativas (SPAs). Nesta aula traremos um panorama geral dos
dados epidemiológicos de prevalência e incidência do abuso de drogas no Brasil e no mundo. Abordaremos
o tema de forma a compreender os determinantes emocionais e sociais dos transtornos decorrentes do uso
de SPAs.
Conversa Inicial
Epidemiologia e dados demográficos
Vulnerabilidade emocional
Vulnerabilidade social
Ambientes nutridores
Compreensão psicossocial do abuso de drogas e dependência
Na Prática
Finalizando
AULA 05: Nessa aula o foco será na discussão ética e sobre eficácia terapêutica no tratamento de
problemas decorrentes do uso de substâncias psicoativas. A ética permeará esta aula e será a linha base na
condução da compreensão e tratamento de transtornos associados ao uso de substâncias psicoativas (SPAs).
Nesta aula, focaremos nas principais intervenções existentes nos dias de hoje para detecção e intervenção
de transtornos relacionados ao abuso de drogas. Abordaremos questões referentes às internações
voluntárias, involuntárias e compulsórias, além de temas atuais sobre redução de danos (RD).
Conversa Inicial
Diagnósticos
Intervenções
Abstinência
Internação compulsória
Uma alternativa: redução de danos
Na Prática
Finalizando
AULA 06: O objetivo desta aula será o de apresentar a você, como aluno, as principais atuações do
psicólogo na área do abuso de drogas e como vem sendo feito o manejo de situações críticas. Além disso,
visaremos discutir questões éticas referentes à medicalização do usuário e produção de autonomia. Nesta
aula, abordaremos temas importantes sobre experiências que vêm conseguindo êxito no manejo de
transtornos relacionados ao abuso de drogas. Veremos temas como tratamentos farmacológicos, terapias
psicológicas, gestão autônoma de medicamentos e um panorama futuro. A linha base dessas discussões
sobre tratamentos será traçada a partir de uma base ética de ação focada na autonomia.
Conversa Inicial
Autonomia e Ética
Gestão Autônoma
Tratamentos Farmacológicos
Terapias Psicológicas e Tratamentos Farmacológicos
Tratamentos Alternativos e Perspectivas Futuras
Na Prática
Finalizando
CONVERSA INICIAL
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TEMA 1 – HISTÓRIA, CULTURA, CONCEITO DE DROGAS E SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS
3
Em relação ao uso para fins recreativos, a droga mais consumida no
mundo e que gera transtornos ao usuário é o álcool (Peacock, 2018). Apesar de
em determinadas sociedades e determinados períodos históricos optarem pela
proibição do uso e comercialização de álcool, o seu consumo está presente
desde períodos pré-históricos (Escohotado, 2010). Além do álcool, o tabaco
também é utilizado em diversos momentos históricos com fins de interação social
e prazer. Nesse aspecto, comentaremos em aulas posteriores o papel das SPA
em produção de prazer. Essa é uma chave para a compreensão do consumo e
dos problemas que podem surgir com seu uso excessivo e ou duradouro. Todas
essas substâncias passam por questões sociais importantes ao longo da história
e podem envolver questões de aceite ou proibição do seu consumo.
Abordaremos esse tema a seguir.
1. alucinógenos ou psicotomiméticos;
2. psicodepressivos;
3. psicoestimulantes; e
4. analgésicos.
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Os principais ou mais conhecidos exemplos de cada classe serão
descritos a seguir:
6
determinadas condições genéticas são fatores de risco para um alucinógeno
produzir psicoses permantentes (Bowers Jr.; Swigar, 1983).
Em relação a danos pelo abuso de drogas de longo prazo, exemplificamos
especialmente a dependência, a ser discutida posteriormente. Além da
dependência, podemos citar também problemas em relação a sistemas
orgânicos, como sistema cardíaco, respiratório ou excretor. É de conhecimento
geral que o abuso de tabaco (cigarro) a longo prazo promove problemas
pulmonares graves. O álcool é responsável por um dos principais problemas
crônicos de dependência e danos hepáticos (Peacock et al., 2018). Substâncias
ilícitas como a Cannabis, quando utilizada precocemente, podem promover
danos de longo prazo a eixos hormonais e capacidades cognitivas na fase adulta
(Hall; Lynskey, 2016).
Sendo assim, é possível dizer que a licitude de uma substância leva em
conta seu potencial danoso na sociedade, tanto para o indivíduo quanto para a
saúde geral da comunidade. Entretanto, alguns dados sugerem que interesses
econômicos e sociais fazem parte dessa tomada de decisão, como no caso da
Guerra do Ópio (1839-1860), entre Inglaterra e China pelo controle da venda de
ópio, o que acabou culminando na supressão legal da sua venda e uso em
território asiático. Casos de conflitos semelhantes ocorreram nos Estados Unidos
em relação à lei de proibição da produção e venda de destilados e bebidas com
alto teor alcoólico, o que transportou destilarias e alambiques à ilicitude,
fortalecendo máfias locais. Pouco tempo depois, a lei foi revogada, e o álcool,
liberado. Isso demonstra que a decisão política de licitude depende de questões
tanto do efeito da substância em relação à dependência e a danos sociais quanto
em relação ao controle social e à economia.
Tomando por base esses aspectos discutidos, dizemos que drogas de
abuso são geralmente associadas às drogas ilícitas de uso recreativo. Nesse
sentido, podemos citar, no Brasil, a maconha, a cocaína e drogas injetáveis.
Então, é importante ressaltar que, quando dizemos drogas de abuso, nos
referimos a um contexto sociocultural onde uma substância é colocada como
status de ilegalidade.
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TEMA 4 – DEPENDÊNCIA E TOLERÂNCIA
8
Figura 1 – Curva dose-resposta padrão, na tolerância e na sensibilização
9
antecedentes no histórico do usuário, comorbidades, fatores de vulnerabilidade
genética e ontogenética. Transtornos mentais prévios podem contribuir para a
adesão à droga e dependência. No tema seguinte, abordaremos como fatores
socioculturais e de contexto contribuem para a dependência e efeitos de
abstinência.
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Além disso, o contexto também possui papel na sensibilização às drogas.
A exemplo desse fenômeno, Siegel (1982) demonstrou que a sensibilização de
analgésicos está ligada ao contexto em que o uso foi condicionado. Este papel
do condicionamento na sensibilização do uso de drogas pode explicar
fenômenos de overdose em humanos em ambientes distintos do uso corriqueiro,
como quartos de hotéis.
O contexto ambiental emite pistas ou sinais que podem ser condicionados
ao uso de substâncias (condicionamento clássico). Além disso, as substâncias
podem adquirir forte efeito reforçador do comportamento, fazendo com que o
ambiente também adquira propriedades reforçadoras. Esse fenômeno explica o
porquê de ambientes de festa serem tão atrativos ao consumo de SPAs, assim
como em ambientes de cultos religiosos. Esses ambientes possuem, além da
substância, reforçadora por si só, uma condição social importante de interação
com semelhantes, sexo ou comunhão de comunidade.
11
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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Além disso, vimos que o status de licitude de cada substância depende
de um contexto multifatorial. Isso inclui questões de grau de toxicidade,
dependência e impacto sobre a saúde pública. Porém, questões referentes a
ideais políticos, questões sociais e históricas complexas que atribuem um status
catastrófico a determinadas substâncias também podem influenciar a decisão
social de proibição ou liberação de substâncias psicoativas. Dessa forma, o
conceito a que nos referiremos daqui em diante será simplesmente o de
substâncias lícitas aquelas legalizadas pelo contexto local e ilegais aquelas
proibidas legalmente por cada contexto local.
Por fim, vimos conceitos de uso, abuso ou uso nocivo e dependência.
Esses conceitos se referem ao uso terapêutico ou recreativo de substâncias
psicoativas lícitas ou ilícitas enquanto o uso abusivo ou nocivo se relaciona ao
uso de substâncias lícitas ou ilícitas de forma excessiva, não controladas,
constante e que podem provocar problemas agudos ou crônicos. É importante
ressaltar que o uso recreativo ou terapêutico de substâncias psicoativas possui
importante papel na construção da história da humanidade e faz parte não só de
momentos de festa como de rituais religiosos. Já o conceito de dependência se
refere ao uso constante ou excessivo que promova efeitos crônicos deletérios no
nível psicológico. Além disso, vimos que uma das características da
dependência são as crises de abstinência na retirada da droga. Abordaremos
futuramente de forma mais detalhada o processo de dependência
fisiológica/psicológica de substâncias psicoativas. É importante ressaltar que o
uso abusivo de drogas psicoativas promove danos de longo prazo não só à
saúde do indivíduo como impactos sociais importantes. Ao longo desta
disciplina, abordaremos principalmente fatores que envolvem o uso de
substâncias de forma nociva, promovendo transtornos de longo prazo e como
tratá-los.
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REFERÊNCIAS
PEACOCK, A. et al. Global statistics on alcohol, tobacco and illicit drug use: 2017
status report. Addiction, v. 113, n. 10, p. 1905-1926, 2018.
14
ROCKMAN, G. E.; GIBSON, J.E.M. Effects of duration and timing of
environmental enrichment on voluntary ethanol intake in rats. Pharmacology
Biochemistry and Behavior, v. 41, n. 4, p. 689-693, 1992.
