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(SP)
Resumo. Este artigo trata das políticas públicas de mobilidade urbana na cidade de Santos (SP).
Concretamente, avalia o serviço de transporte público nessa cidade na perspectiva dos usuários,
através de pesquisa realizada em 2019. Para tal, apresenta as contradições existentes no
funcionamento das cidades capitalistas e problematiza aspectos da mobilidade e das dinâmicas
de circulação urbana e metropolitana no contexto brasileiro. Ao tratar das especificidades do
município de Santos, destacamos as características do funcionamento do sistema de transporte
público, e avaliamos a sua cobertura, frequencia e conforto. Verificamos a importância de se
fomentar estudos relativos ao transporte e a compreensão destes como mecanismos
fundamentais na realização de leituras críticas das condições desiguais da sociedade.
Enfatizamos também a importância da formulação de políticas públicas no setor de mobilidade
que incentivem a inclusão social, a gestão participativa e a equidade no uso do espaço público.
Palavras Chave: Urbanização capitalista; Mobilidade urbana; Transporte público; Santos (SP).
Abstract: This article deals with public policies on urban mobility in the city of Santos (SP).
Concretely, it evaluates the public transport service in this city from the perspective of users,
through a survey conducted in 2019. To this end, it presents the existing contradictions in the
functioning of capitalist cities and discusses aspects of mobility and the dynamics of urban and
metropolitan circulation in the Brazilian context. . When dealing with the specificities of the
municipality of Santos, we highlight the characteristics of the functioning of the public transport
system, and evaluate its coverage, frequency and comfort. We verify the importance of
promoting studies related to transport and the understanding of these as fundamental
mechanisms in carrying out critical readings of the unequal conditions of society. We also
emphasize the importance of formulating public policies in the mobility sector that encourage
social inclusion, participatory management and equity in the use of public space.
1
Doutor pela Universidade Federal do ABC/SP. [email protected]
2
Doutor pela Universidade Federal do ABC/SP. [email protected]
3
Doutora e Professora da Universidade Federal do Amazonas. [email protected]
HUMANIDADES & TECNOLOGIA (FINOM) - ISSN: 1809-1628. vol. 29- jan/mar. 2021
A historia da cidade de Santos está intimamente relacionada com seu porto. Em
particular, cuando em 1892 foram inaugurados os primeiros 260 metros de cais acostável, o
que impactu de manera profunda su perfil econômico produtivo. Desde então, a cidade não
parou de crescer e se desenvolver, e um intenso fluxo migratório direcionou-se para a região,
dando lugar uma aglomeração urbana composta de nove municipios que, en periodo mais
recente, determinou a criação da Região Metropolitana da Baixada Santista-RMBS (Lei
complementar Estadual 815/1996). Atualmente, a RMBS conta com uma população de
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1.850.000 habitantes, sendo o município de Santos o maior dessa região, com 433.311
habitantes estimados em 20194.
Uma das características marcantes da RMBS é seu estreito vínculo com a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), a maior do país e localizada a apenas 70 km
(considerando o trajeto entre os municipios de São Paulo e Santos). Assim, o movimento
pendular entre as metrópoles é acentuado. Por outro lado, o porto de Santos é também a
principal porta de entrada e saida das mercadorias com origem e destino na RMSP (e sem
contar com o fato de que o litoral paulista é muito visado pelos paulistanos, que possuem
nesses locais uma segunda residencia). Por esses motivos, a RMBS se caracteriza por su
intensa movimentação de pessoas e mercadorias, tanto dentro como fora de seus limites –
existe ainda uma forte presença de fluxos pendulares no interior da RMBS, isto é, de pessoas
que residem num município da região, mas trabalham, estudam ou exercem outras atividades
em municípios vizinhos.
O período atual abriga grandes transformações em virtude do advento da economia
petrolífera como advento do pré sal. O desenvolvimento do setor de extração do petróleo no
pré sal impulsionou o desenvolvimento de outros setores (comércio, serviços, construção
civil) e, consequentemente do processo de urbanização da região, em especial em Santos que
exerce uma centralidade perante os outros municípios da RMBS. É importante refletirmos
sobre o sentido de centralidade, tratada aqui não apenas como um conteúdo inerente às formas
e estruturas urbanas, mas também como um conteúdo da vida e da reprodução da vida no
cotidiano. Como dissemos, Santos conta com uma população de 433.311 habitantes e
densidade demográfica de 1.494,26 hab/km², além de apresentar o maior PIB da RMBS.
