Resumao - Civil
Resumao - Civil
Direito geral de personalidade significa dizer que o rol dos direitos de personalidade não é taxativo. Este posicionamento
prevalece no Brasil
Teoria da ficção legal – Savigny - a pessoa jurídica É uma ficção criada pela lei.
Teoria da realidade orgânica - Gierki (teoria minoritária) - Esta teoria foi política - as pessoas jurídicas existem e atuam
no mundo, operam, influenciam o nosso meio ambiente. Elas têm, portanto, realidade tão efetiva quanto a pessoa natural
Realidade técnica / institucionalista – Maurice Hauriou - as pessoas jurídicas existem, no entanto, como realidade
técnica, isto é, para fins de servir à pessoa natural. E sempre mediante concessão do direito positivo.
Miguel Reale e Moreira Alves, organizaram as pessoas jurídicas de direito privado de uma maneira muito clara.
De um lado a associação e a sociedade que são reunião de pessoas; a associação e a sociedade têm por elemento
fundamental do seu suporte fático, pessoas naturais ou jurídicas, mas pessoas.
De outro lado a fundação – Esta é um patrimônio personalizado – não é composta por pessoas, não tem membros,
associados ou sócios, mas sim administradores.
o regime jurídico da associação se aplica suplemente as sociedades lá na parte especial. Com relação à associação e a
sociedade, elas se diferenciam em dois aspectos fundamentais: (I) as associações, não perseguem fins econômicos;
enquanto que a sociedade - por definição - visa lucro; (II) nas associações não há direitos e obrigações recíprocos entre
os associados. Já nas sociedades com mais de um sócio, eles se obrigam reciprocamente entre si.
SOCIEDADE - celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha entre si dos resultados (resultado significa lucro ou perda).
com a lei da liberdade econômica - a possibilidade de a sociedade limitada ser unipessoal. - , o contrato deixou de ser a
única fonte constitutiva da sociedade. A partir da entrada em vigor da lei de liberdade econômica, o negócio jurídico
unilateral, também é constitutivo de sociedade.
Independentemente do objeto, as sociedades por ações (S/A e Comandita por ações) serão empresárias. E consideram
se sociedade simples as cooperativas (sempre)
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.”
AS ASSOCIAÇÕES
As associações são reuniões de pessoas que se organizam para fins não econômicos - . Isto não significa dizer que a
associação não possa ter lucro. O que não pode haver é a repartição de resultados (lucros e perdas) entre os
associados.
o As associações só podem ser compulsoriamente dissolvidas, mediante sentença judicial transitada em julgado.
Em regra, a qualidade de associado decorre de uma característica pessoal (ser advogado, juiz, promotor) por isso a
qualidade de associado é personalíssima e intransmissível, salvo se o estatuto dispuser de maneira distinta.
Eventualmente a qualidade de associado confere ao associado fração ideal do patrimônio da associação. Este direito
patrimonial circula de acordo com as regras gerais de direito patrimonial. É possível vender, doar e ainda ser espólio no
inventário.
Atenção! Salvo disposição diversa no estatuto, a transmissão de direitos patrimoniais não implica a transmissão da
qualidade de associado.
Se a associação por qualquer razão for dissolvida, os direitos dos associados serão os seguintes:
o Se após forem pagas todas as dívidas da associação sobrar valores, os valores terão de ser remetidos para uma
instituição municipal / estadual / federal prevista no estatuto. Na falta dessa previsão, àquela escolhida pelos associados.
o Os associados podem deliberar que receberão de volta, com atualização, os valores de suas contribuições
periódicas.
Atenção2: Se a associação for daquelas em que a qualidade de associado dá direito a quota do patrimônio, também será
direito do associado receber essa quota.
AS FUNDAÇÕES.
