Dogmática Evangélica
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Dogmática Evangélica
T. Revelação Geral
coisas da lei, êsses, não tendo lei, para si mesmos são lei;
os quais mostram a obra da Lei escrita nos seus corações,
dando a sua consciência disto testemunho e entre si acusan-
do-os ou defendendo-os o seu raciocínio” (Rom.2:14: 15).
Estes passos da Escritura são um claro testemunho da im-
portância da Revelação Geral, tanto no campo da religião
como no da moral. Afirmam, de um lado, que a existência
de Deus, sua glória e atributos são revelados pelas obras da
criação, e, por outro lado, que a lei moral de Deus, escrita
nos corações, corresponde à Lei que foi dada por meio de
Moisés. Outro testemunho notável da Bíblia neste sentido
é o fato de ela registrar, como servos do Deus verdadeiro,
eminentes personagens como Melquizedeque, Jó, e Jetros,
o sogro de Moisés, os quais não pertenciam ão povo de Israel,
escolhido para órgão da revelação especial, Mais interessan-
te ainda nesse sentidoé o fato de Jesus usar frequentemente
elementos da Natureza e fatos da vida ordinária como textos
para o seu ensino.
Êsse ensino das Escrituras deixa claro que, se não fôssé
o pecado, a revelação geral seria suficiente para a vida reli-
giosa e moral do homem ou para êle cumprir o fim para
que foi criado. A queda, porém, degenerou-lhe o conheci-
mento original de Deus, de modo que em vez de adorar o
Criador, passou a dar culto a criaturas, — meros sinais da
realidade divina. “Porquanto conhecendo a Deus não o glo-
rificaram como a Deus, nem deram graças, antes se enfatua-
ram nas suas especulações, e ficou em trevas o seu coração
insensato. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos. E dei.
xaram a glória do Deus incorruptível por uma semelhança
de figura de homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e
de répteis” (Rom.1:21-23). Apareceram e dominaram assim
por tôda a terra o politeísmo, o fetichismo e tôda a sorte de
superstições acompanhados da mais infame e degradante
imoralidade, como descreve o Apóstolo em Rom. 1:26-21.
Apesar disso, porém, as obras da Natureza continuam a dar
fiel testemunho do Criador e a' consciência humana dificil.
mente deixa de fazer ouvir a sua voz. Como parte da “Luz
que alumia a todo o homem que vem a êste mundo” (João:
1:9), ela é a causa das religiões pagãs que, embora de
modo errado, cultivam o sentimento religioso do homem, são
um ponto de contacto com a verdadeira religião e uma porta
aberta para as missões cristãs.
Assim sendo, fôrça é reconhecer que os filósofos deístas
têm razão quando enaltecem a Revelação Natural, dizendo
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 15:
2. Revelação Especial
O desastroso advento do pecado no início da história
humana obscureceu e transtornou o conhecimento que o ho-
mem podia ter de Deus mediante as suas faculdades mentais
e as lições da Natureza. (Rom. 1:12-25). Assim, a Revela-
ção Natural, que bastaria para que êle atingisse o destino
(1) “Christian Doctrine of God”, págs. 175 e 179.
(2) “Systematic Theology”, págs. 131 e 139.
DOGMATICA EVANGÉLICA 17
nos seus reis que, embora nem todos fiéis a Deus, eram ofi-
cialmente o sacramento ou o sinal do futuro Messias.
Outro fenômeno importantíssimo da história de Israel
foi o aparecimento do profetismo. Os profetas não foram
uma instituição como os sacerdotes e reis. Surgiam oportu-
namente, segundo a vontade de Deus, e, cheios do seu Espí-
rito, interpretavam os atos da Providência — punindo ou
beneficiando a nação conforme a sua fidelidade ou infideli-
dade ao Pacto — e prediziam também as glórias que lhe
reservava o futuro com o cumprimento da Promessa. Essa
difícil missão, que êles cumpriam com tôda a fidelidade e
ardor, constituiu a maior fôrça a impelir a nação ao cumpri-
mento da sua altíssima e divina vocação. Não eram êles,
porém, apenas vigias rigorosos da vida religiosa e moral do
povo, pois, com divina vidência do futuro, chegaram a con-
clusões verdadeiramente cristãs dos problemas que enfren-
tavam. Jeremias, notando a incapacidade do povo pata obe-
decer à Lei de Deus e guardar o pacto antigo, profetiza um
dia futuro em que a Lei deixará de ser um constrangimento
exterior para se tornar um impulso íntimo do coração (Jer.
31:31,34). Essa visão, em que a Lei objetiva é mudada numa
lei subjetiva inscrita nos corações, penetra os dias do Novo
Testamento, em que a Lei, cumprida pelo sacrifício de Cristo,
se torna Lei perfeita da liberdade.
Isaías, igualmente, considerando que o sofrimento dos
justos por causa do pecado dos maus só poderia ser um sofri-
mento vicário, personalizou-o no “Servo do Senhor”, em
linguagem que evoca a do Novo Testamento no ensino da
obra expiatória de Cristo (Isa: 53).
Predizendo os juízos de Deus sôbre Israel e outros povos
pecadores, os profetas usam, às vêzes, linguagem que só
terá cumprimento no Juízo Final, (Isa. 34:4; Ezeg. 32:7,8),
e por outro lado, descrevendo a restauração da independência
e felicidade de Israel em sua terra, após os seus sofrimentos,
o fazem em têrmos que só no Milênio se cumprirão: (Isa.
2:2-5; 11:1-10; Oséias. 2:18; Zac. 9:10).
- Na palavra dos profetas pelos quais “Deus falou muitas
vêzes e de muitas maneiras”, (Heb, 1:1), foi antecipada.
assim, a palavra final trazida pelo Filho, o Verbo eterno en-
carnado.
Os sacerdotes, por sua vez, no seu ofício de fazer sacri-
fícios pelos pecados do povo e por êle interceder, como seus
representantes diante de Deus, confirmando a Promessa de
que um filho do homem esmagaria a cabeça da serpente,
DOGMATICA EVANGÉLICA AH
Cristo (Gál. 3:24); mas, quando não serve a êsse fim, trans-
forma-se num “véu” que dificulta perceber e alcançar as
bênçãos do evangelho — (2.º Cor. 3:13-15). O Velho Testa-
mento é, pois, a Palavra de Deus na medida em que o Novo
está incluído nêle, e na medida em que êsse fato se manifesta
no Novo.
Santo Agostinho: Novum in vetere latet; Vetus in novo
patet.
O Novo está latente no Velho, e o Velho, patente no
Novo.
Assim se verifica que, devido à necessidade de o povo ser
progressivamente instruído e capacitado para a obediência
ao ensino de Deus, foi preciso que êsse ensino fôsse adatado
ao seu desenvolvimento. Por isso, como vimos, há oráculos
no Velho Testamento que são incompletos e provisórios, de
modo que, embora para os judeus sejam palavras de Deus,
para o cristão só o são na medida em que fazem parte da
Revelação Completa.
Com o advento de Cristo, pois, e o ensino dos seus
apóstolos, como estão registrados no Novo Testamento, a
Revelação Especial se completou, deixando de ser uma Pro-
messa, apenas antecipada em símbolos e tipos, para se tornar
realidade, bem como para atingir sua plenitude doutrinal.