O objetivo principal deste trabalho é apresentar os resultados de uma pesquisa de campo
realizada em 2019 sobre a percepção de usuários com relação ao transporte público de
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https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/santos/panorama. Acesso: 22/07/2020.
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passageiros na cidade de Santos. Tal pesquisa da sequencia a outra do mesmo teor realizada em
2016, de extrema utilidade para efeitos comparativos. Trata-se, como veremos, de dados obtidos
a partir de aplicação de questionários aos usuarios in-situ em horarios de pico5. Dessa forma,
se espera contribuir a uma melhor compreensão do funcionamento do sistema de transporte
público na cidade, e, eventualmente, ao seu aprimoramento. Para poder dar ao assunto uma
perspectiva mais abrangente, entretanto, que dialogue com a literatura acadêmica sobre o
problema do transporte e da mobilidade em grandes cidades, abordaremos primeiramente
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alguns embasamentos teóricos considerados necessários.
A cidade é um produto social, fruto de ações humanas que através do tempo vão
provocando transformações no seu interior. Existem diferentes agentes que são capazes de
modelar esse espaço. Corrêa (2000) entende que os principais agentes modeladores do espaço
urbano são os proprietários dos meios de produção, que comandam a vida econômica e política
e necessitam de grandes terrenos, a baixo custo, exemplificados pelas grandes empresas
comerciais; os proprietários fundiários, que se interessam pelo valor de troca da terra,
reafirmando a especulação fundiária; os promotores imobiliários, que incorporam capital para
a transformação de terrenos em mercadoria reforçando a segregação residencial que caracteriza
a cidade capitalista; o Estado, que tem uma atuação complexa e variável e dispõe de um
conjunto de instrumentos capazes de legitimar as alterações no espaço urbano; e os grupos
sociais excluídos, que alteram o espaço urbano independente da ação dos outros agentes, o que
se dá quando apropriam-se de espaços públicos ou privados e passam a produzir seu próprio
espaço. Todos esses agentes estão inseridos na temporalidade e espacialidade de cada formação
socioespacial (capitalista) e promovem um constante processo de (re)organização dos seus
componentes (i.e. configuração espacial).
As cidades são também abrigo de inúmeros processos sociais, alguns destes processos
se exprimem materialmente enquanto formas espaciais definidas. Os agentes sociais, com
efeito, materializam processos sociais na forma de um ambiente construído, seja a rede urbana,
seja o espaço intraurbano. A materialização da cidade capitalista tem forte relação com a
organização dos diversos tipos de grupos que atuam nesta; portanto se configuram como
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Questionários de preenchimento manual aplicados na estação de integração do transporte municipal nos
horários compreendidos entre 07 e 09h e também entre 17 e 19h.
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elementos fundamentais para a compreensão da estratificação social do espaço urbano. A
tendência à periferização de alguns espaços em detrimento de outros, por exemplo, denota os
aspectos políticos dessa materialização.
No caso do Brasil, um viés marcadamente patrimonialista assegura as suas elites uma
relação de privilegio diante do mercado na produção das cidades. A construção de túneis,
pontes, viadutos e avenidas, além de contribuírem para o marketing eleitoral, agregam valor
às suas propriedades geralmente localizadas nos arredores dessas melhorias. Por outro lado,
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verifica-se um processo de segregação e exclusão social que deixa grande parte da população
sem acesso a serviços essenciais. Desta forma, temas como meio ambiente, saneamento,
transporte, mobilidade, educação e saúde fazem parte de uma longa discussão sobre a
democratização da cidade.