é um patrimônio personalizado - não tem sócio ou associados, tem instituidor e gestores - A fundação de direito privado
somente pode ser instituída para finalidades pré-determinadas previstas no art. 62.
se os bens destinados para a associação forem suficientes, eles serão destinados a outra fundação que se proponha a
fim igual ou semelhante, salvo se o instituidor dispuser de maneira diversa.
Se após instituída a fundação o instituidor não lhe transferir os bens, o juiz determinará o registro em nome da fundação
mediante mandado – pacifico na doutrina que a legitimidade para requerer é do MP.
alteração do estatuto - O artigo 67 do CC trata da alteração do estatuto. A alteração somente poderá ocorrer quando
deliberada por 2/3 dos representantes da representação. Deverá também ter a aprovação do MP.
Quando os administradores não deliberarem por unanimidade, será pedido ao MP que dê ciência a minoria vencida para
que apresente suas razões no prazo de 10 dias. Passado esse prazo o MP decide.
Extinção da fundação – sê por qualquer razão a fundação for extinta, o seu patrimônio será destinado para outra
fundação de finalidade igual ou semelhante, salvo se houver disposição diversa no estatuto ou no ato de constitutivo
Não é causa de extinção da pessoa jurídica - mas suas obrigações serão estendidas para o patrimônio dos
sócios/administradores
Não falamos mais em teoria – já foi positivada no art. 50 CC. 28 CDC e na CLT.
requisitos da desconsideração
i. abuso da personalidade jurídica - desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. - Desvio de finalidade é a
utilização dolosa da pessoa jurídica para lesar credores ou praticar atos ilícitos de qualquer natureza. A utilização
culposa não caracteriza desvio de finalidade
Os sócios ou administradores devem ter sido beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso da personalidade
jurídica para que haja a desconsideração.
Preenchidos esses requisitos, as obrigações da pessoa jurídica atingirão os bens particulares dos sócios ou
administradores (há a derrubada do véu)
Não é automática – precisa de requerimento – parte ou MP – juiz não pode de ofício. Tem divergência doutrinaria no
CDC e ambiental.
Cabível em todas as fases do processo, no cumprimento da sentença e na execução fundada em titulo extrajudicial.
Será proferida uma decisão interlocutória, que pode ser objeto de agravo de instrumento
Desconsideração inversa – criação doutrinaria + stj – cpc já incorporou - as obrigações dos sócios ou administradores
podem ser executadas no patrimônio da pessoa jurídica. Justificativa - A pejotização - Ao invés de contratar pessoas
físicas, as empresas contratam pessoas jurídicas.
4. Administração da pessoa jurídica - Os atos praticados por administradores, nos limites dos poderes que lhes foram
conferidos, obrigam a pessoa jurídica.
Se a pessoa jurídica quiser cobrar algum prejuízo do administrador, é preciso avaliar a gestão, a prestação de contas
etc.
Há pessoa jurídica que possui administração coletiva, em que as decisões são tomadas pela maioria de votos dos
presentes.
Decai em 3 anos o direito de anular tais decisões quando violarem lei, estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo,
simulação ou fraude. prazo decadencial.
Excepcionalmente, caso uma decisão de uma pessoa jurídica seja simulada, ela é anulável, e não nula.
Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz pode, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe
administrador provisório
a) Pessoa jurídica nacional - é aquela organizada conforme a lei brasileira e com sede no Brasil.
b) Pessoa jurídica estrangeira - organizada conforme a lei estrangeira e com sede no exterior
b) Universitas bonorum - é um conjunto de patrimônio personalizado, destinado a um fim que lhe dá unidade.
Exemplo: as fundações
II. pessoa jurídica de direito público externo - os Estados estrangeiros (como a Itália, a Espanha etc.), as pessoas
regidas pelo direito internacional público (como a ONU, o Mercosul etc.).
b) Pessoa jurídica de direito privado - se divide em: I. associações civis / II. Fundações particulares / III.
Sociedades/ IV. organizações religiosas /V. partidos políticos
6. Associações civis - são formadas pelo conjunto de pessoas unidas para atingir certos fins, não lucrativos.
Entre associados não há direitos e obrigações recíprocos – a relação jurídica é com a pessoa jurídica da associação.