Como diz o autor da carta aos Hebreus: “Deus, tendo
antigamente falado muitas vêzes e de muitas maneiras aos
pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho
a quem constituiu herdeiro de tôdas as coisas, pelo qual
também fêz o universo: o qual, sendo o resplendor da sua
glória e a imagem expressa da sua substância, e sustentando
tôdas as coisas com a palavra do seu poder, depois de fazer
a purificação dos pecados, sentou- se à destra da Majestade
nas alturas” (Heb. 1:1-3). .
Dado o modo progressivo pelo qual os israelitas recebe-
ram a palavra de Deus, esperavam, naturalmente, que o Mes-
sias — o Cristo — seria uma varão semelhante aos seus
grandes homens do passado, apenas mais cheio do Espírito
de Deus e do seu Poder.
A Promessa, porém, era muito mais rica do que isso.
As relações de Deus com os profetas e outros órgãos da
sua revelação eram transitórias e nelas a sua pessoa perma-
necia distinta da dêles.
Em Jesus, porém, as naturezas divina e humana não
têm apenas relações temporárias mas uma união tal, que
ambas constituem uma só pessoa, indissoliúvelmente.
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 25
3. As Sagradas Escrituras
r
de um livro não podem fazer o que é próprio da atividade
reveladora transcendente da segunda pessoa da Trinda-
de (1).
Fazendo essa enfática discriminação entre a Bíblia e a
revelação, entre revelação histórica e atual, Barth reconhece,
porém, o valor único das Escrituras, não s6 como o instru-
mento de Deus para a conversão dos pecadores e santifica-
ção dos crentes, mas também como a norma de pregação da
Igreja e da sua dogmática, porque a verdade de Deus é uma
só no passado e no presente. Ássim, a sua doutrina, distin-
guindo entre revelação no passado e no presente, não difere
da verdade simples, geralmente reconhecida, de que só por
obra do Espírito Santo pode uma pessoa entender que lhe
diz respeito a mensagem bíblica de que Cristo é seu Salva-
dor. Além disso, quando afirma o valor normativo das Escri-
turas, já para a pregação que a Igreja está encarregada de
fazer, já como fonte da sua dogmática, reconhece êle, ipso
facto, que a Bíblia é Palavra de Deus em sentido objetivo
e não apenas subjetivamente, quando atualizada nos corações.
Paulo Tillich, outro ilustre teólogo hodierno, afinando,
também no mesmo tom, diz: “A Bíblia é a Palavra de Deus
em dois sentidos: é o documento da revelação final; e parti-
cipa na revelação final de que é o documento. Provavelmente
nada tem contribuído mais para a má interpretação da dou-
trina bíblica da Palavra do que a identificação da Palavra
com a Bíblia” (2). Claro é que, quando damos à Bíblia o
título de Palavra de Deus, não se entende que ela resume ou
limita em si a atividade da segunda pessoa da Trindade;
significa apenas que Deus falou (Heb. 1:1) e fêz registrar
tum livro o que precisamos e podemos conhecer para a nossa
salvação; mas se Êle falou e registrou na Bíblia o seu ensino,
temos nela a sua Palavra. .
Essa crença, que é geral na cristandade, tem a autoriza-
ção do próprio Senhor Jesus Cristo.
“Não penseis, disse ÉÊle, que vim revogar a lei e os
profetas: não vim revogar, vim para cumprir. Porque em
verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um
i ou um til, jamais passará da lei, até que tudo se cumpra”
— (Mat. 5:17,18).
“Aos fariseus que lhe perguntaram por que os seus disci-
pulos transgrediam as tradições dos anciãos, Ele respondeu:
.
o seu dom particular para bem da lgreja, que é o corpo
de Cristo (1.º Cor. 12).
Se todos os crentes tivessem o mesmo dom, diz o após-
tolo, seria tão errado como se o corpo tivesse um só mem-
bro. Mas se é necessário haver variedade de dons para o
bem atual da Igreja, claro é que a inspiração, o dom do
qual dependem todos os dons atuais, é diferente dos outros.
S6 os discípulos de Cristo, seus contemporâneos, podiam ser
testemunhas da sua ressurreição ou do fato que provou.a
sua divindade. Nem todos receberam a inspiração para
escrever o Novo Testamento, mas só dentre êles podiam sair
êsses escritores. Sendo Cristo a última palavra da revelação
de Deus ao homem, claro é que os homens que foram inspi-
rados para registrar essa revelação receberam um dom histó-
rico que morreu com êles e não pode ser repetido. E o
mesmo é verdade quanto aos autores do Velho Testamênto.
Pensar que êsse dom é, apenas em grau, diferente dos dons
atuais pode dar lugar (e tem dado) a falsos apóstolos — au-
to-iluminados fanáticos. O único meio de têrmos conhecimento
da divina revelação é o livro escrito para êsse fim por homens
para isso especialmente qualificados, o qual constitui a regra
da fé e prática — Regula Fidei. Para a existência dêsse
livro é que foi necessária a inspiração dos seus autores. Tra-
tava-se de escrever sem erros a divina revelação, ou fornecer
à humanidade a informação dada por Deus acêrca do ca-
minho dá salvação.
A respeito da possibilidade de uma tal ação do Espírito
Santo na pessoa dos autores do livro, basta lembrar a afi-
nidade que há entre o espírito humano e o divino, pelo fato
de ter sido o homem criado à imagem de Deus; afora isso,
houve a possibilidade sempre atual do milagre ou de uma
ação sobrenatural ou extraordinária de Deus. O modo, po-
rém, como o Espírito afetou os autores da Bíblia escapa à
mente finita compreendê-lo, porque, de um lado, a sua ação
tinha de ser tal que impedisse homens falíveis de errar e,
por outro- lado, que não infringisse em nada a liberdade
dêles e sua autonomia como escritores. A liberdade é ele.
mento essencial da pessoa humana e não pode ser anulada
nem mesmo abatida. Deus é imutável e não retira um dom
que concedeu, anulando uma obra sua,
Êsse argumento a priori é confirmado pelos fatos. “Os
escritores sagrados, diz C. Hodge, imprimem: suas peculia-
ridades às suas diversas. produções, tão plenamente como se.
êles não estivessem sujeitos a nenhuma influência extra-
a — PROLEGOMENOS '
ordinária. É êste um fenomeno da Bíblia patente ao mais
superficial exame do leitor. É da própria natureza da inspi-
- ração que Deus fale na linguagem dos homens; que êle use
os homens como seus órgãos, cada um com os seus dotes
e dons peculiares. Quando êle ordena o louvor da bôca
das crianças, elas devem falar como crianças, a menos que
se percam tôda a fôrça e beleza do tributo.
“Não há razão para crer que a operação do Espírito na
inspiração se tenha revelado mais na consciência dos sa-
grados escritores do que, na santificação, se revela na cons-
ciência dos cristãos. Como ao crente lhe parece agir e de
fato age segundo à sua natureza, assim os escritores inspi-
rados escreveram de acôrdo com a plenitude dos seus senti-
mentos e pensamentos e empregaram a linguagem e modos
de expressão que foram para êles os mais naturais e apro-
priados. Entretanto, e não menos, falaram do modo como
foram movidos pelo Espírito Santo, e as palavras dêles foram
suas palavras” (1).
