Análise Do Hino "76 - Cristo Jesus Sua Mão Me Dá"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

PROF. DR. RICARDO DE CASTRO MONTEIRO


ANÁLISE II
AVF
Análise do hino “76 - Cristo Jesus Sua mão me dá”
Migdiel Vieira de Sousa

Introdução
A análise subsequente não tem pretensão de reproduzir estritamente ao padrão estabelecido
pela abordagem Schenkeriana, tendo em vista a falta de instrumentos cognitivos para tal. Mas
sim buscar um entendimento básico das diretrizes que norteiam a análise musical segundo a
teoria de Schenker. Importa ressaltar que outras formas de análise foram empregadas durante
o processo como forma de suprimir eventuais fragilidades na análise schenkeriana por parte
do autor, na elaboração deste trabalho. Alguns termos utilizados podem não corresponder aos
cânones da análise tradicional. No entanto, tais termos representam tentativas do autor de
expressar aquilo que se propõe elucidar sobre análise musical ao leitor.

O compositor
1
Norman John Clayton nasceu em 22 de janeiro de 1903, em Brooklyn, Nova York, nos
Estados Unidos. Ele era filho de imigrantes ingleses e cresceu em uma família religiosa.
Clayton mostrou interesse e talento para a música desde jovem e começou a estudar piano e
órgão.

Durante sua carreira, Clayton compôs várias músicas cristãs e hinos que se tornaram
populares em muitas igrejas. Ele colaborou frequentemente com o letrista Reverendo R. E.
Winsett, com quem escreveu várias canções.

Entre as composições mais conhecidas de Clayton estão "Now I Belong to Jesus", que se
tornou um hino adorado em muitas igrejas ao redor do mundo. Outros hinos notáveis de sua
autoria incluem "We Have an Anchor", "Only in Thee" e "My Faith Has Found a Resting
Place".

Norman John Clayton também trabalhou como editor musical e arranjador para várias
editoras, incluindo a Gospel Advocate Company. Ele contribuiu para a criação de diversos
hinários e livros de música religiosa.

Embora sua carreira tenha sido focada principalmente na música litúrgica, Clayton também
compôs outras peças musicais, incluindo música instrumental. Ele faleceu em 1992, deixando
um legado duradouro na música cristã.

Suas composições continuam a ser apreciadas e cantadas por comunidades religiosas ao redor
do mundo, e suas contribuições para a música litúrgica são valorizadas até os dias de hoje.

1
Ele foi organista da igreja aos 12 anos e manteve o papel de organista da igreja pelo resto de sua
vida.
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Forma musical do gênero Hino
Os hinos são um gênero musical que segue uma forma musical específica conhecida como
"forma estrofica". Essa forma é caracterizada pela repetição de uma mesma melodia para
cada estrofe da letra. Normalmente, os hinos possuem várias estrofes, todas elas com a
mesma melodia, permitindo que a congregação ou o coro cante a letra com facilidade.

Os hinos também podem incluir um refrão, que é uma seção curta e repetitiva que ocorre
após cada estrofe. O refrão geralmente apresenta um texto ou melodia diferente das estrofes,
mas também pode seguir a mesma melodia, criando assim uma estrutura de repetição.

A forma estrofica dos hinos é projetada para facilitar a participação e o canto coletivo durante
serviços religiosos ou eventos congregacionais. Essa estrutura repetitiva ajuda a criar um
senso de unidade e comunhão entre os participantes, permitindo que todos cantem juntos de
forma harmoniosa.

No entanto, é importante mencionar que, embora a forma estrofica seja comum nos hinos,
existem variações e diferentes abordagens musicais em diferentes tradições religiosas e
culturais. Alguns hinos podem ter uma estrutura mais complexa, com seções adicionais,
como pontes musicais ou coda. Em última análise, a forma musical dos hinos pode variar
dependendo do compositor, do contexto e da tradição em que são usados.

O hino
O arranjo analisado é uma adaptação do hino “He Holds My Hand” composto por Norman
John Clayton. A música foi publicada pela primeira vez em 1943 e desde então tem sido
amplamente cantada e apreciada em igrejas e eventos cristãos ao redor do mundo. 2O arranjo
em portugues criado pela Congregação cristã no Brasil (CCB) alterou melodia e harmonia
da versão original.

Letra
Cristo Jesus Sua mão me dá
Neste caminho que leva aos céus
Ele dirige os passos meus
Com Sua mão, poderosa mão
Me faz triunfar, me fará habitar
Na eternal Sião

Cristo Jesus Sua mão me dá


Com Sua sombra me cobrirá
E nenhum mal, me molestará
Meus pés também não tropeçarão

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Versão usada como referência auditiva > https://www.youtube.com/watch?v=Nm4KD5zuOlg
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Os anjos dos céus ao mandado de Deus
Me sustentarão

Cristo Jesus Sua mão me dá


Nada, portanto, me faz parar
Nada aqui pode me abalar
Com meu Jesus, passo a passo vou
Vitória terei, coroado serei
Por quem me amou

A letra "Cristo Jesus Sua mão me dá" retrata uma relação de dependência, confiança e
direção em Cristo. A mensagem central é a ideia de que, ao seguir o caminho de fé em Jesus,
Ele provê orientação, amparo e capacitação para triunfar e habitar na eternidade.