A exclusão de associado só é permitida havendo justa causa, reconhecida em procedimento que assegure a ampla
defesa
Nenhum associado pode ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido
O artigo 59 do CC estabelece a competência privativa da assembleia geral para destituir os administradores e alterar o
estatuto. A assembleia deve ser convocada especificamente para esse fim e o quórum estará estabelecido no estatuto.
“Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as
quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos
designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de
fins idênticos ou semelhantes
Cade o resto??
DOS BENS
Bem - é objeto de relação jurídica, apropriável pelo ser humano, dotado de valor patrimonial.
Coisa - no regramento dos direitos reais, é aquilo que é corpóreo, tangível e consistente. Exceção: penhor de crédito.
Bens, de forma genérica, abarcam aquilo que é corpóreo e incorpóreo.
● Bens móveis: são aqueles suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia sem
alteração da substância ou da sua destinação econômico-social. Os bens móveis por natureza podem ser
classificados em semoventes (movimento próprio) e propriamente ditos (por força alheia).
○ Bens móveis por determinação legal: as energias que tenham valor econômico; direitos reais
sobre objetos móveis e as ações correspondentes; os direitos pessoais de caráter patrimonial e
respectivas ações (art. 83 do CC).
● Bens fungíveis e infungíveis: são fungíveis os bens móveis que podem se substituir por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
Bens divisíveis e indivisíveis: a indivisibilidade pode ser (i) por natureza; (ii) por determinação legal e (iii)
por vontade das partes. Os bens naturalmente divisíveis podem se tornar indivisíveis por determinação
legal e por vontade das partes. O primeiro critério é a alteração de substância; o segundo é econômico
(depreciação do valor) e o terceiro é utilitarista.
2. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
os prazos de prescrição estão taxativamente listados na parte geral (art. 205 e 206 do CC).
Decadência os demais (todos da parte especial mais alguns da geral).
Prescrição
● O que prescreve? Pretensão - É o poder de exigir de outrem uma ação ou uma omissão.
● Solutio retentio: defesa do credor que recebeu voluntariamente prestação que estava prescrita.
Prescrição é a perda da pretensão. Nos termos do art. 189 do CC, a prescrição começa a fluir no momento em que há
violação do direito (actio nata).
2.4. Requisitos
● Violação do direito (art. 189 do CC) faz nascer a pretensão (princípio da actio nata).
● Inércia do titular.
● Decurso do tempo fixado em lei.
1. Conceito de obrigação
a) Conceito tradicional ou estático de obrigação - Obrigação é a relação jurídica pessoal e transitória, que confere ao
credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. enxerga apenas o dever nuclear da
obrigação, como se houvesse apenas um devedor que deve cumprir uma prestação em favor do credor.
b) Conceito moderno ou dinâmico de obrigação - Clóvis do Couto e Silva - a obrigação é vista como um processo, isto
é, uma série de atos, uma série de deveres, exigíveis do credor e do devedor para que seus interesses sejam
satisfeitos.
enxergou a estrutura e o conceito da obrigação à luz do princípio da boa-fé objetiva.
O princípio da boa-fé objetiva impõe o dever de bom comportamento aos contratantes. Em qual fase contratual?
Em todas as fases contratuais. As partes devem agir com lealdade, probidade, retidão, ética, dever de informar,
dever de segurança etc.
No conceito estático de obrigação, apenas o devedor tem deveres, e o credor tem direitos. No conceito dinâmico
de obrigação, tanto o credor quanto o devedor têm deveres. Ambos devem se preocupar com a boa execução do
negócio, a sua preservação, o dever de informação etc
A prestação é o dever jurídico nuclear, ao passo que os deveres da boa-fé objetiva são deveres anexos, satelitários,
secundários, fiduciários, deveres de confiança. São impostos a todas as partes. Os deveres anexos são impostos por lei.