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Aula 1
1 2
Conceitos básicos
História, cultura, conceito de drogas e
substâncias psicoativas
Nesta aula, abordaremos conceitos básicos a
Drogas lícitas/ilícitas
serem tratados ao longo desta disciplina
Uso recreativo e uso abusivo/nocivo
Objetivo: apresentar conceitos referentes ao
histórico do uso de substâncias psicoativas, a Dependência
drogas e substâncias psicoativas, licitude, Aspectos socioculturais do uso e abuso de
uso recreativo, abuso e dependência drogas
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5 6
Abordaremos aqui o tema da legalidade das
drogas
Histórico de legalidade
Papel da toxicidade na exclusão de drogas
Drogas lícitas/ilícitas
Problemas sociais e de criminalidade
Ciência e legalidade
Ambiente propício para consumo
generalizado?
Gasto na saúde pública
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9 10
11 12
Introduziremos a questão da dependência
Dependência química versus psicológica
Questão do contexto social
Ambientes nutridores versus estressores
Dependência Grau químico de provocar dependência
Existe realmente diferença entre dependência
química e psicológica?
Sinais de dependência química
Crise e sintomas de abstinência
“Tento parar e não consigo” (DSM-V)
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Aplicação prática dos conceitos
19 20
Conceitos básicos
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23
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 2
1.1 Farmacocinética
3
toxicidade. Por exemplo, substâncias de absorção por via oral tendem a ser mais
hepatotóxicas que as absorvidas por via respiratória.
A metabolização é um processo complexo que envolve interação de
enzimas e proteínas do organismo com a substância consumida. A ação dessas
enzimas é de degradar o princípio ativo formando metabólitos (derivados da
substância composta) que podem se ligar a outros sistemas e produzir efeitos
diversos. A ação das enzimas vai ocorrer em diversos tecidos e pode aumentar
dependendo da sua exposição aos diferentes sistemas. Para vias orais, a
metabolização pode ocorrer desde o contato com a mucosa bucal até o
estômago. Esses processos, caso a substância não tenha um veículo adequado,
pode perder muito sua eficácia. Substâncias que não encontram enzimas
específicas para sua degradação e execução de suas funções tendem a ser
eliminadas nos mecanismos de excreção.
É importante compreender o mecanismo de metabolização para que se
entenda efeitos de substâncias diversas em crises de superdose de drogas e por
que pode resultar em mortes por parada respiratória ou cardíaca. Além disso,
alguns medicamentos podem ser tóxicos para determinadas pessoas justamente
pela interação dessas substâncias com a falta de enzimas metabólicas em
determinados sistemas. Por exemplo, pacientes que usam inibidores de uma
enzima chamada monoaminaoxidase, que degrada tiramina no fígado e
intestino, devem evitar o consumo concomitante com queijos ou vinhos (ricos em
tiramina). Caso contrário, pode haver uma crise metabólica por excesso de
tiramina que pode levar à morte.
O mecanismo de excreção é o processo pelo qual a substância será
eliminada do organismo. A substância então poderá ser eliminada pelo sistema
excretor (rins e trato urinário). O mecanismo de metabolização, que promove a
biotransformação, junto com os mecanismos de filtragem e eliminação do
sistema excretor incluem o que chamamos de meia-vida da droga. A meia-vida
é o tempo que leva para que uma substância reduza à metade da sua
concentração inicial. Isso possibilita calcular quanto tempo uma substância
deixará de exercer seus efeitos. No caso de uma substância psicoativa, a meia-
vida nos dá uma informação importante sobre quando o efeito psicológico
deixará de ocorrer, caso um paciente que usou a substância esteja em crise.
Isso facilita o manejo de situações de crise aguda por uso de drogas.
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1.2 Farmacodinâmica
5
intrínseca, mas que, entretanto, são efeitos opostos aos do agonista desse
receptor. A estas substâncias chamamos de agonistas inversos.
Os agonistas e antagonistas são neurotransmissores ou
neuromoduladores que interagem com os receptores para produzirem seus
efeitos. Os neurônios se comunicam a partir desse mecanismo. A comunicação
se dá por um espaço entre os terminais neuronais que chamamos sinapses. Nas
sinapses, um neurônio A pré-sináptico libera neurotransmissores que se
conectarão com receptores do neurônio B pós-sináptico. Esse mecanismo
básico demonstra como as substâncias interagem no cérebro e como produzem
efeito. Algumas substâncias estimulam liberação de neurotransmissores, ou
bloqueiam receptores pós-sinápticos, ou até bloqueiam a recaptação de
neurotransmissores excedentes na fenda sináptica (sinapse).
6
acarretará despolarização ou hiperpolarização no fim das contas. Neste sentido,
um agonista não é excitatório por si só, mas vai depender do tipo de receptor ao
qual se conecta. Da mesma forma, antagonistas de um receptor podem
desempenhar um papel excitatório no final, caso bloqueie neurônios inibitórios.
Esses mecanismos permitem compreender a complexidade de como as
substâncias psicoativas interagem no sistema nervoso, produzindo efeitos
excitatórios, inibitórios ou paradoxais (os dois ao mesmo tempo em regiões
encefálicas distintas). Agonistas inversos de receptores ionotrópicos podem
fechar mais ainda estes receptores, impedindo a passagem de íons e
promovendo inibição prolongada desses receptores.
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e/ou parciais. Isso significa dizer que um agonista parcial de um receptor
exercerá um efeito mais fraco que o agonista pleno. Além disso, se a ligação
exercida com o receptor for uma ligação fraca, alguma outra molécula com maior
afinidade pelo receptor pode deslocar essa molécula e ocupar seu local no
receptor, exercendo sua função plena. Ao contrário, um agonista com muita
afinidade formará ligações fortes com o receptor e será muito mais difícil que
seja deslocado por um antagonista ou outro agonista parcial do receptor. A
eficácia de uma droga se refere à sua capacidade de desencadear uma resposta
e/ou translocar moléculas competidoras. Já a eficiência de uma droga se refere
à capacidade de, em baixas concentrações, uma droga exercer um efeito.
Em relação ao sistema nervoso, tanto a eficácia quanto a eficiência vão
depender de mecanismos tanto farmacocinéticos quanto farmacodinâmicos.
Farmacocinético pois dependerá de como a droga será absorvida e degradada
no organismo para que exerça um pleno e máximo efeito sobre o sistema
nervoso. E farmacodinâmico pois dependerá do princípio ativo da substância, se
ela é um agonista pleno ou parcial do receptor alvo. Além disso, em relação a
mecanismos farmacodinâmicos, é preciso reconhecer que cada substância
possui adjuvantes que são compostos não psicoativos que ajudam a carregar o
princípio ativo até seu alvo. Por exemplo, comprimidos ou cápsulas possuem um
envoltório gelatinoso que impedem a degradação da droga antes que alcance o
intestino e seja absorvido para depois ser distribuído pela corrente sanguínea.
Portanto, devemos avaliar a eficácia e eficiência de um medicamento
sempre em comparação a outros medicamentos ou drogas. Por exemplo, como
visto na Figura 1, a substância A possui uma eficiência maior que a substância
B, por produzir um efeito maior com uma dose menor, e as substâncias A e B
possuem uma eficácia maior que a C por possuir um efeito máximo maior que a
C. Note, então, na figura, que A é mais eficiente que B e C. A e B têm maior
eficácia que C.
8
Figura 1 – Curva dose resposta comparando duas substâncias com mesmo
princípio ativo, com, entretanto, eficácia e eficiências distintas
9
intrínseca ou bloqueando seu funcionamento e assim desempenhando seus
efeitos observáveis. Neste tema, abordaremos os diferentes tipos de receptor e
as possíveis drogas que interagem com eles. Não abordaremos a função e
efeitos de cada droga, já que esse tema será discutido nas aulas a seguir,
entretanto, introduziremos de forma a compreender a importância de cada
receptor para a função dessas drogas. Dividiremos 3 tipos de receptores
baseado em seus efeitos. Os receptores excitatórios, inibitórios e modulatórios.
A rigor, todos os tipos podem ser modulatórios, entretanto, dois tipos são
intrinsecamente ou quase sempre excitatórios ou inibitórios, ou seja, podem inibir
a função neuronal ou promover o disparo elétrico através da entrada de íons e
mudança no potencial elétrico interno do neurônio.
Receptor excitatório são receptores basicamente de glutamato. Eles
podem ser tanto ionotrópicos quanto metabotrópicos. Dentre os metabotrópicos
citamos os tipos AMPA e mGluR enquanto o ionotrópico é o receptor NMDA ( ).
Como comentado anteriormente, os receptores metabotrópicos são associados
a outras proteínas transmembranares que desencadeiam respostas metabólicas
celulares. O receptor NMDA é o principal receptor ionotrópico excitatório,
permitindo entrada de íons de sódio e a saída de íons de potássio (bomba de
sódio-potássio), gerando potencial de ação no neurônio.