O texto enfatiza a figura de Cristo como guia e condutor dos passos do indivíduo ao longo do
caminho que leva aos céus. A metáfora da mão poderosa de Cristo sugere uma proteção
divina e uma liderança ativa, transmitindo uma sensação de segurança e apoio aos crentes.

A expressão "Me faz triunfar, me fará habitar na eternal Sião" remete à vitória e à promessa
de uma morada eterna no reino celestial. Essa ideia está alinhada com as crenças cristãs sobre
a vida após a morte e a esperança de alcançar a salvação.

A repetição da frase "Cristo Jesus Sua mão me dá" reforça a centralidade de Cristo na vida do
crente e a confiança na sua provisão e cuidado. A letra transmite uma mensagem de fé e
encorajamento, instigando a perseverança na jornada cristã.

Na letra da composição musical, vislumbra-se a notável presença de várias passagens


bíblicas, conferindo, assim, ao leitor uma apreensão mais abrangente do próprio texto
melódico. Há inúmeros textos bíblicos que poderiam ser citados neste contexto. Entretanto, o
3
Salmo 91, em seu 4capítulo, revela-se provido de um maior número de referências diretas,
sobretudo na segunda estrofe do hino em questão.

“Cristo Jesus Sua mão me dá


Com Sua sombra me cobrirá
E nenhum mal, me molestará
Meus pés também não tropeçarão
Os anjos dos céus ao mandado de Deus
Me sustentarão”

3
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Salmos 91:1
4
Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Salmos 91:10-12
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Análise da estrutura
A música está no tom de C maior, compasso 6/4. O tema se encontra nos dois primeiros
compassos.

Condução da análise por semi-frases afirmativas e negativas também com a identificação de


motivos musicais e clímax.

A segunda semi-frase apresenta uma característica negativa em relação à primeira, o que


denota um desenvolvimento temático. A terceira semi-frase, por sua vez, é uma negativa da
anterior. Já a quarta semi-frase, exceto pelas três últimas notas que interrompem o padrão
melódico, assume uma natureza afirmativa, sustentando a ideia melódica afirmativa de forma
transladada.

No compasso 3 para o 4, podemos identificar um motivo ascendente na voz do baixo,


destacado na cor azul, que é posteriormente reafirmado nos compassos seguintes, também
destacados em azul, tanto no baixo quanto no tenor. Relacionando com o texto da primeira
estrofe podemos considerar uma intenção de representar o “caminho que leva ao céu”, por
esse movimento ascendente.

A partir do compasso 9, observamos uma reafirmação do tema musical, sendo relevante


mencionar que a clave de fá acompanha essa afirmação do tema. Nas semi-frases seguintes,
notamos uma continuidade de semi-frases negativas até a conclusão da peça musical.
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A fermata presente no compasso 14 indica uma preparação para o clímax da música, uma vez
que ocorre em um acorde de tensão, neste caso, A maior (dominante individual),
intensificado pela suspensão provocada pela fermata. Essa atmosfera é acentuada pela poesia
da música, que enfatiza a força da história narrada, na última semi-frase, especialmente nas
três últimas notas da peça, que são notas mais agudas. 5De acordo com Tatit, esse recurso
intensifica o discurso musical, conferindo uma característica de passionalidade. O
deslocamento da voz para uma região aguda, juntamente com uma prolongação das notas,
desperta tensão devido ao esforço fisiológico da emissão vocal. Essa tensão física geralmente
corresponde a uma tensão emocional, gerando um grau de tensão emocional compatível.

Ao combinar esse direcionamento para a região aguda com a letra da canção, é revelado um
apelo emocional, transmitindo uma carga emotiva intensa ao ouvinte. Esse elemento vocal,
em conjunto com a mensagem lírica, contribui para a expressão e transmissão do sentimento
e da emoção contidos na música.

Análise das funções harmônicas

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O Cancionista / Luiz Augusto de Moraes Tatit
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A harmonia da música é bastante simples, tendo apenas alguns acordes que necessitam de um
olhar mais atento. Por exemplo o ‘A7’ que resolve em Dm sendo uma dominante individual,
como explica a terceira a terceira lei tonal de 6Koellreutter p.28. Esta sequência de acordes
volta a se repetir na reapresentação do tema no compasso 9.

Outro exemplo de dominante individual é o acorde de ‘E7’ que se resolve em Am/c


(compasso 11-12).

O acorde mais interessante é o ‘D#º’ ele pode ser explicado como sendo o 7º grau da escala
de ‘Em’ harmônica. Esse caminho foi escolhido provavelmente pelo efeito cromático que
essa resolução proporciona. fazendo uma linha melódica ascendente na voz do baixo (Ré,
Ré#, Mi).