Não precisa escrever no contrato que as partes devem cumprir a boa-fé objetiva. é norma de ordem pública.
O dever jurídico nuclear, a prestação, decorre da vontade das partes. Os deveres anexos decorrem da lei.
Essa distinção entre o dever jurídico nuclear e os deveres anexos fez surgir uma distinção entre a violação positiva
e a violação negativa do contrato.
i. Violação negativa do contrato - é o inadimplemento obrigacional. o devedor não cumpriu o dever jurídico nuclear.
Pode haver hipótese de inadimplemento relativo ou absoluto, por comportamento culposo ou fortuito
ii. Violação positiva do contrato - é a hipótese em que houve o cumprimento do dever jurídico nuclear com o
descumprimento de deveres anexos. a parte “cumpriu descumprindo”. Há o adimplemento do dever jurídico nuclear e o
inadimplemento de dever jurídico anexo.
Quais serão as consequências da violação positiva do contrato? Deve-se aplicar o artigo 422, que trata da boa-fé. Mas
ele não traz soluções concretas, e sim entendimentos abstratos. É uma cláusula geral, que consiste em técnica
legislativa em que o legislador propositalmente não diz o que é o instituto.
No conceito jurídico indeterminado, o legislador não define o que é o instituto, mas dispõe qual é a consequência
que se aplica em caso de descumprimento.
Na cláusula geral, o legislador não diz o que é o instituto e não diz o que ocorre em caso de sua violação. Em razão
disso, o juiz deve aplicar a melhor solução no caso concreto. Ele aplica a regra de equidade para decidir de forma
justa.
Exemplos: o juiz pode determinar que seja paga indenização, que seja feita revisão contratual, que o contrato seja
rescindido
A obrigação precisa ter conteúdo econômico para que seja uma obrigação civil?
doutrina clássica – sim
doutrina mais avançada – não precisa – devolver uma carta, fazer referência bibliográfica.
b) Obrigação natural
gera débito, mas não gera responsabilidade civil. Há schuld, mas não há haftung.
não pode ser cobrada em juízo.
A pessoa deve, tem obrigação de pagar – mas não pode ser cobrada em juízo.
Se o devedor pagar a obrigação prescrita, ele pode querer receber o dinheiro de volta?
Não - Quem paga espontaneamente não tem direito à repetição do indébito - fenômeno da soluti retentio (a retenção
do que foi solvido).
Não cabe ação de repetição de indébito. Indébito é aquilo que não é débito, aquilo que não é devido, e no caso aqui
tem débito.
Nenhuma dívida de jogo pode ser cobrada em juízo? Qual é a orientação do STJ sobre o tema?
STJ - se a dívida de jogo está relacionada a um jogo regulamentado por lei, pelo Estado,
ela caracteriza uma obrigação civil. Ou seja, ela pode ser cobrada em juízo.
Já o débito referente a jogo do bicho, por não ser regulamentado, não ser autorizado por lei, será considerado
obrigação natural.
c) Obrigação moral
fruto de nossa consciência - não gera débito nem responsabilidade.
A obrigação moral não tem débito. Pode-se pedir de volta o que já se pagou?
Se a obrigação moral for cumprida espontaneamente, não poderá ser cobrada de volta, pois o seu cumprimento
caracteriza um ato de liberalidade (doação).
Em regra, as doações são irrevogáveis.
Mas há duas exceções. As doações são revogáveis quando há:
i. descumprimento do encargo
ii. ingratidão
b) Princípio da gravitação jurídica/Princípio da acessoriedade - O acessório segue a sorte do bem principal (acessorium
sequitur principale). A existência do bem acessório está vinculada à do principal
A regra vale no silêncio do contrato. Ela tem aplicação supletiva.