Receptor inibitório são receptores basicamente de GABA (ácido gama-
aminobutírico). Os receptores GABA se dividem em dois subtipos, os GABAa e
GABAb. Os receptores GABAa são receptores ionotrópicos que contam com
algumas subunidades, incluindo uma para GABA propriamente, etanol,
benzodiazepínicos e barbituratos (anestésicos clássicos). Cada subunidade
dessas se acoplam a alguma substância que potencializa a abertura do canal
iônico de GABA que permite a saída de cloro negativamente carregado que inibe
a função do neurônio. Já os receptores GABAb fazem parte dos receptores
metabotrópicos de GABA, que também possuem função inibitória.
Receptores modulatórios são todos os outros receptores que modulam
a ação tanto excitatória quanto inibitória dos neurônios. Além disso, grande parte
desses receptores metabotrópicos possuem papéis singulares importantes em
determinadas funções como controle do comportamento reforçado, como o da
dependência. Dentre estes, podemos citar os receptores de dopamina,
serotonina, de opioides, de noradrenalina, acetilcolina, de adenosina e de
canabinoides. Diversos outros receptores modulatórios se incluem nesse
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espectro, entretanto discutiremos estes que são, ao menos até agora,
conhecidos como os principais neuromoduladores. Também é importante
ressaltar que a neurotransmissão que dependem desses receptores incluem
outras células de apoio além dos neurônios, como as células da glia.
Os receptores dopaminérgicos incluem duas famílias, a família D1 e D2,
sendo que a D1 inclui o receptor D1 e D5 e da família D2 os receptores D2, D3
e D4. Eles se ligam à dopamina, que é produzida através da enzima L-DOPA e
que é degradada por enzimas que degradam monoaminas como a dopamina e
serotonina, a monoaminaoxidase (MAO). São receptores extremamente
importantes pois constituem grande parte do sistema de recompensa cerebral,
sendo produzidas pela área tegmental ventral, que envia essas projeções
dopaminérgicas para grandes centros de recompensa como o núcleo
accumbens, além do córtex pré-frontal. Muitas substâncias afetam o sistema de
dopamina, e é através dele que grande parte dos sintomas de dependência se
formam.
Outro grupo de receptores modulatórios importantes são os de serotonina.
Popularmente, a serotonina é conhecida como sendo produtora de bem-estar,
mas não é bem assim. Os receptores serotoninérgicos são formados por
inúmeros grupos receptores como 5-HT1A, 5-HT-2ª, 5-HT2-C, Receptor 5-HT3,
Receptor 5-HT4 e Receptor 5-HT 6. Esses receptores fazem parte de uma
complexa rede de conexão serotoninérgica que engloba desde a medula espinal
até grandes centros corticais. Alguns dos principais alucinógenos e
antidepressivos atuam sobre estes receptores.
Além da dopamina e serotonina, outros receptores importantes fazem
parte da modulação da dependência e outros transtornos relacionados ao uso
de substâncias. O grupo de receptores opioides que englobam Mu, Delta e
Kappa fazem parte do sistema de inibição da dor e são utilizados por algumas
drogas como opioides, heroína dentre outros. Além disso, também podem estar
envolvidos na modulação dopaminérgica em vias de recompensa. Também, o
receptor opioide kappa é alvo de alguns tipos de alucinógenos como a
salvinorina.
Receptores adrenérgicos (noradrenalina), colinérgicos (nicotínico e
muscarínico), adenosina (P1 e P2) e canabinoides (CB1 e CB2) também estão
inclusos nesse grupo. Receptores adrenérgicos alfa e beta fazem parte de
diversos sistemas emocionais. Receptores colinérgicos são alvos de algumas
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substâncias como a nicotina do cigarro e alguns alucinógenos que utilizam
receptores muscarínicos. Receptores de adenosina são alvo da cafeína (como
antagonistas). Por fim, os receptores canabinoides, descobertos mais
recentemente, são alvos do delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o princípio ativo
psicoativo da Cannabis (maconha).
12
conta da alta demanda. Esse é um mecanismo utilizado por antidepressivos, por
exemplo. Entretanto, após uma alta demanda, o sistema utiliza a grande
quantidade de neurotransmissores e a disponibilidade é reduzida. Com a
disponibilidade reduzida, um mecanismo contrário entra em jogo, o que
chamamos de regulação para baixo, em que a ausência de neurotransmissores
reduz a disponibilidade de receptores, gerando um desbalanço de longo prazo.
Esse mecanismo peptidérgico de neuroplasticidade é um dos responsáveis por
mecanismos de dependência, tolerância e overdose.
A tolerância está associada com a regulação para cima, enquanto a
sensibilização está associada à regulação para baixo através do uso de longo
prazo de uma droga. Essa sensibilização devido a várias fases de abstinência
da substância também facilitam doses fatais (overdose) com baixas doses da
substância de escolha. Além desses mecanismos, a modificação morfológica
dos neurônios envolve modificações genéticas e epigenéticas nos neurônios que
modificam seu metabolismo através de interações complexas com receptores
metabotrópicos. Isso faz com que células residentes não neuronais (glia)
efetuem modificações a nível inflamatório que geram outros efeitos deletérios
com o uso de substâncias, como sintomas depressivos, ansiosos ou psicóticos.
Esses mecanismos incluem mudanças no tamanho do neurônio, morte celular e
alterações dentríticas (nas terminações do neurônio), impactando a
comunicação sináptica entre os neurônios.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
15
REFERÊNCIAS
16
Aula 2
1 2
3 4
5 6
Farmacocinética
Absorção
Farmacodinâmica
Veículo
Sinapse: interação droga-receptor
Distribuição
(chave-fechadura)
Metabolização
Afinidade e atividade intrínseca
Interação com enzimas de degradação
Agonistas e antagonistas
Meia-vida
Agonista inverso
Excreção
Eliminação
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Tipos de receptores
Ionotrópicos
Canais iônicos
Bomba sódio-potássio (polarização e
despolarização neuronal) Eficácia e eficiência
Metabotrópicos
Complexos proteicos
Segundos mensageiros
Ação sobre outros receptores ou
modificações metabólicas
11 12
Eficácia e eficiência
Nível de competitividade por receptor
Neste tema discutiremos os conceitos de
Ligação forte versus ligação fraca
eficácia e eficiência de drogas
Efeito máximo possível
Dose letal versus dose eficaz (DE50/DL50)
13 14
15 16
17 18
A neuroplasticidade é a chave para a
compreensão da dependência às drogas
Mecanismos de neuroplasticidade
Abordaremos os principais mecanismos
pelos quais o cérebro se modifica por
estimulação neuroquímica
19 20
21 22
23 24
Finalizando Nesta aula abordamos diversos
conceitos importantes e básicos da
neuropsicofarmacologia
25 26
Farmacodinâmica e farmacocinética
O que a droga faz no corpo e o que o
Introdução aos tipos de
corpo faz com a droga receptores-neuropeptídeos
Interação droga-receptor Receptores excitatórios, inibitórios e
Mecanismo chave-fechadura modulatórios
Ionotrópicos versus metabotrópicos Mecanismos de neuroplasticidade
Eficácia e eficiência de drogas Regulação para cima versus regulação
Força de ligação e capacidade de produzir para baixo
efeito
Sensibilização versus tolerância
Dose efetiva versus dose letal
27 28
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 3
2
Figura 1 – Tradução dos termos na imagem (sentido horário): Sistema de
dopamina; Estriado; Substância negra; Cerebelo; Medula espinal; Area
tegmental ventral; Lobo frontal
TEMA 2 – PSICODEPRESSORES
TEMA 3 – PSICOESTIMULANTES
TEMA 4 – PSICOTOMIMÉTICOS
6
possuem origem natural, como a ayahuasca, peyote, psilocibina e amanita
muscaria.
A maconha possui receptores específicos aos quais se ligam. A
maconha é uma planta com mais de 100 compostos ativos, denominados
canabinóides, e se assemelham aos canabinóides endógenos, como a
anandamina e o 2- araquidonilglicerol. Os principais compostos ativos da
maconha que se encontram em maior concentração são geralmente o Delta-9-
Tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O composto psicoativo é o
THC, que exerce função por meio da agonização do receptor CB1. Já o CBD
possui mecanismos alostéricos que acabam por inibir o receptor CB1 e é
responsável pelos efeitos ansiolíticos da droga. Ou seja, são efeitos
antagônicos na mesma planta que possuem como resultado final o
aparecimento de alucinações, delírios, alteração da consciência, relaxamento,
prazer e redução da ansiedade. A maconha interage com o sistema de
recompensa e também pode gerar dependência (Hasan et al., 2020).
Já outros psicotomiméticos possuem efeitos geralmente sobre
receptores modulatórios serotoninérgicos. Tanto o LSD, DMT, peyote e
psilocibina são agonistas de receptores serotoninérgicos. No caso especial da
ayahuasca, contamos com dois compostos: a beta-carbolina, um inibidor de
monoamina oxidase, e um agonista de receptor de serotonina. Isso significa
dizer que mais serotonina estará disponível na fenda sináptica e que não serão
degradadas pela sua enzima de degradação (MAO). Ou seja, haverá uma
super ativação do sistema serotoninérgico. Isso pode gerar fortes efeitos
alucinógenos que podem ser irreversíveis, mas também pode gerar efeitos
antidepressivos e anti-dependência de outras substâncias (Dos Santos et al.,
2016). Já a ibogaína, extraída de uma raíz de iboga, possui mecanismo de
ação ainda desconhecido, incluindo agonista serotoninérgico, dopaminérgico e
antagonista de receptores de glutamato (Dos Santos et al., 2017).