Com essas claras expressões, o grande teólogo presbite-
riano repele a teoria, já de há muito rejeitada por outros teó-
logos igualmente ortodoxos, de que a inspiração foi mecânica
ou que o Espírito ditou aos escritores sagrados o que eles
escreveram. A teoria que melhor explica o fenômeno da
inspiração chama-se Dinâmica, e reconhece que houve uma
verdadeira colaboração entre o Espírito Santo e o escritos
sagrado na produção do livro, colaboração na qual o homem
recebe a iluminação e direção divinas de que carece e O
Espírito utiliza-se dos dons do homem sem que êste seja
constrangido.
A Escritura não têm, entretanto, teoria para explicar
o fato e isso parece indicar que, tratando-se de um mistério,
o melhor é não tentarmos explicá-lo, mas simplesmente aceitá-
lo, já que os fatos o impõem. Se do Verbo invisível, mas
encarnado em Jesus, o apóstolo pôde dizer: “O que vimos
e ouvimos e as nossas mãos palparam do Verbo da vida”...
(1º Jo. 1:1), igualmente, a ação invisível do Espírito pode
ser vista e palpada no livro sagrado, por Éle inspirado aos
seus escritores.
3º — À inspiração teve por fim preservar de erros a
verdade revelada,
Para o estudo dêste item há dois pontos a considerar:
a) em que consiste a verdade revelada; b) em que consiste
a inerrância das Escrituras.
(1) “Systematic Theology”. Pág. 157.
DOGMATICA. EVANGÉLICA 35.
5. Religião
6. Religião Cristã
8. Enciclopédia Teológica
A enciclopédia teológica é a disciplina que trata: 1.º do
lugar da Dogmática relativamente às outras disciplinas que
constituem a teologia sistemática; 2.º das relações naturais
dos dogmas uns com os outros.
Quanto ao primeiro ponto, a resposta é fácil porque,
como já vimos, a Dogmática é uma ciência que tem fontes
na Bíblia, nos credos da Igreja e na história do pensamento
cristão através dos séculos. As disciplinas, pois, que tratam
dessas fontes — isto é, a exegese bíblica e a teologia bíblica
e histórica — devem vir antes da Dogmática, do mesmo modo
por que os alicerces vêm antes da casa.
A seguir, formada a Dogmática, como a sistematização
das disciplinas que a precedem, torna-se ela, por sua vez,
a fonte ou o material das disciplinas que constituem a teo-
logia prática: a Teologia Pastoral e a Homilética, às quais
se pode acrescentar também a Ética, a qual, embora sendo
ciência distinta da Dogmática, trata dos deveres do indivíduo
e da sociedade que decorrem das doutrinas ou dogmas
cristãos.
Ocupa assim a Dogmática posição intermédia entre as
disciplinas fontes e as disciplinas práticas da teologia cristã.
Como expressão da mensagem que a Igreja deve dar ao
mundo, ela é distinta das suas fontes para poder atender
às necessidades de cada época e de cada situação humana:
idêntica às fontes na sua essência, precisa ter forma dife-
rente delas.
Por igual modo, difere ela das disciplinas práticas, por
ser a base teórica mas não o conteúdo exigido pela finali-
dade daquelas.
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 59
TEOLOGIA
A. A Natureza de Deus
1. A SUA PESSOA
com o Pai eram diferentes das que êles podiam ter. Tinha
consciência de Filho num sentido em que os outros homens
não podiam ter e, não tendo consciência do pecado, não po-
dia, também por isso, unir-se com êles na oração que lhes
ensinou, dizendo “Pai nosso, perdoa as nossas dívidas”. Pelo
mesmo motivo, falando a respeito do céu, onde ia preparar
lugar para os seus, disse: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas”, e não disse na casa de nosso Pai, caso em que
o direito comum dispensaria que Éle fôsse adiante preparar
lugares.
FILHO. O nome de Filho é dado inúmeras vêzes a
Jesus para indicar a relação especial existente entre Ele e
Deus:
a) Pelo anjo Gabriel ao anunciar a Maria o mistério
da Encarnação: Este será chamado Filho do Altíssimo”
(Luc. 1:32).
b) Por João Batista que disse: “Eu não o conhecia
mas o que me mandou a batizar com água êsse me disse:
Aquêle sôbre quem vires descer o Espírito Santo e sôbre êle
repousar, êsse é o que batiza com o Espírito Santo”. Eu o
vi e tenho testificado que Ele é o Filho de Deus “Jo. 1:33).
c) Pelo próprio Pai quando, por ocasião do batismo
de Jesus, bem como na ocasião da sua transfiguração, disse:
“Este é meu Filho amado em quem me comprazo” (Mat.
ST; 7 2.5):
d) Pelo apóstolo Pedro quando, tendo Jesus pergun-
tado aos discípulos o que pensavam dêle, respondeu: “Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Esta resposta, que Pe-
dro deu em nome de todos os outros apóstolos, Jesus decla-
rou que foi inspirada por Deus: “Bem-aventurado és Si-
mão Barjonas, porque não to revelou a carne e o sangue
mas meu Pai que está nos céus” (Mat. 16: 16, 17).
e) Pelo próprio Senhor Jesus que, apesar de preferir
chamar-se sempre Filho do homem, todavia, deu a si mesmo
muitas vêzes o nome de Filho de Deus, como, por exemplo,
quando Ele disse: “Tudo o que pedirdes em meu nome eu
o farei para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo. 14: 13).
A sua declaração mais importante a êsse respeito, porém, é
a que foi acima citada (Mat. 11:27), onde Éle diz que
Deus é seu Pai e Ele Filho de Deus num sentido que só
Eles conhecem e a quem isso fôr revelado, como aconteceu
a Pedro. Inegávelmente êsse texto se refere ao mistério da
eterna geração do Filho.
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 73
ESPÍRITO SANTO:
CREDO DE NICEIA
CREDO CONSTANTINOPOLITANO
B. Atributos de Deus
a) Infinitidade
rodo o ser corpóreo é limitado pelo seu próprio corpc
e pelo espaço que o separa dos outros corpos e condiciona à
sua existência.
sem o espaço os objetos não teriam existência indivi
dual e constituiriam um só todo universal.
Ú espaço e a criação são irmãos gêmeos; nasceram jun
tos, cada qual como a condição do outro os
quando Deus
chamou à existência.
Os anjos e os espíritos de homens falecidos, embora nãc
tendo corpos que os limitem, são limitados pela sua condi-
ção de criaturas que tendo tido comêço podem voltar ao não
ser, se assim o quiser o Criador.
Deus é o único ser ilimitado porque tem auto-existência
não tem corpo, como puro espírito que é e não tem relações
com o espaço a cuja existência preexistiu.
Assim, absolutamente ilimitado pelo que toca à sua es
sência, Éle é como diz'a nossa Confissão de Fé: “Infinito em
ser e perfeições, um espírito puríssimo, invisível, sem corpo,
partes ou paixões, imutável, imenso, eterno, incompreensível”.
A intinitidade, pois, como atributo de Deus, tem reie.
rência primeiramente ao seu ser ou essência e, em conse
quência disso, refere-se também às “suas perfeições” ou aos
outros atributos revelados nas suas obras. Assim, tôda qua-
lidade ou atributo que Éle comunicou ao homem, como sua
imagem e semelhança, deve-lhe ser atribuída em grau in-
finito.