Noções iniciais de análise schenkeriana.


A análise Schenkeriana é uma abordagem profunda e abrangente de análise musical,
desenvolvida pelo renomado teórico austríaco Heinrich Schenker no século XX. Baseada na
crença de que toda obra musical é estruturada hierarquicamente, essa metodologia busca
revelar as relações entre os elementos melódicos, harmônicos e contrapontísticos que
constituem a essência de uma composição.

No cerne da análise Schenkeriana encontra-se a noção de que a música é governada por um


princípio de restringimento progressivo. Ou seja, uma obra musical pode ser reduzida a
estruturas musicais fundamentais, que Schenker chamou de Ursatz. Essa forma fundamental

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Todos os acordes da estrutura harmônica podem ser confirmados ou valorizados por uma
dominante ou subdominante própria. H. J. Koellreutter
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representa a expressão mais pura e concentrada da composição, contendo as relações
melódicas e harmônicas mais essenciais.

Primeira parte:

Estágio 1: Preparação
● Cada altura musical foi simbolizada por uma nota sem haste na cor preta.
● Todas as notas consecutivamente repetidas foram eliminadas, não havendo, portanto,
a necessidade de representá-las.
● Não foram utilizadas barras de compasso e as vozes intermediárias são descartadas,
concentrando-se na linha do baixo e na voz principal (soprano).
● O uso de cifras foi empregado para indicar as relações entre o baixo e a voz principal.
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Segunda parte:

Na segunda parte da música foi repetido o mesmo processo anterior.


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Estágio 2: Análise de primeiro plano

As unidades harmônicas e suas correspondentes unidades lineares foram indicadas, com o


objetivo de prolongar as unidades harmônicas em análise. As unidades harmônicas foram
identificadas utilizando números romanos, enquanto as unidades lineares foram representadas
por saltos consoantes (CS), progressões lineares (3-prg, 4-prg, etc.) e "neighbour notes" (N).
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Para estabelecer quais unidades lineares pertencem e prolongam uma mesma unidade
harmônica, foram utilizados critérios básicos. Sequências de notas auxiliares, como notas de
passagem cromáticas, foram observadas para agrupar as notas em unidades lineares. Além
disso, progressões lineares foram analisadas, levando em consideração que a primeira e a
última nota são consonantes com a harmonia da última nota, mesmo que a primeira nota
tenha sido harmonizada de forma diferente. Esses critérios auxiliaram na identificação das
relações entre as unidades harmônicas e suas unidades lineares correspondentes, contribuindo
para a análise detalhada da estrutura e organização da obra musical em questão.

Estágio 3: Análise por camadas


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No estágio anterior da análise, as unidades lineares foram conectadas em progressões,
formando um "prolongamento" de uma harmonia em grande escala. Já no terceiro estágio
foram marcadas as notas estruturais com hastes, sendo possível visualizar a estrutura e
direção da música, facilitando uma análise mais clara. Isso contribuiu para uma compreensão
mais precisa das relações harmônicas presentes e aprofundou a análise da peça musical em
questão.

As unidades lineares que agrupavam as notas estruturais marcadas com hastes foram
identificadas e conectadas com barras horizontais longas em uma escala maior. No baixo,
foram utilizadas barras para conectar as tônicas e dominantes. Essas barras horizontais em
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vermelho representam a ligação e continuidade entre as unidades lineares, destacando a
relação e a progressão das harmonias ao longo da obra. Essa abordagem visual permitiu
visualizar a estrutura geral da música, proporcionando uma compreensão mais abrangente da
progressão harmônica e das relações entre as unidades lineares.

Estágio 4: A ursatz

O termo "Ursatz" é uma parte central da teoria analítica desenvolvida por Heinrich Schenker
na análise Schenkeriana. Ursatz pode ser traduzido do alemão como "estrutura fundamental"
ou "forma primordial".

O conceito de Ursatz refere-se à ideia de que toda obra musical complexa e elaborada pode
ser reduzida a uma estrutura básica e fundamental, que representa a essência da composição.
Essa estrutura fundamental é formada por uma sequência de acordes e melodias essenciais,
que são considerados elementos estruturais mais profundos.

Após análise das reduções feitas nos estágios anteriores chegou-se a essa estrutura
procurando abranger as características melódicas e harmônicas mais essenciais da peça.
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Referências

Norman J. Clayton › Hymnals > https://hymnary.org/person/Clayton_NJ?tab=hymnals

Referencia auditiva utilizada > https://www.youtube.com/watch?v=Nm4KD5zuOlg

TAFIT, LUIZ, O Cancionista / Luiz Augusto de Moraes Tatit. - 2ª ed. - São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2002.

KOELLREUTTER, Hans J. Introdução à Harmonia Funcional. São Paulo: Ricordi, 1986.


LIMA, Marisa R. Harmonia, uma abordagem prática. 2ª Edição.

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