Cousteau,+18071600 Vol 7 2016 051 061
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RESUMO
A água é um dos recursos mais utilizados pelos seres aquáticos, reduzindo a dissolução do oxigênio, causando
vivos, é fundamental para a existência e manutenção da riscos ambientais para organismos aquáticos. Os ensaios
vida e, para isso, deve estar presente no ambiente em de adsorção foram realizados utilizando-se a farinha do
quantidade e qualidade apropriadas. Os surfactantes são mesocarpo in natura, como adsorvente. Através de
um grupo de moléculas que apresentam características medidas de condutividade elétrica foram determinadas a
anfifílicas, tendo variada aplicação na indústria de Concentração Micelar Crítica do Dodecil Benzeno
cosméticos, produtos farmacêuticos, biotecnologia, Sulfonato de Sódio (SDBS) (3,9 mmolL-1), o pHZPC (6,30) e
extração de petróleo e agroquímico uma grande estudos sobre a cinética de equilíbrio, e potencial de
quantidade de surfactante é despejada em ambientes remoção do surfactante (6,5%).
1 APRESENTAÇÃO
A preocupação com a qualidade de vida das gerações futuras e a preservação da Terra é
um aspecto chave na definição de desenvolvimento sustentável. Conforme Brutland (1991),
desenvolvimento sustentável pode ser definido como um desenvolvimento que atende as
necessidades do presente, sem ameaçar as necessidades das gerações futuras. A água é um dos
recursos mais utilizados pelos seres vivos, é fundamental para a existência e manutenção da vida
e, para isso, deve estar presente no ambiente em quantidade e qualidade apropriadas (BRAGA et
al., 2002; NANDI et al., 2008).
Atualmente os efluentes vêm sendo contaminados por vários poluentes, dentre estes os
surfactantes, do inglês “surface-active agents”, significa agente de atividade superficial, são
caracterizados por afetar as propriedades físicas de um composto quando adsorvido na sua
interface (HOLMBERG, 2003). Os surfactantes conhecidos também com tensoativos são moléculas
que possuem características anfifílicas, ou seja, possuem na mesma molécula uma porção
hidrofílica ou polar, denominada cabeça, e uma cadeia hidrofóbica ou apolar, a qual é referida
como cauda (SHIPOVSKOV et al., 2005).
A presença de duas regiões distintas, em uma mesma molécula faz com que a mesma
apresente grande capacidade de adsorção, na sua interface ar-água ou óleo-água assim como na
superfície de sólidos (PIRES, 2002). Os surfactantes possuem grande aplicação como aditivos de
desempenho para fórmulas em vários setores, como higiene e produtos de limpeza, e em várias
aplicações industriais tais como tratamentos de superfície, limpeza industrial, extração de
petróleo, agroquímico (TADROS, 2005), são utilizados no tratamento de solos e efluentes
contaminados com compostos orgânicos persistentes (ZHENG e OBBARD, 2002).
A contaminação das águas naturais é um dos grandes problemas sociais, que gera
preocupação constante e conduz à elaboração de novas normas e regimentos que estabeleçam
limites na descarga de contaminantes, a fim de minimizar o impacto ambiental (KUNZ, 2002). Uma
considerável quantidade de surfactante é liberada no ambiente, causando problemas de poluição,
principalmente em cidades cortadas por rios, onde as pessoas utilizam a água para lavar roupa,
louça e veículos (BEZERRA, 2012). Estes surfactantes são responsáveis por causar espuma nos rios
e superfície das águas, reduzindo a dissolução do oxigênio na água e causando riscos ambientais
para organismos aquáticos (EICHHORN, 2002 apud TAFFAREL, 2010).
Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos, na tentativa de solucionar esses problemas de
poluição aquática, vários métodos convencionais que buscam remover os tensoativos abrangem
processos de alto custo, entretanto a adsorção surgiu como uma alternativa economicamente
viável para solucionar alguns problemas de poluição. A adsorção tem característica vantajosa em
relação a outros métodos, dentre elas, o baixo custo, a alta eficiência, além de simplicidade,
facilidade de execução e insensibilidade a substâncias tóxicas.
