Aula 2 - Otites
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Aula 2 - Otites
AULA 2: OTITES
Otite é qualquer processo inflamatório e/ou infeccioso da orelha externa, média ou interna.
ORELHA EXTERNA
REVISANDO A FISIOLOGIA DA ORELHA EXTERNA
A orelha externa é composta pelo pavilhão auricular e pelo meato acústico externo. Sua função
é receber os sons do ambiente e os conduzir para a orelha média
Os mecanismos protetores da orelha externa são: trago que protege a entrada do meato acústico
externo, tortuosidade do conduto auditivo externo, estreitamento do meato acústico externo, fâneros
do 1/3 externo, glândulas sebáceas e apócrinas junto dos folículos pilosos, cerume com propriedades
antibacterianas e antifúngicas, capacidade de autolimpeza do conduto auditivo externo (CAE) e
presença de fungos e bactérias saprófitas (Aspergillus)
Exames complementares:
A tomografia computadorizada (TC) do osso temporal com contraste é o exame de imagem mais
importante para a avaliação da extensão da doença e pode mostrar erosão do osso timpânico,
espessamento de tecidos moles, velamento da mastoide, sequestro no CAE e erosão da base de
crânio. – não ajuda na avaliação da evolução pois as alterações ósseas são normalmente
persistentes.
A ressonância nuclear magnética (RM) pode ser vantajosa para definir a extensão medial da
infecção em direção à base do crânio, espaço parafaríngeo, forames e canais dos nervos cranianos,
dura-máter e cérebro.
Cintilografia com gálio-67:
demonstrando hipercaptação
Diagnóstico precoce:
do contraste na orelha direita
Cintilografia óssea com gálio-67 e/ou tecnécio-99 que
demonstra áreas de hipercaptação nos focos infecciosos
(osteomilite) – recomendado para monitorizar a resposta à
terapia instituida
• A cintilografia com tecnécio-99 é útil para o
diagnóstico da osteíte e tem alta sensibilidade (97,8%)
representando atividade osteoblática, mas tem baixa
especificidade – alterações são geralmente
persistentes.
• A cintilogradia com gálio-67 mostra o foco de infecção aguda, mas não toda a extensão do
processo osteomielítico
Críterio diagnóstico absoluto é a cintilografia com gálio e/ou tecnécio positiva, e os critérios
diagnósticos relativos são o tecido de granulação no assoalho do CAE, cultura positiva para P.
aeruginosa, Diabetes Mellitus ou imunodeficiência e otalgia intensa
Tratamento:
Geralmente é necessária a instituição de terapia agressiva, com paciente internado e recebendo
antibióticos intravenosos, além de controle estrito do diabetes mellitus e limpeza frequente do CAE.
• Em casos mais leves, usar ciprofloxacino oral que atua bem contra a P. aeruginosa,
frequentemente usado como terapia ambulatorial primária ou seguindo-se aos esquemas de
antibioticoterapia intravenosa – administração pode ser por um período longo de até 6
meses após o término da terapia intravenosa
• O ceftazidime é uma cefalosporina de terceira geração beta-lactamase resistente,
bactericida, bastante ativa contra a P. aeruginosa e outras bactérias Gram-negaticas – usa-
se isoladamente ou associado à amicacina, tobramicina ou gentamicina por um período de 4
a 6 semanas na dose de 2g a cada 8 horas e tem boa penetração no sistema nervoso central.
O tratamento indicado é com antibióticos por um período longo de 4 a 8 semanas com média de 6
semanas. Alguns critérios propostos de cura são a cicatrização da pele do CAE, culturas negativas
e a normalização da velocidade de eritrossedimentação – exame da cintilografia com gálio-67 volta
ao normal (exame mais confiável para a interrupção da terapia intravenosa) – outro sinal importante
é quando a otalgia cessa ou diminui.
• Uso de gotas tópicas de gentamicina ou ciprofloxacino no CAE é controverso, pois seria
uma via inadequada de administração de antibióticos em uma infecção que pode se estender
à base do crânio, bem como pode dificultar a realização de culturas.
• Há poucas evidências do uso de oxigenação hiperbárica com impacto na sobrevida da OEN.