Se o homem, pois, tem, por exemplo, algum poder e
inteligência, essas qualidades, via eminentiae, em Deus se
chamam onipotência, onisciência. E o mesmo é verdade a
respeito de todos os atributos morais do homem — justiça,
bondade, verdade — os quais pertencem a Deus de modo
ilimitado.
b) Eternidade
Assim como a infinitidade significa a absoluta indepen-
dência de Deus relativamente ao espaço, igualmente a eter-
nidade é o atributo pelo qual Éle existiu antes do tempo e o
domina como sua criatura.
Tôda criatura é prisioneira do tempo: nasce com êle,
vive nêle e morre com êle. O tempo começou a existir quan-
do Deus, saindo do seio da eternidade, disse: “Faça-se”, e
tudo foi criado. “No princípio criou Deus os céus e a ter-
ra”; êsse “no princípio” deu início ao tempo, que é a du-
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 85
“Tesus e
r
é o mesmo ontem, hoje e para sempre”
(Heb. 13:2).
2. DA SUA VIDA EXTERNA
os
Vimos no que ficou dito os atributos de Deus própri
o à ativida de da
da sua vida interna ou que dizem respeit
sua essência dentro de si mesma — ad intra.
agora a considerar a sua atividade ad extra,
Passamos
ou os atributos revelados em suas obras.
Tratá-los-emos na seguinte ordem: a) Os que apa-
na Natureza; b) Os atinentes ao mundo Moral; c)
recem
Os que constituem a sua Graça.
a) Que Aparecem na Natureza
1) Onipotência
Entre os atributos desta classe, o que se impõe em pri-
meiro lugar é o seu poder sem limites. Se o universo fôsse
arquitetado de material preexistente já seria divino o po-
seu arquiteto, mas tendo sido chamado do nada ao
der do
seu portentoso ser, reclama para o seu criador nada menos
que a onipotência. É o que afirma S. Paulo: “As perfei-
ções invisíveis dêle (Deus), o seu eterno poder e a sua di-
vindade, claramente se vêem desde a criação do mundo, sendo
manifestos pelas suas obras” (Rom.1:26).
O ensino que tanto a Natureza como S.Paulo dão da
onipotência de Deus é plenamente confirmado por Jesus
quando disse: “Aos homens é isso impossível (a salvação),
mas a Deus tudo é possível” (Mat.19:26).
A onipotência é o atributo de Deus pelo qual Ele pode
fazer tudo o que fôr objeto da sua vontade, sem meios, como
quando criou do nada o universo, ou com meios, como o faz
quando “escolhe as coisas que não são para reduzir a nada
as que são” (1.º Cor. 1:28).
Coisa alguma, pois, fora de Deus pode pôr limites ao
seu poder, cujo único limite está no fato de Éle não poder
negar-se a si mesmo, sendo por isso regulado pela sua von-
tade santa e boa. A idéia de Abelardo, Schleiermacher e
outros, segundo a qual Deus não tem mais poder além do
que manifesta nas suas obras, resultaria no absurdo de fa-
zer o finito a medida do infinito.
O fato de ser o poder de Deus regulado por sua vonta-
de significa apenas harmonia em seus atributos e não que
Ele não tenha mais poder do que o que resolve manifestar.
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 87
3) Onipresença
Como a obra da criação e a sabedoria com que ela foi
feita manifestam os atributos da onipotência e onisciência de
Deus, assim a obra da Providência manifesta o da sua oni-
presença.
Sendo a Providência a atividade de Deus pela qual Éle
mantém a existência dos sêres que criou e os governa de
modo que venham a realizar o fim para que os criou, tai
atividade importa na sua presença por tôda a parte do
universo.
“Nêle, diz S. Paulo em seu discurso no Areópago, nós
vivemos, nos movemos e existimos” (At. 17:28).
“Ele é antes de tôdas as coisas e nêle subsistem tôdas
as coisas” (Col.1:17). Confira-se Heb. 1:2,3.
Ensinam essas passagens claramente que há em Deus
uma atividade especial cujo fim é manter a existência cia
Criação, atividade essa que reclama sua onipresença.
Como deve ser entendido êste atributo de Deus?
Alguns, como Strong, entendem que “a própria essên-
cia divina penetra e enche o universo em tôdas as suas par-
tes”; outros acham que a onisciência de Deus juntamente com
a sua onipotência bastam para constituir a sua onipresença.
Entendemos que esta última opinião é a melhor, por-
que a primeira se ressente da filosofia panteísta e a segunda
é suficiente para explicar a Providência.
De fato, é difícil conceber-se a essência divina peme-
trando e enchendo o universo sem identificar-se com a na-
tureza dêste.
Strong, embora ensinando que Deus transcende o uni-
verso, afirma na sua teoria do Monismo Ético a uniciade da
natureza divina com a do universo.
Esta teoria, que se opõe à distinção essencial e bíblica
entre o Criador e a Criação, é incongruente com o teor ge-
ral da teologia de Strong, e claramente a causa da sua defi-
nição da onipresença de Deus. Para explicar, porém, a ati-
vidade de Deus em manter e governar o universo, não é pre-
ciso adotar essa filosofia errada e antibíblica, basta lembrar
que Éle conhece minuciosa e permanentemente o que se pas-
sa em tôda a Criação e tem, para mantê-la e conduzi-la ao
seu destino, o mesmo poder que a chamou do nada à exis-
tência.
Assim a imanência de Deus na Criação significa > cui-
dado pessoal que Éle, por sua Providência, tem de tôdas as
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 89
5) Fidelidade
1) Amor
Êste é o atributo de Deus pelo qual a sua justiça infle-
xível se transformou em graça e o pecador, em vez de ser
punido, recebe o perdão, sendo-lhe imputada de graça a pró-
pria justiça de Deus.
“Deus é amor”, diz a Escritura enfâticamente, (1.ºJo.
4:8) de modo que êste seu atributo não existe apenas em
suas relações com o mundo, mas também na sua vida íntima,
sendo como vimos a base da sua personalidade triúna. Aman-
do também as suas criaturas condenadas à punição por seus
pecados, Deus por êste seu atributo resolveu receber em si,
ou na pessoa de seu eterno Filho, a punição merecida pelos
pecadores a fim de poder perdoar-lhes sem infringir a sua
própria justiça rigorosa. “Porque Deus amou o mundo de
* maneira, que deu o seu Filho unigênito para que todo
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 95
aquêle que nêle crê não pereça mas tenha a vida eterna”
(Jo.3:16).
“Aquêle que não conheceu pecado (Jesus) foi feito pe-
cado por nós; para que nós fôssemos feitos justiça de Deus
nêle”.
Essa maravilhosa manifestação de amor tem por fim
não só a salvação dos seus filhos perdidos, mas também o
de granjear-lhes o seu amor em retribuição justa e grata.
“Filho meu, dá-me o teu coração”, diz a sabedoria antiga
(Prov. 22:26) plenamente confirmada pela do Novo Tes-
tamento.
— Deus não ama sózinho: quer ser amado também por-
que um lar feliz é aquêle onde reina reciprocamente o amor
dos pais e dos filhos. “Se alguém me ama, disse Jesus,
guardará a minha palavra, meu Pai o amará e viremos para
êle e faremos nêle morada” (Jo. 14:23).
2) Bondade
Este atributo é uma modalidade do amor de Deus.