Um mecanismo atípico dentre os alucinógenos está na Amanita
Muscaria, uma espécie de fungo de cor avermelhada que antes se acreditava
possuir efeitos sobre receptores colinérgicos muscarínicos, até ser descoberto
seu efeito como agonista de receptor GABA e Glutamato simultaneamente.
Essa estimulação gera toxicidade cerebral e pode gerar efeitos sobre a
consciência e sensibilidade (De Carolis et al., 1969).
7
Outro caso interessante de alucinógenos é o da Salvinorina A, que,
diferente dos alucinógenos abordados anteriormente, possuem seu mecanismo
de ação pela ativação de receptores Kappa opioides. A Salvinorina vem de
uma planta chamada sálvia que em grandes quantidades pode provocar
efeitos alucinógenos (Butelman; Kreek, 2015). Além dos seus efeitos
alucinógenos, também é considerado que pode possuir efeitos terapêuticos
para alguns transtornos mentais.
As substâncias alucinógenas apresentam alguns problemas no seu uso.
O primeiro se refere a seus efeitos agudos que podem gerar sintomas de
ansiedade elevada e confusão mental para os usuários menos acostumados ou
que fizeram uso irregular exagerado. O segundo efeito se refere ao seu uso
crônico, aumentando a vulnerabilidade para o surgimento de psicoses como a
esquizofrenia (Bowers, 1983). Entretanto, o uso de alucinógenos no tratamento
de transtornos aditivos (dependência) tem sido proposto recentemente (dos
Santos et al., 2016; dos Santos et al., 2017; Krebs; Johansen, 2012). Ou seja,
apesar de seus efeitos agudos e crônicos, estas substâncias parecem possuir
pouco efeito aditivo e ainda podem contribuir no tratamento de outras
dependências.
TEMA 5 – ANALGÉSICOS
Crédito: Blamb/Shutterstock.
9
O estímulo doloroso funciona como uma sinalização aversiva; quando
seu funcionamento é cessado, gera efeitos reforçadores. Distúrbios neste
mecanismo podem gerar uma confusão entre um e outro (Leknes; Tracey,
2010). Mas, para nossa análise, estaremos interessados na dependência de
opioides e como eles podem gerar prazer e adicção. O sistema opioide
interage com o sistema dopaminérgico no sistema límbico, na via mesolímbica,
responsável pela modulação do comportamento motivado (Devine et al., 1993).
Este efeito explica o fenômeno do prazer ao uso de opioides, como a morfina,
heroína e próprio ópio. A heroína é um dos principais opioides de abuso
utilizados no mundo. É um opioide semi-sintético que possui um efeito rápido e
intenso, tolerância rápida e um efeito de abstinência também muito intenso, o
que explica seus efeitos devastadores (Siegel, 1982). Além disso, outros
opioides, como a hidroxicodona, fentanil e morfina, de uso clínico, também
promovem problemas associados ao seu uso. Neste caso, o efeito de
dependência tem muita correlação com o tratamento de dores crônicas (Kreek,
1996).
Os opioides possuem a característica de ter uma janela efetiva muito
pequena, em que a dose efetiva e dose tóxica são muito próximas. Sendo
assim, os efeitos tóxicos aparecem muito cedo com seu uso, que consistem em
constipação, crises de abstinência intensa e parada cardiorrespiratória. Além
disso, a alta tolerância facilita o aparecimento de efeitos de dependência
(Vowles et al., 2015).
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
• Psicodepressores;
• Psicoestimulantes;
• Psicotomiméticos;
• Analgésicos.
11
abordamos também foi o da Cetamina, utilizada como anestésico dissociativo
de uso veterinário e que também é usado em contexto de festa. Entretanto,
vimos que seu mecanismo de ação atua sobre a inibição de receptores NMDA
de glutamato, quase sempre excitatório no SNC.
Além disso, em relação aos psicoestimulantes, vimos que os principais
são cafeína (mais consumida no mundo por meio do café), cocaína e
anfetaminas, como o ecstasy. No caso da cafeína, vimos que seu mecanismo
de ação se dá pela inibição dos receptores de adenosina, gerando efeito
excitatório periférico e central, desencadeando respostas psicomotoras
exacerbadas. Já outras drogas psicoestimulantes como a cocaína e as
anfetaminas se dão pela inibição da recaptação de dopamina, por meio do
antagonismo de receptores pré-sinápticos. Esses efeitos descritos no sistema
límbico geram prazer, autoconfiança e um forte efeito de dependência, já que
podem ser capazes de promover plasticidade muito rapidamente nessas
regiões. Ressaltamos que, por alterar sistemas dopaminérgicos, a cocaína e
anfetaminas podem, em doses elevadas ou uso prolongado, desencadear
respostas típicas de psicose, como alucinações e delírios.
Discutimos que as drogas psicotomiméticas são aquelas que produzem
efeitos similares aos da psicose. Cocaína e anfetaminas não estão inclusas
nesta classe por ter como seu efeito primário gerar perturbação psicomotora.
Os psicotomiméticos são amplamente encontrados na natureza e funcionam
por diferentes mecanismos. A maconha possui seu mecanismo próprio por
aumentar função de receptores canabinóides enquanto o LSD, psilocibina,
dentre outros funcionam pelo agonismo do sistema serotoninérgico.
Interessante que a ayahuasca possui dois componentes: um que aumenta o
tônus serotoninérgico no córtex pré-frontal e outro que inibe a ação da enzima
que degrada serotonina, aumentando seus efeitos de maneira sinérgica.
Por fim, falamos dos analgésicos, principalmente os opioides. Eles
atuam em receptores opioides, que estão associados ao controle da dor. Vimos
que receptores opioides no sistema de recompensa são responsáveis pelo
estabelecimento de comportamentos reforçados e que podem gerar prazer em
humanos. Alguns opioides, como o próprio ópio e a heroína, são usados em
larga escala como drogas de abuso. A morfina, de uso médico para inibir a dor
também, têm sido utilizada para fins recreativos. Em pacientes com dores
crônicas, vimos que a dependência de opioides é muito mais presente também
12
pelo seu efeito de reforço negativo pela eliminação da dor. Por fim, é
importante ressaltar que são drogas que produzem alta tolerância e de forma
muito rápida, o que pode gerar aumento de dose e de seus efeitos colaterais,
como parada cardiorrespiratória.
Todas essas classes podem ser coadministradas em usuários de SPAs.
Em ambientes de festa, por exemplo, é comum observar multiusuários que
misturam álcool e outras drogas. Vimos que algumas dessas combinações
podem ser perigosas e até fatais. Neste sentido, apresentamos as principais
substâncias psicoativas e como podem gerar efeitos maléficos isoladamente e
em combinação.
13
REFERÊNCIAS
14
KRYSTAL, J. H. et al. Ketamine: a paradigm shift for depression research and
treatment. Neuron, v. 101, n. 5, p. 774-778, 2019.
OLDS, J. Self-stimulation of the brain: Its use to study local effects of hunger,
sex, and drugs. Science, v. 127, n. 3294, p. 315-324, 1958.
PEACOCK, A. et al. Global statistics on alcohol, tobacco and illicit drug use:
2017 status report. Addiction, v. 113, n. 10, p. 1905-1926, 2018.
15
VOWLES, K. E. et al. Rates of opioid misuse, abuse, and addiction in chronic
pain: a systematic review and data synthesis. Pain, v. 156, n. 4, p. 569-576,
2015.
16
Aula 3
1 2
3 4
5 6
Via mesolímbica
Abordaremos como as drogas funcionam
no cérebro como forma de produzir prazer Via mesocortical
Mecanismo de manutenção do Área tegmental ventral
comportamento de autoadministração Nucleus accumbens
de drogas
Córtex frontal
7 8
Sistema de dopamina
Estriado
Lobo frontal
Substância negra
Papel da dopamina
Papel da glutamina
Papel dos opioides
Cerebelo
Area tegmental ventral
Medula espinal Vasilisa Tsoy / Shutterstock
9 10
11 12
Álcool: agonista de receptores de GABA
Benzodiazepínicos: liga-se a uma subunidade
para benzodiazepínicos de receptor GABA e O álcool e a ketamina podem inibir a inibição
aumenta sua atividade quando ligado ao seu de dopamina no sistema de recompensa,
agonista gerando prazer e possível dependência
Ketamina: antagonista de receptor NMDA de
glutamato
13 14
15 16
17 18
Caso especial da nicotina (tabaco/cigarros)
Efeitos relaxantes e estimulantes
Ingestão repetida ou excessiva de Agonista colinérgico (receptor
estimulantes dopaminérgicos provoca nicotínico)
Sintomas psicóticos Atuação sobre outros mecanismos
Ansiedade neurotransmissores, incluindo
dopamina (por inibidores da
monoaminaoxidase), gerando
efeitos de prazer e dependência
19 20
21 22
23 24
Abordaremos os principais analgésicos e
seus efeitos e discutiremos por que podem
Analgésicos produzir dependência
Interação do sistema de dor com o de prazer
Opioides e dopamina na via mesolímbica
25 26
Opiáceos (ópio)
Opioides (morfina, heroína, tramadol, fentanil,
entre outros)
Agonista de receptores opioides
Na Prática
Efeito analgésico (reforço negativo) e de
prazer (reforço positivo)
Rápida tolerância e poder de dependência
Efeitos colaterais como constipação, crises
de abstinência e parada cardiorrespiratória
27 28
29 30
Efeitos das substâncias no organismo
parte 2: efeitos de drogas
31 32
33 34
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 4
2
No ano anterior ao levantamento deste estudo da Fiocruz, o uso do crack
foi reportado por 0,3% da população. A pesquisa destaca, porém, que esses
resultados devem ser observados com cautela, uma vez que o inquérito
domiciliar não é capaz de captar as pessoas que são usuárias e não se
encontram regularmente domiciliadas ou estão em situações especiais, como
vivendo em abrigos ou em presídios. A computação de pessoas que vivem em
ambientes onde a coleta de dados é difícil pode impactar no número de usuários,
tendo em vista o caso das “cracolândias” no Brasil.