• A maioria dos pacientes pode ser tratada clinicamente e o papel da cirurgia, principalmente
o debridamento, tem diminuído bastante ao longo dos anos
variam desde uma hiperemia discreta até um edema intenso com formaçã de visículas, além
de prurido intenso na fase aguda – casos crônicos: espessamento da pele com liquenificação.
a. Tratamento: evitar contato com o agente causador. Pode-se usar um corticoide
tópico, reservando os sistêmicos para os quadros mais graves. Se houver infecção
secundária deve ser utilizada terapia antimicrobiana – anti-histamínicos podem aliviar
o prurido
(2) Dermatite atópica: é uma inflamação de curso crônico com períodos de exarcerbação,
associada à asma e à renite alérgica. As lesões são muito pruriginosas e podem se
apresentar com escoriações e vesículas – casos crônicos: existe liquenificação e a presença
de pápulas fibrosas.
a. Tratamento: visa o controle e a prevenção, sendo os corticoides tópicos os mais
eficazes. Anti-histaminicos também podem ajudar a melhorar o prurido – corticoides
orais devem ser usados apenas em casos graves
(3) Dermatite seborreica: é uma afecção crônica em áreas com glândulas sebáceas. A erupção
é acompanhada de prurido discreto.
a. Tratamento: deve incluir controle da caspa, com xampus à base de sulfeto de selênio
ou zinco. As lesões podem ser tratadas com corticoides tópicos, evitando-se
corticoides fluorados.
(4) Psoríase
(5) Lúpus Eritematoso
(6) Neurodermatites
(7) Eczema infantil
ORELHA MÉDIA
REVISANDO A FISIOLOGIA DA ORELHA MÉDIA
A orelha média é composta pela membrana timpânica, pelos ossículos (martelo, bigorna e estribo)
e pelos músculos tensor do tímpano e estapédio, a orelha média é responsável por transmitir o
som que chega pela orelha externa para a orelha interna.
• Quando o estímulo acústico alcança a membrana timpânica pode chegar à orelha interna
através de três formas: por condução óssea – alcançando diretamente a cóclea sem passar
pelo ossículos – por difusão pelo ar da cavidade timpânica e atraves da cadeia ossicular –
que é o meio mais efetivo.
o A vibração da membrana timpânica desencadeada pelo som é transmitida para a
cadeia ossicular. A vibração dos ossículos movimenta a platina do estribo, assim como
os fluidos cocleares, as estruturas da cóclea e a janela redonsa. É justamente a
presença da janela redonda e de sua membrana complacente que permite o
movimento da platina do estribo. Quando o estribo se move para dentro a janela
redonda move-se para fora. Esse acoplamento permite a formação de uma onda
hidromecânica no interior da cóclea.
• Existem dois músculos estriados dentro da orelha média, o músculo tensor do tímpano e o
estapédio. O tensor do tímapno está ligado ao martelo, é inervado pelo nervo trigêmeo e o
estapédio conecta-se com o estribo e é inervado por um ramo do nervo facial, o nervo
espediano.
o A função dos músuclos da orelha média é proteger a cóclea de sons muito intensos.
A B
C D
FIG. (A): Otite média aguda. Os vasos que irrigam a membrana timpânica (MT) na região do martelo estão
dilatados e a MT torna-se hiperemiada. (B) Otite média aguda com indentificação de nível hidro-aéreo,
característico na fase de resolução. (C) Transudato pós-infecção de vias aéreas superiores na orelha média,
observando-se bolhas na efusão. (D) Transudato pós-infecção de vias aéreas superiores na orelha média,
observando-se nível hidroáereo ou nível líquido.
a partir dos 6 meses de idade. Caso a OMA seja bilateral, a observação inicial estará indicada
somente a partir dos 2 anos
• Não são candidatos para observação inicial: menores do que 6 meses de vida; presença
de otorreia; OMA com sintomas de gravidade; OMA bilateral em menores de 2 anos; falhas
no tratamento da OMA; recidiva de OMA (menores de 30 dias); imunodeficiências;
anormalidade craniofaciais; outra infecção bacteriana associada (tonsilite ou sinusite)
O tratamento da OMA geralmente é empírico e devem-se utilizar antibióticos que sejam eficazes e
com cobertura para as bactérias mais comuns.
• Amoxilina é recomendada como tratamento de primeira escolha na OMA – recomenda-se
utilizar na dose elevada de 80-90 mg/kg/dia – em crianças que utilizaram amoxicilina em
menos de 30 dias, com conjuntivite concomitante, ou necessidade de cobertura para vactéria
produtora de betalactamase, recomenda-se a associação de amoxicilinaa com clavulanato
o Alergia a penincilina: primeira opção de tratamento é a cefalosporinas de segunda
geração. Sufametoxanol-Trimetoprin (SMZ-TMP ou Bactrim) (sulfametoxazol
pertence à classe de sulfonamidas; trimetoprima pertence à classe de inibidores do
ácido fólico), Azitromicina (Macrolides) ou Claritromicina (Macrolides) são farmácos
que não possuem boa cobertura para H. influenzae e o SMZ-TMP para S. pneumoniae
resistente
o Resistência a penincilina: Haemophilus influenzae (30-40%), Moraxella catarrhalis
(90%) e Streptococcus pneumoniae (30-60%)
A duração do tratamento é determinada pela idade e gravidade da OM.