Nas cidades capitalistas, a constituição de uma área central é concomitante com a
ampliação das funções urbanas. Estas atividades criam um enorme mercado de trabalho
concentrado, fazendo com que esta área se transforme no nodo principal do sistema de
transporte urbano. A área central, com efeito, passa a se tornar o local de máxima
acessibilidade dentro da cidade, além de ser caracterizada pela complexidade de funções e
pela concentração de serviços, e também pelo seu valor simbólico. Assim, a localização central
passa a constituir-se em um elemento crucial na competição capitalista pelos espaços da
cidade, elevando o preço da terra e reforçando a especulação imobiliária (CORRÊA, 2000). O
aumento constante do preço da terra, dos impostos e dos aluguéis, emfim, afeta algumas
atividades que acabam não conseguindo suportar a localização nas áreas centrais. Ocorre então
um gradual processo de descentralização, com a impulsão do deslocamento de pessoas e
atividades econômicas para áreas periféricas, e a consequente urbanização dessas áreas.
A descentralização torna o espaço urbano mais complexo, pois surgem núcleos
secundários de atividades. Do ponto de vista dos promotores imobiliários a descentralização
representa uma maior possibilidade de reprodução do capital pois novas áreas são loteadas,
ocupadas e desta forma o mercado se aquece. Cada vez mais o espaço urbano transforma-se
em mercadoria. A chegada de melhorias em uma área eleva seu valor econômico o que, por
sua vez, eleva o valor das taxas e impostos. Assim, tais áreas vão tornando-se inviáveis à
população de baixo poder aquisitivo que se desloca para locais cada vezmais distantes do
centro. Temos assim um processo de segregação socioespacial, que é inerente à produção
capitalista, e que pode se manifestar distintamente de acordo com a escala de análise: na rede
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urbana pode aparecer como diferenciação funcional, na escala intraurbana traduz-se pela
divisão econômica e social do espaço (CORRÊA, 2011). As contradições da segregação
socioespacial emergem de forma e velocidades distintas, e o grau de intensidade destas
decorrerá da organização interna de cada cidade. Mas uma coisa é comum a todas: a
especulação imobiliária, o que reafirma seu caráter de seletividade, de exclusão.
Esse processo espacial de segregação espacial e residencial também se expressa nas
condições urbanas periféricas das populações de baixa renda. Essas populações vivem em
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situação de vulnerabilidade social, pois as carências dos seus locais de moradia são inúmeras:
falta de infraestruturas e equipamentos públicos, e de serviços de atendimento básico em geral
(educação, saúde, saneamento). O processo de circulação, por sua vez, contribui e reforça as
diferenciações socioespaciais. Sistemas viários e de transporte facilitam a mobilidade de uma
parcela da população, e restringem outra. Em particular, restringem a circulação daqueles que
estão inseridos de uma maneira precária no processo de acumulação capitalista. Além do mais,
esses sujeitos são culpabilizados pelos problemas urbanos existentes, tais como ocupações
irregulares, violência urbana e degradação do meio ambiente – quando a verdade é que, na
maioria das vezes, não lhes resta alternativa.
Os movimentos sociais urbanos ao longo das últimas décadas têm exigido um controle
democrático sobre a construção do urbano, que é um dos principais canais de reprodução do
capital. Estes, buscam criar uma gestão democrática na aplicação dos recursos das cidades.
Esta bandeira de luta tem de adotar conotação global predominantemente contra o capital
financeiro, pois é nesta escala que ocorrem hoje os processos de acumulação que afetam a
urbanização brasileira. O crescimento dos movimentos sociais deve-se às questões
relacionadas à sobrevivência imediata da população como saúde pública, moradia, transporte
coletivo urbano, saneamento básico, segurança pública, dentre outros (SANTOS, 2008).
Por fim, a politização das questões do cotidiano foi ocorrendo no desenrolar das lutas
pela criação de novos espaços políticos e a atuação destes movimentos ocorre paralelamente
ao sistema de representação política. Tratam-se de pressões populares para orientar mudanças
nas políticas públicas no sentido de alcançar patamares mais consistentes com o direito à
cidade (LEFEBVRE, 2008). O que está em jogo é de que modo – e em que medida – o Estado
pode reverter ou amenizar essas contradições da sociedade. E para que isso ocorra é necessário
o envolvimento da sociedade civil num projeto de transformação da realidade social. A isso
apontamos nesse trabalho.