Exceções ao princípio da gravitação jurídica:
i. Quando houver disposição em sentido contrário no contrato – obrigação contratual
ii. Pertenças - são bens acessórios que, em regra, não seguem a sorte do bem principal. Se destinam ao
aformoseamento de outro bem. Eles não constituem parte integrante do bem principal
Há exceções à exceção das pertenças (isto é, casos em que o acessório acompanhará o principal):
I. Disposição em sentido contrário - a venda na modalidade “porteira fechada”
II. Natureza do negócio – Quando a natureza do negócio dá a entender que as pertenças estão incluídas no negócio, elas
não serão excluídas
Primeiro se paga o preço ou se entrega a coisa? paga o preço - “Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não
é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. É possível convencionar em sentido contrário
c) Cômodos obrigacionais - Entre a formação do contrato e o momento do cumprimento, a coisa é transformada. gera
uma valorização.
O melhoramento é um cômodo qualitativo.
O acréscimo é um cômodo quantitativo.
O devedor da coisa poderá exigir do credor a complementação do preço, em atenção ao princípio da equivalência das
prestações.
E se o credor não quiser pagar? O credor não pode ser constrangido/executado para pagar a diferença. As partes
retornarão ao status quo ante.
Para que haja um cômodo obrigacional, é preciso que a coisa tenha se transformado. Não há simples valorização ou
desvalorização do preço de mercado da coisa, ou alta ou baixa do dólar. A coisa mudou.
e) Responsabilidade pela deterioração da coisa - destruição parcial da coisa. Não há perda total.
i. Deterioração fortuita - o devedor não teve culpa pela deterioração da coisa.
o credor pode escolher:
1. Receber a coisa (com direito a abatimento proporcional no preço)
2. Resolver a obrigação (sem direito a indenização por perdas e danos)
conceito - é aquela que tem pluralidade de prestações, como estudamos (obrigação cumulativa, alternativa e
facultativa).
Obrigação plural subjetiva é aquela que tem pluralidade de sujeitos. Pode ser pluralidade dos sujeitos ativos (credores)
ou passivos (devedores).
Exemplo: A é credor de B e C pela quantia de R$ 100 mil. A ajuíza ação contra C. Quanto ele pode cobrar de C?
A pode cobrar apenas R$ 50 mil de C, porque o enunciado não afirmou que os devedores são solidários. B e C são
codevedores, mas não se disse que há solidariedade legal ou contratual.
Acreditar que há solidariedade nas obrigações é sempre a confusão feita pelos alunos, quando há pluralidade de
credores ou de devedores. A regra é que não haja solidariedade.
5.1. Obrigação não solidária
A obrigação não solidária é a regra porque a solidariedade nunca se presume. A solidariedade resulta da lei ou da
vontade das partes.
A solidariedade não resulta da determinação do juiz (embora muitos juízes criem solidariedade de forma indevida). O
juiz só deve reconhecer a solidariedade quando ela estiver prevista na lei ou no contrato. Ela nunca será presumida.
Se não há nenhum elemento que indica que a solidariedade está presente, presume-se que não há solidariedade.
Quando a obrigação é não solidária, deve ser observado se a prestação é divisível ou não.
a) Prestação divisível
Se a prestação é divisível, aplica-se a regra concursu partes fiunt: a prestação deverá ser dividida de acordo com a
quantidade de credores e/ou de devedores.
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado apenas da sua quota-parte.
b) Prestação indivisível
A prestação indivisível não pode ser fracionada.
Tipos de indivisibilidade
Há três tipos de indivisibilidade:
i. Indivisibilidade natural
Na indivisibilidade natural, a coisa não pode ser fracionada, para não perder consideravelmente o seu valor, não perder
a sua utilidade ou não alterar a sua substância.
“Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão,
por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.”
ii. Indivisibilidade convencional
A indivisibilidade convencional pode ser convencionada em contrato de compra e venda, em uma doação etc. Pode-se
instituir cláusula de indivisibilidade sobre a herança em um testamento, por exemplo. O pai afirma que a fazenda será
de ambos os filhos e a grava com cláusula de indivisibilidade. Há o limite temporal de 5 anos.