Quando se dirige às suas criaturas irracionais, tem por fim
dar-lhes o que precisam (alimenta as aves e veste os lírios);
referindo-se aos filhos pródigos, visa trazê-los ao arrepen-
dimento. “Desprezas tu as riquezas da sua benignidade,
paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de
Deus te leva ao arrependimento”? Rom. 2:4.
A figura do bom pastor procurando a ovelha perdida e
levando-a nos ombros para o redil, é a imagem dos atos
bondosos de Deus para fazer o pródigo cair em si. No to-
cante aos verdadeiros crentes, às pessoas que lhe são se-
melhantes em caráter moral, a bondade de Deus é o atri-
buto que o leva a comunicar-lhes a sua vida e felicidade.
3) Misericórdia
Este atributo resulta do amor e retidão de Deus em face
dos que se opõem à sua santidade. Por êle Deus lhes conce-
deu as bênçãos temporais de que precisam nesta vida e
fêz o máximo sacrifício possível para lhes dar a salvação.
Misericórdia quer dizer um coração comovido pela mi-
séria alheia. Foi êsse sentimento no coração do Eterno Pai
que deu em resultado a Cruz e o Evangelho.
Éle foi a origem de tôda a obra da redenção e é por
seu impulso que a graça da salvação é permanentemente nfe-
recida aos pecadores.
* ok x
96 TEOLOGIA
D. A Criação
1. DA NATUREZA
A Criação foi a obra pela qual Deus começou a executar O
seu plano, de que tratamos no capítulo anterior. Dizemos
“começou”, porque essa obra continuou e continua na sua
Providência geral e na Providência especial da Redenção.
A Criação é dogma de tôdas as Igrejas cristãs, pois os
credos ecumênicos, como vimos, repetem, quase com as mes-
mas palavras, o primeiro artigo do credo dos apóstolos:
“Creio em Deus Pai Todo-poderoso, criador dos céus e da
terra”.
2. DOS ANJOS
Os anjos fazem parte da obra da Criação, embora não
saibamos quando êles foram criados. Quanto a isto, diver-
gem as opiniões dos teólogos. Santo Agostinho. por exem-
plo, entende que foram criados antes da formação do mundo,
na ocasião em que Deus criou do nada a matéria. A frase
“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gên. 1:1),
entende-a êle assim: Os céus são os anjos e a sua habitação;
ea terra é a matéria caótica da qual, nos seis dias seguintes,
foi formado o nosso mundo. Esta respeitável opinião se
fortalece com o fato de que os anjos são instrumentos da
Providência de Deus no govêrno do mundo e, por isso, já
deveriam estar presentes quando, no primeiro dia, Deus co-
meçou a realizar a obra que seria continuada na Providência.
Outros teólogos opinam em favor de um ou outro dos seis
dias da Criação para datar o fato, e há os que o colocam
fora dêsse período. num oitavo dia, em que se teria dado a
DOGMÁTICA EVANGÉLICA mi
E. A Providência
ANTROPOLOGIA
B. O estado de corrupção
1. A POSSIBILIDADE DA QUEDA
CRISTOLOGIA
A. Preliminares
3. PREPARAÇÃO NO JUDAÍSMO
B. A Pessoa de Cristo
1. A HUMANIDADE DE CRISTO
2. A DIVINDADE DE CRISTO
x
tado, voltou à “gloria que tinha com o Pai antes da criação
do mundo” (Jo. 17:5).
Afora o poder de fazer milagres, que outros homens de
Deus também fizeram, Éle declarou o direito que tinha de
fazer obras que só Deus pode fazer: perdoar pecados (Luc.
5:20-24), ressuscitar os mortos no dia final e julgá-los (Jo.
5:25-29). Além disso, Éle, diferentemente de todos os ho-
mens, não tinha consciência do pecado (Jo. 8:46), mas tinha
consciência de ser Filho de Deus num sentido em que nenhum
outro homem pode ter (Mat. 11:27). Diferentemente dos
anjos, que não aceitam o culto que só a Deus pertence
(Ape. 22:8,9), Éle o recebia dos discípulos (Jo. 20:28), e é
associado com o Pai e o Espírito Santo, em igualdade de
condições, na fórmula do batismo e na bênção apostólica
(Mat. 28:19; 2.º Cor. 13:13).
Houve entre os primeiros cristãos quem negasse a divin-
dade de Jesus. Ao lado dos docetistas que, para sustentar
essa verdade, negavam a sua humanidade, houve a seita
chamada ebionita, que fazia o contrário. Rejeitavam o seu
nascimento de virgem, afirmando que Jesus era um mero
homem, filho de José, o qual, por ocasião do seu batismo,
recebeu o Espírito Santo, e com Êle os dons que o consti-
tuíram Messias. Fazendo côro com os ebionitas, uma ala
do gnosticismo, representada por Cerinto, tinha também a
mesma doutrina.
O unitarismo judaico, que ocasionou o aparecimento
dessas seitas primitivas, reapareceu nos séculos 2.º e 3.º na
heresia chamada monarquismo, que tomou duas formas. a)
A dos que negavam inteiramente a divindade de Cristo ou
reduziam-na em “poder” (dinamis), embora todos admitis-
sem o seu nascimento sobrenatural pelo Espírito Santo. Os
seus chefes, Teodotos, Artemon e Paulo de Samosata, foram,
em parte. precursores dos unitários do século 16. b) A dos
que, mantendo a divindade de Cristo, entendiam-na como
uma manifestação da essência do Pai, negando a sua pre-
existência pessoal. Eram chamados Patripassianos por ad-
mitirem que foi o Pai que sofreu na cruz. O papa Calisto |
está entre os seus cabeças, sendo Sabélio o mais importante
dentre êles. Esta heresia teve larga e teimosa difusão, em-
bora a Igreja a combatesse vigorosamente com a doutrina
que afinal triunfou em Nicéia.
O arianismo foi outra heresia que, no comêço do 4.º sé-
culo, abalou fundamente a Igreja. Ário, um presbítero Ge
Alexandria, negou a divindade de Cristo em sentido essencial.
180 CRISTOLOGIA
5. A IMPECABILIDADE DE JESUS
D. A obra de Cristo
1. OS SEUS OFÍCIOS
2. A EXPIAÇÃO
e) Extensão da Expiação
Outro problema da Expiação é o que os teologos cha-
mam a sua extensão. Consiste numa aparente contradição
que há nas Escrituras a respeito desta doutrina. Segundo
muitos textos claros, ela é uma satisfação dada à justiça divi-
na pelos pecados de tôda a humanidade, e, segundo outros
textos também positivos, só foi feita a favor dos eleitos.
Citemos algumas passagens que afirmam que a morte de
Jesus foi por todos os homens: 1.a Jo. 2:2: “Ele é a propi-
ciação pelos nossos pecados; e não só pelos nossos, mas tam-
bém pelos de todo o mundo”; 1'.a Tim. 2:6: “Cristo Jesus que
se deu a si mesmo em resgate por todos”; 5:10: É o Salvador
de todos os homens, especialmente dos que crêem”; Tito.
2:11: “Pois a graça de Deus se manifestou trazendo a sal-
vação de todos os homens”; Jo. 3:16: “Pois assim amou Dets
ao mundo que deu seu Filho unigênito para que todo o que
pêle crê não pereça mas tenha a vida eterna”; Rom. 5:19:
“Pois assim como pela desobediência de um só homem foram
todos constituídos pecadores, assim também pela obediência
de um só todos serão constituídos justos”.