Os números do levantamento em relação ao uso de crack são importantes
por revelarem uma discrepância em relação ao dado e a realidade. O percentual
do 3º Levantamento é inferior ao que aparece na Pesquisa Nacional do Uso do
Crack (Bastos; Bertoni, 2014), já que o levantamento foi domiciliar nesta
pesquisa mais atual. Entretanto, como comentado anteriormente, os usuários de
crack fazem parte de uma população majoritariamente marginalizada, que vive
em situação de rua e/ou em grandes centros de usuários de crack. Sendo assim,
os dados corroboram o problema de saúde pública, que é o uso de crack no
Brasil. A frequência mais baixa quando levantamos dados domiciliares revela
que o consumo dessa substância no país é um fenômeno socioeconômico grave
nos espaços públicos.
Este grande estudo também levanta dados sobre o abuso de
medicamentos sem prescrição. Ou seja, drogas de uso clínico sendo usadas de
forma recreativa ou desordenada, causando prejuízos aos usuários e pacientes.
Por exemplo, o uso dos analgésicos opioides e de tranquilizantes
benzodiazepínicos se apresentaram como as maiores escolhas como drogas de
abuso. Os dados apontam que 30 dias antes do fim do estudo os usuários
relataram ter consumido de forma não prescrita, ou de modo diferente àquele
recomendado pela prescrição médica, sendo 0,6% e 0,4% da população
brasileira, respectivamente. Esse é um número que se assemelha a dados
obtidos em países norte-americanos, onde o abuso de opioides é grande,
principalmente em pacientes com dores crônicas.
Com relação às drogas lícitas, o estudo demonstrou uma redução no
consumo do tabaco. Entretanto, há um aumento no fumo por vias alternativas
como cigarros eletrônicos e narguilés. Cerca de 33% dos brasileiros declarou ter
fumado cigarro industrializado pelo menos uma vez na vida. Já nos 30 dias
3
anteriores à pesquisa, foram 13,6%, o que corresponde a 20,8 milhões de
pessoas.
A substância psicoativa mais consumida continua sendo o álcool. É um
grande problema quando nos referimos ao uso de drogas, ainda mais por ser
uma droga lícita no Brasil. Mais da metade da população brasileira de 12 a 65
anos declarou ter consumido bebida alcóolica alguma vez na vida.
Aproximadamente 46 milhões de brasileiros, o que se aproxima de 30,1%,
informaram ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias anteriores à
pesquisa. Além disso, aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram
critérios para dependência de álcool nos 12 meses anteriores à pesquisa. Um
dado alarmante no que se refere a problemas associados ao uso de substâncias,
já que sabemos da relação do álcool com diversos outros transtornos.
Neste sentido, a relação entre álcool e diferentes formas de violência
também foi abordada pelo estudo. Aproximadamente 14% dos homens
brasileiros de 12 a 65 anos dirigiram após consumir bebida alcoólica, nos 12
meses anteriores à entrevista. Entre as mulheres houve uma estimativa de 1,8%.
A percentagem de pessoas que estiveram envolvidas em acidentes de trânsito
enquanto estavam sob o efeito de álcool foi de 0,7%. Cerca de 4,4 milhões de
pessoas reportaram ter discutido com alguém sob efeito de álcool nos 12 meses
anteriores à entrevista, sendo que destes, 2,9 milhões eram homens e 1,5
milhão, mulheres. A prevalência de ter reportado que “destruiu ou quebrou algo
que não era seu” sob efeito de álcool também foi estaticamente significativa e
maior entre homens do que entre mulheres (1,1% e 0,3%, respectivamente).
Estes dados são extremamente preocupantes e possivelmente a maior
preocupação quando o assunto é problemas relacionados ao uso de substância.
Em relação à toxicidade e riscos de morte, levantou-se que a percepção
do brasileiro quanto às drogas atribui mais risco ao uso do crack do que ao álcool:
44,5% acreditam que crack é a droga associada ao maior número de mortes no
país, enquanto apenas 26,7% colocaram o álcool no topo do ranking. Entretanto,
dados deste estudo e da Organização Mundial de Saúde atribuem um risco de
mortalidade maior ao uso abusivo de álcool, direta ou indiretamente, seja por
intoxicação, doenças hepáticas, acidentes de trânsito ou violência doméstica.
No Brasil, o álcool e o crack representam grandes desafios à saúde
pública. O álcool pela sua ampla penetração na sociedade, e o crack pelo seu
efeito deletério rápido e com alta carga de marginalização. Os jovens brasileiros
4
estão consumindo drogas com mais potencial de provocar danos e riscos, como
o próprio crack. Além disso, entre jovens há uma tendência ao multiusuário, ou
seja, usuários que utilizam diversas drogas ao mesmo tempo.
Referente ao abuso de álcool e outras drogas no mundo, a prevalência
estimada entre a população adulta era de 18,4% para uso pesado de álcool,
15,2% para o tabagismo diário, e 3,8% para o uso de Cannabis (maconha),
0,77% para anfetamina, 0,37% para opioide e 0,35% para o uso de cocaína. Os
países europeus tiveram a maior prevalência de uso de álcool e uso diário de
tabaco. A prevalência de dependência de álcool padronizada por idade foi de
843,2 por 100 mil habitantes; para Cannabis, opioides, anfetaminas e
dependência de cocaína foi de 259,3, 220,4, 86,0 e 52,5 por 100 mil habitantes,
respectivamente.
Regiões de alta renda na América do Norte tiveram uma das maiores
taxas de dependência de Cannabis, opioides e cocaína no mundo. Uma
ferramenta usada para mensurar o dano causado pelas drogas, aponta que
estes foram mais elevados para o tabagismo (170,9 milhões), seguido por álcool
(85 milhões) e drogas ilícitas (27,8 milhões). As taxas de mortalidade associadas
ao uso de substâncias psicoativas foram mais altas para o tabagismo (110,7
mortes por 100.000 habitantes), seguidas por álcool e drogas ilícitas (33,0 e 6,9
mortes por 100.000 habitantes, respectivamente). As taxas de mortalidade
padronizadas por idade associadas aos danos à vida causados pelo álcool e
drogas ilícitas eram mais altas na Europa Oriental; as taxas de mortalidade por
tabaco padronizadas por idade associadas, assim como seu dano, foram mais
altas na Oceania. Ao que parece, o tabagismo no mundo é um problema mais
grave que o que observamos aqui no Brasil.
Em 2015, o uso de álcool e tabagismo custou à população humana mais
de um quarto de bilhão de anos de vida, com as drogas ilícitas custando mais
dezenas de milhões. Os europeus sofreram proporcionalmente mais, mas em
termos absolutos a taxa de mortalidade foi maior em países de renda baixa e
média com grandes populações e onde a qualidade dos dados era mais limitada.
É importante ressaltar que métodos mais padronizados e rigorosos para coleta
de dados, comparação e relatórios são necessários para avaliar com mais
precisão as tendências geográficas e temporais no uso de substâncias e sua
carga de doenças. É importante ressaltar também que os fatores sociais, como
discutiremos a seguir, são importantes fatores na vulnerabilidade e mortalidade
5
de usuários de substâncias psicoativas. Todos os dados referentes ao consumo
mundial de álcool e outras drogas encontram-se em Peacock et al., 2018.
7
Como comentado em aulas anteriores, a questão do abuso de drogas está
atrelada sempre a uma legalidade suposta pelo contexto político vigente. Esse
controle legal das drogas por vezes pode gerar complicações no que se refere à
disponibilidade de SPAs, qualidade e controle. Nesse quesito, a ausência de
controle de qualidade permite a circulação de substâncias mais perigosas e mais
tóxicas. Além disso, a compra e venda dessas substâncias estão nas mãos de
criminosos, expondo usuários à esta situação. Em um contexto de pobreza o
crime organizado faz uso destes mecanismos para dominar uma região e
disponibilizar a essa população tais substâncias. Nesse contexto, por exemplo,
há o surgimento de drogas como o crack no Brasil ou o krokodil no leste europeu
(droga à base de heroína com outros solventes fortes injetáveis com graves
reações orgânicas que levam à necrose). Estas substâncias são extremamente
baratas e geram outros problemas de vulnerabilidade social mais danosos que
o próprio uso da cocaína ou heroína.