Quando os irmãos convencionam entre si, podem renovar a indivisibilidade sucessivas vezes.
Quando o doador doou algo, o donatário pode renovar a indivisibilidade. O herdeiro também pode renovar a
indivisibilidade.
iii. Indivisibilidade legal
A indivisibilidade legal é aquela imposta por lei.
Exemplo: há uma fração mínima em cada cidade sobre o que pode ser um lote urbano. Cada cidade tem sua lei.
Se não tiver lei, aplica-se a metragem mínima de 125m2 segundo a Lei do Parcelamento do Solo Urbano
“Art. 4º Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:(...)
II - os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros,
salvo quando o loteamento se destinar a urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse
social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes”
Também há uma metragem mínima na área rural, determinada por padrões estabelecidos pelo INCRA. Outro exemplo
de indivisibilidade legal: as servidões (o direito real de fruição sobre coisa alheia) são inalienáveis por força de lei.
“Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem, no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada
uma das porções do prédio dominante, e continuam a gravar cada uma das do prédio serviente, salvo se, por natureza,
ou destino, só se aplicarem a certa parte de um ou de outro.”
A obrigação indivisível mais cobrada em provas é aquela decorrente da indivisibilidade natural.
Como se dá a solução da obrigação se a prestação for indivisível?
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado da totalidade da prestação.
Exemplo de pluralidade de devedores: A é credor de B e de C por um touro reprodutor. A ajuíza ação contra C.
Quanto A pode cobrar? A totalidade. Não se pode matar o touro reprodutor para entregá-lo.
O devedor que for obrigado a cumprir sozinho a prestação terá direito de regresso em face dos demais devedores.
Assim, C tem direito de regresso em face de B.
Se o touro custou R$ 1 milhão para C, C pode cobrar de B o valor de R$ 500 mil.
Se o touro já era de B e de C e já estava na fazenda de C, e C o entregou para A, C arcou sozinho com a obrigação?
Não. Tanto B quanto C cumpriram a obrigação, porque o touro era da propriedade de ambos. Nesse caso, não há direito
de regresso.
Outro exemplo: se A é credor de B e C por dois touros, a prestação é divisível, embora os bens sejam indivisíveis (porque
se dividir o touro ele irá morrer, e não terá mais valor). Nesse caso, A pode cobrar de C um touro, e de B um touro.
Exemplo de pluralidade de credores: X e Y são os credores de Z por um touro. Y ajuíza ação contra Z. Quanto Y pode
cobrar? A totalidade. Pode cobrar um touro. Assim, Y tem a obrigação de indenizar X.
No exemplo inverso, em que há pluralidade de credores, se apenas um dos credores receber a totalidade da prestação,
ele depois deverá indenizar os demais credores proporcionalmente. Se o touro valia R$ 1 milhão, Y deve indenizar X em
R$ 500 mil.
Quando a obrigação é convertida em perdas e danos, ela sofre uma mutação: ela era uma obrigação indivisível e passa a
ser uma obrigação divisível.
i. Da vontade das partes - Quando a solidariedade decorrer da vontade das partes, o enunciado da questão de prova
afirma expressamente que os credores ou os devedores são solidários.
Faz-se cessão de crédito. Alguém toca no crédito? Não. Toca-se no dinheiro, mas não no crédito. Crédito e débito são
direitos e deveres, que têm existência abstrata, são intangíveis, são incorpóreos.
3. Validade da cessão de crédito - vamos analisar a validade do negócio jurídico, dentro da teoria de Pontes de
Miranda.
Quais são os requisitos para a validade da cessão de crédito?
3.1.Sujeitos da cessão de crédito - são o cedente e o cessionário. Eles devem ter plena capacidade civil.
Se um deles for incapaz, é possível que seja representado ou assistido. Mas em algumas situações a representação e a
assistência não bastam, e o Código Civil pode exigir a autorização judicial para a cessão de crédito.