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Mobilidade urbana em discussão
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A função básica do transporte é integrar as áreas urbanas dos pontos de vista espacial,
econômico, social e recreativo (BARAT & BATISTA, 1973). A importância do sistema de
transporte público para o desenvolvimento das cidades está na capacidade de servir a essa
função, envolvendo fluxos de pessoas, ideias, mercadorias e capitais (COSTA & SANTOS,
2006). Nesse contexto, o transporte público de passageiros é estratégico, posto que é o que
permite que a grande maioria dos trabalhadores que moram nas periferias possam chegar a seus
postos de trabalho todos os dias. Em outras palavras, dentre as funções públicas de interesse
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comum, o transporte público é vital para a melhoria da mobilidade e acessibilidade na cidade,
assim como para o bom funcionamento do setor produtivo e das demais funções públicas
(NETO, 2004).
Infelizmente, a produção de transporte urbano no Brasil acontece com altos níveis de
ineficiência e irracionalidade (NETO, 2004). O que temos observado nas últimas décadas é a
transformação das maiores cidades brasileiras em espaços que procuram tornar-se eficientes
para o automóvel individual. A frota de automóveis cresceu substancialmente, alardeada como
única alternativa eficiente de transporte para as populações de níveis de renda mais alto. O
sistema viário sofreu ampliações e adaptações, órgãos públicos foram implantados para
optimizar as condições de fluidez para o automóvel. A utilização desenfreada do automóvel
modificou a distribuição modal do transporte urbano, ocasionando a deterioração dos
transportes públicos (cf. MARICATO, 2011). A ampliação do sistema viário para a fluidez dos
automóveis drenou a maior parte dos recursos destina-dos aos transportes urbanos em
detrimento do transporte coletivo (GOMIDE, 2006). Quem mais sofreu e sofre com isso foram
as camadas inferiores da sociedade, subordinadas a meios de locomoção precários e pelos quais
devem pagar uma parcela cada vez maior do seu salario ou renda (CARDOSO, 2008).
Como sabemos, no Brasil a política habitacional também reforçou a exclusão social e a
segregação espacial dos mais pobres, ao destinar-lhes moradias precárias em periferias
distantes desprovidas de serviços e equipamentos urbanos essenciais. Tal política teve como
efeito o aumento das distâncias a serem percorridas pelos trabalhadores, e a produção de áreas
vazias ou pouco adensadas no meio das cidades. Nessa situação, resulta praticamente
impossível uma oferta eficiente de transporte coletivo, pelo menos nos termos em que tal
sistema é gerido na cidade capitalista.
O transporte público coletivo, por sua vez, é tratado como coisa menor, “para pobres”, não
merecendo ser contemplado como atividade estratégica de primeira ordem por parte da União,
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Estados ou Municípios (pelo menos não até agora). Como dissemo, as cidades têm sido
moldadas para atender prioritariamente ao automóvel, deixando o transporte público no
segundo plano. Tal opção, cria dois tipos de cidadãos: aqueles que possuem automóvel e
autonomia na mobilidade, e aqueles que não possuem e dependem do transporte público,
reforçando os fenômenos da desigualdade e da segregação espacial, propiciadores de exclusão
social (GOMIDE, 2006; NETO, 2004).
Consideramos aqui, portanto, de importância estratégica a questão da mobilidade para
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minorar a diferenciação espacial existente nas nossas cidades. A mobilidade tem grande
influência na rotina dos cidadãos e o transporte deve ser compreendido como um elemento
essencial para a mobilidade dos trabalhadores, tanto no que diz respeito a quantidade como a
qualidade – como garantido na Constituição Brasileira. Nesse sentido, todo e qualquer estudo
que ajude a compreender ou mesmo avaliar o funcionamento dos sistema público de transporte
a partir dos usuários, como é o caso nesse trabalho, é de de importancia central – diga-se de
passagem, a cidade de Santos, objeto deste estudo, não possui ainda um plano de Mobilidade
Urbana, o que, segundo informe do governo municipal, encontra-se em desenvolvimento.
Destarte o atraso na definição do Plano de mobilidade Urbana municipal e sua implantação
acabam gerando degradação das condições de mobilidade ao longo do tempo, em particular do
transporte público, como veremos.