Os adsorventes lignocelulósicos mais comuns empregados recentemente na remoção de
corantes têxteis e metais, são: mesocarpo de coco (VIEIRA, 2009), bagaço de cana-de-açúcar
(OLIVEIRA, 2003), pó de madeira (BONAM et al., 2002) , casca e palha de arroz (KUMAR et al., 2005)
e outros resíduos celulósicos, tais como o coco babaçu (AIROLD et al., 2009) e o coco verde (SOUSA
et al., 2007) e outros resíduos celulósicos usados in natura ou com superfície modificada para a
introdução de certos sítios ativos, de melhor eficiência (YOSHIMURA et al., 2006) no entanto nossa
proposta é utilizar a farinha do mesocarpo do babaçu in natura, para a remoção do surfactante
Dodecil Benzeno Sulfonato de Sódio (SDBS).
A flora brasileira de palmeira de babaçu concentra-se nas regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste, mas é principalmente no Maranhão que acontece a predominância com 10 dos 18 milhões
de hectares existentes no Brasil na sua ocorrência natural, apresentando junto com o Piauí, zonas
de alta densidade com população de 200 palmeiras por hectares, o coco se torna muito importante
para a grande maioria dos moradores da zona rural, onde ocorre esta palmeira, principalmente no
uso de todas as suas partes (MARCOS, 2011).
O fruto do babaçu é composto por quatro partes principais: endocarpo camada externa
fibrosa, mesocarpo é a parte do meio do coco formada por uma camada maciça rica em amido,
usada como suplemento alimentar tanto para humanos como para animais por ser rica em
carboidratos, proteínas e possui propriedade anti-inflamatória e analgésica, e apresenta em sua
composição química alguns sais minerais como cálcio, potássio, ferro, sódio, fósforo, magnésio,
manganês, alumínio, cobre e chumbo (CARRAZZA et al., 2012); epicarpo camada lenhosa onde
ficam fixadas os frutos, e as amêndoas também chamadas de castanha, principal componente do
babaçu.
Pouco se sabe da aplicação do mesocarpo de coco babaçu in natura na adsorção, portanto,
é de fundamental interesse pesquisar o potencial deste na remoção de poluentes, como os
surfactantes.
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise condutimétrica exige um alto grau de pureza das substâncias analisadas, pois a
presença de pequenas quantidades de eletrólitos alheia à solução em estudo, poderá contribuir
para uma mudança significativa na condutividade, em virtude disso, realizou-se o tratamento da
amostra através da lavagem da farinha do mesocarpo, com a finalidade de retirar os interferentes
presentes na farinha. Na Figura 1 a seguir é possível ver o comportamento condutimétrico durante
cada lavagem do mesocarpo.
1750
1750
1500
1500
1250
condutividade (mS/cm)
1250
1000
1000
750
750
500
500
250
250
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0
N° de lavagens 0 1 2 3 4 5 6
Figura 1: Comportamento da condutividade da água residual gerada pelo mesocarpo em função do número de
lavagens realizadas.
200
y= 39,72619X+ 9,17857
150
Codutividade (mS/cm)
y=14,66x + 107,74
100
50
0
0 1 2 3 4 5 6
Concentraçمo (mmol/L)
1
pHInicial - pHFinal
-1
-2
-3
-4
0 2 4 6 8 10 12
pHInicial
favorecida. A Figura 3 mostra o resultado obtido a partir da análise das alterações nos pHs das 12
soluções, após contato com 100 mg da farinha do mesocarpo por 24 h.
A Figura 3 mostra a avaliação da estabilidade do mesocarpo, nas diversas condições de pH
estimado através do pHZPC, sendo que o pH 6,5 foi o que apresentou menor variação, após as 24 h
de contato da solução com a farinha do mesocarpo in natura sob agitação constante. E neste pH
que a superfície do sólido mostrar-se com carga igual a zero.