Populações mais pobres estão sempre à disposição deste tipo de
situação. Além disso, situações econômicas desfavoráveis são fatores de
vulnerabilidade para o abuso de drogas. Por exemplo, pessoas em crises
econômicas tendem a consumir mais substâncias entorpecentes no sentido de
fugir, mesmo que momentaneamente, da realidade à qual vivem. Isso pode
também aproximar o usuário de situações de risco e dependência ao uso, como
o abuso de álcool. Como abordado anteriormente, fatores de pobreza estão
atrelados ao nível de mortalidade associado ao uso de substâncias (Peacock et
al., 2018).
É importante dizer também que estas situações vulneráveis acabam por
impactar negativamente os gastos em saúde pública. Sabemos que no mundo e
no Brasil gasta-se muito por ano com o tratamento de usuários com problemas
associados ao uso de substâncias. É preciso que problemas do uso de
substâncias sejam abordados de maneira multifatorial, compreendendo que
alterações sociais são extremamente importantes se quisermos alcançar uma
melhor eficácia no manejo de situações em que haja problemas relacionados ao
uso de substâncias.
9
ensino e educação de alunos à cidadania, respeito e cooperação; e comunidades
prósperas, com redução de pobrezas e disponibilidade de mobilidade social a
partir do reconhecimento individual de seus esforços e comportamentos
cooperativos.
Em relação às mudanças sociais na comunidade, é necessário o controle
de condições tóxicas como a pobreza. A pobreza é um fator de vulnerabilidade
social como comentamos anteriormente. Ela impõe problemas de acesso e
manutenção da saúde, além da questão do acesso à educação e condições
básicas e dignas de vida.
As famílias também podem atuar na manutenção de ambientes
nutridores. Elas criam ambientes férteis para o desenvolvimento de seus filhos,
diminuindo as interações aversivas. As ações de prevenção com famílias podem
diminuir o número de jovens que desenvolvem algum tipo de problema
psicológico que se inicia no período pré-natal à adolescência (Biglan, 2015).
Dessa forma, ao abordarmos o conceito de ambientes nutridores,
chamamos a atenção para a implementação de medidas de prevenção no
surgimento de transtornos, incluindo os relacionados ao uso de substâncias
psicoativas. De acordo com Biglan, as ações necessitam da implementação de
políticas públicas baseadas em evidências, com constante avaliação e
disseminação generalizada. Essas políticas públicas devem promover o bem-
estar humano, redução da pobreza e de desigualdades econômicas e sociais.
Além disso, a mídia deve exercer um papel primordial na disseminação dessas
ações.
Os transtornos relacionados com o uso de drogas possuem um grande
impacto social e econômico como discutimos anteriormente. Sendo assim, o
delineamento de políticas públicas no sentido da promoção de ambientes
nutridores é de extrema importância na prevenção do aparecimento desses
problemas, tratamento dos casos e acompanhamento seguro dos usuários de
substâncias. Os ambientes nutridores teriam por objetivo reduzir a
vulnerabilidade desses usuários em questões como a dependência e outros
transtornos psicológicos que surgem com o seu uso.
10
TEMA 5 – COMPREENSÃO BIOPSICOSSOCIAL DO ABUSO DE DROGAS E
DEPENDÊNCIA
11
NA PRÁTICA
12
cunho social-econômico e de saúde se torna uma questão de segurança e
polícia.
FINALIZANDO
14
REFERÊNCIAS
BASTOS F. I.; BERTONI N. Pesquisa nacional sobre uso de crack: quem são
os usuários de crack e/ou similares no Brasil? Quantos são nas capitais
brasileiras? Rio de Janeiro: Fiocruz/ICICT, 2014. 224 p.
BIGLAN, A. The nurture effect: how the science of human behavior can improve
our lives and our world. Oakland, Califórnia: New Harbinger Publications, 2015.
PEACOCK, A. et al. Global statistics on alcohol, tobacco and illicit drug use: 2017
status report. Addiction, v. 113, n. 10, p. 1905-1926, 2018.
REHM, J.; TAYLOR, B.; ROOM, R. Global burden of disease from alcohol, illicit
drugs and tobacco. Drug and alcohol review, v. 25, n. 6, p. 503-513, 2006.
15
RODRIGUES, L. B. F. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do
proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Programa de Pós-Graduação
em Direito, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
16
Aula 4
1 2
3 4
5 6
Dados gerais no Brasil e no mundo
Veremos neste tema os principais dados Dados epidemiológicos de dependência
sobre transtornos decorrentes do uso de Dados de morte por superdose (overdose)
substâncias psicoativas
Principais drogas que causam morte por
superdose
7 8
9 10
11 12
Genética Vulnerabilidade social
Transtornos prévios
13 14
15 16
17 18
Ambiente enriquecido ou nutridor
Compreensão psicossocial do
Adesão à droga, abstinência e dependência
abuso de drogas e dependência
Abuso de álcool em animais
Anthony Biglan e ambientes nutridores
19 20
21 22
23 24
Exemplo prático dos níveis de análise no
abuso de drogas
Propensão genética
Via de absorção (respiratório) efeito
rápido, intenso e curto
Prevalência do uso de crack em jovens
Capacidade de receber agonistas
pobres
dopaminérgicos (capacidade de gerar
recompensa)
25 26
27 28
29 30
Abordamos dados de vulnerabilidade social
e emocional
Discutimos sobre uma perspectiva
psicossocial do fenômeno dos
transtornos decorrentes de SPAs
31
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 5
TEMA 1 – DIAGNÓSTICOS
2
Uma característica importante dos transtornos por uso de SPAs é a
alteração nos circuitos cerebrais, que persistem após a retirada da droga. Esses
efeitos de neuroplasticidade podem provocar transtornos e outros sintomas de
longo prazo como impacto cognitivo e comportamental. Um dos principais
sintomas presentes nessa remodulação cerebral é a recaída, a fissura pela droga
e sintomas de abstinência, como as convulsões e a irritabilidade. Além disso,
estímulos pareados ao uso dessas substâncias também podem provocar esses
efeitos deletérios.
O diagnóstico de um transtorno por uso de SPA identifica um padrão
patológico de comportamentos relacionados ao seu uso, estabelecido por uma
relação causal e temporal. Segundo o DSM, alguns critérios são utilizados para
o diagnóstico do uso de substâncias, como deterioração social, perda do controle
sobre o próprio uso, uso arriscado e critérios farmacológicos (associados à
especificidade da substância). Além disso, o consumo da substância em grandes
quantidades ao longo do tempo e o aumento do consumo acima do pretendido
estão relacionados ao diagnóstico. Outro critério é a tentativa repetida e
malsucedida de reduzir ou regular o uso. Ainda, outro critério é o gasto excessivo
de tempo, esforço e dinheiro para usar uma substância e ter seu efeito. Por fim,
o controle da droga sobre a vida da pessoa, em que toda sua atividade gira em
torno de adquirir a substância de escolha.
O ambiente pode estar associado ao uso de substância, então, a
frequência nesses lugares é caracterizada também como problema relacionado
ao uso. Já o condicionamento da fissura pela droga se enquadra como problema
relacionado. E o efeito tem por base a alteração da plasticidade em circuitos
cerebrais de recompensa.
O uso recorrente de substâncias resulta em uma dificuldade em cumprir
atividades básicas diárias, como trabalho e estudos. Além disso, esses efeitos
são preditores de recaídas no uso. Nesse sentido, o indivíduo continua utilizando
a substância mesmo com danos interpessoais e sociais causados pela
substância, como a violência, afastamento e criminalidade.
Em relação ao uso problemático, o indivíduo apresenta um outro fator de
problemas associados ao uso de substâncias. Isso significa dizer que o indivíduo
usa a droga mesmo quando presente riscos à saúde e integridade física, usar a
substância mesmo sabendo dos problemas, além do problema em deixar de usar
a droga.
3
Um fator importante para o diagnóstico é a tolerância à droga, ou seja, o
aumento da dose ao longo do tempo com finalidade de obter o mesmo efeito.
Para essa avaliação, os níveis da substância no sangue podem ser usados como
exame da função da droga na produção de crises de tolerância. Além disso, a
abstinência é um fator preponderante no diagnóstico de transtorno relacionado
ao uso de drogas, ou seja, estão presentes sintomas da abstinência, como
ansiedade, agitação psicomotora e convulsões. Entretanto, algumas substâncias
apresentam pouca ou nenhuma crise de abstinência (West; Gossop, 1994).
É importante ressaltar que o diagnóstico é importante na detecção de um
transtorno, entretanto, é nas intervenções que acontecerão as remodulações
necessárias ao tratamento e melhora da qualidade de vida do usuário de drogas.
TEMA 2 – INTERVENÇÕES
TEMA 3 – ABSTINÊNCIA
7
A internação voluntária é mais fácil de se prescrever. Ela se refere à
decisão única e exclusivamente do usuário e deve ter como objetivo fornecer um
ambiente médico multidisciplinar que dê suporte às necessidades do usuário
para que identifique os problemas que o levam ao transtorno associado às SPAs
e exercitar a manutenção da autonomia do usuário.
É importante separar internação compulsória de internação involuntária.