O transporte público na Baixada Santista vêm sofrendo uma reformulação nos últimos dez
anos, que abrange tanto o planejamento quanto a necessidade dos usuários, objetivando
melhorar a qualidade dos serviços prestados. Tal reformulação envolve quesitos tais como
demanda, segurança, conforto, controle de horários das linhas, acessibilidade e tarifação, entre
outros (ANTUNES & ROMEIRO, 2016). Com a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro
(Lei 9.503/97), a CET passou a ser responsável pelo gerenciamento, planejamento, educação,
operação e fiscalização do trânsito, além do gerenciamento do transporte público municipal. O
sistema de transporte municipal oferecido atualmente integra ônibus municipal e
intermunicipal, vans, seletivo e VLT. A concessão do transporte municipal pertence
exclusivamente à Viação Piracicabana, já o transporte intermunicipal composto por ônibus e
VLT, é administrado pela EMTU – (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) em
conjunto com a BR Mobilidade (administradora regional).
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Em todo o município existem 45 linhas de transporte capazes de cobrir toda sua superficie.
Desse total, 41 delas são ofertadas por meio de coletivos convencionais a variar apenas o
tamanho dos veículos, visto que existem 5 linhas destas 41 que atendem a população com micro
ônibus nos morros. A principio, a cobertura é de 24 horas, variando sua capacidade de acordo
com a demanda. O cidade também conta com transporte seletivo, realizado desde 1997 pela
Guaiuba Transportes. Tata-se de 4 linhas que utiliza frota com padrão executivo, que circulam
predominantemente em áreas nobres da cidade, e que fazem conexão com a centro comercial e
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adjacências do porto (GUAIUBA, 2020). Os seletivos custam em média 30% a mais que os
coletivos convencionais.
Alguns gargalos existentes em Santos em termos de mobilidade são oriundos do contexto
econômico da Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), que faz da cidade uma
espécie de capital, dada a concentração de investimentos e geração de riquezas do município
da cidade em relação as demais que compõem a RMBS. Assim, o fluxo de veículos e pessoas
que se deslocam para Santos diariamente é grande, e cria gargalos desafiadores para
manutenção de uma mobilidade urbana sustentável, como a entrada da cidade que sofre com
congestionamentos grandes e constantes, especialmente nos horários de pico, compreendidos
entre as 07h e 09h pela manhã e e ao final do dia entre 17h e 19h. A frota de veículos na cidade
também apresenta crescimento acentuado, o que desafia o poder público na manutenção de
índices controlados e aceitáveis para o trânsito na cidade. Dados do DETRAN (Departamento
Estadual de Trânsito de São Paulo) apontam que a cada 10 anos a frota de veículos da cidade
cresce 41% em média, aumentando consideravelmente os indicadores dos problemas de trânsito
e da qualidade de vida dos munícipes que se movimentam de carro, que passam cada vez mais
tempo em deslocamentos diários em face aos congestionamentos cada vez mais frequentes.
Por fim, a disputa por espaço entre os veículos de carga que rumam ao porto, os veículos
de transporte individual e o transporte público coletivo cresce dia após dia, tanto que o
município adotou recentemente faixas exclusivas para circulação de ônibus em horários de pico
na entrada da cidade e em avenidas de grande circulação, mas a medida ainda não foi capaz de
atenuar o desafiador cenário encontrado no trânsito de Santos. Tais gargalos também afetam os
indicadores de segurança do trânsito, que vem crescendo proporcionalmente ao aumento da
disputa por espaço nas vias da cidade. A historica incapacidade de se relacionar
institucionalmente com seu porto, têm fomentado uma situação bastante caótica na cidade, na
qual ambas as partes saem perdendo.
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Apresentamos a seguir uma pesquisa de opinião sobre os problemas de transporte na
cidade de Santos, realizada em 2019. Essa pesquisa nos permite realizar uma comparação sobre
as impressões dos usuários com relação aos problemas encontrados em 2016, em que
começamos a realizá-la (PEDROSA, 2016). Sem dúvida alguma, cabe aos usuários do
transporte público uma percepção mais proxima dos problemas reais do funcionamento do
sistema, sobretudo em termos de conforto, frequencia e cobertura. Como veremos, a percepção
dos usuários do transporte público difere bastante da perspectiva institucional sobre o mesmo.