As interações que ocorrem nas regiões interfaciais, influenciam decisivamente no processo
de adsorção, logo a presença de cargas existentes na superfície do adsorvente em função do pH,
desvirtuarão o objetivo principal da adsorção, abaixo do valor de pHZPC estimado a superfície do
mesocarpo estará carregada positivamente, e acima haverá excesso de carga superficial negativa
no adsorvente, com isso as análises seguintes foram realizados utilizando o pH ZPC, na perspectiva
de se minimizar as possíveis interferências ocasionadas pelas cargas superficiais do sólido.
A viabilidade da utilização de um material adsorvente é também determinada pela cinética
de equilíbrio, o tempo para que adsorção seja atingida depende de alguns fatores como:
concentração do adsorvato, quantidade do adsorvente, temperatura e velocidade de agitação. A
Figura 4 mostra o comportamento da adsorção em função do tempo de contato necessário para
farinha do mesocarpo in natura adsorver a capacidade máxima do surfactante nas condições
empregadas.
175
174
173
Condutividade (mS/cm)
172
171
170
169
168
167
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
Tempo (minutos)
Figura 4: Cinética de equilíbrio na adsorção do surfactante SDBS frente à farinha do mesocarpo do babaçu in
natura.
(Co − Cf ). V
𝑞𝑒 =
m (1)
6,0
5,5 0,5 mmol/L
1,0 mmol/L
5,0
1,5 mmol/L
Potencial de remoçمo (mmol g )
𝐶𝑜 − 𝐶𝑓 (2)
𝐴% = 𝑥100
𝐶𝑜
6 0,5 mmol/L
Percentual de Remoçao (%)
1,0 mmol/L
5 1,5 mmol/L
2,0 mmol/L
2,5 mmol/L
4
3,0 mmol/L
3,5 mmol/L
3
-1
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300
Tempo (minutos)
Após atingir o equilíbrio de adsorção, a percentagem foi calculada para todas as amostras,
a matriz que apresentou melhor índice de remoção foi a de concentração de 2,0 mmolL-1
apresentando percentual de 6,5%.
4 CONCLUSÃO
A contaminação das águas naturais é uma preocupação constante e tem sido um dos
grandes problemas da sociedade moderna, novas normas e legislações vêm sendo desenvolvidas,
a fim de minimizar o impacto ambiental. A adsorção surge como processo eficiente para a
descontaminação dos efluentes, e o mesocarpo de coco babaçu surge como uma alternativa
econômica frente aos adsorventes comerciais que geralmente possuem alto custo associado à
produção, além do fato deste adsorvente ser um material renovável e abundantemente disponível
no nordeste. O tratamento do mesocarpo foi realizado a partir de sucessivas lavagens
acompanhada pelas medidas de condutividade da água residual, após a quarta lavagem observou-
se a constância da condutividade, processo no qual os taninos foram removidos do adsorvente.
Após as lavagens e secagem do mesocarpo foram realizados medições de condutividade para a
determinação da CMC do surfactante. Com as medidas de condutividade em diferentes
concentrações obteve-se duas retas e um ponto de interceptação em que se determinou a CMC
com valor de 3,9 mmolL-1, a partir do valor da CMC foi possível realizar as analises em
concentrações abaixo desta. O pHZPC foi obtido graficamente após o período de contato de 24 h do
mesocarpo com surfactante com pHs previamente ajustados com valor de 6,5. O tempo de
equilíbrio foi de 240 min. Com os valores de pHzpc e tempo de equilíbrio, determinou-se a
capacidade adsortiva do mesocarpo in natura frente ao surfactante SDBS nas diferentes
concentrações, a que apresentou melhor potencial de remoção foi 2,0 mmolL-1 com 5,2 mmol g-1,
e 6,5% como percentual desta remoção.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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