A legitimidade pode ser positiva, quando autoriza a prática do ato, desde que cumprido o requisito.
A legitimidade pode ser negativa, quando proíbe a prática do ato.
Na legitimidade negativa, a cessão do crédito é proibida. O ato é proibido.
Exemplo de legitimidade negativa: o cedente não pode ser um tutelado se o cessionário, que recebe o crédito, é o seu
tutor. Nem mesmo com autorização judicial. A cessão de crédito do tutelado para o tutor e do curatelado para o
curador é um negócio jurídico nulo. Da mesma forma, o testamenteiro não pode receber um crédito que ele mesmo
está administrando. Os administradores da falência não podem ceder crédito para si próprios.
Em toda legitimidade negativa há um conflito de interesses. Há uma situação grave que viola a ordem pública e ofende a
moralidade.
b) Cessão de crédito hereditário - Exemplo: alguém tem um crédito a receber em uma herança
Toda cessão de crédito hereditário exige escritura pública
4.1. Eficácia perante o cedido - O cedido é o devedor, que não é parte da cessão de crédito. Embora o consentimento
do cedido não seja um requisito de validade da cessão de crédito, o cedido deverá ser notificado, judicialmente ou
extrajudicialmente, para que tenha conhecimento, ciência do negócio.
No Código Civil de 1916, o legislador tratava a notificação do cedido como um requisito de validade da cessão de
crédito.
No Código Civil de 2002, o legislador trata a notificação do cedido como um requisito de eficácia da cessão de
crédito.
4.2. Eficácia perante terceiros - cessão de crédito produzir efeitos erga omnes.
A cessão de crédito será protegida de eventuais credores do cedente e do cessionário.
Se a cessão de crédito é feita antes que o cedente deva para outras pessoas, não há fraude contra credores.
Pode-se colocar qualquer data em um instrumento de cessão de crédito. André pode fingir que cedeu um crédito para
Bruno antes que devesse para os seus credores. Como se prova quando o crédito foi cedido?
Embora a cessão de crédito não seja solene, para que haja a oponibilidade erga omnes, é preciso que haja uma
formalidade, uma solenidade.
Para que a cessão de crédito produza efeitos perante terceiros, ela deverá ser celebrada por meio de escritura pública, o
que é feito em um tabelionato de notas, ou por instrumento particular com as solenidades do artigo 654, § 1º do Código
Civil. A solenidade é o registro do documento no Cartório de Registro de Títulos e Documentos.
Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento
público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1º do art. 654.
A publicidade do registro ou da escritura pública garantirá a autenticidade de data, isto é, a certeza quanto ao momento
em que a cessão de crédito foi realizada.
Exemplo de cessão de crédito onerosa: no contrato de factoring, o comerciante troca cheques por capital, dependendo
do risco assumido. Hoje isso é mais incomum porque o cheque está caindo em desuso.
Atualmente é mais comum a cessão de crédito onerosa do cartão de crédito. O comerciante realiza vendas no cartão de
crédito para os seus clientes. Ele cede o seu crédito a um terceiro para receber, antes do prazo, um valor um pouco
menor.
Na cessão onerosa, o cedente tem responsabilidade pela existência do crédito ao tempo em que o cedeu. Ele não
tem responsabilidade pela solvência do devedor (o cedido). Essa é a regra. As partes podem dispor de forma diversa.
O crédito deve existir no momento da cessão de crédito. É algo lógico.
Mas a existência do crédito não se confunde com a solvência do devedor.
Se o cessionário cobra o crédito, mas o devedor não paga, nesse caso, o crédito existe, mas não há solvência.
Se as partes quiserem, elas podem convencionar que o cedente responde pela solvência do cedido.
Se o cedente se responsabiliza pela solvência, ele vende os créditos mais caro. Se o cedente não se responsabiliza pela
solvência, ele vende os créditos mais barato.
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele
recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito
com a cobrança.