No primeiro caso, há uma tutela temporária e bem demarcada de um familiar ou
agente de saúde, se um usuário de SPAs não estiver em condições de
responder. Embora esse conceito, por vezes, seja esticado e confundido com
internação involuntária, esta pressupõe uma incapacidade atemporal do usuário
de drogas e não se detém a se apossar da tutela de maneira arbitrária. A
internação involuntária está relacionada à internação do usuário sem sua
vontade mesmo em condições em que esteja capaz de decidir (Azevedo; Souza,
2017). Isso é bem ilustrado no Brasil no caso dos usuários de crack, sobre os
quais discutiremos na sessão “Na Prática”.
9
pelo método. Nesse exemplo, a RD educará o usuário a não se colocar em risco
no que se refere ao uso de materiais descartáveis no uso de substâncias,
qualidade e quantidade da substância. Além disso, buscará a formação de
vínculo com os usuários, fornecendo possibilidades de internação ou restituição
de laços familiares caso o usuário entenda que isso é uma necessidade.
É importante dizer que a função da RD se baseia sempre na necessidade
do usuário. Isso inclui a vontade do indivíduo em primazia, mas também da
família. Além disso, é importante sempre separar a RD de apologia às drogas. A
RD busca uma posição ética como política pública de cuidado com os usuários
de drogas. Isso significa retirar a carga de preconceito do profissional de saúde
e buscar o cuidado, ou seja, a busca pelo cuidado do usuário partirá das
necessidades individuais e sociais do mesmo. Nesse sentido, é entendido pela
RD que o cuidado com o método do uso de substâncias, que podem gerar outros
problemas, como doenças transmissíveis pelo sangue em drogas injetáveis, é
um fator importante a ser considerado. Além disso, nem todo usuário entende
que a abstinência é desejável para si, ou que a internação deverá ser o caminho.
O respeito à vontade do usuário deve ser preservado. Caso ele entenda que
deve ocorrer internação para que se organize e mude sua relação com a droga,
assim deve ser. Desse modo, a lógica da RD não se opõe à lógica das
internações, mas a compreende de forma contextualizada e de forma que
respeite à liberdade do usuário. De preferência, a internação deve ser utilizada
em último caso e deve ser a mais reduzida possível. Deve-se buscar manter os
vínculos familiares entre o usuário e sua família e sempre promover a autonomia
e o protagonismo do usuário.
Entender a redução de danos como política pública no combate aos
problemas induzidos pelo uso de drogas é entender a psicologia como promotora
de autonomia, entendendo o usuário como sujeito conhecedor de si e do mundo
em que vive (Passos et al., 2011). A política pública de saúde que utilize a RD
busca uma alternativa à “guerra às drogas” que é o modelo vigente em grande
parte dos países. O controle das drogas por vias legais e policiais acabam por
afetar o usuário no sentido que o põe em condições de risco pelo contato com a
criminalidade. Além disso, é um modelo que acaba por gerar a produção de
drogas mais tóxicas, viciantes e menos seguras como o crack e o krokodil (droga
à base de heroína e solventes utilizada mais no Leste Europeu). No modelo de
guerra às drogas, a abstinência é sempre buscada independentemente da
10
vontade do usuário, buscando acabar com o uso de SPAs pela eliminação total
da sua existência por vias policiais. A RD busca fugir dessa relação, buscando a
saúde do usuário acima da droga em si.
NA PRÁTICA
11
FINALIZANDO
12
uso. Entretanto, vimos a possibilidade de algumas substâncias não permitirem
este controle de forma tão forte.
Abordamos também a questão da internação compulsória, autonomia e
luta antimanicomial. Vimos que em casos em que o indivíduo se encontra em
risco, há indicação da internação. A internação voluntária parte do indivíduo em
querer se abster; a involuntária se refere à internação sem o consentimento do
usuário, mas que se encontre em estado de decisão; e a compulsória se refere
a momentos em que o usuário se encontra sem a capacidade de decidir e sem
autonomia, devendo ser indicada a internação por um familiar ou agente de
saúde. Entretanto, as internações possuem papel extremo, como última cartada
no manejo do usuário em uso problemático, mas levando em conta sua
capacidade decisória, autonomia e direitos preservados. Vimos também que há
controvérsias em relação à efetividade da internação no tratamento do uso
problemático, estando mais associada a um momento íntimo do usuário para se
reorganizar quanto a sua própria vida e em sua relação com a droga. Nesse
sentido, alguns fármacos utilizados podem ajudar a reduzir efeitos adversos da
retirada da droga na abstinência e a fissura pela droga.
Por fim, falamos da redução de danos como alternativa para o manejo do
abuso de drogas. Vimos que a redução de danos é uma abordagem ética que
visa a promoção de saúde e autonomia do usuário, compreendendo-o como
sujeito com direitos sociais e que tem consciência da sua condição. Nesse
sentido, a redução de danos oferece alternativas para o usuário se abster caso
queira, se internar caso queira, ou controlar o uso problemático caso não queira
deixar de usar a drogas. O redutor de danos oferece ferramentas na promoção
da autonomia através da formação de vínculo, cuidado e confiança dos usuários.
Vimos a importância do exemplo da redução de danos em ambiente de festas,
evitando casos de overdose ou transtornos agudos decorrentes do uso
excessivo ou mesclado de substâncias psicoativas. A redução de danos se
apresenta atualmente como uma opção viável e ética na condução de casos de
transtornos decorrentes do uso de SPAs.
13
REFERÊNCIAS
14
Aula 5
1 2
3 4
Diagnósticos
Intervenções
Diagnósticos
Abstinência
Internação compulsória
Uma alternativa: redução de danos
5 6
Diagnósticos
Diagnóstico de dependência
Diagnóstico de transtornos relacionados
Deficiências intelectuais
Discutiremos neste tema os principais
diagnósticos de transtornos relacionados Transtorno de ansiedade
às SPAs, tanto pessoais quanto sociais Psicoses
Transtornos depressivos
7 8
9 10
Intervenções
Papel do psicólogo
Neste tema abordaremos o papel do Interdisciplinaridade
psicólogo e as intervenções na prevenção e
Compreensão biopsicossocial
tratamento de transtornos associados à SPAs
11 12
Intervenções
Terapias
Políticas públicas de prevenção e
promoção de saúde Abstinência
Ambientes nutridores
Estudos sobre as determinantes
da dependência e transtornos
relacionados às SPAs
13 14
Abstinência
A abstinência desejável
Discutiremos a questão da abstinência ao Existe uso saudável de SPAs?
longo deste tema
Abstinência como política pública
Trataremos da abstinência como foco, cura no combate às drogas
ou tratamento no combate aos transtornos
Abstinência é cura?
associados ao uso de SPAs
15 16
17 18
Internação compulsória
Autonomia
Autonomia e liberdade vs. bem social
Consciência e liberdade
Neste tema abordaremos a problemática da
internação compulsória e a questão da Como diagnosticar a ausência de
autonomia do usuário consciência?
O papel da família
19 20
21 22
Redução de danos
Redução de danos e a relação
Abordaremos neste tema a questão minimamente saudável com as drogas
da redução de danos no tratamento e Somente drogas ilícitas estão sujeitas?
prevenção do abuso de drogas
Redução de danos é apologia?
23 24
Redução de danos como política pública
Redução de danos no Brasil Na prática
Redução de danos em contexto de festa
Redução de danos e saúde mental
25 26
27 28
29 30
Discutimos a diferença entre cura e
tratamento na questão da abstinência
às drogas
Abordamos também a questão da
internação compulsória, autonomia
e luta antimanicomial
Por fim, falamos da redução de danos
como alternativa para o manejo do
abuso de drogas
31
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
AULA 6
1
CONVERSA INICIAL
2
A ética do psicólogo sobre o uso de substância se volta no sentido da
garantida da autonomia do usuário. O usuário diz ao psicólogo sua relação com
a droga. Se ela é problemática ou não, cabe ao usuário dizer. O trabalho do
psicólogo está no manejo de situações de crise e direcionamento do indivíduo
no uso mais consciente e responsável possível do usuário. Nesse sentido, se
por acaso o usuário entende que seu uso problemático será resolvido com
abstinência, que assim o seja, desde que seja uma decisão que venha do
usuário. Nesse caso, cabe ao psicólogo saber o melhor encaminhamento do
tratamento no sentido da abstinência e o manejo ambiental fora do ambiente
terapêutico que possibilite a melhor relação possível do usuário em seu
ambiente natural.
A autonomia do paciente está prescrita na Lei n. 10.216 que foi
publicada em 6 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental. Neste sentido, há a necessidade de humanização da saúde e do
usuário de substâncias que apresentem algum problema com seu uso, ofertando
o cuidado de maneira integral. O cuidado com o usuário envolve então o conceito
de Protagonismo Social, em que os usuários devem participar da elaboração e
condução dos seus planos de cuidado e projetos terapêuticos, possibilitando o
desenvolvimento de autonomia e autodeterminação (Brasil, 2010).
Nesse contexto, o conceito de protagonismo se torna primordial no cuidado
ao usuário. O termo se refere àquele que entra em cena primeiro, ou seja, o ponto
inicial de onde partirá a história. Os usuários necessitam ser agentes da própria
história, tomando as decisões em relação ao seu tratamento e os
encaminhamentos. Essa participação permite não apenas a construção de
ações efetivas, mas também permite que esses indivíduos possam
experimentar a possibilidade de pensar e decidir por si mesmos.