Passagens que afirmam a eficácia especial da expiação
no caso dos eleitos: Efes. 1:4: “Assim como nos escolheu
nêle antes da fundação do mundo para sermos santos e sem
aefeito perante êle”; 2. Tim. 1:9,10: “Deus que nos salvou
e nos chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas
obras mas segundo o seu propósito e segundo a graça que
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos”; Jo.
17:9,20: “Eu rogo por êles; não rogo pelo mundo, mas por
aquêles que me tens dado, porque são teus”; “Não rogo só
por êstes mas também por aquêles que crêem em mim por
meio da sua palavra”.
A explicação da divergência dêsses textos é que os pri-
meiros consideraram a Expiação de um ponto de vista objetivo
e coletivo, e os outros em sua relação subjectiva, individual.
O ensino dos primeiros é que a morte de Jesus visou direta-
mente dar satisfação a Deus pela culpa da humanidade e, só
indiretamente, a esta, pondo-a em condições de poder se re-
conciliar com Deus. Constituiu para o homem um tesouro
— o perdão dos pecados — mas tesouro que permanece fora
do seu poder enquanto êle não satisfaz as condições para
recebê-lo. (Como uma satisfação dada à Justiça divina, a Ex-
piação é objetiva ao homem e foi realizada uma vez por tôdas,
não havendo mais nada no fôro divino contra a humanidade
genérica representada em Cristo. Assim, em sentido genérico
DOGMATICA EVANGÉLICA 221
SOTERIOLOGIA
A. Preliminares
r
Soteriologia é o capítulo da teologia que trata de como
o homem se apropria da salvação adquirida por Cristo em seu
favor. (Como vimos no capítulo anterior, a Expiação, obra
vicária feita fora do homem, não lhe aproveita enquanto não
lhe pertence pessoalmente. A apropriação dêsse tesouro, po-
rém, não é obra que o homem possa fazer por si, do mesmo
modo que não pôde contribuir para a existência daquele.
Ambas são obras de Deus. A primeira Ele a fêz, uma vez
por tôdas, na transação histórica da Cruz; e a segunda Ele
faz sempre que, por sua graça, um pecador aceita a Cristo
como seu salvador pessoal. Ambas são obras da Trindade;
mas assim como na primeira ela agiu na pessoa do Filho, na
segunda age pelo Espírito Santo, que é a pessoa pela qual
Deus, transcendente à Criação, nela está imanente.
Em comunicar ao homem a Salvação que lhe foi adqui-
rida por Cristo, o Espírito faz obra direta, subjectiva, e não
objetiva como a de Cristo.
O ato inicial da sua obra chama-se Regeneração, ou novo
nascimento, e consiste em habilitar o homem a converter-se a
Deus mediante a obra redentora de Cristo. Desde o pecado
original em que o homem se pôs a si mesmo, em lugar de Deus,
como o fim da sua vída, êle nunca mais pôde, por si só, mudar
de atitude e submeter-se ao Criador. Para habilitá-lo a isso
é que Deus fêz em Cristo a expiação dos seus pecados e lhe
propôs a reconciliação. Essa maravilhosa prova de amor e
sacrifício de Deus pode tocar-lhe o coração e mesmo levá-lo
a fazer esforços para aceitá-lo, mas não o pode fazer sem a
223
224 SOTERIOLOGIA
B. Problemas da Soteriologia
1. A GRAÇA
O primeiro dêsses problemas deu lugar à formação, não
só de escolas teológicas, mas também de comunidades ecle-
siásticas distintas, que têm uma longa história, a qual esbo-
çaremos para assinalar o lugar das Igrejas Reformadas. A
Graça de Deus, que é a expressão teológica da função do Es-
pírito na salvação do homem, foi, nos primeiros séculos, na
Igreja Oriental, subordinada à liberdade do homem, uma qua-
se serva da natureza humana. Mesmo no Ocidente, diz Am-
brósio: “Penitentia praecedit, sequitur gratia”, o arrependi-
mento vem antes da graça. Reagindo contra isso, Agostinho
foi para o outro extremo, não só dando o devido lugar à gra-
ça, mas negando inteiramente a liberdade do homem, exceto
a de pecar. Fala mesmo em uma “dira necessitas peccandi”:
que só é vencida pela “gratia gratis data”. Foram tão fortes
as suas expressões, que foi acusado de fatalismo pelos seus
opositores. Pelágio fêz contra a doutrina de Agostinho forte
reação, em que foi também para o outro extremo; em defesa
da liberdade, deu lugar secundário à graça, e provocou por
sua vez o aparecimento do semipelagianismo — escola siner-
gística, criada por João Cassiano e Fausto Reggio, que pro-
cura equilibrar os valores da graça e da liberdade, dando a
esta a iniciativa na obra da conversão, mas de modo tal que
a graça vem socorrê-la no meio do caminho. Esta é a dou-
trina que, apesar do respeito
que à Igreja Romana tem por
Agostinho, foi afinal aceita em Trento, adotando-se a opinião
de Aquino, segundo a qual a graça e a liberdade cooperam
na conversão do pecador, de modo que esta pode aceitar ou
rejeitar aquela.
Os Reformadores ficaram com Agostinho: Lutero, com
certa cautela, dando ênfase à fé (sola fides) para excluir os
méritos do homem em sua própria salvação ;Calvino, plena-
226 SOTERIOLOGIA
C. Graças iniciais
1. REGENERAÇÃO
A Regeneração é o ato renovador do Espírito pelo qual
Ele habilita o crente a se apropriar da obra redentora de Cris-
to. Por êsse ato a fé e o arrependimento preparatórios, pro-
duzidos pela vocação comum, são mudados na fé e arrepen-
dimento perfeitos, graças pelas quais, unido espiritualmente a
Cristo, o crente adquire a sua justiça e o direito de filho, ao
mesmo tempo que inicia a própria santificação.
A justificação dos pecados e a adoção como filho depen-
dem da imputação ao homem da justiça e direito de Filho que
pertencem a Cristo, e essa imputação depende, por sua vez,
da união espiritual com o Salvador.
Êsses fatos podem ser distinguidos lógica mas não cro-
nolôgicamente, porque são simultâneos ou produzidos ao mes-
mo tempo. A fé é a condição da união com Cristo porque,
como sem fé é impossível agradar a Deus, sem a verdadeira
fé é impossível seja a pessoa recebida pelo Salvador, ou que
tenha interêsse de unir-se a Éle. Igualmente, essa união é
também a condição da fé, pois esta só se torna real quando,
pelo ato da regeneração, o Espírito dá ao crente a vida que
vem de Cristo.
No diálogo de Jesus com Nicodemos, Ele ensinou o fato
e a necessidade da regeneração. “Na verdade, na verdade te
digo que aquêle que não nascer de novo não pode ver o reino
de Deus” (Jo. 3:3). A figura do novo nascimento expressa
dois fatos: a) necessidade do ato renovador do Espírito,
porquanto antes disso a pessoa não existe, ainda não nasceu
para o reino dos céus; porque “o que é nascido da carne é car-
ne”; b) o início de um novo ser espiritual que, assim com»
crescem as crianças, também crescerá em direção ao reino do
céu, que é o seu destino.
A Escritura ensina que o Espírito usa a Palavra de Deus
como instrumento para produzir a fé salvadora. “A fé, diz
S. Paulo, é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus” (Rom.
10:17). “Sendo de novo gerados, diz também S. Pedro, não
de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de
Deus, viva e que permanece para sempre” (1.a Pedro. 1:24).