• Crianças menores de 2 anos e crianças com sintomas graves recomenda-se 10 dias
• Crianças ente 2 3e 5 anos com OMA leve a moderada sugerem-se 7 dias
• Crianças maiores de 6 anos com OMA leve a moderada pode-se tratar por 5 a 7 dias
Recomenda-se a manutenção do tratamento inicial por 48 a 72 horas: se não houver melhora deve-
se considerar substituir a medicação
• Segunda opção: Amoxicilina-Clavulanato e cefalosporinas de segunda e terceira geração
(cefuroxima e ceftriaxona)
o Na suspeita de S. pneumoniae resistente, sugere-se Amoxicilina-Clavulanato na
dose de 90 mg/kg/dia.
o Ceftriaxona: é uma droga muito potente que deve ser reservada para crianças com
doença grave, na suspeita ou na presença de complicações supurativas, ou na
persistência de sintomas agudos, apesar do uso de outras opções de antibióticos.
Quando não há melhora do quadro após substituição do tratamento, sugere-se realizar
timpanocentese e cultura da edusão, que deve ser considerada nos seguintes casos: criança com
febre alta ou toxêmica; recém-nascido de alto risco com suspeita de OMA; paciente com OMA em
UTI pediátrica; suspeita de OMA na presença de complicações supurativas agudas; OMA refratária
à segunda linha de tratamento com antibióticos.
• Presença de secreção excessivamente viscosa, conhecida como glue ear – este conteúdo
na OM torna a visualização da MT opaca, contrastando com o cabo do martelo, que parece
ficar mais branco, com um “aspecto gessado”
• Frequentemente ocorre o aumento da vascularização radial na pars tensa da MT, onde os
vasos não são visíveis no tímpano normal – podem ser observadas retrações da MT,
ocorrendo horizontalização do cabo do martelo
A B
FIG: (A) Blue ear drum. Hemotímpano idiopático com sai colaração azul enegrecida. Observa-se o contraste
com o cabo do martelo, que parece ficar mais branco – “aspecto gessado”. (B) Glue ear. Efusão mucoide na
orelha média, com aspecto opacidicado à otoscopia e visualização de vasos radiais na membrana timpânica
FIG: Miringotomia - os médicos fazem uma pequena abertura no tímpano para permitir que o líquido seja
drenado do ouvido médio. Depois, eles colocam um minúsculo tubo oco de plástico ou de metal (tubo de
timpanotomia ou tubos de ventilação) no tímpano através da abertura. Esses tubos equilibram a pressão do
ouvido médio com a do ambiente.
• Otite média crônica supurativa: é a inflamação crônica da orelha média com otorreia
persistente, que pode melhorar com antibioticoterapia, retornando logo após seu término –
otorreia quase constante, em geral, amarelo esverdeada e comumente, com odo fétido,
podendo eventualmente cursar com otalgia – revela normalmente
perfurações grandes, marginais, com retrações.
o A mucosa das células mastoideas estará invariavelmente
envolvida, o que ajuda a manter o processo infeccioso
o Tratamento:
▪ Controle clínico e recomendações como evitar
contato com água, além de limpeza e aspirações.
▪ Antibióticos/corticosteroides tópicos
▪ Antibioticoterapia sistêmica
o Tratamento cirúrgico: TIMPANOMASTOIDECTOMIA – o objetivo é remover o tecido
ósseo doente e fechar a perfuração timpânica
• Otite média crônica colesteatomatosa: é a lesão de tecido epidérmico e conectivo,
usualmente em forma de saco que segue a arquitetura do ouvido médio, ático e mastoide,
constituído de epitélio escamoso estratificado, com produção exacerbada de queratina –
sempre há uma camada de granulação em contato com o osso, a qual produz enzimas, que
levam à erosão óssea
o Fisiopatologia
▪ Primários (A): maioria dos colesteatomas adquiridos – defeitos ou bolsas de
retrações na região atical da MT quase sempre relacionados com disfunção
da tuba auditiva.
▪ Secundários (B): originam-se de uma perfuração marginal ou central,
geralmente por tratamentos inadequados das otites médias crônicas
A B
▪ Crise de vertigens, dor, surdez súbita e paralisia facial periférica (PFP) podem
indicar complicações sérias