A participação social e o protagonismo de usuários permitem que a
autonomia seja alcançada pelas decisões dos usuários sobre sua relação com
a droga. Isso implica em decisões importantes na vida e saúde do indivíduo.
Caso haja decisão da continuidade do usuário, devemos buscar o auxílio no
sentido da redução de danos, como comentado anteriormente. Além disso, o
conceito de autonomia não se foca somente no indivíduo, mas também dos
vínculos sociais aos quais o indivíduo possui. Ou seja, o estabelecimento de
vínculos se transforma em mais uma ferramenta no combate a problemas
3
relacionados às drogas, fortalecendo uma rede de apoio social que também
são promotoras de autonomia. Isso significa dizer que o meio social gera
vínculos e responsabilidades individuais que impactam na utilização da droga e
modificam a relação que o indivíduo tem com a substância.
A vida em sociedade sofreu grandes mudanças ao longo do tempo,
chegando ao momento atual em que as pessoas possuem direitos invioláveis
garantidos por lei. Em diversos períodos da história, as pessoas eram
submetidas às piores condições possíveis, em situações cruéis e degradantes,
como no caso da escravidão (Rabenhorst, 2016). Entretanto, algumas relações
sociais ainda podem ser extremamente cruéis e injustas. Nesses casos,
devemos sempre buscar a definição de direitos humanos na tentativa de
regularizar esses tipos de práticas. O direito se refere justamente ao que é
justo, uma posição ética perante a condição humana, somente por ela ser
humana e, portanto, detentora de direitos fundamentais.
O conceito de direitos humanos significa reconhecer que seres humanos
devem ser tratados de acordo com sua condição de humanidade. Dessa
maneira, direitos não são favores, mas sim garantias que devem ser protegidas
por força de lei. Reivindicar um direito individual é justo e garantido. O
significado de um direito se refere à possibilidade de agir ou exigir uma conduta
do outro, para uma ação ou de omissão (Rabenhorst, 2016). Ter um direito
significa que necessariamente há um dever a ser cumprido, ou seja, ter um
direito significa ser benificiário de um dever por parte do Estado ou de outras
pessoas.
Para assegurar os direitos, necessitamos de instrumentos jurídicos e os
extrajurídicos. Os instrumentos jurídicos são leis, convenções, pactos,
declarações, tratados, constituições, entre outros. Já os extrajurídicos são
resultantes do poder social, que vem da organização e reivindicação enquanto
cidadãos. Os movimentos sociais, como sindicatos e associações, são
exemplos dessa ferramenta. Dessa forma, é necessário conhecermos nossos
direitos para que possamos lutar para que sejam cumpridos (Rabenhorst,
2016).
Mas o que isso tem de relação com o uso de substâncias? O usuário de
drogas é um cidadão, um ser humano e, portanto, deve ter seus direitos
primordiais garantidos. Isso significa dizer que ele tem direito à vida, à
dignidade e à liberdade. Portanto, esses direitos devem ser resguardados
4
quando tratamos de usuários de substâncias psicoativas. Por exemplo,
usuários de crack são quase automaticamente taxados como seres sem
consciência e que devem ser afastados da sociedade por conta da sua
condição psicossocial de usuário de crack. Isso significa dizer que, por usar
uma substância, você é automaticamente incapacitado de ter seus direitos
garantidos e deve ser internado. Entretanto, hoje sabemos que a população de
usuários de substâncias é extremamente heterogênea, em que um pequeno
percentual apresentará problemas relacionados à perda de autonomia pelo uso
de substâncias, colocando-se em risco ou a outros. Neste sentido, os direitos e
garantias individuais devem ser também garantidos no sentido da internação
como meio de reorganização pessoal do usuário no caminho à restituição da
autonomia.
6
são humanos e possuem seus direitos garantidos por lei e pela ética. Nesse
sentido, a GAM deverá desenvolver todas essas estratégias no sentido de
promover a saúde mental, reduzir os danos causados pelas substâncias e
permitir o protagonismo do usuário na decisão do seu tratamento e nos
psicofármacos que quer utilizar, e quais o farão sofrer menos.
7
TEMA 4 – TERAPIAS PSICOLÓGICAS E TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS
8
TEMA 5 – TRATAMENTOS ALTERNATIVOS E PERSPECTIVAS FUTURAS
9
(Sweetnam, 1995). Esse mecanismo ajuda a explicar seus efeitos antiaditivos
de cocaína e opioides.
Mais recentemente, a bebida ayahuasca e o LSD (dimetilamida do ácido
lisérgico) têm sido propostos no efeito antiaditivo. Ambas as drogas
apresentam efeitos agonistas sobre sistemas de monoaminas como a
serotonina e dopamina. No caso especial da ayahuasca, há uma combinação
entre a agonização de receptores serotoninérgicos e a inibição da degradação
dessa substância, ampliando sua capacidade de se ligar aos receptores (dos
Santos et al., 2016). Esses exemplos de drogas alucinógenas antiaditivas são o
que há de mais novo nas discussões farmacológicas no tratamento da
dependência e outros transtornos de humor associados. Entretanto, é
importante ressaltar que, apesar de drogas seguras em doses subefetivas e
doses clínicas, podem desencadear mecanismos genéticos na vulnerabilidade
de doenças cardíacas e psicoses. Nesse sentido, mais estudos necessitam ser
realizados no sentido da compreensão dos seus mecanismos exatos na
dependência e como aumentar a segurança do seu uso.
NA PRÁTICA
A) B)
10
Relatos de algumas instituições de abrigo para usuários de drogas em
tratamento sugerem que o único uso de poucas gramas dessas substâncias
podem desencadear um forte efeito psicotomimético seguido de um forte efeito
antiaditivo. Ou seja, com uma única dose desses alucinógenos, parece haver
um forte efeito contra a dependência e fissura por drogas como cigarro, álcool
e crack.
Entretanto, alguns estudos vêm demonstrando que há uma escassez de
evidências que realmente sugiram esse efeito. Há, de fato, uma carência de
estudos duplo-cego, placebo controlado e randomizados que permitam dizer
com maior precisão que realmente há um efeito antiaditivo para essas drogas.
No entanto, os relatos de usuários são de fato comuns entre si em favor desse
efeito (de Veen et al., 2017; Koenig et al., 2015; dos Santos, 2017).
Nesses casos, é necessário ter cuidado com a prescrição de fármacos
não comprovados no tratamento, tendo em vista que substâncias
psicotomiméticas podem gerar danos irreversíveis a pacientes susceptíveis.
Mais estudos precisam ser direcionados nesse sentido, tendo em vista sua
possível eficácia; contudo, tomando os devidos cuidados médicos. Até agora, o
ideal seria manter os protocolos mais utilizados concomitante com estudos
nesse sentido.
FINALIZANDO
12
REFERÊNCIAS
KOENIG, X.; HILBER, K. The anti-addiction drug ibogaine and the heart: a
delicate relation. Molecules, v. 20, n. 2, p. 2208-2228, 2015.
13
KOOB, G. F. Neurobiology of Addiction: Toward the Development of New
Therapies. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 909, n. 1, p.
170-185, 2006.
14
Aula 6
1 2
3 4
Autonomia e ética
Gestão autônoma
Tratamentos farmacológicos Autonomia e Ética
Terapias psicológicas e tratamentos
farmacológicos
Tratamentos alternativos e perspectivas
futuras
5 6
Abordaremos conceitos básicos sobre Autonomia
autonomia, uso responsável e ética no
Uso responsável
manejo de situações de crise em uso de
substâncias psicoativas Uso problemático
7 8
Ética
Autonomia e liberdade
Gestão Autônoma
Manejo social
Manejo compulsório
Luta antimanicomial
9 10
Gestão autônoma
A gestão autônoma é uma abordagem Automedicação
não invasiva e ética no tratamento de Autonomia e empoderamento do usuário
dependência
Diálogo e estigmatização do usuário de
drogas
11 12
Abordaremos os principais e clássicos
Tratamentos Farmacológicos tratamentos farmacológicos no tratamento
da dependência e de transtornos decorrentes
do uso de substâncias
13 14
15 16
17 18
Terapias integrativas
Psicoterapia e uso de medicamentos
Abordagem interdisciplinar
Exemplo 1: terapia cognitivo
Compreensão do fenômeno da
comportamental e antidepressivos
dependência e abstinência
Exemplo 2: manejo ambiental e
Compreensão de outros transtornos
abstinência
provocados pelo uso recorrente de
substâncias Exemplo 3: terapia, manejo ambiental,
redução de danos e substituição de
drogas
19 20
21 22
Exercícios físicos
Terapias quimiogenéticas Na Prática
Terapias e diagnósticos baseados em
modelos computacionais
23 24
Experiência de substâncias alucinógenas no
tratamento de dependência
Ibogaína
Apresentação de um caso especial: uso de kay fochtmann/EyeEm / Adobe Stock
Psilocibina
substâncias alucinógenas no tratamento de
dependência
25 26
Finalizando
Abordamos os importantes conceitos de
autonomia e gestão autônoma da medicação
27 28
29