Sem o conhecimento de que Cristo é o Salvador dos pecadores,
ninguém pode ter fé nêle. “Como crerão, pergunta o após-
tolo, naquele de quem não ouviram falar”? Na vocação co-
23-+ SOTERIOLOGIA
D. Graças objetivas
1. JUSTIFICAÇÃO
Justificação é o ato pelo qual Deus imputa ao crente o
sacrifício vicário e a justiça também vicária de Cristo.
Pela sua obediência ativa à lei de Deus, Jesus, como pai
da Cristandade, adquiriu a justiça ou retidão perfeita que
Adão, como pai da humanidade, não conseguiu; e pela sua
obediência passiva, na Cruz, fêz a expiação dos pecados pro-
venientes da queda de Adão. Quando, pelo ato regenerador
do Espírito Santo, uma pessoa se une a Cristo, Deus lhe atri-
240 SOTERIOLOGIA
2. ADOÇÃO DE FILHO
E. Graças subjetivas
1. A FE
2. ARREPENDIMENTO
3. SANTIFICAÇÃO
ECLESIOLOGIA
A. Preliminares
1. UNIDADE
2. SANTIDADE
3. CATOLICIDADE
4. APOSTOLICIDADE
C. Govêrno da Igreja
D. Meios de Graça
1. A PALAVRA DE DEUS
2. OS SACRAMENTOS
3. A ORAÇÃO
é
fins cobrem a sua face exclamando: “Santo, santo, santo
o Senhor dos Exércitos; tôda a terra está cheia da sua gló-
ria” (Isa. 6:3). Assim deve ser O sentimento dos adorado-
res, reconh ecendo a absoluta separação em que o “nome de
Deus”, ou a sua pessoa, está de tôda a impureza moral e a
aspiração de não ofender a essa santidade. 3.º — Outro ele-
mento essencial do culto a Deus é o reconhecimento de que o
supremo bem da humanidade está na plena vinda do seu
Reino e que essa bem-aventurança só virá quando fôr reco-
nhecida e aceita voluntâriamente a inteira dependência em
as criaturas estão diante de seu Criador, dizendo: “Seja
que
feita a tua vontade assim na terra como no céu”.
Depois dêsses atos de adoração e culto, que devem ser
“em
a introdução de tôda oração feita como Jesus ensinou,
”, seguem -se as preces em prol dos inte-
espírito e verdade
rôsses essenciais tanto dos indivíduos como da coletividade
cristã.
1.º — “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Dada
a íntima relação que há entre o corpo e o espírito do homem,
não pode êste cumprir a sua transcendente finalidade no Rei-
no de Deus sem que o seu corpo nisso coopere. Um corpo
faminto, fraco e doentio, em vez de auxiliar, servir-lhe-á de
estórvo. Daí a súplica pelo alimento, a qual inclui, natura-
mente, tudo o que é necessário para o corpo como parceiro do
espírito na alta finalidade dêste. Roupa, casa, saúde e tra-
balho com oportunidades de descanso, tudo Jesus autorizou
a pedir com a prece pelo pão cotidiano. 2.º — “Perdoa-nos
os nossos pecados pois também perdoamos a qualquer que
nos deve” (Luc. 11:4). Depois do bem-estar do corpo,
deve o homem orar pelo seu bem-estar espiritual, que con-
siste em estar em paz com a sua consciência diante de Deus.
não
Com a consciência de alguma falta contra o Pai celeste
o cristão sentir-se bem na sua presença. O pecado, em
pode
a o
qualquer das suas modalidades, ofende a Deus e deform
a fome deform am o corpo.
espírito mais do que as doenças e
s de
Daí a necessidade de arrependimento sincero e de súplica da
perdão para que o crente possa estar sempre feliz dentro
dada.
Casa de Deus, no cumprimento da vocação que lhe foi
dessa súplica depende da disposição do supli-
A sinceridade
co-
cante de perdoar, por sua vez, à falta que alguém tenha
qualque r que seja, será
metido contra êle; porque esta,
perdão
muito menor do que as suas próprias, de que pede o
E Deus, que é o pai de todos, exige para a har-
de Deus.
os irmãos
monia e a felicidade em sua Casa que o perdão entre
anteceda ao seu perdão .
294 ECLESIOLOGIA
ESCATOLOGIA
de não morrer antes que êle viesse; mas nunca afirmou que
assim seria. “Nós os que ficarmos vivos para: a vinda do
Senhor”, disse êle, expressando aquela esperança; mas quan-
to à certeza de que o Senhor viesse durante sua vida, diz
ele: “Mas, irmãos, acêrca dos tempos e das estações, não
necessitais de que se vos escreva, porque vós mesmos sabeis
muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão à noite”.
(1.º - Tess. 5:1,2). Do mesmo modo que o ladrão deixa
incerto o dia em que vai agir para poder surpreender o dono
da casa, assim deixou Deus incerto o dia do Juízo para que
fiquem vigilantes os que não quiserem ser por êle surpreen-
didos. A incerteza do dia não impediu entretanto que Jesus,
Paulo e João indicassem certos sinais da sua aproximação.
Em seu discurso profético, disse Jesus. “Então vos hão de
entregar para serdes atormentados, matar-vos-ão e sereis
odiados de tôdas as gentes por causa do meu nome. Nesse
tempo muitos serão escandalizados e trair-se-ão uns aos
outros e se aborrecerão. Surgirão muitos falsos profetas e
enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o
amor de muitos se esfriará, mas aquêle que perseverar até o
fim será salvo. E êste evangelho do reino será pregado em
todo o mundo, em testemunho a tôdas as gentes, e então
virá o fim” (Mat. 24:9-14).
3. O MILÊNIO
feita por um anjo que desce do céu, para isso, e não pelo
método ordinário ou natural usado pela Igreja. Igualmente,
a ressurreição dos mártires não se deve entender no sentido
da conversão dos pecadores, porque êstes não são mártires.
À interpretação literal predominou nos primeiros séculos
da Igreja, pela influência que a idéia judáica, de um Reino
mundial do Messias, exercia sôbre os Padres daqueles tem-
pos. Essa influência judáica levou naturalmente a concep-
ções grosseiras sôbre o Milênio, idéias incompatíveis com o
ensino de Jesus sôbre a natureza do seu Reino. Repudiado
aos poucos, recebeu êsse tipo de interpretação literalista grave
golpe da autoridade de Agostinho, que adotou a interpreta-
ção figurada acima referida, a qual predominou até a Re-
forma.
Dentro do Protestantismo aparecem as duas interpreta-
ções de que falamos acima: há teólogos postmilenistas e
premilenistas. Os primeiros ensinam que Jesus só vem para
O juízo Final e colocam essa vinda depois do Milênio, que
será produzido pela ação ordinária da Igreja, a qual, no
tempo determinado por Deus, alcançará êsse resultado. Os
premilenistas entendem literalmente o texto apocalíptico em
questão. Crêem que Jesus vem pessoalmente para o Juízo
mas primeiro estabelecerá o seu reino milenário, como a
precondição para o Juízo que virá no fim do Milênio. A
segunda ressurreição também, que é assim chamada no tex-
to, não significa a conversão de pecadores, uma ressurreição
espiritual, mas a ressurreição física de todos os crentes que,
até aquêle dia, tiverem morrido. Ressuscitam para reinar
com Cristo durante o Milênio, não num reino mundano, como
pensam os Judeus, mas dentro do ensino espiritual de Jesus.