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Esperamos poder contribuir com essa pesquisa ao melhoramento do serviço, principalmente
para os que mais o necessitam. Na cidade capitalista, como dissemos, quem mais precisa do
transporte público são os trabalhadores.
Para a realização da pesquisa foram aplicados 100 questionários aos usuários do transporte
público nos horários da manhã e no fim da tarde, mais especificamente entre 07 e 09h e 17 e
19h respectivamente, tidos como picos da demanda. Tais questionários tinham como objetivo
avaliar quais problemas os usuários do serviço encontram e de que modo esses usuários cobram
as melhorias, isto é, quais canais encontram para fazê-lo. Alguns usuários destacaram que desde
2016 a qualidade dos veículos melhorou, mas que problemas como a falta de ônibus em
algumas linhas, a falta de ônibus à noite (após as 22h) e aos finais de semana, o atraso,
superlotação e a relação custo-benefício ruim permanecem.
O primeiro tópico discutido com os entrevistados abordou a relação de disponibilidade
de linhas nos horários de pico e após as 22h. Com isso com base na opinião dos usuaários do
sistema de transporte público local pode-se estabelecer a relação de evolução do cenário
anterior até o atual com base nos dados colhidos, conforme mostra a figura baixo:
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84% 83%
82%
82%
80%
78%
76%
74% 73%
72% 71%
70% 11
68%
66%
64%
2016 2019 2016 2019
Falta de ônibus após as 22h Falta de ônibus em horários de pico
Fonte: Elaboração própria com base em dados coletados pela pesquisa
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74%
53%
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2019 2016
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67%
56%
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88%
2019
74%
2016 14
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demonstra que além de ser imperativo a criação de canais de comunicação, o município não
tem cumprido as exigências da Lei Nacional de Mobilidade Urbana, que exige que municípios
com mais de 20 mil habitantes elaborarem os próprios planos de mobilidade urbana –
instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Condicionando que
estes planos sejam debatidos com a sociedade, que pode manifestar o que espera, em termos
de mobilidade, para o local em que vive, sempre alinhados com os respectivos planos
diretores.
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Considerações finais
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inserem. Trata-se de um exercício de cidadania, da construção de uma verdadeira cidadania.
Nesse sentido, as pesquisas de opinião e avaliação dos usuários, feita de maneira independente,
como é o caso da que aqui foi apresentada, é uma peça bastante significativa.
Para finalizar, sabemos que o planejamento e a implementação de um sistema eficiente
de transporte público, socialmente direcionado e territorialmente integrado, requer que o
mesmo dialogue com outras instancias do planejamento que também fazem parte do seu
escopo, tais como o uso e ocupação do solo, a questão habitacional e a geração de emprego e
16
renda. No caso de Santos, o sistema de transporte público também deve considerar sua
dimensão metropolitana, de onde provém a maioria dos trabalhadores da cidade. Os desafios,
portanto, são enormes, e requerem de uma ampla mobilização social para fazer valer as pautas
de uma verdadeira reforma urbana, em que os trabalhadores possam instituir novas formas de
urbanização, e melhorar substancialmente suas condições materiais de vida.
Referências
CARDOSO, C. E. P. Análise do transporte coletivo urbano sob a ótica dos riscos e carências
sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008 (Tese de Doutorado,
Programa de Pós-graduação em Serviço Social).
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GOMIDE, A. A. Mobilidade urbana, iniqüidade e políticas sociais. In: Políticas sociais:
acompanhamento e análise, 12, 2006, pp. 242-250.
GUAIUBA, V. Seletivo Santos. Disponível em: https://www.seletivosantos.com.br/itinerarios. Acesso
em 26/07/2020.
NETO, O. L. Um novo quadro institucional para os trans-portes públicos: condição sine qua
non para a melhoria da mobilidade e acessibilidade metropolitana. In: E. Santos e J. Aragão
(Orgs.). Transporte em tempos de reforma: estudos sobre o transporte urbano. Natal: EDUFRN,
2004.
SANTOS, M. Manual de Geografia Urbana. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2008. 232 p.
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