Durante êsse tempo, a Igreja, fortalecida com a presença
visível de Cristo e dos milhões de crentes ressurrectos, bem
como livre dos poderes do diabo, que estará prêso, prospera-
rá de tal modo, que o mal estará prâticamente extirpado da
terra: é o Milênio.
Essa é, em síntese, a doutrina dos premilenistas, con-
vindo notar porém que, concordes de um modo geral sôbre
o assunto, há, entre êles, pontos de vista diferentes. É assim
que o autor dêste livro em sua obra intitulada “Maranata”,
esposou a doutrina acima, porém, concordando com Ooster-
zee e Martensen, modificou-a no sentido de que a vinda de
Cristo para estabelecer o Milênio é diferente da sua vinda
para o Juízo, porque êste segue imediatamente ao seu apare-
cimento para êsse fim e não é interrompido pelo interregno
304 ESCATOLOGIA
4. O ESTADO INTERMEDIÁRIO
Antes do Juízo Final, dar-se-á a cena maravilhosa da
ressurreição dos mortos. O estado em que a pessoa se acha
desde que faleceu terá então chegado ao seu têrmo. Este
estado chama-se intermediário, não só porque fica entre o
fim da vida atual e o princípio da que começa com a ressur-
reição, mas também porque marca a sorte que cabe à pessoa
entre a sua morte e o seu eterno destino depois do Juízo. A
duração dêsse estado é maior ou menor conforme a distância
entre a morte do indivíduo, e o dia da sua ressurreição; e a
sorte que lhe cabe, igualmente, varia segundo as relações
boas ou más que, nesta vida, teve com Deus.
Nas Escrituras, o estado intermediário é chamado Ha-
des; palavra que, etimolôgicamente, significa invisível, por-
que a situação dos mortos é invisível para os que estão vivos.
No Hades se acham todos os mortos, bons e maus, O rico e
Lázaro, o rei Davi, e o próprio Jesus também la esteve no
período entre a sua morte e ressurreição (Luc. 16:19-23;
At. 2:27, 31).
O Hades é representado como um lugar embaixo, no
coração da terra, e o céu, no alto, além das estrêlas. Estas
localizações topográficas devem ser entendidas no sentido
de indicar a sorte oposta dos justos e ímpios. Significam
o estado em que se acham os que partem dêste mundo e não
o lugar onde habitam. É o que se aprende na parábola do
rico e Lázaro, onde o Hades e o seio de Abrão são o mesmo
local, onde os dois se encontram, apesar da distância espi-
ritual que os separa.
É de crer que no Hades as almas não fiquem estaciona-
das, mas progridam: os crentes em sua união com Cristo e
os ímpios em sua impiedade. Infere-se isso do fato de que
a vida no céu não pode ser estática, mas é “dinâmica, para
que os salvos possam “crescer sempre na graça e conheci-
mento de Cristo”, que é o ideal inatingível do seu aperfeiçoa-
mento; sendo assim no céu, igualmente deve ser no estado
intermediário que o antecede. Esta idéia se fortalece quando
se considera que os crentes partem dêste mundo ainda muito
imperfeitos, meninos em Cristo, e que no estado intermediá-
rio, despidos do corpo, não sofrem as tentações a que os sen-
tidos nos sujeitam nesta vida e gozam, por isso, de uma con-
centração subjectiva que muito deve favorecer a espirituali-
306 ESCATOLOGIA
rão; e todos que sob a lei (escrita) pecaram, pela lei serão
julgados”. (Rom. 2:12). Assim entendida, esta palavra do
apóstolo dá esperança da salvação para os pagãos que não
pecarem contra a propria consciência. Essa esperança, pre-
cária diante da corrução da natureza humana, pode, porém,
realizar-se como fruto da aplicação a êles da obra expiatória
de Cristo, que foi feita a favor de todo o mundo. Do mesmo
modo como as crianças que não conhecem a Cristo são sal-
vas “porque dos tais é o reino dos céus”, também os pagãos,
sem conhecerem a Cristo, podem, por caminhos que nos são
desconhecidos, receber a graça salvadora, da qual seria sinal
o seu esfôrço para obedecer a própria consciência, assina-
lado por S. Paulo.
Essa boa esperança se fortalece ainda pela declaração
de que Cristo é “a luz que alumia a todo homem que vem à
êste mundo” (Jo. 1:9), e a de que o Espírito, que causa o
novo nascimento, é como o vento que assopra onde quer
(Jo. 3:8). Se, pois, o Espírito não está limitado a áreas
geográficas nem a métodos de aplicação da Graça, há lugar
para crer que a terceira classe do Hades seja distribuída
entre as duas primeiras.
2. O JUIZO FINAL
A ressurreição geral e o Juízo Final serão acontecimentos
correlatos: o primeiro é necessário para que o segundo pos-
sa sobrevir. Há um julgamento particular de cada pessoa
DOGMÁTICA EVANGÉLICA 313
O JUIZ
Conforme declaração do Senhor Jesus Cristo, o lugai
de juiz nesse decisivo tribunal será ocupado por Êle mesmo.
“Porque o Pai a ninguém julga. mas deu ao Filho todo o
juízo; para que todos honrem o Filho como honram o Pai.
E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do
Homem” (Jo. 5:22.23,27). O fato de ser homem é dado como
a razão por que Êle tem a autoridade de julgar os homens.
Sendo infinita a distância natural e moral entre a criatura e
o Criador, só através da natureza humana do Filho é que
Deus pode tanto salvar como julgar os homens. Sem isso. o
juiz teria de tratar com os julgandos objetivamente, sem a
experiência do sentir e da consciência dêle (Heb. 2:14-18).
Por outro lado, pelo que toca às pessoas julgadas, dei-
xariam de ter a necessária compreensão da sentença, visto
que ela seria o fruto de uma consciência estranha à sua. Con-
ferindo. porém, Deus Pai todo o juízo a seu Filho, desapa-
rece essa antinomia, porque sendo Êle também Filho do ho-
mem tem uma consciência divino-humana. Jesus é para os
homens não só o tipo da pefeição que devem ter, mas o Sal-
vador, o recurso único pelo qual podem atingi-la. Por isso,
na ocasião do julgamento, bastará que cada pessoa considere
314 ESCATOLOGIA
b) O Céu
PREFÁCIO: emnm
exame aids
aeseseen ACE
CSERTU ues
PROLEGOMENOS .....cccsictctsceenesencaaerenerarne
1. Revelação Geral ...cccccccticecicesteeeceneaeto
2. Revelação Especial .....secs sitter s
ccscs
3. As Sagradas Escrituras ...cccccisccsteceecereoo
4 A Inspiração das Escrituras ....ccccsccesccccros
5. Religião ccscssiisc ser eee emana
cses mer eene
6. Religião Cristão uumacapessa aereas
7. Fontes Secundárias da Dogmática .........c......
8. Enciclopédia Teológica ...cccsscccsescctrseeeoo
TEOLOGIA cnc
eciciccisc cent enererse
itecc rerecrer
ANTROPOLOGIA 123
essas ae 169
Preliminares 169
ESCATOEOGIA.. uamaiissemes
sa rs decore 297